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Agradecimentos
Sergio Paulo
1. Histórico 3
2. A Visão Otimista do Ser Humano Ensejada pela ACP 4
3. A Tendência Atualizante 4
4. A Percepção da Realidade Objetiva 6
5. A Percepção de Si – O Auto-Conceito 7
6. A Distorção e a Negação da Experiência – Os Mecanismos de Defesa 9
7. A Relação de Ajuda da Abordagem Centrada na Pessoa 11
8. A Reativação da Tendência Atualizante – As Condições Facilitadoras 11
do Crescimento
9. As Condições Facilitadoras do Crescimento 12
9.1. A Compreensão Empática 12
9.2. A Consideração Positiva Incondicional 15
9.3. Congruência 17
10. Os Efeitos das Atitudes Facilitadoras do Crescimento 19
1. Os Objetivos do CVV 20
2. Os Treinamentos de Papéis (Roleplay – RP) 20
3. A Avaliação do RP 23
4. O Clima Afetivo da Relação de Ajuda 26
5. As Frases Feitas 27
6. A Construção do Diálogo – O Silêncio do Voluntário 29
7. O Silêncio da Pessoa que Procurou o CVV 30
8. As Perguntas Diretas da Outra Pessoa 31
9. A Quarta Condição 34
10. Masturbação 35
11. O "Papo Furado" 37
12. A Postura dos Voluntários 38
13. Os Pedidos de Doação 39
14. Os “Contatos Freqüentes” 40
15. A Solidão 41
Referências Bibliográficas 45
1. Histórico
Em 11 de dezembro de 1940, um desconhecido psicólogo chamado Carl
Ramson Rogers, à época com 38 anos, apresentou numa palestra, realizada na
Universidade de Minnesota, o que considerava serem "os mais recentes conceitos em
psicoterapia". Esses conceitos haviam sido desenvolvidos ao longo de seus doze anos
de experiência em psicoterapia no Rochester Society for the Prevention of Cruelty to
Children - NY, uma instituição que se dedicava a auxiliar a crianças pobres e
delinqüentes, e a partir de intensas pesquisas realizadas durante o ano de 1940, na
Universidade de Ohio.
Rogers resumiu a nova abordagem, que acreditava estar sendo praticada pela
maioria dos psicólogos mais jovens, em quatro tópicos (1, p. 35):
Rogers ficou surpreso ao perceber o espanto generalizado com que sua palestra
fora recebida. Entre críticas contundentes, elogios, apupos e ovações constatou que
havia, na verdade, criado uma nova abordagem, inovadora e revolucionária em muitos
aspectos.
Ao longo das décadas que se seguiram, nas Universidades de Ohio, Chicago,
Wisconsin e posteriormente no Centro de Estudos da Pessoa, em La Jolla – Califórnia,
Rogers, pesquisador incansável, coordenou uma série de estudos, envolvendo um
grande número de colaboradores e agregou contribuições de outros profissionais às
suas idéias, que adquiriram, então, um cunho científico e tiveram sua eficácia
psicoterápica comprovada. Com a publicação, em 1942, de Psicoterapia e Consulta
Psicológica (8), a nova abordagem recebe a denominação de Terapia Não-Diretiva. Em
1951, surge Terapia Centrada no Cliente (12), que estabelece uma Teoria da
Personalidade e uma Teoria de Psicoterapia. É alcançada a maturidade científica.
Posteriormente, Rogers percebeu que havia um imenso campo, ainda
inexplorado, para aplicação dos princípios que regiam a Terapia Centrada no Cliente.
Dedica-se à aplicação da abordagem a outros campos das relações humanas. Em
1961 publica Tornar-se Pessoa (14), escrevendo, pela primeira vez, para não
psicólogos. Surgem os Grupos de Encontro (13) - 1970, dos quais participariam
milhares de pessoas, em quase todo o mundo, inclusive na extinta URSS (em plena
Guerra Fria) e no Brasil. A nova abordagem, facilitadora do crescimento e promotora
3. A Tendência Atualizante
O conceito de Tendência Atualizante (ou tendência ao desenvolvimento) é o
mais importante fundamento da ACP.
Desde o início, Rogers percebeu que havia uma tendência para o crescimento,
para o desenvolvimento presente em todos os seus clientes. Em 1946 (5) formalizou o
que chamou de "a descoberta da capacidade do cliente". O conceito foi amadurecendo
ao longo dos anos, a partir da contribuição das idéias de outros teóricos, até que em
1959 surge o conceito de Tendência Atualizante (9).
Todas as formas de vida estão animadas por um impulso natural para o
crescimento, para o desenvolvimento e realização de seus potenciais, visando sua
conservação e enriquecimento.
