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CURSO

DE

INSTRUCÇÃO RELIGIOSA
PARA O USO

DOS CATECISMOS DE PER EVERANÇA,


DAS CASA DE EDUCAÇÃO E PE SOAS DO MUNDO
POR

Mo nsr. E. C AU L V
PROTONOTA.RJO APOSTOLI CO, VlGARlO GERA L DE RE IMS,
Honrudo eorn um bre•e de • o P a pa Leão XJJI .

TOMO I II
QUAL E' . VERDADEIRA RELIGIÃO?
~ ' llllll tlllll l lll lllllllll ll l llll ll l ll ll,llll l llU lll ll lltlllll l ll llllllllllllllllllllllllllllllllll l llll U llllllll~

~ R eligião e m geral. - R eligião r e,elada. ~


; Judaismo. - Christianisuro. ~-~
: lg1·eja catholica. =
~ 3
Ílllllllllfl ll l 1 Mlltllll l llllllll l ll l ll l ll l lll l lftl lll lltlllll111 1 1 U lll l ll 1 11111111 1 1111111111 1 11111 1 111111111 1 1111~

'

LIVRARIA PAULO DE AZEVEDO & CIA.


Rio de Janeiro I, São P a ulo 1 Bello Horizonte
16ti, Rua do Ouvidor 49-A. Rua Libffo Badar6 106$ , R ua da Bahia
Todos os direitos reservados

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DE

INSTR UCÇÃO RELIGIOSA


PARA ~O USO

DOS CATECISMOS DE PERSEVERA ÇA,


DAS CASAS DE EDUCAÇÃO E PESSOAS DO MUNDO
POR

Monsr E . CAUL V
PROTONOTARJO APOSTOLICO, VIGAnIO GE RAL DE REIMS,
Honrado com um bre ve d e S. S . o Papa Leão XIII.

TOMO III
QUAL E' A VERDADEffiA RELI GIÃO ?
~1 1111111111111111111111111111 1 1111111111111111111111111 1 1 1 1111111111111111111111111111 11 111 11 111 111 11 1 11 1 11111 11111 1~

~ Religião em geral. - R e ligião revelada. ~


~ J udaismo . - Chrlstianismo. ~
~ I g r eja catholiea. ~
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LIVRARIA PAULO DE AZEVEDO & CIA.


Ri o de J aneiro São PauJo Be llo Horizon te
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IMP RIMA-SE IMPRIMATU R
S . P aulo, 19 de 'março de 191 6 . t J osfl, Bi8 po Auxiliar.
t D UARTE, Â.Tceb. Metrop. 11-IX-1935
1
.

Todos os d ireitos r eserva dos nesta traducção e a daptação,


especialmente autorizadas pelo autor, M onsr. Oauly, e p elo editor
Librairie Yeuve Oh. Poussielgue.

ENCONTRAM- SE NA MESMA COLLECÇÃO F.T.D.:


