Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ARTIGO
DEPRESSÃO INFANTIL:
aspectos gerais, diagnóstico e tratamento
CHILDHOOD DEPRESSION:
general aspects, diagnosis and treatment
DEPRESIÓN INFANTIL:
aspectos generales, diagnóstico y tratamiento
Resumo: A depressão infantil tem sido um transtorno bastante pesquisado nos dias atuais, ao contrário
do que acontecia há mais de 30 anos quando era uma doença considerada característica dos adultos. At-
ualmente já não se tem mais dúvida de que esta patologia afeta também as crianças, podendo interferir
no seu processo de desenvolvimento. São várias as causas para esta doença, entre elas destacam-se os
problemas familiares, onde a criança não se sente amada e protegida, passando do isolamento à queda no
rendimento escolar. Para um tratamento eficaz, é importante que seja diagnosticada o mais cedo possível,
caso contrário poderá acarretar problemas futuros, desencadeando uma depressão ainda maior na idade
adulta. Assim sendo, o presente estudo tem o objetivo de realizar um levantamento acerca dos aspectos
mais relevantes da depressão infantil, incluindo variáveis que podem desencadear tal distúrbio, sintomato-
logia, diagnóstico e tratamento.
Palavras-chave: Depressão infantil. Sintomatologia. Diagnóstico. Tratamento. Saúde da família.
Abstract: Childhood depression has been a widely researched nowadays, contrary to what happened for
more than 30 years when it was considered a characteristic disease of the adults. Currently there is no
longer more doubt that this disease also affects children and can interfere with your development process.
There are several causes for this disease, among them stand out familiars problems, where the child does
not feel loved and protected, going from isolation to poor school performance. For an effective treatment,
it is important to be diagnosed as early as possible, otherwise it may lead to future problems, triggering an
even greater depression in adulthood. Thus, the present study aims to conduct a survey about the most
relevant aspects of childhood depression, including variables that may trigger the disturb, symptomatology,
diagnosis and treatment.
Keywords: Childhood depression. Symptomatology. Diagnosis. Treatment. Family health.
ou passividade exagerada, choro sem razão e Brennan (1992) chama a atenção que para
aparente, dificuldades cognitivas, comporta- a apresentação de um diagnóstico preciso
mento antissocial, indisciplina, ideias ou com- da depressão infantil, é necessário levar em
portamentos suicidas (REIS; FIGUEIRA, 2001). consideração que pelo menos quatro desses
Em episódios depressivos, as crianças sintomas estejam presentes no repertório de
apresentam sintomas de caráter subjetivo e comportamentos da criança, por um período
fenomenológico do pensamento. Elas refletem mínimo de tempo equivalente a duas semanas
a partir de sua própria perspectiva, podendo anteriores à avaliação.
se considerar pessoas más, que não merecem A criança possui características próprias
ser felizes. Esse pensamento está relacionado que dificultam o diagnóstico. Dessa forma,
a problemas de baixa autoestima, sentimento as desordens depressivas nas crianças e nos
de culpa, vergonha e autocrítica exacerbada. adolescentes são associadas frequentemente a
Como consequência, destacam-se problemas prejuízo do comportamento e baixo rendimen-
comportamentais, como dificuldade de con- to escolar, dificilmente são atribuídas a uma
centração e de organização dos pensamentos, depressão. Portanto, ainda é difícil realizar o
agitação e retardo psicomotor. Além disso, o diagnóstico da depressão infantil, em função
humor da criança é deprimido quase todos os das suas variáveis funcionais e à justaposi-
dias, havendo pouco interesse pela realização ção que apresenta com outras psicopatologias
de atividades prazerosas. Quanto aos sinto- da infância (PEREIRA; AMARAL, 2004), além
mas do episódio depressivo maníaco, a criança disso, as diversas classes de depressão exis-
apresenta dificuldade de ficar quieta, agindo tentes também constituem um obstáculo para
como se fosse pressionada a falar sempre. o diagnóstico de tal patologia (BIRMAHER et
Outros sintomas comuns são maior atividade al., 1996).
