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EDIPUCRS
A v. rpiranga, 668 I - Pr édio 33
C.P. 1429
90619-900 Porto Alegre - RS
Fone/Fax.: (5 1) 320-3523
E-mail edipucr @p ucrs .br
www.puc rs.br/edi pucrs/
Pedro Leite Junior
Coleção:
FILOSOFIA- 125
EDIPUCRS
PORTOALEGRE
2001
© Copy right de EDlPU CRS
Ao Prof Dr. Reinhold o A. Ullmann pela ajuda nas tradu ções do Latim e
p ela revisão desta dissena çc7o .
À Raqu el Rodrig ues e Ana Lúcia Pinto, amigas que sempr e tiveram wna
pa lavra de incentivo.
A todos aqueles que de algum modo contribuíram com seu apoio na rea-
/izaçc7odeste trabalho.
INTRODUÇÃO / 9
1 SOBRE O PROBLEMA DOS UNIVERSAIS / 15
2 TIPOLOGIA DAS SOLUÇÕES / 27
3 SEVERINO BOÉCIO / 31
4 PEDRO ABELARDO / 41
4. 1 OCO TEXTO DE ABELARDO / 41
4.2 O PROBL EMA PARA ABELARDO / 46
4.3 PARS DESTR UENS: AS CRÍTICAS / 48
4.4 PARS CONSTRUENS: A SOLUÇÃO / 58
5 GUILHERME DE OCKHAM / 83
5. 1 OCO TEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DE
OCKHAM / 83
5.2 A QUESTÃO DOS U !VERSAIS EM OCKHAM : A
EST RUTURA CRÍTI CA / 88
5.3 PARTE CRÍTICA / 97
5.3.1 Contra a primeira opinião / 101
5.3.2. Contra a segunda opinião / 113
5.3.3. Contra a opinião de Scotus / 115
5.3.4 Contra a distinção de razão / 130
5.4 PARTE RESOLUTIVA / 138
CONSIDERAÇÕES FINAIS / 155
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS / 158
INTRODUÇÃO
1
ARISTOTE. La Métaphysique. Tra d. J. Tricol. Paris: Yrin. 1966, I. l, 980a 2 l-
982b 20. Cotejamos essa tradução com a de Leonel Yallandro. Aris tóteles. Me-
tafísica. Po rto Alegre: Glob o. 1969.
Coleção~ilo~ofia - 125 9
PedroLeiteJunior
2
TUGENDHAT , Ernst. Lições introdwórias à Filosofia Analítica da Linguagem.
Trad. e org . Mário Fleig. ljuí: Unijuí, 1992. p. 11.
3
COUS IN, Vitor. Ouvrages inédits d'Abélard. Paris: Didier , 1836, p. LYI-LXIV.
4
SARANY ANA, Josep-lgnasi. Historia de la Filosofía Medieval. Pamplona:
Universidad de Navarra, J989, p. 141.
5
COPLESTON, Frederick. Historia de la Filoso.fía. Barcelona: Ariel, 1983, v. II.
p. 145.
10 Coleção~ilosofia. 125
O problinna do~univet~ai~: a pet~pectivade lsoiício, Abelatdo e Ockhatn
6
YANNI ROVIGHI , Sofia. " [nten tion nel et universe l chez Abélard". Abélard.
Actes du Colloque de Neuchâtel, 16-17 nov. ln : Cahiers de la Revue de Théo/o-
gie et Philosophie, 1981 , p. 21.
7
QUINE , Will ard V. O. et alli. '·Sobre o que há". ln: Coleçc7o os Pensado res.
Trad. Luis Henrique dos Sa ntos. São Paulo: Abril Cu ltural, 1975, p. 225.
8
Conforme, por exe mpl o, o capítulo 8, '·Ter mos gera is, conce itos e c lasses", da
obra de TUGENDHAT, Ernst e WOLF, Ursu la. Propedêwica Lógico-
Se111ântica.Trad . Fernando Rodrig ues. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 101- 114.
9
PANACCJO , Claude. Les 111 01s, les co11cepts et les choses. La sémantique de
G11illau111ed'Occarn el /e 11.0111ina/is,ne
d'aujourd '/wi. Montréal - Par is: Bellar-
min - Yrin, 1991.
10
MARCUSE. Herbert. A Ideologia da sociedade i11d11srrial.
Trad. Ginso ne Re-
buá. Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p. 191.
12 Coleção~ilo~ofia- 125
O ptoblrHnlldos univets:iis: a petspectivade lsoécio, Abel:itdo e Ockh:itn
ColeçãoÍilosofi:i. 125 13
SOBRE O PROBLEMA DOS UNIVERSAIS
1
LIBERA , A lain de. A Filosofia Med ieval. Trad. Lucy Magalhães. Rio de Janei-
ro: Zahar. 1990, p. 95.
Coleçãof::ilo
gofia - 125 15
PedtoLeiteJuniot
2
ASCIME TO, Carlo s A. R. do . "A quer ela dos univer sais revisitada" . ln : Ca-
dernos PUC-Filosofia. São Paulo: Co 1tez, n. 13, ( 1983), p. 37. Nascimen to, por
exe mplo, esc reve: "Como é sabido a fonte das discussões medievais sobre os
universais se enco ntra em três ques tões form uladas e não respondidas pelo neo-
platônico Porfírio no iníc io de ua introdução às categorias de Aristóteles (lsa-
goge)".
3
PORFÍRJO , lsagoge. Introdução às Categor ias de Aristót eles. Trad ., pref. e no-
tas de Pinh aranda Go mes. Lisboa : Guimarã es, 1994.
4
ARlSTÓTELES. ''Tópico s". ln : Orga11on V. Trad. Pinharanda Gomes. Lisboa :
Guimarães, 1987, I, 5, 102a-l02b25.
16 Coleção~ilo~ofüi
- 125
No início de sua obra, Porfírio form ula três ques tões relati-
vas à natur eza cios gê nero s e das espéc ies (uni versa is) 5, que co nfi-
gura m o quadro em torno do qual travaram-se os debates e as pos-
síveis soluções para o problema no período medieval. Esc reve Por-
fír io:
5
Sara nyana ob~erva que Porfír io refe re-se ape nas aos dois predicáve is, gê neros e
espécies, na form ulação de suas ques tões (op. cit.. p. 8 1, nota 4 ).
6 ' .
PO RFIRIO , op . cil ., p. 50-51.
7 ' .
PORFIRI O, op. cI1., p.5 1-52.
8
NASCIMENTO, Cario A. R. do . "Introdução, u·adução e notas ··. ln : PEDRO
ABELARDO. Lógica para pri11cipiw11es.Petrópolis: Vozes, 1994. p. 16. (Se-
gundo solicitação e informe do orientador, Professor Dr. Luis A. De Boni, os
autore medievais são costumeiramente citados pelo nome comp leto. Por conse-
guinte, seguiremos tal padrão para referendar a bibliografia neste estudo).
9
o capítulo 2, apresentaremos a tipologia das principais posições diante do pro-
blema.
18 Coleção~iloi:ofia - 125
O ptoblernado~univet~ai~:
a pi!t~pectiva
de Boécio,Abelatdo e Ockharn
"( ... ) segundo Platão. as Idé ias são como entidades autôno-
ma existentes, desp reendidas do ente sensível, isto é, exis-
tentes como as próprias co isas particulares - só que seriam
supra-sen síve is; ( ... ) os univer ais existiriam ante riormente
e independentemente dos objetos concretos (universale ante
rem)" 12.
10
MICHO . Cyrille. No,ni11a/is111e. w théorie de la sig11ificatio11d'Occa111.Paris:
Yrin. 1994. p. 3 l.
11
CIRNE LIMA , C. R. Dialética para pri11cipia111es. Coleção Filosofia (48) .
Porto Alegre: EDIPUCRS. 1996, p. 45.
12
TUGENDHAT. WOLF , op. cit .. p. 103.
" VIGNAUX. Paul. O pensar da Idade Média. Trad. e pref. de Antonio Pinto de
Carvalho. São Paulo: Saraiva, 1941. p. 184.
14
ARJST ÓTELES. Categorias. Coleção Filosofia-Textos. Trad. , introd. e coment.
de Ricard o Santos. Porto: Porto. 1995, 2 a l 1-18.
Coleçãol=ilo~ofia
- 125 19
PedtoLeiteJuniot
15
ALFÉRJ , Pierre. Gui//awne d 'Ockham. Le Singulier . Paris: De Minuit, J 989 , p.
30.
20 Coleçãol=ilo~ofia
- 125
O pwblBrrni dos univBtsais: a pBtspBctiva
dBBoiício, AbBlatdo BOckham
16
ARISTÓTELES. Sobre la /11terpretació11(Peri Hermenéias). Tratados de Lógi-
ca li (Organon). lntrod ., trad . y notas de Miguel C. Sanmartin. Madr id: Gredos,
1995,7, l7b .
17
ARI STÓTE. La Métaphysique, VJII , 13, 1038b 11.
18
YIGNAUX , Pau l. "Nom inali srne". ln : Dictionnaire de Théologie Catholique.
Pari s: Librair ie Leto uzey et Ané , 193 1, t. XI. Col. 7 19.
19
KNEALE , William, K.NEALE, Ma rtha. Dese11\'olvi111e11to da Lógica. Trad. de
M. S. Loure nço . Lisboa: Fundação Ca louste Gulbenk ian. 1962, p. 20 0-201.
a - 125
ColBçãol=ilosofi 21
PedwLeiteJuniot
20
ARISTÓTELES . Sobre la interpretación ..., I, 16a.
22 Coleçãof:ilMofia- 125
O problemados univetsais: a petspectiva de !soécio, Abelatdo e Ockharn
"( ...) sua linguagem sugere que ele pensa que exi te uma
espécie chamada ' homem' e um gênero chamado 'anima l' e
na verdade ele chega a afirmar que homem e animal são
substâncias segundas. ( ...) temos aqui o começo de uma
outra confusão que tem enfeitiçado a teoria dos individuais
e dos universais" 21 .
11
KNEALE, KNEALE, op. ci r.. p. 200-201 .
22
MICHO , op. cir., p. 383.
23
ANÍCIO M.T.S .BOÉCIO . Co111m entaria i11Porphyri11111.ln : Opera 011111ia. Pa-
ris: Migne. 189 J. Pat.ro logia Latina 64, co l. 82A-86 A. As citações deste tex to de
Boécio serão feitas em portuguê s co m base em uma tradução rea lizada e forne-
c ida ao alunos pelo prof. Fernando Fleck, durante a disciplina "Se minário de
Filosofia An tiga e Med ieva l". em 1994/Tl na UFRGS. Estabe lece mos, ainda,
que esse texto será referido como seg ue: BOÉC IO, PL 64 (Patro log ia Latina) ,
co luna e letra .
24
Observamo s que a noção de com unid ade já havia sido apontada por Aristóte les,
Metaffsica. Yll , 13. l0 38bl l. Boéc io, ao que parece , desco nhec ia. ou não teve
ColeçãoJ:ilosofia- 125 23
PedwLeiteJuniot
Boécio (... ) "26 . O que é confirmado por Abelardo 27 : "( ... ) o univer-
sal é de tal modo comum, co1110Boécio afirma, que o mesmo está
. ..28
tod o ao mesmo tempo nos dif 1 e rentes .
Essa noção de comu nidade do universal , de Boécio, vin-
cula-se à definição aristotél ica, constituindo um dado mais ontoló-
gico do problema. Enquanto a definição aristotélica de universal
incide sob re uma noç ão lógica de" er predicado de vários', a boe-
ciana repousa sobre a noção de "ser comum a muitos". Ora, a pos-
sibilidade de predicação a muitos é garantida, na medida em que
e ses muitos têm algo de co111um . Conforme Yignaux , "este 'ali-
q11odcommune' é a matéria do probl ema dos universais" 29 . Assim,
por exemplo, os hom ens individuai s co ntêm "algo de comum" (um
universal como a espécie homem), que permite formularmo pro-
po ições predicativas do tipo: "Pedro é homem"; "João é homem "
e, assim, suces ivamente.
A perspectiva ontológ ica do problema surge - no âmbito
da definição boeciana - quando se toma o univ ersa l como sendo
algo (uma coisa) realmente existente nos indi víduos em que é co-
mum. De outro modo: quando formul amos a seguinte questão: os
univer ais (gêneros e espéc ies, substânc ias segundas, aliquod
commune) têm ex istência extramenta1?
acesso a essa obra, pois que o chamado corpus ar istotélico some nte ingressou
no Ocidente latino em fins do éc ulo XII.
25
LIBERA . op. ci1., p. 95.
26
MICHON , op. ci1., p. 383.
17
PETER ABAELA RDS. Die Logica /11 gredie111ib
us. ln: B Geyer. Pe1er Abae-
lards Philosophische Schrif1e11.Beitrage, XXI, I. Münster i. W. , 1919, p. 1-32.
Uti lizaremos para as citaçõe em portuguê s a tradução realizada pelo Prof. Car-
los Anhur R. do Nascimento, sob o tíllllo Pedro Abelardo. Lógica para pri11ci-
pia111es . As refer ências de sse texto seguem esta configuração: L 1, página e li-
nha .
28
"( ... ) universale ita commune Boet hiu s dicit, ut eodem tempore idem totum sit
in diver sis". LI, J 1, J-2.
29
VIGNA UX. O pensar .... p. 185.
24 Coleçãofilosofia- 125
O problemados universais:a perspectivade lsoécio,Abelardoe Ockham
° FRAILE . Guillermo.
3
Historia de la Filosojfo . Madr id: B.A.C. , 1960. t. II, p.
353-354 .
31
MÜLLER, Paola. "Introdução" . ln: Guilherm e de Ockham: Lógica dos termos.
Porto Alegre : EDIPUCRS-Univ. São Franci sco, 1999, p. 46 .
32
SARANY ANA. op. cit., p. 144.
Coleçãol=iiosofia- 125 25
PedtoLeiteJunior
33
COPLESTO , op. ci r., p. 146.
34
Nosso objetivo, ao apontarmos alguma s áreas e alguns tipos de abordagem do
problema, é simples mente ilu trar a co mplexida de que a questão compo rta.
26 Coleçãof:ilo~ofia- 125
2
1
Não visamos, nesse estudo, realizar uma hiswriog rafia completa do problema
dos univer ais. Neste sentido, aprese ntamo em linhas gerais algumas concep-
ções em torno das quai s giro u o debate.
2
A expressão didcuicamente empregada. aqui, de modo proposital, carece de re-
g istro.
De mod o gera l, quando da aprese ntaç:'io das soluções propos tas para o problema
dos universais, essas são "nominadas··. As respos tas prop orcion adas pelos auto-
res encontram-se como que '·prenhes" da desinênc ia "-ismo", o que remete a
expressões do tipo: realismo. 1w11Ii11 alis1110,dictis1110
. vocalismo, co11cept11alis-
11w, etc. Tudo parece, assim, muito claro e devidamente catalogado. Entretanto,
uma questão que nos deixa inquieto ., é a eguinte: até que ponto, de fato, de-
terminado -ismo pode carac terizar verdadeiramente o posicionamento de deter-
minado autor? Pensamos, mesmo, que o próprio fato de utilizarmos certa no-
menclatura para caracterizar determinad o autor, é um tanto problemático. Ve-
jamos o caso típico. por exemp lo, de Pedro Abelardo. Seu pensamento, no que
respeita à questão dos universai s, recebe denominações diversas e, por vezes,
exc ludentes.