5. A Percepção de Si - O Auto-conceito
Dentro do campo perceptual há uma parcela reservada à percepção de si
mesmo. É a auto-imagem, imagem de si, eu, self ou auto-conceito. Denominações
diferentes para o mesmo fenômeno: assim como percebe e atribui valores à realidade
que o cerca, o indivíduo percebe a si mesmo e atribui, da mesma forma, significados a
si (10, p. 42). O auto-conceito vai se formando gradativamente, à medida que o
indivíduo vai se relacionando com os outros e com o ambiente. Assim como ocorre com
a percepção da realidade objetiva, nem sempre corresponde à realidade, como
veremos adiante.
9.3. Congruência
A congruência possui três aspectos igualmente importantes. O primeiro diz
respeito à transparência exigida do voluntário durante as relações de ajuda, ou seja, à
congruência (harmonia) que deve existir entre o que é simbolizado na consciência (o
que é vivenciado pelo voluntário) e o que ele comunica. Nossas relações sociais
comuns acontecem sob o domínio de determinadas regras, às quais todos estamos
submetidos, embora não estejam formalizadas em lugar algum. Por exemplo, quando
cruzamos com um vizinho no elevador do nosso prédio, e ele nos dá bom-dia e nos
pergunta se está tudo bem, é óbvio que a essa pergunta a resposta "esperada" é bom-
dia, tudo bem e com você tudo certo?, ou algo que o valha. Quem se atrevesse a
responder o que estivesse realmente sentindo e começasse a falar de suas
preocupações, frustrações etc. certamente seria tomado por inconveniente ou
perturbado. Nas relações sociais habituais a verdade não importa. As perguntas e as
respostas já estão previamente estabelecidas, devendo ser apenas adequadas a cada
ocasião e ligeiramente flexibilizadas ao jeito de ser de cada um. O que importa é se sair
bem, mesmo que não se seja sincero, comunicando o que realmente se desejaria. Às
perguntas adequadas esperam-se respostas igualmente adequadas. Esta regra,
conquanto tenha, indiscutivelmente, seu valor, acaba por contribuir para que grande
parte das nossas relações interpessoais se mantenha dentro de uma "superficialidade
educada e segura", o que pode ser, para muita gente, sinônimo de isolamento e
solidão.
Nas relações de ajuda da ACP, as regras são bem diferentes. Quando a pessoa
começa a conversar com o voluntário, normalmente mantém-se dentro dos limites da
superficialidade, tanto para sondar seu interlocutor e avaliar se é seguro prosseguir e
abrir-se, como pelo hábito, pela maneira usual de se conduzir numa conversa. É
fundamental que o voluntário demonstre por suas atitudes que ali, naquele momento
da relação de ajuda, vigoram a sinceridade, a verdade, a transparência, ou seja, o
voluntário não é falso, não dissimula, sente realmente tudo o que está comunicando,
sem necessariamente comunicar tudo o que está sentindo, porque há conveniência e
inconveniência do que pode ser comunicado. A transparência significa que, através das
atitudes do voluntário, o outro sabe o que está acontecendo dentro dele (do voluntário).
É como se a pessoa olhasse ou ouvisse o voluntário e visse seu coração. Essa atitude
3. A Avaliação do RP
Os Parâmetros de Avaliação: Como o RP é um exercício de vivência da
relação de ajuda orientada pela ACP, seus parâmetros de avaliação devem ser os
mesmos da ACP: compreensão empática, consideração positiva incondicional e
congruência. A efetivação dessas atitudes por parte do voluntário, independentemente
de quaisquer resultados que possam ser apreciados, é que deve ser considerada
quando da avaliação do RP. Note-se que, de todos os participantes do exercício, um
deve receber maior atenção: aquele que atendeu, pois o RP visa, principalmente,
fornecer meios de desenvolvimento da capacidade de ajuda.
Os Procedimentos da Avaliação: O procedimento de avaliação, contudo, pode
variar conforme a inclinação ou experiência de cada grupo. A seguir são listados alguns
desses procedimentos:
O Voluntário - Consciência de Si Mesmo: Terminado o exercício, estabelece-
se um breve diálogo entre o coordenador do RP e o voluntário (ou candidato) que
atendeu o caso. A pergunta básica que o coordenador faz ao voluntário (ou candidato)
é “O que se passou com você durante o RP?”. Em outras palavras, o coordenador
tenta, nos instantes que se seguem, ser um facilitador para que o voluntário (ou
candidato) descubra o que se passou em si, o que sentiu, o que vivenciou ao longo do
RP e como isso influenciou o desenvolvimento do exercício (por exemplo, ficou tenso,
apático, inseguro, ansioso, desconcertado, com raiva, excitado etc?). Essas
informações podem ser muito úteis na medida em que o voluntário fica sozinho em
seus plantões, necessitando desenvolver a capacidade de auto-analisar-se, de
auscultar seu próprio íntimo, identificando suas dificuldades para poder lidar com elas;
tais dificuldades são relativas a seus preconceitos, a contágios emocionais, sua
inflexibilidade etc.. Devem ser evitadas as avaliações descritivas, que visam
"desvendar os mistérios do caso", porque outros voluntários (ou candidatos) podem
desejar atender o mesmo caso. Justificativas de erros e deslizes por parte de quem
atendeu o caso são desnecessárias.