para alcançar um objetivo, o que pode mani- O difícil diagnóstico da depressão infan-
festar-se por uma agitação psicomotora e o til tem sido uma unanimidade entre os estu-
envolvimento excessivo numa atividade. Pro- diosos. Ao que Lima (2004, p. 41) corrobora
blemas fisiológicos também podem ocorrer quando diz: “Ainda não se conseguiu chegar
como a redução da necessidade de dormir, a uma conclusão com um conjunto de crité-
fazendo com que a criança se sinta cansada rios para identificar a diferença dos sintomas
após poucas horas de sono (MILLER, 1998). idênticos que ocorrem na criança depressiva e
É importante lembrar que os sinais da em outros transtornos subjacentes”. Porém, o
presença da depressão infantil são variados, autor considera a irritabilidade um sinal impor-
e por esse motivo não devem ser analisados tante para chamar a atenção durante o diag-
de maneira isolada, sendo necessário levar em nóstico.
consideração a conjunção dos sintomas e a Embora não seja função dos educadores
durabilidade dos episódios (MARCELLI, 1998). o diagnóstico da depressão infantil, a escola e
Vale ainda ressaltar que depressão não é sinô- o professor desempenham uma função impor-
nimo de criança quieta e desanimada, as ma- tante na identificação dos sintomas depressi-
nifestações da doença podem estar também vos. Porém a dificuldade em reconhecer os sin-
na criança agressiva e hiperativa (CALDERA- tomas da depressão, por parte dos educadores
RO; CARVALHO, 2005). e também por parte da família, agrava essa
Contudo, os pais devem ficar atentos às situação, pois, muitas vezes, os sintomas não
mudanças de comportamento dos filhos, pois são identificados corretamente e estas crian-
a detecção precoce de sintomas depressi- ças acabam não recebendo orientação e trata-
vos pode evitar que venham a desenvolver mento adequados (CRUVINEL; BORUCHOVIT-
quadros graves, que comprometam o convívio CH, 2004).
social e o ambiente escolar e familiar. Para fa- Ao fazer o diagnóstico de depressão em
cilitar a realização de provável diagnóstico e uma criança é necessário considerar os aspec-
indicar encaminhamento para avaliação clínica, tos próprios do processo de desenvolvimen-
existem variados métodos, uma vez que eles to infantil. Os manuais de diagnóstico mais
estão ligados aos diferentes critérios diagnós- citados na literatura são o Manual Diagnóstico
ticos adotados. e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV)
De acordo com Nissen (1983), os princi- e a Classificação de Transtornos Mentais e de
pais comportamentos que caracterizam a de- Comportamento (CID-10). Tais sistemas foram
pressão infantil são: o humor disfórico; a au- desenvolvidos com o intuito de diminuir a va-
todepreciação; a agressividade ou a irritação; riabilidade na interpretação dos sintomas, atu-
os distúrbios do sono; a queda no desempe- almente são os mais aceitos pelos profissionais
nho escolar; a diminuição da socialização; a da área (PEREIRA; AMARAL, 2004).
modificação de atitudes em relação à escola; De acordo com DSM IV, a depressão infan-
a perda da energia habitual, do apetite e/ou til se assemelha à depressão no adulto, dessa
peso. forma, os mesmos critérios para o diagnósti-
Segundo Fichtner (1997, p. 31), “A duração co de depressão no adulto podem ser utiliza-
média de um episódio depressivo é de cerca dos para avaliar a depressão na criança. Esse
de 8 meses, a maioria das crianças recupe- manual lista os sintomas de depressão como:
ram-se em 18 meses sendo a taxa de recidiva humor deprimido na maior parte do dia, falta
num período de 5 anos cesse de 70%”. Shaver de interesse nas atividades diárias, alteração
de sono e apetite, falta de energia, alteração Solomon (2002), é necessário levar em conta
na atividade motora, sentimento de inutilida- a vulnerabilidade genética na etiologia da de-
de, dificuldade para se concentrar, pensamen- pressão. Nesse caso, o tratamento da criança
tos ou tentativas de suicídio. deve ser em conjunto com o dos pais, procu-
Considerando os níveis de desenvolvimen- rando alternativas que levem a mudanças no
to, o DSM IV faz pequenas observações a fim padrão familiar, pois sem a aplicação dessas
de facilitar o diagnóstico de depressão infantil. medidas, a tendência é a falha no tratamento
Especificamente, uma criança deprimida pode (CALDERARO; CARVALHO, 2005).
apresentar humor irritável ao invés de triste- A criança com depressão deve ser traba-
za; ou ainda revelar uma diminuição do rendi- lhada o mais rápido possível, com avaliação
mento escolar em função do prejuízo na capa- e definição do tipo de tratamento mais ade-
cidade para pensar e concentrar. Assim, para quado. Uma avaliação da sintomatologia de-
o diagnóstico de depressão infantil os modelos pressiva precisa ser realizada, bem como as
utilizados são adaptações dos empregados possíveis associações: diagnóstico, falhas na
para o diagnóstico da depressão em adultos, educação, prejuízo no funcionamento psicos-
sendo eles: modelo biológico, comportamen- social, transtornos psiquiátricos, maus tratos.