VIGN AUX (Nominalisme, col. 718) lemb ra que João de Salisbury refere-se à
doutrina de Abelardo co mo à seita cios nominalistas (110111i11alis sec ta). Ora , o
mesmo Vignaux, em seu artigo '·La problemá tique du nominali sme médiéva le
peut-elle éc lairer des probleme phi losophique ac tuels?" ln: Revue Philosophi-
que de Lo11vai11, 75, p. 293-33 l. 1977, incli na-se para uma opi nião proposta por
Nonnan Kretzmann no artigo "Medieva l log icians 0 11 the meaning of the propo-
sition ". ln : Jo11mal of Philosophy . LXVíl. p.767-787, 1970. segu ndo a qual
Abe lardo sustentar ia um dictismo (ou melhor o dictwn propositionis), isto é.
aquil o que diz a proposição. Outra denominação atribuída à doutrina de Abelar-
do é a de um realismo moderado, conforme Christian Wenin "La s ignificaii on
des uni versa ux chez Abélard."' ln : Revue Philosophique de Lo11vai11 , 80, p. 414-
448, 1982. Há, ainda, quem tome a posição de Abe lardo como um conceptua-
lismo, sob um determinado aspecto, e co mo um nominali smo , sob outro. É o
caso Guida Küng , em seu artigo "Abélard et les vues actuelles sur les univer-
saux." Abélard. Actes du Colloque de Neuchâtel , 16- 17 nov. ln : Cahiers de la
Revue de Théologie er Philosophie, p. 99- 118, 1981. Diante dessa div ers idade
28 Coleçãoi:-iloi:ofia
- 125
O ptobletnado~univet~ai~: a pmpectivade Boécio,Abelatdoe Ockharn
6
GOODMAN. Nelson . The Struct ure o.f appeara11ce. 3. éd. Dordrecht: Reide!.
1977 . p. 26.
7
JOLIYET. Jean. Arts du /angage et 1/iéo/ogie chez Abélard. Paris: Yrin , 1969. p.
89.
8
Para alguns autores (G ILSON , Etienne. A Filosofia na Idad e Média. Trad . Edu-
ardo Brandão. São Paul o: Martins Fontes. 1995 , p. 288), o eminente rep rese n-
tante da alternativa nomi nali sta é verdadeiramente Ro sce lino de Compiegne
( 1050-1120). Há quem considere o nom inali smo de Ro sce lino como radical e
extremo, como YALCKE, Lou is. ·'Jntroduction". l n: GUILLAUME D 'OC-
CAM. Co111111entaire sur /e livre eles prédicables de Porph y re . Québec: Centre
d'Étude s de la Renaissance . Univers ité de Sherbrooke, l97 8, p. 20, e, também,
de SANJUÁN, Anselmo, PUJADAS , Miguel. 'Trad ucción y orientación didác-
tica " . ln : PEDRO ABELARDO . Diálogo entr e u,1 filósofo, w1 judiá y wi crisri-
Coleçãof::ilo~ofia
- 125 29
uni versais, toma-os como jlatus voeis isto é, como meras emissões
da voz. Peculiannente é dita nolllina/ista a po tura que considera
os universais não mais do que o significado dos nomes, ou seja,
110111i1111111
signiflcatio. Há, ainda, uma posição considerada genui-
9
namente 110111i11a/ista, não sem discussão , qu e, ao negar qualquer
existência real do universal , toma-o como um conceito da alma en-
quanto é sinal - signo , nome ou termo - pelo qual designam-se os
vários indi víduos singulares que compõem a realidade. Em outras
palavras, universal é um sinal lingüístico mental , dotado da capaci-
dade de ser predicado de muitas coisas. Sob essa perspectiva, uni-
camente têm exi tência real os indivíduo singulares, pois os uni-
versais não são entid ades efetivamente existentes, mas ape nas ter-
mos da linguagem.
Entretanto, entre essas duas alternativas concorrente , há
uma terceira via para o problema. Poderíamos dizer que é um a
concepção híbrida, na medida em que me ela elementos tanto do
realismo quanto do nominalis1110.Essa posição é conhecida como
conceptualis1110e é assim definida por Ferrater Mora:
ano. Zaragoza: Ya lde, [s.d.], p. 53. Entretanto , LI BERA (A Filosofia ... 1998, p.
322) utiliza a expressão vocalis1110para designar a doutrina de Roscelino.
9
BOEHNER , Philotheus. 'The Realistic conceptualism of William Ockham" . ln:
Collecred Articl es 011Ockha111, .Y.: Franciscan lnstitute Publication s St. Bona-
venture, 1958. p. 156-174, considera a posição de Ockham como um co11ceptu-
alis1110realista.
'º FERRA TER MORA. José. Diccionario de Filosofía. Buenos Aires: Sudameri-
cana, 1975.
30 ColeçãoJ:ilo~ofia
- 125
3
1
SEVERINO BOÉCI0
1
Segundo in forma LIBER A (A ji losrifia ... , 1998. p. 250), Anício M.T . Severino
Boécio (480-524) nasceu em uma ilu stre família patrícia. Estudou filo sofia em
Atenas e. talvez, em A lexandria. Foi cônsul e depoi ministro de Teodorico.
Suspeito de conspiração em Constantin op la, foi preso e depois morto por ordem
do Rei . Conforme SARANY ANA (op. ci t., p. 79). Boécio tinha co mo obje ti vo
traduzir para o latim os escrit os de Platão e Aristóte les e as im mostrar , atravé
de uma síntese compreensível, que entre ambas as doutrin as havia um acordo
substancial.
2
BOEH ER, Phil otheus, GILSON. Eti enne. Histó ria da Filosofia Cristã. Trad .
Raimund o Vier. Petrópoli s: Voze , 1985, p. 209-2 1O.
3
U ma tradução do texto de Porfírio já havia sido produzida por M ário Vitorino
(t 380). Parece que, insati sfeito com a ver ão vitori ana, Boécio reali zou uma
nova tradução e comentou-a.
4
" Hi s igi tur terminatis omni s (ut arbitrar ) quaestio di ssluta est". BOÉC IO, PL 64,
85 D.
ColeçãoÍilosofia - 125 31
Pedto Leite Juniot
5
/d., ibid., PL 64. 82A - 86A.
6
!d., ibid., PL 64, 828.
7
"Ge nera et species aut sunt et sub i tunt , aut intellectu et so la cogi tatione for-
mantur, sed ge11era et species esse 11011possu111" . BOÉCIO. PL 64. 83A.
32 Coleçãol=iio~ofia
- 125
O ptobletnado~univet~ai~:a pet~pectiva
de lsoécio,Abelatdoe Ockhatn
" Porqu e se algum gê nero é uno e m núm ero, não pod erá se r
comum a muitos ( ...); o gênero, porém, não pode ser co -
mum à es péc ie se nenhum a desses modos, pois deve ser
co mum de tal modo que es tej a todo nos singulare s, e ao
mes mo te mpo, e que sej a ca paz de constituir e conform ar a
substância' 9 .
8
" Omn e enim quod commun e est uno tempere pluribu s, id in e unum esse non
poterit. Mult orum enim est quod commun e est, praesertim cum una atque eadem
res mul tis uno tempere tota sit ; quant:iecumque enim sunt species, in omnibu s
genus unum est, non quod de eo singulae species quasi partes ali quas carpant.
sed singulae uno tempere totum genus habeant: quo fit ut totum genus in pluri -
bus singuli s uno tempere positum unum esse 11 0 11possit ; negue eni m fi eri potest
ut cum in pluri bus totum uno sit sit tempere. in semetip so sit unum numero.
Quod si ita est, unum quidd am genus esse no11poterit . quo fit ut omnin o nihil
sit. Omn e e11imquod est, id circo est qui a unum est. et de specie idem convenit
di ci". BOÉC IO , PL 64, 83B .
9
" Quod si unum quoddam numero genus est, commun e mult orum esse 11 0 11pote-
rit ( ... ); Genus vero secundurn nullum horum modum co mmun e esse speciebus
potest: nam ita commun e esse debet, ut et totum sit in si11g uli s, et uno tempe-
re. et eorum quorum co mmune est co11 stit uere valeat et confo rmare substanti -
am'' . BO ÉCIO , PL 64, 83C-D .
Coleção J:ilo~ofia
- 125 33
PedtoLeiteJuniot
10
" Quod sit est quidem genus ac species, ed multiplex, neque unum numero, non
erit ultimum genus, sed habebit aliud super e positum genus, quod iliam multi-
plicitatem uniu s sui nomini s vocabulo concludat: ut enim plura animalia quoni-
am habent quiddam símile, tamen non sunt, et id circo eorum genera perquirunt,
ita quoque quoniam genu quod in pluribus e t, atque ideo multiplex, habet sui
simi litu dinem quod genus est, non est vero unum, quoniam in pluribus est, ejus
generis quoque genus aliud quaerendum est, cumque fuerit inventum eadem ra-
tione quae superius dieta est, rursus genus tertium vestigatur; itaque in infinitum
ratio procedat necesse est, cum nullus disciplinae terminus occurrat". BOÉCIO ,
PL 64, 83C.
34 Coleçãol=ilosofia
- 125
O ptobletnados univetsais:a petspectivade Boócio,Abelatdoe Ockhatn
11
"Quod si tantum inte llect ibus ge nera et pec ies cae teraque capiuntur, cum om-
nis inte llec tus aut ex re subjecta fiat , ut sese res habet, aut ut res sese 11011 hab et,
vanus est qui de nullo su bjecto capilur nam ex nullo su bjecto fier i intel lectu s
11011 potest. Si ge neris et speciei cae terorumqu e intellectu s ex re subjecta venial,
ita ut sese res ipsa hab et quae intelligitur, jam 11011 tantum intell ec tu po sita sunt,
sed in rerum etiam veritate con sistunt. Et rursus quae rendum est quae sit eorum
natura. quod supe rior quaestio vestigabat: quod si ex re quidem gene ris cae tero-
rumqu e sumitur intell ect us, negue ita ut sese res habet quae intellectus subjecta
est, vanum necesse est esse inte llectum , Qui ex re quidem sumitur , non tamen
ita ut sese re~ habet , id est enim fa lsum quod aliter atque res et intelligitur ".
BOÉCJO, PL 64 , 84 A.
12
BOÉCIO emprega indi stintam en te as expressões: ment e (mens), espírito (ani-
m11s)e intelect o (i ntellec 1us).
Coleçãoí=ilosofia- 125 35
PBdtoLBitB
Juniot
13
'"( ... ) nullus ignorat: ut si quis eq uum atque hominem jungat imaginatione, atque
eftig iet centaurum". BOÉCIO. PL 64, 84C.
14
"Sed animus cum confusas res permistasque corpo ribu s in se a sensibus cepit.
eas propria vi et cog itati one distinguit. ( ... ) cui potes tas est et disjuncta compo-
36 ColBçãoJ:ilo~ofia- 125
O ptoblernadoi: univGti:aii::a peti:pectivade Boécio, Abelatdo e Ockharn
nere et co mp os ita di ssolve re, quae a sens ibu s co nfu sa et co rporib us conj unc ta
traduntur, ita distinguit ul in incorpoream nalllram per se ac sine co rp orib us in
quibus es t concreta, et speculetur et videat". BOÉCIO, PL 64, 84D.
15
"( . .. ) nihiqu e aliu d species esse pu tand a e st, nisi cog itat io col lecta ex indi viduo-
rum di ss imilium num ero substantia li similitudin e, ge nu s vero cog itatio co llec ta
ex specierurn simil itudin e . Sed haec similitud e c um in si ngul aribu s est, fit se n-
sibi lis; cum in univ e rsa libu s, fit inte lligibi lis; eode mqu e modo c um se nsibili s
es t, in sing ul aribu s permane t, cu m inte llig itur , fit universalis . S usis lllnt ergo c ir-
ca se nsib ili a. inte lligun tur a utem praeter corpora( ...)". BOÉCIO, PL 64, 85C.
Coleçãol=iloi:ofia
- 125 37
PedroLeiteJunior
16
" ( •.• ) genera et species sub si tunt quidem alio modo, intelliguntur vero a lio
modo, et sunl incorporalia. sed sensibilibus juncta subsi stuinl in sensib ilibus.
lntelliguntur vera praeter corpora , ut per semetip a susistentia, ac non in aliis
e se suum habentia". BOÉCIO . PL 64. 85D - 86A.
38 Coleçãor::ilo
sofia- 125
O ptoblernados univmais: a petspectivade Boécio, Abelatdoe Ockharn
17
"Plato genera et species caeteraque non modo intlligi universalia, verum etiam
esse atque propter corpora subsistere putat: Ari loteies vero intelligi quidem in-
corpora lia atque universalia, sed subsistere in sen. ibilibus putat, quorum dijudi-
care sententias aptum esse 11011 duxi. Altioris enim est philosophiae. id circo
vero studiosius Aristotelis sententiam exsec uti sumus, non quod ea m maxime
probaremu s, sed quod hic liber ad praedicamenta conscriptus est, quorum Aris-
toteles auctor est". BOÉC IO. PL 64, 86A.
18
SARANY ANA, op. cir., p. 82.
19
ANÍClO M.T.S. BOÉCIO . A Conso la ção da Fi/ oso_fia. Trad. William Li e Pref.
Marc Fumarnli. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 147.
20
G ILSON, op. cit., p. 166.
21
"Está assentado Boécio. estupefato a respeito desta discussão/ ouvindo o que
este e aquele/ e que não discerne correwm ente a quem favorece. afirma com
propriedade/ nem pretende solucionar definitivamente a discussão" .
PEDRO ABELARDO 1
1
Não é de nos o intere sse, neste estudo. rea lizar uma historiografia do tipo "v ida
e obra de Pedro Abelardo", mesmo porque. confo rme BOEHNER, G!LSON
(op. cir.. p. 295): "A obra de Abelardo é in eparáve l de sua vida" . Existem inú-
meras obras que retratam a vida e o pensamen to de Abelardo, e e le próprio redi-
giu uma autobiogra fia denominada Historia cala111i talllm mean1111(História das
min has ca lamid ades), onde descreve os fatos mais marcames de sua vida.
2
NASCrME TO , /11trod11ção .... p . 33.
3
LIBERA, A.filosofia ..., 1998. p. 307.
4
MASSON, Fran ço ise. "Abé lard" . Jn: Dictio1111 aire eles philosoph es. HUISMAN ,
Denis (org.). 2. ed . Paris: Presses Universitaires de France, 1993, v. 1, p. 11.
5
ESTEVÃO, José C. A Ética de Abelardo e o /11divíd uo. Dissertação de Mestra-
do. São Paulo: PUC , 1990 , p. l O1.
~ofia- 125
ColBção l=iio 4]
PedtoLeit1duniot
6
PEDRO ABELARDO. História das minhas cala111idad es. ln: Coleçcio Os pen-
sadores. Trad. Ruy A. da Costa Nunes. São Paulo: Abril Cultural, 1973, v. VU,
p. 250.
7
JOÃO DE SALISBURY. Metalogicon. In: Patrolo gia Latina, CXCIX. Pari s:
Migne, 1885, col. 823 - 946.
8
Abelardo (1079 - 1142 ) nasceu em Bourg du Paliei, na Bretanha, próximo a
Nantes. Advêm do se u loca l de nasc iment o exp ressões como Peripat ético Pa/a-
1i110ou simpl esmen te Pa/mi1111s.
9
"( ... ) Peripateticos autem dialecticos seu quoslibet arg um entatores appellat". LI,
8,41.
JO FUMAGALLI, Mar ia Teresa, PARODI, Massimo. S1oria della Filosofia Medi-
eva fe. Bari: Editori Laterza, l 998 . p. 168.
11
MASSON, op. cit., p. LO.
42 Coleçãol=ilo~ofi:i
- 125
O pwblernados univetsais:a petspectiva de lsoécio, Abelatdoe Ockharn
12
O estudo da Dialética , no sistema educativo medieval ,
adquiriu pleno destaque frente às demais áreas de pesquisa . Tor-
nou-se um domínio do saber que asseg urava ao homem, de um
modo racional , a po ssi bilidad e de di sce rnir o disc urso ve rdadeiro
do fa lso. Sua importân cia ficava manif esta, na med ida em qu e era
utilizad a na interpret ação de tex tos , prin cipalmente os da Escritura .
