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Sabrina Florêncio Ribeiro

FRATERNIDADE, SOCIEDADE E DIREITO


1ª edição

Fortaleza
Edição do autor
2016
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Liberdade, igualdade e..


fraternidade? Onde se encontra o
terceiro elemento ideológico da
famigerada Revolução Francesa?

Antes de ir a fundo na busca


sobre o surgimento e dissipação
desse princípio na doutrina e nas
estruturas legais, uma serie de
hipóteses são levantadas.

Mas afinal, por onde anda a


fraternidade? É um princípio
impraticável? Foi uma bandeira
levantada na Revolução Francesa
e nela se findou? É incompatível
com o Direito, sendo permeada
por elementos religiosos?

Essas indagações foram


questionadas nesse livro, levando
a um conceito objetivo deste
princípio, extraído das fontes
históricas e elementos de
pesquisa utilizados.

Tal conceito possui uma


aplicabilidade prática e crucial no
soerguimento do Estado
democrático. A visão fechada e
objetiva do Direito é sobreposta
pela relacional.

Uma viagem pela história e o


ingresso em um princípio
desconhecido.

Se você se interessou por esse


título e esta lendo esta orelha de
livro, há algo que você possa
fazer não só pelo Direito, mas
pela sociedade em que este se
estrutura.

O que seria? Vamos descobrir.


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Agradecimentos

Lembro-me bastante de um ensinamento que ouvi outrora em que se dizia que


quanto mais se reverencia à ancestralidade, maior e mais forte são suas raízes,
assim, maiores os voos, pois mais frondosas são as arvores.

Deus me agraciou com uma primorosa ancestralidade, o que facilitou todo esse
processo, pois meus pais praticamente viveram em função da criação e sustento
de mim e do meu irmão.

Assim, eu os reverencio, agradeço e poderia escrever um livro só listando todos


os sacrifícios que meus pais delegaram a mim.

Este trabalho foi gerado no seio da Universidade de Fortaleza, na qual cursei o


mestrado. Nela contei com o apoio de grandes nomes como Natércia Sampaio
Siqueira, Lilia Maia de Morais Sales, Márcio Augusto de Vasconcelos Diniz e Ana
Maria D’Ávila Lopes, a todos, minha mais profunda gratidão.

Penhoro meus agradecimentos ainda a Letícia Gois, a tia letícia, que em


momentos de nuvens cinzas, ao passar minhas ideias para o papel, sempre me
ajudou a clarear, organizar e deixar de uma forma de mais fácil assimilação.

No mais, devo dizer que para mim foi fácil pensar, estudar, pesquisar e falar de
fraternidade, pois após passar por privações e sérios problemas pessoais, sempre
foi no outro que encontrei o conforto e forte alicerce.

Minha gratidão ao mundo pela forma como tem me acolhido.


Os homens podem tornar-se belos e
felizes sem que, para isso, tenham de
deixar de viver na Terra. [...] Um sonho?
Mas que é um sonho? Não será a nossa
vida um sonho? Esperem, que vou dizer-
vos ainda mais. Bem, admitamos que isso
nunca venha a realizar-se e que este
paraíso não chegue nunca a ser uma
realidade (eu próprio admito isto!); bem,
pois, apesar de tudo, continuarei
anunciando a boa nova. [...] ‘A consciência
da vida é superior à vida, o conhecimento
das leis da felicidade - é superior à
felicidade’ - é contra isso que é preciso
lutar! E é o que vou fazer. Basta que todos
queiram, e tudo se acerta agora mesmo.
(DOSTOIÉVSKI, 2003, p.122-123)
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7

1 Revolução Francesa: A grande revolução burguesa ........................................... 10

1.1 A Revolução Francesa ................................................................................. 11

1.2 O tripé histórico da Revolução Francesa: a liberdade, a igualdade e a


fraternidade ................................................................................................ 17

1.3 A trilogia francesa: para onde foi a fraternidade? ........................................ 28

2 Evolução histórica do conceito de fraternidade.................................................... 37

2.1 O desenvolvimento da concepção de fraternidade sob a perspectiva filosófica ..... 37

2.2 Quebrando as barreiras com a teologia cristã ............................................. 45

2.3 O princípio da fraternidade em âmbito político............................................. 49

2.4 O princípio da fraternidade como categoria jurídica ..................................... 55

2.5 Distinção conceitual entre fraternidade e solidariedade............................... 65

3 O RETORNO DA FRATERNIDADE NO DISCURSO DEMOCRÁTICO COMO


ELEMENTO DE EQUILÍBRIO E UNIFICAÇÃO SOCIAL ................................... 68

3.1 A ligação mística como vínculo de união entre os indivíduos ...................... 76

3.2 A Nação como elemento de unificação e a substituição do princípio da


fraternidade pelo princípio da solidariedade no Estado .......................... 79

3.3 A fraternidade na pós modernidade: alteridade e dialogicidade como


elementos harmonizadores em uma sociedade plural .......................... 86

3.4 A concretização de um Estado dialógico com fundamento na fraternidade ....... 88

CONCLUSÃO.......................................................................................................... 107

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 110

ANEXOS ................................................................................................................. 120


INTRODUÇÃO

O modo de produção hodierno, que teve como germe os burgos nos entornos
dos grandes feudos medievais, traz incrustado um individualismo associado à
primeira dimensão de direitos fundamentais lema fortemente levantado na
Revolução Francesa. A classe burguesa, ao romper com o antigo regime, precisava
de liberdade para o seu crescimento dentro da sociedade. Sem dúvida que - de um
corpo jurídico decorrente da revolução de 1789 formado por liberdade, igualdade e
fraternidade – os direitos relacionados à liberdade se mostram muito mais protegidos
e sedimentados. Grandes juristas se debruçam sobre a busca de novas dimensões
de direitos humanos, além da segunda e da terceira, todavia, cabe indagar, antes de
avançar a outras dimensões, sobre a construção e evolução da segunda e terceira.

Após a revolução industrial, com todo um contexto desfavorável aos novos


trabalhadores urbanos, uma serie de direitos sociais - após greves, lutas e rebeliões
- foram cobertos pelo manto do Direito e, posteriormente, principalmente após o
constitucionalismo social, foram positivados nas Cartas Magnas de vários países
elevando-os a direitos fundamentais. Inobstante a tutela desses direitos pelo Estado,
nem todos os países conseguem concretizar esses direitos junto aos seus cidadãos.
Atualmente existem grandes debates quanto ao ativismo judicial na busca de uma
aplicabilidade mais subjetiva desses direitos trazendo à tona temas como o limite da
reserva do possível – teoria de origem alemã importada por juristas brasileiros.
(KELBERT, 2011, p.74).

Isso decorre de três fases atreladas ao princípio da igualdade. (CARVALHO,


2013, p.8). A primeira seria uma igualdade meramente formal. Esta,
indubitavelmente já foi conquistada. A própria Lei Fundamental brasileira proclama
no art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”.
(BRASIL, 1988).
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A segunda fase da igualdade insere o princípio da proporcionalidade e da


razoabilidade. A terceira traz uma materialidade no sentido de fazer justiça, de
atender as necessidades individuais. É inegável que materialmente, ou seja,
pragmaticamente ainda não se consubstancializaram os direitos com escopo
igualitário dentre os indivíduos componentes de uma sociedade.

Isto posto, uma vez que os direitos estão na Constituição - além do que o
cenário jurídico atual aufere uma normatividade aos dispositivos constitucionais -
seria essa uma responsabilidade unicamente do Estado? A incompletude na
consecução dos fins propostos pelo princípio, seja ontologicamente como ideal
constitucional, seja como princípio positivado operante, se dá em face da ausência
da atuação do protagonismo dos cidadãos dentro do Estado democrático.

A palavra fraternidade é oriunda do latim e quer dizer: irmão. Tal dimensão traz
uma sinestesia abstrata, um tanto intangível e inalcançável. Essa esfera vem
encontrando um novo alcance após o início da década de 90, no século XX. A
globalização, que surge exatamente nesse período, facilitou o intercâmbio de
informações entre as pessoas, o que proporcionou nas últimas décadas uma
proliferação de ONGs atuando em âmbito internacional. Esse cenário foi turbinado
pelas redes sociais que movimentam os usuários da rede em torno de vários temas,
dentre os quais humanitários.

O momento, apesar dos avanços, ainda é de grande instabilidade ideológica.


Infelizmente, por uma questão cultural, grande parte dos brasileiros esperam de
outrem, precipuamente do Estado, a resolução dos problemas e manutenção
harmônica da sociedade. A questão é que a fragilidade da fraternidade é o grande
entrave para a efetivação da isonomia no plano fático e só quem se reinventa por
interesses da classe dominante é a esfera atrelada a liberdade.

Isto posto, almeja-se enfrentar a temática quanto a um possível “esquecimento”


quanto ao princípio da fraternidade em relação aos três princípios da tríade francesa,
para esse fim, inicialmente, será realizado um estudo para fins de compreensão do
contexto da revolução francesa, período em que atuavam o movimento Iluminista,
Ilustracionista, a maçonaria francesa, a burguesia e demais classes envolvidas na
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formação e desenrolar da revolução, bem como na elaboração da divisa


republicana.

Uma vez enfrentada a questão da formação da divisa republicana, como se


deu e a razão pela qual a fraternidade foi escolhida como o terceiro princípio a
compor a tríade, ato contínuo, segue-se com o estudo da história do conceito de
fraternidade, posto que uma das motivações elencadas pelos juristas como de
conformação inadequada à fraternidade para o Direito seria um caráter
essencialmente teológico, o que uma compreensão do termo nas perspectivas
filosófica, teológica, política e jurídica, permite dirimir eventuais imprecisões quanto
ao seu enquadramento. A partir de então será cunhado o conceito de fraternidade
aplicado para as circunstâncias atuais, destacando seus principais eixos de atuação.

O termo fraternidade sofreu ainda preterição em relação à solidariedade pela


suporta prevalência de um caráter científico e operacional que favoreceriam a
segunda concepção para uma atuação mais condizente na Ciência Jurídica, tais
alegações serão ponderadas. Nesse diapasão, serão estudados também a
relevância da construção, manutenção, transformação e caráter dos vínculos que se
instauram entre os indivíduos de uma sociedade, uma vez que a fraternidade e a
solidariedade são termos que se relacionam com construção de relações verticais,
horizontais, empoderamento, legitimidade, equilíbrio e déficit democrático.

Por fim, diante da compreensão do que se trata o princípio da fraternidade,


quais suas motivações e razões históricas, e vindo a se enfrentar os principais
argumentos contrários a uma atuação da fraternidade em orbe jurídica, almeja-se
uma colocação do princípio referido como harmonizador de vínculos no Estado de
Direito dentro de uma proposta dialógica como elemento de equilíbrio entre os
demais princípios que compõem a divisa republicana, quais sejam, liberdade e
igualdade.
1 REVOLUÇÃO FRANCESA: A GRANDE REVOLUÇÃO
BURGUESA

O objetivo deste capítulo é compreender a conjuntura em que ocorreu a


Revolução Francesa e as aspirações iluministas que culminaram com os valores
levantados como bandeira norteadora na Revolução Francesa de 1789. A partir daí,
com a eclosão do movimento, tem-se um novo cenário: a ideologia sai do plano
metafísico e de meras elucubrações de grandes filósofos e passa a ser executada
por outras camadas sociais que lhe darão novos contornos.

A discussão focalizará a atenção em um “possível” esquecimento do princípio


da fraternidade, diante da construção desse novo Estado francês a partir de 1789,
oportunidade em que se apresentarão de forma muito mais robusta outros
princípios, entre eles, a liberdade. É o fim da monarquia absolutista e a extinção de
privilégios seculares ligados ao feudalismo, bem como, trata-se de uma revolução
ecumênica, tudo em oposição ao Ancién regime.

A Revolução Francesa foi escolhida como marco temporal no presente estudo,


pois é o momento em que se trabalhará a fraternidade de forma politizada e
associada à República, que se pretendeu instaurar por ocasião da Revolução,
dissociando-se do caráter religioso utilizado outrora. O enfoque que será dado à
fraternidade neste estudo é na perspectiva político-jurídica, não se descartando, no
entanto, o diálogo que o Direito pode vir a ter com outras áreas.
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1.1 A Revolução Francesa

Liberdade, igualdade e fraternidade. O famoso lema - que será associado


posteriormente à bandeira tricolor francesa – foi pronunciado em famoso discurso
pelo então deputado Maximilien de Robespierre, advogado e político francês, na
Assembleia Nacional em Paris, em 5 de dezembro de 1790. O objetivo de seu
discurso, à época, era defender os direitos de todos os cidadãos em ingressar na
Guarda Nacional. (CASTRILLÓN, 2004).

Robespierre, assim como os demais estudiosos que tiveram acesso às grandes


obras literárias do período iluminista, reunia-se frequentemente em Paris com outros
intelectuais para deliberar sobre essa nova conjuntura, delineando um novo cenário,
pois a França era, de há muito, entre todas as nações da Europa, a mais literária.
“Contudo, seus homens de letras nunca tinham demonstrado o espírito que
revelaram em meados do século XVIII, nem ocupado o lugar que então galgaram.”
(TOCQUEVILLE, 1982, p. 143).

O movimento iluminista teve grandes expoentes, como Thomas Hobbes, John


Locke, Kant, Cesare Beccaria, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson. Na França,
citam-se, especificamente, grandes nomes como Voltaire, Charles de Montesquieu,
Denis Diderot e Jean-Jacques Rousseau. Esse processo foi responsável pela
quebra de antigos paradigmas, que foram substituídos por ideais racionais, sendo a
razão a fonte de luz maior de todas as ciências, o que desencadeou uma série de
questionamentos e reflexões.

Assim, pontifica Tocqueville (1982, p. 144) que as ideias que pairavam nas
mentes dos filósofos franceses se encorparam e desceram às multidões,
“inflamando a imaginação das mulheres e dos camponeses [...] tomando a
consistência e o calor de uma paixão política”. O cenário era propício, pois a França
enfrentava uma crise de déficit nos cofres públicos, atribuída aos gastos
extravagantes da corte, em especial da Rainha, no Palácio de Versalhes, o
envolvimento da França com a Guerra da independência americana, desmoderados
impostos. Além disso, as circunstâncias climáticas eram adversas, prejudicando as
plantações, incorrendo no aumento do preço do trigo, que acarretou o aumento do
preço do pão, base da alimentação dos integrantes do Terceiro Estado. A
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insatisfação era geral e, portanto, a Revolução Francesa, conforme certifica Eric


Hobsbawn (1996, p. 18):

Não foi feita ou liderada por um partido ou movimento organizado, no


sentido moderno, nem por homens que estivessem tentando levar a cabo
um programa estruturado [...] surpreendente consenso de ideias gerais
entre um grupo social bastante coerente deu ao movimento
revolucionário uma unidade efetiva. [...] O grupo era a ‘burguesia’, suas
ideias eram as do liberalismo clássico, conforme formuladas pelos
‘filósofos’ e ‘economistas’ e difundidas pela maçonaria e associações
informais. (Grifo nosso).

Diante desse contexto, o Rei Luís XVI, no final de 1788, convocou uma
Assembleia Nacional com as três ordens, quais sejam, a nobreza, o clero e os
comuns. Hobsbawn (1996, p. 124) sustenta que, dentre as três classes, a nobreza
cairia junto com o trono, uma vez que ela “tem para o rei e principalmente seus
agentes uma atitude mais ativa e uma linguagem mais livre que o terceiro estado
que, em breve, derrubará a realeza”.

O clero se dividia em alto e baixo clero, o primeiro com bispos quase sempre
vindos da nobreza, e os últimos de origem mais modesta. No que diz respeito ao
clero, o autor supracitado aduz:

Jamais houve no mundo um clero mais notável que o clero católico da


França na hora em que a Revolução o surpreendeu, nem mais esclarecido,
mais nacional, menos entrincheirado em suas virtudes privadas e melhor
munido de virtudes públicas ao mesmo tempo que de mais fé: a persecução
bem o demonstrou. (HOBSBAWN, 1996, p. 126).

A última convocação de Estados Gerais havia sido feita em 1614. Em 1788,


174 anos depois, o Terceiro Estado já não era mais o mesmo. As ideias iluministas
circulavam, e mais de 50 mil “Cahier de plaintes et doléances”1 (cadernos de
queixas) foram preenchidos. (CARLYLE, 1961; DHÔTEL, 2015).

A Assembleia dos Estados limitava-se a evitar conflitos entre nobreza e clero,


que sempre votavam juntos, deixando o povo à margem. Esse quadro vai sendo
modificado, à medida que se intensifica a atuação dos pensadores, inclusive com a
formação de clubes, que passam a agir inspirados em ideias iluministas.

Conforme relata Thomas Carlyle (1961, p.110-111), “formam-se clubes: Société


Publicole; Clube Bretão; Clube dos Enraivecidos, Clube des Enragés. E, ao mesmo
1
Espaço reservado aos franceses para expor suas críticas, reclamações e queixas, uma espécie de “ouvidoria”.
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tempo, há jantares seletos no Palais Royal.” Alguns desses pensadores andavam


com a obra “O contrato social” no bolso, outros com a obra de Abbé Sieyès, “Que é
o Terceiro Estado?”, a resposta: “O Terceiro Estado é a nação.”

Jacques Necker, o diretor geral de finanças, apresentou um projeto bastante


ousado no ano de 1796 (MICHELET, 2003, p. 125), em consonância com a essência
das convicções à época, que acarretou a dissensão do rei e, assim, todo um
impasse que desencadeou a primeira jornada revolucionária e a Tomada da
Bastilha. O conflito de interesses entre o Antigo Regime e uma França mais
esclarecida é passível de constatação histórica por meio da leitura de alguns
documentos, dentre eles uma declaração emitida pelo rei em 23 de junho de 1789:

Declaração do rei (23 de junho de 1789)


[...] I. O rei anula a vontade de cinco milhões de eleitores, declarando que
suas exigências não passam de informações.
O rei anula as decisões dos deputados do Terceiro, declarando-as ‘nulas,
ilegais, inconstitucionais’.
O rei quer que as ordens permaneçam distintas, que uma só possa entravar
as outras (que dois centésimos da nação pesem tanto quanto a nação);
Se eles querem reunir-se, ele o permite, apenas dessa vez – e ainda
apenas para as questões gerais; - nessas questões não estão incluídos
nem os direitos das três ordens, nem a constituição dos próximos Estados,
nem as propriedades feudais e senhoriais, nem os privilégios de dinheiro ou
de honra... É todo o Antigo Regime que está assim ressalvado. [...].
(MICHELET, 2003, p. 126).

“Parece-me que a nação reunida não pode receber ordem.” (MICHELET, 2003,
p. 129), disse o Rei Luís XVI, após constatar certa dificuldade em governar com a
Assembleia instaurada. Assim, após sua declaração, o rei determinou a separação
das ordens. É interessante esse choque de realidades: uma que está por vir, e outra
que está na iminência de ser superposta, esse momento da assembleia geral, da
troca de ideias, da dificuldade de conciliação dessa nova ideologia com privilégios
que sufocaram a liberdade, a igualdade e a fraternidade por tanto tempo. O povo,
agora, está em um período iluminado, portanto não aquiescerá à pressões vindas da
corte, pois já possui maior consciência do seu valor diante do Estado.

O vício, na paixão de uma grandeza tão sincera, na chama do entusiasmo,


tornava-se puro por um instante. Os mais depravados erguiam a cabeça e
olhavam o céu; seu passado, esse sonho mau, estava morto por um dia;
honestos? Eles não podiam ser, mas sentiam-se heroicos, em nome das
liberdades do mundo! Amigos do povo, irmãos entre si, já nada tendo de
egoístas, prontos a tudo partilhar. (MICHELET, 2003, p. 135, grifo nosso).
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“Na França, na véspera do dia em que a revolução vai explodir, não se tem
ainda nenhuma ideia precisa sobre o que ela vai fazer.” (HOBSBAWN, 1982, p. 52).
A primeira atitude de grande afronta ao rei foi o Terceiro Estado considerar-se como
Assembleia Nacional. Nomeiam-se Os Estados Gerais como Assembleia Nacional
inviolável, com membros invioláveis, formados com o escopo de elaborar uma
Constituição para a França. (CARLYLE, 1961, p.145; 150-151).

A Declaração dos Direitos do Homem foi apresentada pelo general La Fayatte,


que havia servido à França com grande destaque e brilhantismo durante a guerra
Americana pela independência contra a Inglaterra. O exército cercava os Estados
Gerais. Necker recebeu ordem de afastar-se e encaminhou-se a Bruxelas. Esse fato
não foi recebido de bom grado pela população, nem tampouco a quantidade de
levas de integrantes do exército que chegavam para fazer a guarda dos Estados
Gerais, pois, preocupado com os últimos acontecimentos, Luís XVI convocou
regimentos suíços e alemães às portas de Paris. (CARLYLE, 1961, p.157).

Aux armes! (Às armas!), “A 13 de julho, Paris só pensava em defender-se. A


14, atacou.”, diz Michelet (2003, p. 153). Pela primeira vez o povo acreditou em uma
resposta à indiferença do rei diante do pleito nas eleições dos Estados Gerais, em
razão do posicionamento hostil com o exército cercando Paris e em demonstrações
de violência, das quais as notícias se espalhavam, insuflando a nação a também
querer pegar em armas, e o local onde havia armas em Paris era a Bastilha.

O povo tomou a Bastilha, uma velha fortaleza, onde se abasteceu de armas,


pólvora e fuzis. O sentimento de comunhão chegava a, provavelmente, um dos
níveis mais altos durante a Revolução: “Que esse grande dia permaneça então
como uma das festas eternas do gênero humano, não apenas por ter sido o primeiro
dia da libertação, mas por ter sido o mais alto na concórdia!”. (MICHELET, 2003,
p.154).

Na iminência da eclosão da Revolução, não se tem nem noção do rompante a


desabrochar. “À medida que se vê aparecer a cabeça do monstro, que sua
fisionomia singular e terrível vai se descobrindo.” (HOBSBAWN, 1996, p. 52).

Quanto a isso, assevera Hobsbawn nunca ter se visto no mundo um poder


parecido desde a queda do império romano (1996, p. 57), pois o espírito de
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independência criava uma disposição de enrijecimento contra quaisquer abusos de


autoridade. (TOCQUEVILLE, 1982, p. 124). Ressalte-se essa união era entre o povo
do Terceiro Estado, pois a nobreza admitia o peso da mão do poder a sua volta, só
não sobre eles próprios. (TOCQUEVILLE, 1996, p. 124).

Perante a tomada da Bastilha, o rei Luís XVI pronunciou-se, colocando La


Fayette como comandante-geral da Guarda Nacional, chamando Necker de volta e
recebendo Jean-Sylvain Bailly, prefeito da Comuna de Paris. O rei auspiciava que
definições pontuais iriam dispersar o povo e pôr fim a Revolução, mas isso era só o
começo. Em 4 de agosto, a Assembleia proclamou a igualdade tributária, além de
abolir os direitos dos senhores sobre os súditos (os direitos feudais) e alguns
impostos e os privilégios dos nobres e do clero. Em 26 de agosto, foi votada a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Em uma análise da citada Declaração, observa-se de forma bastante clara a


influência da liberdade, como fica demonstrado no artigo 1º. Alguns estudiosos
entendem que a presença significativa da liberdade se deve a uma influência da
Declaração Americana, não obstante tal matéria ser controversa. É possível
identificar de forma marcante a igualdade no artigo 6º. Na primeira versão, a
fraternidade ainda é muito tênue. O máximo que se vê é no artigo 4º a exigência de
que atreladas à liberdade estejam todas as condutas que não prejudiquem o
próximo, conforme se pode constatar:

Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções


sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.
[...]
Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o
próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem
por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da
sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser
determinados pela lei.
[...]
Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o
direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua
formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para
punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis
a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua
capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos
seus talentos. (DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO
CIDADÃO, 2015, online).

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é a primeira de caráter


universal com conteúdo de direitos humanos, todavia, mais voltado ao indivíduo,
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pois, embora estivesse havendo uma forte atuação do Terceiro Estado para o
desenrolar da Revolução, foi meditada por filósofos, alguns deles liberais, como
John Locke. A condução pela classe burguesa e o privilégio pela implementação dos
direitos relacionados à liberdade concedem à Revolução Francesa um caráter
extremamente burguês, que ficou bem marcado em sua primeira declaração.

O luxo de Versalhes dissonava da crise francesa, de modo que o povo exigiu


que a família real ficasse mais próxima, instalando-se em Paris, no Palácio das
Tulherias, e o rei assim o fez. Essa atitude, conquanto, não exprimia as genuínas
intenções reais, e prova disso foi a malograda fuga, em 18 de abril de 1791. O rei e
toda a família real tentaram fugir rumo à Áustria, país a que pertencia a rainha, com
a finalidade de receber guarida e reunir forças para fazer frente à Revolução, que de
modo algum agradava aos reinos onde ainda vigia a monarquia absolutista.

Em 3 de setembro de 1791, a Constituição francesa arrematava, dentre outras


conquistas (FRANÇA, 1791, online):

Divisão do território nacional em departamentos;


Abolição dos privilégios feudais;
Decretação da igualdade perante os impostos;
Decretação da liberdade de imprensa;
Concessão aos judeus e protestantes a condição de cidadãos;
Abolição da tortura etc. [...].

Os deputados franceses, embora ressabiados com a fuga de Luís XVI,


aquiesceram sua permanência e da monarquia, desde que o rei aceitasse o
estabelecido na Constituição. Assim foi feito. Não obstante, o rei, que era cheio de
artimanhas, sugeriu uma guerra contra a Áustria, por achar que a França seria
derrotada e, assim, retomaria o domínio do país para si.

Os sans-culottes, artesãos e operários parisienses estavam descontentes com


o rei, que fora feito prisioneiro. Com a vitória de Valmy, triunfo de tropas francesas
sobre tropas austríacas, finalmente suplantou-se a monarquia, estabelecendo-se,
em 21 de setembro de 1792, a Primeira República. No mesmo ano, no mês de
novembro, Luís XVI foi processado e considerado culpado, como a maioria dos
veredictos daqueles que enfrentavam processos.

A consequente execução do rei gerou revolta externa e interna. A uniformidade


de intenções que existia no início da Revolução dá lugar a uma dissensão existente
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nas ruas e na convenção nacional entre girondinos e montanheses. Inicia-se o


período denominado Terror, que ensejou que mais de 35 mil execuções fossem
realizadas pelo tribunal revolucionário, encarregado de julgar atos
contrarrevolucionários. Entre essas execuções, estiveram inseridos alguns líderes
da Revolução, dentre eles Georges Jacques Danton e Maximilien de Robespierre.

Os cidadãos, depois de uma guerra tão sanguinária, com tantas execuções,


guilhotinamentos, fuzilamentos e recrutamento militar obrigatório, queriam ter uma
vida de qualidade, queriam poder se divertir, queriam ter a calma de volta. Sem
grandes líderes para trazer estabilidade à França, quem fará isso será Napoleão
Bonaparte, instaurando um Império e pondo fim à Revolução Francesa.

Nesse diapasão, como ficou o lema tríplice “liberdade, igualdade e


fraternidade”? Foi erradicado com o término da Revolução? Ele a influenciou? Até
que ponto? Nos tópicos que se seguem essas respostas serão concedidas.

1.2 O tripé histórico da Revolução Francesa: a liberdade, a


igualdade e a fraternidade

Discorreu-se no tópico predecessor o decurso dos fatos históricos da


Revolução Francesa. A partir de agora, serão analisadas as ideias que serviram de
liame e fator propulsor e de desencadeamento do movimento. O tripé histórico da
Revolução Francesa será, então, associado à bandeira tricolor francesa, sendo a
liberdade azul, a igualdade branca e a fraternidade, vermelha.

[...] Foi a França que fez suas revoluções e a elas deve suas ideias, a ponto
de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema
de praticamente todas as nações emergentes, e as políticas europeias (ou
mesmo mundiais), entre 1789 e 1917, foram em grande parte lutas a favor e
contra os princípios de 1789, ou ainda os mais incendiários princípios de
1793. (HOBSBAWN, 1996, p. 7).

Conforme demonstrado, a Revolução Francesa foi planejada por intelectuais,


almejando melhoria para a sociedade como um todo, ainda que isso incorresse na
perda de privilégio para a nobreza. O objetivo era uma sociedade mais justa, mais
igual e mais livre. Havia um “surpreendente consenso de ideias gerais entre um
grupo social bastante coerente que deu ao movimento revolucionário uma unidade
efetiva.” (HOBSBAWN, 1996, p. 18).
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As ideias gerais da multicitada Revolução Francesa são de inspiração


iluminista e, segundo Daniel Mornet (1933, p.397), foram os profissionais liberais,
pertencentes ao Terceiro Setor, os quais se reuniam em clubes, que permitiram o
desenvolvimento da Revolução em uma perspectiva intelectual desde seu
surgimento até 1791, ano a partir do qual desce do plano das ideias e passa a ser
meramente factual, violenta e sanguinária.

Há autores, como Donald Sutherland (1985, p. 35), que discordam da forte


influência social do pensamento das luzes à época, pois a maioria da população
voltava-se intelectualmente ao maravilhoso e ao fantástico e não a razão,
consumindo mais livros sensíveis a temas da religião católica. Relativamente ao
tema, Jacques Solé (1989, p.18-19) expõe que: “A nobreza esclarecida era o único
grupo da população capaz de compreender e patrocinar a filosofia das Luzes”, que
seria a filosofia iluminista.

Sobre as camadas sociais de profissionais liberais, T. C. Blanning (1991) faz


importantes considerações mostrando as diferenças que havia entre a camada
aristocrática, que tinha interesse em manter suas regalias, apesar do que, uma
grande parte desses aristocratas, embebidos pela luminescência e efervescência do
momento, abriam mão e defendiam a derrogação de privilégios da nobreza,
fortalecendo o lema da igualdade:

Os revisionistas salientam também a heterogeneidade da nobreza e da


burguesia. Tão diversos eram os membros de cada grupo em termos de
riqueza, posição social e perspectiva que nem constituíam uma classe. Ao
contrário, os escalões superiores de cada um se juntaram para formar uma
elite singular – ‘os notáveis’ -, unificada pela opulência e capacidades.
Como sugere um rótulo alternativo – l’élite des lumières -, tal fusão
encontrou expressão ideológica no iluminismo, não como credo ou criação
da burguesia, mas, numa larga medida, como obra da nobreza liberal.
(BLANNING, 1991, p. 9-10).

Destaque-se na Revolução Francesa um emaranhado de estratos sociais, cada


um com suas insatisfações, dando a ela a complexidade de ser uma das maiores
revoluções da história, mesmo que não em resultados imediatos, mas com uma
série de fatos a serem analisados e com inspirações intelectuais que serão
constantemente retomadas.
19

É preciso compreender os bastidores de disposição da Revolução Francesa e


essa formação contextual histórica e social para que se possa assimilar com mais
perfeição o arranjo em que se formaram e se puseram em disposição os três ícones
basilares que ressoaram por toda a eternidade.

Monet vai trabalhar toda a base iluminista que dará origens às ideias que
servirão de sustentáculo ao movimento revolucionário, como discussões sobre as
leis naturais, trazendo fundamentos desde Hugo Grócio e Samuel von Pufendorf,
naturalistas.

Segundo Monet (2006, p. 155): Leur conclusion explicite est que les hommes
ont des droits, des dignités qui s’opposent à l’idée d’un gouvernement despotique.2 O
historiador Alphonse Aulard (1910, p.91) defende a existência de valores
republicanistas pré-revolucionários na França: “Perhaps the republican frame of
mind has always existed in France, in one form or another, since the beginning of the
Renaissance.” 3

Ainda segundo o autor, “this is why in 1972, when circumstances made the
Republic necessary, there was a sufficient number of thinking men prepared to
accept, and to force on others, a form of government of which they had already
adopted the principles.4”

Surge o gérmen da liberdade, algo que vai eclodir agora, mas que já vem
sendo pensado por vários historiadores, como, por exemplo, Montesquieu, quando
fala que o governo monárquico deve se submeter às leis fundamentais, no capítulo 4
do seu “Do Espírito das Leis”. Surge, também, o gérmen da igualdade: não há
classe melhor que a outra; o que existe é uma organização de poderes. “Os poderes
intermediários, subordinados e dependentes, constituem a natureza do governo
monárquico, isto é, daquele onde um só governa com leis fundamentais.” (1979, p.
11)

2
A conclusão explícita é a de que os homens têm direitos, dignidades que se opõem à ideia de um governo
despótico.
3
Talvez, o modo de pensar republicado tenha sempre existido na France, de uma forma ou de outra, desde o
início da Renascença.
4
É por isso que, em 1972, quando as circunstâncias fizeram a República necessária, houve um número
suficiente de homens racionais preparados para aceitá-la, e para forçar sobre os demais, uma forma de
governa da qual eles já haviam adotado os princípios.
20

Segundo Antonio Maria Baggio (2008, p. 7), o lema “Liberdade, igualdade,


fraternidade” só virá a ser oficial em 1848, com a república revolucionária, vindo a
sofrer várias oscilações, como será visto mais adiante. Apenas em 1946, o lema
encontrará assento de forma expressa na Constituição da República Francesa
(FRANÇA, 1946, online), nos seguintes termos:

ARTIGO 2º
A língua da República é o francês.
O emblema nacional é a bandeira tricolor: azul, branco, vermelho.
O hino nacional é a ‘Marselhesa’.
O lema da República é: ‘Liberdade, Igualdade, Fraternidade’.
O seu princípio é: governo do povo, pelo povo e para o povo. (Grifo nosso).