4 volumes de MONSR. CAULY, vigãr io ger al de Reima, que
mereceram um Breve de S. S . Leão XIII:
Lº Curso d e ln• trucção r eligi os a , t omo 1 ; comprehen d e o
Dogma, a Moral , os Sacramentos e o Culto; bello volume illustrad o.
2 .º Histó ria da Rerigião e da I gre ja, ou tomo li • com numerosos
porm enores interessantes, desde a criação até hoj e.
3.º Q ua l é a verdadeira Religi ã o ? ou tomo I II . Trata da
R eligião em gei-al, da R eligião revelada, do Juda ísmo, d o Christia·
nismo e da Igrej a Cathóli t:a.
4. 0 Apo logé ti ca c hr istã ou tomo IV. Estud a os mystérios em
face da razão, o accôrdo das sciências com a fé e num erosas questões
históricas .
Estes 4 volumes são independentes um do outro p ara o estudo,
embora sua reunião forme um curso completo.
D estinam·se aos catecismos de perseverança, ás casas d e ed u ca ção
e ás pessôas que d esejam conh ecer a verdadei ra R elig ião .
3 volum es do CôNEGO BOULENGER sobre a Doutrina Calho ·
lica:
l.º O D ogma , ou primeira parte;
2 .0 A J\Ioral , ou segunda parte ;
S .0 Os Jllelo• d e Sa n t ificaçã o " a Liturg ia, ou 3 .ª parte.
Cada lição é precedida de um quadro syn6ptico p ar a d eterminar
as divisões e grandes linh as do assumpto, e de um vocabuJário que
fixa o sentido ou os va rios sentidos dos vocábulos importantes, que
o alumno pod eria desconhecer; d êste modo, o leitor pôde en frentar
a lição, sem receio de entender mal os vocábulos.
Segue uma r efutação dos erros dos principai s e m a is r ecentes
adver á rios ela doutrina cathólica; afinal, vem a própria dou tr ina
enunciada de modo substancial e exacto; por toda a parte, n ota-se
concisão, clareza, ordem e rigorosa concatenaç'do das iàiüu e das
perguntas.
Esses volumes distingu em-se pela cla reza e a plenitud e da
doutrina, a f ôrça da exposição e grande poder d e penetração n as
intelligéncias. E ' difficil encontrar livros mais comple'•s e m ais
claros; são preciosos instrumentos de trabalho para quem estuda
ou ensina a Religi ão.
Porque vive u G u ldo d e F ontgal l a od ; biographia inter essante e
proveitosa de um m enino de nossa época .
Guy, o vosso Am iguiul10; vida do m esma, escripta especialment.e
para crianças e jovens.
Aona de Guigné, p elo R evdmo. P. E . M. LAJ.EUNIE, biographia
edificante d e uma pi edosa menina h a pou co fallecida (de 25 ·IV·1911
a 14·I·1922).
M an ual de E spirit ualidade, p elo R evd. P . A. SAUDRDAU; encerra
as no ções fu nda.mentais da vida espiritual, p ostas ao alcan ce das
pessoas piedosas, em epecial dos jovens aspirantes aa sacerdócio ou
á vida r eligiosa .
A Alma de todo Apo•tol ad o , por D . CHAUTA..RD; preciaso livro
para os que se d edi cam á vida activa.

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CURSO DE RELIGIÃO
TERCEIRA PARTE

QUAL E' A VERDADBl RA RELIGl ÃO?


RELIGIÃO NA'rURAL
RELIGlÁO REVELADA - JUDAIS:M:O - CHRISTI A ISMO
JGREJ A ATHOLICA

DA RELIGIÃO EM GERAL
OU PRINCTPIOS DE RELIGIÃO NATURAL

NOÇõE PRELIMINARES
I. Definição da Religião. - II. Religião philosophica ou natural.
- l i. Divisão da s materias contidas neste Tratado.

1. - I. A Religião é o laço que une Deus e o homem. E'


a significaçãç, a etymologia da palavra religião, interpre-
tada pelos melhores espiritos. Provém do verbo religare,
que ignifica prender, umr. E' assim que o entenderam
'l'ertuliano, Lactancio, santo Agosünho, são J eronymo,
·e. no. tempo modernos, Bo suet, F énelon, P ascal, Leib-
nitz. «Todos os actos religiosos, diz Bo · uet, devem acabar
em Deus, e o fim da Religião é juntar-nos com esse
primeiro Ser . Santo Ago tinho ensina que é des, a origem
que a Religião tirou o seu nome : Religio dicitur eo quod
nos relig t omnipotenti Deo. Ella nos liga, prende,
une a Deus, e é por esta união que é definida ( 1) .»

(1) Bossu t , 01Jrc1s , t. VI, p. 47.