A Dial ética era empregada para um a análi se racional de probl emas ,
inclu sive os do âmbito da Teo log ia. Ora, um certo racionalismo
propo sto pela Dia lética gero u uma reação, por parte da Teolo gia,
remetendo a uma polêmica entre di aléticos e antidialéticos. Os di-
alético s pod em ser representados por Berengá rio de Tours (t l 088)
e Anselmo de Besata (tl0S0 ), enqu anto São Pedro Damião (1007-
1072) aparece como o gra nde antidi alético. Não podemos deixar de
referir , ainda que sucintamente, a intervenção de Santo An se lmo
(l 033 - 1109 ) como mediador nessa co ntrovér sia. Segundo Sa-
ranyana 13, Santo Anse lmo ass umiu um a posição de equilíbrio na
di scussão entre dial éticos e antidi aléticos. Frente aos prim eiros,
afirma a prim azia absoluta da fé; contra os seg undo s, sustenta a
razão como meio para co mpree nsão da fé . A bu sca da verdade
deve consistir em prim eiro crer nos misté rios da fé antes de disc utí-
los pela razão; dep ois esforça r-se pe la razão por compreender
aqui lo em qu e se crê. Não dar prec edênci a à fé, como faze m os di-
alét icos é pres unção ; não ape lar em seg uid a para a razão, como os
antidi alético s, é neg ligê ncia. Sobr e a Dialética refere Weinber g:
12
Ver em LÉRTORA MENDOZA, Ce lina A. ·'Dial ética medie va l ou a arte de
discutir científica mente' '. ln : MONGELU , Lênia M. (org.). Tri vium e Quadri-
: As arte s liberais na Idade Média . Co tia: fbis, 1999 , p. 113- 158.
vi111n
13
SARANYANA , op. cit., p. 123-124.
14
WE INBERG . Juliu s. Br ei·e his1o ria de la Filosofia Medi eva l. Madrid : Cá tedra.
1987, p.67.
Coleção~ilosofia- 125 43
Pedw leite Juniot
15
FUMAGALLI , PARODI , op. cil., p. 169.
16
MÜLLER, op. cil., p. l l .
17
BOCHENSKI, Inocêncio M. His1oria de la Lógica Formal. Madrid: Gredos,
1966, p. 21.
18
LIBERA. A filosofia ..., 1998, p. 385.
44 ColeçãoÍilosofia- 125
O pwblerna dos universais: a perspectivade lso~cio,Abelardo e Ockharn
19 ••
MULLER, op. cit., p. 12.
20
[d., ibid.
21
WEN IN, op.cit., p. 414.
"Para ele, o termo ' homem' não designa nenhum a rea lidade
que seja, em qua lquer gra u, a da espécie humana. Como to-
dos os outros unive rsais, este co rrespond e apenas a dua s re-
alidades concretas, nenhuma das qu ais é a da espéc ie. Por
um lado , há a realidade física do próprio termo, isto é, da
palavra ' homem ' tomada co mo flatus voe is, ou emissão de
voz; por outro, há os indi víduos humanos que essas pala-
22
GILSON , op.cil., p. 344.
46 Coleção l=iiosofia
- 125
vras têm por função significar. E não há nada mais que se
encontre por trás dos termos que utilizamos" 23.
23
/d ., p. 289.
24
"E t quoniam genera et species universalia esse constat, ( ... ) utrum hae so lis vo-
cibus seu etiam reb us (conve niant), perquiramu s". LI , 9, 13-17.
25
Segundo FERRATER MORA (op . cit., p. 634-635), semântica é o estudo que
trata das significações das palavras.
26
Apresentaremos a posição de Abe lardo expressa em sua obra Logica !11gredi-
e11tibus.
Coleção l=ilosofia
- 125 47
PedtoLeiteJuniot
"( ...) aquela a respe ito de qual seja a causa comum da im-
posição dos nomes universa is, quer dizer , aquela de acordo
com a qual coisas div ersas se reúnem; ou ainda aquela a
respeito da intelecção dos nomes univ ersais pe la qual ne-
nhuma coisa parece ser concebida, nem parece que, pela
palavra univer sa l, se trate de alguma coisa; e muita s outras
difíceis" 28 .
48 ColeçãorHosofia. 125
O ptoblernados univetsais: a petspectivade Bo~cio,Abelatdo e Ockharn
29
'"( ... ) cilicet utrum et genera et species, quamdiu genera et species sunt, necesse
sit subiectam per nominationem rem ali quam habere an ipsis quoque nominatis
rebu Je tructis ex significatione inte ll ectus tunc quoque possit universale con-
sistere, ut hoc nomen ·rosa', quando null a est ro arum quibus comm une sit". L
I, 8, 18-22.
"( ...) dizer que todo o ser real é individu al quer dizer im-
plesmente que todo o ser rea l é determinado, isto é, que é
idêntico a si mes mo; ( ... ) trata-se do princípio primeiro da
31
onto logia: o princípio da identidade " .
30
BERTELLONI , C.F. "Par s de truen s. Las críticas de Abelardo ai Rea lismo en
la 1° parte de la Logi ca fngredientibu s". ln : Patri stica e/ Mediaeva /ia . Bueno s
Aires ,YII , 1986, p. 55.
31
VANNJ ROYIGHJ , op. cit., p. 2 1-22.
32
.. ( ... ) quaerendu m est , qualiter rebus detinitio univer sa lis poss it aptari ". L l.
10,8-9.
33
BERTELLONI. Pars destruens ... , p. 55.
50 Coleção f:ilo~ofia
- 125
O ptoblerna dos univetsais: a petspectivade lsoécio, Abelatdoe Ockharn
34
VANNT ROYIGHJ, op. cit., p. 22.
35
Desc reve mos de modo ba tan te ge ral, q uase panorâmico, as críticas de Abelar-
do, visto que nosso intere se está voltado mai s para a parte const rutiva , na qu al
encontra-se a so lução para o prob lema.
36
"Qu omodo ergo vel rem unam ve l co llec tionem uni versa le appe llant, audia -
mus atque omne o mni um op iniones ponamus ". LI. 10, 15-16.
37
Em ua obra História das minh as calamidades , p. 25 1, Abelardo cita Guilh erme
de Champea11x co mo defe nso r de ta teoria. Já na Lógica para principiantes, p.
46 , atribui essa teoria a "alg uns".
38
PEDRO ABELARDO. História das minh as ... , p. 25 l .
39
LIB ERA. A filosofia ... , 1998, p. 322.
Coleção J:°ilosofi
a - 125 51
se esses indivíduos fossem desprovidos de seus acidentes, perma -
neceria ainda uma substância essencialmente a mesma (eadem es-
sentialiter materia) a ambos.
Contra essa doutrina Abelardo levanta quatro argumentos 40
os quais visam mostrar:
i) que ela nega a oposição dos contrários ·
ii) que nega a diversidade dos eres;
iii) que nega a multiplicidade das coisas, e
iv) que desconhece as noções de substância primeira,
substância segunda e acidente.
Apresentamos, resumidamente , o primeiro desses argu-
mentos. Conforme anota Bertolloni 41 , Abelardo apela à autoridade
da física para sustentar sua objeção. Ora, física é entendida aqui
como filosofia natural, cujo âmbito é a natureza das coisas (natura
rerum). A teoria da essência material mostra que, se dois indivídu-
os distintos , por exemplo , Pedro e um cão, tivessem uma e mesma
essência, animal, então e sa essência conteria em si formas contrá-
rias - racional e irracional -, negando assim a oposição dos contrá-
rios. Explica-nos Abelardo:
40
LI, 11, 10-13, 17.
41
BERTELLONI. Pars destm ens ... , p. 58.
42
" Cui etsi auctoritates consentire plurimum videantur, physica modis omnibus
52 Coleçãoí=ilo~ofia
- 125
O ptoblernados univetsais: a petspectiva de Boécio,Abelatdoe Ockharn
43
'·( ... ) penitus sen tentiam ratione care re qua dicitur eandem penitus essentiam in
diversis sim ul consistere " . L J, 13, 16- 17.
44
GlLSON (op. ci r., p. 346) observa qu e Guilherme de Champeaux teria assumi-
do esta posição, após Abelardo ter refutad o a teoria da essência material.
45
"U nde alii aliter de uni ve rsa litate se ntie11tes mag isque ad se 11tentiam rei acce-
dentes dicunt res singulas 110n so lum formis ab invicem esse diversas, ve rum
per so 11a liter in suis essentiis esse discretas( ... ) quod huius 110nest illius esse ntia.
( ... ) univer sa le tamen rerum adhuc retin entes idem 11011essentialiter quidem, sed
indifferenter ea quae discre ta sunt , appe llam , veluti singulos homines i11se ipsis
discret os idem esse in ho mine dicu11t, id es t 11011 differre in natura humanitati s".
LI, 13.18 - 14,4.
- 125
Coleçãor:;1osofia 53
PedtoLeiteJuniot
diferente s. Por exe mplo : Pedro e Manuel diferem tanto por suas es-
sências quanto por seus acide ntes; todavia, são indiferentes (não-
diferente s) no ser homem.
Essa concepção, mais moderada que a teor ia da essê ncia
material, ainda mantém a noção da exis tência de uma res univer sal,
expressa pela não-diferença entre os homens, ou seja, no "ser ho-
mem". Ora , os me mos indivíduos são designado s universai s,
quando se atenta para sua não-diferença e semelhança, e singula-
res, se, ao conb·ário, é conside rada sua distinção. Diz Abel ardo :
46
" Eosdem qu os singulares dicunt ec undum discretionem, uni ve rsa les dicunt se-
cundum ind ifferent iam et simil itudini s convenientiam". LI , 14,4-6 .
47
GILSON (op. cir., p. 359) vincu la essa concepção à Josceli no de Soisso ns (t
l 151).
48
"Q ui Socratem et Plat onem per se null o modo spec iem voca nt, sed om nes ho-
mines sim ul co llectos speciem iliam quae est homo dicunt et om nia animalia
simul accepta ge nu s illud quod es r animal , et ita de ce teri s". L 1, 14,8- 11.
54 Coleçãol=ilo~ofia
- 125
O ptoblernados univetsais:a petspectivade Boécio, Abelatdo e Ockharn
49
Abelardo rebate tal doutrina por meio de seis objeções
qu e, conforme Vignaux, "(. ..) visam mostrar que a sentença da
co llectione desco nhece a definição de ttniversal" 50.
O equívoco dessa op inião con isti ria basicamente em não
51
ate ntar para a distinção, de cunh o aristoté lico , entre o todo inte-
gra l e o todo univer sa l. A característica da comunidade do uni ver-
sal é a de estar todo inteirame nte em cada um do s indivíduo s (todo
universal) , o que não é oca o da com un idade de coleção (todo in-
tegral). Os defensores dessa teoria tomam o uni versal, ind evida-
mente, como um todo integra l. Sobre esse ponto acrescenta Nasci-
mento:
49
L I, 14,32- 15,22.
50
VlGNAUX. No111i11alis111e ..., col. 722.
51
Aristóteles na Me1afísica, V, 26, 1023 b 26s, estabelece a distinção entre todo
universal e todo integral. Quanto ao primeiro diz o Estagirita: "( ...) o que se
pode predicar de uma classe inteira( ...) pode predica r-se de um todo, no sent ido
de conter muita s coisas por ser pred icado de cada uma e de todas; po r exemp lo.
homem, cava lo, deus, que são cada um uma coisa só, porque todos são viven-
tes". O seg undo é definid o deste modo: ''( ...) quando repre senta uma unidad e
formada de várias partes''. A caracte rística do todo univer ai é poder ser predi-
cado de todas e cada uma das partes que contém em si. Vivente, por exemplo,
contém em si o homem, o cava lo, o asno, etc . É possível. então. afir marm os de
cada um e de todos que são vive ntes. O todo universal está todo inteira mente em
cada parte . Por outro lado, o todo integral é a reunião de muitas panes, tal que
dessas partes não é possíve l predicarmo s este todo. Assim. uma ca a é um todo
integral formado pelo telhado, parede, jane la, etc. Mas, ele cada uma dessas
partes não podemos predica r o todo. isto é. não podemos dizer que o telhado , a
parede ou a janela sejam a casa .
52
NASCIME TO . huroduçcio.... p. 22 .
Coleção l=ilosofia
- 125 55
Em suma, é preciso não confundir a relação todo-parte com
a relação universal-singular. O universal é afirmado de cada indi-
víduo de que é predicado , enquanto o mesmo não pode ser dito de
uma coleção, isto é, esta não pode ser predicada de cada um dos
elementos que a compõem.
A doutrina da conveniência é exposta por Abelardo nestes
termos:
53
"Quippe omnes homines et in se multi sunt per personalem discretionem et
unum per humanitatis similitudinem et iidem a se ipsis diversi quantum ad dis -
cretionem et ad similitudinem iuducantur, ut Socrates in eo quod est homo, a se
ipso in eo quod Socrates est , dividitur". LI , 14,24-28 .
54
LI, 15,23-16 ,9.
55
VIGNAUX. Nominalisme ..., col. 722-723.
56 ColeçãoÍilo~ofia- 125
O pt0bletna dos univetsais: a petspectiva de Boécio, Abelatdo e Ockhatn
56
"Sunt au te m qui, in homine conve nire nega tive acc ipiun t, ac si d ice retur : Non
diff ert Socrates a Platone in hom ine. Sed et quoque potest dici, qui a nec diff ert
ab eo in lapid e, cum neuter sit lapi s. Et sic non maio r eo rum co nve nientia nota-
tur in hom ine quam in lapi de" . L I, 16,9- l 3.
57
B ERTELLONI. Pa rs destruellS ... , p. 63.
58
" une autem oste nsis rationib us quibus neque res singillati m neque co llec tim
accep tae universales dici poss unt in eo quod de pluribu praedicantur, res tat ut
huiu smodi uni versa litatem so l is vocibus adsc rib amus". L 1. 16, 19-22 .
59
FUMAGALLI , PARODI. op. cit .. p. 170.
60
Conforme Estevão (op. ci r., p. l 20), Abelardo. em sua obra Logica No stror11111,
ao introduzir a di stin ção entre vox (o so m no eu se ntid o acús tico - jla111s voeis)
58 Coleçãol=iiosofia
- 125
O ptoblernados 1.mivetsais:
a petspectivade Boifoio,Abelatdo e Ockharn
Coleçãol=ilosofia- 125 59
PedtoLeiteJuniot
i)
O primeiro é que um universal pode ser um nome; to-
davia, nem todos os nomes (como os nomes apelati-
vos e próprios) são unjversais. Isso pode ser verifica-
do em razão de o universal ser definido por sua predi-
cabi lidad e. Ora, os nomes apelativos e próprios com-
portam, tanto os casos retos (por exemplo, o nomina-
tivo), como os casos oblíquos (por exemplo, o geniti-
vo), que não podem ser tomados como predicados e,
nesse sentido, são excluídos da definição de universal .
Universal, portanto, pode ser colocado entre os no-
mes, porém não é equiva lente aos nomes apelat ivo s
ou próprios .
ii) O seg undo ponto destaca que nem todos os universais
reduzem-se aos nomes , visto que os verbos são passí-
veis de serem incluídos entre os universais. Os verbos
não estão contidos na definição dos nomes (antes, são
chamados 'cas os dos nomes·)64, mas podem atuar
como universal (predicado) em frases predicativas.
Por exemplo: na frase "Pedro anda", o verbo "anda"
pode ser entendido sob a forma predicativa do tipo
"Pedro é andante".
A seguir, Abelardo retoma a definição de universal (refor-
mulando-a com algumas "part icularid ades"), contrapondo-a à defi-
nição de singular. Escreve ele:
64
LI , 17,38.
65
"Es t autem universale vocabulum quod de pluribus singillatim habile est ex in-
ventione sua praedicari, ut hoc nomen ' homo', quod particularibus nominibus
hominum coniungibi le est sec undum subiectarum rerum naturam quibus est im-
60 Coleçãol=ilosofüi
- 125
O problemados universais:a perspectivade Boécio,Abelardoe Ockharn
positu m. Singulare vero est quod de uno solo praedicabile est. ut Socrates, cum
unius tantum nomen accipitur". L 1. 16,25-30.
66
BERTELLO I. Pars co11s1rue11s .... p. 43-44.
ColeçãoJ:ilosofía- 125 61
PedtoLeiteJuniot
67
!d., p. 46.
68 -
ESTEV AO , op. cit., p. l 13.
69
ESTE V ÃO, José C. "Sobre o diclllm proposirio11isem Abelardo e alguma
questões de abordagem". ln : L6gica e Linguagem 11aIdade Média. Org. Luis A.
De Boni . Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995, p. 69-75.
70
"( ... ) quantum quidem ad manifestandum intellectum , non quantum ad osten-
dendum rei tatÚm. Coniunctio itaque con tructioni s totien s bona es t, (quotiens)
perfectam demonstrat sentenciam, sive ita sit sive non ". L J, 17,16-I9.
