INTERNACIONAIS
autor do original
ALINE LETÍCIA DE CAMARGO VAZ
ANA CAROLINA ARANTES ROCHA
HIGOR SARRACINI LIMA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial durval corrêa meirelles, ronald castro paschoal,
otávia travençolo muniz sala
Autor do original aline letícia de camargo vaz, ana carolina arantes rocha,
higor sarracini lima
Diagramação fabrico
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por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
ISBN: 978-85-5548-087-4
Prefácio 7
1. Tratados internacionais 10
Normas internacionais e tratados internacionais 10
Perspectiva histórica do tratado internacional 11
Entendimento do fenômeno convencional 12
Classificação dos tratados 16
Produção do texto convencional 18
Expressão do consentimento 21
Entrada em vigor 25
Tratados em vigor 26
Bons estudos!
7
1
Tratados
internacionais
1 Tratados Iinternacionais
Tratado é todo acordo formal realizado entre sujeitos de direito internacional
público e destinado a produzir efeitos jurídicos no plano internacional.
Isto é, o Tratado é o meio pelo qual os sujeitos de direito internacional,
principalmente os Estados e Organizações Internacionais estipulam direitos e
obrigações. Em relação a sua terminologia, tratados também podem ser conhe-
cidos como convenção, acordo, protocolo, entre outros, não havendo nenhuma
distinção em seu significado.
OBJETIVOS
• Perspectiva histórica do tratado internacional
• Conhecimento sobre: conceito, terminologia, atores, efeitos e base instrumental dos tratados;
• Compreensão da classificação dos tratados;
• Análise da produção do texto convencional;
• Compreensão da expressão consentimento;
• Análise da entrada em vigor dos tratados.
REFLEXÃO
O primeiro registro que se tem sobre a celebração de um tratado se refere à paz entre Hatusil
III, rei dos hititas, e Ramsés II, faraó egípcio da XIXª dinastia, pondo fim assim à guerra nas
terras sírias por volta de 1280 e 1272 a.C
10 • capítulo 1
princípios gerais de direito. Além disso, fez referência à jurisprudência e à dou-
trina como meios auxiliares na determinação das regras jurídicas, e facultou o
uso da equidade.
O direito dos tratados até o início do século passado tinha uma consistência
costumeira, tendo como base certos princípios gerais como o pacta sunt ser-
vanda e o da boa-fé.
O primeiro registro que se tem sobre a celebração de um tratado se refere à
paz entre Hatusil III, rei dos hititas, e Ramsés II, faraó egípcio da XIXª dinastia,
pondo fim assim à guerra nas terras sírias por volta de 1280 e 1272 a.C.
WIKIPIDIA
No século XIX, não houve alteração no contexto dos tratados que costuma-
va ser sempre costumeiro, mas houve uma sensível ampliação no seu contexto
normativo, por força do aparecimento dos tratados multilaterais que consis-
tiam desde o preparo até o mecanismo de extinção.
Outros fatores também contribuíram para a grande relevância na evolução
dos tratados, como por exemplo, o aparecimento do chefe de Estado, a mul-
tiplicação dos regimes republicanos e a constitucionalização da monarquia.
Dessa forma, tal disciplina passou a ter um novo fator de complexidade, o en-
volvimento no processo de órgãos estatais de representação popular, sem co-
capítulo 1 • 11
municação direta com o exterior, fazendo com que o parlamento consultasse
como preliminar de ratificação.
Este século trouxe dois novos acontecimentos. O primeiro foi a entrada das
organizações internacionais, ampliando o leque de participação de pessoas
jurídicas habilitadas para pactuar no plano exterior, já não mais apenas entre
Estados soberanos. O segundo acontecimento foi a codificação do direito dos
tratados, transformando suas regras costumeiras em regras escritas, expressas,
convencionais, dispostas no corpo de um tratado.
A grande evolução do direito dos tratados na época foi a Convenção de Vie-
na realizada em 23 de maio de 1969 que trouxe negociações envolvendo cento
e dez Estados, dos quais apenas trinta e dois firmaram o documento naquela
época. Após dez anos da Convenção de Viena, o grande tratado no qual foi feito
com um trabalho detalhado em conjugação de talentos incomuns para reger o
destino de todos os demais tratados entrou em vigor.
1.3.1 Conceito
Podemos dizer que tratado é todo acordo formal, feito entre sujeitos de direito
internacional público, destinado a produzir efeitos jurídicos. (REZEK, 2002)
Além disso, é um simples instrumento identificado pelo seu processo de
produção, pela sua forma, não pelo seu conteúdo.
© STEVE ALLEN | DREAMSTIME.COM
12 • capítulo 1
tam de serviço diplomático, sobre o mar, e principalmente aqueles que versam
sobre solução pacífica de litígios entre Estados.
Vale destacar que a terminologia que o legislador brasileiro faz em relação
aos tratados e convenções induz o leitor a ideia de que os dois termos possuem
significados diversos, entretanto, não é o correto.
No Brasil, é possível usar vários termos para tratados, como por exemplo:
acordo, ajuste, arranjo, ata, ato, carta, código, compromisso, constituição,
contrato, convenção, convênio, declaração, estatuto, memorando, pacto, pro-
tocolo, e regulamento. Esses termos possuem o mesmo significado. Entretan-
to, pode ocorrer que em certas situações haja preferência para algum desses
nomes. Por exemplo, carta e constituição são termos normalmente utilizados
quando há tratados constitutivos de organizações internacionais. Por outro
lado, o termo ajuste, arranjo e memorando normalmente são utilizados em tra-
tados de importância reduzida. Somente o termo concordata possui um signifi-
cado singular no qual é utilizado em tratados bilaterais em que uma das partes
é a Santa Sé, e que tem como escopo a organização do culto ou qualquer relação
com a Igreja católica e o Estado.
Podemos dizer também que o tratado é um acordo formal, que se exprime com
precisão em determinado momento histórico e com teor bem definido. Assim, o
tratado deve ser um acordo concluído, isto é efetivamente acabado para que possa
entrar em vigor, pois antes de concluído não passa de um mero projeto.
capítulo 1 • 13
c) A Santa Sé e o Estado do Vaticano: A Santa Sé é entidade que comanda a
Igreja Católica, chefiada pelo Papa e composta pela Cúria Romana (con-
junto de órgãos que assessora o Sumo Pontífice). A Santa Sé é sediada na
cidade do Vaticano, a qual se atribuiu a condição de Estado a partir do
conhecido Tratado de Latrão.
14 • capítulo 1
Estas entidades ou indivíduos se sujeitam às regras de Direito Internacio-
nal, sendo que algumas, especificamente, são responsáveis pela elaboração da
espécie mais conhecida dentre todas as normas internacionais: o tratado inter-
nacional. Para o doutrinador Rezek atores ou partes do tratado internacional,
são necessariamente pessoas de direito internacional público que são os Esta-
dos (envolvendo aqui a Santa Fé) e as Organizações Internacionais.
CURIOSIDADE
Um dos mais famosos casos de acordos gentlemen’s agreement ocorreu logo após a segun-
da guerra mundial. O célere acordo foi firmado em 1945, conhecido como acordo de Yalta
em que versava sobre propósitos comuns entre governo japonês e norte americano.
capítulo 1 • 15
CURIOSIDADE
A qualificação de algum acordo como gentlemen’s agreement, e não como tratado, só é possível
após a leitura integral do texto, ante a percepção do acordo formal, lavrado por pessoas represen-
tativas de sujeitos de direito internacional público, não se destinando a produzir efeitos jurídicos,
mas com a finalidade de estabelecer o reconhecimento de certos princípios, por exemplo.
16 • capítulo 1
1.4.1 Número de partes
Haverá tratado bilateral quando houver somente duas partes. Por outro lado,
haverá tratado multilateral quando houver número igual ou superior a três
pactuantes.
1.4.2 Procedimento
capítulo 1 • 17
1.4.4 Execução no tempo
Precisamos diferenciar aqui o tratado que cria uma situação jurídica estática
e definitiva, com aquele tratado que visa uma situação jurídica dinâmica, que
vincula as partes por prazo certo e indefinido.
O exemplo da primeira espécie é o tratado de fronteiras, também conhecido
como tratado de limites, no qual dois Estados pactuam a linha divisória entre
eles. Já o segundo é aquele tratado que seu objeto está em constante mudança,
exemplo, tratado que versa sobre importação e exportação de bens.
18 • capítulo 1
autoridade fluente, não se exige apresentação de uma carta de plenos po-
deres quando praticar algum ato internacional.
ATENÇÃO
Não há necessidade do chefe da delegação ser um diplomata, outros servidores do Estado
também podem exercer essa função como é o caso dos militares, embora seja comum a
presença de pelo menos um diplomata no corpo da delegação.
capítulo 1 • 19
países plurilíngues que tenham idioma comum como é o caso do inglês entre
Canadá e Nigéria.
Por outro lado, quando as partes possuem idiomas diferentes, o tratado po-
derá ser feito pelo idioma que ofereça maior comodidade entre os pactuantes,
podendo ser até um terceiro idioma diverso escolhido entre as partes.
Assim, as partes terão que entrar num consenso para estabelecer o texto do
tratado bilateral expresso. Quando não houver mais nenhuma negociação ou
debate, o texto estará concluído. Além disso, poderá ser utilizado mais de um
idioma para sua elaboração quando assim o fizer necessário. Entretanto, para
que se tenha validade e autenticidade é necessária à assinatura e em alguns ca-
sos a ratificação do tratado.
ATENÇÃO
Na hipótese de um tratado bilateral sujeito à ratificação, assim considerado como tratado
longo, a simples assinatura não cria vínculo convencional.
20 • capítulo 1
A primeira parte do tratado é o preâmbulo que tem como finalidade enun-
ciar as partes contratantes, os motivos pelos quais o tratado está sendo feito, as
circunstâncias e os pressupostos do ato convencional, tudo isso para orientar a
interpretação do dispositivo.
A parte essencial do tratado recebe o nome de dispositivo que deve ser lavra-
do em linguagem jurídica, o que não é obrigatório nas outras partes do tratado.
Sua estrutura possui normas ordenadas e numeradas por artigos. Exemplo: o
Tratado de Versalhes de 1919 contém quatrocentos e quarenta artigos.
Os anexos, diferentemente do preâmbulo, pertencem ao teor compromissi-
vo do tratado. Conforme a matéria do tratado, o anexo pode conter uma lista de
produtos químicos, de entorpecentes, de espécies de fauna entre outros. Isto
porque os anexos servem como um complemento do dispositivo.
1.6.1 Assinatura
A assinatura está relacionada com aquela firma que põe termo a uma negocia-
ção, que tem como finalidade autenticar o texto do compromisso e exteriorizar
o consentimento das pessoas jurídicas envolvidas.
Com as devidas assinaturas os tratados breves passam a ter vigência imedia-
ta, exceto se for acordado prazo diverso entre as partes.
© ANDREY POPOV | DREAMSTIME.COM
Pode ser também que as partes tenham pactuado o período de vacatio le-
gis, no qual é um período estabelecido entre as partes que se deve esperar um
prazo, um momento ideal para o início da vigência do tratado. Deve-se lembrar
capítulo 1 • 21
que mesmo havendo o período de vacatio legis, o tratado esta finalizando, des-
se modo, não é possível a retratação baseando-se no fato de que o pacto ainda
não entrou em vigor.
1.6.2 Ratificação
O termo ratificação para Arnold McNair tem pelo menos quatro aspectos:
a) Ato do próprio órgão estatal que exprime a vontade do Estado de se obri-
gar através de um tratado;
b) O procedimento internacional pelo qual o tratado entra em vigor;
c) Documento autenticado pelo qual o Estado exprime sua vontade de se
obrigar pelo tratado;
d) Aprovação do tratado por um órgão estatal. (REZEK,2003)
22 • capítulo 1
1.6.2.1 Forma de ratificação
A ratificação deve ser necessariamente expressa, pois na forma tácita não há
formalidades, fato que não traz segurança jurídica. Podemos dizer que a rati-
ficação se consuma quando há uma comunicação formal da outra parte ou ao
depositário.