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4 &ELIGIÃO EM GE&AL

A Religião consiste, portanto, nos laços que unem


·Deus e o homem; é, em outras palavras, um encontro,
um com.mercio entre estes dois seres: Deus, espírito infi-
nitamente perfeito, creador e senhor absoluto de todas
as cousas; e o homem, creatura intelligente, racional e
dependente.
«Antiga como D eus, universal como o homem, indes-
tructivel como um e outro, a Religião atravessa todos
os tempos, todos os lugares; zomba de todas as tormen-
tas ... A religião dominou o berço da humanidade e ha
de cobrir-lhe ainda o tumulo; ne-ste encontro de Deus e
do homem em que o amor desempenha tão grande papel,
é justo que Aquelle que mais ama, tenha a primeira e a
ultima palavra (1) .»
2. - II. Comtudo, de modo muito diverso foram
entendidas e praticadas, por todos os povos e todos os
seculos, as relações entre o homem e Deus. Sem duvida,
no decorrer dos seculos, Deus permaneceu o mesmo; e, por
seu lado, trouxe sempre, á Religião, as mesmas relações
de condescendencia e de bondade. Mas o homem, sendo
imperfeito e fraco, não concebeu sempre do mesmo modo
os deveres e o culto que o deviam prender á Divindade.
Queremos fazer voltar o homem ao verdadeiro culto,
aos verdadeiros deveres, á verdadeira Religião, e antes
de dar a conhecer as interveuçóes mi-sericordiosas de
Deus para manifestar ao lll undo a maneira como exige
que a sua creatura intelligente o sirva e honre, vamos
primeiro collocar as bases de uma R eligião em geral, tal
qual a concebe um espirno esclarecido. e.,te estudo,
dirigimos nosso appello á razão humana : perguntamos-
lhe o que acredita como verdade, o que admitte como
deveres, o que julga neces ario em materia de culto .
.E' sobre o conjuncto destes dados racionaes e phi-
losophicos, como sobre uma base solida, que pretendemos
(1) Bougaud, Le Ohristianisme •t u1 tempa P'f'éunl.8, t. I. p . Hl4.

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PRELTMINARES ,5

as entar o ed:ficio da Religião. Com effeito, não sepa-


ramos estas dua cousas, a Philosophia e a Religião:
«Duas irmãs que se amam e ajudam; uma filha do
hflmem. apontando para D eu e alumiando-o com uma
claridade que jorra do proprio genio humano; outra,
filha no homem e filha de Deus, mostrando igualmente a
divinnade. fazendo -a r esplandecer com uma luz dupla
que baixa do céu e ascende da terra: ambas nem rivaes
nem ciumentas. ainda menos inimigas, mas irmãs, e con-
trihnindo para tornar, entre o homem e D eus, a união
honrosa e o commercio mais suave (l) .'>
Ora. pelas unicas luzes da razão, chegamos facil-
mente ao conhecimPntn de~c:;tas duas verdades essenciaes:
existe um Psni r ito inc reado. Deus, que é a perfeição supre-
ma. a prim ei r a causa e o fim derradeiro; existe tambem
um e pirito creadn: a alma humana, ser depend·e nt ,
;mperfeito. e a nirando ao infinito por todas as tenden -
cia da sua natureza.
E' obre e te ronhecimento de D eus e da alma,
tamhem ele certas vprclanes moraes, taes como a distincção
do hem e do mal. a rrPn<:a na r ecompen a do bem e n o
castigo elo mal. q_ue desca 1c:;a a 'neligião natural.
A Philosophia, na pe ôa dos seus illustres r epresen-
tantes, Sócrate . Platão, ícero. Séneca, poude, sobre
· P~ as bases. formu 1ar um corpo clP doutrina religiosa e
moral , si não d obC'rta, pelo menos acceita e comprehen-
dida pela razão.
Edificada sobre a razão hum 1rna, esta r eligião natural
tem por dogmas: a existencia de Deus e suas perfeições ;
a alma, sua esp:ritualidade. sua liberdade e sua immor-
talidad e; a vida futura , com seus premios e seus castigos.
D e as verdad es d eco rrem deveres naturaes: o pri-
mei ro é conhe er . amar e se r vi r é'l Deus, pela adoração,
pela gratidão e Pf' 10 Rmor. e tRmhem por demonstrações

(1) Bouirnud, Le OhristlaniAme et lea t•mPa prifaenta, t . I. p . 185.

