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2% 2. AS FORMAS NOMINAIS ANAFORICAS NA PROGRESSAO TEXTUAL |, INTRODUGAO A partir da década de 1980, a pesquisa em Lingufstica Textual, acompanhando mudancas de paradigma que se processavam em ou- {ros ramos do saber, sofreu uma significativa alteracio de rota, causada pela tomada de consciéncia de que todo fazer (ago) énecessariamente acompanhado de processos de ordem cognitiva, de que quem age precisa dispor de modelos mentais de operacies €tipos de operacées. Assim, a tonica das pesquisas na drea passou a recair nas operagses ‘cognitivas de processamento textual, considerando-se 0 texto como resultado de processos mentais: é a abordagem procedural. Nessa abordagem, postulava-se que os parceiros da com cago possuem saberes acumulados quanto aos diversos tipos de atividadese episédios davida social em que se acham envolvides, isto 6, tm conhecimentos representados na meméria enciclopédica que necessitam set ativados para qué cada uma de suas atividades seja coroada de sucesso; ¢ que, dessa forma, os interlocutores ja trazem paraa situaco comunicativa ddecerminadas expectativas ativam certos conhecimentos experién- cias no momento da motivacio e estabelecimento de metas, em todas as fases preparat6rias da construgio textual, ndo apenas na tentativa de traduzir seu projeto em signos verbais (comparando entre si di- vversas possibilidades de concretizacio dos objetivos e selecionando aquelas que julgam as mais adequadas), como também no momento da compreensio de textos. Desse ponto de vista, conforme Beaugrande & Dressler (1981) —cuja obra conscicul um dos marcos isictais desse perfodo ~, © texto € originado por uma multiplicidade de operacées cogni: tivas interligadas, “um documento de procedinientos de decisio, selecio e combina¢io” (p. 37), de modo que caberia & Linguistica Textual desenvolver modelos procedurais de desctigéo textual, capazes de dar conta dos processos cognitivos que permitissem a integragao dos diversos sistemas de conhecimento dos parceiros ta a descrigao ¢ a descoberta de procedimentos para sua atualizagio e tratamento, no quadro das. da comunicacio, tendo em motivagées e estratégias da produgio e compreensio de textos. Nessa perspectiva, a Linguistica Textual inclu entre seus press postos a existéncia de modelos cognitivos,iickalmente pesquisados em Inteligencia Artificial e Psicologia da Cognigfo, os qua na literatura, denominagées diversas (frames, Minsky, 1975s sripts, Schank & Abelson, 197; cendrios, Sanford & Garrod, 1985; exgue- ‘mas, Rumelhart, 1980; modelos mentais, Jonnson-Laird, 1983; modelos epiddicos ou de situagao, van Dijk, 1989, entre outras). Tais modelos caracterizari-se como estruturas complexas de conhecimentos, que re- recebido, presentam as experiéncias que vivenciamos em sociedade ¢ que servem debase as processos conceituais. requentemente, so representados em forma de redes, nas quais as unidades conceituais sio concebidas como variéveis ou sos, que denotam caracteristicas estereotipicaseque, durante 60s processos de compreensio, sio preenchidas com valores concretos (filler). Consticuem, pois, conjuntos de conhecimentos sociocultural- ‘mente determinados ¢ vivencialmente adquiridos, que contém tanto conhecimentos sobre cenas, si sobre como agir em situagées particularese realizar atividades especifcas, Segundo van Dijk 8 Kintsch (1983), por ocasio do processarmento dda informagio na atividade de compreensio, selecionam-se os modelos ‘com a ajuda dos quais o atual estado de coisas pode ser interpretado. As unidades néo explictas no texto devem ser inferidas do respectivo mo delo, Nesse caso, na falta deinformagéo explcita em contririo, utliza-se 1agbes € eventos, como conhecimentos sempre como preenchedor (filly) a informagio extereotipica (Os varios tipos de saberes so mobilizados on-line por ocasiéo do processamento textual ¢ se atualizam nos textos por meio de a -diversos tipos de estratégias processuais. O processamento textual 6 nO processamento estratégice depende nao s6 de caracteristicas textuais, como também de caractersticas dos usuarios da lingua, tais como seus objetivos, convicgées e conhecimento'de mundo. Isto é as estratégias cognitivas so estratégias de uso do conhecimento. E esse uso, em cada situagio, depende dos objetivos do usuétio, da quantidade de conhecimento disponivel a partir do texto ¢ do contexto, bem comio de suas crengas, opinides eatitudes. Isso explica por que, no momento da compreensio, hi a possibilidade de o leitor reconstruir do somente o sentido intencionado pelo produtor do texto, mas também outros sentidos, nao previstos ou, por vezes, nem mesmo desejados pelo produtor: Por ser a informacio dos diversos nfveis apenas em parte ex- plicitada no texto, ficando a maior parte implicita, as inferéncias

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