A ratificação de depositário ocorre normalmente nos tratados coletivos em
que não é viável ao Estado promover ratificação perante cada um dos demais
pactuantes. Desse modo, o que ocorre é o depósito do instrumento de ratifica-
ção, cujo fato será noticiado aos ingressados.
Importante: não se promulga esse diploma quando o Congresso rejeita o tratado, caso
em que apenas cabe comunicar ao presidente da República.
© GIANCARLO LIGUORI | DREAMSTIME.COM
capítulo 1 • 23
1.6.4 Reservas
24 • capítulo 1
c) Coação sobre o Estado. Aqui a coação é exercida sobre a pessoa jurídica
de direito internacional, ocorrendo a nulidade absoluta. Segundo a Con-
venção de Viena em seu artigo 52: “É nulo um tratado cuja conclusão foi
obtida pela ameaça ou o emprego da força em violação dos princípios de
direito internacional incorporados na Carta das Nações Unidas”.
1.7.1 Sistemas
Desde sua vigência deve o tratado compor a ordem jurídica nacional de cada Es-
tado parte. Assim, as partes poderão cumpri-lo. Além disso, poderão garantir-lhe
vigência, os tribunais e juízes que fazem parte da produção interna dos normativos.
No âmbito do direito internacional é indiferente o método eleito pelo Estado para pro-
mover a recepção das normas no ordenamento jurídico, pois o que é relevante é que o
tratado tenha boa fé e seja cumprido pelas partes.
capítulo 1 • 25
1.7.3 Promulgação e publicação de tratados no Brasil
O tratado terá a mesma estrutura hierárquica de uma lei nacional, podendo ser
mais que isso dependendo do Estado. O importante é que se reconheça que
mesmo que o tratado tenha sido criado em foro diverso, não se distingue nas
normas jurídicas internas.
26 • capítulo 1
d) Previsão Convencional de obrigações para terceiros. O sistema de garan-
tia. Aqui um Estado soberano mesmo não fazendo parte do pacto fica
obrigado por um acordo internacional a cumprir o acordo.
ATENÇÃO
Nos tratados coletivos, raramente a entrada em vigor ocorre junto com a consumação do
vínculo. A vigência contemporânea com o consentimento definitivo é comum nas hipóteses
de tratados bilaterais.
1.8.4 Emendas
capítulo 1 • 27
1.8.5 Violação
REFLEXÃO
Vimos no presente capítulo, as principais peculiaridades referentes aos tratados internacio-
nais, bem como seu conceito e requisitos para criação de um tratado.
Estudamos ainda, os segmentos que fazem parte de um tratado de um tratado, os proce-
dimentos que o tratado deve seguir em sua criação.
Estudamos também como se produz o texto convencional de um tratado, falamos aqui sobre
os sujeitos competentes e sobre a estrutura interna de um tratado.
Neste capítulo, encerramos nossos estudos com os pressupostos para a entrada em
vigor do tratado no âmbito nacional. Dessa forma, com base nos conceitos estudados, você
estará apto a reconhecer um tratado internacional e identificar os requisitos para que o tra-
tado seja considerado válido.
ATENÇÃO
1. Qual o conceito de Tratado Internacional?
28 • capítulo 1
LEITURA RECOMENDADA
Livro: Direito Internacional Público – Curso Elementar
Autor: J. F. Rezek
Editora: Saraiva
Essa obra traz de forma minuciosa e detalhada os principais aspectos referentes aos trata-
dos Internacionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACCIOLY, Hildebrando; NASCIMENTO E SILVA, G. E.; CASELLA, Paulo Borba. Manual de
direito internacional público, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010.
AMORIM, Edgar Carlos de. Direito Internacional Privado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Forense. 2003.
BASSO, Maristela. Curso de direito internacional privado, 2ª ed., São Paulo: Atlas,
2011.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 23ª ed. São Paulo: Malheiros Edi-
tores. 2008.
DOLINGER, Jacob. O Direito Internacional Privado – Parte Geral. 11ª ed. Rio de Janei-
ro: Editora Forense. 2014.
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito, São Paulo: Atlas,
1988.
capítulo 1 • 29
GUERRA, Sidney. Curso de direito internacional público, 7ª ed., São Paulo: Saraiva,
2013.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, 16ª ed., São Paulo: Saraiva,
2012.
MASCARO, Alysson Leandro. Introdução ao estudo do direito, 4ª ed., São Paulo: Atlas,
2013.
MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de direito internacional público, 15ª ed., Rio de
Janeiro: Renovar, 2004.
REZEK, J. F. Direito Internacional Público – Curso Elementar. 9ª. ed.São Paulo: Saraiva
2002.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores. 2004.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, iremos finalizar o estudo dos tratados internacionais e iniciar a análise
sobre direito internacional privado.
30 • capítulo 1
2
Tratados
internacionais em
espécie e noções
gerais de direito
internacional privado
2 Tratados internacionais em espécie e
noções gerais de direito internacional privado
Caros alunos, neste capítulo iremos finalizar os estudos dos tratados interna-
cionais.Além disso, nesse segundo capítulo vamos introduzir os estudos dos as-
pectos gerias do direito internacional privado. Vamos também analisar a lei de
introdução às normas do direito brasileiro, também conhecida como LINDB.
OBJETIVOS
• Finalizar o estudo dos Tratados Internacionais;
• Analisar o Pacto de São Jose da Costa Rica bem como os Tratados Internacionais de
Direitos Humanos;
• Analisar o objeto do direito internacional privado;
• Conhecer as normas do Direito Internacional Privado.
REFLEXÃO
O rol das fontes no Estatuto da Corte de Haia realizado em 1920, foi o primeiro tribunal
vocacional para resolver litígios entre Estados sem qualquer limitação de ordem geográfica
ou temática. Esse estatuto teve grande importância no âmbito internacional por ter sido o
primeiro a fazer uma relação entre os tratados, os costumes e os princípios gerais de direito.
32 • capítulo 2
esparsas, nem mesmo agrupadas de qualquer modo, sem critérios” (MASCA-
RO, 2013, p. 117). Assim, falar em ordenamento jurídico significa considerar as
normas em seu harmonioso conjunto, de modo que atuem regulando condutas
sob a forma de um verdadeiro sistema, assim elucidado, com clareza ímpar,
por Tércio Sampaio Ferraz Júnior:
capítulo 2 • 33
Constituição
Federal
Lei complementar, Lei
Ordinária, Lei delegada,
Medida Provisória, etc
Decretos Regulamentares
34 • capítulo 2
a liberdade de manifestação do pensamento, a liberdade de locomoção, a livre
manifestação do pensamento, direito de acesso à serviços de saúde, educação,
etc., todos orientados pelo princípio fundamental e irrevogável da dignidade
da pessoa humana.
Em resumo, a teoria de Kelsen ainda hoje representa um modelo formal de
ordenamento jurídico que considera as normas em seu conjunto harmônico
(MASCARO, 2013, p. 132), tendo como parâmetro os valores e regras constitu-
cionais que condicionam todas as demais normas (leis, atos normativos, deci-
sões judiciais, etc). Isso evita que haja conflito entre tais normas (pois aquelas
que forem contrárias à Constituição Federal não têm aplicação, ou seja, são nu-
las), bem como evita, ou deveria evitar, políticas de natureza discriminatória,
totalizadora, de restrição de direitos, etc.
Assim, considerando a pirâmide de Kelsen já exposta, normas hierarquica-
mente superiores prevalecem sobre normas hierarquicamente inferiores, re-
vogando-as em caso de conflito. Com efeito, em termos de hierarquia temos,
das normas superiores às inferiores: 1) normas constitucionais; 2) leis com-
plementares, leis ordinárias, leis delegadas, decretos legislativos, resoluções e
medidas provisórias; 3) decretos regulamentares; 4) outras normas, tais como
portarias, circulares, instruções normativas, etc.
No entanto, podem ocorrer conflitos entre normas de mesma hierarquia,
por exemplo, entre duas leis ordinárias que tratam de forma diferente a mesma
situação, e para superarmos tais conflitos utilizamos dois outros critérios: a)
cronológico; e b) especialidade.
Assim, a norma mais nova revoga a norma antiga, atendendo-se ao cri-
tério cronológico. Como exemplo, citemos o Código Civil de 2002 (Lei nº
10.406/2002), que revogou o Código Civil que vigia desde 1916 (Lei 3.071/16).
Quanto ao critério da especialidade, vê-se que a lei especial prevalece sobre a lei
geral, não para revogá-la, mas para aplicar-se aos casos especiais em detrimen-
to da norma geral, que continua vigente para os casos gerais. Como exemplo,
temos a aplicação do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) aos con-
tratos de compra e venda e de prestação de serviço que são celebrados especifi-
camente entre o fornecedor e o destinatário final. Porém, para os contratos de
compra e venda e prestação de serviço em geral ainda se aplica o Código Civil.
capítulo 2 • 35
2.2 Critério para solução de conflitos e características do
ordenamento jurídico internacional
36 • capítulo 2
A identificação do fundamento do Direito Internacional é importante para que possa
ser explicitada a força obrigatória deste. No campo do Direito Internacional a matéria
se apresenta de forma complexa por tratar-se de circunstâncias que acabam por de-
terminar aos Estados, que serão soberanos, o cumprimento de uma ordem. (GUERRA,
2013, p. 71)
capítulo 2 • 37
b) Vontade Coletiva: trata-se de corrente bastante semelhante à da autolimi-
tação, porém propõe a vontade coletiva (e não a vontade individual de cada
Estado) como fundamento para a obrigatoriedade do Direito Internacional.
d) Teoria dos Direitos Fundamentais dos Estados: essa corrente afirma que
os Estados, assim como a pessoa humana, têm direitos fundamentais, e
por isso devem ser protegidos pela ordem jurídica internacional. Essa te-
oria justifica, também, a relação de equilíbrio entre os Estados soberanos.
38 • capítulo 2
e) Teoria do Pacta Sunt Servanda: segundo essa teoria, o Tratado Interna-
cional seria uma espécie de contrato, celebrado entre dois ou mais Esta-
dos, que assim se comprometem em cumpri-lo. Assim, torna-se obriga-
tório em decorrência do princípio geral de boa-fé, independentemente
da vontade ulterior do Estado subscritor. Criticável por não explicar a
observância dos costumes como fonte de Direito Internacional.
capítulo 2 • 39
2.3 Teoria da norma fundamental do direito internacional
40 • capítulo 2
a Constituição Federal trata de mecanismos procedimentais de internalização
das normas de direito internacional (procedimento legislativo adotado no Con-
gresso Nacional para “transformar” um tratado internacional em lei), ainda que
discretamente, aponta para a teoria dualista, porque se não houvesse distinção
alguma entre as esferas nacional e internacional não haveria necessidade de um
procedimento específico para “validação” dos tratados pelo Poder Legislativo.
No entanto, quando a mesma Constituição Federal, com o referendo do Su-
premo Tribunal Federal, afirma que as normas de direito internacional (as que
não versam sobre Direitos Humanos, porque essas integram o ordenamento
jurídico brasileiro como norma constitucional, como veremos adiante) se su-
jeita ao controle da própria Constituição Federal como qualquer outra norma
jurídica interna, o Brasil aponta para a teoria monista.
Nesse contexto, podemos afirmar que o Brasil adota o que a doutrina de
direito internacional denomina de “teoria do monismo moderado” (CAMPOS,
2014, p. 25). Isso porque a incorporação da norma internacional não depen-
de especificamente de lei interna, na medida em que é de competência priva-
tiva da Presidência de República a celebração de tratados, convenções e atos
internacionais (artigo 84, inciso VIII, da CF/88), embora haja previsão de um
complexo procedimento de internalização. Isso indica que o conteúdo material
do tratado internacional assinado pelo Presidente da República já é válido e
aplicável desde a assinatura, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal.
Porém há previsão de procedimento a ser cumprido pelo Congresso Nacional
para a devida formalização, de modo que os tratados então passam a figurar
no ordenamento jurídico interno brasileiro nas mesmas condições e grau de
hierarquia das leis ordinárias, com exceção dos tratados internacionais que
versam sobre Direitos Humanos, que podem se equiparar a normas da própria
Constituição Federal devido à sua importância em vista do princípio da digni-
dade da pessoa humana.
capítulo 2 • 41
Contudo, mesmo os tratados internacionais que versam sobre Direitos Hu-
manos são reconhecidamente válidos e aplicáveis no ordenamento jurídico
brasileiro desde a assinatura do Presidente da República, quando do ato solene
de adesão ao tratado, embora haja previsão do procedimento formal de incor-
poração ou internalização, nos termos do artigo 5º da Constituição Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação ime-
diata.