62 ColeçãoJ:ilosofia - 125
O ptoblema dos unívetsaís:a petspBctíva
de Boiicío, Abelatc/oe Ockham
71
"Praedicationi s vero coniunctio quam hic accipimus, ad rerum naturam perti net
et ad veritatem sta tus earum demo nstrandam " . L 1,17, 19-2 l.
Coleçiio~ílosofía - 125 63
PedtoLeiteJuniot
72
"Cuiu tantum vim praedication is hic attendimus, dum universale definimus" .
L l.17,27-28.
73
"( ... ) voces quoque universale esse convincitur, quibus tantum praed icatos ter-
minos propositionum esse adscrib itur". L 1.10.6-7.
74
"( ... ) autem universalis quam singularis definitione vocibus assignata praecip ue
univer alium vocum proprietatem diligenter perquiramus''. L 1, 18,4-6.
75
"( .. . ) significare autem vel 111011 trare vocum e t, significari vero rerum" . L
1, 10,1-2.
64 ColeçãoJ:iioso
fia - 125
O pwblernado~univet~ais:a petspectiva delsoécio, Abelatdoe Ockharn
76
" De quibus universalibus positae fuerant guaestiones, guia max ime de earum
signifi cati one dubita tur , cum negue rem subiectam ali guam videantur habere
nec de alig uo intell ectum sanum constitu ere". L ! , 18,6-9.
77
WENlN , op. cit., p. 422.
7
BERTELLO I. Pars co11s1me11s ... . p. 49.
79 '
BOEC!O , PL. 64, 84 A-C.
" Desse modo , parece que tanto homem como qualquer ou-
tro vocábulo univer sa l não signific a coisa nenhum a, uma
80
" ( ... ) audita inte lligentia audie nti s multi s, inqui1, raptatur fluctibus erro ribusque
trad ucitur " . L f, 18, 19-20.
66 Coleçãol=ilosofia
- 125
O ptoblernados univetsais:a petspectivade Boécio,Abelatdoe Ockharn
Coleçãof:ilosofia- 125 67
PedtoLeiteJuniot
81 ' .
· AR ISTOTELES. Caregon as... , 5.
68 Coleçãol=ilosofia
- 125
O ptobletn:idos univets:iis:a petspectivade Boécio, Abel:itdoe Ockh:itn
84
'"Singulis hominis discreti ab invicem, cum in propriis differant tam essentiis
quam formis, ut supra meminimus rei physicam inquirentes, in eo tamen conve-
niunt, quod homines sunl. Non dico in homine, cum res nulla sit homo nisi dis-
creta, sed in esse hominem. Es e autern hominern non est homo nec res aliqua
(...)". L T, 19,20-26.
85
"( ... ) cum scilicet hunc et illum in statu horninis, id est in eo quod unt homines,
convenire dicimus. Sed nihil aliud sentimus. nisi eos homines esse, et secundum
hoc nullatenus differre, secundum hoc, inquam. quod homines sunt, licet ad
nullam vocemus essentiam". L 1. 20,3-6.
Coleçiiof:ilosofia- 125 69
PedtoLeiteJuniot
86
"Statum autem homini ipsum e se homin em. quod non est res, vocamus, quod
etiam diximus co mmunem causam imp osit ioni s nominis ad singulos, secundum
quod ipsi ad invice m conveniunt". LI , 20,7-9.
87
VlGNAUX. No111inalis111e ... , col. 728.
70 Coleçãol=ilo~ofia
- 125
de lso~cio,Abelardo B Ockharn
O problemado~univer~ai~:a p2r~p2ctiva
"( ... ) assim como a sensação não é a coisa sentida, para qual
se dirige, assim também a intelecção não é a forma da co isa
que ela concebe, mas a intelecção é uma certa ação da alma,
pela qual é chamada de inteligente, e a forma para a qual se
dirige é uma certa coisa imaginária e fictícia , que o espír ito
elabora para si quando quer e corno quer , como são aquelas
cidades imaginárias vistas durante o sono ou co rno aque la
forma de um edifício a ser construí do ( ...)" 88 .
88
"( ... ) autem sensus non est res sentita, in quam dirig itur , sic nec intel lectus for-
ma est rei quam concipit , sed intellectu s actio quaedam est animae, unde inte-
lli gens dicitur, forma vero in quam dirigitur , res imaginaria quaedam est et fict a,
quam sibi, quando vult et qualem vult , animus confiei! , quales sunt i llae imagi-
nariae civitates quae in s011111 0 v identur vel forma i lia componendae fabricae
( ...)". LI, 20,28-34.
ColeçãoJ:ilo~ofia- 125 71
PedtoLeiteJuniot
9
ESTEVÃO. Sobre o dic111111 ..., op. cir., 1995, p. 71.
90
"( ... ) universalis nomini s est , communem et co nfusam imaginem multorum
concipit, ille vero quem vox singulari s generat, propriam unius et quas singula-
rem formam tenet, hoc est ad unam tantum per onam se habentem" . L 1, 21,29-
32.
72 ColeçãoÍilosofía- 125
O ptoblemados univetsais:a petspectivade Boiício,Abelatdoe Ockham
"( ...) quer endo asseg urar aos universais uma dup la signifi-
cação, real e intelectual , que convé m às palavras, descobr e-
se uma terceira: ( ...) entendo um nome: penso a coisa; tenho
o mesmo pensamento que aquele que fala; concebo a ima-
gem [forma] da coisa; o nome significa a coisa , a intelecção
·
e a imagem .... ,92
91
"lndu ctis autem auctoritatibus, quae astruere videntur per universa lia nomina
co ncepta comm unes formas designari , ratio quoque con se ntir e vide tur . Quippe
eas concipere per nomina quid aliud est, quam per ea significari ? Sed profecto
cum eas ab intellectibu s div ersas facimus, iam praeter rem et intellectum tertia
exi it nominum sig nificatio". LI. 24,25-30.
92
YIGNAUX. Nominalism e ... , col. 730.4.
93
''( ... ) propter commu nem ca usam impositionis vel propt er commu nem concepti-
onem vel propter utramque comm unita s univer sa lium nominum iudicetur , as-
sig nemu s. Nihil autem obest. si propter utramque , sed maiorem vim obtinere
communis cau a quae ecundum rerum accipitur naturam". L l. 24,32-37.
ColeçãoJ:ilosofia- 125 73
PedtoLeite Junior
94
L l, 24,38-41.
95
"Sciendum itaque mat eriam et for mam permixta simul se mper co nsistere, animi
tamen ratio hanc vim habet, ut modo materiam per se speculetur , modo formam
so lam attendat , modo utr aque permixta co ncipiat. Duo vero primi per abs trac ti-
onem sunt, qui de co niun ct is aliq uid abstrah unt , ut ipsam ei us natur am co nside-
rent ". LI, 25,1-6.
% " Huiu smodi au tem intellectus per abstractionem inde forsitan falsi vel van i vi-
debantur, qu od rem aliter quam subsis tit, percipiant ". LI, 25 , 15- 16.
"E quando digo que atento para ela apenas enquanto ela
possui este algo, aquele 'apenas' refere- se à atenção, não ao
modo de subsistir, pois , de outra sorte, a intelecção seria
vazia" 98 .
97
BOEHNER, GlLSON (op. cit .. p . 304) e VIGNAUX (Nominalis me ... , col. 730)
apre se ntam o cará ter próprio da abstração em Abelardo. Em linha s gera is, a
abstração em Abe lardo é diferente da abs tração em Aristóteles e S. Tomá s. Se-
gund o Vignaux, a abstração tomista é "a 1ra11 smutação do sensíve l em inteligí-
vel"'. Trata-se de liberar uma forma de sua mat éria. Em Abe lardo, porém, trata-
se de co nsiderar de diferentes modos as coisas e sua s im age ns. A abstração é di-
rigir a ate nção, é di scernir.
98
"E t cum dico me atte11dere ta11tum eam i11eo quod hoc habet. illud tantum ad
atte11tio 11em refertur, 11011ad modum subs iste11di, alioqui11 cassus esse t intellec-
tus". LI, 25,26-28 .
99
"( ... ) ad i11t
ellige ntiam , 11011ad sub siste11tiam rei ( ... )"; "( ...) ut sint scilicet mo-
dus intelli ge ndi , non subsistendi". LI. 25,35-37.
ColeçãoJ:'ilosofia
- 125 75
PedwLeiteJunior
'·( ...) quando ouço ' homem' ou ' brancura' ou ' branco', não
me lembro, por força do nome, de todas as naturezas ou
propriedades que estão nas coi as subordin adas, mas por
meio de 'home m' tenho apenas a concepção [conceito] ,
embora confusa, não-di stint a, de animal e racional mortal ,
não porém dos demais acidentes. ( ...) as intelecções dos
singulares também se fazem por abstração; ( ...) por meio de
'este homem' atento para natureza do homem, mas referida
a um certo sujeito, enquanto por meio de ' homem' atento
para aquela me ma natureza implesmente em si mesma,
100
não referid a a qualquer dos homens" •
100
"( •• • ) cum audio ' hom o ' ve l 'a lbedo' ve l 'al bum', non omni um naturarum vel
proprietatum, quae in rebus subiectis sunt , ex vi nominis recordar, sed tantum
per ' homo' an imalis et rationaJis mo1talis, non etiam posterio rum accidentium
conceptionem habeo, confu sa m ta men non discretam. ( ...) intellectus singula-
rium per abstract io nem fiunt ; ( ...) per 'hic homo' naturam tantum homini s, sed
circa certum subiectum attendo, per ' homo' vera iliam eadem simpli c iter qui-
dem in se . non circa aliqu em de hominibus ". LI , 27,20-29 .
Coleçãoí=ilosofia
- 125 77
PedroLeiteJunior
IDJ "Video quod existentium alia dicuntur co rporalia , alia incorporalia , quae ho-
rum dicemu s esse ea quae ab universalibu s significantur ? Cu i res pond etur: cor-
poralia quodammodo, id est di sc reta in essentia sua et incorporalia quantum ad
univer sa lis nominis notationem , quod sc ilicet ea non discrete ac cleterminate
nominant, sed confuse ; ( ...) nomina ipsa univer sa lia et corporea dicuntur quan-
tum ad naturam rerum, et incorporea quantum ad modum significationis, quia
ets i quae discreta sunt, nominent, non tamen discrete et determi nate". L 1,
28,38-29,7.
104
"Et clicuntur universalia subsistere in sensibilibus, id est significare intrinse-
ca m substantiam existentem in re se nsibili ; ( ... ) restabat quaestio , utrum ipsa
sensibilia tantum appellarent an etiam aliqu id aliud significarent; cui responde-
tur quod et sensibi lia ipsa significam et simul communem iliam co nceptionem
quam Pricianus divinae menti praecipue ". L 1, 29, 11-38.
ColeçãoÍilosofia- 125 79
PedtoLeiteJuniot
105
Este texto de Abe lardo inspirou Umberto Eco o títul o de seu conhecido roman-
ce O nome da rosa, cuja última frase é: "( ...) stat rosa pristi11anomine, 1w111i11a
1111da te11em11s";[(...) da rosa antiga só permanece o nome, o que temos são no-
mes nus".] . ECO, Umberto. O nome da rosa. Tr ad. de Aurora F. Bernardini e
Homero F. de Andrade. Rio de Janeiro: ova Fronteira, 1983, p. 562.
106
'"( ••• ) haec est olutio quod univ ersali a nomina nullo modo volumu s e e, cum
rebus eorum perempti s iam de pluribu s praedicabi li a 110 11 sint. quipp e nec nulli s
rebus communia, ut rosae nomen i am permanentibu s rosis, quod tamen tunc
quoque ex intellectu significativum est, li cet nominati one careat, ali oquin pro-
positi o non esset null a rosa est"'. L I , 29,40-30,5.
80 Coleçãol=ilo~ofia
- 125
O ptoblema dos univetsais: a petspectiva de Boécio,Abelatdo e Ockham
107
"Notandum vero, quod licet solas voces definitio universalis ( ...) includat, sae-
pe tamen haec nomina ad res eoru m transferuntur ( ...). Unde maxime tractatus
tam logicae quam gramm aticae ex translationibus nominum ambiguus muit os in
errorem ( ...)".LI, 30,17-24.
GUILHERME DE OCKHAM
1
Não há indicação exata da data do nascimento de Gui lherme de Ockham. Esti-
ma-se que tenha nascido por volta de 1280, na vila hom ô nima de Ockham , no
Condado de Surrey a vinte milhas de Londr es . O primeiro registro ce110 sob re
Ock ham data de 26 de fevereiro de 1306, dia e m que foi ordenado subdi ácono
na Igreja de St. Mary em Southwark , na dio cese de Winche ster . Ockham inicio u
seus estudos no conve nto Franci cano de Oxford em 1307, e, como determinava
o regulamento vigente, por oito anos se dedicou aos estudos teológicos, par a de-
pois passar a comentar as Sentenças de Pedro Lombardo, por mai s quatro anos.
Em 1318, Ockham obteve o título de Bacca/a11r eus Sententiarwn isto é, bacha-
rel apto a comentar as Se111e11ças . Gu ilherme chegou a Baccalaureus Fonnatus
na Universidade de Oxford . Nunca chegou a Magister, como deixa supor o tí-
tulo de Venerabilis lnceptor a ele tradicionalmente atr ibuíd o, ao que parece , em
parte por motivos doutrinário e em parte pela opo ição do chanceler de univer-
sida de, João Lullerell. Entre l 3 l 7- 1320, Ockham comentou as Sentenças, tendo
dado a redação final ao primeiro dos quatro livro s, ou seja, o Comentário ao
Primeiro Livro das Sentenças de Pedro Lombardo. destinado à pub licação , por
isso chamado Ordinatio. Em 1324, Guilherme tran feriu- e para o Convento
Franciscano de A vig non, onde residia o Papa João XXU, para responder , pe-
rante uma comissão de teólogo , nomeada pelo Papa, às acusações de here sia
movidas por João Lutterell. Ockham permaneceu e m Avignon de 1324 a 1328.
É desse período a obra S111n111a Logicae. Nesse tempo, ainda, foi convocado por
Miguel de Cesena, Geral da Ordem franciscana , a intervir na discussão acerca
da pobr eza evangélica e suas diversas interp retações, que dividiam a Ordem
dentro de si mesma e nos confrontos com o Papa . Ock ham alinhou-se com a ala
intransigente, que rejeitava com a pereza a orientação do Papa . Tal atitude teve
importantes desdobramentos nos seus escritos posteriore s. Decide, declarando-
se a favor da pobreza evangélica dos franciscano s, fugir de Avignon junto com
o Geral da Ordem, Migu el de Cesena e outros franciscanos. Todos asi lam-se na
Itália sob a proteção do imperador Ludovic o IV, o Bávaro . A fuga de Ockham
marca o distanciamento de seus est udos de intere sse filosófico e teológico , e o
início da compo ição de obras polêmica s de caráter primariamente político e
84 Coleçãoi:-ilo~ofia
- 125
O pwbl!itnados univetsais: a petspectivade Boécio,Abelatdoe Ockharn
6
A respeito das condenações no século XIU, ver, por exe mplo: DE BON !, Luis A.
"As condenações de 1277: os limites do diálogo entre Filosofia e Teo logia". ln :
Lógica e Linguagem na Idade Média. Org. Luis A. De Bani . Porto Alegre:
EDIPUCRS, 1995, p. 127- 144. Ou ainda; WIPPEL, John F. "The Condemnati-
ons of 1270 and 1277 at Paris". ln: Journal of Medieval anel Renaissance Studi-
es. n.7, 1977, p. 169-201.
ColeçãoJ:ilosofia- 125 85
PBdtoLBifB
Juniot
1
GHISALBERTT , Ales sandro . Guilherme de Ockham. Trad. Luis A. De Boni.
Porto Alegre : EDlPUCRS , 1997 , p.16.
8
Sobre a propriedade dos term os, ver; DE RIJK, L. M. ''The prigins of the theory
of the prop erties of term s". ln : The Cambridge History of Later Medieval Philo-
sophy. Ed . Kretzmann , N., Kenny, A. e Pinborg , J. Cambridge: Cambridge Uni -
versity, 1988, p. 161- 173.