O Outro – Feed-Back: A seguir o voluntário (ou candidato) que foi o outro na
relação, informa se percebeu as dificuldades relatadas pelo colega, descreve os efeitos
5. As Frases Feitas
Ao longo do tempo, foram introduzidas no CVV frases que se tornaram tão
conhecidas e utilizadas, que muitos passaram a acreditar que elas eram a mais pura e
confiável expressão da Abordagem Centrada na Pessoa, que o CVV adota. São,
contudo, a antítese do que preconiza a ACP. O que as torna realmente inadequadas e
danosas é a forma mecânica como são utilizadas, sendo introduzidas em momentos
totalmente impróprios.
Na verdade, tais frases apenas evidenciam a dificuldade que alguns voluntários
têm para lidar com determinadas situações e para trabalhar com o material recebido da
outra pessoa (não sabem o que fazer com o que a pessoa disse). As frases surgem
então, como recursos para aliviar a própria ansiedade e escapar da situação que
julgam ser ameaçadoras, desconcertantes ou intimidativas.
É preciso destacar o caráter pernicioso que podem adquirir quando assumem
duplo sentido. As comunicações de duplo sentido são frontalmente contarias ao
A resposta não deve ser dada diretamente: como foi visto no item 9.2.
Consideração Positiva Incondicional, do Capítulo I, o voluntário deve abster-se de
julgar, criticar, dirigir e influenciar o outro. Algumas perguntas, se respondidas, vão,
necessariamente, significar uma violação desse princípio. Responder objetivamente a
esse tipo de pergunta significa lançar no campo perceptual (vide item 4. A Percepção
da Realidade Objetiva, Capítulo I) do outro, o qual desejamos preservar (para que ele
possa experienciar a si mesmo), nossa própria percepção, tanto ao respondermos
afirmativamente, quanto negativamente. Conquanto seja verdade que algumas
pessoas só perguntam por perguntar, pois desconsideram as respostas (já tem
formado o próprio juízo), é preciso prudência para não confundir mais ainda a outra
pessoa com nossas próprias impressões. Em situações como essa, ao invés de sentir-
se pressionado e reagir, o voluntário precisa abrir-se para compreender empaticamente
o outro. Os exemplos a seguir, mostram algumas possibilidades desse tipo de
pergunta, evidenciando a influência decisiva do contexto em que ocorrem, para
adequação da resposta do voluntário, que, no caso, é do sexo masculino:
b) “eu tinha tantos planos, sabe?... aquele homem fazia parte da minha vida;
mas quando ele me disse que eu tinha engordado demais, que ele já não sentia
atração por mim, fiquei arrasada. Bateu o maior grilo. Você acha que as mulheres
gordas não despertam desejo nos homens?”. Também aqui, tentar responder
diretamente a pergunta recebida significa tecer a teia da qual o próprio voluntário será
prisioneiro. Como no exemplo anterior, referir-se ao fim do romance com uma resposta
do tipo “Todos os teus sonhos, os teus planos com ele se desfizeram, ruíram, quando
ele te disse que não te desejava mais.”, também seria uma resposta empática, mas
não contemplaria a experiência, certamente muito importante para a mulher aquela
altura: a dúvida, a desconfiança dos verdadeiros motivos dele para por fim ao
relacionamento. Uma possibilidade de resposta que contemplaria essa experiência
poderia ser “Você fala como quem não acredita na explicação dele, no motivo que ele
alegou pra terminar tudo.”.
9. A Quarta Condição
Como já foi visto no item 9.3. Congruência, do Capítulo I, são três as condições
facilitadoras do crescimento. Pode-se, contudo, postular uma quarta condição: o outro
deve perceber, pelo menos num grau mínimo, as atitudes (comportamento e palavras)
– compreensão empática, consideração positiva incondicional e congruência - do
voluntário. Caso isso não ocorra, não há relação de ajuda, dentro dos conceitos da
ACP, pois o doente que não ingere o remédio não pode ser considerado como tratado.