(...)
§ 3º - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem apro-
vados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
42 • capítulo 2
assinado pela Presidência da República (Poder Executivo), verse ou não sobre
Direitos Humanos. Nesse capítulo trataremos desse procedimento formal de
incorporação dos tratados internacionais no ordenamento jurídico brasileiro,
primeiramente daqueles que não versam sobre Direitos Humanos.
Já sabemos que o tratado internacional é o “acordo entre dois ou mais Es-
tados para regular um assunto, determinar seus direitos e obrigações, assim
como as regras de conduta que devem seguir” (GUERRA, 2013, p. 84), e passam
por uma fase preliminar de negociação dos termos que serão “contratados” en-
tre os países que negociam. Após essa fase, os representantes destes Estados
efetivam a assinatura dos tratados internacionais, manifestando consentimen-
to com os termos do instrumento e, assim, comprometendo-se a cumpri-los
junto à comunidade internacional. Somente após essas fases é que o tratado
passa pelo procedimento formal de incorporação ao ordenamento jurídico in-
terno, como parte da chamada fase de ratificação do instrumento normativo
internacional.
No caso do Brasil, esse procedimento de incorporação ou internalização é
realizado pelo Poder Legislativo federal, ou seja, pelo Congresso Nacional (que
congrega a Câmara dos Deputados e o Senado Federal), nos termos do artigo
49, inciso I, da Constituição Federal:
Quanto aos tratados internacionais que não versem sobre Direitos Huma-
nos, após a assinatura do Presidente da República, o Congresso Nacional que
irá apreciar seu conteúdo para então passa-lo em votação pelos seus membros.
O tratado internacional será referendado pelo Congresso Nacional se for apro-
vado pela maioria simples dos membros presentes nas respectivas sessões de
cada casa legislativa, ou seja, maioria simples dos Deputados Federais presen-
tes na sessão da Câmara dos Deputados e maioria simples dos Senadores pre-
sentes na sessão do Senado Federal.
capítulo 2 • 43
CONCEITO
Por maioria simples entende-se mais da metade dos membros presentes em sessão de
votação, o que comumente se chama de “metade mais 1” ou de “50% mais 1” dos presentes.
Referido ato normativo integra o ordenamento jurídico interno com caráter de norma
infraconstitucional, situando-se nos mesmos planos de validade, eficácia e autoridade
em que se posicionam as leis ordinárias (guardando, dessa forma, estrita relação de
paridade normativa com as leis ordinárias). (LENZA, 2012, p. 606)
44 • capítulo 2
embora estejam abaixo da Constituição Federal. A importância dessa classifi-
cação aparece quando do surgimento de conflito entre o tratado internacional
e o ordenamento jurídico brasileiro: a) havendo conflito entra o tratado inter-
nacional de Direitos Humanos e a Constituição Federal, prevalece a norma
constitucional, porque hierarquicamente superior; e b) havendo conflito entre
o tratado internacional de Direitos Humanos e a lei ordinária, prevalece o tra-
tado internacional, porque hierarquicamente superior, ocupando, como disse-
mos, o caráter supralegal.
Contudo, em 2004 houve pequena (porém importante) reforma na Consti-
tuição Federal, que passou a prever a possibilidade de aprovação diferencia-
da do tratado internacional de Direitos Humanos pelo Congresso Nacional.
De acordo com a nova regra, a aprovação do texto em cada casa legislativa do
Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), em dois tur-
nos de votação em cada casa, por 3/5 (três quintos) dos votos dos respectivos
membros, faz com que o tratado seja incorporado ao ordenamento jurídico
brasileiro como norma constitucional, ou seja, se equipara às outras normas
da Constituição Federal.
capítulo 2 • 45
É importante que se diga, o Pacto de São José da Costa Rica foi incorporado ao
ordenamento jurídico brasileiro como norma supralegal, colocando-se hierar-
quicamente acima das leis ordinárias, porém abaixo da Constituição Federal. É
importante afirmar-se, ainda, o pacto “representa o instrumento de maior rele-
vância no sistema interamericano de direitos humanos” (MAZUOLI, 2009, p. 7).
O que nos parece de maior importância no Pacto de São José da Costa Rica,
tendo em vista as consequências que trouxe ao Direito brasileiro, é a expressa
vedação que faz à prisão civil do depositário infiel, nos seguintes termos:
A ordem exarada pelo Pacto de São José da Costa Rica foi a de que não deve-
ria haver prisão por dívidas, salvo a dívida oriunda da obrigação de pagamento
de pensão alimentícia, e nesse contexto o pacto ilustra bem a posição dos trata-
dos no ordenamento jurídico brasileiro, além de afastar a prisão de devedores
em uma situação bastante comum no Brasil e no mundo.
A Constituição Federal brasileira afirma, no artigo 5º, inciso LXVII, que “não
haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntá-
rio e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”, autorizando a
aplicação da pena privativa de liberdade ao devedor de pensão alimentícia e àquele
que por contrato ou por imposição judicial se responsabiliza por determinado bem
móvel, especialmente quando o bem serve de garantia do pagamento de dívida, e
não zela pelo objeto, dando causa ao seu desaparecimento ou deterioração.
Ao impedir a prisão do depositário infiel, o Pacto de São José da Costa Rica
não se sobrepôs à norma constitucional brasileira, e nem podia fazê-lo, na me-
dida em que foi incorporado como norma infraconstitucional, mas conflitava
com as leis que regulamentavam a prisão do depositário infiel, quais sejam, o
Código Civil vigente à época (tratava da prisão do depositário por período de
até um ano) e o Decreto Lei 911/1969 (que equiparava o devedor do contrato de
alienação fiduciária ao depositário para os efeitos da lei), e devido à sua incor-
poração como norma supralegal impediu a aplicação de tais normas, fazendo
desaparecer a possibilidade de prisão civil do depositário infiel.
46 • capítulo 2
2.7 Noções gerais de direito internacional privado
O homem não vive em sociedade por vontade própria, mas por força das pró-
prias circunstâncias da vida. Não nasceu para viver só, mas sim em grupo.
Pertencer a um grupo social significa dizer que cada indivíduo encontra-se
submetido a determinadas regras, e ao mesmo tempo direciona sua conduta
para determinado grupo que busca encontrar.
Fala-se então em poder social, no qual através deste, todos possuem o di-
reito de participar de uma vida social como governante ou como governado. É
chamado também de poder difuso, pois vale para todos. Este poder é exercido
pela opinião pública que se desenvolve através de crenças, nos usos, nos costu-
mes, que tem por base a ideologia de uma nação.
Então, foi através do nascimento do poder social ou grupal que surgiu o Es-
tado para trazer pacificação social e segurança jurídica na vida em sociedade.
Como consequência, houve a implantação de um sistema jurídico que trouxe
limitações e normas de conduta. Tudo isso foi estabelecido para que o homem
pudesse ter segurança, bem-estar, e pudesse respeitar o direto alheio. É por
isso, que em cada território do Estado há sempre normas que dão direitos e que
impõe obrigações. (AMORIM, 2003)
Esse complexo de normas ou sistema jurídico não é igual em todos os paí-
ses, sofre variações de Estado para Estado, em razão de mudança de costumes,
das diferenças de tradições, religiões, raças e condições econômicas.
CONCEITO
A palavra Estado usada aqui, tem o significado de país. Então ao dizer normas de um Estado
é o mesmo que dizer normas de um país.
capítulo 2 • 47
2.8 Direito internacional privado e direito internacional público
48 • capítulo 2
que são disciplinas paralelas, mas por outro lado, também não devemos man-
ter a ideia de autonomia das disciplinas. Sem dúvida alguma, há uma grande
afinidade entre as duas disciplinas jurídicas, ambas voltadas para questões que
afetam relacionamentos internacionais, questões políticas, militares e econô-
micas dos Estados e referentes aos interesses particulares. Ambas as discipli-
nas elaboram tratados e convenções por organismos internacionais e regio-
nais, e os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas que
norteiam e limitam o legislador e o aplicador da lei em questões referentes ao
Direito Internacional Público e Privado.
capítulo 2 • 49
2.10 Conflitos interespaciais
O conflito de leis, não existe apenas entre divergência de leis, confronto ou con-
corrência de leis de legislações de diferentes países.
O conflito de leis começou a existir desde os primórdios do século XIV. Desde
essa época havia conflitos de leis entre diferentes países da Europa que tinham
diversos regimes legais como é o caso da Polônia, que em determinada época
usava concomitantemente leis da Alemanha, da Rússia e o Código de Napoleão.
CURIOSIDADE
Os Estados Unidos, por exemplo, tem um regime federativo onde cada estado tem autonomia
para legislar, por isso, surgem tantos conflitos de leis em diversas áreas do direito. Neste
país a solução de conflitos interestaduais e internacionais segue as mesmas normas criadas
pelos tribunais.
50 • capítulo 2
2.11 Conflitos interpessoais
Os conflitos interpessoais são aqueles que não levam em conta os conflitos pela
localização, mas sim por qualificações pessoais. Por isso, as etnias, as castas, os
grupos, as tribos e religiões são fatores determinantes dentro de certos sistemas
jurídicos cujas regras o juiz deverá optar quando encontrar algum confronto.
É o caso que ocorre em Israel e em países mulçumanos, onde o direito ma-
trimonial tem competência legislativa e jurisdicional segundo a religião.
Aqui a grande dúvida é se estes confrontos de leis decorrentes oriundos da
variedade destes tipos de leis pessoais integram no Direito Internacional Priva-
do. Assim como no tópico anterior aqui também há diferentes posicionamen-
tos doutrinários.
Para corrente majoritária defendida por Arminjon entende-se que há inte-
gração entre todos estes conflitos no DIP, pois as normas precisam ir além da
divisão dos sistemas legislativos entre Estados soberanos. Dessa forma, o Di-
reito Internacional Privado abrange questões de nacionalidade, dos direitos do
estrangeiro, do conflito de leis e do conflito de jurisdição.
capítulo 2 • 51
2.12.1 Normas Indiretas
52 • capítulo 2
2.12.3 Normas Qualificadoras
São normas consideradas acessórias das normas conflituais. São assim classi-
ficadas por serem normas definidoras, qualificadoras, que auxiliam a norma
conflitual que indica a lei do domicílio para reger determinadas matérias.
No DIP brasileiro, encontramos a regra do art. 7º §7º da Lei de Introdução
às Normas Brasileiras que determina a extensão do domicílio do chefe da fa-
mília ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, assim como do tutor ou
curador dos incapazes sob a guarda.
No âmbito das fontes internacionais temos a Convenção Interamericana so-
bre o Domicílio de Pessoas Físicas no DIP, realizada em Montevidéu em 1979,
que define em seu art. 2º o domicílio como: o local de sua residência habitual,
o local de seu principal lugar de negócios, na ausência dos dois fatores citados
o lugar de sua residência, e por último, na ausência de sua residência, o lugar
onde a pessoa se encontrar.
capítulo 2 • 53
versalista. Por outro lado, a norma italiana cuida dos institutos do estado e da
capacidade das pessoas, dispondo que os mesmos se submetem à lei da nacio-
nalidade das pessoas, portanto, multilateralista.
a) A Lei
O Brasil teve como influência o código germânico, compondo uma Introdução
ao Código Civil em 1916, substituída pela Lei de Introdução de 1942 (Decreto
-Lei nº 4.657, de 04 setembro), ambas contendo normas de Direito Intertempo-
ral e de Direito Internacional Privado. Essa lei passa a ser considerada como lei
reguladora das demais leis.
A Lei de Introdução ao Código Civil (conhecida também como LICC) foi
aceita pacificamente pela doutrina brasileira e tem sido aplicada desde sua
época de promulgação pela jurisprudência e pelos tribunais.
