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DOMINGO XXX do TEMPO COMUM – 28 de outubro de 2018

MESTRE (RABUNÍ), QUE EU VEJA DE NOVO! – Comentário de Pe. Alberto Maggi OSM
ao Evangelho

Mc 10, 46-52

Naquele tempo, 46Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão.
O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho.
47Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus,

filho de Davi, tem piedade de mim!” 48Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele
gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 49Então Jesus parou e disse:
“Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” 50O
cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. 51Então Jesus lhe perguntou: “O que
queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja de novo!” 52Jesus disse:
“Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo
caminho.

Jesus tinha repreendido seus discípulos usando uma expressão tirada do profeta Jeremias,
onde o Senhor diz: “Vocês têm olhos e não vêem, têm ouvidos e não ouvem”.

Nós estamos lendo e meditando o Evangelho de Marcos e o evangelista apresenta a questão


de “ter ouvidos e não ouvir”com o terceiro anúncio da paixão. Embora Jesus tivesse deixado
claro que a Jerusalém teria sido morto, dois discípulos, Tiago e João, pedem-lhe os lugares de
honra, os mais importantes (Mc 10, 35-45). Então, eles têm ouvidos, mas não ouvem Jesus!

No episódio que se segue - estamos no capítulo 10 de Marcos, a partir do versículo 46 - se


explica a cegueira desses discípulos. Vamos ver o trecho.

Eles chegaram a “Jericó”. Jericó foi a primeira cidade conquistada por Josué na entrada
para a terra prometida, mas agora se tornara uma terra de opressão, da qual é preciso
sair.

”Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão”. O
evangelista para indicar a saída de Jericó usa “sair”: um verbo técnico que foi usado no
livro do Êxodo. Portanto, a terra prometida tornou-se agora terra de escravidão, da
qual é preciso sair, fugir.

”O filho de Timeu, Bartimeu...”. Eis aqui um estranho personagem que é apresentado


antes com o termo grego “filho de Timeu”, e depois com “Bartimeu”, que não é o
nome do filho de Timeu, mas “bar-Timeu” que significa “o filho de Timeu” em
aramaico .

É estranha essa dupla apresentação de um indivíduo “o filho de Timeu, Bartimeu”.


Timeu, em grego, significa “honra”, que poderíamos, então, traduzir com “honrado”.
Por que isso? O evangelista quer simbolizar, através deste indivíduo, os dois discípulos
Tiago e João, que não só são surdos, mas também são cegos!

Jesus, após o fracasso de sua pregação na sinagoga de Nazaré tinha dito: “Não há
profeta sem honra senão na sua pátria” (Lc 4,24). Pois bem, enquanto Jesus é
desonrado, seus discípulos buscam a honra. Portanto, “o filho de Timeu, Bartimeu”, é
repetido duas vezes, porque o evangelista quer confirmar que está representando
Tiago e João, que também eram chamados de “os filhos de Zebedeu”.

”Cego”. Eis aqui a queixa tirada do profeta Jeremias: “Vocês têm olhos e não vêem”.

Depois, temos a expressão “estava sentado à beira do caminho”. Expressão que já


apareceu no capítulo 4, versículo 15, na parábola da semente lançada ao longo do
caminho... Chegam os pássaros - imagem de Satanás, isto é do poder - que comem a
semente. Portanto, a incompreensão da mensagem de Jesus.

”Cego e mendigo”. “Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno...” - O Nazareno


significa aquele que provém da região dos revolucionários- ”...estava passando,
começou a gritar:...” - Ele grita exatamente como o possuído na sinagoga - “Jesus,
filho de Davi, tem piedade de mim!”. Eis a razão da sua cegueira: não vê em Jesus o
filho de Deus aquele que, por amor, veio para dar vida ao mundo, mas vê em Jesus o
“filho de Davi”, aquele que, por meio da violência, morte, destruição, chegou ao poder
e inaugurou o reino de Israel.

Essa é a razão da cegueira! Os discípulos acompanham Jesus, mas não o seguem,


porque eles têm em suas mentes a imagem de um Messias triunfante, exatamente, o
“filho de Davi”.

”Muitos o repreendiam para que se calasse”. Esses “muitos” são os verdadeiros


seguidores de Jesus, que querem liberar esses discípulos desta mentalidade. “Mas ele
gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!”. E aqui desaparece até o
nome “Jesus”! “Filho de Davi” era quem devia restaurar a monarquia.

”Então Jesus parou” - Jesus não vai em direção do cego, mas é o cego que deve ir até
Jesus - “Jesus parou e disse: “Chamai-o”. O verbo “chamar” aparece três vezes, o
que, na língua hebraica, significa “completamente”. “Chamar”: chama-se alguém que
está longe! Esses discípulos estão acompanhando Jesus, mas estão longe, não o
seguem!

Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!”. “O cego jogou


o manto...” - o manto, na linguagem simbólica, indica a pessoa - portanto, jogar o
manto significa romper finalmente com essa ideologia do filho de Davi: é a sua
conversão. “O cego deu um pulo e foi até Jesus”. Jesus não foi até o cego. É o cego
que deve ir até Jesus e, indo até Jesus, recupera a vista.

Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?”. Para fazer compreender
que, nesse episódio, o evangelista está narrando de Tiago e João, coloca na boca de
Jesus as mesmas palavras e a mesma pergunta que o próprio Jesus tinha dirigido aos
dois discípulos: "O que vocês querem que eu lhes faça?”.

Nesta vez: “O que queres que eu te faça?”. “O cego respondeu...” - Finalmente não o
chama mais de “filho de Davi”, mas “Mestre” (“Rabuní”), expressão que se usava
quando se falava da divindade - “...Mestre, que eu veja de novo!”. Portanto, nem
sempre ele foi cego. Evidentemente, houve um período em sua vida no qual ele via.
Em seguida, perdeu a visão, porque lhe foi tirada por uma ideologia contrária ao
projeto de Deus sobre a humanidade.

Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. Jesus não executou qualquer ação em relação ao
cego. Foi o homem cego que abandonou sua antiga posição, se converteu, e foi para
Jesus. “No mesmo instante, ele recuperou a vista”. Então, num período de sua vida
ele via e, agora finalmente - aqui temos o verbo técnico da “sequela” de Jesus - “e
seguia Jesus pelo caminho”. O caminho que o levará, em seguida, para a paixão em
Jerusalém.

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