Qual o grande marco desse momento histórico? Para o presente estudo é o


fato de que, pela primeira vez, a fraternidade passa a ser trabalhada politicamente,
de forma conjunta, com a liberdade e com a igualdade.

Baggio (2008) pontifica a influência da cultura cristã, grande responsável pela


difusão da fraternidade, antes mesmo da Revolução Francesa. Para os cristãos, a
fraternidade, por englobar a liberdade e a igualdade, substitui estas últimas, não
sendo necessário um lema tríplice.

Apesar de a fraternidade passar a integrar o lema juntamente com a liberdade


e a igualdade, o arcabouço teórico inicial focava preferencialmente nas duas últimas,
já predizendo o cenário que se instalaria. Os burgueses, a essa época, já possuíam
um aclareamento de ideias iluministas e um bom relacionamento gerado nos clubes
em que se encontravam profissionais liberais, como advogados, professores e
médicos na capital parisiense, discutindo, horas a fio, sobre as regalias da nobreza e
obras clássicas de Diderot, Voltaire, John Locke, dentre outros.

A classe burguesa, tão intelectualizada e atuante, era contra uma forte


intervenção do Estado. Eram necessárias liberdades, seja na perspectiva do
indivíduo, seja na perspectiva estatal, para que prosperasse um novo tipo de Estado,
o Estado burguês. E, então, serão atrelados de forma inexorável os direitos
associados às liberdades, presentes no primeiro documento da Revolução em 1789,
a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que embora albergue direitos
relacionados à igualdade, trata de forma mais enfática sobre direitos relativos às
liberdades.
21

Ressalte-se que na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão não há


qualquer tipo de alusão à fraternidade, a não ser que se force uma interpretação
extensiva do artigo 5º, quando diz: “A lei não proíbe senão as ações nocivas à
sociedade.” (DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO DE 1780,
2016, online), de onde se conclui que se a lei proíbe ações nocivas à sociedade, a
contrário sensu, determina que se atue de forma não nociva a sociedade como um
todo e, portanto, de forma benéfica e salutar. Todavia, para que se tente enxergar
algo da fraternidade no primeiro documento é necessária uma interpretação
extremamente forçosa, para não dizer inútil.

O objetivo fulcral da burguesia não era especificamente o lema proclamado,


mas, conforme Jacques Solé (1989, p. 20): “um Estado secular com liberdades civis
e garantias para a empresa privada e de um governo de contribuintes e
proprietários”. Sobre a classe esclarecida, o citado autor reitera em sua obra que
esses trabalhavam temas alheios às adversidades materiais, mostrando pouco
comprometimento com as causas que desencadearam a Revolução, postura que
ensejou, mais à frente, problemas com sua concretização, a qual, na verdade, será
realizada pelo povo.

Apesar do destaque dado à tríade do lema, outros valores se destacavam à


época, como o republicanismo e a democracia, sendo também basilares na
Revolução Francesa. Ambos estão atrelados à questão da fraternidade laica, que
pressupõe também liberdade e igualdade. É um tripé sobre o qual se estrutura o
Estado. Sem qualquer um destes, o Estado não se sustenta.

Essa tríade na Revolução de 1789 não foi proclamada como lema oficial da
República ou imposto como mote pátrio, como fez o governo provisório de 1848.
Naquela primeira Revolução, a de 1789, tudo isso está apenas em formação.
Corroborando com esse entendimento, Aulard (1910, p. 7), traz à tona um juramento
cívico, em 22 de dezembro de 1789, o compromisso de fidelidade “À nação, a lei e o
Rei.”, em suas palavras:

Le serment civique édicté par la loi du 22 décembre 1789 contenait un


engagement de fidélité « à la nation, à la loi et au roi », il arriva souvent
22

qu’on inscrivit en tête d’actes publics ou privés, ces mots: La Nation, la Loi,
5
le Roi, qui formèrent comme une devise patriotique .

Já em 1792, a igualdade e a liberdade ganham espaço no cenário francês.


Nesse contexto, assevera Aulard (1910, p. 7): “Un nouveau serment civique fut
édicté, par le décret du 14 août 1792. Il était ainsi conçu: Je jure d’être fidèle à la
Nation et de maintenir la Liberté et l’Égalité, ou de mourir en les défendant. »” 6

A título de conquista, uma moeda foi cunhada com o lema liberdade e


igualdade e chegou até a ser reconhecida internacionalmente.

Ainsi la loi du 25 août 1792, qui ordonnait de frapper des pièces de cinq
sous et de trois sous en bronze, disait : «Les unes et les autres représentent
d’un côté le buste de la Liberté, sous les traits d’une femme aux cheveux
épars, ayant à côté d’elle une pique surmontée d’un bonnet. La légende
7
renfermera ces mots : Égalité,Liberté.» (AULARD, 1910, p.7-8).

Demonstrados alguns avanços da liberdade e da igualdade, tem-se em


contraponto que a ideia da fraternidade pouco foi tratada em documentos oficiais,
estando, contudo, muito presente na cultura cristã e na Maçonaria, havendo,
inclusive, informações de forte participação dos maçons na Revolução Francesa.
(JACOB, 1991, p. 14).

A própria construção do lema foi trabalhada com o propósito de revelar uma


máxima nacional em três partes, sendo que essa terceira parte ainda sem definição,
pois idealizava-se algo em torno de irmandade, segundo informa Aulard (1910, p.
10), em sua obra já tratada no parágrafo anterior, mas a palavra fraternidade não
elencava alguns lemas que, inicialmente, foram formados, tais como:

Igualdade, Liberdade, Virtude


Liberdade, Igualdade, União
Liberdade, Justiça, Igualdade
Razão, Justiça, Humanidade.

5
O juramento cívico promulgado pela lei de 22 de dezembro de 1789 continha um compromisso de fidelidade
"à nação, à lei e ao Rei", que muitas vezes estava contido nos atos públicos ou privados nessas palavras: "A
Nação, a Lei, o Rei", formando um lema patriótico.
6
Um novo juramento cívico foi promulgado pelo decreto de 14 de Agosto de 1792, que continha: Eu juro ser
fiel à Nação e manter a liberdade e a igualdade, ou morrer defendendo-as.
7
Assim, a lei de 25 de Agosto de 1792, que ordenou emitir as moedas de cinco e de três pesos em bronze,
dizia: "As moedas representam de um lado o busto da Liberdade, sob a forma de uma mulher com o cabelo
desgrenhado acompanhada de um pique encimado por uma boina. Na legenda continha ainda estas palavras:
Igualdade, liberdade.
23

Conquanto, vislumbrava-se a fraternidade antes mesmo que em 1789, como se


observa em famosa composição poética de Voltaire “L'auteur arrivant dans sa terre,
près du lac de Genève”, de 1755:

La Liberté. J'ai vu cette déesse altière,


Avec égalité répandant tous les biens,
Descendre de Morat en habit de guerrière,
Les mains teintes du sang des fiers autrichiens
Et de Charles Le Téméraire.
[...]
On ne voit point ici la grandeur insultante
Portant de l'épaule au côté
Un ruban que la vanité
À tissu de sa main brillante,
Ni la fortune insolente
Repoussant avec fierté
La prière humble et tremblante
De la triste pauvreté.
On n'y méprise point les travaux nécessaires:
8
Les états sont égaux, et les hommes sont frères .
(WHITMAN COLLEGE, Poems by Voltaire, online, grifo nosso).

Essa fraternidade, que já circulava desde 1790, era a fraternidade que criava
uma ideia de vínculo entre os cidadãos. “Devemos a Camille Desmoulins o primeiro
testemunho sobre o aparecimento da fraternidade ao lado dos outros dois princípios
da trilogia, por ocasião da Festa da Federação, em 14 de julho de 1790”. (BAGGIO,
2008, p. 27). A Festa da Federação comemorava o aniversário da Tomada da
Bastilha, que tinha ocorrido em 14 de julho de 1790: "Nesse dia de aniversário da
Tomada da Bastilha, a grande fraternidade revolucionária e o juramento à nação
consolidaram a nova França como nação homogênea." (BLUCHE, 2009, p. 53).

Nesta festa, ainda Baggio (2008, p.28) explana sobre os soldados-cidadãos,


em um momento em que se abraçavam prometendo liberdade, igualdade e
fraternidade, sendo esta tríade o novo fundamento da cidadania, um liame entre
todos os cidadãos que: “os levará a superar, com as cerimônias de confraternização,
celebradas inclusive nas aldeias mais distantes, a fragmentação feudal da velha
França”.

8
“A liberdade. Eu vi essa deusa altiva, Com a igualdade espalhando todos os bens, Murten para baixo em trajes
guerreiro, Mãos manchadas com o sangue de orgulho austríaco e Carlos, o Temerário. [...]. Nós não vemos o
ponto aqui grandeza insultuoso Vestindo o ombro para o lado Uma fita que a vaidade Em sua brilhante tecido
mão Nem insolente fortuna Empurrando com orgulho A oração humilde e tremor A pobreza triste. Estamos
desprezar o trabalho necessário: Os estados são iguais, e os homens são irmãos”.
24

Em 5 de dezembro de 1790, no já aludido discurso proferido por Maximilien de


Robespierre, na Assembleia Nacional em Paris, foi pronunciado o lema “Liberdade,
igualdade e fraternidade”. Além disso, em 1793, o Diretório do Departamento de
Paris toma uma decisão em que tornava popular a divisa por exigir seu uso em
algumas ocasiões e mais:

De acordo com uma proposta de Momoro (cordelier que provavelmente


conhecia o discurso de Girardin), o diretório convidava todos os proprietários
ou principais locatários de casas em Paris a ‘pendurarem nas fachadas de
suas casas, em grandes caracteres, as seguintes palavras: ‘Unidades,
indivisibilidade da República, Liberdade, Igualdade, Fraternidade, ou a Morte’.
A ordem foi cumprida; não só em Paris, mas provavelmente também em
outros distritos da província. (BAGGIO, 2008, p. 32-33).

Em 1848, conforme leciona Baggio (2008, p. 7), volta a estar presente em


uma Constituição francesa, conquanto, preambularmente, sendo anunciada a tríade
francesa como divisa na República da França e, apenas em 1946 fora incorporado
ao texto Constituição.

Slavoj Zizek (2008, p. 8), filósofo marxista, entende que esses princípios,
a exemplo do que aconteceu na Inglaterra, poderiam ter sido conquistados na
França de forma mais efetiva e pacífica, não sendo, portanto, necessária uma
revolução.

Em relação à necessidade ou não de se proclamar um lema, não obstante


seja um raciocínio a ser desenvolvido e considerado, antes de seguir adiante cabe
apenas fazer a ponderação de que o cenário francês é completamente oposto ao
cenário inglês. A Inglaterra estava a todo vapor em uma Revolução Industrial, onde
o liberalismo e valores correlatos encontraram solo fértil para o desenvolvimento. Tal
não era a situação francesa, que guerreava pela instauração de um novo regime e
tinha dificuldade em propagar pelos cidadãos os preceitos a serem seguidos por
todos nesse novo Estado que se instaurava.

Zizek (2008, p. 8) segue sua análise sobre a Revolução Francesa afirmando


que foi criado um paradigma jacobino do terror, em que a burguesia liberal instaura
uma revolução sangrenta e violenta. Para o autor, esse fato deve ser "interpretado
como a punição divina pelos caminhos tortuosos da humanidade", pois, para ele, a
Revolução Francesa é "o produto do espírito moderno sem Deus".
25

Segundo análise de documentos oriundos da Maçonaria, os maçons, fortes


atuantes na Revolução Francesa, ainda que de forma oculta, estavam de acordo
com as ideias trabalhadas por Zizek. Demonstra-se essa afinidade de pensamentos
em trecho extraído da obra de José Agostinho de Macedo (1810, p. 15): “Chamarei
jacobino, no decurso desta Obra, a todo o homem iniciado nessa igualdade e
liberdades desorganizadoras, que produzirão todas as maldades e todos os
desastres da Revolução Francesa.”

A legitimidade do lema, mesmo após sua leitura em Assembleia Geral por


Robespierre, será constantemente posta à prova. A Maçonaria não comungava da
condução da Revolução por Robespierre, de modo que, à primeira vista, parece que
a defesa que este fez pelos lemas proclamados pareciam de uma profunda
legitimidade por parte de todos que faziam parte da Revolução Francesa, todavia, se
fosse verdade, teria permitido sua extensão ao longo do tempo e não uma
fragilidade que permite a alguns juristas entenderem que a extinção do lema se dá
juntamente com o término da Revolução, enquanto outros entendem que ele se
projetou ao longo da história, assumindo novas interpretações e conformações
políticas.

O fato é que, apesar de Robespierre declarar na Assembleia dos Estados


Gerais um lema ou de se cantar nas ruas esse lema, essa fraternidade de união dos
cidadãos, essas liberdades individuais e essa igualdade no grito, imposta, já mostra
desde o começo uma desarmonia que terá que ser resgatada de alguma forma mais
à frente. Essa discrepância é tamanha, que os escravos negros do Haiti usaram o
mesmo lema rebelando-se mediante uma grande luta, e não obtiveram as mesmas
respostas nem sequer a aplicação equânime dos princípios envolvidos na tríade
francesa.

Sobre a temática: “A Assembleia Nacional declarou ‘culpado de crime contra a


Nação quem tentar organizar oposição a qualquer ramo do comércio com as
colônias, direta ou indiretamente”. (BAGGIO, 2008, p. 44). Os documentos históricos
que fogem da linha tradicional apresentada nos livros oficiais, os quais narram a
Revolução em uma perspectiva dos vitoriosos, saem da linearidade e dão substrato
a uma compreensão quanto à desintegração do lema tríplice ou mais, a de uma
26

incongruência entre a tríade e as aspirações de algumas classes e a realidade


francesa.

A realidade estava muito mais próxima das vontades da alta burguesia. Para
essa classe, a Revolução já poderia acabar em 1791, com a Declaração Universal
dos Direitos do Homem e do Cidadão, que consagrava a igualdade jurídica e a
liberdade econômica sem intervenção do rei. No entanto, a insatisfação do povo era
muito grande, e a Revolução se estenderá para muito além de 1791. O terceiro
Estado, que envolvia a camada mais pobre, queria muito mais, e até as mulheres
dessa classe social mais baixa terão participação durante a Revolução de forma
extremamente sanguinária.

A construção do lema se deu de forma gradual, pois surgiu como ideia, depois
enfrentou uma realidade extremamente adversa. A liberdade lutou contra o antigo
regime; a igualdade enfrentou diferenças agudas de classe, e a fraternidade é
desafiada até hoje pelo rompimento dos laços de solidariedade e de um liame de
valores cívicos entre os cidadãos que compõem uma sociedade.

Entende-se que o término da Revolução Francesa não põe fim a esse lema e
ao seu ofício em servir como elemento norteador. É possível fazer essa constatação
analisando as Leis Fundamentais das democracias que se sucedem à Revolução de
1789, todas marcadas por princípios relacionados à tríade francesa.

É fácil constatar nas legislações posteriores a 1789 numerosas menções à


liberdade, pois esses novos governos serão instaurados com a derrubada dos
antigos regimes, mediante as revoluções burguesas, trazendo consigo em
substitutivo a figura do rei, os códigos e Constituições que irão reger o Estado.
Serão retomadas as democracias surgidas na antiguidade clássica - não mais à
moda clássica, mas por meio de representantes. Apesar de ter feito sua revolução
anteriormente, os Estados Unidos da América são um exemplo disso. A Inglaterra
traz os direitos associados à liberdade de forma muito presente em face do
liberalismo resultante da Revolução Industrial, apesar de não possuir dispositivos
constitucionais escritos.

A Constituição de Weimar de 1919 traz alguns elementos da ideologia


iluminista, bem como de valores da tríade francesa na Alemanha, uma vez que as
27

duas outras Constituições alemãs que se sucederam à Revolução de 1789, a


Constituição da Confederação Germânica de 1820 e a Constituição da
Confederação da Alemanha do Norte, ainda mencionavam privilégios de nobreza,
não se tratando em seus dispositivos de igualdade ou fraternidade, e o pouco que se
fala de liberdade não é referente às liberdades pessoais. Constata-se a evolução
social e política alemã em sua Lei Fundamental de 1919, nos dispositivos a seguir:

Artigo 2
[Direitos de liberdade]
(1) Todos têm o direito ao livre desenvolvimento da sua personalidade,
desde que não violem os direitos de outros e não
atentem contra a ordem constitucional ou a lei moral.

[...]
Artigo 3
[Igualdade perante a lei]
(1) Todas as pessoas são iguais perante a lei.
[...]
(ALEMANHA. Constituição de Weimar, 1919, online).

Não há na Constituição de Weimar menção expressa à fraternidade conquanto,


o artigo 1º dispõe sobre dignidade e comunidade humana, paz e justiça no mundo
além de tratar da vinculação jurídica dos direitos fundamentais. Ademais, no tópico 2
da Constituição aludida, menciona: "O povo alemão reconhece, por isto, os direitos
invioláveis e inalienáveis da pessoa humana como fundamento de toda comunidade
humana, da paz e da justiça no mundo."

Ainda na Constituição de Weimar, vê-se nitidamente a influência do lema


francês em seus artigos 2º, 3º, 4º, 5º, 8º, 9º, 11 e 12, que tratam dos direitos de
liberdade pessoal, e o artigo 3º, que fala sobre igualdade perante a lei. Nenhum
dispositivo se refere à fraternidade. Essa Constituição é fruto do constitucionalismo
social, no período pós revolução industrial, contexto que será dissertado no capítulo
3 em referência aos ideais ontológicos de fraternidade e/ou solidariedade.

A Constituição italiana de 1948 faz menção à liberdade e à igualdade já no


capítulo 1, bem como, no capítulo de "Direitos e Deveres dos Cidadãos", faz menção
à liberdade nos capítulos 13, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 22 e 23. Também não há
referência expressa à fraternidade na Constituição Italiana.

Art. 3 Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais


perante a lei, sem discriminação de sexo, de raça, de língua, de religião, de
opiniões políticas, de condições pessoais e sociais. Cabe à República
28

remover os obstáculos de ordem social e econômica que, limitando de facto


a liberdade e a igualdade dos cidadãos, impedem o pleno
desenvolvimento da pessoa humana e a efectiva participação de todos os
trabalhadores na organização política, econômica e social do País. (ITÁLIA,
1948, grifo nosso).

A análise em amostragem dessas Constituições permite trazer à tona uma


preocupação contemporânea de pensadores do Direito sobre o porquê de a grande
Revolução burguesa Francesa, inspiradora de outras tantas revoluções, que teve
uma divisa tríplice, não ter ecoado da mesma forma em seus três pilares, mas
apenas em dois? Por que não se veem nas Constituições artigos que tratem
também de fraternidade?

Baggio (2008) usa para esse fenômeno a expressão “princípio esquecido”.


Será que o princípio foi realmente esquecido ou foi propositadamente ignorado para
que não fosse vivenciada a fraternidade? A prosperar tal raciocínio, quais seriam os
motivos que levariam a essa atitude deliberada? Essas perguntas serão respondidas
no tópico a seguir.

1.3 A trilogia francesa: para onde foi a fraternidade?

Conforme questionamentos e interpelações levantados no item predecessor, é


objeto de discussões um suposto desaparecimento, visto que se está a investigar o
fato, do princípio da fraternidade após a Revolução Francesa. Para tanto, serão
trazidas à tona reflexões de alguns pensadores sobre o assunto.

Existem correntes no sentido de que o lema foi um slogan que surgiu durante o
período revolucionário sem perspectiva ou necessidade alguma de influência a
posteriori. Todavia, é no mínimo curioso que, apesar da dispensabilidade de
vinculação, liberdade e igualdade tenham encontrado tanto eco, tendo sido galgadas
a categorias políticas, fato este que não se verificou com a fraternidade. Nesse
sentido, aduz Baggio (2008, p. 8-9):

Liberdade e igualdade conheceram, assim, uma evolução que as levou a se


tornarem autênticas categorias políticas, capazes de se manifestarem tanto
como princípios constitucionais quanto como ideias-força de movimentos
políticos. A ideia da fraternidade não teve a mesma sorte. Com exceção do
caso francês, como princípio político, ela viveu uma aventura marginal, o
percurso de um rio subterrâneo, cujos raros afloramentos não conseguiram
irrigar sozinhos, a não ser esporadicamente, o terreno político. Enfim, o
pensamento democrático a respeito da fraternidade manteve-se em silêncio.
29

O primeiro dos autores a ser abordado é Alexis de Tocqueville. O pensador não


fala expressamente a palavra fraternidade, nem sobre o “esquecimento” que teria
ocorrido após a proclamação do lema no início da Revolução. Todavia, Tocqueville
(1982) faz algumas considerações sobre os motivos pelos quais os americanos
atingiram seus objetivos, e os franceses, não.

Nesta ocasião, a crítica que o autor tem a fazer – retoma a mesma


consideração de Slavoj Zizek (1997, p. 56) - é a da necessidade de um elemento
religioso dentro do corpo democrático, de modo que, segundo ele: "Comete-se um
grande erro crendo que as sociedades democráticas são naturalmente hostis à
religião." Assim, o autor entende que o fracasso da Revolução Francesa, dentre
outros fatores, é atribuído a uma falta de religiosidade.

A religião, assim como outras ideologias, tais como o nacionalismo, são


ferramentas construtoras de vínculos, qualquer elemento que tenha capacidade de
unir indivíduos é necessário para construir um movimento, mas uma revolução só
acontece de forma horizontal, através de cidadãos conscientes das suas ações.

Para Rocco Pezzimenti (2008) a fraternidade consegue moderar a


agressividade e, além disso: “a rudeza, o espírito de pilharem, que sempre estiveram
presentes, mas que foram fortemente temperados pela religiosidade difusa dos
herdeiros dos pais peregrinos. Por isso, é impossível falar de democracia
prescindindo de religião.” (PEZZIMENTI, 2008, p. 62).

Sobre o entendimento do autor, intui-se ser necessária a ponderação acerca da


imprescindibilidade da presença do elemento religioso. Assim, questiona-se sobre os
aspectos religiosos que devem fazer parte dessa democracia, inclusive em
processos revolucionários, rumo a sua instauração. Seria uma religiosidade moldura
em que coubessem todas as religiões e suas respectivas ideologias, abraçando
inclusive aqueles que optam por não quererem ter uma religião, que são os ateus,
ou seria uma religiosidade que albergasse a religião de uma maioria?

A fraternidade ligada a um conceito religioso se sujeita também a uma


ideologia, sendo necessário cautela para não se perpetuar valores de maioria em
detrimento de ideologias religiosas também existentes que, assim sendo, se afasta
30

do conceito de democracia (representativa) que Tocqueville entende ser associado a


caráter religioso.

Conforme Tocqueville (1997), desde o início da Revolução, houve um grande


empenho em distanciar totalmente a religião da Revolução, tornando a própria
Revolução enquadrável em categoria religiosa pelo esforço na busca por tornar-se
irreligiosa. Segundo o autor: “Até mesmo quando o entusiasmo da liberdade já se
tinha desvanecido, depois que os franceses se limitaram a comprar a tranquilidade
ao preço da servidão, continuaram a revoltar-se contra a autoridade religiosa.”
(TOCQUEVILLE, 1997, p. 55).

A Revolução Francesa foi além do irreligioso, ela foi contrareligiosa, o que a


distancia totalmente de um ideal fraterno e faz gerar indagações. Afinal, quais os
reais motivos por trás desse grande ataque ao “sacro”? Porque, seguindo o
raciocínio do autor, à época representada, o clero e todos seus privilégios
precisavam ser extirpados.

A classe burguesa pretendia acima de tudo eliminar os privilégios das castas


superiores, para que seus negócios começassem a circular. Se o atual regime
continuasse como estava, o novo regime não tinha como instalar-se, e a ideia era
formar uma só classe de cidadãos. Assim, se o religioso não fosse atacado, como
derrubar a classe clerical?

Como o objetivo da Revolução Francesa não era tão-somente mudar o


governo, mas também abolir a antiga forma de sociedade, teve de atacar-
se, ao mesmo tempo, a todos os poderes estabelecidos, arruinar todas as
influências reconhecidas, apagar as tradições, renovar os costumes e os
hábitos e esvaziar, de certa maneira, o espírito humano de todas as ideias
sobre as quais se assentavam até então o respeito e a obediência. De lá,
seu caráter tão singularmente anárquico. (TOCQUEVILLE, 1997, p. 55,
grifo nosso).

Para Pezzimenti (2008), a fraternidade, dos três princípios que inspiraram a


Revolução, é a que está mais claramente ligada a motivações religiosas, sendo, por
consequência, a mais prejudicada. Transpondo esse estigma, na Revolução
Francesa de 1789, o princípio “fraternidade” vem pela primeira vez buscando uma
laicidade quanto à religiosidade.

A fraternidade laica possuía duas características principais. A primeira é o fato


de separar-se do religioso, motivada pelo rompimento com o clero; a segunda é
31

permitir englobar em si uma série de posturas que eram desejadas na Revolução e


que deveriam ser seguidas pelos cidadãos; comportamentos similares aos que
possivelmente poderiam advir de pessoas que tivessem um sentimento de
religiosidade, sem a necessidade de vincular-se com alguma ideologia religiosa.
Acreditava-se que era possível ter união, justiça, irmandade, paz, solidariedade,
todos esses sentimentos e condutas representados pela fraternidade.

O que ocorreu é que, dentro do momento em que vivia a França, fatos e


comportamentos ocorreram sem objetivos claros, diferentemente do que ocorreu nos
Estados Unidos, onde o estabelecimento de objetivos foi determinante a que
lograssem êxito em sua Revolução. Restava cristalina a dificuldade de se trabalhar
uma fraternidade em uma sociedade em que todos passavam por um momento de
descontentamento e necessidade de imposição de sua ideologia. Como implementar
a fraternidade, como enxergar alguém como um irmão, como desenvolver pelo outro
um mínimo de respeito, se a intenção era sempre a sobrepujança de uma classe
sobre a outra, ainda que forma velada?

A ausência do pressuposto religioso transforma liberdade, igualdade e


fraternidade em abstrações, de modo que: “A única consequência disso foi perder-se
de vista a realidade, seguindo a necessidade espasmódica de se criar uma espécie
de paraíso na terra”. Analisando o porquê do “eclipse” da fraternidade, Pezzimenti
(2008, p. 63) faz um relevante contraponto entre duas ideologias: uma reacionária,
encabeçada por Augustin Cochin; e uma de esquerda, encabeçada por Antonio
Gramsci. Cochin (2008, p. 66) traça severas críticas ao jacobinismo, entendendo
que a forma como estes conduziam a Revolução Francesa prejudicava o florescer
da fraternidade no seio da sociedade francesa, pois: “esses jacobinos não se
reconheciam semelhantes aos demais, não consideravam os outros seus irmãos;
achavam-se superiores aos outros homens, num nível diferente deles”. Sentiam-se
detentores da verdade. Essa postura era dissonante dos comportamentos que
almejavam com o lema que se construía, de modo que: “Não podia haver
fraternidade, nem respeito, quando não se colocam todos no mesmo nível”.
(COCHIN, 2008, p. 66).

O Clube dos Cordeliers ou Sociedade dos Amigos dos Direitos do Homem era
o que mais se alinhava com o ideal fraterno, conforme retratam Francisco Pizzete
32

Nunes e José Isaac Pilati (2015, p.4) ao fazerem uma distinção entre o Clube dos
Jacobinos e o Clube dos Cordeliers:

O clube dos jacobinos, por mais que comportasse algumas personalidades


com convicções democráticas, como o próprio Robespierre, era de caráter
eminentemente burguês: só admitia cidadãos considerados ativos e tratava
suas deliberações diretamente junto ao Estado através da Assembleia
Nacional. Por outro lado, o clube dos Cordeliers - que posteriormente foi
vencido pelos jacobinos – acolhia cidadãos de toda sorte e classe,
executando um trabalho muito mais fraterno, diretamente na comunidade.

De acordo com o que fora aludido, o Clube dos Cordeliers foi superado pelo
Clube dos Jacobinos, e todos seus procedimentos díspares com o lema declamado
pelo próprio líder, Robespierre, em Assembleia Geral, prosperam em desalinho com
a tríade francesa.

Para Gramsci, conforme abordagem de Pezzimenti (1999, p.93-94), a


Revolução é feita por intermédio da inteligência e dos intelectuais, com a substancial
ressalva que o “verdadeiro intelectual” para Gramsci é aquele que está diariamente
em contato com as massas: é o pároco da pequena cidade, o delegado de polícia, o
farmacêutico, etc. São esses os intelectuais, pois por meio deles passa, de modo
contínuo e duradouro, determinado tipo de ideologia.

Seguindo o pensamento do autor, a humildade e a simplicidade deveriam


estar presentes, eliminando a separação entre indivíduos, em busca da fraternidade,
de jeito que a cultura se faria existente a serviço dos outros. Para essa linha de
raciocínio, a fraternidade estaria associada à humildade e irmandade daqueles que
conduziam a Revolução, não foi o que se viu com os jacobinos.

Com o triunfo do jacobinismo, as primeiras vítimas foram os próprios


jacobinos, os quais, representados por Robespierre, cometeram uma série de
radicalismos, com muitas prisões e execuções em massa, ao que denominaram
“época do terror”. O horror foi tamanho, que com o passar do tempo as pessoas
queriam paz a qualquer custo, tanto que mais à frente há o retorno de Napoleão
Bonaparte, que virá a instaurar uma ditadura, algo completamente oposto ao que era
almejado no início da Revolução.

Com o fracasso da Revolução, outras formas de se interpretar a fraternidade


vão surgindo. Rawls (1980, p.112) trata o “Princípio da Diferença”, um princípio
componente e estruturante de sua teoria, como uma interpretação da fraternidade,
33

deixando de forma clara e expressa: “Um outro mérito do princípio da diferença é


que ele fornece uma interpretação do princípio da fraternidade.”

Como já mencionado anteriormente, essas alterações de utilização no uso da


expressão vêm sendo recorrentes. Existe um receio entre os legisladores
democráticos ou mesmo de governos ainda monárquicos em trabalhar com o valor
fraternidade, pois, segundo Rawls (1980, p. 112):

Em comparação com a liberdade e a igualdade, a fraternidade tem ocupado


um lugar menos importante na teoria democrática. Considera-se que ela é
um conceito menos especificamente político, que não define em si mesmo
nenhum dos direitos democráticos, mas que em vez disso expressa certas
atitudes mentais e formas de conduta sem as quais perderíamos de vista os
valores expressos por esses direitos.

Além do mais, segue o autor afirmando que a fraternidade pressuporia laços


sentimentais, sendo inclusive essa a sua crítica, associando esse fato à
circunstância de o lema fraternidade não prosperar em documentos modernos. O
autor explana que em sociedades como as do século XXI, em que o contingente
populacional é muito maior do que até mesmo o existente à época da Revolução,
seria totalmente ilógico seguir por esse raciocínio de uma fraternidade atrelada a
sentimentalismos.

De fato, existia um ideal de vínculo fraterno, como uma irmandade a ser


externada por uma só classe de cidadãos. Todavia, o grito que foi dado por ocasião
da Revolução Francesa, conforme documentos já revisados, não se identifica com
essa exigência de um sentimento afetuoso.

Francisco Pizzette Nunes e José Isaac Pilati (2015) tratam do cenário de


avanço da modernidade no período pós-revolução e de um silêncio para com a
fraternidade, bem como de uma "falta de sorte" da fraternidade em relação aos
demais princípios. De acordo com os autores, o espírito revolucionário não era
fraternal, não havendo coerência de conduta com o lema defendido:

Na verdade os burgueses e aristocratas não visavam uma melhor


distribuição da propriedade, mas tão somente garanti-la em relação ao
Estado e promover o livre mercado, mediante o controle dos espaços de
representação política conquistados com a Revolução Francesa e não
partilhados posteriormente com o povo. Atitude, pois, que já indicava, em si,
uma postura não fraternal para o período pós-revolucionário. (PIZZETTE;
PILATI, 2015, p. 4).
34

Para esses autores: "a fraternidade radica-se na comunidade mediante


processos participativos de caráter subjetivo", assim, não houve “falta de sorte”,
“desleixo”, “esquecimento”, não foi uma causalidade o silêncio pós- revolução
francesa do princípio da fraternidade. Isso ocorreu, precipuamente, porque o objetivo
era “ocultar o aspecto democrático da democracia.” (PIZZETTE; PILATI, 2015, p. 5).