Entretanto, em 30 de dezembro de 2010 foi aprovada a Lei n. 12.376, alte-
rando a ementa do Decreto-Lei n. 4.657. Vejamos:
54 • capítulo 2
Assim a Lei de Introdução ao Código Civil foi substituída pela Lei de Intro-
dução às normas de Direito Brasileiro.
b) A Doutrina
A Doutrina tem grande importância no campo do Direito Internacional Priva-
do, pois tem como principal função auxiliar as interpretações judiciais, além
disso, elabora princípios da matéria, bem como serve de orientação aos tribu-
nais ao decidir questões de DIP.
Dessa forma, a Doutrina nacional exerce dupla função, a de intérprete da
jurisprudência e de orientador. Isto é, possui um amplo campo de ação e a rele-
vância da obra, pois tem liberdade para criar onde o legislador silenciou.
A Doutrina internacional é conhecida por seus trabalhos coletivos realiza-
dos por entidades científicas, como por exemplo, o Instituto de Direito Inter-
nacional, a Confêrencia de Haia de Direito Internacional Privado, a Câmera de
Comércio Internacional, entre outros.
Algumas convenções como a Convenção de Haia e a Confêrencia Especia-
lizada Interamericana sobre DIP, contém soluções de problemas que afetam
interesses do Brasil, dessa forma, podem ser consideradas como fontes equi-
paráveis à Doutrina, auxiliam a resolver questões jurídicas que se apresentam
ao judiciário de nosso país, mesmo quando o Brasil não tenha ratificado estes
diplomas internacionais.
c) Os tratados e convenções
No campo do Direito Internacional Privado, os Tratados e Convenções têm
grande importância como fonte internacional.
Os Tratados cuidam principalmente de matéria de nacionalidade em rela-
ção aos conflitos de nacionalidade, visando evitar casos de apatridia e de dupla
nacionalidade. Há também vários Tratados em relação a condição jurídica do
estrangeiro, bem como a competência dos Estados em estabelecer restrições às
suas atividades.
O Brasil aprovou a Convenção da ONU sobre Prestação de Alimentos no Es-
trangeiro, pelo Decreto n. 56.826, de 02.09.1965, que criou várias oportunida-
des de colaboração judicial internacional. Em matéria de extradição, o Brasil
firmou vários tratados bilaterais.
Entretanto, é no campo dos conflitos de leis civis e comerciais que se con-
centra o maior número de diplomas legais internacionais como é o caso das
Convenções contendo regras uniformizadas de solução de conflito de leis e as
capítulo 2 • 55
Convenções que aprovam Lei Uniforme para atividades de caráter internacio-
nal, como é o caso das Convenções sobre Transportes Marítimo e Aéreo sobre
Compra e Venda Internacional.
d) Jurisprudência
Na Europa, onde há intensa atividade extraterritorial, em que os grupos na-
cionais se inter-relacionam em todos os campos da vida, frequentes os matri-
mônios entre pessoas de diferentes nacionalidades e domicílios, permanen-
te fluxo comercial e turístico, ocorrendo fatos jurídicos transacionais a todo
instante. Dessa forma, os tribunais nacionais estão habituados a dirimir lití-
gios entre pessoas de diversas nacionalidades, fazendo com que os europeus
tenham maior experiência em matéria de conflito de jurisdições e conflito de
leis, em decisões sobre nacionalidade e sobre direitos do estrangeiro.
Nos países sul-americanos, assim como no Brasil, ainda não é intensa a ativida-
de internacional, tanto no campo das relações de família como nas relações contra-
tuais, civis e comerciais. Daí a escassez da produção jurisprudencial, fazendo com
que a Doutrina tenha um papel de mais importante. A jurisprudência brasileira se
limita praticamente a decisões de homologação de sentenças estrangeiras e “exe-
quatur” em cartas rogatórias, matérias atinentes ao Direito Processual Internacio-
nal, a processos de expulsão e extradição, sujeitos ao Estatuto do Estrangeiro, entre
outros. Assim, o Brasil raramente tem oportunidade de aplicar Direito estrangeiro.
REFLEXÃO
Nesse capítulo finalizamos o estudo dos tratados internacionais, viemos sua incidência no
Brasil e o surgimento dos tratados de Direitos Humanos.
Além disso, começamos a analisar as noções gerais do Direito Internacional Privado.
Analisamos também o surgimento do direito internacional privado bem como seu objeto
de estudo.
ATIVIDADE
1. Em que consiste a teoria da norma fundamental?
56 • capítulo 2
LEITURA RECOMENDADA
Livro: Direito Internacional Pivado
Autor: Jacob Dolinger
Editora: Forense
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACCIOLY, Hildebrando; NASCIMENTO E SILVA, G. E.; CASELLA, Paulo Borba. Manual de
direito internacional público, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010.
AMORIM, Edgar Carlos de. Direito Internacional Privado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Forense. 2003.
BASSO, Maristela. Curso de direito internacional privado, 2ª ed., São Paulo: Atlas,
2011.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 23ª ed. São Paulo: Malheiros Edi-
tores. 2008.
DOLINGER, Jacob. O Direito Internacional Privado – Parte Geral. 11ª ed. Rio de Janei-
ro: Editora Forense. 2014.
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito, São Paulo: Atlas,
1988.
GUERRA, Sidney. Curso de direito internacional público, 7ª ed., São Paulo: Saraiva,
2013.
capítulo 2 • 57
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, 16ª ed., São Paulo: Saraiva,
2012.
MASCARO, Alysson Leandro. Introdução ao estudo do direito, 4ª ed., São Paulo: Atlas,
2013.
MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de direito internacional público, 15ª ed., Rio de
Janeiro: Renovar, 2004.
REZEK, J. F. Direito Internacional Público – Curso Elementar. 9ª. ed.São Paulo: Saraiva
2002.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores. 2004.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No capítulo a seguir iremos continuar o estudo do direito internacional privado, além disso,
vamos conhecer as regras de conexão e os princípios do direito internacional privado.
58 • capítulo 2
3
Noções gerais, elementos
e regras de conexão do
DIP brasileiro – Lei de
introdução às normas do
direito brasileiro/LINDB
3 Noções gerais, elementos e regras de
conexão do DIP brasileiro – Lei de introdução
às normas do direito brasileiro/LINDB
Neste terceiro capítulo, analisaremos os elementos e as regras de conexão do
Direito Internacional Privado Brasileiro e seus aspectos na LINDB, bem como
os institutos de instrumentalização deles, como a Carta Rogatória, Execução de
Sentença Estrangeira e por fim o Reenvio.
OBJETIVOS
• Analisar os elementos de Conexão e sua presença na Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (LINDB);
• Analisar as Regras de Conexão em conjunto com os artigos da LINDB;
• Identificar os requisitos e motivos da Carta Rogatória;
• Diferenciar e conhecer a Execução de Sentença Estrangeira;
• Analisar o instituto do Reenvio.
REFLEXÃO
Você se lembra que nas sociedades antigas, o estrangeiro, em regra, não gozava de direitos
e, consequentemente, não havia conflitos entre ordens jurídicas diversas, que é a razão de ser
do DIP. A eventual necessidade de julgar os estrangeiros levou à criação de tribunais excep-
cionais, como o do Pretor Peregrino, em Roma, e o do Polemarca, em Atenas. Por outro lado, o
Pentateuco continha normas sobre o tratamento equânime do estrangeiro entre o povo judeu.
A partir do século XI, as cidades-Estado do norte da Itália, que se haviam tornado grandes
centros comerciais e começaram a transformar o seu direito consuetudinário em estatutos
escritos. As primeiras tentativas de estabelecimento de regras para resolver tais conflitos de
leis marcam, segundo alguns, o início da ciência do DIP.
60 • capítulo 3
3.1 Introdução
Para Ferrer Correia, o Direito Internacional Privado é “ramo da ciência jurídica onde se
procuram formular os princípios e regras conducentes à determinação da lei ou das
leis aplicáveis às questões emergentes das relações jurídico-privadas de carácter inter-
nacional e, bem assim, assegurar o reconhecimento no Estado do foro das situações
jurídicas puramente internas de questões situadas na órbita de um único sistema de
Direito estrangeiro (situações internacionais de conexão única, situações relativamente
internacionais)”.
Preliminarmente, cabe distinguir que a norma de DIP contém três partes: objeto, ele-
mento e consequência jurídica. O objeto de conexão é a matéria a que se refere uma
norma indicativa ouindireta de Direito Internacional Privado, ocupando-se de questões
jurídicas vinculadas a fatosou elementos de fatores sociais com conexão internacional
– como capacidade jurídica, nome de uma pessoa ou pretensões jurídicas decorrentes,
por exemplo, de acidente de carro.
capítulo 3 • 61
O elementode conexão é a parte que torna possível a determinação do direito aplicável
– nacionalidade, domicílio e lexfori. Por fim, a consequência jurídica, que nem sempre é
escrita, podendo ser subentendida, é a aplicação de um direito material.
Nesse contexto, o objeto de conexão pode ser comparado ao tipo da norma penal (ma-
tar alguém), o elemento como o resultado imediato desse ato ilícito (levar seu agente a
julgamento) e a consequência à aplicação de uma regra (pena: reclusão de seis a vinte
anos) (DEL’OLMO, 2010, p. 41).
62 • capítulo 3
3.2.1 Principais elementos de conexão
3.2.1.1 Nacionalidade
O elemento de conexão Nacionalidade é muito empregado pelos países de
grande imigração (a exemplo dos países europeus). Atualmente, existe uma for-
te tendência de abandonar este elemento, em razão de ser comum as pessoas
possuírem mais de uma nacionalidade.
DREAMSTIME.COM
capítulo 3 • 63
A Declaração Universal dos Direitos Humano, apesar de não ser um tratado
entre os Estados, uma vez que está subscrita por todos eles sem qualquer víncu-
lo obrigacional e sim informativo, traz os critérios básicos para as soluções das
divergências sobre nacionalidade. Senão, vejamos:
a) toda pessoa deve ter nacionalidade;
b) deve tê-la desde o nascimento;
c) pode mudá-la voluntariamente.
O jus soli, ou direito de solo, teve, como já dissemos, sua origem no feuda-
lismo, sendo a nacionalidade estabelecida pelo lugar do nascimento, sem que
seja tomada por base a nacionalidade do pai ou da mãe.
Dentro do sistema jus soli, são brasileiros os nascidos no solo pátrio, nas
aeronaves militares e públicas, nos navios de guerra, no mar territorial, nas se-
des das embaixadas, nas ilhas, nos golfos, nos estreitos, nos canais, nos lagos,
nos rios, bem como no espaço aéreo brasileiros.
Por outro lado, em razão de exceção ao sistema do jus soli, também são brasi-
leiros os filhos de brasileiros que nascerem no exterior quando os pais estiverem
a serviço do Brasil, podendo ser apenas o pai ou a mãe o prestador do mister.
CURIOSIDADE
Os países da Europa com o propósito de conservar os laços consanguíneos da nacionalidade
com base na raça, sempre adotaram o jus sanguinis como fator determinante de nacionalidade.
Já países das Américas, principalmente no Brasil em razão do povoamento, adotam o jus soli.
64 • capítulo 3
A Constituição Federal Brasileira estabeleceu, portanto, apenas dois crité-
rios para ser firmada a nossa nacionalidade: vir residir no Brasil e, em qualquer
tempo, opte pela nacionalidade brasileira.
De acordo com Jacob Dolinger (2001), os defensores da regra da nacionali-
dade para reger o estatuto pessoal alegam que:
a) a lei nacional é mais adequada, eis que as tradições refletem os costumes
e as tradições nacionais;
3.2.1.2 Domicílio
Aplica-se o domicílio ou Lex Domicilli à lei do local onde é domiciliada a pes-
soa. Também é utilizado, normalmente, para a determinação da capacidade do
estatuto pessoal, como Direito de Família e direitos sucessórios, sendo predo-
minante nos países de grande imigração, tais como os americanos, mais próxi-
mo da realidade das pessoas e de fácil aplicação pelos tribunais locais.