86 ColBçãof:ilo~ofia- 125
O pwblernados universais:a perspectiva
de Boécio,Abelardo e Ockharn
9
BOEHNER , GILSON, op. cit., p. 488.
10
GILSON, op. cit., p. 794 .
11
LIBERA . A filosofia ... , 1998, p. 418.
Coleçãof:"ilosofia
- 125 87
PedtoLeiteJuniot
12
NASCIMENTO . A querela ... , p. 60.
13
Seguim os co mo model o, para a con stru ção da estrutura crítica de Ockham, o
texto de Paul Vignaux, Nomi11alis me.. , col. 733 -741.
14
GUlLHERME DE OCKHAM . Scriptum i11Librum Primum Sente11tiarum. Or-
dinatio (Distinction es li - Ili ). In : Opera Theologica li . Ed. S. Brown , adlabo-
rante G. Gál. Cura Instituti Franciscani , Univer sitatis S. Bonaventurae, St. Bo-
naventure , N .Y ., 1970.
O probl ema dos univer sais é ex aminado ness a obra na di stinção II, questões de
IV a Vlfl , p. 99 -292. Estab elece mos que as referências de sse texto terão a se-
88 ColeçãoÍílo~ofia- 125
O ptobletna do~univet~ai~:
a pet~pectiva
de Boécio,Abelatdoe Ockhatn
guinte configuração: L. Selll ., seg uida pelo número da questão (em algarismos
romanos), página e linha.
15
GUfLHERME DE OCKHAM . Summa Logicae. ln: Opera Philosophica I. Ed.
Ph. Boehner, G. Gál. e S. Brown . Cura lnstituti Franci sca ni, Universitatis S.
Bonaventurae, St. Bonaventure, N. Y., 1974.
Utilizaremos o texto latino coteja do com a tradução brasi leira da 1ª parte da
Suma Lógica. ln: Guilh erme de Ock ham: A Lógica dos Termos. Trad . de Fer-
nando Pio de A. Fleck. Porto Alegre: EDIPUCRS - Universidade São Franc is-
co, 1999. As referências , segundo o texto latino, terão a seguinte configuração :
Sum. Log ., parte, capítulo, página e linha.
16
Ut ilizaremos como texto-base para a discus são de Ockham acerca do problema
dos uni versais a obra Scriptw11 in Librum Pri11111111Se,uentiarum e, como texto
de apoio e comp lemento, a obra Summa Logicae . Isso não significa que abdica-
mos de referir algum outro texto de Ockham, o que será feito quando e se neces-
sário .
17
DE ANDRÉS, Teodoro. E/ nominalismo de Guillermo de Ockham como Filo-
sofía dei Lenguaje , Madrid: Gredos, 1969, p. 60-65 , observa que há um parale-
lismo , no que se refere à parte crítica, entre ambas as obras e, apresenta uma
análise detalhada de tal para lelismo.
18
"Ci rca identitatem et distinctionem Dei a creatura est quaerendum an Deo et
creaturae sit aliquid commune univocum praedicabile essentia liter de utroque ".
L. Sent ., IV, 99, 9- 11.
Coleção~ilo~ofia- 125 89
PedtoLeiteJunior
A Quaestio V diz:
19
L Serlf., IV, 99,12-15 .
20
"Primo quaero utrum illud quod immediate et proximo denominatur ab intenti -
one univer sa li et uni voei si t aliqua vera res extra animam, intrinseca et essentia-
lis ili is quibu s est comm une et univocum, distincta rea liter ab illis ". L. Sent., IV,
99, 16-19 .
21
"Secundo quaero utrum universale et uni voc um sit vera res extra animam reali -
ter distincta ab individuo, in eo tamen realit er exsistens, realiter multiplicata et
variata". L. Se111.,V, 153, 3-5.
22
"Te rtio quaero utrum aliquid quod es t universale et univocum sit realiter extra
animam ex natura rei di tin ctum ab individuo quamvis non realiter". L. Selll. VI,
160, 4-6.
90 ColeçãoJ:ilosofia- 125
O pwblBrna
dos univl!tsais: a p!!tsp!!ctivad!!Boécio, Ab!!lardo!!Ockharn
"( ... ) todas [as opi niões] nisto co nvêm: que os uni ve rsa is
são de algum modo à parte das coisas, daí que os univ ersa is
es tão nos singulares mesmos" 25•
23
"Q uarto quaero utrum illud quod est universa le et commune univocum sit quo -
modoc umqu e rea liter a parte rei ex tra animam". L. Sent., VII, 225, 4-5.
24
"Quinto qu aero utrum uni versa le univocum sit aliquid rea le exs istens alicubi
subiec tive". L. Se111., Vlll, 266, 10-11.
25
"( ... ) omnes conveniunt quod univ ersalia sunt aliquo modo a parte rei. ita quod
univ ersa lia sunt realiter in ipsis singularibu s". L. Se111
.. Y ll , 229, 4-6.
92 ColeçãoJ:ilosofia- 125
1 O ptobletnado~univet~a
i~:a pet~pectiva
de Boécio,Abelatdoe Ockhatn
tuintes dos singu lares. Pois , se esse fosse o caso, ou seja, se apenas
essa natureza (natura) fosse o único const ituti vo de qualquer ho-
mem particular, pareceria , então, que não haveri a mai s do que um
único homem .
Assim, se um a natura uni versal é considerada como parte
componente de Pedro e Manuel, de modo que ambos têm um
constituinte comum, então, em virtude de serem eles indivíduos
numericam ente distinto s, cada um deles deve ter um constituinte
que não é comum a ambos e, portanto, faz dele s indivíduos distin-
tos um do outro. Isso significa que os indivíduos, que são sing ula-
res, estão compostos por uma natureza (que é de algum modo co-
mum e distinta deles ) e de um princípio de individuação, isto é, de
uma diferença contraída, por meio da qual os singulares se distin-
guem numericamente . Estamos. aqui, diante de um tema de consi-
29
derável discu ssão, a saber: o problema da individuação .
Segundo record a Ghisalberti3°, o problema que envolve o
princípio de individuação é o de saber como e em virtude de qual
elemento a natureza univer ai se contrai, dando lugar à multiplici-
31
dade dos indivíduos da mesma espécie. Acrescenta, ainda , que tal
problema , tomado na perspectiva de Ockham, perde todo o signifi-
cado, configurando-se num pseudoproblema. Isso pode ser expli-
cado, em virtude de que Ockham e tava convencido de que apenas
o indivíduo existe e a realidade é por i mesma singular e, como
tal, inteligível em sua singularidade .
Todas as opiniõe ag rup adas por Ockham , na parte crítica,
estão de acordo em colocar nos indivíduos (portanto, extra ani-
mam) uma natureza (natura) que é de algum modo universal.
Afirmam, ainda, que essa natureza universal é comum a muitos e é
parte constitutiva de sses muitos . Além disso , concordam em que
tal natureza universal pode ser distin guida dos singu lares nos quais
está realizada.
29
Não visamos neste estudo aborda r a discussão ace rca do probl ema da individu-
ação, pois exig iria um a outra investi gação e, por co nseqüência, um novo traba -
lho.
30
GHISALBERTl, op. cit., p. 74.
31
/d., ibid., p. 74.
Coleçãor:no~ofia- 125 93
PedtoLeiteJuniot
32
"( •.. ) et omnes illae res in se nullo modo multiplicatae, quantumcumq ue singula-
ria multiplicentur , sunt in quolibet individuo eiusdem speciei". L. Selll., IV, 101,
10-11.
33
"( . .. ) univer sa le es t re vera ex tra animam , distincta realit er ab una differentia
contrahente, realiter tam en multiplicata et variata per talem differentiam con-
trahentem". L. Sent., V, 154, 5-7.
34
"Ad istam quaest ionem dicitur quod in re extra animam est natura eadem reali-
ter cum diff ere ntia contrahente ad determi natum individuum , distincta tam en
formaliter ( ... )". L. Se11t.,VI. 161, 2-4.
35
"( ... ) omnes istae opiniones ponunt qu od univer sa le et sing ulare su nt eadem res
realiter , nec diff erunt nisi sec undum rationem". L. Sent, VII, 229, 1-3.
36
MTCHON, op. cit., p. 405.
37
L. Sent., Vil. 226, 5-227. 7.
Coleção l=ilo~ofia
- 125 95
PedtoLeiteJuniot
não-multiplicada
Realmente
istinta ex natura rei { multiplicada
A natureza {
universal tem ou Formalmente
existência ex-
tra animam enquanto forma
nos singulares Distinta secundum rationem pela consideração do intelecto
{ enquanto conceito confu so
38"Alii autem ponunt quod res secundum esse suum in effectu est singu laris, et
eadem res secundum esse suum in intellectu est universali s, ita quod eade m res
secundum unum esse vel secundum unam considerationem est universalis, et
secundum aliud esse vel secundum aliam considerationem est singularis" . L.
Sent., YTI, 227 , 9-13.
39
L. Sent., VII, 227 , 15-16.
96 Coleçãof:ilosofia- 125
O problemado~univer~ai~:
a per~pectiva
de Boócio,Abelardoe Ockharn
40
YIGNAUX. No111i11alis111e
..., col. 735.
Coleçilo~ilo~ofia- 125 97
Pedta LeiteJunior
41
" ( •• •) quod apud logicos ista nom ina convenibilia sunt 'individuum· , 'singula-
re', ' suppositum ' ( ... )"'. Sum. Log. l , 19, 66, 6-7.
42
"( . .• ) illud quod est una res numero et non plures". Sum. Log., 1, 19, 66, 13.
43
"( . .. ) omne illud quod e l unum et non plura" . Sum. Log., 1, 14, 48 , 14-15.
44
"( •• . ) quod quaelibet res ingularis se ipsa est singularis". L Se11t
., VI, 196, 2.
45
"( ••• ) quod omn is res extra animam est realiter singulari s et una num ero( ... )". L.
Sent., VI, 196, 13-14.
46
"Ex istis sequitur quod quaelibet res extra anima m se ipsa est singularis, ita qu-
od ipsamet sine omni addito est illud quod immediate denominatur ab intentione
singularitat is" . L. Sem., VI, 197, 7-10.
98 Coleçãof:ilo~ofia- 125
O ptoblernados univetsais:a pGtspectiva
de Boécio,Abelatdoe Ockharn
"Como tudo aquilo que opera, pelo fato que pode errar em
suas operações e em seus atos, tem necessidade de um prin-
cípio diretor, pois que a inteligência humana, na aquisição
da ciência e de sua perfeição própria, procede necessaria-
mente do desconhecido para o conhecido, pois que sobre
esse princípio diretor ela pode errar de múltiplos modos, é
necessá rio descobrir uma arte, graças à qual ela distinga
com evidência o discurso verdadeiro do falso, para poder,
enfim, disce rnir com certeza o verdadeiro do falso. Ora,
essa arte é a Lógica e é por tê-la ignorado, como atesta o
Filósofo no livro I da Física, que numerosos dos antigos
caíram em erros diversos" 5º.
47
"Quod enim nullum universa le sit aliqua substantia extra animam exs isten s evi-
denter probari potest". S11111.Log., 1, 15, 50, 5-6.
48
VIGNAUX. Nominalisme ... , col. 736;738.
49
GUILHERME DE OCKHAM . Expositio11es i11 Libras Anis Logicae. Prooe-
mium". ln : Opera Philosophica li . Ed. Ernestus A. Moody. Cura lnstituti Fran-
cisca ni, Universitatis S. Bonaventurae, St. Bonaventure, N. Y., 1978. As refe-
rências , seg undo o texto latino, terão a seg uinte config uração: Prooem., página e
linha .
50
"Quoniam omne operans, quod in suis operationib us et actibu potest errare,
aliquo indi get directivo, et intellectus hum anus in adquirendo scientiam et suam
perfectionem ab ignotis ad nota discurrit necessario, c irca quod directivum erra-
re pote st multipliciter, necesse fuit aliquam artem inveniri per quam evidenter
cognosceret veras discursos a falsis, ut tandem posset certitudinaliter inter ve-
rum et falsum discernere. Haec autem ars est logica, propter cuius ignorantiam,
tes tante Philosopho l Physicorum , multi antiqui in errares varias devenerunt".
Prooem., 3. 3-11.
Coleção f:"ilos
ofia - 125 99
PedtoLeiteJuniot
51
" Logica enim est omnium artium aptissimum instrumentum , ine qua nulla sci-
entia perfecte sciri potest, quae non more materialium instrumentorum usu cre-
bro consumitur , sed per cuiuslibet alteriu cientiae studiosum exercit ium recipit
incrementum . Sicut enim mec han icu s sui insu·umenti perfecta ca rens notiti a
utendo eodem recipit pleniorem, sic in so lidi s logicae principiis eruditus dum
aliis sc ientii s operam imp endit so llicit e simul istius artis maiorem adquirir peri-
tiam . Unde illud vulgare ·ar s logica labili s ars es t' in so lis sapientiale stud ium
negligentibus Iocum reputo ob tinere. ( ... ) quia plerumque contingit ante mag-
nam experientiam logicae subtilita tibu s theologiae aliarumque Facultatum iuni-
ores impendere st udium , ac per hoc in difficultates eis inexplicabiles incidunt ,
quae tamen aliis parvae sunt aut nulla e, et in multi piices prolabuntur errares, ve-
ras demon strationes tamquam sop hismata respuentes et sop hist icat iones pro
demonstrationibus recipiente s( ... )" . S11111.Log., Epistola Prooemialis, 5 , 2 - 6,
26.
Coleçãol=ilosofia
- 125 101
PedtoLeiteJuniot
coisa univer sal combina com um prin cípio de indi vidualização para
compor a coisa singular que é Pedro e co mbin a com outro princí-
pio de individualização para compor a co isa singular que é Manuel.
Além disso, não importand o em quantas coisas singulares possa
existir, a coisa un iver sal perma nece una e não-multip licada.
A atitude de Ockh am frente a essa po sição é vigorosa:
"Essa opinião é simpl esme nte fal sa e absu rda (...)" 57 .
A questão que de imediato pode ser formulada é a segui n-
te: em que consiste a falsidade e a abs urdidade dessa op inião?
Para dar cont a de tal que stão, encontramo s um a série de
cinco argumentos, elencados por Ockh am, que visam mostrar as
incomp atibilid ades e contradições em que caem os defe nsores des-
sa po sição. A seguir, procuramos descrever três argumentos dessa
érie , destaca ndo seus principais a pectos.
O argumento inici al de Ockh am , segundo obse rva Mi-
cho n58, visa mostr ar que a própri a noção de natureza uni versa l
(co isa uni ve rsal), enquanto algo comum em vários, co ntém em si
uma incomp atibilid ade, em virtude de repo usar obre dois termos
co ntradit órios, a saber: singula r e universal.
Se a naturez a é uma coisa, então é singular . Se, por outro
lado a nature za é comum , então é univ ersa l. Ora, se a natur eza é
singul ar, então não é co mum . Ma s, essa última afirmação contradiz
aquilo que os defen sores da opini ão exami nada su tentam, ou seja,
que o univer sal é algo co mum nas co isas fora da alma.
A tarefa de Ockham co nsiste, nesse argume nto, em indicar
a contradiç ão que se esta belece entre a noção de num ericame nte
um (singular) e a noção de comum a vários (universal), caso tais
noções e verifiquem simult aneamente na res univ erso/is . Porém,
para realizar tal tarefa, ele deve provar que a natureza universa l
tomad a enquanto coisa (res) tem uma unidad e num érica, isto é, é
numeric amente um a e não-comum. Além disso, Ockham prec isa
mostrar que o univ ersa l como coi a (res) se reduz ao sing ular, isto
é, tudo aquilo a título de co isa (res) é por si mesmo num ericame nte
um e, portanto, singular.
57
"!sra opinio est simplicit er falsa et absurda( ... )". L. Se/li.. IV, 108, 2.
58
MlCHON, op. cit., p. 387.