10. Masturbação
Os chamados "casos de masturbação" são aqueles em que a outra pessoa, seja
homem ou mulher, liga com o objetivo de transformar o(a) voluntário(a) em
acompanhante de seu processo de auto-excitação, cujo clímax é, naturalmente, o
orgasmo.
Para isso, muitas vezes solicita ao(à) voluntário(a) que lhe diga algo excitante,
com voz sensual, tentando torná-lo(a) co-participante de sua masturbação. Outras
vezes dissimula, tornando mais difícil a identificação do que realmente está ocorrendo
do outro lado da linha.
Nestes casos deve-se considerar alguns aspectos importantes:
É preciso que o(a) voluntário(a) esteja preparado(a) para esse tipo de
contato; se fica chocado(a) torna-se incapaz de lidar com a situação. Normalmente a
masturbação não é considerada como expressão de alguma patologia (conquanto
possa ser), principalmente se o indivíduo mantém relações sexuais com freqüência
menor do que necessitaria para satisfazer-se. Ao mesmo tempo, também não deve ser
encarada como "falta de vergonha" ou coisa parecida. Todo ser humano tem
necessidade de sexo, sendo que para uns essa necessidade pode ser muito mais
expressiva do que para outros. Os treinamentos em RP podem ser de grande valia
para preparar o(a) voluntário(a) para lidar com esses tipos de casos, diminuindo o
impacto emocional que possam causar.
A identificação da masturbação já em andamento, ou da intenção da pessoa
em se masturbar, nem sempre é fácil e exige perspicácia e prudência. Normalmente a
respiração, a voz e o assunto abordado denunciam esse tipo de ocorrência, mas não
necessariamente. Pessoas portadoras de problemas respiratórios, asmáticas por
exemplo, costumam apresentar um quadro de respiração e voz bastante semelhante. É
preciso discernimento e calma para não trocar um caso pelo outro. Mas quando o(a)
voluntário(a) percebe realmente tratar-se de masturbação é preciso abordar o assunto
abertamente, sem constrangimentos.
Temos, ao longo dos últimos anos, baseado nossa abordagem a esse tipo
de caso na idéia de que quem liga para um desconhecido buscando companhia para
se masturbar está muito solitário, necessitando de atenção e calor humano. A partir
dessa visão, muitos voluntários se propõem, mesmo, a acompanhar a pessoa em sua
masturbação, até que chegue ao clímax e possa, então, conversar e, quem sabe,
vivenciar uma relação de ajuda. Essa visão “fraternal” desse tipo de procedimento da
pessoa que liga para o CVV para se masturbar, tem, com certeza, contribuído para que
isso tenha se tornado o problema que é hoje, com tantas chamadas desse tipo, que
causam, normalmente, grande constrangimento, principalmente às voluntárias.
É preciso, contudo, refletir mais friamente sobre essa delicada questão.
Quem será essa pessoa que liga para uma instituição, cujo objetivo é plenamente
P: Eu estava vendo o Sem Censura essa semana... você viu o Sem Censura essa
semana?
V: Não, não vi, não...
P: Apareceu lá uma tal de Fulana, dizendo que inhame cura dengue. Eu já tinha lido
isso num livro... escrito por Sicrana de tal. Você conhece a Sicrana?
V: Não, não... realmente não conheço.
P: Pois é, ela descreve as propriedades do inhame e afirma que ele pode até curar a
dengue. Mas as pessoas não estavam acreditando muito nela, não. Mas, tanto isso é
verdade, que antigamente existia na farmácia um extrato de inhame... era para depurar
o sangue; o inhame aumenta as propriedades imunológicas do organismo...
V: Ou seja, o inhame realmente tem propriedades terapêuticas, medicinais... Ela não
estava inventando.
P: Pois é, ele tem... E é barato, pode ser encontrado em qualquer feira ou
supermercado; a população pode comprar, você entende?
V: É um recurso terapêutico de fácil acesso...
P: É isso mesmo!...
Como se pode observar, o "papo" correu naturalmente, sem que o outro
percebesse que havia um esforço de compreensão por parte do voluntário. Mesmo
15. A Solidão
Solidão significa abandono e angústia ou liberdade e prazer?
A solidão é, possivelmente, o sentimento mais freqüente nos contatos que ocorrem no
CVV. Convém, então, conhecê-la bem para que se possam ter procedimentos
adequados diante das diversas situações que a envolvem e com as quais se depara o
voluntário em seus plantões.
Em primeiro lugar, seria interessante buscar-se uma definição de solidão. Um
dicionário de língua portuguesa poderá nos informar que solidão é um "estado de quem
se acha ou se sente desacompanhado ou só; isolamento". Do ponto de vista
psicológico, essa definição é bastante incompleta, mas destaca um determinado
aspecto da solidão que também é importante: o isolamento.