Sobre o conceito de domicílio, esta é uma questão complexa, especialmente
quando surge dúvida sobre o domicílio da pessoa. Tem-se, assim, o conceito
dado pelo Código Civil de 2002 – artigo 70. O domicílio da pessoa natural é o
lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
O domicílio voluntário é aquele do lugar que a pessoa escolhe para morar,
enquanto o necessário é imposto por lei.
O domicílio necessário pode ser de funcionário público que é o lugar onde
presta serviço; do militar, onde serve ou presta igualmente serviço, e o preso, o
presídio ou cadeia em que está recolhido.
Nas Américas do Sul e Central alguns países adotam o domicílio como sim-
ples residência, outros a residência como animus de permanecer; é o caso do Bra-
sil. Outros consideram a residência habitual familiar ou o centro principal dos
negócios. Este critério está previsto na nossa lexfori (artigo 7º, inciso 8º, LINDB).
capítulo 3 • 65
Para Del'Olmo (2010), quando houver pluralidade de domicílios, deve se dar
preferência ao domicílio nacional.
Por outro lado, Jacob Dolinger (2001) lembra que os defensores do domicí-
lio como critério determinador da lei que deve reger o estatuto pessoal (adota-
do pelo Brasil) enunciam as suas vantagens, destacando cinco razões:
a) a lei do domicílio corresponde ao interesse do imigrante, pois conhece
melhor a legislação do país onde vive e trabalha do que a de sua pátria e
não deseja ser discriminado por outras regras jurídicas dentro da socie-
dade na qual se integrou;
3.2.1.3 Territorialidade
É o regime de Direito Internacional Privado que determina a aplicação irrestri-
ta da lei local, lei do foro, sem levar em consideração a nacionalidade ou domi-
cílio da pessoa em matéria de estatuto pessoal.
Como este princípio é aplicado sem restrições, inclusive aos estrangeiros
em trânsito pelo país, é considerado um retrocesso na evolução do DIP, que foi
construído com base no respeito ao estrangeiro.
66 • capítulo 3
3.2.2 Principais elementos de conexão presentes no LINDB
LINDB SITUAÇÕES
(DEC.-LEI ELEMENTO DE CONEXÃO
DIVERSAS
4.707/42)
Com relação ao direito de
01 7º, caput Domicílio.
família.
Legislação do domicílio da
06 8º, § 2º Penhor pessoa que estiver com a pos-
se do bem
capítulo 3 • 67
LINDB SITUAÇÕES
(DEC.-LEI ELEMENTO DE CONEXÃO
DIVERSAS
4.707/42)
Sucessão com relação Legislação mais favorável que
10 10º, § 1º a cônjuge ou filhos pode ser a lei brasileira ou a
brasileiros. do domicílio do de cujus
Fonte: di Lorenzo, Carlos Alberto. Direito internacional público e privado. 2ª ed. São
Paulo: Rideel, 2010.
68 • capítulo 3
REGRA DE SIGNIFICADO NO BRASIL
CONEXÃO
Lei da nacionalidade da pessoa natural,
Não há dispositivo
Lex patriae pela qual se rege seu estatuto pessoal e
específico
sua capacidade.
LINDB, Art. 7º
Lei do domicílio que rege o estatuto e a
Lex domicili LINDB, Art. 8º, § 2º
capacidade da pessoa natural.
LINDB, Art. 10
Não aplicável, só
Lei do país escolhida pelos contratantes
Lex voluntatis na Arbitragem (Lei
(princípio da autonomia da vontade).
9.307/96), art. 2º
Lex rei sitae ou A coisa é regida pela lei do local em que LINDB, Art. 8º
Lex situs está situada. LINDB, Art. 12, § 1º
capítulo 3 • 69
REGRA DE SIGNIFICADO NO BRASIL
CONEXÃO
O casamento é regido, no que tange às
Lex loci
suas formalidades, pela lei do local da sua LINDB, Art. 7º, § 1º
celebrationis
celebração.
70 • capítulo 3
3.5 Carta rogatória
a) Procedimento
A autoridade estrangeira elabora a carta rogatória e encaminha para a em-
baixada ou consulado do país a qual deseja enviá-la.
No Brasil, ao chegar no país é realizada a tradução oficial feito por um tradutor
juramentado que fica no Ministério das Relações Internacionais.
Após a tradução, a carta é encaminhada ao STJ que faz um juízo de admissibi-
lidade (analisa se está em conformidade com a ordem pública, bons costumes, so-
berania) e estando em conformidade e sendo aceita, concede-se o “EXEQUATUR”.
capítulo 3 • 71
Modelo Simplificado de Carta Rogatória
Órgão Jurisdicional Requerente
[Endereço completo, inclusive CEP, telefone, fax, e-mail]
CARTA ROGATÓRIA
Juízo Rogante:
Juízo Rogado: Juízo Competente do _____________________________ [País Rogado].
Processo Nº:
Tipo de Ação:
Partes da Ação:
FINALIDADE: [Descrever a finalidade da carta rogatória (exemplo: citação, no-
tificação, etc.)].
[Local e Data]
[Assinatura do Juiz(a)]
[Juiz(a) de Direito/Juiz(a) Federal/Juiz(a) do Trabalho]
72 • capítulo 3
CONEXÃO
Para maiores informações acesse: <http://stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.ws-
p?tmp.area=1148>
São necessários alguns requisitos básicos para a sentença ser válida em territó-
rio nacional.
1. Deverá a sentença ter sido proferida por um juiz competente;
2. As partes deverão ter sido citadas corretamente e, portanto, tomado ci-
ência do fato judicial para que exista a oportunidade de defesa;
3. Comprovar revelia, se for o caso;
4. Demonstrar que a sentença passou por todas as instâncias judiciais
possíveis e não é mais passível de recurso.
capítulo 3 • 73
A demonstração poderá ocorrer de duas formas:
a) Colocar nos autos a legislação processual pertinente;
b) Anexar alguma certidão ou documento judicial que comprove o trânsito
em julgado.
3.7 Reenvio
74 • capítulo 3
Cabe destacar que o artigo 16 da Lei de Introdução às Normas do Direito Bra-
sileiro – LINDB – proíbe o juiz nacional de aplicar o reenvio, cabendo apenas a
aplicação do Direito Internacional Privado brasileiro para determinar o direito
material cabível, ficando a cargo de estrangeiro, se houver, a aplicação do reenvio.
Diante de todo contexto, fica claro que embora nacionalmente o reenvio
não deva ser aplicado, o referido instituto tem previsão e embasamento inter-
nacional, sendo absolutamente cabível, inclusive quanto à norma brasileira,
desde que aplicada por magistrado de outro país.
REFLEXÃO
Nesse capítulo, analisamos as regras de conexão presentes do Direito Internacional Privado
e sua representatividade na de Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB)
e as formas de execução de diligência internacionais e execuções. Por fim, estudamos o
instituto do Reenvio.
ATIVIDADE
1. Visando solucionar uma divergência relacionada a um contrato constituído nos EUA
envolvendo americanos e brasileiros, qual o país apto a resolver a divergência? Qual o
embasamento legal?
LEITURA RECOMENDADA
Livro: Direito Internacional Privado Parte Geral
Autor: Jacob Dolinger
Editora: Forense
Essa obra traz, de forma bem didática, os principais aspectos de incidência e aplicação da lei
estrangeira. Traz ainda, uma reflexão de como adotar tal norma no regime interno.
capítulo 3 • 75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, Edgar Carlos de. Direito Internacional Privado: Revista Atualizada e Aumenta-
da com o Estatuto do Estrangeiro. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003.
CASELLA, Paulo Borba e ARAÚJO, Nádia de. A convenção interamericana sobre Cartas
Rogatórias e as conseqüências de sua adoção para o Brasil. Integração Jurídica Intera-
mericana. São Paulo: LTr, 1998, p. 240.
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado – Parte Geral. 11ª ed. Rio de Janeiro:
EditoraForense, 2014.
DOS SANTOS, Marcelo Loeblein. Direito Internacional Privado. Rio Grande do Sul, Uni-
juí, 2011.
HUCK, Hermes Marcelo. Sentença Estrangeira e Lex Mercatoria. São Paulo: Saraiva,
1994, p. 35.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª ed. Brasil: Malheiros
Editores, 2004.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo iremos estudar a incidência e aplicação da lei estrangeira no Brasil.
Vamos estudar também os meios de solução de conflitos dentro os quais a Arbitragem faz
parte. Preparados? Bons estudos!
76 • capítulo 3
4
Incidência e
aplicação da lei
estrangeira no
Brasil e arbitragem
4 Incidência e aplicação da lei estrangeira no
Brasil e arbitragem
OBJETIVOS
• Analisar a incidência e aplicação da lei estrangeira no Brasil.
• Estudar a prova, adaptação e o direito adquirido que a lei estrangeira traz.
• Analisar os métodos alternativos de solução de conflitos.
• Relacionar às formas de resolução de conflitos no judiciário brasileiro e nos métodos
alternativos.
• Reconhecer e estudar o instituto jurídico da arbitragem internacional e nacional, como
método de soluções de conflitos alternativo àquele prestado pela jurisdição estatal.
• Avaliar a lei de arbitragem brasileira, Lei 9.703/1996, compreendendo a sua importân-
cia para a homologação e execução no Brasil de laudos arbitrais estrangeiros.
REFLEXÃO
Você se lembra de outras formas de resolução de litígios empregadas na Idade Média e muito
utilizadas no mundo contemporâneo? O que significa mediação, conciliação e arbitragem? Neste
capítulo, estudaremos estas questões, bem como, a importância da Lei de Arbitragem no Brasil.
78 • capítulo 4
DREAMSTIME.COM
Ora, a vontade de aplicar sua própria lei, sem mesmo vislumbrar a possibilidade de
aplicar uma lei estrangeira, me parece ser a característica de uma ordem jurídica ainda
imatura, que quer impor-se de forma imperialista ao invés de procurar uma boa coorde-
nação internacional. (DOLINGER, 2014)
Com isso, podemos entender que a melhor forma de se ter justiça, seguran-
ça jurídica e evolução das normas de modo que acompanhe a evolução da so-
ciedade é adotar quando assim for necessário, normas do direito estrangeiro.
Entretanto, este assunto traz grandes questionamentos, como por exemplo:
a aplicação da lei estrangeira aplica-se da mesma forma que a lei nacional? O
juiz pode aplicar a lei estrangeira de ofício mesmo que as partes não a invo-
quem? A parte que invocar o direito estrangeiro precisará prová-lo?
Essas e outras questões são muito comuns, pois cada país adota uma visão
e modo de aplicação. Na Inglaterra, por exemplo, o juiz não pode aplicar lei
estrangeira ex officio.
capítulo 4 • 79
CONCEITO
Julgamento ex officio significa que o juiz pode julgar por vontade própria, baseando-se nos
seus conhecimentos, sem necessidade da parte interessada requerer. No caso em questão, o
juiz poderá aplicar a lei estrangeira sem que a parte tenha invocado esse direito, ou seja, sem
que a parte tenha pedido para julgar o caso com base na lei estrangeira.
Ocorre que no Brasil o juiz deverá aplicar a lei estrangeira de ofício, sem
a necessidade de invocação das partes, pois a obrigação é de julgar de acordo
com o direito que rege, mas sempre respeitando as regras internas.
Entretanto, o juiz poderá exigir da parte, em trabalho conjunto com o seu,
que seja feita a produção de sua prova, conforme o art. 14 da Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro estabelece.
No Brasil a norma estrangeira é considerada como lei e não fato, por isso,
sua ignorância não é admitida, o juiz deve aplicá-la ex officio, e pode ser invo-
cada a qualquer tempo.
Tal argumento encontra-se respaldo no Projeto de Lei do Senado n. 269, de
2004 em seu artigo 18 que diz: “A lei Estrangeira indicada pelo Direito Interna-
cional Privado brasileiro será aplicada de ofício; sua aplicação, prova e interpre-
tação far-se-ão em conformidade com o direito estrangeiro.”
O Direito Internacional Privado brasileiro está configurado na Lei de Intro-
dução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) onde a aplicação do direito es-
trangeiro sempre que determinar regras de conexão será obrigatório. Vejamos
alguns exemplos:
80 • capítulo 4
“Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo
e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
(...)
§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á
a lei do país em que estiverem situados.
Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituirem.