No entender dos juristas, esse ocultamento ocorre para afastar cada vez mais
os eleitores dos seus representantes, da coisa pública e da política como um todo.
Para eles: “o coletivo foi diluído entre o público estatal e o privado individual”.
(PIZZETTE; PILATI, 2015, p. 6). O coletivo sai de cena, ficando apenas a atuação
do Estado e a esfera privada. A democracia, para que seja de fato participativa,
necessita da participação dos cidadãos, que esses se interessem pela coisa pública,
brotando assim o sentimento de fraternidade republicana, inspirada em valores
compromissados com a coisa pública, permitindo a existência de um liame que une
a todos esses cidadãos.

Essa visão de Estado fraterno se afasta da concepção fraterna religiosa, pois o


Estado, apesar de existir uma série de teorias que possibilitem sua definição, entende-
se que deverá possuir como formação jurídica inicial uma base neutra, como entendia
o jurista Hans Kelsen (1998, p. 261), sendo o Estado, no seu entender, um fenômeno
jurídico, mais especificamente uma: “comunidade criada por uma ordem jurídica
nacional em contraposição a uma ordem internacional.” (KELSEN, 1998, p. 261-262).
O que não impede a influência de fatores axiológicos, até mesmo porque eles existem
e não devem ser ignorados, todavia, não integram o Direito.

Ressalte-se que, ao falar de uma fraternidade neutra em relação ao Estado,


não se exclui a influenciada ideologia oriunda de valores religiosos, inclusive de
religiões como cristianismo, no ocidente, e budismo e hinduísmo, no oriente, as
quais possuem forte influência de comportamentos fraternos e inspiram essas
posturas nos indivíduos que compõe as sociedades dos seus respectivos Estados.

Assim, as severas críticas que são utilizadas, como as de identificação das


bases cristãs do princípio da fraternidade, para perpetuação da utilização desse
princípio no Direito e nas relações democráticas não prosperam. Os princípios da
liberdade e da igualdade também possuem raízes cristãs, grande parte dos
35

comportamentos morais que são exigidos no Estado também são fortemente exigidos
nas religiões, que possuem por escopo o comprometimento com uma sociedade mais
justa. Ora, onde desejos de valores religiosos e do Estado se intercederem deverão
ser repelidos, ainda que esses valores sejam universalmente desejados, como o eram
liberdade, igualdade e fraternidade? Entende-se que não deve ser esse o raciocínio,
pelo contrário, compreende-se que eles devem ser ainda mais desejados.

Se os julgamentos recaem sobre sentimentalismos associados ao conceito, é


possível afastá-los, como o fez John Rawls. Embora sob nova nomenclatura e
estruturação em um princípio que chamou de “princípio da diferença”, dando um ar
de racionalidade à sua Teoria da Justiça. Apesar de todas essas diferentes
denominações, a própria teoria é uma teoria fraterna.

A implementação da Teoria da Justiça vem resgatar um princípio, que é o


princípio da fraternidade, cujo debate causa demérito e embaraço no Direito,
normalmente sendo renegado a assunto de patamar ínfero. Na busca de uma
compreensão sobre o caminho que percorre a fraternidade, Antoni Domènech (2013,
online) constata algo que, só com as várias visões que já foram apresentadas neste
subcapítulo também se pode comprovar: o alcance de significados em uma
interpretação prima face da fraternidade não permite alcançar com a mesma
assertividade a interpretação que se faz dos outros dois princípios, exigindo-se um
maior burilamento desse conceito.

O fato é que independentemente da interpretação que foi dada, o sistema


econômico que se instalou, seja com a Revolução que ocorreu na França em 1789,
conhecida também como “Revolução Burguesa”, seja nos Estados Unidos da América,
ou ainda na Inglaterra, todas essas revoluções instalaram regimes econômicos que
possuem em comum a perpetuação de questões atreladas às desigualdades sociais,
manutenção de privilégios relacionados às classes sociais, apenas transferindo os
privilégios da antiga nobreza para a alta burguesia, que passou, então, a ocupar o lugar
da anterior. Na verdade, todas essas revoluções tinham propósitos, os quais não tinham
em si fortes compromissos com a fraternidade.

Essa ausência de fraternidade, traduzida na ausência de concórdia, pode ser


verificada no site Francês “Les Guillotinés de la Révolution Française”, que
36

apresenta uma relação de mais de 18 mil guilhotinados com descrição de nome,


endereço que residiam à época, profissão e descrição do “delito”. As acusações são
as mais insignificantes, como: “contrarrevolucionário”, “conspirador”, “pediu um rei e
defendeu o federalista”, "insubmisso", "declarou esperar a volta do Antigo Regime",
"traidor da pátria" (LES GUILLOTINÉS DE LA RÉVOLUTION FRANÇAISE, 2015,
online). Inevitável se questionar onde estava, afinal, a liberdade dessas pessoas?

As deformidades não pararam por aí, pelo contrário. Destaque-se a ocorrência


verificada com o jornalista Jean-Paul Marat, o qual foi assassinado com uma
punhalada no peito por Charlotte Corday, apenas por não concordar com suas
publicações no jornal “L'Ami du peuple”. (ELIAS, 2015, p. 21). A Convenção
Nacional processou e considerou culpados vários políticos, enviando-os para
guilhotina, por divergirem de seus entendimentos.

Não se observa o respeito pela igualdade. O que era colocado em papéis,


como logo no início da Revolução, pois havia o interesse na dissolução dos
privilégios entre classes, destoava, sobremaneira, da prática, e assim, a
estruturação da sociedade francesa permaneceu estratificada, como até hoje se
encontra, com benefícios e regalias. Por fim, a famigerada “fraternité”, inspirada na
Revolução Francesa e que muitos proclamam como uma fraternidade entre irmãos,
culminou como algo utópico e totalmente distanciado da realidade.

Conclusivamente, depreende-se do estudo feito neste capítulo, desde o


desenrolar histórico de uma guerra fratricida, que culminou com o governo ditatorial
de Napoleão Bonaparte, passando pelo grito de um lema “Liberdade, igualdade,
fraternidade”, em que por trás não havia consenso, é que não se observa respeito e
compromisso por parte dos revolucionários de 1789 aos componentes do lema, a
não ser no que guardava conformidade com seus desejos e suas vontades.

Acerca especificamente do ideal de fraternidade, também se conclui que foi


fonte de inspiração, a posteriori, para inúmeros filósofos que, ao tratarem da matéria,
inevitavelmente se reportavam ao ano de 1789 e ao lema tripartite. Todavia, tão
distante era a fraternidade da realidade francesa que, na prática, o que documentos
históricos conseguem registrar são sequências de atos atrozes, ocorridos,
principalmente, nos períodos de terror e grande terror, conforme demonstrado.
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE FRATERNIDADE

At least, however, fraternity is an organic and not a


physical term, belonging to social science because
fraternity presumes society. (MCWILLIAMS, 1974, p.05).

No decorrer deste capítulo, serão apresentados os conceitos de fraternidade


em suas distintas vertentes. A conceituação do vocábulo conforme os parâmetros
exigidos no âmbito político-jurídico é um desafio, à medida que subsistem
controvérsias quanto ao enquadramento categórico do termo em face de influências
teológicas que lhe diminuiriam o rigor científico.

Essa dificuldade se reflete na improbabilidade de se localizar em dicionários


políticos, jurídicos e até mesmo filosóficos o verbete fraternidade, encontrando-se
mais facilmente o termo em âmbito teológico. Tal constatação não vem significar que
a palavra carregue em si apenas o sentido religioso, uma vez que se trata de um
verbete plurissignificativo e essencial às demais ciências, em especial ao Direito,
faltando maiores discussões para pacificação quanto aos embates na conceituação
do tema.

Neste capítulo será realizada uma evolução conceitual do verbete, abordando-


se as dimensões filosófica, teológica, política e jurídica com o escopo de
compreendê-lo em todos esses prismas, viabilizando sua aplicabilidade e eficácia
em diversas esferas, sobretudo, na ciência jurídica.

2.1 O desenvolvimento da concepção de fraternidade sob a


perspectiva filosófica

A etimologia da palavra Fraternidade possui origem no Latim Frater palavra


que significa irmão. De fato, é nos laços de sangue e no seio da família que nasce
esse verbete de longa trajetória. Segundo Giuseppi Tosi (2011, p.01): “No sentido
mais original da palavra, fraternidade é entendida como vínculo de sangue, como
38

sentimento de ligação a uma família, a um clã (família mais ampla) ou a um


povoado, bairro, grupo pequeno e circunscrito de vizinhança.”

Assim, como se compreender esse conceito de fraternidade atrelado a


definição de relação entre irmãos, uma vez que são relações conturbadas, não só de
agora, século XXI, mas também, na antiguidade, como traz a Bíblia por exemplo, o
homicídio de Abeu por seu irmão Caim, constituindo-se, segundo o livro gênese o
primeiro fratricídio. Segundo Wilson C. McWilliams (1974) que para a construção da
teoria da fraternidade se leva em consideração a natureza da sociabilidade humana.
Os irmãos podem a vir divergir, inclusive a conflitar, não devendo, porém, faltar com
o respeito e, em situações em que se necessite da achega do outro, é possível
dispor dessa cooperação. Corroborando com o que foi exposto, o autor supracitado
(1974, p.2):

The dictionary proceeds like a rudderless ship, in everwidening circularity:


‘Fraternity: a relation of brotherhood, the status of being a brother, an
organization based on fraternal relations between members.’ Nor is the
definition of ‘brother’ more helpful. We begin clearly enough, with a
reference to the male offspring os one's parents. That clarity is immediately
dispelled by a transitive verb, ‘to brother’, surely difficult enough genetically.

McWilliams (1974, p.10) realça em seu texto as limitações interpostas pelo


parentesco à esfera individual, favorecendo o convívio em sociedade, à medida que
combatia o egoísmo, tão destacado na sociedade hodierna. A concepção ligada ao
parentesco sanguíneo em que havia uma cooperação e uma troca de ações
favoráveis a ambos com base no respeito que nutriam mutuamente, estender-se-á a
vizinhança e também a comunidade.

A partir desse novo nível de interação, surge o sentimento filantrópico da


irmandade, berço de outras virtudes e sentimento como a amizade. Todos esses
elementos são trabalhados pelo filósofo Epicuro de Samos, filósofo ateniense do
século IV a.C. criador do sistema Epicurista, desde o espírito prazeroso do convívio
em sociedade à amizade como ponte para a felicidade. Segundo Oscar D’Alva e
Souza Filho, Epicuro entendia o universo como um cosmos, uma ordem natural
regida por leis objetivas. Conquanto, não acreditava em um destino quanto a um
regimento absoluto dessas normas. (2008, p.71-73) Era ateu, o que não lhe impediu
de contribuir de forma robusta no plano da ética. Sobre sua obra, dispõe Hingo
Weber (2015, p.16):
39

A Filosofia de Epicuro tem um ponto de partida inteiramente diferente (do


filósofo acadêmico), e isso é o que a torna especial. Ela é concebida como
uma Filosofia de vida, ou seja, como uma Filosofia para ser seguida e
factível de ser seguida, porque seu ponto de partida ou sua motivação é
anterior ou mesmo simultânea à reflexão, isto é, é a realidade em que
vivemos e que muitas vezes, não compreendemos [...].

A obra de Epicuro organiza-se precipuamente nas célebres três Cartas de


Epicuro, conforme cita Weber (2015, 16): "Epicuro a Heródoto - sobre a Física;
Epicuro a Pitocles - sobre os fenômenos celestes e Epicuro a Meneceu - sobre a
Filosofia Moral), além de quarenta fragmentos de textos referidos como Sentenças
Capitais". Nestas é que encontramos os principais textos de Epicuro direcionados à
amizade, quais sejam:

27. Entre todas as coisas que a sabedoria prepara para a felicidade de toda
vida, o bem maior é a amizade.
28. O mesmo bom julgamento que nos dá a confiança de que não existe
nada terrível eterno ou muito duradouro também nos faz ver que nos
mesmos termos limitados da vida a segurança consegue sua perfeição
sobretudo da amizade.
40. Aqueles que tiveram a capacidade de alcançar a máxima segurança
junto a seus próximos conseguiram por isso viver em comunidade de modo
mais prazeroso, tendo a mais firme confiança e ainda alcançando a mais
plena familiaridade, não choram a partida prematura daquele que morreu
como [se fosse] algo digno de lamentação.

Conforme citado anteriormente, Epicuro é um filósofo da vida. Assim, seus


escritos são diretos ao buscar conduzir a ação daqueles que o leem. Ao dispor sobre
amizade, fala de “troca”, não uma troca necessária, mas um sentir-se seguro ao
saber que pode confiar em alguém quando da necessidade daquela relação.

Na concepção do filósofo: “A amizade é menos uma relação de troca do que de


possibilidade de trocar (Códex 9). A troca consola-me, e a possibilidade de troca
mantém em mim viva a esperança de que posso ser consolado.” (WEBER, 2015,
p.16).

O não estar só, segundo Epicuro, é que traz felicidade. Conforme sentença
número 27 supra transcrita, resta claro para o filósofo que o bem maior para
alcançar a felicidade é a amizade, sendo pressuposto também para a superação de
fases difíceis que se apresentam ao longo da vida.

Na abordagem de Epicuro, reconhecidamente o “filósofo da amizade”, se


sobressai também outro tema que se enquadra no estudo que vem sendo feito da
40

fraternidade. Trata-se do título “Dos Desejos” nos textos das Sentenças capitais
números 26, 29 e 30:

26. Os desejos que não trazem dor, quando não são satisfeitos, não são
necessários, e é fácil de dissolver-se do impulso em que têm origem,
sobretudo quando não são difíceis de alcançar ou são tais que possam
causar danos.
29. Alguns desejos são naturais e necessários, outros naturais e não
necessários, outros, enfim, nem naturais nem necessários, mas devidos à
vã opinião.
30. Os desejos naturais não-seguidos de dor, quando não são satisfeitos,
ainda que tenham um estímulo intenso, nascem de vã opinião, e não é pena
sua natureza que não se dissolvem, mas pela vanidade própria do opinar
humano. (WEBER, 2015, p.16).

Epicuro já desenvolvia, àquela época, uma filosofia de combate aos excessos


dos impulsos, o que deve remeter o leitor a uma reflexão comparativa com os dias
atuais, onde a lógica é o contrário, ou seja, o estímulo dos impulsos é o que
prepondera.

É o caso da compreensão de fraternidade aqui delineado sob a ótica epicurista,


uma fraternidade pautada em vínculos de amizade, onde existem relações de
confiança em um âmbito comunitário e o desenvolvimento da consciência do
combate aos desejos e ao egoísmo, cultivando o espírito do compartilhamento.

Contentar-se com pouco não implica menor felicidade, mas no


reconhecimento de que tudo que temos é verdadeira riqueza, que os bens
ou as aquisições que fizemos devem ser valorizadas até porque ‘outrora,
foram ansiosamente desejados’ (Codex 10), ao passo que outro, que tem
tudo ou que tem muito, se os seus desejos tendem ai futuro infinitos de
desejos, é verdadeiramente pobre, vivendo em constante corrupção dos
bens ou das aquisições presentes e passadas. Insensatez. Verdadeira
efemeridade. (WEBER, 2015, p.18-19).

Segundo o autor, os desejos da carne tendem ao infinito, razão por que não
devem ser postos em ação ad infinitum. Surge então a preocupação com a questão
da limitação dos desejos, pois se a todos couber o direito de pôr em exercício seus
desejos sem limites, sem dúvida que os conflitos hão de ser perenes. Dirimi-los é a
razão pela qual se justifica o surgimento do Direito. Contudo, não obstante todas as
conquistas jurídicas, o modelo seguido atualmente vem apenas contornar conflitos
resultantes dos excessos de cada membro da sociedade, quando, na verdade,
deveria ser trabalhado o controle desses excessos em sua raiz, pois só assim é
possível, à luz da filosofia de Epicuro, trabalhar o objetivo maior da Ciência Jurídica
que é a pacificação social.
41

Um outro sistema que se apresenta no cenário intelectual greco-romano,


compreendido por Oscar D’Alva e Souza Filho (2008) como sistema filosófico e
ético, bem como subliminarmente como teorização política, é o Estoicismo ou Escola
Estóica, fundada por Zenão de Cipro, que também se enquadra cronologicamente
no século IV a. C. Esse sistema é de base cosmológica e possui como um de seus
traços marcantes a preocupação com a questão moral.

Para a Escola Estóica que, em certo sentido, prepara o terreno para o


cristianismo, o primeiro princípio da ética é o que manda viver segundo a
natureza. Acima das leis de cada país existe uma lei natural, universalmente
válida. O homem é livre quando vence suas paixões e delas se liberta e
nisto não há diferença entre homens livres e escravos. Existe uma
sociedade do gênero humano que transcende os limites traçados pelos
Estados. (CRETELLA JR., 1995, p.102).

Jules Evans (2013), sobre os estóicos, discorre que estes precisavam


desenvolver uma “razão e consciência moral” para servir ao Logos, “inteligência
divina que permeia, liga e dirige todas as coisas”. Os estóicos em seus textos
preparam-se para a prática das virtudes: amor, amizade, humildade, respeito e
honestidade, termos que eram frequentemente citados em textos desses filósofos.
Essas virtudes, bem como toda a lógica por intermédio da palavra e do discurso que
compõe a filosofia estóica, devem interiorizar-se no mais fundo do ser que se propõe
a ser um estóico.

A filosofia da escola estóica é conhecida como a filosofia do dever,


primordialmente de respeitar o próximo, de honrar à família, de controlar instintos,
questões voltadas para uma pacífica convivência em sociedade e o mútuo respeito
entre os “irmãos de convívio”. Teve como principais representantes os filósofos
Epíteto, Marco Aurélio e Sêneca.

Lúcio Aneu Sêneca (1991, p.70), o mais destacado filósofo estoico, nesse
contexto, contribui com suas regras de bem viver:

verifica se há discordância entre a tua roupa e a tua casa, se és pródigo


para contigo, mas mesquinho para com os teus, [...] Adapta de uma vez por
todas uma regra de conduta na vida e faz com que toda a tua vida se
conforme com essa regra.

A verificação indicada por Sêneca deve ser feita pelo próprio indivíduo através
de uma autoanálise. A leitura de seus escritos, bem como de outros estoicos, deve
42

guiar uma expansão de consciência e um progresso da sabedoria de cada um. Para


o tema fraternidade em específico, será dado enfoque a Sêneca e a sua “lei de amor
mútuo”.

Sobre a obra do filósofo em questão, Luiz Feracine (2011, p.91) assevera que:
“apesar da dimensão cosmopolita do ser humano, Sêneca realça as consequências
de nosso compromisso em relação aos familiares e amigos para os quais vale a lei
do amor ao próximo”. A lei de amor ao próximo defendida por Sêneca, à medida que
estimula também o atuar em benefício do próximo, realça a sociabilidade entre os
cidadãos daquela comunidade.

À essa época já se prenuncia a fraternidade para além do comunitarismo local,


quando se diz: “temos franqueada a comunicação com o mundo todo e
proclamamos que temos por pátria o universo”. (FERRACINE, 2001, p.14).

Depois de afirmar que o bem comum prevalece sobre o particular (‘De


Clementia’, 1.4.3) Sêneca lembra o fato de ter a natureza impulsionada
cada um para auxiliar o outro: ‘Hominibus prodesse natura nos iubet’ (‘De
Clementia’ I.1.3). Portanto, fazer o bem e realizar benefícios, visando a
humanidade em que formamos todos um só corpo. Assim somos
verdadeiros cidadãos do mundo, nossa verdadeira pátria. A minha pátria,
diz Sêneca, é o mundo (‘pátria mea hic mundus est’ – Carta III,7).
(FERACINE, 2001, p.92).

A partir da interpretação do texto transcrito, verifica-se uma evolução do


conceito de fraternidade ainda na esfera filosófica quanto ao rompimento das
barreiras político-culturais que à época se restringiam ao âmbito comunitário, vindo a
ser questionadas por ensinamentos cristãos em revolução a ocorrer no campo
teológico. Antes de adentrar a esse tema, será abordada a obra Ética a Nicômaco,
de Aristóteles, filósofo grego nascido no ano de 384 a.C.

Aristóteles trabalhava com as definições de ética e moral. Na obra Ética a


Nicômaco, o filósofo atrela a felicidade ao agir com ética, e nesse agir com ética é
onde está a excelência. A ética coexiste com a moral, com a justiça, com a política,
com a sociabilidade, adentrando em seus campos e atuando de forma conjunta e
sistêmica em todas as esferas de relacionamento humano. É ainda, na visão do
filósofo, o caminho para felicidade. Em seu entendimento, “a felicidade é a atividade
conforme à virtude” e “as coisas nobres e boas da vida só são conquistadas pelos
que agem retamente” (ARISTÓTELES, 2008, p.29).
43

Nessa mesma obra, Aristóteles estabelece uma semelhança entre o conceito


de fraternidade primário, que é a definição da relação entre irmãos, com o governo
timocrático. Esse tipo de governo é uma forma real de aristocracia, a que mais se
aproxima de um modelo utópico, ideal. Em contraponto, sua forma degenerada é a
oligarquia, movida por interesses de uma minoria. Enuncia Aristóteles (2008, p.188):

A amizade entre irmãos é como a que existe entre camaradas, pois são
iguais e próximos uns dos outros pela idade, e pessoas em geral,
assemelham-se nos sentimentos e no caráter. Essa espécie de amizade é
também semelhante ao governo timocrático, pois nesse tipo de constituição
o ideal é serem os cidadãos iguais e equitativos e, por isso, o governo é
assumido por turnos em base de igualdade; a amizade baseada na
igualdade corresponde à essa constituição.

Aristóteles (2008, p.188), dispondo sobre o governo, faz uma relação entre
justiça e amizade, asseverando que “onde nada aproxima o governante dos
governados não pode existir amizade, visto que não há justiça”. O pensamento do
filósofo encontra vazão em um modelo político grego – A polis - que se identifica
com a concepção filosófica de fraternidade em que: “A unidade social autônoma é a
polis, a cidade, dotada das instituições indispensáveis para proporcionar a seus
membros uma vida feliz”. (CORTINA, 2005, p.38).

Esse modelo comunitário-político da cidadania em Atenas, conhecido como


polis gregas, virá a influenciar um movimento chamado de Ilustração, surgido após a
Idade Média, realização histórica do Iluminismo, que, por sua vez é uma “tendência
trans-epocal, que cruza transversalmente a história e que se atualizou na Ilustração,
mas não começou com ela, nem se extinguiu no século XVIII”. (ROUANET, 1987,
p.28).

A ideologia dos pensadores enciclopedistas da Ilustração perpassava suas


obras, havendo uma sincronia entre pensamentos e ações, tanto que, segundo
Sergio Paulo Rouanet (1987, p.27), os enciclopedistas se consideravam membros
de uma família espiritual, juntamente com pensadores gregos antigos e os
renascentistas. Muitos dos temas trazidos a lume, tais como, felicidade universal,
moral livre, liberdade concreta e não opressão, eram temas já trabalhados por
filósofos gregos, havendo ainda marcante influência da revolução fraterna advinda
do cristianismo.
44

A Ilustração, aduz Rouanet (1987, p.27), "propôs ideais de paz e tolerância" e


"foi, apesar de tudo, a proposta mais generosa de emancipação jamais oferecida ao
gênero humano". Segundo o autor, a Ilustração possui forças para influenciar o
nosso presente, existindo um legado que se encontra em crise pela contestação do
uso da razão - bandeira levantada junto ao Iluminismo, movimento em que a
Ilustração se insere.

Os ideais ilustracionistas, todavia, não foram bem aproveitados. A liberdade


pretendida se consubstancializou formalmente, porém, no plano material seu
conteúdo foi deturpado para construções de realidades individualistas e cidadãos
egoístas.

É por isso que o novo Iluminismo, defende Rouanet (1987, p.30), salva a parte
positiva da Ilustração, mas tem a tarefa de reconhecer seus aspectos negativos:
"diagnosticando suas insuficiências e ingenuidades e recolhendo, ao mesmo tempo,
as características estruturais e valores permanentes, que resistiram ao tempo e
podem ainda ser válidos para o presente.”

A fraternidade defendida no Ilustracionismo é uma fraternidade universal, pois


que, cronologicamente, já se havia passado pela revolução fraterna proposta por
Jesus Cristo. Assim, dentro das ideias filosóficas levantadas, constata-se um
progresso do conceito de fraternidade desde laços sanguíneos e parentais,
passando para laços comunitários, defendidos com base no dever de respeito para
com todos, na questão da amizade como caminho para felicidade e na identificação
da amizade com a justiça.

Abordar-se-á no tópico a seguir o significativo contributo teológico para a


definição de fraternidade, o qual fora tão marcante que até os dias atuais é comum
associar-se o conceito de fraternidade apenas ao conteúdo teológico. Inobstante a
participação das religiões, em especial do cristianismo, para a composição
semântica da fraternidade, cabe ressaltar que as definições abordadas no campo
filosófico dialogam em conjunto com as teológicas, em diferentes esferas, dentre as
quais, política e jurídica.
45

2.2 Quebrando as barreiras com a teologia cristã

A teologia é, conforme Nicola Abbagnano (2000, p.949-950), “em geral,


qualquer estudo, discurso ou pregação que trate de Deus ou das coisas divinas”. O
autor ressalta que, ao longo do desenvolvimento histórico-filosófico da palavra,
foram feitas categorizações da definição de teologia pelos próprios filósofos a
depender da natureza das divindades e a forma como se enxergavam esses deuses
ou o Deus. Nesse tópico, será abordada a teologia revelada ou sagrada, a qual
extrai seus princípios da revelação, conceituada por Santo Tomás de Aquino como
“A ciência de Deus e dos bem aventurados.” (ABBAGNANO, 2000, p.951).

Uma grande parte das religiões contribuiu e continua a cooperar com a


fraternidade em todo o planeta. Fabio Konder Comparato (2008) dispõe sobre o
assunto e destaca o período entre 600 e 480 a.C., onde doutrinadores de distintas
religiões em diferentes partes do planeta influenciaram a humanidade com
mensagens e ideologias.

Todavia, no que diz respeito à fraternidade, é a religião cristã, dentre as


demais, que veio a desempenhar, ao longo da história, um destacado papel a ser
reconhecido e estudado. Para Comparato (2008, p.8-11): “O cristianismo, em
particular, levou às últimas consequências o ensinamento ecumênico de Isaías
(monoteísmo), envolvendo-o na exigência do amor universal.” A formação da fé
monoteísta permitiu pôr fim a barreiras nacionais que em pretérito se coincidiam com
fronteiras religiosas. Por sua vez, Piero Coda (2008, p.77) coloca que:

Na realidade, é impressionante a marcada presença dos termos como


adelphós (irmão), adelphótes (fraternidade), philadelphía (amor fraterno) no
Novo Testamento. Chama atenção, de modo especial, que adelphói
(irmãos) seja o termo com o qual os próprios discípulos de Cristo se
denominam, e que o substantivo adelphótes (fraternidade; cf. 1 Pd 2, 17; 5,
9) não signifique um ideal a ser conquistado, mas uma realidade alcançada,
uma dávida recebida com a qual a existência e as relações entre cristãos se
identificam.

As mensagens e a conduta de Jesus na terra permitem questionamentos aos


limites comunitários da fraternidade existentes nos modelos outrora levantados,
como consanguinidade, parentesco e vizinhança, os quais passam a ser
questionados. A partir de então, o estrangeiro “que não tinha rosto e nem era
humano” começa a ser enxergado. Comparato (2008, p.11), sobre o assunto, afirma:
46

“A força da ideia monoteísta acaba por transcender os limites do nacionalismo


religioso, preparando o caminho para o culto universal do Deus único e a concórdia
final das nações.”

A ideia da universalidade no cristianismo é o próprio fundamento da


fraternidade cristã, nas palavras de Joseph Ratzinger (2004, p.11-12): "A medida
que Jesús anuncia el reino de Dios y es acogido por los hombres através la
conversión y la fe, se va formando una nueva familia en su entorno". Esse
universalismo não é absoluto, restringe-se aos cristãos que passam pelo ritual do
batismo: “Todo hombre puede ser cristiano; pero sólo es efectivamente cristiano y
hermano el que a través del bautismo de la Iglesia madre entra en la fraternidad de
los cristianos.” (RATZINGER, 2004, p.12).

Jesus de Nazaré, filho de Deus, o qual, após o seu batismo, ficou conhecido
como Jesus Cristo, revela à humanidade princípios fundamentais oriundos da
vontade do Pai. Desta forma, àqueles que se identificam com a sua mensagem
também se tornam filhos do mesmo Pai, irmãos fraternais de Jesus e de todos os
cristãos.

Jesus pratica este ensinamento quando em pregação à multidão e, procurado


por sua mãe e irmãos, argui “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”,
respondendo em seguida que qualquer um que fizer a vontade do Pai é sua mãe,
irmã e irmão. Assim, Jesus quebra o paradigma do parentesco através dos laços
sanguíneos, sinalizando para um novo povo de Deus, através de elos fraternos
fundados na fé. Esse ensinamento está legado à humanidade no evangelho de
Matheus:

E, falando ele ainda à multidão, eis que estavam fora sua mãe e seus
irmãos, pretendendo falar-lhe.E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua
mãe e teus irmãos, que querem falar-te.Ele, porém, respondendo, disse ao
que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E,
estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e
meus irmãos; Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está
nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe. (Mateus 12:46-50, BIBLIA
online).

Há ainda dois preceitos que vêm a ser a síntese dos dez mandamentos
anteriores de Moisés e que marcam uma nova fase no cristianismo. Estes dois
ensinamentos, que vieram a se tornar a maior lição que Jesus revelou à
humanidade, resumem toda a doutrina Cristã. O primeiro, “Amarás, pois, ao Senhor
47

teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento,
e de todas as tuas forças”; e o segundo, semelhante a esse, “Amarás o teu próximo
como a ti mesmo.” (Marcos 12:30, 31, BIBLIA online, 2016).

Pode-se considerar esse segundo mandamento como uma interpretação


derivada da "regra de ouro", da qual se extrai o ensinamento de que não se deve
fazer ao outro o que não se gostaria que fizesse a si mesmo, porém, no
mandamento enviado por Deus é exigido algo mais, é exigido uma postura ativa.
Não basta não fazer ao próximo o que não quer que lhe seja feito, mas, fazer tendo
por orientação aquilo que gostaria que lhe fosse feito e, sobretudo, sem esperar
nada em troca.

E, afinal, quem é o “próximo” tão enfatizado no mandamento considerado a


regra do bem viver? É na parábola do Bom Samaritano, no Evangelho de Lucas, que
se encontra a explicação do próprio Jesus Cristo para a palavra "próximo":

Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de


assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram,
deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada
um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim
também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado.
Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o
homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as
feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu
próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte,
deu dois denários ao hospedeiro e lhe disse: 'Cuide dele. Quando eu voltar,
pagarei todas as despesas que você tiver'.
‘Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas
mãos dos assaltantes?’
‘Aquele que teve misericórdia dele’, respondeu o perito na lei. Jesus lhe
disse: ‘Vá e faça o mesmo’. (Lucas 10:30-37, BIBLIA online, grifo nosso).

Sublinha-se que os judeus, bem como a sociedade da época, rejeitavam os


samaritanos, "pois eram estrangeiros, que foram trazidos da Mesopotâmia para
ocupar o lugar dos hebreus que foram conduzidos presos para o exílio da Babilônia.
Não eram considerados judeus, pois eram de outra raça." (BIBLIA online, 2016).
Apesar disso, foi o samaritano que, ao prestar socorro ao desconhecido, praticou a
conduta considerada pelo Cristo como a que se alinhava ao seu mandamento.
Esses ensinamentos convertem-se em elemento unificador e pacificador da
sociedade à proporção que transcendem aos conflitos travados pela humanidade.
48

Outros pilares que estruturam a socialidade, noutro tempo submetidos apenas


às virtudes éticas e morais, são agora fundamentados também na fé, expressos na
doutrina do Cristo. Entre eles o amor (Paulo, I Coríntios, XIII:1-7 e 13), a
mansuetude e a pacificidade (Matheus, V: 5 e 9), a misericórdia e o perdão
(Matheus, V: 7 e XVIII: 15, 21 e 22) e a honradez aos pais (Marcos, X:19; Lucas,
XVIII:20; Mateus, XIV:18-19 e Decálogo, Êxodo, XX:12).

O Deus estudado na teologia revelada foi e continua a ser um elemento


concatenador das ideias propostas, o grande elo pelo qual os cristãos se sujeitam a
essas mensagens com conceitos que facilitam uma egrégora social, independente
de questões do Estado. Inclusive o Papa Pio XI, na encíclica Non abbiamo bisogno,
deixa claro as distinções entre a comunidade cristã, da forma como é construída, e
as ideologias de construção de modelos político-estatais, que normalmente não
servem aos preceitos da doutrina cristã. (LA SANTA SEDE, 2016, online).

A socialização dos homens e seu nível de abrangência crescem


conceitualmente e pragmaticamente com o desenvolvimento dos povos. Assim, a
fraternidade irradia de uma esfera consanguínea e de parentesco para vizinhança e
comunitarismo e, com o surgimento do monoteísmo e os questionamentos das
barreiras comunitárias e territoriais, o conceito de fraternidade é alçado a um nível
mais amplo, pois que fortaleceu a concepção de alteridade e do reconhecimento do
estrangeiro e de outras nações, pensamento que vem a solidificar afirmação de
virtudes já levantadas por filósofos da Grécia Antiga.