Coleção í=ilo
~ofia - 125 103
Ockham inaugura sua crítica com o seguinte argumento:
59
"( ... ) nulla una res numero - non variata nec multiplicata - esl in pluribus sup-
positis vel singularibus sensibilius, nec etiam in quibuscumque individuis creatis
simul et seme l; sed talis res, si poneretur, esset una numero; igitur non esset in
pluribus singularibus et de essentia illorum" . L. Sent., IV, 108, 3-7.
60
L. Sent., IV, 108, 7-10.
61
L. Sent., IV, 108, 11-109, 4.
62
O argumento completo da simplicidade da co isa universal está expresso, L.
Sent. TV, 109, 7 - 1 lO, 5.
63
L. Sent., IV, 109, 16.
Coleçãoí=ilosofia
- 125 105
Pedto Leite Juniot
64
"( ••• ) si quaelibet pars sit una numero, toturn erit unurn numero". L. Sent., IV ,
llO. 6-7.
65
"( ... ) nunquam univer sale inc ludit maiorem pluritatem rerum (singularium nec
univer salium ) quam singulare. et per consequens est aeque implex, et per con-
sequens unum numero, si singulare sit unum numero". L. Sem., IV , 110, 12-15.
"A lém disso, se algo univer sal fosse uma substância exis-
tente nas substâ ncias singulares e distinta delas , seguir-se-ia
que poderia exist ir sem elas, porque toda a coisa natural-
67
ADAMS , op. cit., p. 32.
68
L Sent., IV, I 15, 4- 10.
mum. Ora, ser comum a vários e ser num erica mente um são duas
noções inconciliáveis , tomando, assim, tal opinião falsa e absurda.
O seg undo movimento argumentativo desenvolvido pelo
Venerabilis lnc eptor focaliza a pos sibilidade da existência separa-
da de coisas realmente distintas. Trata- se, nesse caso, de investigar
a distinção real entre a natureza univer sa l e a coisa singular.
Para invalidar a posição dos adversários, Ockham lança
mão de um princípio que pode ser expresso deste modo:
Se a e b são duas coisas distintas , então a pode existir sem
que exista b e vici::-ver a.
A partir de tal princípio, passa a examinar a distinção real
entre universal e singular, sob duas possibi lidades , a saber:
i) quer a natureza univer sal exista, sem que exista a coisa
singular, e
ii) quer a coisa singular exista, sem que exista tal natureza.
Examinando a primeira po sibilidade (existência da natu-
reza universal, sem que exista a coisa singular) , Ockham apresenta
este argumento:
66
"( ... ) omnís res prior alia re realiter di stinc ta ab illa potest esse sine ea, sed per
se ista est prior et est realiter distincta ; igitur potest esse ine re singu lari". L.
Sem .. IV, 115. 1-3.
"É confirmado por essa razão, porque , seg undo e les, o indi-
víduo acrescenta algo a mai s à natureza e esse algo por si
faz um com aquela coisa univ ersa l, porque se não, existiria
algo que não seria nem substânc ia nem acidente; logo, não
parece incluir contradição que aquilo que é acrescentado,
conservado por Deus, so breven ha sem qualquer natureza
71
univer sa l, o que é absurdo" •
69
"Item, si aliqu od uni ver ale esse t substant ia una. exs istens in subs tantii s singu-
laribu s, distincta ab eis. seq ueret ur qu od posset esse sine eis, quia o mni s res pri-
or naturalit er alia potes! per divinam potentiam esse sine ea; sed co nseq ue ns est
absurdum". S11111. Log .. l. 15. 5 l, 25-28.
70
"( ... ) nullus sanae menti s caperet ( ... )''. L. Se111.,
IV , 118, 1-2.
71
''Confirmatur ista ratione, quia indi viduum aliquid acldit supra naturam , sec un -
dum istos, et hoc aliquid faciens per se unum cum ilia re universali, quia si non ,
tunc esset aliquid qu od nec esset sub stant ia nec acc idens; igitur 11011 videtur in-
cludere co ntradicti onem quod illud additum conserva tur a Deo sine omni natura
u niversali adveniente, quod vide tur absurdum". L. Selll., IV , 115 , 12 - 17.
Col!!çãol=ilosofia
- 125 109
PedtoLeiteJuniot
12
L. Sent., rn, 78, 6 - 8.
110 Coleçãol=ilosofia
• 125
O ptoblernado~univet~aig:
a petgpectiva
de Bo~cio,Abelatdo e Ockharn
" Disto seguem-se muitos ab. urdos . Prim e iro, então que Só-
crates não mais seria uma coisa singular rnai do que uni-
versa l, porque o todo não seria mais denominado de urna
parte essencial sua mais do que por outra, as irn corno urna
composição não ser ia mais dita ser forma mais do que ma-
téria, nem o inverso , tanto quanto a forma seria a parte
principal" 74 .
"A lém dis so, se essa opinião fosse verdadeira, nenhum in-
divíduo poderia se r criado, se algum indivíduo preexi stisse,
porque não receberia todo o ser do nad a, se o universal que
é nele, primeiro fosse em outro. Em razão do mesmo , tam-
bém se seguiria que Deus não poderia aniquilar um único
indivíduo de uma substâ ncia, se não destruísse os demais
73
"( ... ) et per conseguens individuum compo11ere1urex universalibus, et ita i11di-
viduum no11esset magis si11gularequam u11iversale... S11111. wg., I, 15, 51, 39 -
41.
74
"Ex isto sequuntur multa ab urda. Primum, quod tu11cSortes 11011 magis esset
res si11gularisquam universalis. quia totum non magis denominatur ab una sua
parte essentiali quarn ab alia, sicut compositum 11011
magis dicitur esse forma
quam materia nec e conver o, quamvis forma sit pars principalior". L. Sent, IV,
118, 7 - 11.
75
"Item. si opinio ista esset vera, nullum indi viduu m posset creari si aliguod indi -
viduum praeexsisterer, guia non totum caperet es e de nihilo i universale guod
est in eo prius fuit in alio. Propter idem eriam seg ueretur guod Deus non po sse t
unum indi viduum sub stanti ae adnihilare nisi ce tera individua destrueret, guia si
adnihilaret aliguod individuum , destrueret totum guod est de essentia individui ,
et per conseguens des tru eret illud univ ersale guod est in eo et in aliis, et per
conseguen alia non manerent , cum non po sse nt manere sine parte sua , guale ·
ponitur illud universale". S11111. Log. I, l5, 5 l , 29 - 37.
112 - 125
ColBçíiol=ilo~ofill
O pwbliHna
dos univetsais:a petspectivade Boécio,AbelatdoB Ockharn
76
L. Se11r.,V, 154 . nota 1.
77
"( ... ) uni ve rsa le es t res vera ex tra animam, distincta realiter ab una d ifferentia
contrahente. rPaliter tam e n multiplicata et va riata per tal em different iam con-
trahe nlem". L. Selll., V, 154. 5 - 7.
78
ADAMS. op. cir .. p. 39. No . sa exposição dessa segu nda opin ião seg ue de perto
o texto de Adams.
Coleçãol=ilo
sofia - 125 113
T4: tal natureza universal está numericamente multiplicada
pela diferença contraída, nas coisas singulares numericamente dis-
tintas.
Ockham julga que essa teoria é, como no caso da posição
anterior, falsa e absurda. Além disso, para refutá-la, poderíamos
recorrer aos argumentos levantados contra a opinião precedente.
Diz o ele:
79
"Similiter , quod non sit tali s natura probant fere omne s rationes positae in priori
quaestione contra opinionem ibi improb atam " . L. Sem., V, 159, 7 - 9.
ou toda é, mas não é o caso de que nenh uma parte seja sin-
gular "8º.
80
"( ... ) sed semper imer totum et partem es t proportio, ita quod si totum sit sin-
g ular e 110 11comm une , quaelibet pars eodem modo es t si 11gu laris proportio11aliter,
quia una pars 11011pote st plus esse singu lar is qu am alia; igi tur vel nulla pars in-
dividui est si11gularis vel quaelibet; sed non nulla , ig itur quaelibet " . L. Se111.,V,
158, 23 - 159, 2.
81
"( ... ) si in individuo essen t talia du o realiter di tincta , 11011videtur includ ere
co ntradicti onem quia unum posset esse sine altero, et tunc posset esse grad us
individualis sine natura comracta ve l e converso; quorum utrumque est abs ur-
dum". L. Se111., V. 159, 3 - 6.
82
A ques tão VI do Liber Se111entia , na qual é exa minad a a pos ição de Dun s
,:w11
Scotus , é dentre todas as que stões que trat am dos univ ersa is a mai s extensa. pre -
cisa mente são 64 páginas (da 160 a 224). Isso, por si só, j á manifesta a imp or-
tância , para Ockha m, da opinião de Scotus . Mas. não é nosso propós ito, nes te
est udo, realiz ar uma confrontaç ão efet iva e abra nge nte entre o pensamento des-
ses dois me stres franc i canos. Nesse sentid o, nos co ntentam os co m a apresenta-
ção que e le faz da teo ria de Sco tus e não disc utimo s se essa é correta ou não.
Trata- se aq ui da opi nião de Scotus co mo Ockham a entende u; falando de modo
mais claro. é o Scotus de Ockham.
83
·'Et quia ista opinio es t, ut credo, opini o Sub tili s Doctoris ( ... ) ideo vo lo lotam
istam opinionem, quam sparsim ipse po nit in diversis locis, hic rec itare di stinc-
te, verba sua quae ponit in diversis loc is 11011 mutando ". L. Sem., Vl, 161 , 6 - 10.
84
"A d istam quaestionem dicitur quod in re ext ra animam es t natura eade m reali-
ter cum differentia contrahente ad determinatum indi viduum , di stin cta tamen
forma liter, quae de se nec universal is nec part icularis, sed inco mplete dum esse
in intellectu " . L. Sem., VI, 161, 2 - 6.
86
ALFÉRI, op. cir., p. 48.
87
!d., ibid .
88
"Et est de intentio ne istius Doctoris quod praeter unitatem numeral e m est uni tas
realis minor unitate numer ali, quae convenit ipsi naturae quae est aliquo modo
univer salis". L. Sent., V, 161, 11- 13.
89
L. Se111.,VI. 161, 14-17.
90
Apresentamo s. no que se seg ue. as comparaç ões de mod o bastante superficial,
tendo em conta que este eswdo não visa uma inves tigaçã o profunda e detalhada
do pe nsa mento de Scotu s. Observamo s, ainda, que Ockharn. seg uindo sua ori-
entação de expor a teoria de Scollls em sua inte gridade, após cada comparação
apóia o que diz, remetendo a um texto do própri o D01.11or S111il
.
91
"S i comparetur ad ipsum singulare, sic ponit ista op inio quod natura 11011 est de
se haec sed per aliquid additum. Et sec undo, ponit quod illud add itum 11011 est
negatio, quae tione 2; nec aliquod accid ens, quae stione 3; nec actual is exsis ten-
tia , quae tione 4 ; nec materia, quaestione 5. Tertio, quod illud add itum est in
ge nere substantiae et intrinsecum individuo . Quarto, quod nalllra es t prior natu-
ral iter ilia contrahe nte". L. Se111.,VJ, 161. 18- 162, 3.
91
L.Se111. , VJ, 162. 3-163 , 2.
93
l,,.Sent., VI, 163, 3-13.
94
L. Sent., VI, 163, 13-17.
95
"Si autem ista natura comparetur ad unitatem numeralem. similiter ponit quod
natura non habet ex se unitatem numeralem, nec est illud quod immediate de-
nominatur quacumque unitate reali. Est tamen realiter una numero. Nec est rea-
liter aliquid unum quacumque unitate reali in duobus individuis sed in uno tan-
tum". L. Se111 ., VI, 164, 1 - 5.
96
MICHON, op. cit., p. 403.
97
L. Sent., VI, 164.6- 165. 9.
98 '
DE ANDRES , op. cit., p. 35.
99
M1CHON , op. cit., p. 403, n. 1.
ColeçãoJ:ilo~ofia
. 125 121
Pedw LeiteJuniot
100" Si autem, tertio modo, natura comparatu r ad esse uni versa le, sic ponit quod de
se 11011 est comp lete uni versal is sed sec undum quod hab et esse in inte llec tu. Se-
cund o, qu od de se co nvenit sibi co mmuni tas. 11011 singu laritas". L. Se111 ., VI.
165, L0-13.
'°1
102
L. Selll., VI, 165, 13- 166, 18.
, ·
DE ANDRES, op. cll., p. 35-36.
103
"Si. quarto. compare tur natura ad unitat em minorem unit ate numerali, sic ponit
quod ista unita s non est infra rati onem quidditativ am naturae. sed praed ica tur de
ea sec und o modo dicendi per se" . L. Sent., VJ. 166, 19-22 .
104
MJCHO , op. cit. p. 406.
105
A DAM (op. cir .. p . 46-59). por exe m p lo. ap rese nta de modo notáve l as c ríti -
cas de Ockham à o pini ão de Scotus.
i0<, Em L. Sem., VI, 173 - 192. Ock ham uti liza duas vias para c riti ca r a teo ria es-
cot ista. En tre tant o, na S111111110 Logicae, cap. 16, essas d uas v ias são abando na-
das, e aprese nta uma série de arg um e ntos que re to mam ba icamente os d a pri-
meira via .
101
Ockh am não ace ita a distinção formal no mundo criado, isto é, nas criaturas ,
embora admita a poss ibilid ade de tal di stinção ap licada à potência di vina. Não
disc utire mos tal tema aqui , mas indicam os a esse respeito o belo co mentário de
DE ANDRÉS (op. cit ., p. 39-42).
108
"( ... ) quia impossibi le es t in crea turi s aliqua differe formaliter nisi distinguan-
tur rea liter; igitur si natur a aliqu o modo distinguitur ab ilia diff erenti a co n-
trahente, oportet quod di stinguantur sicut res et res, vel sic ut ens rationis et ens
rationis, vel sicu t ens rea le et ens rationis . Sed pr imum nega tur ab isto, et simi-
liter secu ndum , igitur oportet dari tertium ; igitur natura quae qu oc umque modo
distinguitur ab indi viduo non es t nisi ens ratio nis". L. Se111., VI, 173, 12- 18.
109
L. Sent. I, l4 , 8-20 e L. Sem., Ili , 78, 4-79. 2.
Ockham aprese nta as seguinte s distinç ões:
distinç ão real: entre coisas reais;
di stinção de razão: entre seres de razão , isto é, entre conc e itos.
di stinção intermediári a (quasi 1nedia) : e ntre uma co isa rea l e um se r de razão.
e, uma distinçã o que Ockham não nomeia, en tre um compos to de co isa rea l e ser
de razão com um outro composto se melhant e.
124 - 125
ColBçiio J:iloi:ofia
O problemados univetsais: a petspectivade Boécio,Abelatdo <! Ockharn
º L. Se111
11
., III, 78. 6-8.
111
' '( •. • ) quia con tradi ct io est via potentíssima ad probandum distinc li onem re-
rum ". L. Selll., Yl. 174, 5-6.
11
~ ·'Item, eadem res non est comm uni s et propria; sed secundum eos diff erentia
ind ividualis est prop ria, univ ersale autem est com mune; igitu r nullum universale
et diff erenti a indiv idu al is unt eadem res... Swn. Log., l, 16, 54, I 9 - 55, 2 1.
Coleçãof::ilo
sofia - 125 125
PedtoLeiteJuniot
"( ...) porque nas criaturas jamais pode haver alguma distin-
ção, qualquer que seja , fora da alma, senão onde as coisas
são distintas; se, portanto , entre esta natureza [natura] e esta
diferença há uma diferença , qua lquer que seja , é preciso
que elas sejam coisas realmente distintas"' 14•
113
"( . .. ) quia si narura et ilia differentia contrahe11s 11011
sint idem omnibus modis,
igitur aliquid potest vere affirmari de uno et negari a reliquo; sed de eadem re in
creaturis non potest idem vere affirmari et vere negari; igitur non sunt una res.
( ... ) si in creaturis ab eadem (vel ab eodem pro eadem re) potest omnimo idem
vere negari et vere affirmari , nulla distinctio realis potest probari in eis " . L.
Sent., VI, 173, 19-174, 8.
114
"( ... ) quia in creatu ris nunquam potest esse aliqua distinctio qualiscumque extra
animan nisi ubi res distinctae sunt; si igitur inter istam naturam et istam diffe-
rentiam sit qualiscumque di stinctio , opertet quod sint res realiter distinctae".