§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma
essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto
aos requisitos extrínsecos do ato.
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domici-
liado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e
as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituirem.”
ATENÇÃO
Importante: o entendimento de que a lei estrangeira é equiparada à lei nacional, dá-se pelo
princípio da lex fori, ou seja, por estar assim estabelecido na Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro conhecida também como LINDB. (AMORIM, 2003).
capítulo 4 • 81
4.2.1 Modalidades de aplicação
ATENÇÃO
A norma internacional não poderá conflitar com nossa ordem jurídica, como por exemplo, se
houver algum caso de bigamia, tal norma deverá ser rejeitada. Pois, a bigamia no Brasil não
é permitida.
Como vimos anteriormente, tanto o juiz quanto à parte poderão pleitear o di-
reito estrangeiro. Entretanto, o magistrado deverá buscar recursos do direito
comparado, para poder obter uma melhor compreensão das outras leis.
82 • capítulo 4
Assim, para garantir conhecimentos recíprocos das legislações nos diferen-
tes povos, o Código de Bustamante apresentou duas soluções quando o magis-
trado ou tribual for julgar com base no direito comparado: a) buscar certidão
legalizada de dois advogados em exercício no país cuja lei se deseje conhecer; b)
buscar informação diplomática a ser fornecida pelo mais alto tribunal do país
cujo direito se queira aplicar. (DOLINGER, 2014)
É claro que a busca em obras doutrinárias, publicações e artigos são válidos
para adquirir conhecimento, mas não garantem a certeza da lei em compara-
ção com as soluções apresentadas por Bustamante.
Outra solução que podemos buscar encontra-se no artigo 4º da LINDB que
diz que quando a lei for omissa o juiz poderá valer-se dos usos e costumes para
suprir as falhas da lei. Dessa forma, o costume terá idêntico valor no plano do
Direito Internacional Privado, desde que no direito estrangeiro dê valor de fon-
te de direito ao costume. Vejamos:
“Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a ana-
logia, os costumes e os princípios gerais de direito”.
4.4 Adaptação
capítulo 4 • 83
A doutrina não fixou com precisão o conceito de direito adquirido, entretan-
to, na concepção de Gabba para haver direito adquirido é necessário dois requi-
sitos: a) ter sido produzido por um fato idôneo para sua produção; b) ter sido
incorporado definitivamente ao patrimônio do titular. (SILVA, 2004, p. 432)
Além disso, segundo a Lei de Introdução ao Direito Brasileiro “consideram-
se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exer-
cer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição
pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem”.
(art. 6º, §2º).
Entretanto, não há o reconhecimento de um direito quando este ofender
a ordem pública ou fraudar a lei, como por exemplo, escravatura e poligamia,
situações estas que não são aceitas no Brasil e nos países do Ocidente.
Importante destacar também que nem todo direito adquirido pode ser
transportado de um Estado para outro. Além daqueles que ofendem a ordem
pública local, há também aqueles direitos que só podem ser exercidos em um
determinado Estado, pois não podem ser transportados para outro, a exemplo
de um emprego público.
CONEXÃO
Vale a pena conferir mais detalhes sobre o direito adquirido nas aulas disponíveis da TV Justiça:
<https://www.youtube.com/watch?v=u563IN0DjyE&index=2&list=PLoaEgfUVQsXGKQx
6yyYbZiG60LkHhDs2n>
84 • capítulo 4
disso, que representa a moral básica de uma nação e que protege as necessida-
des do Estado.
A ordem pública é medida através dos atos que são considerados como res-
peitáveis pela sociedade em determinada época. Assim, aquilo que for conside-
rado chocante perante a sociedade será rejeitado pela doutrina e repelido pelos
tribunais. O que a sociedade avalia como bom ou ruim é determinante na ava-
liação do que fere ou não a ordem pública.
O juiz Sir Hersch Lauterpacht, em um julgado na Corte Internacional de Justi-
ça, explicou a noção de ordem pública, distinguindo a ordem pública em diversas
áreas do direito, como nas leis penais, de polícia, nas que cuidam do bem estar
nacional, da saúde e da segurança, e referentes a moralidade. (DOLINGER, 2014)
No Brasil, o art. 17 da Lei de Introdução exclui a aplicação de leis estrangeiras
sempre que ofenderem a soberania nacional, ordem pública, e bons costumes.
capítulo 4 • 85
crescimento e etc. Assim, nascem, dificuldades de relacionamento, que aca-
bam ocasionando litígios.
O conflito entre as pessoas é algo que não se pode controlar, onde é demons-
trado no poema “Nosso Tempo” de Carlos Drummond de Andrade¹, os homens
têm um ímpeto devontade de conquistar e assim nada ficará imune ao conflito.
Para Maquiavel², no livro “O Príncipe”, as próprias regras políticas são fruto da
correlação de forças entre os que disputam o poder.
O conflito é o resultado das diferenças entre os seres humanos e a busca
pelo poder entre eles. É importante observar na resolução dos conflitos uma
boa forma de comunicação interpessoal, isso faz com que os conflitos sejam
resolvidos ou haja uma diminuição.
Os conflitos estão aparentes em todos os campos da sociedade, mesmo assim
para que a sociedade se desenvolva e cresça é necessário que existam conflitos.
86 • capítulo 4
Os métodos alternativos de resolução de conflitos mais comuns no Brasil
são a negociação profissional, a mediação, a conciliação e a arbitragem.
O Brasil tem se desenvolvido de uma forma muito positiva nos últimos anos
sobre o tema arbitragem. O famoso acórdão do Superior Tribunal de Justiça
de 1990 aplicando o Protocolo de Genebra de 1923, a validação da Convenção
interamericana sobre arbitragem comercial internacional de 1975, a adoção da
Lei 9.307/96 e a declaração de constitucionalidade da cláusula compromissória
pelo Supremo Tribunal Federal em 2001 mostram que o Brasil tem crescido na
arbitragem no direito brasileiro.
Para que o Brasil tivesse à chancela de um país conveniente à utilização da
arbitragem como meio eficaz de resolução de conflitos no âmbito internacio-
nal, faltava ratificar a Convenção de Nova Iorque reconhecendo a sentença arbi-
tral estrangeira de 10 de junho de 1958. A Convenção só foi ratificada em 2002
no Decreto 4.311.
O Brasil em 1996 já havia aceitado a Lei de Arbitragem e incorporado a Conven-
ção de Nova Iorque de 1958, assim liberando às sentenças arbitrais estrangeiras.
A sentença arbitral estrangeira para que haja uma produção de efeitos no
território nacional, deve ser analisada pelo judiciário do Estado que recebeu a
sentença, isso faz com que se verifique se a sentença se encaixe em certas con-
dições impostas pela ordem jurídica.
A homologação de sentença estrangeira foi uma situação muito complicada
para a aplicação da arbitragem no Brasil. Essa dificuldade foi demonstrada por
causa do sistema de duplo exequatur, ou seja para ser admitida no ordenamen-
to interno, a sentença arbitral estrangeira precisava ser homologada pelo poder
judiciário de seu país de origem.
Com a entrada da Lei de Arbitragem – 9.307/96, o duplo exequatur não se
encaixa mais e não é mais considerado como uma condição para a homologa-
ção das sentenças estrangeiras. A eliminação do duplo exequatur em uma sen-
tença arbitral estrangeira no Brasil foi realizada por um acórdão da Suprema
Corte Brasileira de 1999 que concedeu a homologação de uma sentença inglesa
em base da Lei de Arbitragem.
capítulo 4 • 87
A Constituição Federal de 1988 não faz referências à quais convenções in-
ternacionais são mais importantes no sistema jurídico brasileiro. No direito
brasileiro, a falta de uma ideologia que mostre os procedimentos quem deter-
mina às regras para resolver os conflitos entre o direito internacional e o direito
interno é a jurisprudência.
No direito brasileiro, cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) interpretar os
conflitos entre norma internacional e norma interna. Para o Superior Tribunal
Federal é considerado as normas internacionais e internas, estão no mesmo
nível hierárquico.
Algo que tem que ser analisado é que em função da Emenda Constitucional
45/2004, o artigo 35 da Lei 9.307/96 ficou revogado, assim que quem analisava às
sentenças arbitrais estrangeiras era exclusivamente o Superior Tribunal Federal.
Atualmente esta competência é do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O Ato nº
15, de 16 de fevereiro de 2005, o pedido de homologação de uma sentença estran-
geira deverá ser encaminhado ao vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça.
A Lei Brasileira de Arbitragem, foi moldada na Convenção de Nova Iorque
de 1958. Esta Convenção diz que a sentença arbitral não será reconhecida ou
executada se não estiver de acordo com as partes, se não estiver de acordo com
a lei local em que arbitragem ocorreu, porém a Lei Brasileira de Arbitragem -
9.307/96, no seu artigo 38, inciso V, traz em seu texto que a sentença arbitral
estrangeira não será homologada se não estiver correto o compromisso arbitral
ou cláusula compromissória.
CURIOSIDADE
O Brasil aparece em quarto lugar no ranking dos países usuários da arbitragem internacional.
Estados Unidos, França e Alemanha aparecem nas três primeiras colocações, respectivamente.
88 • capítulo 4
Ocorrendo o reconhecimento da sentença arbitral estrangeira e ficando
equiparada a nacional promove a execução.
4.6.4.1 Conciliação
A conciliação é muito conhecida no campo jurídico brasileiro, pois está muito
próximo ao procedimento judicial que é exercida pelos juízes, conciliadores e
bacharéis em direito. No procedimento judicial, o papel do conciliador é auxi-
liar as partes a chegarem por um diálogo, a um acordo, em cima do litígio.
capítulo 4 • 89
DREAMSTIME.COM
90 • capítulo 4
3. Fazer com que a adversidade vire algo colaborativo;
4. Preservar sua responsabilidade.
De acordo com os artigos 21 e 28, como descrito acima, o árbitro tem uma
obrigação legal de tentar a conciliação das partes no conflito.
Os árbitros e as próprias partes precisam ter essa preocupação, com o obje-
tivo de solucionar o conflito, utilizando a lei e os princípios éticos.
4.6.4.2 Mediação
A mediação tem como principal característica auxiliar para a tomada de deci-
sões pelas partes, usando formas que ajudam na comunicação para de forma
construtiva terminar o conflito. A mediação é um recurso eficaz na solução de
litígios que podem surgir de diversas situações. Da mesma forma que a conci-
liação é um uma forma de resolução extrajudicial, porém confidencial e volun-
tário, onde quem decide são as partes.
Existem algumas técnicas utilizadas na mediação que decorrem das áreas
de comunicação e da negociação, e que tem como ideal auxiliar os envolvidos
no conflito a solucioná-lo via respeitando o outro, definição de temas e a toma-
da de decisões.
Os principais objetivos da mediação são:
• A rapidez;
• Efetividade de seus resultados;
• Redução do desgate emocional;
• Redução do custo financeiro;
• Privacidade e sigilo;
• Melhoria dos relacionamentos.
capítulo 4 • 91
Esses objetivos são marcantes na mediação, pois podem solucionar qual-
quer tipo de conflito como impasse políticos, nacionais ou internacionais,
questões trabalhistas e comerciais, empresas e conflitos familiares.
92 • capítulo 4
Existem dois mais principais de Mediação, o primeiro é o modelo tradicio-
nal, onde a função do mediador é auxiliar as partes através da comunicação para
que se chegue à uma resolução do conflito. Este modelo é muito utilizado para
situações pontuais, onde dificilmente as partes terão relacionamento depois.
O segundo método é o transformativo, aonde o mediador utiliza técnicas
comunicacionais para alcançarem o acordo. O objetivo principal é a transfor-
mação das relações entre os envolvidos no conflito. A diferença do transforma-
tivo e o modelo tradicional é que neste se busca que não se perca às relações e
que elas continuem mesmo após o término do conflito.
4.7 Arbitragem
DREAMSTIMES.COM
A arbitragem tem algumas ideias como ser um instituto do direito e como ca-
racterística a vontade das partes.
capítulo 4 • 93
A autonomia da vontade é o principal elemento, pois é por ela que se tem a
possibilidade de nomeação, pelas partes, do árbitro, em que ele terá que decidir o
conflito com força de sentença judicial. As partes também poderão indicar o local
que será realizado a arbitragem e o idioma em que serão realizados os trabalhos.