A evolução histórica do termo fraternidade não cessa com as ideias cristãs,


mas sem dúvida recebe delas a contribuição para o seu aperfeiçoamento. Uma
interpretação de fraternidade que se utiliza em âmbito político-social e que foi
extraída de uma diretriz teológico-cristã é a do amor pregado por Jesus como, nas
palavras de Coda (2008, p.82), uma determinação de liberdade que implica em “uma
estratégia de não-violência ativa, que visa a transformar em positivo a posição do
adversário. O amor ao inimigo é um amor que revivifica [...]”. Esse conceito é
plenamente empregável nas sociedades atuais, v.g., em uma perspectiva diretiva de
segurança do Estado.
49

A compreensão de que fraternidade se encerra no cenário divino, não se


mesclando em outros campos, é um grande equívoco, pois a fraternidade não só
pode ser conceituada em diversas orbes, como está se abordando no presente
estudo, como também, segundo Rafael Eduardo Petry Veronese (2015, p.98), tem
um caráter plurissignificativo, sendo possível “a valoração da fraternidade como
materialização de relações complexas de cooperativismo, ou ainda como princípio
de norteamento e solução de paradoxos sociais, além de princípio pacificador e de
caráter relacional”.

Assim, conforme Geralda Magella de Faria Rossetto (2013, p.77), as bases


conceituais do termo fraternidade integram-se e renovam-se reafirmando suas bases
históricas ao integrar o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, no período de 5
de maio de 1789 a 9 de novembro de 1799, no qual ocorria a Revolução Francesa.
A partir de então, a fraternidade “assume a sua conotação política e suas diversas
orientações que a partir daí começa a estabelecer na cena da sociedade aberta”.

2.3 O princípio da fraternidade em âmbito político

Sapere Aude! Palavras de Horário (Epist. XII, 40) citadas por Kant e adotadas
como lema do Iluminismo (ABBAGNANO, 2015, p.1025) para entoar a formulação
acerca do esclarecimento onde o homem deve sair da minoridade, (ABBAGNANO,
2005, p.63-64) oportunidade em que deve agir e servir de acordo com seu próprio
entendimento.

Tal expressão traduz-se em “atreva-se a saber!”. O movimento iluminista vem a


romper com um período compreendido entre o Cristianismo e a Modernidade, lapso
temporal formalmente reconhecido por Idade média e denominado por Giuseppe
Tosi (2008, p.32) de eclipse da fraternidade.

A divisa republicana francesa Liberté, Egalité, Fraternité produziu à época e a


posteriori indiscutíveis efeitos políticos. No tocante à fraternidade, auferiu-se sua
categorização como princípio essencialmente político pelos possíveis consentâneos
à palavra de integração, participação, socialidade, diálogo e comprometimento todos
alinhados ao âmbito de atuação política, motivo pelo qual, a fraternidade vem a ser
enquadrada, hodiernamente, como princípio cosmopolita.
50

A politização da fraternidade, contudo, motiva controvérsias entre juristas.


Existem debates sobre como o conteúdo secular de influência cristã afeto à
fraternidade é recepcionado na modernidade. Esse debate é de grande relevância,
pois alguns pensadores inferem que as raízes cristãs do termo fraternidade são
obstáculos à sua contextualização na esfera política. A discussão é reflexo de um
outro debate – Kant e D’Alembert - em que a preocupação é não mais permitir a
razão subjugar-se a qualquer tipo de poder, seja religioso ou político.

Alguns autores entendem, a exemplo de Karl Löwith (2009, p.32-33), que


“embora secularizado, o cristianismo continua sendo o paradigma fundante do
espírito do Ocidente”, em qualquer categoria, inclusive na política. Para Löwith,
(2009, p.32-33) ainda que o objetivo de alguns filósofos seja atacar Deus, a exemplo
do niilismo, movimento desenvolvido por Nietzsche que reduz Deus ao nada,
declarando sua morte, suas ideias continuam tendo como referência as ideias
cristãs. De forma que, independentemente do conceito a ser construído na
modernidade, seja em consonância ou em ataque ao conteúdo secular cristão, não
há mais como se dissociar tais conteúdos de um referencial epocal.

Hans Blumenberg (2009, p.33-33) contrapõe o entendimento de Löwith


afirmando ser possível a emancipação dos conceitos na modernidade, ainda que
tenham suas raízes na teologia cristã, sínteses patrísticas e no nominalismo
medieval, pois para o autor é possível adquirir “uma legitimidade própria, ocupando
um lugar novo e diverso, e uma nova função hermenêutica”.

Ressalte-se que à essa época, filósofos como Heidegger já haviam surgido,


com grandes contributos, como a hermenêutica fenomenológica que explorou o
círculo hermenêutico, permitindo uma compreensão ontológica das coisas, de forma
que: “o sentido dos objetos está na relação que eles têm com uma totalidade
estruturada de significados e de intenções inter-relacionados”. (PALMER, 1969,
p.137-138). A partir da modernidade, diferentes paradigmas convivem entre si,
inclusive, sendo contrários, exigindo-se, apenas, que a razão se mantenha à frente
de qualquer ideologia.

Sobre o assunto, Tosi (2009): “ao contrário da ciência e em sintonia com a arte,
nenhum paradigma pode ser considerado definitivamente superado ou confutado, de
51

tal forma que várias tradições filosóficas convivem num diálogo contínuo e
incessante.” Dessarte, diferentes noções de fraternidade passaram a coexistir na
modernidade, em diferentes áreas, inclusive na política. Uma delas, a que se impôs
durante o século XIX, conforme Antônio Maria Baggio (2008, p.11), foi a concepção
republicana, a qual virá a conviver com outras interpretações do termo. Ainda sobre
as controvérsias quanto à politização do termo fraternidade, existe o argumento de
que a influência cristã impediria a adequação da fraternidade como conceito político.
Esse raciocínio, a rigor, deveria servir de obstáculo também à liberdade e à
igualdade, pois os três princípios são herdados da evolução dos Direitos Humanos,
os quais, afirma Giuseppe Tosi (2009), são conceitos modernos, mas com raízes
antigas e que “somente na Modernidade adquirem seu significado próprio e distinto
do antigo”. O autor dispõe ainda que a cultura atual, embora laicizada, é encorpada
por conceitos religiosos secularizados:

Há ruptura, mas também continuidade entre a tradição jusnaturalista antiga


e moderna: a conceitualidade antiga e medieval não desaparece
abruptamente, não somente pela permanência das tradições religiosas nas
sociedades modernas e contemporâneas mas também pela secularização
dos conceitos religiosos, ou seja, pela sua tradução numa linguagem não
mais sagrada, mas secular e leiga. Assim, os conceitos da teologia política
e da metafísica cristã, consolidados no Ocidente durante muitos séculos,
continuam operando em profundidade nas legitimações últimas das
convicções morais e éticas da nossa cultura laica e secularizada. (TOSI,
2009, p.43-44, grifo nosso).

A partir dos motivos pontuados, entende-se já ser possível o enquadramento


categórico do princípio da fraternidade na esfera política, pois não há impedimento
para recepção de ideias com raízes cristãs em culturas laicas, haja vista a
possibilidade de se trabalhar tais concepções à luz de uma teoria hermenêutica que
permita ressignificações. É o que vem sendo feito, no transcorrer histórico, com
todas as acepções que contribuem para a construção do termo fraternidade. As
bases são mantidas, mas conformações vão sendo adquiridas conforme o tempo e a
necessidade das civilizações.

Uma outra crítica que se faz ao verbete, é justamente quanto ao excesso de


definições, o que incorreria em uma falta de precisão conceitual, que segundo John
Rawls (1981, p.112), caracterizaria a fraternidade como menos “especificamente
política”, por não definir em si mesma “nenhum dos direitos democráticos, mas que
em vez disso expressa certas atitudes mentais e formas de conduta [...]”.
52

O autor, com vistas à resolução da contenda, na obra A Teoria da Justiça,


desenvolveu os princípios da reparação e da diferença como forma de enfrentar os
desequilíbrios da fortuna, servindo como ponto de equilíbrio entre os princípios da
liberdade e da igualdade, papel que seria, a priori, do princípio da fraternidade.

Semelhante noção política quanto à fraternidade é a de Antonio Maria Baggio


(2008, p.23), ao afirmar que tal princípio atua em conjunto com a liberdade e a
igualdade, sempre na busca pelo equilíbrio do Estado, realizando-se mediante duas
condições: 1) ser parte constitutiva do critério de decisão política, junto à liberdade e
à igualdade; 2) influir na interpretação das outras duas categorias.

Sobre uma outra correlação semântica de fraternidade em âmbito político,


Daniela Ropelato (2008) defende uma ideia política de fraternidade universal onde
se estabelecem elos entre participação e laços sociais. A fraternidade defendida por
Ropelato (2008, p.88) pode ser compreendida como uma “conjugação de relações
de pertencimento mútuo e de responsabilidade, como princípio de reconhecimento
da identidade e do caráter unitário do corpo social, respeitando cada uma das
diferentes multiplicidades”.

Ressalte-se que, desde 1789, a igualdade dos seres humanos, assim como a
liberdade, é reafirmada e reforçada no artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos
do Homem e do Cidadão. Desta forma, as últimas barreiras que inviabilizavam, em
perspectiva teórica, uma fraternidade universal, desmoronam. As revoluções
francesa e americana se inspiraram, em grande medida, segundo Pablo Sanchez
León (s.d., p.37), na cidadania antiga. Esta inspira modelos políticos até os dias
atuais, como a fraternidade política defendida por Ropelato (2008).

Nessa cidadania à moda grega, a participação na vida política era fomentada e,


inclusive, sustentada ética e moralmente pelo incentivo de virtudes como amizade e
coleguismo: “existía una extensa serie de organizaciones a modo de ‘clubs’ privados
de estricta dimensión sócio-cultural, algunos ligados a las tradiciones del culto
dionisíaco o a rituales de intercambio básico y reciprocidade [...]”. (LEÓN, s.d., p.40)

Essas nuanças da polis grega, que envolviam a concepção de filosofia da


cidadania ateniense, atribuíam ao cidadão de Atenas a denominação de Zóon
Politikón, em contraponto ao cidadão moderno que León (s.d.) intitula como Homo
53

Economicus. O modelo grego possui pontos fortes como, v.g., a ausência de


partidos, líderes e candidatos, pois qualquer representado poderia ser eleito
mediante sorteio (havendo rotatividade) e a presença diária para deliberações de,
em média, mais de dois mil participantes na Assembléia de Atenas.

A cidadania ateniense se constitui um paradigma até hoje, não obstante suas


fragilidades, pelo fato de não auferir cidadania às mulheres e estrangeiros, apenas
os cidadãos que eram livres e iguais, bem como, a reduzida quantidade de
cidadãos. Apesar disso, permanece sendo um modelo único e inspirador, e a
despeito de todas essas críticas, algo manteve a confiança entre esses cidadãos ao
longo do tempo, pois, destaca León (s.d., p.42), algo era necessário para que se
acreditasse, mesmo não existindo partidos: “em la rectitud de las propuestas de sus
líderes espontâneos”.

Essa postura perpassa o ato volitivo de mera participação perante um voto.


Existe uma preocupação dos cidadãos com o bem comum, que, destaca León (s.d.,
p.43) ao dispor sobre o animal político: “motivaria a estos ciudadanos y daria sentido
a sus atividades, de la misma manera que ellos contribuirían a reproducir la politeia
por media de su compromisso expresso com las instituciones democráticas”.

Giuseppe Tosi (2009, p.37) declara que o modelo da democracia participativa


grega "era tão perfeito e minucioso que não encontra paralelos na história da
humanidade” e só se concretizou em face da construção teórica da cidadania grega.
Esse sistema político grego está entrelaçado com o conceito de civilidade, respeito
ao próximo, constituição de vínculos e comprometimento com a coisa pública, sendo
urgente na sociedade atual o resgate de princípios correlatos que visem a recuperar
esse modelo de cidadania, que constitui a razão de ser da civilidade.

Ropelato (2008), ao encorpar seu conceito de fraternidade para o âmbito


político, coloca que “os cidadãos não só devem respeitar as leis, mas também
devem ser úteis a sua cidade” ao se estabelecer relações intrínsecas entre a
participação das decisões em assembleia com o conjunto da vida social dos
atenienses. (LEON, s.d., p.43).

A categorização de Ropelato (2008, p.103) é inspirada em valores clássicos,


colocando a fraternidade como um princípio de construção social “no qual o outro –
54

se podemos definir-nos irmãos – não é diferente de mim, mas outro eu mesmo”).


Apenas quando se alcança a compreensão de que as diferenças entre cada ser
humano são elementos legitimadores da própria humanidade é que se permite a
materialização da igualdade. Nas palavras da autora:

[...] a identificação de uma relação de fraternidade como pertencimento


recíproco, entre os atores sociais e políticos, implica pôr em prática relações
de partilha e de responsabilidade, que certamente devem ser avaliadas em
profundidade. (ROBELATO, 2009, p.103).

Esse paradigma desenvolvido por Ropelato (2008), embora se inspire no


padrão de cidadania grega, demandou adaptações pela autora em face da
necessidade de representantes eleitos, não havendo como se estabelecer
hodiernamente uma democracia direta, por motivos que envolvem uma discussão a
ser abordada em outro estudo, conquanto que perpassa pela quantidade de
cidadãos que habitam as atuais sociedades.

O estreitamento de relações entre os representantes eleitos e os cidadãos é


estabelecido essencialmente pelo princípio da fraternidade que viabiliza “espaço de
diálogo transversal”, permitindo ainda, a ampliação do “espaço da ação social” e
favorecendo a “auto-organização”, garantindo uma reciprocidade entre eleitos e
eleitores e, como princípio de construção social, assegurando as diversas
identidades pessoais, servindo como fundamento de base de uma identidade
coletiva comum. (ROPELATO, 2009, p.106).

A ação e a participação políticas dos cidadãos, por intermédio do princípio da


fraternidade, viabiliza o compromisso com o bem comum, entendendo-se tal
princípio como essencialmente político, de caráter polissêmico, com potencial de
proceder ao resgate de um modelo paradigmático de cidadania, podendo influir,
inclusive, em outros âmbitos, como o jurídico, não apenas o político. Ildete Regina
Vale da Silva e Paulo de Tarso Brandão (2015, p.122) afirmam: “Evidencia-se que
(re)propor a tríade é (re)propor a Fraternidade como princípio do universalismo
político e, portanto, como categoria (da) política.”

Repropor a tríade é ainda, propor novamente a autonomia da liberdade,


sustentada na criticidade do indivíduo que não depende exclusivamente do Estado,
mas que, além disso, reconhece a necessidade de uma esfera coletiva que dá forma
e conforma à esfera individual. A constituição da fraternidade como um princípio
55

angular em uma sociedade que se considera política na acepção genuína do termo


favorece, segundo Silva e Brandão (2015, p.123): “noções de cidadania possíveis de
serem aplicadas à toda comunidade e realizar a finalidade do Estado, que a ele não
mais se limita, servido de critérios de decisão política”.

Pode-se constatar, portanto, que o conceito de fraternidade, ao inserir-se no


âmbito político da modernidade, alcança o resplendor de seu potencial realizador
como um princípio universal político. Inobstante sua capacidade de realização de
forma interdependente e dinâmica com os demais princípios que compõe a tríade
francesa, esse potencial não vem sendo observado, discussões terminológicas à
parte, precipuamente por questões culturais.

O princípio da fraternidade carece de um fomento mais enérgico, que o faça


perpassar a barreira da passividade que não permite aos cidadãos atuais
ultrapassarem a barreira do eu, característica de uma sociedade egoica. Poderia
esse estímulo ser realizado elevando-o à categoria jurídica? É possível sua
integração semântica jus-filosófica? A partir de agora, analisar-se-á o princípio da
fraternidade como categoria jurídica.

2.4 O princípio da fraternidade como categoria jurídica

O Direito, entre as diversas acepções que lhe são atribuídas, compreende-se,


segundo Norberto Bobbio (2001, p.02), como um ordenamento normativo em que
"recorre, em última instância, à força física para obter o respeito das normas, para
tornar eficaz, como se diz, o ordenamento em seu conjunto [...]". Já Miguel Reale
(2001) o define como: “O Direito corresponde à exigência essencial e indeclinável de
uma convi-vência ordenada, pois nenhuma sociedade poderia subsistir sem um
mínimo de ordem, de direção e solidariedade.”

As concepções de Bobbio (2001) e Reale (2001) traduzem visões do Direito


como uma ciência que impõe normas sociais, segundo Jünger Habermas (1997,
p.72), de acordo com um “código binário: lícito, ilícito” e sendo compreendido apenas
sob a perspectiva “funcional de estabilização de expectativas de comportamento”.
De fato, dificulta que se possa definir o princípio da fraternidade como uma noção
jurídica, pois a concretização deste se manifesta em uma vida social mais complexa.
56

O paradigma hodierno de Direito é resultante de concepções contratualistas do


século XVIII de filósofos como John Locke, em O Segundo Tratado Sobre o
Governo, e Jean Jacques Rousseau, em O Contrato Social, que refletem condições
sociais e econômicas da burguesia, permitindo, segundo Bobbio (1998, p.349), ser o
"principal instrumento através do qual as forças políticas, que têm nas mãos o poder
dominante em uma determinada sociedade, exercer o próprio domínio".

Ainda no século XVIII, com a formalização do princípio da igualdade, não há


mais diferenças entre os homens, todos são irmãos em humanidade. Essa é a base
conceitual do princípio da fraternidade que, conforme foi visto, possui sua raiz
semântica na relação entre irmãos, pois, a palavra frater tem origem no latim e quer
dizer irmão. A partir de 1948, os aspectos dessa relação podem ser transferidos
para as relações dos cidadãos de todo o mundo.

As principais características dessa relação entre irmãos que são: 1) a


horizontalidade, não havendo distinção entre indivíduos; 2) relacionalidade e 3)
alteridade, introduz-se com a fraternidade 4) o ouvir, pois o estímulo apenas de falar
sem ouvir não coopera com a pacificação social; 5) cooperação e 6) solidariedade,
ambos não se confundido com a caridade, pois a caridade é realizada de forma
vertical, a solidariedade é vertical, quando imposta, podendo ser horizontal quando
fundamentada pela fraternidade (a ser estudado) e a fraternidade será sempre
estabelecida horizontalmente, por movimento espontâneo das partes e movida por
ideais morais.

Em face de seu vasto espectro conceitual, o princípio da fraternidade é tratado


como um conceito plurissignificativo, de modo que o desafio não é levantar um
conceito dentre as possíveis concepções jus-filosóficas para o Direito, mas destacar
uma noção que encontre acento junto à ciência jurídica. Feito isso, diante da lógica e
a razão, as divergências doutrinárias são menos relevantes. A principal abordagem
introduzida será de linha habermasiana, que introduz um aspecto fundamental da
fraternidade: o diálogo. Este é o início para construção de uma nova cultura.

Habermas procede com um salto paradigmático seguindo um padrão que inicia


em tempos iluministas, que sugere uma terceira via a modelos dicotômicos
extremados. Permite-se, então, a introdução da razão em território de verdades
57

codificadas (SBARBERI, 2015, p.7-8), o que é interessante, pois a razão segue uma
terceira via que, muito embora não tenha sido expressamente associada à
fraternidade, vem sendo usualmente atrelada à esta.

Aliás, sobre o caminho do meio, já existe uma filosofia famígera sobre o


assunto na ética aristotélica que caracteriza a virtude no meio (mesótês) - entre dois
extremos opostos – como a moralmente correta e o melhor caminho em busca da
felicidade. No território das verdades codificadas permanecem digladiando liberais e
comunitaristas, dividindo ainda a política e cultura e o político do jurídico.

Três modelos de concepção de Estado (Liberal, Welfare State e Estado de


justiça) em um período de transição de modelos jurídicos - de um sistema legalista
para constitucionalista – pedem cautela para a abordagem da fraternidade, um
conceito essencialmente político, na esfera jus-filosófica. Porém, pode e deve ser ele
feito, seja de forma direta, ao entendê-lo como um princípio jurídico, uma vez
normativado em documentos jurídicos, precipuamente em ordem internacional,
como a declaração de 1948, ou para os que não seguem essa corrente alegando
ineficácia, de forma indireta, mais uma vez, através da cidadania.

Adela Cortina aduz que a solidariedade, bem como a liberdade, não pode ser
imposta (2005, p.65). Ora, se a solidariedade não pode ser imposta, que dirá a
fraternidade. De modo que, para resgatar a fraternidade, assim como para recuperar
a antiga cidadania, faz-se necessário uma relação sistemática entre o princípio da
fraternidade e a cidadania, a qual é considerada um “conceito mediador porque
integra exigências de justiça e, ao mesmo tempo, faz referência aos que são
membros da comunidade, une a racionalidade da justiça com o calor do sentimento
de pertença”. (CORTINA, 2005, p.28).

A supracitada autora ressalta a crise do momento atual: “o sistema político e o


sistema econômico estão dependendo de uma revolução cultural que assegure a
civilidade, a disponibilidade dos cidadãos de se comprometer com a coisa pública”.
(CORTINA, 2005, p.28). Assim, faz-se mister que princípios como a fraternidade
sejam resgatados, mas, para isso, não basta que se conceitue como um princípio
político, é necessária a intervenção do Direito como agente transformador.
58

A contribuição do Direito é relevante para conscientização da sociedade sobre


esse novo padrão em que o modelo do dever-ser, segundo Habermas (1997, p.82),
mostra-se impotente, dando lugar ao Direito racional. A sua forma de atuar é
determinante nessa transição, e a seu ver:

O direito funciona como uma espécie de transformador, o qual impede em


primeiro lugar, que a rede geral da comunicação, socialmente integradora,
se rompa. Mensagens normativas só conseguem circular em toda a
amplidão da sociedade através da linguagem do direito, que é complexo,
porém aberto tanto ao mundo da vida como ao sistema, estes não
encontrariam eco nos universos de ação dirigidos por meios.

Conforme Habermas, o modelo normativo vem sendo atacado desde 1970


pelas ciências sociais, como reflexo do movimento da década de 60, que almejava
uma correlação entre os direitos já conquistados formalmente e sua correspondência
prática. Foi o que fez John Rawls com a Teoria da Justiça em 1971 e os já aludidos
princípios da reparação e da diferença.

Habermas aduz ainda que pretender resgatar o discurso pautado em teorias do


século XVII e XVIII é de grande ingenuidade “se a retomada da argumentação do
direito racional não levar em conta metacriticamente a mudança de perspectivas,
acontecida na economia política e na teoria da sociedade”. Esse pensamento levou
grandes filósofos a se debruçarem sobre conceitos como “justo” e “bom”, os quais
para Ronald Dworkin (1990, p.2-3), não equivalem na teoria atual sob influências
liberais.

Dentro dessa realidade em que a justiça se retroalimentava junto a interesses


individuais, Habermas propõe um salto paradigmático de superação da razão
instrumental que vai de um “paradigma da consciência calcado na ideia de um
pensador solitário que busca entender o mundo à sua volta” à racionalidade
comunicativa, “fruto do abandono de uma compreensão egocêntrica do mundo, cuja
fundamentação Habermas retira do conceito de descentração de Piaget”. (PINTO,
1995).

Pretendo arguir que uma mudança de paradigma para o da teoria da


comunicação tornará possível um retorno à tarefa que foi interrompida com
a crítica da razão instrumental; e isto nos permitirá retomar as tarefas,
desde então negligenciadas, de uma teoria crítica da sociedade
(HABERMAS, 1984, p. 386).
59

A Teoria da Ação Comunicativa (TAC) de Habermas propõe a cultura do


diálogo como forma de atuar em um novo viés, o da dialogicidade, ou seja, a ideia
do diálogo de um com o outro. "Habermas vai priorizar, para a compreensão do ser
humano em sociedade, as ações de natureza comunicativa. Isto é, as ações
referentes à intervenção no diálogo entre vários sujeitos." (2013, p.153).

Desta forma, a cultura, a socialidade e a subjetivação ganham espaço no que o


autor denomina mundo da vida (MV). G. L. Gutierrez e M. A. L. de Almeida (2013)
diferenciam as categorias habermasianas fundamentais, quais sejam o mundo da
vida e os subsistemas dirigidos pelo meio poder, neste se encontra o Estado, regido
pela Ciência Jurídica.

Apesar dessa divisão que os autores costumam fazer entre meio da vida,
espaço comunicativo, espaço para realização da felicidade, dentre outras
terminologias, que dividem as emoções das normas positivas do Estado, cabe
destacar que, na ótica Habermas: “não é o soberano quem deve representar a
vontade do povo, mas o povo exercer sua soberania comunicativamente, no âmbito
de procedimentos aceitos por ele”. (CORTINA, 2015, p.134).

O maior desafio à aplicação dessa tese é educar cidadãos dependentes de um


Estado que acostumou a conceder direitos por interpretações principiológica
extensivas, um Estado paternalista que não fomenta participações em debates,
audiências públicas, acompanhamento de partidos políticos, sindicatos, movimentos
estudantis, entre outros mecanismos de participação popular. O resultado é um
Estado beligerante e desequilíbrio entre os poderes. Porém, quem legitima o poder
administrativo é a esfera comunicativa, na teoria habermasiana. Nesse contexto,
José Renato Nalini (2014, p. 9) destaca que:

Não é saudável uma sociedade beligerante, que não consegue resolver


seus problemas à mesa do diálogo, mediante saudável exercício de
argumentação, da ponderação e de outras ferramentas que poderiam ser
chamadas singelamente de bom senso.

Conforme a teoria da ação argumentativa de Habermas, no mundo da vida


compreende-se o espaço de integração social, no qual se “mantém uma relação de
tensão com as esferas sociais integradas sistematicamente”. (GUTIERREZ;
ALMEIDA, 2013, p. 161). Essas outras esferas sociais são os subsistemas, em que
60

ocorrem as ações estratégicas e onde há o poder, como o Direito. O Mundo de Valor


funciona como âncora e meio de controle ao poder e o dinheiro (1988, v.2, p.442) e
é pautado pela solidariedade dos membros:

A coordenação das ações e a estabilização das identidades de grupo têm


aqui (no MV) sua medida na solidariedade dos membros, o que fica
evidente nas perturbações de integração social, que se traduzem em
anomia e nos conflitos correspondentes. (HABERMAS, 1988, p.60-61).

A teoria da ação comunicativa, apesar de possuir uma relação mais forte com a
concepção política de fraternidade, é citada por Eduardo Veronese (2015, p.75) em
sua conceituação jurídica do princípio. Para o autor, os estudos de Jünger
Habermas “contribuem para a reformulação das concepções de esfera pública, o
que atinge diretamente o método de interpretação e de formulação do mais público
dos direitos, que é o constitucional”.

Tratando mais especificamente da seara jurídica, Habermas entende que “o


caráter moral do direito poderia ser exposto na via da argumentação, ou seja,
compreender-se uma argumentação moral, mas fundada no positivismo, que é, a
exteriorização da vontade política”. (VERONESE, 2015, p.81). A assertiva é
possível, pois o princípio da fraternidade é flexível quanto à adequação ao âmbito
em atuação em decorrência do caráter plurissignificativo. Seguem algumas noções
de fraternidade:

Princípios básicos de Liberdade e Igualdade, que tornam Fraternas, uma


relação dinâmica entre si, Fraternidade como unificador em momentos
históricos específicos, [...] Fraternidade enquanto materialização de
relações complexas de Cooperativismo, ou ainda como princípio de
norteamento e solução de paradoxos sociais, além de princípio pacificador e
de caráter relacional. (VERONESE, 2015, p.99, grifo nosso).

O Direito, pelo caráter transformador que possui, não pode mais transferir
apenas para a seara política a responsabilidade por construir uma cultura cidadã
que dê vida aos dispositivos, os quais se não pela ação humana são apenas letras
mortas. Cabe a seara jurídica também o fomento dessa cultura de cidadania. O fato
de o espaço público ser um espaço para discussão e interação, não inviabiliza o
contributo do Direito, que deve agir tendo em vista o propósito de pacificação social.

A visão de atuar de forma fraternal, por vezes, figura-se utópica pela inexatidão
de alguns juízos, tais como: introduzir a fraternidade é extinguir os conflitos e
61

controvérsias? Não. Segundo Ricardo Cappi (2009, p.28), “o conflito é inerente ao


ser humano, é intrínseco à existência humana.” Marcelino Meleu (2009) quando diz:
Interferir na administração dos conflitos implica, em um primeiro momento, admitir
que esses são naturais e inerentes ao ser humano, propulsores do progresso, pois,
sem conflito seria impossível haver progresso e provavelmente as relações sociais
estariam estagnadas em algum momento.

De forma que o conflito, seja no ser humano interiormente, seja entre seres
humanos, é algo perene. João Cândido Portinari9 retrata de forma fiel a dicotomia
humana no painel Guerra e Paz, as expressões cotidianas das lutas vivenciadas
pelos seres humanos, muitas delas em seu próprio interior; e no painel Paz, Portinari
aborda justamente a convivência solidária entre as pessoas, como meio de
pacificação.

É como se a paz tivesse nascido depois da guerra. Pelo menos para a arte.
Como se as sociedades humanas tivesse nascido em guerra e somente
depois tivesses conquistado a paz. [...]. Dela (a humanidade) Portinari
soube captar um drama que parece se perpetuar, enquanto os desvarios
imperiais seguirem ameaçando impor a força da metralha sobre a vontade
de paz e de convivência solidária. Portinari, aqui de corpo inteiro, revela
toda sua atualidade e sua humanidade, a dos que lutam por um outro
mundo possível. (SADER, 2013, p.40-41, grifo nosso).

Nesse sentido, é necessário que se fomente o trabalho de ressignificação de


conflitos e controvérsias que vem sendo feito pelos envolvidos junto à difusão da
cultura da mediação de conflitos. Sobre o assunto, Juliana Demarchi (2008, p.51)
ensina que “O conflito não é algo ontologicamente negativo; [...] do conflito pode
advir uma oportunidade de crescimento entre os envolvidos e de aprimoramento de
suas relações.”

A mediação tem mostrando que o diálogo, permeado de vários elementos


fraternos, é uma via mais humana, no sentido que satisfaz, em maior proporção que
a tutela estatal, as expectativas íntimas daquele que busca a resolução do conflito e,
principalmente, o retorno das partes quando a reinserção no conflito é menor.
Nesses casos, não há imposição de novas estruturas, mas a viabilização do diálogo.
Esse modelo urge em ser expandido para a cidadania.

9
Cândido Portinari, pintor brasileiro, foi convidado pelo governo brasileiro na década de 50 para pintar obras a
serem entregues a Organização das Nações Unidas. Foram escolhidos como tema a guerra e a paz.
62

Na mesma linha de pensamento, Nalini (2014, p.9) coloca que: “O pragmatismo


anglo-saxão produziu dezenas de fórmulas de resolução de controvérsias que
prescindem da judicialização”. Fazer com que se enxergue que o outro é meu irmão
dentro de uma seara jurídica, vai além de poupar o judiciário de uma monstruosa
carga de trabalho. É comprometer-se com o propósito do Direito que tem a ver
pacificação da sociedade.

Assim, faz-se necessário o resgate do princípio da fraternidade na esfera


jurídica para que se possa contribuir com o fomento da mudança de paradigma atual
no Direito e, dessa forma, se possa viabilizar a construção de uma nova cultura
cidadã, onde é possível enxergar o outro. O aprimoramento das relações entre os
cidadãos incorre em algo valoroso à democracia atual: o aperfeiçoamento da
cidadania e a transformação de vínculos relacionais que, consequentemente, leva
ao favorecimento das instituições.

Como trabalhar fraternidade em uma ótica jurídica? O princípio da fraternidade


possui como pontos atuantes fortes a compreensão integradora, dialógica,
participativa e solidária. São ações que prescindem de valores, sem os quais restam
inócuos e com pouca eficácia para o fim almejado. Um novo modelo jurídico mais
sensível à temas de justiça social vem implementando essas questões, porém, sem
o controle político-jurídico permanente das instituições do Estado por parte dos
cidadãos, o que gera um cenário de insegurança. Sobre a mudança dos padrões
jurídicos, Norberto Bobbio (2015, p.290) assevera:

Como à renovação política em sentido democrático deveria corresponder


uma renovação da cultura, e como a democracia está baseada no princípio
do diálogo, do consenso e do progresso social, assim uma cultura adaptada
a uma sociedade democrática deveria ser não dogmática, mas crítica, não
fechada, mas aberta, não especulativa, mas positiva?

O princípio da fraternidade, não obstante ser lema da revolução francesa, fora


afastado ainda no transcorrer da Revolução por aqueles que desfrutaram do
movimento e do povo para fazer constar nos documentos o que fosse útil à classe10.
Assim, a fraternité foi reconhecida legalmente apenas na Declaração Universal de

10
É o que se constata na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, art. 1º: “Os homens
nascem e permanecem livres e iguais em direitos”.
63

Direitos Humanos, a qual foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
em 1948, ou seja, 159 anos depois.