Swn. Log., I, 16, 54, 11-14 .
115
L. Sem .. lll , 78. 9-10.
116
L. Sent., lll , 78, 12- 15.
"C umpr e dizer, po rtanto , que nas criatur as não há tal distin-
ção formal, mas todas as [coisas] qu e nas criaturas são di s-
tintas são rea lmente distint as, e são coisas distint as, se cada
uma delas é uma co isa verdadeira" 117.
A seg unda via crítica 118 desenvo lvida por Ockh am ataca di-
retamente a próp ria natura communi s escotista, mais precisamente
seu caráter de comunidade e sua unid ade infranumérica.
Conforme Ockh am, ainda que , por hipót ese, aceitássemos
a distinç ão formal nas criaturas, nem assim seria possível salva r-
mos tal natureza co mum. Diz ele:
"A seg unda via pod e argüi r co ntr a a op inião prece dente
que ela não é verdadeira, ainda qu e se afi rme qu e tal dis-
119
tinção existisse" •
'·Mas, para ti, toda a coisa fora da alma é rea lmente singular
e uma em núm ero, ainda que alguma coisa sej a singular por
si e outra simples mente por algo ac resc ido; logo, nenhuma
117
"Dice ndum es t igitur quod in crea turi s nu lia es t tal is distinctio formal is, sed
qu aec umqu e in creat uris unt disti ncta, realiter sunt di stincra, et sunt res di s-
tinctae si utrumqu e illorum sit vera res". S11111. Log., I, 16, 56, 66-68.
118
Essa seg und a via desenvo lvida por Ockham, e m L. Se/li., VI, co nté m se te ar-
gume ntos (p. 177 a 192) contra natura co111m1111is, além das muitas "co nfirm a-
ções", nas quai s se multipli cam os silog ismos. Alguns de sses argumentos são
reprodu zidos sinteticamente na Su111111a Logicae, ca p. 16. Por brev idade, não
aprese ntaremos todos os argumentos de a via.
119
"Sec unda via potest argui contra praedictam op inionem quod non est vera. eti-
am posi to quod esset talis distinctio ". L. Senl., VJ, 177, 9- IO.
128 Coleçãor:Hosofi
a - 125
O pwblema dos univetsais:a petspectivade Boécio, Abelatdoe Ockham
120
"Sed per te. omnis res extra ani111 am est realiter singularis et una nu111ero
quamvis aliqua de se sit singularis et aliqua tantum per aliquid additum; igitur
nulla res extra animam est realiter co111munisnec una unitate oppos ita unitati
singularitati s, igitur realiter non est aliqua unitas nisi unitas singularitatis". L.
Sell{., VI, 177, 15-19.
130 - 125
Coleçãor:;1ogofia
O pwblBrnado~univBt~ai~:
a pBt~p
Bctiva dBBoécio, AbBlatdo BOckharn
' Assim, pois, todas essas opiniões afirmam que o univ ersal
e o singu lar são rea lmente a mesma coisa, não diferindo se-
não segundo a razão; e nisso se diferenciam das três opini -
ões expostas nas três questões precedentes; contudo, todas
concordam nisto: que o universal é de algum modo à parte
da coisa, de modo que o universal existe realmente nos sin-
gulares mesmos " 125.
124
BAUDRY , Léon. Lexique Philosophiqu e de G11illaumed'Ockham. Paris: Pu-
blication s de la Recher che Scienti!ique, 1958, p. 281.
125
"Sic ergo omnes istae op inione s ponunt quod universale et singulare sunt ea-
dem res realiter , nec differunt nisi secundum rationem; et in hoc discrepant a
tribus opinionibus recitatis in tribus qua estionibus praecedentibu s; omnes tam en
in hoc conveniunt quod universalia sunt aliquo modo a parte rei, ita quod uni-
versalia sunt realiter in ipsis singularibus". L Sent., VII, 229, 1-6.
126
MICHON , op. cit., p. 414-415 .
127
L. Sent., VII , 236, 12- 14.
128
"( ... ) quia ilia quae sunt opposita requirunt distincta quibu s primo convenia nt;
sed univer salitas et singularitas sunt huiu smodi secundum om nes istos; igit ur
ilia quae prim o et imm ediate denominantur ab istis distinguuntur " . L.Sent. , VII
235, 19 - 236, 2.
129
L. Sent., VII, 236, 2-9.
130
L. Sent., VII , 236, 10-17.
"Daí dizem alguns que nas criaturas existe uma certa forma,
que, segundo a coisa e a natureza, não tem em si nenhuma
unidade, mas em si é naturalmente dividida e tem somente
unidade segundo o intelecto da razão ( ...). Sustenta , pois,
essa opinião que a forma do gênero não é una e simples por
si, mas por si é dividida ; mas a forma da espécie é por si
una e simples e, como tal, é universal, ma a forma mesma
enqua nto determinada neste suposto é particular; de modo
que essa opinião afirma que tanto a forma do gênero quanto
131
L. Sent., VTJ, 236, 18- 237, 6.
132
Segundo ADAMS (op. cit., p. 59), essa versão reporta a Tomás de Aquino e a
seu seguidor, o dominicano Hervaeus Natalis (tl323).
Coleção(:ifo~ofia
- 125 133
PedtoLeiteJuniot
134
Ockham rejeita tal posição, conforme escreve Baudry .
Entre a natureza e aquilo que a determina deve haver uma diferen -
ça, pois, caso contrário, a natureza em si mesma não seria universal
mais do que a natureza determinada. Mas essa diferença não pode
ser uma diferença real, em virtude de cairmos numa das hipóteses
refutadas anteriormente. Também não pode ser uma mera diferença
de razão , visto que, então, uma dessas naturezas não seria mais do
que um ser de razão, isto é, um conceito . Diz Ockham:
133
"Unde dicunt aliqui quod in creat uris est quaedam forma , quae secu ndum rem
et naturam nullam unitatem habet in se omnino, sed in se est naturaliter divisa et
habet solum unitatem secundum intellectum rationis ( ...). Yult igitur ista opinio
quod forma gener is non est una simplex ex se, sed ex se est divisa; sed forma
speciei ex se est una simplex, et ut sic est universal is, sed ipsa forma ut signata
in hoc supposito est particularis ; ita quod ista opinio ponit quod tam forma ge-
neris quam speciei subsistit in ipsis singularibus quarnvis aliter et aliter". L.
Sent., VIl , 226, 5 - 227, 7.
134
BAUDRY, op. cit., p. 281.
135
"Contra primum modum ponendi quaero quomodo distinguuntur natura et de-
signatio naturae ? Si nullo modo, igitur non plus est natura universali s quam na-
tura designata. Si aliquo modo: aut secundum rem, aut secundum rationem. Si
primum , hoc est prius improbatum. Si secu ndum modo, sequitur quod unum
illorum sit tantum ratio, sicut dicturn est in quaestione de attributis; et quod non
sit differentia media in creaturis patebit ibidem ". L Sem. , VII, 240, 10-16.
134 Coleçãol=ilosofia
- 125
O ptoblern:ido~univet~lli~:
ll pet~pectiv:i
de Bo~cio,Abel:itdoe Ockh:irn
136
L. Selll .. Y11, 227, 9-13. Conforme A lféri (op. cit.. p. 55), essa opinião rep orta a
Durando de São Porei ano (t J 334 ).
137
MJCHO , op. cit., p. 416.
138
"Contra secundum modum ponendi arguo sic: quando a liquid praecise deno-
minat aliud propter aliquid extrinsec urn, cu icurnque pote st convenire illud ex-
trinsecum et illud denominan s ei proporti onalit er poterit convenire. Jgitur si ilia
res quae realiter es t singularis est univer sa lis secun dum es e suum in intellectu ,
- 125
Coleçãor::;1o~ofi:i 135
A terceira versão é sustentada, segundo diz o próprio
Ockham, por Henrique de Harclay e atribui as propriedades da sin-
gularidade e da universalidade à mesma coisa segundo seja conhe-
cida confusa ou distintam ente. O universal consiste num conceito
confuso. Diz o Venerabilis Inceptor:
quod non est poss ibile nisi propter intellectionem, igitur quaelibet res quae po-
test intelligi consimiliter potest esse universal is eodem modo. et ita Sortes polest
esse uni versalis et communis Platoni secundum esse suum in intellectu . Simili-
ter , essentia divina secundum suum esse in intellectu poterit esse universalis,
quamvis ipsa secund um suum esse reale in effect u sit singularíssima; quae om-
nia sunt absurda"'. L. Sem., VII , 24 1, 2- 13.
139
"( ... ) eadem res sub uno conceptu est universalis et sub alio conceptu est sin-
gularis. Hoc modo dico quod omnis res posita extra animam eo ipso est singula -
ris; et haec res singu laris est apta nata movere intellectum ad concipiendum ip-
sam confu e et ad concipiendum ipsam distincte. Et voco conceptum co nfusum
illum conceptum quo intellectus non distinguir hanc rem ab alia ; et sic Sortes
movet intellectum ad concipiendum ipsum esse homi nem, et per illum concep-
tum non distinguit intellectus nec distincte cognoscit Sortem a Platone". L.
Se111.,vn, 227. 15 - 228, 11.
140
MI CHON, op. cir., p. 4 17.
141
"Per idem patet quod tertiu s mod us est simpli ci ter falsus et non intelli gi bilis ,
qui ponit quod ea dern res confuse concepta es t univer salis . quia si res confuse
co ncepta est univ ersal is, quaero: quae est ilia res? Et sita. lgi tur a confuse con-
cep tum est univer sale, et per conseq uens a confuse conceptum est commune ip si
b. lgitur hae c es t praedi ca tio superiori s de inferiori: b e t a confuse conceptum:
et ita Sortes es t Plato confu e co ncep tus, et Deu es t creatura co nfu se concepta".
L. Senr., VII, 241, 2 1 - 242, 6.
"Por isso digo que nenhum a co isa [ex istente] fora da alma ,
nem por si, nem por algo acresce ntado , real o u de razão ,
nem como queira que se a co nsidere ou se a pense, é uni-
versa l; de modo que é tão gra nde a imp oss ibilid ade de que
uma co isa [existente] fora da alma sej a de qualquer man e ira
universal - senão por institui ção voluntária, como, por
exe mpl o, esta palavra "home m", qu e é uma palavra singu-
lar, é uni versal - qu anto é impo ssíve l que o hom em por
qualquer conside ração ou co nform e qualquer ser seja um
asno " 142 .
142
"Ideo aliter dico ad qu aestionem qu od nulla res ex tra anim am, nec per se nec
per aliquid addit um, rea le vel rationis, nec qualitercumque co nsidere rur vel in-
telligatur, es t universalis; ita quo d tant a es t imp oss ibilita s qu od aliqua res ex tra
animam sit quocumque modo univer sa l is - nisi forte per institutionem vo lunta-
riam. quomodo ista vox ' homo·, qua e est vox singularis, es t univer sa lis - quant a
imp ossibi litas est qu od hom o per quamcumque co nsideratio nem vel sec undum
quodcumque esse sit asi nu s". L Sent .. VI!. 248 , 23 - 249, 6 .
Coleção f::ilosofi
a - 125 139
PedroLeiteJunior
zer, ao longo de suas obras ora atribuiu uma maior ênfase a uma
determinad a solução, ora a outra. Boehner, no artigo citado, apre-
senta um estudo da seqüê ncia cronológica dos textos de Ockham
que visam mostrar as alternâncias das soluções propo stas. Tendo
como ponto de refer ência tal estudo , descrevemo s, no que se seg ue,
em linhas gerais, as oscilações do pensa mento de Ockham na busca
da solução mais "provável" acerca da natura universa lis.
145
Na Quaestio VIU no Lib er Sententiarum , Ockham apre-
senta cinco op iniões, muitas das quais considerou simple smente
falsas , ainda que preferisse qualqu er uma dela s às recus adas nas
questõe s precedente s. São preferidas em virtude de localizarem o
univer sal in an ima . Entre essas opiniões considera três como as
mais prov áveis: "Qualq uer dessas três opiniões consid ero pro vá-
vel, mas deixo ao juí zo dos demais decid ir qual é a mais verdad ei-
ra" 146_
Uma questão que de imediato pode ser formulada é a se-
guinte: quais são essa s três opiniões?
Segundo Ockham , há bem dois modos de o universal exis-
tir (esse) na alma, que são definido s pelos adjetivos obj etivo e
. · 147.
SU b'}eltVO
A primeira opinião prováv el, chamada teoria do fictum 148
afirma que o univer sal (conceptu s) tem um ser objet ivo (esse ob -
jectivum) na alma e é uma certa ficção (fictum). 149 Segundo escla-
rece Adam s 150, os conceitos não têm uma existência real, mas têm
145
L. Senl., Vlll, 266-292.
146
"Qu am libet istarum trium opini onum reputo prob abilem, sed quae earum sit
verior relinquo iudi c io aliorum '·. L. Selll., Vfll, 29 l , 16-17.
147
Parece pertinente fazermos um breve esclarec iment o so bre o se ntid o dado por
Ockham as exp ressões "o bjeLivo" e "s ubje tivo". Um se r é di to obj eto do conhe-
c iment o, isto é, para nós . Objetivo tem em Ockham o se ntido que atualmente é
denominado subjet ivo~Po r out ro lado , um ser é dito subjetivo, quand o se refer e
à ex istência rea l (o sujeito da co isa) fora de nós. Por exe mpl o, urna qualid ade
poss ui um ser subjeti vo na subs tância na qual inere. mas tem um ser objetivo
enqu anto é co nhe cida por nossa mente. A grosso mod o, Ockham inverte os se n-
tido s se compara do s ao modo co mo os utili zam os atual eme nte.
148
BOEHNER . op.cit. p. 169.
149
L. Sent., VIII, 27 1, 14-272.2.
150
ADAMS. op. cit., p. 75.
140 Coleçãol=ilo~ofia
- 125
O ptoblemados univetsais:a petspectivade lsoécio, Abelatdoe Ockham
151
"( ..• ) quod fictum vocatur si militudo vel ima go ve l pictura rei (. .. ) ve re es t obi-
ec tum cognitum ab imellec tu". L. Se111 .. VI[!. 279 , 6-9.
152
"Ita e nim sic ut domus ficta , si fingens haberet v inut em productivam realem,
est exemplar ipsi artifici, ita illud fic1um esse ! exe mplar res pectu sic fingentis.
Et illud pote st voc ari univ ersa le, quia est exemp lar et indiffer enter respicien s
omn ia ingulari a extra, et propter istam similitLidinem in esse ob iectiv o potest
supponere pro rebus extra quae hab ent consimile esse ex tra intellectum." L.
Se111 ., VIII, 272,J 1-17.
153
L. Sent. , VIII, 291, 10-12.
154
L. Sent., Vl!I, 291, 7-9.
155
ADAMS. op.cit., p.75.
156
"( ... ) conceptus et quodlibet universal e est aliqua qualitas exsistens subiective
in mente , quae ex natura sua ita est signum rei extra sicut vox est signum rei ad
llacit~m instituentis ." L. Sent., VIII. _289,13-_ 15. . . .
1
· ( ... ) 1ta sunt quaedam qualitates exs1stentes 111mente sb1ect1ve, qu1bus ex natura
competunt taJia qualia competunt vocibus per voluntariam institutionem." L.
Sem., V/li, 290, 1-3.
142 Coleçãol='ilo~ofia
- 125
O pwblern:idos univetsais::i petspectiv:ide Boiício, Abel:itdo e Ockh:irn
Coleção r::ilosofi:i
- 125 143
PedtoLeiteJuniot
163
"Alia posset esse opinio, quod passio an imae est ipse actus intelligendi. Et quia
ista opinio videtur mihi probabilior de omnib us opinionibus q uae ponunt istas
passiones esse subi ec tive et realiter in anima tamquam veras qualitates ips ius,
ideo circa istam op inion em primo ponam modum ponendi probabiliorem ( ... ).