A arbitragem é uma técnica para solução de controvérsias por meio de uma
ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada, deci-
dindo com base nesta convenção, sem intervenção do Estado, sendo a decisão
destinada a assumir eficácia da sentença judicial (CARMONA, 1993).
A arbitragem como os outros procedimentos de resolução de conflitos extraju-
diciais está baseada no direito das partes da cláusula compromissória.
CURIOSIDADE
Entre 2010 a 2013, foram iniciados 603 procedimentos arbitrais nas seis principais câmaras
de arbitragem do Brasil [Brasil-Canadá, FIESP, Amcham, Câmara de Arbitragem do Mercado,
FGV e Câmara de Arbitragem Empresarial-Brasil], e o valor acumulado dos litígios se apro-
ximou dos R$ 16 bilhões.
94 • capítulo 4
c) Princípio da Autonomia da Cláusula Compromissória: onde é estabe-
lecido a cláusula compromissória que acaba sendo independente. Esta
cláusula é o acordo que as partes incluem no contrato ou um documen-
to, fazendo com que haja uma obrigação para se utilizar o juízo arbitral
nos conflitos.
4.7.5.1 Arbitrabilidade
O 1º artigo da Lei de Arbitragem diz o seguinte:
“Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para
dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis”.
Essa situação marcou à seguinte expressão “direitos patrimoniais”, onde é
mostrado as relações jurídicas das quais se pode utilizar à arbitragem.
capítulo 4 • 95
Dessa forma, os requisitos que são importantíssimos para se utilizar a arbi-
tragem, são os seguintes:
• Requisito subjetivo: a capacidade de contratar.
A arbitragem só poderá ser realizada pela livre vontade das partes em um acor-
do denominado convenção de arbitragem.
Temos que analisar o artigo 3º, como descrito abaixo:
“Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao
juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula
compromissória e o compromisso arbitral”.
e o art. 4.º define:
“Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes
em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que pos-
sam vir a surgir, relativamente a tal contrato”.
96 • capítulo 4
Os artigos 3º e 4º adotam o termo convenção de arbitragem e juntam os
atos consensuais.
REFLEXÃO
Nesse capítulo, analisamos a incidência e aplicação da lei estrangeira no Brasil. A partir
disso, pudemos entender o modo que o Brasil adota as normas estrangeiras bem como os
requisitos necessários para isso.
Analisamos também os métodos de solução de conflitos extrajudiciais e a importância deles
para a melhoria do judiciário brasileiro. Além disto, vimos a importância da arbitragem para à
resolução de conflitos tanto no campo doméstico como internacional.
capítulo 4 • 97
ATIVIDADE
1. As partes interessadas são obrigadas a invocar norma estrangeira quando necessário?
Por quê?
LEITURA RECOMENDADA
Livro: Direito Internacional Privado Parte Geral
Autor: Jacob Dolinger
Editora: Forense
Essa obra traz, de forma bem didática, os principais aspectos de incidência e aplicação da lei
estrangeira. Traz ainda, uma reflexão de como adotar tal norma no regime interno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, Edgar Carlos de. Direito Internacional Privado: Revista Atualizada e Aumentada
com o Estatuto do Estrangeiro. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003. 353p.
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado – Parte Geral. 11ª ed. Rio de Janeiro: Edi-
toraForense, 2014. 567p.
98 • capítulo 4
LEMES SELMA FERREIRA,CARMONA CARLOS ALBERTO,MARTINS PEDRO BATISTA.
ARBITRAGEM: estudos em homenagem ao prof. Guido Fernando da Silva Soares. São Pau-
lo: Atlas, 2007.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª ed. Brasil: Malheiros Edi-
tores, 2004. 900 p.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Estamos terminando! No capítulo final estudaremos o direito marítimo bem como os contra-
tos marítimos e jurisdição marítima. Bons estudos!
capítulo 4 • 99
5
Direito marítimo,
contratos marítimos
e jurisdição
marítima
5 Direito marítimo, contratos marítimos e
jurisdição marítima
OBJETIVOS
• Reconhecer a profunda ligação entre as relações jurídicas internacionais de âmbito co-
mercial e o Direito Marítimo;
• Avaliar as principais normas nacionais e internacionais que regem o Direito Marítimo;
• Identificar as peculiaridades dos institutos jurídicos afeitos ao Direito Marítimo: a Em-
presa Brasileira de Navegação, as modalidades de navegação aquaviária e das embar-
cações, a composição e a natureza jurídica do navio.
• Reconhecer as diversas modalidades de contratos de afretamento marítimo e o principal
contrato de Transporte Marítimo de carga e suas peculiaridades;
• Identificar o âmbito da jurisdição marítima brasileira;
• Reconhecer a jurisdição, as competências e as atribuições do Tribunal Marítimo, seu
processo administrativo e a importância de suas decisões.
REFLEXÃO
Você se lembra da importância do direito marítimo para a evolução do comércio exterior? É
possível saber que qualquer modal de transporte utilizado se utiliza contratos? Quais formas
de contratos que são utilizadas?
Neste capítulo, estudaremos estas questões, bem como, a importância da jurisdição marítima.
A Terra possui 27% de sua superfície formada por continentes e os outros 73%
são formados por espaços marítimos. Isso faz com que 90 % de todo o transpor-
te de mercadoria no mundo sejam realizadas pelos mares.
102 • capítulo 5
A utilização do transporte por vias marítimas ou aquaviários é caracterizada
pela movimentação de bens e pessoas entre portos.
O transporte marítimo é muito intrigante, pois existem uma grande quantida-
de de indústrias e serviços que englobam este setor. Essas indústrias são utilizados
vários fornecedores de produtos como mineração, siderurgia e outros, e prestado-
res de serviços como assessoria jurídica.
O navio é a principal ferramenta no Direito Marítimo, no qual o Direito e a Eco-
nomia precisam andar em sinergia para que haja crescimento e desenvolvimento.
CURIOSIDADE
Código de Hamurabi, o qual pode ser escrito Hamurábi ou Hammurabi, representa o conjunto
de leis escritas, sendo um dos exemplos mais bem preservados desse tipo de texto oriundo
da Mesopotâmia. Acredita-se que foi escrito pelo rei Hamurábi, aproximadamente em 1700
a.C.. Foi encontrado por uma expedição francesa em 1901 na região da antiga Mesopotâmia
correspondente a cidade de Susa, atual Irã.
capítulo 5 • 103
Segundo Heleno Taveira Tôrres (2005, p. 397), o Direito Marítimo, Direito do Mar
e no Direito de Navegação Marítima, existe diferença entre navio e embarcações:
A navegação marítima opera-se por navios e embarcações, mesmo que discutível essa
distinção, e em matéria tributária completamente despicienda. Navio, usa-se para indi-
car o meio de realização dos atos constitutivos nos respectivos contratos de transporte
marítimo.
O Direito Marítimo trata de navegação comercial por vias aquaviárias que será
realizado por embarcações, dessa forma, inclui a navegação de embarcações para
rios, lagos, canais, estreitos e baias.
104 • capítulo 5
No Brasil, o direito marítimo está na segunda parte do Código Comercial de
1850 (ainda em vigor) e pela legislação esparsa (decretos e leis ordinárias), como
também convenções internacionais e tratados.
A Constituição Federal de 1988 coloca a União Federal responsável pelo Direito
Marítimo, onde decorre que Estados e Municípios não têm competência legislativa
em matéria de Direito Marítimo.
O Direito Portuário não se confunde com o Direito Marítimo, mesmo que no
dia a dia ocorrem problemas dentro e fora do navio, onde é relevante identificar os
INCOTERMS para analisar de quem será as responsabilidades.
Como vivemos em um mundo globalizado, cheio de complexidades, o que aca-
ba precisando de micro-sistemas jurídicos, como o próprio Direito Marítimo.
No Brasil, as fontes do Direito Marítimo vieram decorrentes da Lex Mercatoria.
O Direito Internacional Privado é a disciplina que rege o Direito Marítimo, devido
ao grande número de nacionalidades presentes no campo da expedição marítima, o
que faz ser de grande importância a necessidade de identificar leis e foro aplicáveis.
O Direito Internacional Público tem como objetivo regular e deixar uniforme as
relações jurídicas entre Estados e/ou organismos internacionais, através de trata-
dos, que são acordos celebrados por escrito entre vários Estados e/ou organismos
internacionais. É uma disciplina que desde a fundação da ONU em 1945, afetou
muito o direito interno dos países.
Art. 27. Os assuntos que constituem áreas de competência de cada Ministério são os
seguintes:
§ 8º As competências atribuídas ao Ministério dos Transportes nas alíneas a e b do
inciso XXII compreendem:
capítulo 5 • 105
I - a formulação, coordenação e supervisão das políticasnacionais;
II - a participação no planejamento estratégico, o estabelecimento de diretrizes para sua
implementação e a definição das prioridades dos programas de investimentos;
III - a aprovação dos planos de outorgas;
IV - o estabelecimento de diretrizes para a representação do Brasil nos organismos in-
ternacionais e em convenções, acordos e tratados referentes aos meios de transportes;
V - a formulação e supervisão da execução da política referente ao Fundo de Marinha
Mercante, destinado à renovação, recuperação e ampliação da frota mercante nacional,
em articulação com os Ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comér-
cio Exterior e do Planejamento, Orçamento e Gestão;
VI - o estabelecimento de diretrizes para afretamento deembarcações estrangeiras por
empresas brasileiras de navegação e para liberação do transporte de cargas prescritas.
106 • capítulo 5
5.4 Empresa brasileira de navegação
Um navio é uma grande embarcação que costuma também ter objetivo comer-
cial. Os navios de passageiros transportam superaras. Os navios são caracteri-
zados pelo casco e por suas máquinas e instrumentos de navegação.
É importante ter o conhecimento destes conceitos, pois na hora da contratação
do seguro da embarcação é necessário saber dessas informações.
Os navios mercantes mais utilizados no transporte de cargas são:
capítulo 5 • 107
2. Navios Porta Contêineres:
São os navios semelhantes aos navios de carga geral mas normalmente não
possuem além de um ou dois mastros simples sem paus de carga. As escotilhas
de carga abrangem praticamente toda a área do convés e são providas de guias
para encaixar os contêineres nos porões. Alguns desses navios apresentam
guindastes especiais.
108 • capítulo 5
4. Navios Frigoríficos:
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capítulo 5 • 109
5.6 Contratos marítimos
a) Hipoteca Naval: é regida pelo artigo 1.473, inciso VI, do Código Civil e
pela Lei nº 5.056/66, que será constituído, após a apresentação do título
de propriedade naval, inscrita no Tribunal Marítimo. A hipoteca sempre
será a totalidade do navio, portanto, a hipoteca sobre partes do navio não
existe, já que ele é indivisível.
110 • capítulo 5
c) Contrato de Trabalho da tripulação e do capitão: os tripulantes, o capitão
e o armador mantém entre si uma relação trabalhista, tal contrato é re-
gido pela Consolidação das Leis do Trabalho.
CONCEITO
O frete marítimo é o valor em dinheiro que recebe o transportador para efetivar o transporte
de mercadorias a si confiadas.
capítulo 5 • 111
O Frete Morto tem essa denominação, pois será o pagamento corresponden-
te à diferença entre o espaço que lhe foi reservado, e o espaço que a carga menor
ocupou, implicará no pagamento do total do espaço pré contratado, independen-
temente do efetivo espaço ocupado pela carga entregue.
Um exemplo de frete morto é o seguinte, um carregamento de 50.000 ton, ± 5%,
significa que o navio deverá carregar no máximo 52.500 e no mínimo 47.500 ton. Se
o carregamento for inferior a 47.500 t, o embarcador deverá pagar um valor relativo
à diferença entre a carga mínima e a carga carregada.
No Brasil, é comum a liberação do embarcador do frete morto se houver uma
demonstração que o transportador conseguiu contratar novo embarque pelo mes-
mo preço. Já no mundo inteiro essa prática é decorrente do compromisso assumi-
do no booking-note quando se desiste do embarque no todo ou em parte.