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6 RELIGIÃO EM GERAL

exteriores e publicas que constituem o culto; o segundo


é respeitar-se o homem a si mesmo, nada cUzer, nada
fazer que não seja justo, honesto e d.e accordo com o
amor que nos devemos; o terceiro, afinal, é amar o nosso
proximo, não lhe fazer mal algum, tratal-o como dese-
jamos que elle nos trate: tal seria a reUgião natural.
E', porém, uma questão saber si jamais ella existiu
e até si póde existir neste estado puramente natural.
Comtudo, theoricamente, é certo que a Religião póde ser
encarada neste ponto de vista. Ora, são essas compro-
vações racionaes que devemos dar como bases ao nosso
estudo.
3. - III. Todavia , antes de definir as relações que
existem for ço amente entre o homem e Deu , convém estu-
dar separadamente estes dois seres. Eis porque consagra-
mos o primeiro capitulo a estudar Deus, em primeiro
lugar sua existencia, depois suas perfei ções. O segundo
capitulo será consagrado ao estudo do Homem, e daremos
a conhecer, de modo mais particular, a alma, sua espiri-
tualidade sua liberdade e sua immortalidade.
No terceiro capitulo, deduziremos dessas noções a
necessidade de uma religião, reclamada pela natureza de
Deus e pela natureza da alma, pelo interesse e pela feli-
cidade do homem, considerado como indiv-iduo, ou como
membro de uma sociedade.
Aqui, vem naturalmente a vontade de saber quais
devem ser os elementos constituidos de qualquer reli·gião.
No quarto capitulo, sob este titulo: O fundo de todas
as r eligiões, r espondemos que um dogma, uma morál, um
culto são indispensaveis a qualquer relação, a qualquer
commercfo do homem com Deus.
Uma vez esses principios estabelecidos de modo
especulativo, achamo-nos, praticamente, em presença de
varias religiões, as quaes todas admittem essas bases, e,
todavia, differem, r ealmente, no dogma, na moral e no

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DEUS: SUA EXISTENOI A 7

culto. Será po siv 1 manter- n uma in&if f er nça systema-


tica a respeito da dive~ r ligiõe T Não admittimo tal e
o nosso capitul o Vº d mon tra essa impo sibilidade. S r-
virá de tran i •ão ntre o estudo da R ligião em geml
o qu e, m seguida, consagraremos á R eltigião revelada.

CAPITULO I
DEUS
Definição de Deus. - Divisão deste capitulo.
4. - Para estudar definir Deus, c llo am -no aquí
unicamente no ponto de vi ta racional, sem l var m conta,
por emquanto, a noção mai perfeita mai sublime que
de i me mo ell nos d u. ra, egundo a idéa que delle
cone b raro todos o povo , Deus é o er up1· mo, o
enhor de todo o uni ver o, d quem todas as cou a d pen-
d m. Na verd ade, esta definição n ão r vela a natrueza
n m a essencia de u ; comtudo dá a nh c r qu
Deus é o er absolu to, exi tindo por si m mo,
nicando o er a t udo quanto xiste. E' pois o
sa1-io e infinito.
m pr tendermos empr eb nd r aqui um e tudo
mpl t pb"ilo ophico de Deus, .·er -nos-á ufficiente
lembrarmo r umidamente as ver ad importantes e
certas qu e têm r lação com e te r upr mo. Havemos
d r feril-as em dois artigos em qu provamo : 1.0 a
existencia de D us; e 2. 0 ma natureza e seus attributos
' ou perf ições.
ARTIGO I
Provas da ex:i!rt ncia de Deus. - I. Provas metaphysicas. - II.
Provas physicas. - III. Provas mora . - IV. Refutação summa-
ria do atheismo e do po itiv is'l110 atheistico.
5. - P d - e provar a xi rn ia de D u ? im, todos
o antig A philo opb s a im jul ·aram, o prim iro e o
prin ipal forço de sua razão foi demonstrar victorio-