Dico igitur quod qui vult ten ere praedictam opi nion em potes! supponere quod
intellectus apprehendens rem sing ularern elicit unam cognitionem in se quae est
tantum istius singula ri s, et vocatur passio anima , potens ex natura sua supponere
pro ilia re singulari. Ita quod sicu t ex instituti one haec vox ' Sortes' sup ponit pro
ilia re qu am sig nificat - ita quod audiens istam vocem 'Sortes currit', 11011 con-
cipit ex ea quod haec vox 'Sortes'quam audit currit, sed quod res significata per
iliam vocem currit, ita qui videret vel intelli ge ret aliquid affirmari de ilia intel-
lectione singulari s rei, 11011 conciperet iliam intellectionem esse talem vel talem ,
sed conciperet ipsam rem cuiu s es t, esse talem vel talem . Ita quod sicut vox ex
institutione supp onit pro ilia re. ita ipsa intellec tio ex natura sua sine omni ins-
titutione suppo nit pro re cuius est. Sed praeter istam intellectionem isti us rei
singularis formal sibi intell ectus alias intellectiones quae 11011 magis sunt istius
rei quam alte riu s, sicut haec vox ' horno ' non magis significar Sortem quam Pia-
144 Coleçãol=ilo
~ofi:i- 125
O problemado~univet~ai~:a pet~pectivade Bmício, Abelatdo e Ockharn
"( ...) pode ser dito que por tal inte lecção confusa é que se
inteligem as coisas singulares exterior es; assim como , ter
uma intelecção confusa do homem não é senão possuir um
conhecimento pelo qual não se inteli ge um homem mais
que outro , e contudo por e se conhecimento mais se conhe-
ce ou inteli ge o homem que o burro. I s o não quer di zer se-
não que esse conhecimento, por algum modo de as imila-
ção, mais se assemelha ao homem que ao burro , se bem que
164
não mais a este homem que àquele" •
tonem; ideo non magis upponit pro Sorte quam pro Platone. lt a esset de tali
intellecti one. quod 11011 magis ea intelli gitur Sortes quam Plato, et sic de omni -
bus alii s hominibu s. lt a etiam e set aliqu a intellect io, qua non magis intelli ge-
retur hoc anim al quam illud animal et sic de ali is. Brevit er igitu r ipsae intell ecti -
ones animae vocantur pas iones animae et supponunt ex natura sua pro ipsis re-
bus extra vel pro ali is rebu in anim a sicut voces ex instituti one." Exp. Peri.,
35 l , 4-352, 32.
potest dici quod tali intellectione conf usa intelliguntur re singular es ex-
l6-l ··( ... )
tra, sicut habere intellectionem homini s confusam non est aliud quam habere
unam cogniti onem qua non magis intelli gitur unus homo quam aliu s, et tamen
quod tali cognition e magis cognoscitur sive intelli gitur homo quam asinus. Et
hoc non est aliud quam quod tali s cogniti o ali quo modo assimil ationis magis as-
similatur hornini quam asino. et non rnagis isti hornini quarn illi." ' Exp. Peri.,
355, 89-95.
160
Exp. Peri .. 355. 96-109.
aqueles que não tenhamos jamais visto ou aqueles nos quais jamais
tenhamos pensado e, ainda, todos que existem, que existiram e
mesmo os que não existirão jamais. Para ele não há nisso nenhum
inconveniente, na medida em que podemos, por um mesmo ato,
amar uma infinidade de coisas, como, por exemplo, amar todas as
partes de um contínuo e amá-las todas igualmente. E assim, por
que não podería mos conhecer e conhecer igualmente uma infinida-
de de indivíduos .
Uma objeção, todavia, pode ser levantada. Se o conheci-
mento proporcionado pelo conceito confuso é um conhecimento
confuso do sing ular , não seria retomada a teoria de Henrique de
Harclay , após ter sido declarada falsa e incompreensível?
Em defesa de Ockham, Baudr y 166 afirma que a semelhança
entre as dua s teorias é tão manifesta que por vezes são confundi-
das. Entretanto, a difer ença é profund a, ainda que seja difícil de
percebê-la . Para Harcl ay, o univer sal existe ainda de uma certa
maneira nos indivíduo s, e o conceito é a coisa conhecida. Já em
Ockham o universal não se acha de modo nenhum nos indivíduos.
O conceito é uma similitude das coisas ou, mais precisamente , um
signo.
Seguindo a seqüência cronológica de Boehner , nos escr itos
posteriores, como, por exemplo, Quodlibeta 167 e a Summa Logicae,
Ockham manteve a teoria do ato mental como a mais provável,
rejeitando as outras. Na Summa Logicae afirma que o conceito é o
ato de inteligir, baseando tal afirmação no princípio de parc imonia ,
ou seja, na denominada nava lha de Ockh.am. Escreve ele:
166
BAUDRY. op.cir., p. 283.
167
GUILHERME DE OCKHAM. Quodlibera Septem. ln : Opera Theologica IX.
Ed. Joseph Wey . Cura Instituti Franciscani, Universitatis S. Bonaventurae, St.
Bonaventure, N.Y., 1980. Ockham trata da natureza do universal em Quodlibe-
ta, V, quaestio 13, p. 531-536.
146 - 125
ColeçãoJ:i1o~ofü1
O ptoblernado~ univmais: a pet~pectivade Boécio, Abelatdo e Ockharn
razão de que ' inuti lmente se faz por mais o que se pode fa-
zer por menos'. Tudo o que é salv aguardado , admitindo
algo distin to do ato de inteligir, pode ser sa lvag uard ado sem
tal distinto, porque supor outra [coisa] e signifi car outra
[coisa] pode compe tir tanto ao ato de inte ligir co mo a outro
signo. Não é prec iso , portan to, admitir algo além do ato de
inteligir" 168 .
168
.. Dicendum quod circa istum aniculum diversae sunt opiniones. Aliqui dicunt
quod non e t nisi quoddam fictum per animam. Alii, quod est quaedarn qualita
subiective exs istens in anima, distincta ab actu intelligendi. Alii dicunt quod est
actus intelligend i. Et pro istis est ratio esta quia ·frustra fit per plura quod potest
fieri per pauciora'. Omnia autem quae salvantur ponendo aliquid distinctum ab
actu intelligendi possunt salvari sine tali distincto, eo quod supponere pro alio et
significare aliud ita potest competere actui intelligendi sicut alio signo. Igitur
praeter actum intelligendi non oportet aliquid aliud ponere". S 11111. Log., I,
12,42,30-43,39.
169
VIGN AUX. No111i11 alis111
e.... l93 l, co l. 736.
Coleção l=ilosofia
- 125 147
PedtoLeiteJuniot
170
'·( ... ) ideo non est universale nisi per significa tionem , quia est signum plu-
rium". Sw11.Log., I, 14, 48, 32-33.
171
Sw11.Log., 1. 33, 96, 27-35.
172 ' .
De ANDRES. op. clt., p. 80-99.
148 Coleçãol=ilo~ofia
- 125
O problemados universais:a perspectivade Boécio,Abelardoe Ockharn
"A qui , porém , não falo de signo de um modo tão gera l. Di-
ferentemente, toma-se signo como aqui lo que traz algo à
175
cogn ição e é capaz de supor por isto".
173
S11111.Log. , 1, 1, 8. 53-9 , 59.
174
BOTTlN, Francesco. "Linguaggio mentale e atti di pensiero in Guglielmo di
Ockham ". ín: Veritas. Porto Alegre, v. 45, (2000), 11 . 179, p. 349-36 0.
175
"Sed tam ge11e ralit er 11
011loquo r hic de signo. A lit er accip itur signum pro ill o
quod aliquid facit i11cog11itio11emve11ireet 11atumest pro illo supponer e.. .'' Sum.
Log., 1, 1, 9, 56-61.
Diz Ockham:
176
ARISTÓTELES. "Analític os primeiros". ln: Tratado s de Lógica li (Orga-
Introd. , trad . y notas de Mi guel C. Sanmartin . Madri: Gredos . 1995. I, 24b,
11011).
16.
150 ColeçãoJ:iio~ofia
- 125
O ptoblernados univma is: a petspectivade Boécio, Abelatdo B Ockharn
177
"Terminus conceptus est intentio seu passio animae aliquid natural iter signifi-
cans vel con ignificans, nata esse pars propositionis mentalis, et pro eodem nata
supponere. Unde isti termini concepti et propositiones ex eis composi tae sunt
ilia verba quae beatus Augustinus, XV De Trinita te, dicit nullius esse li11 guae.
quia tantum in mente manent er exterius proferri 11011 possunt , quamvis voces
tam quam sig11asubordi11 ata eis pronu11tienturexterius." S 11111. Log., !, l , 7, 19-
25.
178
MÜLLER. op.c it., p. 31.
179
. Log., I. 1.8, 46-52.
S11111
180
"Es t autem primo sciendum quod intentio animae vocatur quiddam in anima ,
natum sig nifi care a liud . Unde, sicut dictum est pr ius, ad modum quo scr iptu ra
est secundarium sign um respect u vocum, quia inter om nia signa ad placitum
instituta voces obt inent principat um , ita voces secundaria signa sunt illorum
quorum intentiones animae sunt signa primaria. Et pro tanto dicit Aristoteles
quod voces sunt 'earum quae sunt in anima pas sionum notae ' . lllud autem
exs istens in anima quod est sign um rei , ex quo propositio mentalis compo nitur
ad modum quo propositio vocal is componitur ex vocibus, aliquando vocat ur in-
tentio animae, aliquando conceptus animae. aliquando passio animae, aliquando
simílitudo rei, et Boethius in commento super Perihermenias vocat intellectum.
"( ...) por ora, basta considerar que a int enção [conceito] é
algo na alma, que é um signo que significa naturalmente
algo pelo qual pode supor ou que pode ser parte de uma
· - mental" 181· .
propos1çao
Unde vult quod propo iti o memalis componi tur ex intell ectibu s; 11011 quid em ex
intell ectibu s qui sunt realit er anim ae intell ecti vae, sed ex intell ectibus qui sunt
quaedam signa in anima signifi cantia al ia ct ex quibus propositi o mentali s co111-
ponitur. Unde quandocumque aliq uis profert proposit ionem vocalem. priu fo r-
mar interiu s unam propositi onem mentalem, quae nulliu s idi omatis est, in tan-
tum quod multi frequenter formant interiu s propositio nes quas tamen propter de-
feclum idiomati s exprim ere ne ciu nl. Parte taliu m propo iti onum 111 entalium
vocantur conceptus. intentione . similitudin es et imell ectus" . S11 111.Log., f,
12,4 1,8-42,28.
181
A respeito da relação entre função suposicional e sinal lingüí ti co indi camos
particul armente o capítul o 2.2. S11pposirio e teoria li11 g 11ística, da obra de BOT -
T IN, Francesco. La scienza deg li occa misri. Rimini: Maggioli , 1982, p. 77-86.
182
Ockham desenvolve a teoria da suposição em S11111. Lag., l. 63-77. Não desen-
volveremos e te tema aqui . pois, trata-se de u111a sunlo co111 plexo e exigiri a um
outro estudo.
183
··e...) ideo pro nunc suffi ciat quod intentio est quidda111in anim a. quod est sig-
num naturalit er signifi cans aliquid pro quo potes! supponere vel quod pote t
esse pars propositi oni s mentali s''. S11111
. Lag., 1, 12,43.40-53.
184
Swn. Log., 1, l4, 49, 53-64.
1
A respeito de bibli ografia atual sobre o pensamento de Ockham. ver, SPADE,
Paul V . (ed.). Tire Cambridge Co111pa11io11to Ockham. Cambridge: Cambrid ge
University. 2000. Essa obra colllém inúmeros arti gos que tratam do pensamento
de Guilherme de Ockham. lnf elizmeme, não ti vemos aces o a tal texto ante do
término desta dissertação, o que muito teria contribuído para nosso estudo.
158 Coleçãof:ilD!:ofia
- 125
O ptobletnados univetsais: a petspectivade Boécio, Abelatdoe Ockhatn
160 Coleçiior:ilo~ofi:i
- 125
O problema do~ univet~ai~: a per~pectivade Boécio, Abelardo e Ockham
40 - STElN , Ernild o
Aproximações sob re hermen êwi ca
41 - HUSSERL. Edmu nd e ZlLLES , Urba no
A crise da /111111a11id
ade européia e a filosofia
42 - CEZAR , Cesar Ribas
O co11!tecimento abstra ti vo em Du11s Esco to
43 - NEDEL. José
Maq11iavel - concepç áo a111ropo lóg ica e ética
44 - PAVIA ! , Jayme
Estética Mínima - Notas sobre arte e literatura
45 - ULLMANN. Rein holdo A.
O Estoi cism o roma110. Sê11eca. Epicteto e Mar co Au rélio
46 - FfNG ER. ln grid
Metáfora e sig11ificaçáo
47 - FREIBERGER, Mário J.
Açõo e tempo na Bhagavad-Giw
48 - ClR NE-LfMA. Car los R. V.
Dialé tica para principia11tes
49 - JES US, Luciano Marque de
A questã o de Deus 11aFilosofia de Desca rtes
50 - SOUZA, Ricardo Timm de
Tota lidade & Desagr egaçcio
5 1 - OLIVEIRA , Manfredo Araújo de
Tópicos sob re dialética
52 - VIEIRA, Lui z Vicente
A demo craci a em Rousseau
53 - MARTINES. Paulo Ricardo
O A rg um ento IÍnico do Pro slog io11de A11selmo de Cantuária
54 - ROHD EN. Lui z
O poder da linguage m. A arte retórica de Aristóteles
55 - OUVA, Alberto
Ciência e ideologia: Flor esran Fernand es e a .fonuaçiio das ciências sociais 110Bra sil
56 - DE BONI , Lui s Alberto (Trad.)
Gui lherme de Ockham
57 - STEIN, Ernildo
A caminho de uma .fu11da111entaçrio
meta.física
58 - SOUZA. José An tônio & BARBOSA, João Mora is
O Reino de Deus e o rei110 dos ho111
e11s
59 - SANTOS, Antonio Raimundo dos
Repe 11sa11do a filosofia: pr ólogo do co mentário de Gui//1er111
e Ock ham às se111
e11ças.
questão/ª
60 - STEfN , Ernildo
A namn ese: a fil osofia e o retorno do reprimid o
61 - Zll.LES , Urbano
O Proble111a do conh eci111
en10 de Deus
62 - OLIV EIRA , Avelino da Rosa
Marx e a lib erdad e
63 - MACI EL, Sonia Maria
C01p o invisível: 11111
a nova leitu ra na fi losofi a de Merlea u-Ponty
64 - FLECK, Fernando Pio de Almeida
O pr oblema dos f utur os contingentes
65 - ZANOTTI , Gabrie l
Epistemolog ia da eco nomia
66 - FABRI , Marce lo
Desencantand o a ontolog ia: subjetividade e sentido ético e111Lev inas
67 - SILVA , Marco ni Oliveira da
O mund o dos f aros e a estrutura da linguagem: a notícia j omalí stica na p erspec tiva de
Wi11ge 11stei11
68 - KURY , Marin o (Trad . e notas)
Cato Mai or se u De Senectude. Carão o velho 011diálogo sobre a velhi ce
69 - ROHDEN , Cleide Cristina Sca riatelli
ge111do sag rad o e o mun do mo derno à 111
A ca111ufla ~ do pe nsam ento de Mi rcea Eliad e
70 - KAMMER , Marcos
A din âmica do Lra/Jalho abstrat o 11a socie dad e mode rna : 111naleitura a pa rtir da s bar -
bas de Marx
71 - FEUPPI. Maria Cristina Poli
O espírito como heran ça: as origens do sujeito conte111p
ora11eo na obra de Hege l
72 - ALMEIDA , Claudio de
Russe ll 011the f ou11da tions ofl og ic
73 - CARVALHO , Jo sé Maurício de
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Do liberali smo ao neoliberali smo
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Formas do dizer: qu estões de método, conhecimento e ling 11
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Ética e ge nética
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A escravidã o em A ristóteles
Coleç:iol=ilo
sofia - 125 16 1
PedroLeiteJunior
162 ColeçãoJ:ifosofia
- 125
O problemado~univer~ai~: de Boécio,Abelardo e Ockharn
a per~pectiva
Coleção l=ilo~ofia
- 125 L67
PedtoLeiteJuniot
168 ~
EDIPUCRS
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