Apesar do reconhecimento formal dos princípios da liberdade, igualdade e


fraternidade (DECLARAÇÃO UNIVERSAL de 1948), existem críticas quanto a sua
efetividade. Antonio Carlos Wolkmer (2001, p.67) afirma que se tratam de retóricas
formalistas quanto a todos os cidadãos e que o desenvolvimento do capitalismo
"desencadeou a racionalidade positivista como fenômeno generalizado e complexo
que se por um lado, liberta, por outro, reprime." O Welfare State surgido com a
intenção de atenuar esse cenário, também se encontra em questão, pois, por vezes,
transfere ao Estado responsabilidades que são também do cidadão, exigindo deste,
esse reconhecimento. A dialogicidade entre a sociedade e o Direito jamais pode
parar e nem submeter-se a um grupo exclusivo, seja de representantes ou de
representados. Eduardo Petry Veronese (2012, p.25), sobre o Estado do bem estar:

Este modelo mostra-se superado por não contemplar uma maior


relacionalidade Estado e Cidadão, bem como outros temas complexos da
sociedade contemporânea, em especial questões ambientais e
emancipação social de grupos mais vulneráveis. (Grifo nosso).

Questões correlatas ao Estado do bem estar como exclusão/inclusão ou a


passividade do cidadão diante do Estado só podem carecer do fomento ao elo de
humanidade, instigando-se aspectos como a relacionalidade inerente à palavra
fraterna, pois como bem coloca Silva e Brandão (2015, p.130): “nenhuma pessoa
humana é irmão de si próprio”. Desta forma, é possível reconhecer a existência de
um outro, vários outros indivíduos, que também compõe a sociedade com as suas
peculiaridades e diferenças, permitindo-se introjetar o conceito de alteridade,
atrelado intrinsecamente ao sentido de fraterno.

Também na Constituição Federal brasileira, os princípios da fraternidade


liberdade e igualdade, como ideais ontológicos, devem interagir de forma dinâmica e
conjunta, com vistas à efetivação do Estado Brasileiro e de seus objetivos
fundamentais.

Nesse sentido, tem-se que a Constituição de 1988 caracteriza a sociedade


brasileira como uma “sociedade fraterna”. O desafio maior é transferir a teoria que
64

demonstra a necessidade de uma participação e solidariedade para a integração


social e concretização de artigos da Constituição Federal, tais como:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina,
visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
(BRASIL. CF, 1988, grifo nosso).

Para essa tarefa, conforme aludido, retomar-se-á o conceito de cidadania, a


qual possui uma ambivalência por pertencer a ambos os mundos: o político e o
jurídico. A cidadania caminha estreitamente junto à fraternidade, ambas percorrem
uma terceira via que se abre entre comunitaristas e liberais, trabalhando-se no
resgate da concepção de cidadania grega, respeitadas as restrições aplicáveis entre
modelos pelo lapso temporal e diferenças demográficas.

A inspiração de cidadão é o animal político ou Zóon Politikón, em que havia


uma consideração pelo espaço público que era composto de cidadãos que se
respeitavam. Adela Cortina (2005, p.27) afirma que: “a racionalidade da justiça e o
sentimento de pertença a uma comunidade concreta têm de andar juntos, se
desejamos assegurar cidadãos plenos e, ao mesmo tempo, uma democracia
sustentável”.

Algumas concepções sobre cidadania e a sugestão quanto à construção de


uma nova cultura serão temas do próximo capítulo. Neste item, o objetivo foi abordar
o conceito do princípio da fraternidade na esfera jurídica e suas possibilidades de
atuação. Apesar dos elementos serem ainda frágeis para sua eficácia no direito
65

interno, pôde-se vislumbrar a possibilidade de sua atuação neste âmbito em


equilíbrio sistemático com os princípios de liberdade e de igualdade.

Além disso, vislumbra-se sua atuação junto a uma terceira via, que surge entre
liberais e comunitaristas, associada a esse princípio e com estruturas influenciadas
pelo modelo dialógico habermasiano, principalmente a Teoria da Ação
Comunicativa, que possibilita à fraternidade uma ação em ambas as esferas,
político-jurídico, sobretudo em atuação conjunta com a cidadania.

Foi abordada a mudança de paradigmas entre o direito do dever-ser e o direito


racional, essencial para a construção de uma nova cultura cidadã com fins pacíficos,
pois, com a introdução das características de relacionalidade e do ouvir, é possível
superar controvérsias em busca da pacificação social. O Direito, através de seus
atores, pode fomentar a paz, a exemplo do mediador e do conciliador que atuam na
facilitação da resolução de conflitos.

A TAC de Habermas, inobstante voltar-se mais à esfera política, influencia os


juristas. Todavia, demais teorias de cunho interativo instigam a argumentação moral
em relação ao direito positivo, conquanto, com a cautela de não atingir a segurança
jurídica, o que poderia ser prejudicial para a própria sociedade enquanto
coletividade.

Aspectos atrelados ao conteúdo semântico do princípio foram elencados,


dentre eles, o princípio pacificador (EGGER, 2011, p.253) e o de caráter
correlacional (BAGGENSTOSS, 2011, p.192), bem como, o caráter orientador da
fraternidade em normas, diretrizes e, principalmente, nas condutas daqueles que
consubstancializam o Direito, sejam cidadãos comuns, ou seja, os que de algum
forma se revestem de papeis representativos do Estado junto a alguma instituição.

2.5 Distinção conceitual entre fraternidade e solidariedade

A construção do termo fraternidade, que no transcorrer histórico lhe galgou ao


patamar de princípio, foi permeada de discussões, conforme visto, havendo uma
corrente doutrinária que levantava aspectos históricos e conceituais como relevantes
para o não enquadramento do termo no conceito político-jurídico, entendendo que
66

se atenderia melhor às exigências dos respectivos âmbitos a utilização do termo


solidariedade.

Para os que intentavam essa substituição, as vantagens se davam pelo fato de


que a solidariedade seria uma palavra mais científica, em que a “aparência
científica, traduzia a ideia de orientar o grande modelo de interdependência da vida
humana e social”. A ausência de elementos como afeto e qualquer outra
subjetividade facilitaria uma aproximação do âmbito político-jurídico, uma vez que
existem resistências de aproximação por questões valorativas. (SILVA; BRANDÃO,
2010, p.106).

A definição jurídica de solidariedade traz mais de uma acepção, podendo


significar: “1º inter-relação ou interdependência; 2º assistência recíproca entre os
membros de um mesmo grupo (p. ex. S. familiar; S. humana, etc.)”. A solidariedade
não deve, segundo Nicola Abbagnano (2015, p.1086), identificar-se como um
“reconhecimento metafísico de uma essência comum intemporal, mas como criação
histórica de indivíduos capazes de identificar-se com a vida alheia”.

Quanto à etimologia da palavra solidariedade, sua origem vem de termos do


latim solidume solidu que significam respectivamente sólido e totalmente inteiro. Em
Roma, utilizava-se a expressão in solidum em atividades comerciais: "com o sentido
de comprometer, com responsabilidade, cada um dos integrantes de cada uma das
partes da transação comercial, credores e devedores, com o negócio realizado.”
(MORAIS; TENÓRIO, 2016, online).

Apesar de sua origem jurídica, o termo começa a ganhar conteúdo teológico


com a utilização cada vez maior pela igreja que entende o vocábulo como “[...] a
determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum, ou seja, pelo
bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente
responsáveis por todos [...]” (ALMEIDA, 2005, p. 153). Além desse ganho valorativo,
a solidariedade também foi associada ao solidarismo, pois:

No século XIX, devido à revolução industrial, a solidariedade passa a ser


uma resposta comunitária, corporativa e do estado social a atitude da
economia capitalista em razão das grandes concentrações de riquezas e à
pobreza cada vez maior da maioria dos indivíduos da sociedade. (MORAIS;
TENÓRIO, 2016, online).
67

Todos esses fatores contribuíram para a crescente utilização do princípio da


solidariedade. A partir daí, uma confusão de termos passou a existir, “as duas
palavras diferentes foram combinadas e utilizadas em muitas ocasiões como se
fossem intercambiáveis”, o que na prática não deve ocorrer em face da carga
semântica diferenciada entre ambos, pois “a ideia de solidariedade fica restrita a
uma comunidade autoreferencial, enquanto que a passagem da Fraternidade à
solidariedade significaria colocar a Sociedade no lugar da comunidade”. (SILVA;
BRANDÃO, 2015, p.108-109).

É na distinção conceitual entre fraternidade e solidariedade e a determinação


de qual desses conceitos rege como princípio do universalismo político o Estado
Democrático de Direito que se compreende de forma cristalina o mecanismo de
ação da fraternidade. Seu objetivo é instigar uma atuação conjunta e integrada,
fomentando a ideia de bem comum.

A mudança de paradigma do direito e a construção de uma nova cultura cívica,


ambos dependentes de uma atuação cidadã comprometida com a sociedade em
coletividade, depende muito mais de condutas fraternas do que meramente
solidárias, pois, como explana Mardone (2012, p.41): “Solidariedade e um vínculo
guiado pela racionalidade e não pelos sentimentos, que interpela a prover ajuda e
que descansa na similaridade de interesses e metas”.

Enquanto isso, a fraternidade requer uma irmandade em humanidade, ou seja,


todos são membros de uma única família. O estímulo a essa consciência constrói o
elo de compromisso social que permite o resgate do espírito da cidadania grega e
que pode vir a constituir um novo modelo de cidadania, o Civer Frater. Um cidadão
que tem como razão fundante a civilidade, a preocupação com a efetivação de
exigências mínimas de justiça a serem garantidas por um Estado Constitucional –
menor que o Welfare State – e que, como esfera pública para construção de
debates, além das vias usuais, como escolas, universidades, audiências públicas,
possui a comunidade virtual, a qual, designar-se-á como Ágora digital. Doravante, a
partir do capítulo 3, a matéria será tratada de forma pragmática, analisando os
documentos que tratam de fraternidade e solidariedade no Brasil, alguns conceitos
de cidadania, o que se entende como nova cultura cidadã, experiências e exemplos
práticos que se correlacionam com o pensamento que ora se apresenta.
3 O RETORNO DA FRATERNIDADE NO DISCURSO
DEMOCRÁTICO COMO ELEMENTO DE EQUILÍBRIO E
UNIFICAÇÃO SOCIAL

Neste capítulo discute-se o conceito de fraternidade como um elemento


unificador e harmonizador junto aos princípios da igualdade e da fraternidade dentro
do Estado democrático de Direito. Para alcançar este objetivo, inicialmente utiliza-se
o recurso do Direito e narrativa, através do filme “A Ilha do Dr. Moreau”. O objetivo é
evidenciar a utilidade de um liame entre os indivíduos de uma sociedade baseado
em algum vínculo de valor para todos que integram a sociedade. A partir daí,
retoma-se a discussão dos termos fraternidade e solidariedade, já abordados no
capítulo anterior, pois a distinção conceitual de ambos possui implicações diretas no
equilíbrio do Estado.

Os elos instituídos pelos indivíduos que constituíam uma coletividade se


tratavam de fontes de sacrifício coletivo, “de suspensão do egocentrismo
individualista” (FERRY, 2012, p.17) presentes em contextos variantes, tais como
Deus para os judeus e cristãos, a razão iluminista, os valores e direitos republicanos
e o nacionalismo, os quais possuem em comum atuarem como elementos de
congregação da sociedade à época.

Essas conexões estabelecidas no interior na sociedade, que evoluem de


família a grupos mais complexos, não descartam os modelos contratualistas, uma
vez que a estruturação jurídica, no transcorrer histórico, faz-se necessária com o
crescimento do contingente populacional, sendo essencial a formalização de
acordos entre relações. O desafio das Cartas Constitucionais, bem como da
sociedade por ela regida, é encontrar um equilíbrio entre o que está posto e sua
correspondência fática.

[...] deseja-se identificar, no perfil das cartas constitucionais, não apenas um


instrumento formal de governo (Constituição como estatuto dos
governantes, dos governados e da instituição estatal), nos moldes das
denominadas Constituições-garantia, características do constitucionalismo
liberal, mas também um modelo ideal de ordem social desejável,
esquadrinhado através de objetivos a serem atingidos pelo Estado e pela
69

sociedade, com substrato em princípios e valores consagrados na


comunidade, expressivo das decantadas Constituições dirigentes de matriz
programática. (TAVARES, 2011, p.4).

Conforme exposto acima, para uma melhor elucidação da questão, os pontos


em análise, utilidade de laços e modelo de Estado legal, serão discutidos na
narrativa “A Ilha do Dr. Moreau”, romance de ficção científica de 1986 do escritor
britânico Herbert George Wells. A obra foi adaptada para o cinema em três versões:
A Ilha das Almas Selvagens (1932), A Ilha do Dr. Moreau, versão do ano de 1977, e
a Ilha do Dr. Moreau, versão do ano de 1996. Trata-se de uma mordaz sátira social
e, inobstante a história ser abordada a partir das obras de uma forma geral, alguns
diálogos da versão cinematográfica de 1996 serão abordados com finalidade
ilustrativa. (A ILHA..., 1996).

Narra a história que, após a queda de um avião, três homens ficaram à deriva,
já há alguns dias, em um bote salva vidas, no Pacífico Sul. Entre eles, Edward
Montgomery, que estava a serviço de uma missão de paz da Organização das
Nações Unidas. É dele o pensamento que inicia o filme: “[...] brigaram pelo último
cantil de água, como animais, não como homens. Eu lutei para salvar a minha vida,
assim como eles.”

A narrativa revela um cenário que em muito se assemelha a um estado de


natureza, revelando uma atuação instintiva do homem, onde sua performance mais
se aproxima a de um animal, ao agir por instinto, do que a de um humano, ao agir
pela razão.

Os diálogos dos personagens, no decorrer da história, pontuam críticas ao


sistema sócio-político e jurídico. Montgomery é um cientista veterinário, e atua junto
com Dr. Moreau na Ilha. Foi quem capturou Edward em alto mar. Em determinada
cena, um diálogo com Edward, afirma em tom sarcástico: “temos medo que torça o
tornozelo e nos processe”, ao que Edward responde: “Bom, é um mundo litigioso”. A
conversa exprime um julgamento de reprovação ao comportamento beligerante que
se identifica no sistema jurídico, uma crítica aberta ao modelo contemporâneo.

Mais à frente, seguindo com os apontamentos de julgamentos em diálogos, em


outra cena, Montgomery faz a seguinte afirmação: “difícil ser homem, cedo ou tarde
querem algo que é ruim [...]”, Benedictus de Spinoza (2013, p.299) explica esse
70

comportamento ao afirmar que: “À medida que são afligidos por afetos que são
paixões, os homens podem discrepar em natureza e, igualmente, sob a mesma
condição, um único e mesmo homem é volúvel e inconstante”11. Esse raciocínio
encontra-se na proposição nº 33 da servidão humana.

A proposição seguinte, número 34, vem a complementar esse raciocínio à luz da


ética, declarando que: “À medida que os homens são afligidos por afetos que são
paixões podem ser reciprocamente contrários”12. (SPINOZA, 2013, p.301). É comum
ao ser humano que ainda não se utiliza de forma coerente da razão ceder a impulsos
em desalinho com a ética de reciprocidade, ressaltam-se os instintos, é, pois, a partir
dessa natureza humana sombria que iniciam-se os estudos do Doutor Moreau.

O cientista, Dr. Moreau, segundo a obra, foi ganhador de um Prêmio Nobel e,


posteriormente, forçado a se isolar do mundo por ter realizado experimentos não
autorizados com animais, o que acabou acontecendo em uma ilha, que recebeu o
seu nome. Em suas experiências científicas, o pesquisador conseguiu isolar o gene
humano e o seu propósito é “refinar a espécie humana” almejando ações sob
condução da razão. Para tanto, ele introduz os genes em animais, criando
humanoides. Cada humanoide trata-se de um estágio de erradicação de elementos
destrutivos presentes na psique humana.

O mecanismo desenvolvido por Dr. Moreau para aprimoramento das


imperfeições humanas foi baseado na implementação de um chip que causava dor
ante o descumprimento da lei, a qual era repetida diversas vezes pelo promulgador
da lei, um humanoide criado para essa função. Assim, lei e sanção – método padrão
do Direito hodierno - era o único sistema de ordem que existia na ilha. Sua utilização
implicava em ministrar choques diante de regras descumpridas, tais como, “Não se
comem animais nessa ilha”; “Não se anda sobre quatro patas.”

O questionamento desse sistema se inicia quando, em determinada passagem,


um dos humanóides, ao descobrir que todos tinham chips em seus corpos e que a

11
Propositio XXXIII. Homines natura discrepare possunt, quatenus affectibus, qui passiones sunt, conflictantur,
et eatenus etiam unus idemque homo varius est inconstans.
12
Propositio XXXIV. Quatenus homines affectibus, qui passiones sunt, conflictantur, possunt invicem esse
contrarii.
71

punição e os choques proviam deste, arranca-o de seu corpo e indaga: Se não há


mais dor, então não há mais lei?

Naquela sociedade, Dr. Moreau não desenvolveu nenhum espaço público ou


alguma forma de integração ou unificação civilizatória entre as espécies de sua
pesquisa. No contexto real, são exemplos: a figura de Deus, da nação, a terra, como
proposto por Luc Ferry (2012), a do próprio homem, sacralizado pelo movimento
humanista do século XXI. No filme, todos eram tidos como filhos do mesmo Pai, que
era o próprio Dr. Moreau, e assim o chamavam.

Todavia, houve uma falha na constituição de elos entre os cidadãos daquela


sociedade, pois não se estabeleceu uma mínima conexão entre indivíduos, que não
compreendiam porque eram diferentes do pai, Dr. Moreau, em fisionomia e
necessidades, razão pela qual não se sentiam irmãos, ou seja, não havia, ainda que
artificialmente, uma identificação entre esses humanoides, portanto, não existiam
vínculos, afinidades, nem afetos, seja entre os cidadãos, seja entre o elemento que
deveria ser o elo unificador, gerando dispersão e insegurança.

O patriotismo, que une os cidadãos em torno de uma pátria, trabalha de forma


viva esses elementos de unidade, principalmente através dos símbolos pátrios,
como a bandeira e o hino. Todos que fazem parte de uma nação, sentem-se como
elemento integrante e uno com aquela pátria, todavia, esse modelo é considerado
ultrapassado por abordar o padrão “inclusão/exclusão”, ou seja, quem não faz parte
dessa pátria, está excluído. Assim, o novo modelo que sacraliza o humano pelo
altruísmo, permite um sistema “inclusão/inclusão”, que se assemelha a partida de
frescobol. Desta forma, substitui-se a lógica competitiva, adversarial e, por vezes,
beligerante, pela cooperativa, conjunta e ternária, favorecendo, inclusive, as
relações internacionais.

Retornando aos comentários do filme, em seu enredo, além de criticar o


modelo lei-sanção como sistema único de progresso social e de cidadania, em pelo
menos três cenas, deixa claro o quanto a fraternidade se mostra necessária para o
bom funcionamento de um sistema social, em qualquer âmbito. Os cidadãos
precisam se identificar como elementos pertencentes de um mesmo conjunto para
desenvolver entre si um sentimento de compromisso cívico a nortear a cidadania.
72

Na primeira cena, que se pode considerar como uma tentativa pontual de


construção de uma fraternidade por parte dos humanoides, Edward Douglas – que
está em missão pela ONU – tenta fugir da ilha, sendo auxiliado pela humanoide
Aissa. Ao encontrar com outro humanoide que pretendia atacá-lo, Aissa pede para
que ele toque a mão de Edward e diz: “por favor, não o mate, ele também é um
homem de 5 dedos”.

Quando o humanoide, ao tocar a mão de Edward e sentir seus dedos,


reconhece-o como “irmão”, leva-o para um local onde existem outros semelhantes
para que Edward possa falar com o “promulgador da lei”. Somente a partir do
“toque” e do reconhecimento de Edward como semelhante, é que ele foi aceito como
parte daquele grupo, deixou de ser visto como uma ameaça e passou a usufruir dos
benefícios que aquele agrupamento de humanoides da ilha poderia lhe oferecer.
Essa pequena comunidade vai se formando de forma independente do Dr. Moreau
e, inclusive, esse auxílio recíproco é uma forma de se proteger do modelo lei-
sanção-punição.

A narrativa deixa claro que na ilha de Dr. Moreau não houve esforços por parte
dos condutores dos experimentos para a implementação do espírito fraterno, bem
como de seus elementos, tais como, diálogo, interação, cooperação, solidariedade,
alteridade e, principalmente, o fomento ao sentimento de pertença por parte
daqueles humanoides àquela sociedade. Considerando que o objetivo da pesquisa
era caracterizar aquelas criaturas como humanas, faltou à sociedade o elemento
político, de modo que quando os primeiro humanoides retiraram seus chips ficaram
desnorteados e a primeira atitude foi recorrer ao pai.

Na segunda cena em que se vislumbra uma tentativa de instauração de espírito


fraterno, em meio ao conflito interno que se depararam, na busca da compreensão
do que são e na tentativa de identificar o elemento que, até então, era o único elo
que os ligavam aos demais membros integrantes da sociedade, ainda que fosse um
elo frágil, um dos humanoides indaga: Pai, o que sou? Ao que o cientista responde:
Você é meu filho. Essa cena acontece em um ambiente em que alguns humanoides
estão reunidos para conversar e, assim, é dada uma chance ao diálogo. O pai,
porém, sem ter conhecimento de que os filhos já não mais estão com os chips, tenta
73

torturá-los, optando nitidamente pelo modelo lei-sanção em detrimento do diálogo, o


que não é aceito pelos humanoides, que não perdoam o Dr. Moreau e o devoram.

O que se pode interpretar dessa cena metafórica é que, qualquer elemento que
se coloque como unificador, desde que não haja um trabalho cultural de construção
de uma identidade entre os cidadãos e estre elemento “sacro”, torna a ordem
facilmente passível de ser subvertida pela fragilidades dos vínculos. Durante a
narrativa foi questionada tanto a identidade, pelo não reconhecimento entre pai e
filho, mas também e, principalmente, o diálogo, entre o Dr. Moreau e os
humanoides, que substituía a comunicação pela aplicação da punição através dos
choques.

Após a morte de Dr. Moreau é gerado um período de instabilidade, pois os


humanoides se apossam do controle de Moreau e, não havendo uma legitimidade
no quadro de normas que se apresentavam, um cenário de instabilidade envolve a
ilha o que demonstra a vulnerabilidade de um sistema de normas fundamentado
apenas na lei-sanção, sem que a coletividade aufira um suporte efetivo àquele
conjunto de leis. Assim, qualquer um que pegasse o controle – que pertencia a Dr.
Moreau – poderia ditar normas e àqueles que conseguissem retirar o chip,
facilmente se desvinculariam do sistema que vigia naquele momento.

ANDAR SOBRE QUATRO PATAS


ESSA É A LEI
BEBER FAZENDO BARULHO É A LEI
NÓS NÃO SOMOS HOMENS
COMER CARNE DE PEIXE
A QUALQUER MOMENTO
ESSA É A LEI
AGORA EU SOU A LEI
(Humanoides ao subverterem a ordem)

Em contrapartida, se todos se conectassem através de um elo que os unissem


entre si, esse elemento - não desprezando a necessidade de lei e de normas -
fortaleceria a sociedade como um todo. O sistema de normas, o progresso
econômico, a garantia de direitos, o respeito a limiares de justiça mínimos dentro do
Estado constitucional e os instintos do homem seriam mais controláveis, pois este
atuaria mais próximo da razão ao comprometer-se com ideais cívicos.
74

A terceira cena, em que é possível se identificar o intento fraterno, há uma


tentativa de implementação de uma significação que ligasse os humanoides, é
visível no seguinte diálogo, em que se dá após a morte de Dr. Moreau:

- Ainda existe uma lei após a morte de Moreau?


- Ainda existe uma lei sim.
- Mas como pode haver uma lei sem o pai?
- Ele não nos deixou.
- É o que direito aos outros.
- Seu espírito está orando por nós.

Na disputa para saber quem viria a ser o novo pai, detentor de todos os
poderes, destruíram-se todos uns aos outros. A união, que não havia sido
incentivada, destruiu a sociedade dos humanoides, pois cada um queria ter o poder
apenas para si, em um modelo individualista que não oportunizava o
estabelecimento de laços. A construção de um elo pode ser inspirada de variadas
formas, conforme as já aludidas. Dr. Moreau falhou em seu projeto, mas, a tentativa
de inspiração em um espírito do pai possuía uma carga axiológica substancial, por
conter valores.

Não se sabe se a intitulação da obra A Ilha do Dr. Moreau fora proposital.


Todavia, aduz Warat (2001, p.72) “Começamos a entender que cada homem não é
uma mônada isolada13 (WARAT, 2007, p.103-105), que não são fragmentos sem
conexão. Cada um é independente e produto forçado de interações”. Neste
raciocinio, Alain Touraine (1998, p.53) critica a falta de um liame no regime
democrático e questiona:

¿De qué sirve hablar aún de democracia en un país que no sería sino un
conjunto de comunidades ligadas entre sí sólo por el mercado y por otros
sistemas de regulación? ¿Y por qué hablar aun en este caso de sistemas
políticos?.

A ausência de laços que permitam uma harmonia dentro de uma sociedade,


bem como no Estado, torna-os frágeis individualmente e também como um todo,
conquanto, o meio pelo qual se trabalha uma unificação de relações, a depender do
conceito cultuado no meio social, pode ser tão ou até mais prejudicial do que a
13
“Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado; todo homem é um pedaço de continente, uma
parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída,
como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de
qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntai: Por
quem os sinos dobram; eles dobram por vós.” (WARAT, 2007, p.103-105).
75

ausência dele. Daí a relevância do estudo da história dos conceitos e sua


perspectiva semântica, os quais Reinhart Koselleck (1992, p.141) destaca:

A semântica é assim imprescindível para a comunicação linguística e para o


uso pragmático da língua. É ainda imprescindível para que se possa fazer
política, exercer influência social, exercer poder político, fazer revolução,
enfim, tudo aquilo que se possa imaginar como atos sociais e históricos. [...]
Dificilmente posso pressupor que uma situação revolucionária haja
possibilidade de formulação de conceitos absolutamente novos em termos
de semântica.

Antigos padrões formadores de unicidade, v.g., a figura de Deus e “a


comunhão de todos os cantos”, sob a perspectiva católica apostólica romana, e a
Nação, no nacionalismo, são elementos associativos famigerados ao longo dos
séculos e continuam, em alguns países a possuir relevância. Visões deturpadas
desses elementos de aglutinação sobrevivem, como o fundamentalismo e o
fanatismo, concebidos por representantes que não acompanham o movimento de
progresso das sociedades.

O século XXI para o filósofo Luc Ferry (2012) possui como elemento divino o
próprio homem. Para o autor delineia-se globalmente “A Revolução do Amor”, segundo
o filósofo francês, perfilada por princípios como o da fraternidade, e seus plúrimos
significados. Este século, segundo o autor, possui o “desejo de uma vida livre, que se
liberta das convenções, que rompe com as tradições.” (FERRY, 2012, p.36).

A análise de documentos e de Constituições históricas, com mais atenção às


francesas após a revolução de 1789, demonstra que os fatores de poder que se
estabeleciam ao momento da vigência das cartas políticas interferiam diretamente
no modelo de unicidade adotado, os quais tendiam a beneficiar os governantes com
ideologias de unificação, mas não de união.

Na França, com o estabelecimento da divisa republicana “liberdade, igualdade


e fraternidade”, a fraternidade surge como um critério de união e legitimação para a
liberdade e a igualdade em face de sua carga semântica histórica, que lhe habilitava
para esse contexto. Nesse sentido Joëlle Zask (2011, p. 73) “La fraternité est un
critère d’union au nom duquel toute autre forme est séditieuse.” Estes eram os ideais
republicanos franceses, pelos quais o povo estava disposto a se sacrificar, por isso
“a morte!” segue os três princípios: “liberdade, igualdade e fraternidade ou a morte!”.
76

Nos tópicos seguintes serão analisadas as particularidades inerentes aos


principais modelos de unificação política, seus reflexos no momento histórico
posterior a 1789, uma vez que o objetivo do trabalho é analisar o percurso político
do princípio da fraternidade como unificador no Estado após a revolução francesa,
bem como de que forma esses modelos vieram a interferir no equilíbrio da tríade
como elemento de suporte para o Estado.

3.1 A ligação mística como vínculo de união os indivíduos

O místico corresponde ao espaço onde a razão não alcança, é o meio mais


antigo de construção de vínculos entre os homens e se representa por várias formas
como o panteísmo de Benedictus de Spinoza (2007), conciliando a ideia de natureza
e de Deus14 e estabelecendo regras e proposições éticas de conduta consoante
essas ideias, a ideia do Cosmos para os gregos, que também inspirava aos filósofos
seus regimes de conduta. Na Grécia também havia o culto às divindades e era
comum as interações entre cidadãos nas festividades do deus Baco, por exemplo.

A revolução monoteísta possui grande contribuição no campo ético, todavia, a


incursão da Igreja no âmbito político e, sobretudo, nos preceitos éticos e morais
visando o monopólio do Estado, trouxera prejuízo, uma vez que essa postura ainda
hoje remete o campo da ética inteiramente, por uma parte da sociedade, a valores
religiosos, havendo uma dificuldade em retomar dentro do Estado laico o campo da
ética. Para os religiosos, a ligação inexplicável que se capta entre as pessoas,
segundo explana Andra Gandra Filho (2010, p.79-80), é reconhecida no "Credo",
plasmada na expressão "Comunhão dos Santos", como uma das verdades
reveladas por Cristo e verbalizada por São Paulo.

14
“Proposição 18. Deus é causa imanente, e não transitiva, de todas as coisas. Propositio XVIII. Deus est
omnium Rerum causa immanens, non vero transiens”. (SPINOZA, 2007, p. 43). “Proposição 22. Tudo o que se
segue de algum atributo de Deus, enquanto este atributo é modificado por uma modificação tal que, por
meio desse atributo, existe necessariamente e é infinita, deve também existir necessariamente e ser infinito.
Propositio XXII. Quiquid ex aliquo Dei attibuto, quatenus modificatum est tali modificatione, quae et
necessário et infinita per idem existit, sequitur, debet quoque et necessário et infinitum existere.” (SPINOZA,
2007, p. 45-47). “Proposição 23. Todo modo que existe necessariamente e é infinito deve ter
necessariamente se seguido ou da natureza absoluta de um atributo de Deus ou de algum atributo
modificado por uma modificação que existe necessariamente e é infinita. Propositio XXIII. Omnis modus, qui
et necessário et infinitus existit, necessário sequit debuit vele x absoluta natura alicuius attributi Dei vele x
aliquo atributo modificato modificatione, quae et necessário et infinita existit.” (SPINOZA, 2007, p. 43).
77

Como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos os membros do


corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só
Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos,
escravos ou livres; todos fomos impregnados do mesmo Espírito. Assim, o
corpo não consiste em um só membro, mas em muitos. [...] Se um membro
sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com
carinho, todos os outros se congratulam or ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo
e cada um, de sua parte, é um dos seus membros. (I Cor 12, 12-27).

A interpretação sobre ligações entre pessoas que a igreja concede, baseada


em conceitos metafísicos, é apenas umas das proposições que se pode conceder a
vínculos de união, surge após as escolas gregas e se contemporiza com a escola
Ilustracionista, a revolução francesa e os fatos que ainda estão a ocorrer, uma vez
que a história é aberta.

Em 15 de maio de 1891, 102 anos depois da revolução francesa, a igreja tende


uma vez mais ao feito de buscar estabilizar posições dentro do Estado. Em 1891 a
França está na Terceira República, a França estava em um momento político
conturbado, o Estado não aceitava mais a influência da igreja ou de qualquer outro
elemento imbuído de valores. O ideal revolucionário constituído pelo Terceiro Estado
não lograva êxito nas Cartas Constitucionais e se observa conflitos entre
simpatizantes de ambos os princípios, liberdade e igualdade, e de direitos
decorrentes dos respectivos.

A transição da monarquia para a terceira república em 1885, evidencia esta


instabilidade governamental, durante a transição da monarquia para terceira
república existiam quatro grupos parlamentares principais, conforme explanam Pilar
Llorente e Feliciano Páez-Caminho (1914), o sistema de partidos era rudimentar.
Havia o Gauche Républicaine de Léon Gambetta e Jules Ferry, também conhecido
como Union Democrátique, à esquerda ficava o Union Républicaine de León
Gambetta. A extrema direita, outrora representava a monarquia e agora se adaptava
aos valores republicanos e, por fim, a extrema esquerda era formada de correntes
socialistas. (FELICIANO; PÁEZ CAMINHO, 1914, p.30-31).