tal, cognitivo e modelo psicanalítico. Nos casos de depressão leve pode-se realizar
Na CID-10, sobre a seção transtornos encontros regulares, com discussões compre-
do humor (afetivos), são listados os seguin- ensivas com a criança e seus pais, oferecendo
tes tipos de depressão: transtorno afetivo suporte com o objetivo de diminuir o estresse
bipolar; transtorno depressivo recorrente; e e melhorar o humor (LIMA, 2004).
transtornos persistentes do humor (afetivos). Segundo Sigolo (2008, p. 10), a depres-
Esta seção não apresenta diferenciações entre são infantil já dispõe de tratamentos eficazes,
crianças, adolescentes e adultos. Nela também mesmo passando por um processo de expan-
está inserido o episódio maníaco e o episódio são. “Para as crianças, dificilmente é indica-
depressivo, que são categorias que descrevem do medicação, a não ser em casos bastante
sintomas característicos. severos o qual chegue a atrapalhar todo anda-
Para a avaliação de sintomas depressi- mento de sua vida. Normalmente a psicotera-
vos em crianças e adolescentes o Inventário pia que envolva trabalhos com família e escola
da Depressão infantil (CDI) criado por Kovacs mostra-se eficiente.”. Por outro lado, de acordo
(1983, 1985, 1992, 2003) tem sido descrito com Nakamura e Santos (2007), alguns pro-
como instrumento mais utilizado. Empregado fissionais da saúde defendem a necessidade
em pesquisas tanto no Brasil como em outros de utilização de medicamentos, ao invés do
países, esse instrumento é caracterizado como acompanhamento terapêutico, e de os resulta-
psicometricamente satisfatório (WATHIER; dos mais imediatos serem reconhecidos, pois
DELL’AGLIO; BANDEIRA, 2008).
Embora o acompanhamento terapêutico também seja
recomendado numa abordagem múltipla, de maneira
4 TRATAMENTO diferente do que ocorre com os medicamentos, há
controvérsias quanto à sua adoção. Isso em função
de problemas relacionados à duração, à existência
Nos primeiros meses de vida da criança já é de profissionais e aos custos, principalmente por se
possível observar o desenvolvimento de mani- tratar de um serviço público (NAKAMURA; SANTOS,
festações relacionadas a transtornos de ordem 2007, p. 02).
mental e distúrbios de conduta (CALDERARO;
CARVALHO, 2005). A probabilidade de um de- O uso de medicamentos parece ser o
senvolvimento anormal será proporcional ao método mais eficiente e imediato para atender
número de problemas comportamentais, ou essas necessidades, mantendo-se como prática
seja, os sintomas apresentados pela criança, eficaz pela rapidez dos resultados observados,
tendo em vista que a depressão poderá interfe- que vão de encontro com o discurso médico-
rir negativamente nas atividades relacionadas -científico, uma vez que para os médicos o im-
à cognição e à emoção (ANDRIOLA; CAVAL- portante é diagnosticar e curar (NAKAMURA;
CANTE, 1999). Para que haja um desenvolvi- SANTOS, 2007).
mento emocional saudável a criança necessita No entanto, quando a criança não recebe
de um ambiente familiar favorável, capaz de tratamento em tempo hábil poderá desenvol-
suprir suas necessidades básicas, como pro- ver padrões de comportamento que se tornam
teção e acolhimento (ROTONDARO, 2002). Na resistentes a mudanças, podendo então evoluir
ausência de tal condição, a criança pode fazer para quadros mais graves da doença. Nestes
uso de mecanismos de defesa específicos para casos é recomendado um tratamento medi-
lidar com as dificuldades e, consequentemen- camentoso e/ou psicoterápico, devido, princi-
te, comprometer o desenvolvimento das estru- palmente, à presença de comportamentos ou
turas de personalidade que estão se formando pensamentos suicidas (AMARAL; BARBOSA,
nesta fase (CALDERARO; CARVALHO, 2005). 1990).
Um ponto a ser considerado é a saúde Dessa forma, de acordo com Lima (2004),
mental dos pais, levando-se em considera- para que o tratamento seja adequado, é im-
ção que a depressão da criança pode ser um prescindível a realização de uma criteriosa
reflexo do comportamento dos pais. Segundo avaliação dos sintomas apresentados, devendo