Booking note é uma nota de reserva e um dos documentos que podem ser uti-
lizados nas reservas de praça entre o armador e o embarcador, estabelecendo as
condições de transporte de carga em navio de linha regular.
Charter party é um contrato de afretamento, estabelecido entre o armador e
o afretador do navio. Assim, é um documento para definir as condições de afreta-
mento de um navio, em que tudo é tratado entre as partes, diferentemente do que
ocorre com navio de linha regular, em que tudo já está estabelecido pelo armador.
O embarcador extrapolando o prazo previsto no contrato marítimo será cobra-
da uma penalidade que é muito conhecida chamada demurrage. Demurrage é um
contrato que tem valor determinado, cobrado por dia e calculado pró-rata tempo-
ris, que significa proporcional ao tempo.
112 • capítulo 5
Art. 567 - A carta-partida deve enunciar:
1 - o nome do capitão e o do navio, o porte deste, a nação a que pertence, e o porto do
seu registro (artigo nº. 460);
2 - o nome do fretador e o do afretador, e seus respectivos domicílios; se o fretamento
for por conta de terceiro deverá também declarar-se o seu nome e domicílio;
3 - a designação da viagem, se é redonda ou ao mês, para uma ou mais viagens, e se
estas são de ida e volta ou somente para ida ou volta, e finalmente se a embarcação se
freta no todo ou em parte;
4 - o gênero e quantidade da carga que o navio deve receber, designada por toneladas,
nºs, peso ou volume, e por conta de quem a mesma será conduzida para bordo, e deste
para terra;
5 - o tempo da carga e descarga, portos de escala quando a haja, as estadias e sobre
estadias ou demoras, e a forma por que estas se hão de vencer e contar;
6 - o preço do frete, quanto há de pagar-se de primagem ou gratificação, e de estadias
e sobre estadias, e a forma, tempo e lugar do pagamento;
7 - se há lugares reservados no navio, além dos necessários para uso e acomodação do
pessoal e material do serviço da embarcação;
8 - todas as mais estipulações em que as partes se acordarem.
capítulo 5 • 113
2. Bareboat charter party: também é um contrato a casco nú, porém neste
caso o fretador fica com a posse e a administração do navio.
114 • capítulo 5
Além dos tratados e convenções a seguir, a própria Constituição Federal de
1988 prevê, em seu art. 20, a preocupação no tocante a essa faixa de mar:
Águas internacionais
(com extensão da ZEE)
Platô continental
(extensão de ZEE possível)
Águas internacionais
(sem extensão da ZEE)
Zona contígua
(12 milhas)
Mar territorial
(12 milhas)
Terra
capítulo 5 • 115
O Mar Territorial é a faixa de mar que se estende desde a linha de base, até
uma distância de 12 milhas marítimas. A jurisdição do Brasil no mar territorial
é soberana, exceto no que tange a jurisdição civil e penal em navio mercante es-
trangeiro em passagem inocente, cuja jurisdição é do Estado de bandeira (prin-
cípio da jurisdição do Estado de bandeira).
Essa ideia de soberania do Estado costeiro está extremamente envolvida a
ideia de defesa do território. A sua importância era tão marcante, pois, ao rom-
per do século XVIII adotava-se três milhas náuticas marítimas como Mar Ter-
ritorial. Isso se justificava pelo alcance máximo da artilharia costeira à época.
Como descrito na Lei nº 8.617/93 que dispõe sobre o mar territorial, a zona
contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros, e
dá outras providências.
A Zona Contígua (Contiguous Zone) é a segunda faixa de mar de 12 milhas, ad-
jacente ao mar territorial. Na Zona Contígua, o Estado Costeiro perde a sobera-
nia, mas continua tendo a jurisdição legal específica para os fins de fiscalização
no que tange à alfândega, saúde, imigração, portos e trânsito por águas territo-
riais. O segundo conceito criado pela CNUDM foi o de Zona Contígua, que é uma
área reservada às medidas de fiscalização, no que concernir à alfândega, essa
Zona não poderá ir além das 24 milhas marítimas, contadas da mesma linha de
base do Mar Territorial. Isso é o que consta do art. 33 da CNUDM.
Limites do mar
Linha base
Mar territorial
12 milhas (22,2 km)
Zona econômica exclusiva (ZEE)
200 milhas (370,4 km) Plataforma
continental
Plataforma
OCEANO ATLÂNTICO
Talu
de
E levaç ã o Planície
Crosta continental abissal
Crosta oceânica
116 • capítulo 5
direitos concernentes ao Estado costeiro sobre essa faixa de água. Inclui-se a
soberania, no que diz respeito à exploração e ao aproveitamento, a conservação
e a gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes
ao leito do mar e seu subsolo. Também é autorizado a investigação científica
marinha e a produção de energia, a partir da água, das correntes e dos ventos, e
atribui como um dever a proteção e a preservação do meio marinho.
Nas Zonas Econômicas Exclusivas, qualquer Estado goza do direito de na-
vegação e sobrevôo, cabendo-lhe, ainda, a liberdade de instalação de cabos e
dutos submarinos.
A plataforma continental (Continental Shelf) é constituída por áreas sub-
mersas à zona do Mar Territorial e compreende o leito e o subsolo das áreas
submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão
do prolongamento natural do seu território terrestre, até ao bordo exterior da
margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas
de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que
o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância.
A disciplina jurídica sobre a Plataforma Continental objetiva a soberania sobre o
aproveitamento dos recursos situados nas suas águas, no seu solo e subsolo, notada-
mente recursos minerais e combustíveis fósseis como o petróleo e o gás natural. Os
recursos naturais da Plataforma Continental compreendem os recursos minerais e
outros recursos não vivos do leito do mar e subsolo, bem como os organismos vivos
pertencentes a espécies sedentárias, isto é, aquelas que, no período de captura, estão
imóveis no leito do mar ou no seu subsolo ou só podem mover-se em constante contato
físico com esse leito ou subsolo.
Sob a égide da CNUDM III, o Estado costeiro exerce direitos de soberania sobre
a Plataforma Continental para efeitos de exploração e aproveitamento dos seus re-
cursos naturais (art. 77).
BRASIL
Território 8.500.000 Km2
capítulo 5 • 117
BRASIL
Amazônia Azul
ZEE + Extenesão da Plataforma Continental
Cerca de 4.500.000 Km2 (42% do território)
* Proposta brasileira
OCEANO
PACÍFICO
ZEE
OCEANO
BRASIL PACÍFICO
ZEE
ZEE
N
Plataforma
Plataforma continental estendida
118 • capítulo 5
A Petrobras e, por conseguinte, o Estado brasileiro, vem conseguindo, legitima-
mente, realizar a exploração das reservas de hidrocarbonetos de parte da denomi-
nada camada do “pré-sal” na Plataforma Continental.
Destacaram-se duas grandes porções: o cone que se prolonga a partir da Foz do
Rio Amazonas e o trecho do Espírito Santo ao Uruguai.
É a essa área, compreendendo cerca de 4.500 milhões de quilômetros quadra-
dos, ou seja, mais da metade do território terrestre do Brasil, que os especialistas
atribuem a expressão “Amazônia Azul”.
Além das explorações de hidrocarbonetos (petróleo e gás natural) pode ser cita-
da como importância dessa área o seguinte: mais de 90% do comércio exterior do
País é feito por transporte marítimo; a pesca; minerais, como o cobalto, a platina, o
manganês e o sulfeto; a biogenética e a farmacologia; possibilidade de água potá-
vel; 80% da população brasileira vive a menos de 200 Km do litoral.
A criação dos Tribunais Marítimos Administrativos foi fruto de uma das doze
atribuições alocadas ao Ministério da Marinha pelo Artigo 1º, Parágrafo 1º, do
Decreto nº 20.829, de 21 de dezembro de 1931, que criava a Diretoria da Mari-
nha Mercante. Esta Diretoria veio substituir a Diretoria de Portos e Costas e era
diretamente subordinada ao Ministério da Marinha. Por conseguinte, os Tri-
bunais Marítimos Administrativos, criados, porém ainda não ativados, ficavam
subordinados a novel Diretoria de Marinha Mercante. O Artigo 5º do decreto
citado determinou a criação destes tribunais:
“Art. 5º Os Tribunais Marítimos Administrativos, que ora ficam criados pelo presente
decreto sob a jurisdição do Ministério da Marinha, terão a organização e atribuições
determinadas no regulamento a ser expedido para a Diretoria de Marinha Mercante.”
capítulo 5 • 119
• Proibir ou suspender por medida de segurança o tráfego de embarcações;
• Processar e julgar recursos interpostos; emitir parecer nas consultas
concernentes à marinha mercante;
• Funcionar como juízo arbitral nos litígios patrimoniais posteriores a aci-
dentes ou fatos da navegação;
• Sugerir ao governo modificações à legislação da marinha mercante, en-
tre outras.
REFLEXÃO
Nesse capítulo, reconhecemos a profunda ligação entre às relações jurídicas internacionais
no âmbito comercial e no Direito Marítimo.
Analisamos as principais leis que regem o Direito Marítimo, identificando as Empresas Bra-
sileiras de Navegação, as modalidades de navegação, os tipos mais usuais de embarcações.
Esse capítulo também foi estudado as diversas modalidades de contratos marítimos,
identificando os contratos existentes e em que momento são utilizados.
Avaliamos os efeitos e a utilidade do Tribunal Marítimo.
ATIVIDADE
1. Quais são os principais campos do Direito Marítimo?
LEITURA RECOMENDADA
Livro: Curso de Direito Marítimo Vol. I e II - 4ª Ed. 2013
Autor: Martins, Eliane M. Octaviano
Editora: Manole
O livro ‘Curso de Direito Marítimo’ compreende aspectos teóricos e práticos organizados em
dois volumes.
120 • capítulo 5
A presente edição foi reformulada, revista e atualizada, sendo dividida em 12 capítulos.
Analisa, essencialmente, a Teoria Geral do Direito Marítimo e Direito do Mar; competência
jurisdicional e soberania; a embarcação e o navio; e os sujeitos e auxiliares da navegação.
O volume II aborda aspectos relativos aos contratos marítimos, avarias, acidentes de
navegação, responsabilidades e aspectos processuais.
A obra se configura como um instrumento de pesquisa e de referência útil a profissionais,
professores e estudantes de Direito Marítimo e Direito do Mar, bem como a operadores de
comércio exterior e de logística.
Trata-se de estudo sistemático que pretende ser um marco, ao abordar com profundida-
de aspectos atinentes à matéria.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Autor desconhecido. Tribunal Jurídico. Disponível em: <https://www.mar.mil.br/tm/>.
Acesso em: 07 dez.2014.
FREITAS, Dario Almeida Passos de. O que é, qual a atribuição e como funciona o
Tribunal Marítimo. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2008-dez-08/funciona_tri-
bunal_maritimo>. Acesso em: 07 dez. 2014..
MARTINS, Eliane M. Octaviano. Curso de Direito Marítimo - Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora
Manole, 2013.
MARTINS, Eliane M. Octaviano. Curso de Direito Marítimo - Vol. 2. Rio de Janeiro: Editora
Manole, 2013.
capítulo 5 • 121
MARTINS, Eliane M. Octaviano e NETTO, Caio César Alvares Loro. Soberania e jurisdição
marítima brasileira na zona pré-sal. Disponível em: <https://portogente.com.br/por-
topedia/soberania-e-jurisdicao-maritima-brasileira-na-zona-pre-sal-79531>. 05 dez. 2014.
EXERCÍCIO RESOLVIDO
Capítulo 1
122 • capítulo 5
Capítulo 2
Capítulo 3
Negativo – Hipóteses em que cada um dos sistemas atribui competência para reger a
matéria não à sua própria lei, mas a lei interna de outro sistema.
capítulo 5 • 123
Capítulo 4
1. As partes interessadas são obrigadas a invocar norma estrangeira quando
necessário? Por quê?
Não são obrigadas. Pois, segundo o princípio da lex fori, a lei estrangeira será equiparada
a lei nacional e por isso, o juiz deverá aplicá-la quando assim se fizer necessário, sem
precisar do requerimento das partes.
Capítulo 5
124 • capítulo 5