La vida política de la Tercera República se caracteriza por una visible


inestabilidad gubernamental por una visible inestabilidad gubernamental
pero ésta encubre, con frecuencia, una real continuidad en la gestión
política. [...] Llevaron a cabo una política flexible y, en líneas generales,
hábilmente reformador y encontraron una fuerte hostilidad entre la
derecha católica, en tanto que la izquierda les consideraba excesivamente
condescendientes con los poderes sociales tradicionales. (Grifo nosso).
78

A Rerum Novarum de 1891 escrita pelo Papa João XIII é uma proposição
declarada da igreja contra o liberalismo e o capitalismo, monopolista na Europa,
todavia, a Igreja se posicionava também de forma clara em relação a questão social
e ao socialismo. O levantamento dos problemas à época expostos nos documentos
são muito bem relatados:

Efectivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos


em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os
patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da
indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários
formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da
corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito.
(RERUM NOVARUM, 2016, online).

Não obstante, em momento que remonta à idade das trevas, a igreja reincide
em se comportar como soberana política ao que consta expressamente na encíclica
Rerum Novarum (2016, online):

É por isto que, Veneráveis Irmãos, o que em outras ocasiões temos feito,
para bem da Igreja e da salvação comum dos homens, em Nossas
Encíclicas sobre a soberania política, a liberdade humana, a constituição
cristã dos Estados.

O Estado é laico. A religião pode servir como inspiração, assim como qualquer
outra fonte de ética, sem vínculos determinantes. Sendo assim, as incursões
ideológicas cristãs não prosperam junto ao modelo político republicano, o que não
atinge o conceito de fraternidade em razão de sua história conceitual. Para
corroborar com este entendimento, além da semântica levantada na história dos
conceitos e a concepção construída no capítulo 2, a qual ainda será utilizada nos
tópicos seguintes desse capítulo, serão transcritas a seguir noções de fraternidade
de dicionários e enciclopédias francesas, espanholas e portuguesas:

[…] On peut done dire que quand la fraternité a fait son apparition, elle avait
été précédée et n'avait point à promulguer une foi absolument nouvelle. Au
fond, quel est le vrai sens de ce mot qui exprime bien cependant un nouvel
ordre d'iées, et qui si longtemps fait partie du programme de la Révolution
française? Cést la traduction de l'idée de charité dans un langage plus
philoshophique, plus abstrait, plus humain; c'est le mot d'une société qui se
sécularise, qui, sans se séparer de la religion comme inspiration, comme
croyance supérieure, prétend se suffire à elle-même, s'organiser en dehors
de l'Église, réaliser, dans sa prope vie et par sa prope autórité, les bienfaits
de la loi chrétienne. […] (BLOCK, 1873, p.1069).
[…] Liasison. amitié mutuelle entre personnes qui, sans aueun lien de
parenté, se traitent comme frères. La fraternité est le lien des âmes. Le
depotisme est un attentat à la Fraternité humaine. (Fén.) Fraternité implique
un sacrifique, un acte de dévouement d'une des parties. Ça Fraternité des
79

peuples, c'est la paix. (E. de Gir.) La Fraternité ne peut s'établir que par la
justice (Proudh). Un jour viendra ou toutes les guerres se dissoudrount dans
la Fraternité. (V. Hugo) […] (LAROUSSE. Pierre. 1870. Grand Dictionnaire
Universel. p.791).
Parentesco entre irmãos. Irmandade. [...] Boa harmonia, paz, concórdia,
união, amizade entre pessoas, sociedades, povos, etc. (GABAO; FEBRE.
Grande enciclopédia portuguesa e brasileira. v. XI. 1935-1960, p.805).

O princípio da fraternidade, como ideia em construção pela própria sociedade,


havia sido retomado como princípio estruturante da ordem jurídica democrática em
1848, de forma preambular, junto à liberdade e a igualdade, compreendidos como
matrizes de valores constitucionais (CANIVET, Guy. 2011, Manuscrits de la
conférence) bem como os valores de união: “II. - La République française est
démocratique, une et indivisible.” (FRANÇA. Constitution de 1848).

Em 1852 a monarquia é restabelecida com Napoleão e em 1875 ocorre a


transição para terceira república discutida alhures. Esse período entre a terceira e a
quarta república coincide com o período da Revolução industrial na Inglaterra (1780-
1830) e nos Estados Unidos (1870), além de repercussões intelectuais como a
publicação do manifesto comunista (1848).

É também nesse contexto que sobreleva como elemento de unificação, a


nação, que virá a repercutir na substituição por advogados e juristas do conceito de
fraternidade pelo de solidariedade. Uma vez que o Direito e a ética dialogam, assim
como o Direito e a justiça, as razões para adoção da solidariedade como conceito
positivado de vínculo entre indivíduos, bem como sua correlação com o elemento
político de união da sociedade à época serão estudados no tópico a seguir.

3.2 A Nação como elemento de unificação e a substituição do


princípio da fraternidade pelo princípio da solidariedade no
Estado

A leitura que se faz da tríade francesa reflete diretamente nos textos


constitucionais que incorporam os princípios dela decorrentes em seu corpo. Denis
Franco Silva aborda o tema, trazendo à tona a reforma política constitucional
ocorrida na Alemanha ocidental com uma reinterpretação da clássica divisa por
Erhard Denninger (2005, p.174) que deixou de ser interpretada como “liberdade,
igualdade e fraternidade” para ser interpretada como “segurança, diversidade e
80

solidariedade”. Para o autor, houve uma mudança na “base teórica fundamental do


constitucionalismo”.

A revolução industrial produziu um fluxo desgovernado de pessoas do campo para a


cidade, nenhuma das metrópoles à época, tais como Nova York, Manchester, Lyon ou
Berlim, estavam preparadas para receber o contingente populacional que se estabeleceu
nessas cidades que, na ausência de direitos sociais, desenhavam terríveis condições de
pobreza e miséria, contribuindo para o aumento dos índices de criminalidade.

O avanço do liberalismo através da expansão do capital com a revolução


industrial evidencia uma polarização já destacada na encíclica Rerum Novarum,
entre burguesia e operários, Estado Liberal e Estado Social. O Estado instituído se
coloca agora como o protetor dos cidadãos vulneráveis diante de uma criminalidade
com índices crescentes.

Segurança não significa mais, antes de tudo, a certeza da liberdade do


cidadão individual, mas sim o prospecto da atividade ilimitada e infindável
patrocinada pelo Estado em favor da proteção dos cidadãos contra perigos
sociais, técnicos e ambientais [...]. (DENNINGER, 2003, p.35).

A definição de liberdade cara à democracia é recolocada. Assim também a de


fraternidade. De acordo com León Bourgeois e Alfred Croiset (1902) o termo
solidariedade começou a ser utilizado na Ciência do Direito quando Fraternidade
passou a não corresponder suficientemente às necessidades da orbe jurídica, no
entendimento de alguns advogados e juristas estudiosos, fato que se dá
precipuamente após 1848, uma vez que neste ano a fraternidade ainda consta
preambularmente na Constituição francesa.

Et tout d'abord, pourquoi l'instinct de notre génération, à la suite des écoles


socialistes du milieu du XIX siècle, est-il allé chercher ce mot dans la langue
des savants et des juristes? Ou y a-t-il aperçu d'essentiel et de nouveau qu'il
fallût transporter dans le domaine de la morale? Évidemment ceci: charité,
de fraternité, ont semblé insuffisants. [...] Le mot de solidarité, emprunté à la
biologie, répondait merveilleusement à ce besoin obscur et profond. Je ne
parle pas d' altruime, trop barbare pour avoir jamais pénétré dans le langage
courant. Comme le terme de solidarité était d'ailleurs assez vague, étant
transporté d'un domaine où il avait un sens prévis à un autre domaine, où il
s'agissait justement de l'acclimater, on restait libre de faire entrer peu à peu
dans sa signification toutes les idées encore flottantes que les vieux mots,
rendus trop précis par l'usage, se prêtent mal à exprimer. (FRANÇA,1902,
p. VIII-IX)
81

Denis Franco Silva (2005, p.174-175) elenca seis argumentos para justificar a
permuta das definições na conjuntura dos ideais republicanos: [1] A ideia de
fraternidade, que o autor associa constantemente a ideias liberais, estaria ligado a
construção de Estados-nações; [2] Apelos ao caráter sentimental em detrimento do
caráter operacional; [3] O princípio da fraternidade não deve ser desenvolvido em
âmbito público, mas privado, associando tal característica ao surgimento do termo,
relacionado a parentesco (irmão); [4] A solidariedade transcende o jurídico, afirmando-
se na ética e moral; [5] A fraternidade não pode ser compreendida na diversidade,
apenas a solidariedade; [6] Apenas a solidariedade “presume contemporaneidade
entre os agentes” e “perspectiva intergeracional” além de “preocupações sociais e
ambientais também como forma de proteção ao bem estar de gerações futuras”.

De modo que, da mesma forma que o princípio da liberdade foi reinterpretado,


concentrando forças no Estado para proteger o povo da criminalidade e das
mazelas, ainda no final do século XIX, a solidariedade se transforma em nova força
política, se constituindo em face de duas expressões, “tenho fome”, na sociedade
industrial, e permanece na sociedade de risco pelo grito “tenho medo”. (LODI, 2007,
p.277). A união dos cidadãos por temor possui duas consequências, a concentração
de poder dos governantes e a fragilidade dos governados que são facilmente
influenciáveis, oportunidade em que o nacionalismo se fortalece como ideologia de
unificação do povo. Não obstante alguns paralelos tenham sido realizados entre
fraternidade e solidariedade no capítulo 2, referindo-se à temática jurídica, a
apreciação dos pressupostos elencados por Silva (2005) requer um aprofundamento
no estudo da semântica correlata à palavra solidariedade. O que se passa a
desempenhar adiante.

Solidariedade possui raiz no latim solidus, o que quer dizer algo consistente,
maciço, sólido. (FOULQUIÉ, 1967). As concepções extraídas de um dicionário
filosófico a caracterizam por:

1) ‘Las partes de un todo que son interdependientes’, podendo ser: a)


Aplicado a cosas: ‘que está unido a outra de manera rígida (solidaridad
mecânica’, B) Aplicado a los contratos (Direito) ou C) Aplicado a personas
(‘Que comparte com otros derechos u obligaciones que responden a las
condiciones señaladas’ em B.). 2) ‘Que se halla com otros en
interdependência de interesses’. (FOULQUIÉ, 1967).
82

A solidariedade era aplicada às relações entre pessoas desde as civilizações


antigas, como Roma, na sua acepção clássica contratualista, há uma disposição
para atuação em conjunto em busca de um fim comum. Das acepções que se
extraem do termo “La Solidarité est une modalité des oblitations qui fait obstable à
leur division. Tantòt ele interesse les rapports de plusieus eréanciers avee um
débiteur [...]”. (CORNIOT, 1966, p.664). Não há necessariamente valores envolvidos
na relação solidária, mas necessidades, constrói-se uma relação solidária em busca
de um objetivo comum.

No conceito clássico se definia por organismos interdependentes. “Solidario. Se


disse de las partes de um todo que son interdependientes.”, para ser mais
específico, em âmbito jurídico: “Solidaridad de hecho: carácter de las personas o las
cosas que son interdependientes. [...]”. (FOULQUIÉ, 1967, p.982). Trabalhar com
direitos, deveres e afetos é uma prerrogativa do sentido científico da fraternidade:

Situaciones personales em que vários indivíduos que no son biológica ni


aun juridicamente hijos de los mismos padres se sienten vinculados por
derechos, deberes e incluso afectos, análogos a los de los hijos de los
mismos padres. (DICCIONARIO DE CIENCIAS SOCIALES, 1975, p.916).

O caráter operacional da relação solidária de conteúdo variável aufere carta


branca para o Estado e seus legisladores que através da Carta política e dos
documentos legais pode introduzir o conceito jurídico que entender convir, com
cidadãos inter-relacionados por fundamentações variáveis. Nesse sentindo Alfred
Croiset (1902), que dispõe sobre as ideias flutuantes da solidariedade: “restait libre
de faire entrer peu à peu dans sa signification toutes les idées encore flottantes que
lex vieux mots, rendus trops précis par l'usage, se prêtnient mal à exprimer.”

A solidariedade, mesmo com toda movimentação do século XIX, pelo prestígio


que lhe fora auferido e continua a receber, sendo considerada "une des grandes lois
qui régissent le développement de l'humanité et dominent la science politique.”, não
recebeu o aval do constituinte francês que desde 1848 até hoje, à exceção das Leis
Constitucionais de 1875, em que se omitiu sobre os princípios republicanos, mantendo
até a os dias hodiernos os ideais revolucionários Liberté, Egalité, Fraternité.

Apesar disso, a compreensão doutrinária de elevar a solidariedade a elemento


de conexão para relações democráticas, dentro da compreensão de que “La loi de la
83

solidarité ne se manifeste pas seulement de peuple à peuple, elle étend son empire
sur tous les citoyens de chaque pays” (BLOCK, 1857, p.957) ganhou repercussão
em outros países da Europa, como a Alemanha e a Itália, através da unificação e
posteriormente, do nazismo e do facismo.

Países da América do sul herdaram esse conteúdo em suas Constituições,


como o México em 1917:

Art. 3º [...] La educación que imparta el Estado tenderá a desarrollar


armónicamente, todas las facultades del ser humano y fomentará en él, a
la vez, el amor a la Patria, el respeto a los derechos humanos y la
conciencia de la solidaridad internacional, en la independencia y en la
justicia. (Grifo nosso).

Quando a solidariedade começa a ser positivada nas leis fundamentais, ela


está sempre próxima da ideia de nação, legitimando-a como elo relacionado
inicialmente, assim também no Brasil, em 1934, em Constituição que antecede a
Carta outorgada de 1937:

Art. 149 - A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela família e
pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a
estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores
da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a
consciência da solidariedade humana. (BRASIL, 1934).

Com o tempo, algumas ideias morais vão sendo transportadas para a


solidariedade, “On fit entrer à la fois, dans l'acception nouvelle du mot, l'idée de
justice et celle de fraternité” (CROISET, 1902, X, prefácio) tal fenômeno é passível
de constatação à exemplo da Constituição brasileira de 1946 no Art. 166: “A
educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana.” (BRASIL, 1946) e
na Constituição de 1967 no Art. 168:

A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a


igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional
e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana. (BRASIL, 1967).

Quais são os ideais de solidariedade humana? Aqueles que estão escritos na


Constituição ou em algum tratado legítimo e válido, mas enquanto os cidadãos não
participarem e se envolverem, conscientes de que também são partes daquele
processo, portanto em um movimento de horizontalização das relações
democráticas, esse vínculo é frágil, esse Estado é instável e há um déficit
84

democrático o que demonstra que a mera operacionalização do princípio que


corresponde a união das relações beneficia ao fator de poder que se encontra em
posse do aparelho Estatal ou ideológico. Se os cidadãos não se unem
fraternalmente para pôr em equilíbrio liberdade e igualdade, uma alternância
peremptória se estabelece entre ambas substituindo a fraternidade.

Tendo em vista tais considerações serão retomados os argumentos de Denis


Franco Silva, [1] ambos os conceitos, solidariedade e fraternidade, podem ser associados
a construção de um Estado-nação, porém em diferentes perspectivas. A associação
qualificada por vínculos fraternos, na óptica política, é estabelecida horizontalmente, por
vontade daqueles que a constituem, movidos por um ideal e mantidos por algum sentido,
a exemplo do povo francês que morreria pelos ideais republicanos.

Já a associação de vínculos solidários patrióticos se constitui de forma vertical,


há um esforço, por parte do governo instituído ou por parte de alguma força política
desejosa de tomar o poder, que diante de algum cenário calamitoso, propõe a
solidariedade entre os povos com a finalidade de reverter algum quadro e para
alcançar ideais.

A fraternidade, porém, não se constitui apenas no Estado nação, está presente


desde as tribos, famílias, comunidades, sociedades, ao planeta como um todo uma
vez que não existem barreiras ao conceito de fraternidade, todos são iguais em
humanidade. Exige-se um pai para a relação de irmãos, mas também é preciso uma
mãe e o que é a terra senão a grande mãe da humanidade?

O ponto [2] fala do caráter operacional da solidariedade, sua funcionalidade é


excelente para contratos, conquanto, na área constitucional em que se requer uma
dialogicidade entre política e Direito, a fraternidade e o caráter sentimental que o
autor critica é o que melhor se adequa dentro de uma perspectiva secularizada e de
um progresso conceitual nos padrões de justiça do Estado e guiados pela
participação da sociedade aberta; [3] A raiz da palavra da palavra fraternidade
(relação de parentesco, irmão) não inviabiliza sua atuação em âmbito público, assim
como a acepção biológica de solidariedade não impede sua atuação no Direito.

O item [4] afirma a solidariedade no campo da ética e da moral. O próprio


autor, Denis Franco Silva, salienta a utilidade prática do princípio da solidariedade. A
85

incorporação do conteúdo moral e ético ocorre ao longo da atuação do princípio


junto ao âmbito político-jurídico. [5] A afirmação de que “a fraternidade não pode ser
compreendida na diversidade, apenas a solidariedade” é equivocada uma vez que
as relações fraternas podem alcançar qualquer dimensão do planeta, tendo por
escopo a paz, a união dos povos, a felicidade, objetivos que englobam uma
pluralidade de povos. A solidariedade na história dos conceitos não possui um ideal,
as partes deverão contratar algo, o Estado deverá determinar algo ou ela deverá se
inspirar na concepção republicana de fraternidade.

Por fim, no item [6] se fala da “contemporaneidade”, “perspectiva


intergeracional” além de “preocupações sociais e ambientais como forma de
proteção ao bem estar de gerações futuras” da solidariedade, ao mesmo tempo em
que afirma o caráter operacional deste princípio, sendo este isento de sentimentos.
Desta forma, compreende-se que tais preocupações não sejam do princípio da
solidariedade, mas do regulamento que serve como ferramenta operante.

A pedra angular do Estado social é a igualdade, após sua aquisição formal


dará lugar na pós modernidade “a diversidade com o reconhecimento e a
consideração das necessidades especiais de cada respectivo grupo responsável por
definir suas próprias necessidades”. Os direitos sociais presentes em inúmeras
constituições, dentre as quais a brasileira, carecem de uma fundamentação conjunta
para materializar direitos formais. Os direitos fundamentais de primeira, segunda,
terceira e gerações seguintes são irrealizáveis para uma totalidade apenas pelo
Estado instituído, ainda que se queira fazer crer sob ideologias ultrapassadas: “É
forçoso reconhecer que na sociedade de risco, notadamente nos países mais
desenvolvidos, a utopia da igualdade, tão cara a sociedade industrial, tem sido
muitas vezes substituída pela utopia da segurança.” (LODI, 2007, p.282).

No item 3.3, será analisada a fraternidade, dentro da interpretação da divisa


republicana francesa e seus princípios como fundamentos para o Estado de direito,
como um elemento de harmonia à luz do seu conceito já trabalhado no item 2.5 do
capítulo 2 do referente estudo.
86

3.3 A fraternidade na pós modernidade: alteridade e dialogicidade


como elementos harmonizadores em uma sociedade plural

A democracia para Hans Kelsen (1929, p.101) seria um governo que se


legitima não pela verdade, mas pelo consenso. No início do século XX a diversidade
e a pluralidade de ideologias não eram tão evidentes quanto na sociedade atual,
conquanto o jurista já considerava o diálogo não expressamente, mas a discussão
em busca de um acordo, como algo necessário a democracia. É nessa orbe de
interação, diálogo e, principalmente, sobre a reflexão de como se constrói o
consenso - através de um processo participativo ou de imposição, com cidadãos
críticos ou meramente observadores, havendo ou não um processo de construção
de síntese entre os cidadãos – que a fraternidade é retomada como construtora de
elos entre os cidadãos de um Estado.

A fraternidade, por possuir significado decorrente de uma relação de


parentesco entre irmãos, carece semanticamente de um elemento ou vínculo maior
definido como um pai ou mãe, que justifique a existência desses irmãos, devendo
este vínculo ser algo em comum entre todos os elementos e pelos quais todos se
comprometem a sacrificar um pouco da sua coletividade em prol daquele elemento
maior. Conforme analisado no item 3.1, a igreja católica fala sobre Deus e a
“comunhão dos santos”, no item 3.2 se dispôs sobre a “nação”, que ainda nos dias
atuais é utilizada como elemento que justifica uma concentração de poder em torno
do governo, também fora aludido que para Luc Ferry o amor entre os homens deve
ser o elemento de união nos dias atuais, o que é sublinhado. Conquanto, uma vez
que no artigo 1º da Declaração de 1948 se estabelece a igualdade de todos os
indivíduos, compreende-se que a “mãe” terra se caracteriza também como um
vínculo de união horizontal, uma vez que toda a humanidade a integra e possui
interesse na sua preservação para própria subsistência.

Elos comprometidos com base no amor fraternal e na autopreservação dos


cidadãos do mundo carecem da primeira diretriz estabelecida para o conceito atual
de fraternidade: alteridade e relacionalidade. O sistema de financiamento das
campanhas democráticas e a política monetária neoliberal desestruturaram o ideal
inicial de liberdade, comprometendo a própria noção de indivíduo único em sua
87

individualidade, assim, “o ser humano não existe, mas coexiste com seus
semelhantes”. (SOUZA, 2009, p.122).

O coletivismo que a fraternidade conclama para entre os povos pode conviver


com a individualidade, pois as “noções políticas, sociais e morais da individualidade
e fraternidade são interdependentes [...] e somente partindo da premissa da
pluralidade e comunidade é que a noção de indivíduo único se destaca”. (SOUZA,
2009, p.122). Inclusive, a pluralidade de inteligências, a criatividade e a sabedoria do
povo beneficiam o governo e a democracia, é o que consta expressamente no
memorando publicando pelo presidente dos Estados Unidos da América, Barack
Obama, em dezembro de 2009, intitulado “Transparency and Open Government"
(2009) que dispunha: "Knowledge is widely dispersed in society, and public officials
benefit from having access to that dispersed knowledge.” (TRANSPARENCY...,
2009).

É neste ponto que os grupos que representam interesses e ideologias diversas


para a sociedade, como grupos religiosos, partidos políticos, ONGs e qualquer outro
grupo ou instituição pode interagir entre si e com o Estado através dos mecanismos
de cooperação e participação. “Com cada um dos grupos acentuando alguns
aspectos de uma compreensão do que seria o bem-comum, obtém-se uma síntese
que produz uma concepção pluralista do bem comum.” (LODI, 2007, p.282).

O segundo eixo conceitual do conteúdo de fraternidade trata de vínculos de


natureza horizontal, com predisposição para facilitar a construção de consensos, em
todas as dimensões que a fraternidade pode atuar, ou seja, de forma planetária,
inclusive, entre Estados e sociedade civil, na perspectiva de cidadania e como
intérpretes da norma.

Esse modelo evolui em relação ao padrão predominante de relações verticais,


com previsão de direitos e deveres para os cidadãos, em que estes não se sentem
parte do Estado, tratando-se de uma figura externa. Assim, quem assume o Estado,
possui uma forte propensão a garantir o poder em relação às partes. Há um outro
modelo, de relações horizontalizadas, onde o cidadão se compreende como o
próprio Estado, são figuras superpostas, com maior empoderamento e de liames
mais robustos. (MCWILLIAMS, 1973, p.286).
88

O princípio da fraternidade entre os povos possui como terceira diretriz


conceitual o fomento ao diálogo e da ressignificação de conflitos, junto aos dois
eixos já mencionados serve como fundamento de validade a solidariedade humana
dentro do contexto jurídico. Albergar solidariedade em documentos inúmeros
conclamando os povos à realização de gerações de direitos corre riscos de retórica
conceitual acaso não haja paralelo aos avanços teóricos em relação ao plano
material em uma democracia.

Uma proposta cultural e de diretrizes educacionais com pontos nucleares


voltados para uma cultura de paz, colaboracionismo como proposta ao consumismo,
incentivando posturas emancipatórias e cidadãs, com prioridade para o diálogo,
soluções extrajudiciais de disputas surgem também como modelo de eixo horizontal
e perspectiva de construção de consenso, em detrimento ao modelo vertical de
decisão determinada pelo terceiro (juiz). “Nesse enfoque, as relações de poder e
autoridade, o saber profissional e a subalternidade devem ser superados,
possibilitando o empoderamento do sujeito e o acolhimento da diferença.”
(LANGOSKI; BRESSAN; SOUZA, 2012).

A diversidade que dispersa ao invés de unir beneficia mais os que governam


do que os que são governados, não encontrando os primeiros grande resistência em
seus comandos. Depositar toda a sorte e segurança unicamente no sistema legal
possui seus riscos, o que se apreende de comportamentos alternantes quanto a
interpretação de dispositivos constitucionais por parte das cortes jurisdicionais
(LIMA, 2016, online) e também pelos próprios legisladores. (AGÊNCIA BRASIL,
2016, online). Uma atuação conjunta entre representantes e representados,
remetendo aos ideais de democracia clássica grega, do Zoón Politikón, é viável a
partir de um sistema global informatizado. O modelo clássico de participação
coexiste com ferramentas plúrimas que legitimam a totalidade democrática, em um
processo de construção em aberto, esse modelo será exposto no tópico a seguir.

3.4 A concretização de um Estado dialógico com fundamento na


fraternidade

O princípio da fraternidade, apesar de existir, em face de sua essência,


naturalmente na seara política, tem sua ação potencializada ao atuar inserido no
89

campo jurídico, pelo caráter transformador do Direito, produzindo mudanças


benéficas nas relações entre indivíduos. A fraternidade se articula inicialmente
através do projeto cultural que se vislumbra implementar pelo preâmbulo da
Constituição.

Para Ildete Regina Vale da Silva e Paulo de Tarso Brandão (2015, p.177)
“Decidir conforme a Sociedade que se quer construir é construir uma Sociedade
fraterna. Construir uma Sociedade fraterna é fazer valer a Constituição. É
implementá-la!”, seguem, “A fórmula prescrita no texto do preâmbulo da Constituição
Brasileira comunica ao povo brasileiro a destinação do Estado constitucional
instituído, que é, e deve ser assegurada uma Sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos” (SILVA; BRANDÃO, 2015, p.126). A sociedade fraterna se diferencia
das demais pelos em face das seguintes premissas:

[...] em uma Sociedade fraterna, a educação e a orientação referentes aos


objetivos e valores constitucionais educativos não podem ficar limitados a
tendências pessoais individualistas e interesseiras ou que dependam da
ação do Estado para solução das misérias humanas. Nesse momento
histórico em que se percebe o desgaste da ‘forma estatal das pertenças
fechadas, governadas por um mecanismo ambíguo que inclui os cidadãos,
excluindo todos os outros’ (SILVA; BRANDÃO, 2015, p.169).

A justiça social, compreendida como um paradigma na ordem econômica


brasileira se mostra exequível por meio de postulados elaborados por John Rawls
em sua Teoria da Justiça, como o princípio da diferença, identificado pela doutrina15
(TAVARES, 2011, p.187) com o princípio da fraternidade, o qual atua em conjunto
com outros princípios como o da reparação, os quais funcionam como bússolas de
orientação dentro do Estado, que, por sua vez, tem por razão de existência
primordial “fornecer ao espírito uma representação do alicerce do Poder que autoriza
fundamentar a diferenciação entre governantes e governados sobre uma base que
não seja relações de forças”. (TAVARES, 2011, p.4).

Além da justiça social, outros princípios são propostos pela Constituição, além
dos decorrentes da tríade inicial, quais sejam, segurança, pluralidade, solidariedade,
bem estar, desenvolvimento e justiça, consistentes nos objetivos fundamentais da
15
O princípio de diferença atua de sorte a configurar um sistema social em que as desigualdades apenas sejam
admitidas se atuarem em benefício dos menos favorecidos, minorando os efeitos de todas as diferenças a
que as pessoas estão arbitrariamente submetidas. Neste ponto, é possível atingir a admirável associação
levada a efeito por John Rawls entre o princípio da diferença esquadrinhado e o denominado “princípio da
fraternidade”. (TAVARES, 2011, p.187).
90

república, que devem ser “construídos” (Art. 3º, I). A cláusula verbal construir não
especifica o sujeito do verbo, sendo assim, o próprio texto constitucional atribui a
responsabilidade a qualquer indivíduo para consolidar direitos correlatos aos
princípios já positivados de forma cumulativa ao longo da histórica, ao que Paulo
Bonavides (2004) estruturou em gerações de direitos, e deixando esse processo em
aberto para progressão qualitativa.

A primeira geração é referente aos direitos civis e políticos16, associados a


liberdade - destaque-se que nenhum dos direitos anteriormente conquistados são
inferiores, pelo contrário, são pressupostos para os subsequentes em um processo,
nas palavras de Bonavides (2004, p.563): “cumulativo e qualitativo”. A segunda
geração corresponde aos direitos sociais e ao princípio da igualdade. A dimensão da
igualdade já encerra características próprias em relação a dimensão da liberdade, o
que reflete nos direitos dela extraídos.

Diógenes de Brito Tavares (2011, p.9) estabelece a distinção conceitual dos


termos: “liberdade indica um estado, ao passo que igualdade indica uma relação. O
homem enquanto indivíduo deve ser livre; enquanto ser social, deve estar com os
demais indivíduos em relação de igualdade”. Essas duas gerações se mostraram
insuficientes por si, da mesma forma que o estado do bem estar que se valia apenas
de um modelo inclusivo/exclusivo, também não supria mais as necessidades da
população. Para o jurista:

O conceito de garantia institucional (fecundo no campo do Direito Público),


que foi tão afirmativo para escorar e legitimar a segunda geração de direitos
fundamentais, enfrenta desde muito a sua crise, com perda de substância e
densidade, como se fora já um conceito em aparente estado de dissolução.
(TAVARES, 2004, p. 567).

A falência do conceito de garantia institucional é que oportuniza, ainda segundo


o autor, a utilização de institutos jurídicos de direito privado, estes institutos seriam
mais seguros ao Estado de terceira geração, vinculado ao “direito ao
desenvolvimento, o direito à paz, o direito ao meio ambiente, o direito de propriedade
sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação”.
(BONAVIDES, 2004, p.569). Há ainda uma quarta geração na teoria do autor

16
Magna Charta Libertatum, 1215. Declaração de Direitos da Virgínia. Declaração de Independência dos
Estados Unidos da América. Declaração dos Direitos do Homem de 1789.
91

supracitado, em que se fala de globalização política na orbe jurídica e termos como


"sociedade aberta" são abordados vislumbrando a superação do modelo de
inclusão/exclusão que não conduz com o princípio da fraternidade como fundamento
democrático. A sociedade aberta possui como característica essencial, qual seja, o
uso irrestrito da razão crítica e pode ser compreendida como uma sociedade em que:

[...] nenhuma ideologia ou religião goza de monopólio, em que existe um


interesse crítico por novas ideias, seja qual for sua origem, em que
processos políticos estão abertos ao exame e à crítica públicos, em que há
liberdade para viajar, em que as restrições aos comércios com outros
países são mínimas e em que a finalidade da educação é transmitir
conhecimentos em vez de imbuir doutrinas sectárias. (DICIONÁRIO DO
PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX, 1996, p.715).

A terceira e quarta geração do modelo de Bonavides (2004) são avanços


qualitativos dentro do modelo de Estado que refletem a lógica dialógica, onde cada
nova geração ou dimensão não suplanta os direitos conquistados anteriormente. O
mesmo raciocínio é aplicado ao Estado liberal e social, os quais se equilibram pelo
correspondente dialógico. Para dar forma a este último, alguns conceitos
constitucionalistas, leis e jurisprudências já começam a dar e constituir alicerces
para o levantar desta nova sociedade. A sociedade aberta sob o prisma
constitucional de Peter Härbele (2002) fornece um arcabouço teórico para esse fim,
a partir da sociedade aberta dos intérpretes da constituição.

A edificação de uma nova ordem social perpassa as boas razões, exige ainda,
como afirma Luís Alberto Warat (2005, p.165) “la desconstrucción del orden de
razónes que legitimaron el actual estado de cosas, que hoy resulta urgente hacer
estalar em mil pedazos”. A grande preocupação do autor é com o comodismo e o
lugar comum, ao que faz a seguinte indagação: quantas revoluções foram
devoradas por seus próprios lugares comuns? Dentre elas, a revolução francesa,
que em sequência foi substituída por um período ditatorial, o oposto do lema inicial.

Propor a sistematização de algo novo é, sobretudo, questionar.


Hodiernamente, o modelo de sociedade, tem sido a construção de uma carreira
profissional e de uma família. O modelo de Estado, em geral, servir a interesses
econômicos. Para a transformação desse Estado centrado no individuo, porém,
individualista, Luís Alberto Warat (2005, p.167) sugere a introdução do elemento
feminino, por entender que este seja um recurso de extrema relevância para romper
92

com esse ciclo vicioso de marasmo intelectual e despertar para a construção de uma
nova ordem social.

O feminino, segundo o autor, possui uma importância combativa e


revolucionária, menos guerreira e mais amorosa. Ainda sobre essa nova ordem,
Warat (2005, p.167-168) fala da necessidade de uma pureza e do “poder de lo
imaculado bondadoso, solidário, al servicio del outro”, onde se observa de forma
nítida a preocupação do autor com a presença do princípio da fraternidade, ainda
que se utilizando de outros nomes, como usualmente se observa. O autor também
cita a alteridade como correlato de fraternidade e defende uma “revolución del
hombre, desde el hombre y pare el miesmo”. (WARAT, 2005, p.167-168). Defende
ainda, na construção de uma nova ordem social, a importância da integração dos
povos.

Inobstante o caráter preponderante do Direito para reversibilidade do quadro


calamitoso, há que se ressaltar uma atuação sistêmica e, não menos importante,
das famílias e das escolas, no que toca a questão da educação, uma vez que, como
bem coloca Carlos Aurélio Mota de Souza (2014, p.18) “Educar não consiste apenas
em ensinar ciências, mas formas o caráter cívico dos cidadãos, transmitindo-lhes
valores, que são todas virtudes fundamentais”.

O Direito, para a formação do novo cidadão, deve cooperar em pontos


deficientes e que necessitam de uma atuação mais ativa, como no estímulo ao
diálogo para a construção dos vínculos fraternos, o que pode ser feito tanto através
da mediação de conflitos, que tem obtido êxito, inobstante uma utilização
contraproducente do poder judiciário focado em números, como através da
educação jurídica, com as devidas orientações:

[...] para que se possa ter um ensino transformador, é necessário que ele
(ensino jurídico) deixe de ser um aparelho ideológico do Estado – mera
instância reprodutora – e se transforme em uma instância orgânica de
construção de um novo imaginário social criativo e comprometido com
valores da maioria da população. Sua vinculação maior deve ser com a
sociedade e não com os interesses dos grupos que detêm o poder do
Estado. (SOUZA, 2014, p.24).

Dentre as virtudes a serem ensinadas, estão a fraternidade, a liberdade, a


igualdade e a justiça. Com esses valores cidadãos, permite-se, ainda segundo
Carlos Aurélio, uma congregação social e a inclusão dos menos favorecidos e
93

discriminados, a democracia plena de todos que dispunha Warat (2005, p.170). Qual
o primeiro passo? Enxergar o outro e, através do fomento ao diálogo e
ressignificação dos conflitos, respeitando as diferenças. É possível e já está sendo
feito, nos pontos seguintes serão explorados casos que se enquadram na teoria
estudada.

a) A Transparência, participação e colaboração são conceitos que se


solidificam na perspectiva dialógica e também de Estado Cooperativo, inclusive, o já
aludido memorando sobre transparência e governo aberto do presidente Barack
Obama inspirou a criação da Aliança para o Governo Aberto, lançada em setembro
de 2011, quando oito fundadores (Brasil, Indonésia, México, Noruega, Filipinas,
África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos) aprovaram uma declaração de
governo aberto com planos de ação em seus países. Em setembro de 2011 já
haviam 46 governos nacionais comprometidos em todo o mundo. (UNIVERSO
ABIERTO, 2016, online). No memorando, o governo deve ser transparente,
participativo e colaborativo:

Government should be transparent. Transparency promotes accountability


and provides information for citizens about what their Government is doing.
[…]
Government should be participatory. […] Knowledge is widely dispersed in
society, and public officials benefit from having access to that dispersed
knowledge. […]
Government should be collaborative. […] Executive departments and
agencies should use innovative tools, methods, and systems to
cooperateamong themselves, across all levels of Government, and with
nonprofit organizations, businesses, and individuals in the private sector.
Executive departments and agencies should solicit public feedback to
assess and improve their level of collaboration and to identify new
opportunities for cooperation. (Memorandum for the Heads of Executive
Departments and Agencies, The White House)

Essas três diretrizes oportunizam uma atuação horizontal entre Estado, por
meio de qualquer instituição que o represente, e o cidadão que está a dialogar com
o Estado, que passa a se sentir parte, não necessariamente vinculado a nenhum
tipo de ideologia, como: “porque eu sou brasileiro”, o que exclui as outras nações, ou
“porque eu sou judeu”, o que exclui as outras religiões, mas porque posso ajudar e
compartilhar do que sei e sou, assim todos se beneficiam.
94

Neste azo, a Defensoria Pública do Estado do Ceará tornou público todo o seu
orçamento, em um modelo de orçamento participativo orientado pelas novas
diretrizes de governo aberto:

La idea básica de um Gobierno Abierto es estabelecer uma cooperación


moderna entre los políticos, la administración pública, la industria y los
ciudadanos, permitiendo una mayor transparencia para la democracia, la
participación e la colaboración. (Universidad de Salamanca, Universo abierton).

As instituições Democráticas de uma forma geral tem perdido a confiança do


cidadão. Ciente disso a Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará elaborou um
orçamento participativo para a instituição com o objetivo que a sociedade aberta
tivesse acesso de forma transparente a todo o orçamento da Defensoria Pública do
estado do Ceará e participasse, junto aos defensores públicos, das decisões quanto
à utilização dos recursos.

Para a realização desse projeto foi criado um Procedimento Operacional


Padrão (POP), aprovado pela Comissão do I Orçamento Participativo da Defensoria
Pública do Estado do Ceará. O procedimento viabilizou reuniões com a sociedade
civil, Consulta Pública e Audiências Públicas Regionais (realizadas entre fevereiro e
abril de 2016). Como resultado das audiências, uma série de propostas foram
efetivadas e, a partir daí, surgiram 6 projetos atualmente em vigor na defensoria
pública.

A divulgação do processo de audiências públicas é feito de forma ampla,


através de editais, que fixa o calendário dos eventos, os quais serão divulgados com
arte em folders, rádio e TV. O programa prevê ainda a solicitação de reserva de
Vans da Defensoria e carros para as datas das audiências, com a elaboração de
rotas para municípios vizinhos e município sede. A defensoria pretende continuar
com essa política, instituindo-a como padrão.

b) Amicus curiae, mutação constitucional, audiências públicas e soluções


extrajudiciais de disputas: O pensamento de Peter Häberle e sua visão de sociedade
aberta de interpretes constitucionais influenciou institutos já albergados pela pelo
Direito brasileiro, como o amicus curiae regulado pela lei nº 9.868/99, o qual, no
processo de controle de constitucionalidade, considerando a relevância da matéria e
representatividade dos postulantes, permite que o relator do processo admita “a
95

manifestação de outros órgãos ou entidades” para conferir “caráter pluralista ao


processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade”. (MENDES; VALE,
2008/2008).

Assim, como a semântica correlata ao conceito de fraternidade está aberta a


evolução interpretativa diante do tempo, o Direito brasileiro, através do Supremo
Tribunal Federal, incorpora a visão de Härbele sobre a sociedade dos interpretes
constitucionais sob o instituto da mutação constitucional e "incentiva a
adaptabilidade do texto à evolução social constante de uma sociedade complexa e
plural" (MENDES; DO VALE, 2008/2009)

Há, portanto uma maior interação entre intérpretes da norma o que permite ao
tribunal “decidir as causas com pleno conhecimento de todas as suas implicações ou
repercussões”. (MENDES, 2012, p.1263). As audiências públicas, sendo bem
aproveitadas pela população, geram grandes benefícios a própria população como
relata o ministro Gilmar Mendes no caso da ADI nº 3.510/DF17 em que se discutia
sobre pesquisa relacionada às células-tronco embrionária, destaca que na:

Audiência pública realizada no dia 20 de abril de 2007 contou com a


participação de especialistas nas matérias (pesquisadores, acadêmicos e
médicos), além de diversas entidades da sociedade civil, e produziu uma
impressionante gama de informações e dados que permitiram ao Tribunal,
no julgamento definitivo da ação (em 29.5.2008), realizar um efetivo controle
e revisão de fatos e prognoses legislativos e apreciar o tema em suas
diversas conotações jurídicas, científicas e éticas.

Porém, em geral ainda há uma baixa adesão cultural às audiências públicas


presenciais, dificultadas pelo cotidiano do brasileiro e pelas prioridades, pois a
ideologia cívica predominante é a de que realizados os deveres previstos na
Constituição Federal, cabe ao Estado o papel de cumprir com a consecução de
todos os direitos que estão dispostos na Lei Fundamental. A internet surge como
uma alternativa, a nova praça pública, possuindo também seus riscos e benefícios.

As técnicas de soluções extrajudiciais de conflitos, se trabalhadas


adequadamente no seio social, são dos recursos à disposição hodiernamente os
mais eficazes para a construção dos laços fraternos necessários ao soerguimento
do conteúdo traçado neste estudo. As dissonâncias sociais existem desde sistemas

17
BRASIL. STF, Pleno, ADI nº 3.510/DF, Rel. Min. Carlos Britto, julg. 29.5.2008.
96

micro, como o de uma família, crescentes, a grupos étnicos, comunidades, refletindo


de forma macro, no que se costuma denominar de cultura beligerante em
quantidade de processos impetrados diariamente no Poder Judiciário.

Em dados colhidos no Conselho Nacional de Justiça18 (BRASIL, 2013) entre


2009 e 2014, o estado de São Paulo no 2º grau de sua justiça estadual, apesar de
um número crescente em decisões terminativas de processo, conta também com
novos casos protocolizados no segundo grau e um aumento no número de
processos por magistrados, o que demonstra que, além do volume de processos
impetrados em primeiro grau, há ainda um desagrado com a decisão do Estado
proferida pelo juiz, pois os processos continuam a se avolumar não obstante os
esforços do poder judiciário em os conter. Os dados da justiça estadual de São
Paulo em 2º grau referentes aos casos novos por 100.000 habitantes, casos novos
por magistrado no período base (semestre) e decisões terminativas de processo,
foram compilados em gráficos para melhor visualização quanto ao fluxo de trabalho
e recorrência diante das decisões processuais.

Casos Novos por 100.000 habitantes em 2º grau na justiça estadual de São


Paulo (2009 a 2014)

Fonte: Elaboração própria. Dados: Conselho Nacional de Justiça.

18
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-
em-numeros/2013-01-04-19-13-21> . Acesso em: 11 set. 2016.
97

Casos novos por Magistrado no período base em 2º grau na justiça estadual


de São Paulo (2009 a 2014)

Fonte: Elaboração própria. Dados: Conselho Nacional de Justiça.

Total de decisões terminativas de processo no 2º grau da justiça estadual de


São Paulo (2009 a 2014)

Fonte: Elaboração própria. Dados: Conselho Nacional de Justiça.


98

A comunicação que se constrói no processo da mediação favorece a alteridade


e relacionalidade que facilitam uma comunicação de maior qualidade entre as partes
em busca de uma solução de pacificação. Essa solução pode beneficiar também a
comunidade, uma vez que segundo Lilia Maia Sales de Morais (2011, p.5), em estudo
sobre a “grade” de Leonard Riskin, descreve quatro níveis dentro do processo de
mediação: o primeiro relacionado com possíveis semelhanças com as soluções
judiciais. “As soluções são apresentadas tendo como base na força dos argumentos
jurídicos discutidos e no que um tribunal decidiria, sem a demora e altos custos.”

O segundo nível aprofunda o diálogo, “alargando o foco”, neste ponto, os


juízes, não só por uma questão procedimental, mas também temporal, possuem
obstáculos para sua realização, dificilmente chegando a concretizá-lo. No terceiro
nível, “se dar aos envolvidos, a oportunidade de aprender e mudar.” (2011, p.5)
Nele, já há uma ruptura com o individualismo. A teoria política pensada em uma
perspectiva macro dialoga incessantemente com a vida cotidiana de cada ser
humano, por isso, a partir da oportunidade de reforma dos mediados o
empoderamento é favorecido:

É o momento de desenvolver a possibilidade de reconhecimento das


diferenças e estimular o empoderamento (fortalecendo-os e facilitando que
as pessoas resolvam seus problemas a partir do diálogo direto), permitindo
uma transformação (re-significação de valores). A partir disso, as partes
podem conseguir reparar a relação, perdoar e estabelecer novos laços.
(SALES, 2011, p.6).

No estudo em foco, relata-se que apenas no quarto nível se alcança um foco


mais amplo com interesse na comunidade, uma vez que alguns conflitos poderiam vir
a ter uma importância que não se circunscrevesse unicamente às partes envolvidas.
(SALES, 2011, p.6). Todavia, considerando-se a viabilidade de uma outra esfera
coletiva material, a partir do retorno do princípio da fraternidade, oriunda e coexistente
com a esfera individual, composta de forma progressiva pelos laços trabalhados
individualmente, fundamento de legitimidade democrática, os quais transformam
pessoas e reparam relações, permitindo que, dentro de uma civilização com costumes
belicosos, os indivíduos se pacifiquem, entende-se que a partir do terceiro nível já há
um impacto além da perspectiva individual, projetando-se coletivamente.

a) Legislação
99

Uma vez que o preâmbulo da Constituição sistematiza como um ideal a inspirar


a ordem constitucional brasileira a sociedade fraterna cabe ao povo a consecução
deste fim, posto que as leis pela sua natureza não podem fazê-lo. A fraternidade
criticada pelo caráter valorativo é o fundamento de validade, concedido pelo próprio
povo, para a solidariedade. A legislação brasileira correspondente a solidariedade
será apresentada dentro dessa visão.

b) Carta da Terra

A Carta da Terra teve como berço o Brasil, todavia foi elaborada durante anos
de debates com outros países de forma interdisciplinar, com encontros para debates
entre líderes de comissões, órgãos oficiais ou organizações não governamentais.
Seu histórico se inicia em 1987, quando a Comissão Mundial das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e Desenvolvimento fez um chamado para que se criasse uma
nova carta estabelecendo princípios fundamentais para o desenvolvimento
sustentável. Em 1992 o Brasil sediou a Cúpula da Terra e a redação da Carta da
Terra fez parte das pautas, todavia, foi um assunto não concluído. O documento só
ficou pronto em 2000.

Moacir Gadotti (2007, online) compara a Carta da Terra à Declaração Universal


dos Direitos Humanos: "apropriada para os tempos atuais" e acrescenta tratar-se de
um documento "baseado na afirmação de princípios éticos e valores fundamentais
que norteariam pessoas, nações, estados, raças e culturas no que se refere à
cultura da sustentabilidade". Pode-se observar que a Carta da Terra - haja vista
pretender equiparar-se conforme Gadotti à Declaração Universal dos Direitos
Humanos – mantém-se, em termos de conteúdo, no mesmo nível da declaração,
quando se trata da abordagem da temática fraternidade.

Entende-se por fraternidade justamente a qualidade que o autor designa a


posteriori, ao discorrer sobre a Carta da Terra, quando destaca o papel desta em
aprofundar

a capacidade de participação, organização e codireção, para que os


cidadãos e cidadãs possam intervir, local e globalmente, de modo criativo e
transformador, a partir da realidade em que estão inseridos para melhorar a
qualidade de vida de todos. (GADOTTI, 2007, online).
100

A Carta da Terra em seu corpo trata de diversas expressões fraternas, como:


“povos da terra”, “comunidade da vida”, “aliança global”, “cuidar da terra e uns dos
outros”, “sociedade civil global”, “mundo democrático humano”, e defende de forma
literal “uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um
fundamento ético à comunidade mundial emergente.” (GADOTTI, 2007, online).

Na parte principiológica do texto, há que se destacar a relação que é feita entre


liberdade, princípio com mais foco na atualidade, e a fraternidade, também
conhecido como “princípio esquecido”. Dispõe o texto: I. 2. b. “Assumir que, com o
aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder, vem a maior
responsabilidade de promover o bem comum.” (CARTA DA TERRA, 2016, online).

Sobre solidariedade, o texto, de forma expressa, na parte inicial e no artigo 16,


dispõe sobre “Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a
cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações”. Os demais
artigos são todos permeados pela acepção desses dois termos.

Gadotti (2007), ao tratar sobre os avanços da Carta da Terra, mostra que esta
tem influenciado precipuamente a atuação de ONGs na capacitação de novos
líderes, gestores educacionais, jovens e empresários. Algumas empresas também
pautam sua atuação por meio da Carta da Terra, como a Natura e a Phillips do
Brasil, que financiou um grupo da empresa com residência em Mauá (SP), os quais
desenvolveram:

O projeto ‘Aprendendo com a Natureza’ junto a 80 escolas públicas em todo


o Brasil, com coordenação em Varginha (MG), Manaus (AM) e Recife (PE).
Trata-se de um projeto que trabalha as questões da biodiversidade local
com crianças dos 4 primeiros anos do Ensino Fundamental, utilizando a
Carta da Terra como documento de base ética para o trabalho. (GADOTTI,
2007, online).

A Carta da Terra se mostra como um dos principais documentos com valores


éticos em vigência hoje no Brasil, junto a outros tratados internacionais, como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Tratado Constitutivo da União de
Nações Sul-Americanas e o Tratado de educação ambiental para sociedades
sustentáveis e responsabilidade global.

Nota-se que a maior parte da legislação aplicável no Brasil é oriunda de


tratados internacionais que foram ratificados, à exceção da Constituição Federal.
101

Legislações importantes, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto


do Idoso, não fazem menção expressa à fraternidade e à solidariedade, inobstante
estejam respaldados pela carga principiológica da Constituição.

Quanto mais a legislação brasileira realizar esse intercâmbio de ideias com o


campo da fraternidade e o estímulo da cooperação da sociedade para atuar junto ao
Estado de forma horizontal, maiores os benefícios e materialização de direitos,
principalmente em se tratando de normas referentes a segmentos vulneráveis da
sociedade que carecem de uma atuação conjunta de sociedade civil e Estado para
se trabalhar o ideal de igualdade material.

c) Tratado de educação ambiental para sociedades sustentáveis e


responsabilidade global

Esse Documento foi elaborado pelo Fórum Global das Organizações Não
Governamentais, que, segundo informações da Secretaria de Meio Ambiente do
Paraná, ocorreu em paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, realizado no Rio de Janeiro em 1992. “Nesse evento
foram ratificados 32 tratados, dentre eles o Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, documento que constitui
marco referencial da Educação Ambiental – EA.” (PARANÁ, 2016, online).

É um documento que precede à Carta da Terra, visto que ficou pronto em


1992, mas que já traz uma visão de compromisso com o coletivo, inclusive criticando
o status quo à época onde já se enfrentavam crises em face da forma agressiva
como atua o atual sistema econômico.

Para começar uma nova cultura, o tratado traz por base a educação, e em sua
introdução aduz: “consideramos que a preparação para as mudanças necessárias
depende da compreensão coletiva da natureza sistêmica das crises que ameaçam o
futuro do planeta.” (PARANÁ, 2016, online). Apesar de ser um tratado aplicável ao
meio ambiente, seu conteúdo pode ser aproveitável por outros âmbitos jurídicos,
uma vez que existe em boa parte da redação orientações em variadas esferas de
atuação.
102

Há que se evidenciar o item 4, o qual dispõe que: “A educação ambiental não é


neutra, mas ideológica. É um ato político, baseado em valores para a transformação
social”. Isso reforça a fraternidade como categoria política, mas não obsta seu atuar
na orbe jurídica, uma vez que se entende que se trata de mera utopia encarar o
Direito como uma ciência neutra. Além do mais, a existência da Ciência Jurídica se
dá também em face de um melhor convívio em sociedade pautada em valores que
se revertem para o bem estar comum. O item 13 da legislação abordada expõe de
forma transparente sobre alguns desses valores:

A educação ambiental deve promover a cooperação e o diálogo


entre indivíduos e instituições, com a finalidade de criar novos modos
de vida, baseados em atender às necessidades básicas de todos, sem
distinções étnicas, físicas, de gênero, idade, religião, classe ou mentais.
(PARANÁ, 2016, online, grifo nosso).

Em consonância com o plano de ação do tratado e para dar suporte a sua


concretização, existe uma Política nacional de educação ambiental, promovida pelo
Governo brasileiro por meio do Plano Nacional de Educação Ambiental, articulado
por órgãos como o Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de articulação
institucional e cidadania ambiental e o departamento de educação ambiental. O
tratado de educação ambiental, juntamente com a Carta da Terra, vêm sendo
utilizados como fundamentação principiológica e de cunho diretivo em petições da
área ambiental, além de atuarem no norteamento da atuação de ONGs e Órgãos
federais junto à sociedade civil.

Esse formato de atuação vem resgatando a atuação multidisciplinar do Direito,


em contraponto à cultura jurídica unitária, que, segundo Antonio C. Wolkmer (2001,
p.66), reproduziu "idealizações normativas, montagens e representações míticas,
reveladoras de certo tipo de racionalização formal e de legalidade estatal, próprias
de um modo particular de produção econômico-social" e que terminou por atuar em
prol da manutenção de um status quo, ao invés de sustentar um círculo dialético
entre ser e dever ser, com o propósito constante de evolução da sociedade de um
plano instaurado para um plano ideal.

d) Tratado constitutivo da União de nações sul-americanas

O tratado da Unasul foi assinado em Brasília, no dia 23 de maio de 2008,


durante a III Cúpula de Chefes de Estado e Governo, (INTERNATIONAL CENTRE
103

FOR TRADE AND SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2016, online) tendo sido


promulgado pelo decreto nº 7.667 em 11 de janeiro de 2012 (BRASIL, 2016, online),
portanto, vigente na legislação brasileira. O conteúdo do tratado da Unasul
transcende a comunidade brasileira, o que de forma alguma destoa do sentido de
fraternidade, uma vez que a fraternidade é interfronteiras. Segundo Pedro Maria
Godinho Vaz Patto (2013, p.34):

O princípio da fraternidade é semente de transformação social, não esgota


a sua fecundidade nas relações interpessoais de proximidade, estende-se
às relações sociais mais amplas, às relações entre grupos sociais, às
relações políticas internacionais. (Grifo nosso).

O tratado, de forma preambular, destaca a história solidária das nações que o


compõem e que buscam a construção de um futuro comum. A palavra
"solidariedade", em sua expressão literal, assim como outros termos, tais como:
"cooperação", "participação cidadã e pluralismo" e "direitos humanos universais",
também compõem o texto preambular do tratado. Em seu corpo, cabe aqui destacar
a relevância que é dada para a participação cidadã em dois dispositivos que tratam
especificamente do tema:

Artigo 3
p) a participação cidadã, por meio de mecanismos de interação e diálogo
entre a UNASUL e os diversos atores sociais na formulação de políticas de
integração sul-americana;
Artigo 18
Participação Cidadã
Será promovida a participação plena da cidadania no processo de
integração e união sul-americanas, por meio do diálogo e da interação
ampla, democrática, transparente, pluralista, diversa e independente com os
diversos atores sociais, estabelecendo canais efetivos de informação,
consulta e seguimento nas diferentes instâncias da UNASUL.
Os Estados Membros e os órgãos da UNASUL gerarão mecanismos e
espaços inovadores que incentivem a discussão dos diferentes temas,
garantindo que as propostas que tenham sido apresentadas pela cidadania
recebam adequada consideração e resposta. (Decreto 7667. Brasil.
Presidência da República.)

A construção do tratado em si já constitui-se como ato de fraternidade, uma vez


que uma série de conflitos foram superados para a busca do aprimoramento da
relação entre países. Segundo Paulo Marchiori Buss e José Roberto Ferreira (2011,
p.3):

Nessa evolução, foram superadas diversas controvérsias sobre direitos de


soberania territorial entre Argentina e Chile (Canal de Beagle, 1978), entre
Equador e Peru (1981, repetida na década seguinte) e o conflito entre e
Inglaterra pela possa das ilhas Malvinas (1982) [...].
104

O propósito da implementação de uma nova cultura com base em valores


fraternos é estimular a cooperação, passando a enxergar o outro e, em havendo
finalidades comuns, unir-se. Foi o que se constituiu com os países da América do
Sul com o surgimento do tratado da Unasul. Conseguiu-se um passo além da
questão econômica abordada no Mercosul, trabalhando-se também a perspectiva
político-jurídica.

Desta forma, é possível garantir, conforme Buss e Ferreira (2011, p. 3), "a
melhoria crescente do bem-estar de suas populações e a segurança de seus
territórios" de modo que, dentro desse contexto,

vêm se consolidando os rumos políticos do processo de integração da


região que fomentaram a concepção da Unasul, destacando os direitos
humanos, o regime democrático, o princípio da não intervenção, de
solidariedade e justiça social.

Um dos direitos que foi melhor fruído e beneficiado com esse tratado até o
presente momento foi o direito à saúde. Este fato se deve em função de
antecedentes de integração em saúde sul-americana preexistentes e que vão
resultar em uma Agenda Sul-Americana de Saúde (BUSS; FERREIRA, 2011, p.6) e
um plano quinquenal com temas centrais voltados para:

[...] integração, visando promover a redução das assimetrias existentes


entre os sistemas de saúde, promover a responsabilidade e participação
cidadã e o reconhecimento da saúde como bem público para o conjunto da
sociedade. Promove o respeito à diversidade e interculturalidade na
implementação de iniciativas de cooperação no campo da saúde,
reconhecendo diferentes realidades nacionais.

Criou-se o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (2016, online), o


qual, segundo site oficial: "visa contribuir para a melhoria da qualidade do governo
em saúde na América do Sul por meio da formação de lideranças, gestão de
conhecimento e apoio técnico aos sistemas de saúde."

Pode-se observar, diante desses três exemplos comentados, que um conteúdo


mais diretivo, valorativo e principiológico vem sendo acrescido aos documentos em
referência à democracia, à cidadania, à justiça, à segurança e aos direitos humanos,
permitindo a utilização desses documentos não só como fundamentação em
processos judiciais contenciosos, mas também por meio do incentivo de políticas
105

públicas e forte atuação das Organizações não governamentais, que mostram uma
harmonia entre Estado e sociedade civil.

Há, portanto, uma superação da fraternidade costumeiramente idealizada pelo


imaginário popular de que esta só poderia ocorrer em sentido vertical, é crescente a
horizontalização das relações no seio democrático, fomentadas pela internet e pela
globalização, o que acelera o conceito já legalizado de fraternidade ao ideal valorado
de fraternidade. Exemplos práticos serão apresentados no último tópico deste
capítulo.

Apesar da fraternidade e do amor aparentaram constituir realidades


completamente distantes do Direito, porém, entende-se que sejam esferas que se
comunicam, nesse sentido Patto (2013, p. 11), ao afirmar que: "As exigências da
justiça e da fraternidade no Direito se relacionam e interpenetram”, a abordagem é
que deve ser adequada e peculiar, pois, destaca ainda o mesmo autor: “Se as
normas jurídicas não podem impor a fraternidade, pode a atuação dos operadores
do Direito (advogados, magistrados, notários, funcionários judiciais, agentes policiais
e penitenciários) testemunhá-la”.

A ideia do discurso fraterno incentivando a reconciliação entre os homens,


acentuando a autonomia do indivíduo e promovendo liberdade, por ser racional, já
fora motivo de reflexão por grandes filósofos no curso da história, respeitadas suas
individualidades, um deles fora Immanuel Kant. O jurista, um patrono da liberdade,
demonstra entusiasmo para com a Revolução Francesa, não obstante, “a
decapitação de Luís XVI” que “encheu-o de horror”. (WEFFORT, 2006, p.50) já
havia, à essa época, uma preocupação do autor com a sociabilidade.

Para tanto, também entendia, que a estrutura legal oriunda dos contratos
sociais não são prescindíveis, ao contrário, nas palavras do jurista: “A máxima salus
publica, suprema civitatis lex est permanece em sua validez imutável e em sua
autoridade; mas o bem público que deve ser atendido acima de tudo.” (KANT, 2003,
p.297). Assim, ao se atuar coletivamente ou por meios alternativos ao Direito, não se
exclui ou invalida esta esfera, uma vez que foi o povo que, de forma soberana,
constituiu as leis que regem o Estado. Trata-se apenas de acrescentar novas formas
106

que vêm a legitimar ainda mais, por via difusa, a democracia na sociedade pluralista
pós moderna.

Sobre a natureza das leis dentro da metafísica da moral, Kant (2006, p.50) às
distingue quanto a sua natureza em: leis de legalidade, quando cumpridas por
coação e leis de moralidade, quando cumpridas por dever. Na proposição Kantiana
há sempre um agir segundo leis, pois o raciocínio do autor se voltava à liberdade. Se
a conduta não era regida pela lei legal, deveria ser regida por uma conduta moral
pautada por uma norma universal. Surge então o conceito de imperativo categórico,
em que a ação do indivíduo, que se atreveu a saber, encontra alinho na
autocoerção.

A autocoerção e o agir consoante o dever aguçam a criticidade dos indivíduos,


aumentando a perspectiva de interações múltiplas por meio do diálogo para
construção de um consenso moral, porém, coexistente, com a moral oriunda do
imperativo categórico, assim como do universal e prático. Nestes, inobstante a
história de vida de cada ser humano, a moral que conduzirá o imperativo ou ação é
construída por um raciocínio individual do sujeito, tendo por foco uma coletividade.

Imperativo Categórico: Age somente, segundo uma máxima tal, que possas
querer ao mesmo tempo que se torne lei universal.
Imperativo Universal: Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-
se, por tua vontade, lei universal da natureza.
Imperativo Prático: Age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto
em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim ao
mesmo tempo e nunca apenas como um meio. (GOLDIM, 2016, online).

Na construção da moral relacional e dialógica, em que há a interação entre


indivíduos, passa a existir desenvolvimento conjunto e, sendo espontâneo, não fere a
autonomia individual e fortalece a coletiva, para tanto, abre-se cada vez mais espaço
aos métodos que transformam, constroem e solidificam vínculos relacionais na
sociedade pós-moderna multicultural, com vista a resgatar e equilibrar os ideais
ilustracionistas: Liberté, Egalité, fraternité. Esta é a revolução que se inicia pela paz, em
que o homem não basta em si mesmo, é uma revolução perene, interna e silenciosa.
CONCLUSÃO

A revolução francesa foi um movimento que, de forma diferente do que ocorreu


no continente americano, especificamente ao norte, se constituiu sob uma
movimentação horizontal dos cidadãos, mais densamente concentrados no início da
revolução em que o objetivo suplantava o escopo de classes individuais como a
burguesia, que almejava unicamente a derrubada de uma monarquia para a
instauração de uma ordem fundada em movimentos contratualistas respaldados em
grandes filósofos enciclopedistas como John Locke e Jean-Jacques Rousseau.

A dispersão do arroubo e da disposição iniciais se deu em face de um caráter


anarquista da falta de um consenso do povo que apesar de cunhar moedas com o
lema: Liberté, Egalité, Fraternité, em seguida declaravam: ou la mort!, associando a
fraternidade à cor vermelha da bandeira francesa. É nessa dispersão do povo, que
os ideais já preparados pela classe burguesa encontram azo para se perpetuar em
documentos, em detrimento das intenções coletivas, que permanecem como ideais.

A fragilidade dos laços sociais resultantes de uma sociedade conflituosa,


beligerante, dispersa e sectarizada vem sendo utilizada por grupos menores como
meio para erigir pensamentos dominantes em relação aos demais grupos ao longo
da história, gerando opressão, motivo pelo qual a crítica que se faz de um contexto
atual ao caráter anárquico da revolução francesa deve respeitar suas circunstâncias
históricas, em que o povo não suportava mais a limitação de sua autonomia, seja
pelo poder do rei, seja pelo poder do clero.

A lei de causa e efeito permanece atuante quanto às sequelas da intromissão


da igreja de forma a monopolizar os assuntos Estatais. Ressalte-se que qualquer
religião pode inspirar um intercâmbio de valores no Estado, assim como em outras
áreas (filosofia, sociologia, antropologia, hermenêutica), porém, o modus operandis
da igreja católica na Idade Média, e em outros momentos pontuais após 1789 como
na encíclica Rerum Novarum, gera uma força de repulsão tão forte por parte do
108

Estado e da sociedade, por vezes até excessiva, para com os assuntos religiosos,
conforme ficou demonstrado na forma com que a revolução tratou o clero.

Há, ainda, uma resistência à utilização de termos que supostamente derivariam


do âmbito teológico ou qualquer outro termo que remeta a valor ou sentimento, seria
este o caso da fraternidade. Todavia, o surgimento da palavra fraternidade é oriundo
do latim e já possuía uma abordagem filosófica antes mesmo de ser enfaticamente
trabalhada pelos cristãos. Há utilização do termo fraternidade na revolução francesa
na perspectiva secularizada, em que a palavra já não é mais sagrada, posto que foi
inserta em uma linguagem laica e leiga.

Não há que se negar a história dos conceitos, bem como não se nega que essa
história está aberta à evolução e interpretação da própria sociedade. A revolução
francesa recebe a fama de uma revolução irreligiosa, completamente dissonante de
conceitos religiosos. Nesse contexto, não haveria como se conceber que os
construtores da divisa republicana viessem optar justamente por uma concepção
tipicamente vinculada à igreja para ecoar na história como atrelada ao movimento.
Hodiernamente, a fraternidade é pacificamente reconhecida como um princípio
cosmopolita pelo seu caráter político, precipuamente por características como
alteridade e relacionalidade.

Quanto ao conceito jurídico da fraternidade, ainda existem divergências


doutrinárias em face do seu caráter eminentemente horizontal de constituição de
relações, diferentemente do que ocorre com as relações solidárias, que tanto podem
ser estabelecidas verticalmente, por imposição contratual, ou horizontalmente
quando estão fundamentadas pelo princípio da fraternidade. Foi visto que a
diferenciação desses dois princípios é relevante quanto aos ideais ontológicos que
inspiram o modelo de uma sociedade democrática.

A relação do Estado laico e princípios de caráter vago com elemento


meramente de caráter operacional e relacional era a ideia inicial, que parecia
interessante ao atrelar a questão moral ao contrato social, conquanto, não se
contava com o neoliberalismo e a perda do controle dos riscos. A concentração dos
riscos está junto a parcela maior da sociedade.
109

A retomada do princípio da fraternidade como elemento dialógico e de


harmonia em uma sociedade mostra que a próxima revolução não deverá ser
pontual, mas perene, pois a união dos cidadãos é a proteção deste grupo maior em
relação aos desmandos dos demais fatores de poder. Essas transformações já
estão acontecendo, diariamente, nas reformas individuais que ecoam para o coletivo
e coexistem com a perspectiva do direito, legitimando o Estado democrático.

Ferramentas como a mediação, Amicus curiae, audiências públicas,


transparência de governos, ágoras digitais, legislações diretivas, educação,
mutações constitucionais e outros são recursos que convocam o povo a se
emponderar e participar de um Estado que também é dele. À medida que as
relações se horizontalizam, o cidadão amadurece, torna-se independente e atua de
forma amistosa e cooperativa, consciente de que o Estado não é o único provedor
dos direitos positivados, sendo ele mesmo o protagonista da concepção e
materialização desses direitos, ensejando o pensar e o agir individual com o alcance
na coletividade.

A sociedade fraterna é uma aquela em que as diferenças entre personalidades


se realçam cada vez mais, uma vez que as identidades se afloram, pois o avanço da
legitimidade democrática acentua a unidade dos indivíduos. Essas diferenças,
conquanto, não se tratam de elementos destrutivos, à medida que as relações são
pacificadas. Para tanto, é necessário que espaços entre indivíduos sejam
suplantados, ausências sejam supridas e conexões sejam estabelecidas por meio do
diálogo, para isso, os três eixos principais do princípio da fraternidade deverão ser
trabalhados: alteridade, relacionalidade e diálogo.
REFERÊNCIAS

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G. Wells. Roteiro de Richard Stanley e Ron Hutchinson. Dirigido por John
Frankenheimer, 1996. Warner Bros. 100min.

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ANEXOS
121

ANEXO A

DOC 01: ORÇAMENTO PARTICIPATIVO DA DEFENSORIA PÚBLICA DO CEARÁ.


ANO: 2016.

Data de Elaboração:
PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO 09/05/16
Número: 001 Versão: Final Páginas: 1 a 6 Data de Revisão: 15/05/16
Área Emitente: Assessoria de Relacionamento
Título: Orçamento Participativo da Defensoria Pública do Ceará
Institucional
Elaborador: Michele Camelo (Assessora de Relacionamento Aprovador: Comissão do I Orçamento
Institucional) e Lissa Aguiar Participativo da Defensoria Pública do CE

1. INTRODUÇÃO

Este Procedimento Operacional Padrão - POP foi elaborado por Michele Cândido
Camelo, Assessora de Relacionamento Institucional e Lissa Aguiar Andrade, advogada,
aprovado pela Comissão do I Orçamento Participativo da Defensoria Pública do Estado
do Ceará.

OBJETIVO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

O objetivo da construção de um Orçamento Participativo é discutir e elaborar políticas


públicas, com a colaboração dos cidadãos, movimentos e organizações da sociedade,
visando a priorização de ações e programas de gestão de acordo com as demandas
coletivas.

OBJETIVO DO POP

Manualizar os procedimentos necessários à realização de um Orçamento Participativo


com base na construção de uma proposta efetivamente democrática, que, a partir de
reuniões com a sociedade civil, desenvolveu Consulta Pública e Audiências Públicas
Regionais realizadas entre fevereiro e abril de 2016, no estado do Ceará e, sobretudo,
para servir de referencial para a realização dos próximos Orçamentos Participativos da
Defensoria Pública do Estado do Ceará.

2. DOS REQUISITOS PARA A REALIZAÇÃO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

2.1. Tornar o Orçamento Participativo da Defensoria Pública do Estado do


Ceará uma política institucional, através da sua previsão em lei;
2.2. Constituir Comissão Organizadora Estadual (COE), através de
Portaria publicada no Diário da Justiça, com composição, preferencialmente, do(a):
Defensor(a) Público(a) Geral, Secretário(a) Executivo(a), Assessor(a) de Relacionamento
122

Institucional, Assessor(a) de Desenvolvimento Institucional, Coordenador(a) das Defensoria


do Interior, Ouvidor(a) Externo(a), por representante da Associação dos Defensores
Públicos do Estado do Ceará, entre outros;
2.3. Realização de reuniões semanais da COE para deliberar sobre assuntos de sua
competência;

2.4. Reunião com a Sociedade Civil, para apresentação e debate do projeto;


2.5. Reunião com os Defensores do interior e coordenadores dos Núcleos da Capital,
para apresentação do projeto;

2.6. As audiências públicas do Orçamento Participativo deverão ser antecipadas


por consulta pública;

2.7. Elaboração de modelo da consulta pública em parceria com grupos técnicos


especializados (UFC, UECE, etc);
2.8. Apresentação do projeto e capacitação para aplicação da consulta aos
colaboradores da DPGE-CE, especialmente, lotados nos núcleos de atendimento e no Alô
Defensoria;
2.9. Publicar Edital de Consulta Pública no Diário da Justiça;
2.10. Disponibilizar no site da Defensoria, durante o período de, no mínimo, 30 (trinta) dias,
consulta pública aberta;

2.11. Criar endereço eletrônico para o Orçamento Participativo e disponibilizar aba no site da
Defensoria especifica para as documentações e informações relativas ao projeto;
2.12. Capacitar os colaboradores a aplicar a consulta, incluindo o Alô Defensoria;
2.13. Compilação pela COE das propostas encaminhadas através da consulta pública, no
período de, no mínimo, 15 dias e transformação em propostas a serem deliberadas nas
Audiências Públicas, em parceria com grupos técnicos especializados (UFC, UECE, etc);

2.14. Publicização do projeto no site da Defensoria Pública do Estado do Ceará;

2.15. Articulação junto aos defensores locais acerca da data, horário e local de realização das
audiências públicas em seus municípios;

2.16. Agendamento das Audiências com o intervalo de, no mínimo, 15 dias, entre os eventos;

2.17. Colocar a participação no Orçamento Participativo como parte do Curso de Formação


Obrigatória Continuada dos Defensores Públicos;

2.18. Licitar uma produtora de áudio e vídeo para registro das audiências;

2.19. Formular a dinâmica de participação nas Audiências contemplando o preenchimento dos


formulários (se com ajuda de colaboradores e defensores) e o momento das falas.

3. DA CONSTITUIÇÃO DO PROCESSO DE AUDIÊNCIAS PÚBLICAS


123

3.1. Publicação de Edital que convoca as Audiências Públicas e fixa o calendário dos
eventos, determinando o município sede e os outros municípios que abrangerão cada
Audiência, conforme Código de Divisão e Organização do Estado do Ceará (anexo 01).

3.2. Após a publicação do Edital, elaborar e publicar Convocação aos Defensores


Públicos da região, para cada audiência pública, encaminhando o referido documento para
o e-mail institucional de cada defensor;

3.3. Elaboração de arte com: folders de divulgação de cada Audiência, formulário


de consulta, certificado e convite.

3.4. Impressão dos Certificados, folders de divulgação, formulários e convites;


3.5. Articulação junto à Ouvidoria Externa e os defensores locais para divulgação
do projeto e das audiências;
3.6. Articulação junto à Assessoria de Comunicação para divulgação do evento e
agendamento de entrevistas nas rádios e TV;
3.7. Realizar reuniões prévias com os defensores sediados nos locais da Audiência
para apresentação do projeto;
3.8. Encaminhamento aos defensores dos municípios das artes de divulgação das
Audiências;
3.9. Pedido de Coffee Break para todas as audiências;
3.10. Solicitação de equipamento de multimídia (notebook, data-show, tela de data-show,
som e dois microfones sem fio com bateria reserva) ao Help Desk;
3.11. Solicitação de disponibilização de técnico de informática/som para as audiências
através do Help Desk;
3.12. Solicitação de reserva das Vans da Defensoria e carros para as datas das audiências
através do e-mail do setor de transportes;
3.13. Solicitação de transporte (ônibus, micro-ônibus e van) para as datas do evento;
3.14. Elaboração de cronograma de equipe de trabalho para cada audiência, sendo no
mínimo: 02 (duas) secretárias; 01 (um) colaborador da ADINS; 01 (um) assessor; e 01
(um) colaborador da ASCOM; e 01 técnico de informática/som.
3.15. Monitoramento da divulgação, reserva do local e outras peculiaridades nos
municípios sede das audiências públicas.
3.16. Elaborar rotas de transporte para municípios vizinhos e município sede;
3.17. Solicitar diárias para os colaboradores;
3.18. Elaborar e publicar portaria de pedido de diárias para defensores do gabinete;
3.19. Fazer as pastas para serem entregues na Audiência (formulário, caneta, papel em
branco);
3.20. Elaborar listas de presença, sendo uma específica para os defensores e outra para os
participantes em geral;
3.21. Convite para parlamentares federais, estaduais e municipais;
124

3.22. Contratação ou solicitação de tradutor de libras para as Audiências.

4. DA REALIZAÇÃO DO EVENTO DA CONFERÊNCIA ESTADUAL


4.1. Garantir o serviço de transporte dos participantes;
4.2. Garantir a ida da equipe técnica;
4.3. Garantir encaminhamento dos equipamentos de multimídia e som;

4.4. Garantir o serviço de coffee break durante o evento;


4.5. Fazer o credenciamento dos participantes que participarão da Audiência, até o
limite disposto no edital convocatório;
4.6. Designar responsável pela lista de presença (coleta das assinaturas,
recolhimento e entrega à COE);
4.7. Designar responsável pela relatoria da Audiência;
4.8. Solenidade de abertura do evento: fala da Defensora Pública Geral,
apresentação dos defensores locais, apresentação da Corregedoria, apresentação e fala da
Ouvidoria Externa;
4.9. Apresentação do projeto com os seguintes temas: Apresentação da Defensoria
Pública; Critérios para ter acessos aos serviços defensoriais; Áreas de atuação da
defensoria; Conceitos básicos de orçamento público; Objetivos e Etapas das Audiências
Públicas; Quadros demonstrativos do orçamento público dos órgãos do sistema de justiça;
Objetivos da proposta e resultados esperados; entre outros.
4.10. Leitura e explicação de cada proposta disposta no formulário de consulta, para que os
participantes possam ir preenchendo;
4.11. Disponibilização de equipe (colaboradores e defensores) para ajudar no
preenchimento do formulário;
4.12. Intervalo de 30 (trinta) minutos para preenchimento do formulário;

4.13. Início das falas de acordo com as inscrições efetuadas no início do evento e conforme
o tempo estipulado em edital convocatório;
4.14. Encerramento da Audiência;

4.15. Entrega dos certificados aos participantes ao final do evento.

5. APÓS O PROCESSO DE CONFERÊNCIA ESTADUAL

5.1. Consolidação das propostas orais e escritas;


5.2. Reunião do COE de avaliação dos eventos;
5.3. Consolidação do texto relatório final do Orçamento Participativo e posterior
encaminhamento das informações para diagramação;
5.4. Impressão do Relatório Final;
125

5.5. Elaboração das respostas à sociedade.

6. DAS PROPOSTAS ORÇAMENTÁRIAS

6.1. Adequação das propostas orçamentárias às demandas recebidas;

6.2. Reunião prévia com Governador do Estado, Presidente da Assembleia


Legislativa, líderes dos partidos políticos e Secretário de Planejamento;

6.3. Encaminhamento de Propostas Orçamentárias à Assembleia Legislativa;

6.4. Acompanhamento da aprovação da Lei Orçamentária Anual;

6.5. Planejamento da aplicação dos valores recebidos às demandas da sociedade;

7. RETORNO À SOCIEDADE:
7.1. Preparativos para o retorno à sociedade:
7.1.1. Agendamento de novas reuniões nos municípios sede para
apresentação dos resultados;
7.1.2. Compilação e comparativo das demandas solicitadas pela sociedade
e dos pedidos atendido pelo legislativo;

8. DAS COMPETÊNCIAS DA COMISSÃO ORGANIZADORA ESTADUAL – COE:


8.1. Compilar os dados da Consulta Pública, criando um formulário;
8.2. Elaborar o Edital de convocação da Audiência Pública, definindo a metodologia
do trabalho da Audiência Pública;

8.3. Definir qual será a equipe técnica;

8.4. Definir quais serão os municípios sede, as datas e quantas Audiências


ocorrerão;
8.5. Elaborar a programação do evento;

8.6. Capacitar os colaboradores;

8.7. Preparar release para divulgação na imprensa;

8.8. Participar de entrevistas de rádio e TV para divulgação do evento;

8.9. Preparar release para a abertura do evento;

8.10. Estipular o número de oradores e o tempo de fala;

8.11. Resolver os casos omissos do Regimento;

8.12. Fazer avaliação final da Conferência/

8.13. Elaborar o texto Relatório Final do Orçamento Participativo.


126

9. DOS PRAZOS PARA REALIZAÇÃO DAS CONFERÊNCIAS E


ENCAMINHAMENTO DOS RELATÓRIOS FINAIS
9.1. As datas para a realização da Consulta Pública e das Audiências Públicas
devem obedecer ao seguinte cronograma:
Publicação da Consulta Pública: até 15 de Janeiro;
Período da Consulta: 15 de Janeiro a 15 de Fevereiro;
Compilação dos dados da Consulta: 16 de fevereiro a 1° de março;
Audiências Públicas: 1° de março a 15 de maio;
Elaboração do Relatório Final: 15 maio a 15 de junho;
Articulação política: 15 maio a 15 de junho;
Entrega da proposta orçamentária: 15 de junho a 30 de junho;
Retorno a sociedade: 01 outubro a 30 de dezembro.
Foto 01. Folder da Primeira audiência pública, realizada no município sede de
Aracati.
127

Foto 02. Participantes da audiência pública realizada em Aracati.

Foto 03. Folder da segunda audiência pública, a ser realizada no município sede de
Quixadá.
128

Fotos 04 e 05. Participantes da audiência pública realizada em Quixadá.


129

Foto 06. Folder da terceira audiência pública, a ser realizada no município


sede do Crato.
130

Foto 07. Participantes da audiência pública realizada no município do Crato.

Foto 08. Participantes da audiência pública realizada no município de Sobral.


131

Foto 09. Folder da quinta audiência pública, a ser realizada na capital,


Fortaleza.

Participantes da audiência pública realizada na capital, Fortaleza.


132

ANEXO B

DOC 2. DEFENSORIA PÚBLICA NAS ESCOLAS. PROJETO RESULTANDO DE


PLEITOS NA AUDIÊNCIA PÚBLICAS. UM DOS EIXOS PRINCIPAIS É O DIÁLOGO
NAS ESCOLAS.

DEFENSORIA PÚBLICA NAS


ESCOLAS MAIO 2016

Falta de conhecimento da população acerca de seus direitos


básicos;

Necessidade de ampliação da assistência jurídica às comunidades


vulneráveis, descentralizando o atendimento da Defensoria
Pública;

Falta de conhecimento acerca dos canais de acesso à justiça;


PROBLEMA
Necessidade de levar à juventude o debate sobre seus direitos e
cidadania;

Necessidade de fortalecer o espaço público escola no debate de


cidadania;

Sentimento de desamparo por parte da população, principalmente


das comunidades mais vulneráveis.

O Ceará é referencia nacional no quesito educação.


Desde 2007, quando o Governo do Estado implantou o Programa
Alfabetização na Idade Certa (PAIC), a realidade de milhares de
JUSTIFICATIVA crianças mudou e serviu como modelo para o Governo Federal criar
o Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).

O PAIC teve sua origem a partir dos resultados do


Comitê Cearense pela Eliminação do Analfabetismo Escolar,
133

instituído na Assembleia Legislativa e foi transformado em política


pública prioritária do Governo do Estado em 2007. Desde então, os
municípios passaram a contar com apoio técnico e financeiro para a
gestão municipal, avaliação, formação de professores, aquisição de
material didático e de apoio pedagógico.

Em 2011, o Governo do Estado, por meio da Seduc,


expandiu as ações para melhorar os resultados de aprendizagem
dos alunos da rede pública até o 5º ano de escolaridade. Essa
iniciativa é denominada Programa Aprendizagem na Idade Certa –
PAIC+5 e visa levar aos municípios mais formações para os
profissionais, apoio às gestões escolares e aos alunos com
dificuldades de aprendizagem, entre outros aspectos.

Porém, apesar do avanço no Sistema Educacional


cearense, vislumbra-se, ainda, um espaço a ser ocupado para
debate dos direitos e fomento de cidadania entre juventude, famílias
e Defensoria Pública, enquanto instituição do sistema de justiça
responsável por levar acesso à justiça aos cearenses vulneráveis.

Sendo assim, esta instituição propõe implementar o


Projeto Defensoria Pública nas Escolas, que está alinhado aos
objetivos do Plano Estratégico da Instituição, que são: “Estimular a
participação popular na gestão da instituição” e “Atender com
eficiência, eficácia e qualidade”. O objetivo do projeto perpassa pela
necessária educação em direitos, divulgação da Defensoria Pública,
dada ser esta a mais nova instituição do sistema de justiça e, por
esta razão, ainda restar confusão entre seu papel dentre os demais
atores do sistema de justiça; é também forma de promover
cidadania, levando conhecimento e informação, ou seja, saber que
se tem o direito e a forma como acessá-lo.

Deste modo, a Defensoria Pública do Estado do Ceará


lança o presente projeto e sugere, a presença da instituição na
comunidade, através da Escola, para levar conhecimento aos
estudantes e também aos seus familiares, atuando de forma a
134

auxiliar o empoderamento social e a efetivação de direitos.

Com vistas à realidade atual, e certos de seu papel


constitucional, é que os defensores públicos de todo país têm
primado pelo contato direto com a sociedade, criando uma relação
simbiótica, em que a instituição leva conhecimento e assistência
jurídica aos seus assistidos, ao tempo que aprende, se renova e
fortalece os laços com os destinatários dos serviços da Defensoria.

Valendo-se de técnicas de palestras, assessoria e


assistência jurídica, a proposta é que não somente a comunidade se
sinta mais amparada pelo Estado, por meio da Defensoria, como
também tenha efetiva resposta às demandas reprimidas que a
dificuldade no acesso à justiça proporciona.

Nosso objetivo precípuo é empoderar a sociedade de


seus direitos básicos, levando conhecimento e assistência jurídica a
um número maior de pessoas, convencendo-as a identificar seus
direitos como uma oportunidade de mudar, crescer e viver melhor.

FOCO Com base em diversos modelos exitosos, a Defensoria Pública


busca aglutinar a educação em direitos, o debate social, o
empoderamento da população e a efetiva garantia dos direitos dos
hipossuficientes.

DESENVOLVIMENTO
DO PROJETO
• Assistência Jurídica (metodologia de execução)
Caracteriza-se como sendo a atividade de consulta por parte
do usuário do serviço público, através da Defensoria Publica
móvel, para se informar sobre direitos dos quais porventura
seja titular, ou os quais tenha o dever de cumprir, além da
possibilidade de agendar uma mediação de conflitos, ou,
ingressar, já naquele momento, com a demanda judicial
pertinente.
Constitui, ainda, a análise do caso concreto submetido ao crivo do
Defensor, a fim de que adote as providências cabíveis ou tome as
135

medidas extrajudiciais competentes, tais como convite das partes


para reunião de mediação ou notificação das mesmas, no caso de
conciliação.

Em sendo constatada a oportunidade de realização de mediação, o


assistido será encaminhado para algum dos Núcleos de Mediação
da Defensoria Pública. Caso não haja sucesso na medida, será
proposta a demanda judicial cabível.

Doravante, o trâmite do processo, ficará a cargo do Defensor


Público atuante junto à Unidade Judiciária para a qual a ação foi
distribuída (Fórum/ Justiça Comum, Juizados, Tribunal de Justiça),
mediante o regular acompanhamento, elaboração de petições e
manejo dos recursos cabíveis até que se ultime o julgamento.

10. Educação em Direitos nas Escolas – palestras,


distribuições de cartilhas e debates. Com relação à
educação em direitos, serão realizadas palestras nas
escolas públicas, cujo objetivo é, dentre outros, fortalecer o
debate público, empoderar a sociedade de seus direitos
básicos, ouvir da população, suas queixas e dificuldades,
fortalecer a parentalidade responsável, criar uma cultura de
paz, fomentar a autorreflexão e a responsabilidade social
nos jovens, além de apresentar os núcleos da Defensoria,
por áreas temáticas de atuação, com objetivo de divulgar o
serviço, potencializar o atendimento e esclarecer o assistido.
A divulgação das atividades se dará através da distribuição de
cartilhas temáticas. Paralelamente, e em parceria com a Escola
Superior da Defensoria Pública, serão ofertadas palestras para
esclarecimentos dos diversos nichos de atuação. A ideia do projeto
se baseia em histórias que retratam situações comuns em áreas de
maior procura junto à instituição, além de temas específicos do
interesse da juventude, como bullying, família, direito do consumidor,
área criminal, saúde, direitos humanos, infância e juventude,
habitação, direitos da mulher, idoso, dentre outros, a depender da
necessidade. Para coroar o final do Ciclo de Palestras, visando a
inserção da comunidade e divulgação do projeto no bairro,
promoveríamos um concurso de redação para os alunos das escolas
da rede pública estadual e ofertaríamos um tablet como premiação.
O tema da redação deverá abordar uma questão jurídica relevante,
136

pertinente ao projeto ora apresentado.

• Democratizar o conhecimento dos direitos fundamentais;


• Possibilitar o debate junto à sociedade de temáticas de
seu interesse;
• Educar em direitos;
• Promover a compreensão da Defensoria Pública
enquanto instituição de promoção do acesso à justiça;

OBJETIVOS • Promover o envolvimento e comprometimento da


comunidade nas ações sociais;
• Reforçar a cultura de paz, através do estímulo ao
diálogo e estabelecimento de pactos entre pessoas e
instituições;
• Levar até o ambiente escolar informações sobre
cidadania e direitos, bem como o debate com os alunos
sobre os assuntos pertinentes a sua realidade.

PARCELA
POPULACIONAL
FAVORECIDA (PÚBLICO • Escola Públicas estaduais e municipais, inicialmente
ALVO)
sediadas em Fortaleza.
• 02 Defensores Públicos, sendo um para educação
em direitos e um para assistência jurídica;

• 02 Estagiários remunerados para auxiliar no

PRODUTO atendimento;

• Veiculo Defensoria Publica móvel;

• Estutura física da escola: cadeiras, sistema de som.

• Desenvolvimento de
palestras e debates nas escolas públicas estaduais e
municipais, que terão a temática escolhida conforme
EFICIÊNCIA análise das dificuldades da região a ser atendida ou
através de pedidos da própria população envolvida;

• Atendimento e
aconselhamento nas áreas jurídica e social com
137

protocolos predefinidos no sentido de realizar uma


intervenção qualificada em cada área de assistência.

VALOR DO PROJETO

PRAZO 2016 a 2017, com possibilidade de prorrogações sucessivas.

Iniciar um projeto de atendimento comunitário itinerante, através


das escolas públicas, visando o debate social, a divulgação de
direitos e o atendimento da comunidade, ampliando os territórios de
atuação da instituição.

O projeto da Defensoria Pública visa o desenvolvimento de


DESENVOLVIMENTO DO palestras e debates nas escolas públicas estaduais e municipais,
PROJETO
que terão a temática escolhida conforme análise das dificuldades
da região a ser atendida ou através de pedidos da própria
população envolvida, além do atendimento e aconselhamento nas
áreas jurídica e social com protocolos predefinidos no sentido de
realizar uma intervenção qualificada em cada área de assistência.

Atendimentos: 480/ano (20 atendimentos/dia)


METAS DE INDICADORES
ANUAIS Palestras: 24/ano.
138

ANEXO C

DEFENSORIA PÚBLICA NAS ESCOLAS


MAIO 2016

Falta de conhecimento da população acerca de seus direitos básicos;

Necessidade de ampliação da assistência jurídica às comunidades


vulneráveis, descentralizando o atendimento da Defensoria Pública;

Falta de conhecimento acerca dos canais de acesso à justiça;


PROBLEMA
Necessidade de levar à juventude o debate sobre seus direitos e cidadania;

Necessidade de fortalecer o espaço público escola no debate de cidadania;

Sentimento de desamparo por parte da população, principalmente das


comunidades mais vulneráveis.

O Ceará é referencia nacional no quesito educação. Desde


2007, quando o Governo do Estado implantou o Programa Alfabetização na
Idade Certa (PAIC), a realidade de milhares de crianças mudou e serviu
como modelo para o Governo Federal criar o Programa Nacional de
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).

O PAIC teve sua origem a partir dos resultados do Comitê


Cearense pela Eliminação do Analfabetismo Escolar, instituído na
Assembleia Legislativa e foi transformado em política pública prioritária do
JUSTIFICATIVA
Governo do Estado em 2007. Desde então, os municípios passaram a
contar com apoio técnico e financeiro para a gestão municipal, avaliação,
formação de professores, aquisição de material didático e de apoio
pedagógico.

Em 2011, o Governo do Estado, por meio da Seduc, expandiu


as ações para melhorar os resultados de aprendizagem dos alunos da rede
pública até o 5º ano de escolaridade. Essa iniciativa é denominada
Programa Aprendizagem na Idade Certa – PAIC+5 e visa levar aos
municípios mais formações para os profissionais, apoio às gestões
escolares e aos alunos com dificuldades de aprendizagem, entre outros
139

aspectos.

Porém, apesar do avanço no Sistema Educacional cearense,


vislumbra-se, ainda, um espaço a ser ocupado para debate dos direitos e
fomento de cidadania entre juventude, famílias e Defensoria Pública,
enquanto instituição do sistema de justiça responsável por levar acesso à
justiça aos cearenses vulneráveis.

Sendo assim, esta instituição propõe implementar o Projeto


Defensoria Pública nas Escolas, que está alinhado aos objetivos do Plano
Estratégico da Instituição, que são: “Estimular a participação popular na
gestão da instituição” e “Atender com eficiência, eficácia e qualidade”. O
objetivo do projeto perpassa pela necessária educação em direitos,
divulgação da Defensoria Pública, dada ser esta a mais nova instituição do
sistema de justiça e, por esta razão, ainda restar confusão entre seu papel
dentre os demais atores do sistema de justiça; é também forma de promover
cidadania, levando conhecimento e informação, ou seja, saber que se tem o
direito e a forma como acessá-lo.

Deste modo, a Defensoria Pública do Estado do Ceará lança o


presente projeto e sugere, a presença da instituição na comunidade, através
da Escola, para levar conhecimento aos estudantes e também aos seus
familiares, atuando de forma a auxiliar o empoderamento social e a
efetivação de direitos.

Com vistas à realidade atual, e certos de seu papel


constitucional, é que os defensores públicos de todo país têm primado pelo
contato direto com a sociedade, criando uma relação simbiótica, em que a
instituição leva conhecimento e assistência jurídica aos seus assistidos, ao
tempo que aprende, se renova e fortalece os laços com os destinatários dos
serviços da Defensoria.

Valendo-se de técnicas de palestras, assessoria e assistência


jurídica, a proposta é que não somente a comunidade se sinta mais
amparada pelo Estado, por meio da Defensoria, como também tenha efetiva
140

resposta às demandas reprimidas que a dificuldade no acesso à justiça


proporciona.

Nosso objetivo precípuo é empoderar a sociedade de seus


direitos básicos, levando conhecimento e assistência jurídica a um número
maior de pessoas, convencendo-as a identificar seus direitos como uma
oportunidade de mudar, crescer e viver melhor.

Com base em diversos modelos exitosos, a Defensoria Pública busca


aglutinar a educação em direitos, o debate social, o empoderamento da
população e a efetiva garantia dos direitos dos hipossuficientes.

FOCO

• Assistência Jurídica (metodologia de execução) Caracteriza-se


como sendo a atividade de consulta por parte do usuário do serviço
público, através da Defensoria Publica móvel, para se informar
DESENVOLVIMENTO
DO PROJETO sobre direitos dos quais porventura seja titular, ou os quais tenha o
dever de cumprir, além da possibilidade de agendar uma mediação
de conflitos, ou, ingressar, já naquele momento, com a demanda
judicial pertinente.
Constitui, ainda, a análise do caso concreto submetido ao crivo do Defensor,
a fim de que adote as providências cabíveis ou tome as medidas
extrajudiciais competentes, tais como convite das partes para reunião de
mediação ou notificação das mesmas, no caso de conciliação.

Em sendo constatada a oportunidade de realização de mediação, o assistido


será encaminhado para algum dos Núcleos de Mediação da Defensoria
Pública. Caso não haja sucesso na medida, será proposta a demanda
judicial cabível.

Doravante, o trâmite do processo, ficará a cargo do Defensor Público


atuante junto à Unidade Judiciária para a qual a ação foi distribuída (Fórum/
Justiça Comum, Juizados, Tribunal de Justiça), mediante o regular
acompanhamento, elaboração de petições e manejo dos recursos cabíveis
até que se ultime o julgamento.

11. Educação em Direitos nas Escolas – palestras, distribuições de


cartilhas e debates. Com relação à educação em direitos, serão
141

realizadas palestras nas escolas públicas, cujo objetivo é, dentre


outros, fortalecer o debate público, empoderar a sociedade de seus
direitos básicos, ouvir da população, suas queixas e dificuldades,
fortalecer a parentalidade responsável, criar uma cultura de paz,
fomentar a autorreflexão e a responsabilidade social nos jovens,
além de apresentar os núcleos da Defensoria, por áreas temáticas
de atuação, com objetivo de divulgar o serviço, potencializar o
atendimento e esclarecer o assistido.
A divulgação das atividades se dará através da distribuição de cartilhas
temáticas. Paralelamente, e em parceria com a Escola Superior da
Defensoria Pública, serão ofertadas palestras para esclarecimentos dos
diversos nichos de atuação. A ideia do projeto se baseia em histórias que
retratam situações comuns em áreas de maior procura junto à instituição,
além de temas específicos do interesse da juventude, como bullying, família,
direito do consumidor, área criminal, saúde, direitos humanos, infância e
juventude, habitação, direitos da mulher, idoso, dentre outros, a depender da
necessidade. Para coroar o final do Ciclo de Palestras, visando a inserção
da comunidade e divulgação do projeto no bairro, promoveríamos um
concurso de redação para os alunos das escolas da rede pública estadual e
ofertaríamos um tablet como premiação. O tema da redação deverá abordar
uma questão jurídica relevante, pertinente ao projeto ora apresentado.

• Democratizar o conhecimento dos direitos fundamentais;


• Possibilitar o debate junto à sociedade de temáticas de seu
interesse;
• Educar em direitos;
• Promover a compreensão da Defensoria Pública enquanto
instituição de promoção do acesso à justiça;
OBJETIVOS
• Promover o envolvimento e comprometimento da comunidade
nas ações sociais;
• Reforçar a cultura de paz, através do estímulo ao diálogo e
estabelecimento de pactos entre pessoas e instituições;
• Levar até o ambiente escolar informações sobre cidadania e
direitos, bem como o debate com os alunos sobre os assuntos
pertinentes a sua realidade.
142

PARCELA
POPULACIONAL
FAVORECIDA • Escola Públicas estaduais e municipais, inicialmente sediadas
(PÚBLICO ALVO)
em Fortaleza.
• 02 Defensores Públicos, sendo um para educação em
direitos e um para assistência jurídica;

• 02 Estagiários remunerados para auxiliar no atendimento;


PRODUTO
• Veiculo Defensoria Publica móvel;

• Estutura física da escola: cadeiras, sistema de som.

• Desenvolvimento de palestras e
debates nas escolas públicas estaduais e municipais, que terão
a temática escolhida conforme análise das dificuldades da
região a ser atendida ou através de pedidos da própria
população envolvida;
EFICIÊNCIA

• Atendimento e aconselhamento
nas áreas jurídica e social com protocolos predefinidos no
sentido de realizar uma intervenção qualificada em cada área de
assistência.

VALOR DO PROJETO

PRAZO 2016 a 2017, com possibilidade de prorrogações sucessivas.

Iniciar um projeto de atendimento comunitário itinerante, através das


escolas públicas, visando o debate social, a divulgação de direitos e o
atendimento da comunidade, ampliando os territórios de atuação da
instituição.
DESENVOLVIMENTO DO
PROJETO O projeto da Defensoria Pública visa o desenvolvimento de palestras e
debates nas escolas públicas estaduais e municipais, que terão a temática
escolhida conforme análise das dificuldades da região a ser atendida ou
através de pedidos da própria população envolvida, além do atendimento e
aconselhamento nas áreas jurídica e social com protocolos predefinidos no
143

sentido de realizar uma intervenção qualificada em cada área de


assistência.

Atendimentos: 480/ano (20 atendimentos/dia)


METAS DE
INDICADORES ANUAIS Palestras: 24/ano.

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