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..
8 &ELlGIÃO EM GERAL

sarnente esta verdade essencial. O concilio ecumenico do


Vaticano (il.870) definiu esta possibilidade: «Si alguem
disser que Deu , unico e verdadeiro, nosso Creador e nosso
Mestre, não p óde ser conhecido certamente por meio das
cousas creadas, pela luz natural da razão humana, que
seja anathema (l).»
6. - I. Provas metaphysicas. - 1. 0 Ao redor de nós
existem diversos seres que são sujeitos a variações. Ora, a
variação, isto é, a passagem do poder ao acto, é impossí-
vel si não fôr causada por um ser que está elle mesmo
em acto. Em outros termos, por mais que se afaste a
causa da variação ou do movimento que está no mundo,
esta variação é inexplir;avel si não se admittir um motor,
activo unicamente por si mesmo ou immovel como diz
Aristoteles. Ora, este motor, chamamol-o Deus.
i( Chega-se á mesma conclusão pelo argumento tirado
da conting M1-cia dos ~res. A p ercepção dos sentidos nos
attesta a existencia, ao redor de nós, de numerosos seres,
e sabemos, pelo testemunho da consciencia, que nós pro-
prios existimos. Ora, todos esses seres podiam indiffe-
rentemente existir ou deixar de existir. Si existem, é
porque uma causa determinou a existencia delles. Mas
esta mesma causa, si não fôr mais que segunda, acha em
outra sua razão de ser; e remontando indefinidamente a
serie dos seres e de suas causas, chega-se necessariamente
a uma causa primeira, que não é contingente, mas abso-
lutamente necessaria, a um Ser, portanto, eterno, exis-
tindo por si mesmo, a quem chamamos Deits. E' esse
raciocínio que Descartes resume de modo tão conciso nesta
palavra : «Existo; logo, Deus existe.»
2. 0 O espírito humano conhece certo numero de idéas
e de verdades que são a base de todos os conhecimentos
e a regra de todos os juízos e de todas as acções. São
os princípios, as idéas geraes, universaes, 'immutaveis e
(1) De R evelatione, can. 1.

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l>EUS: SUA EXISTEN OIA 9

eternas. Ora, donde pódem provir estas idéas, smao de


uma realidade? «Em as conhecendo, diz Bossuet, nosso
esp·i rito acha que são v rdad e-~ : não as faz taes, porque
não é nosso conhecünento que faz os objectos: elle os
supp õe. As im, e as verdades ubsistem antes de todos
o seculos, e antes que houves e um entendimento humano.
Si eu procurar agora onde e em que ente ellas sub i tem
immutaveis e eternas como são estou obrigado a reco-
nhec r um ser em que a v-erdaide é eternamente subsistente
e em que é eternamente compreltendid a. E ' pois n lle,
que de certo modo me .é in omprehensivel, é nell , digo
eu, que vejo e sas verdades eternas. Este obj ecto eterno
é Deus, eternamente sub ·i, tente eternamente verdadeiro,
eternamente a mesma v rdade (1) .»
Para chegar á ·erteza da xi tencia de eus, o
homem precisa d ra ·iocinio; por'm, este trabalho e faz
tão rapidamente no eu e pirito, que certos phiJo ·ophos
e th ologos pensaram que tal rteza era uma e p ie de
intuição .arrancando-lhe este grito, por as im dfaer e pon-
taneo: «Meu Deus!» testemunho de uma alma natural-
mente crente.
7. - I f. Provas physica&. - A ordem phy i ·a, .isto é,
a con id ra ão do mnndo e de te universo, forn varias
prova · da exi ten ia d Deus. amos expo r brevemente
as duas mai importantes.
l .º P1·ova tfrada da exi t ncia da mal
, exi -te : é um fa cto evid nte. Ora a exi n ia da materia
é uma pr va da exi tencia de Deu ; d ou ro modo,
ria pre i o lizer ou que a materia se creou a i m ma,
u que a exi encia ili v iu do aca o ou qu corpos
a co mmunicaram a i proprio. 1 or uma ucce ão infi-
nita, ou qu a mat ria exi te n · ariam nte e de toda
a et rnidade. :.\Ias a la um a de. a uppo içõ é ab urda.
(1) Oonh ecimentos de Deus, I • pnrt . - F én élon, Exiatenci11 de
Doua, P pa rt , cnp 1 - Descartes, II l ª M ed <t.

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10 RELIGIÃO EM GERAL

A materia não· se creou a si mesma, porque é preciso


existir para produzir um acto qualquer ; não recebeu a
existencia do acaso, porque o acaso nada é e não póde
crear cousa alguma: i por esta palavra se entende uma
causa desconhecida, a clifficuldade fica afastada, mas
não resolvida; nem tão pouco os corpos se produziram
uns aos outros por ·uma successão infinita, porque uma
série infinita de causas contingentes, sem causa primeira
e necesaria, não se comprehende; afinal, a ma teria não
é nem necessaria, nem eterna; não é necessaria porque
concebemos muito bem sua não existenc:ia; não é tão
pouco eterna, pois que é contingente, e aliá i fosse
eterna, teria um attributo infinito e deveria, por :isso
me mo, ser immutavel na sua essencia e perfeita nos eus
attributos. Por con eguinte, acima da ma.teria e d e te
mundo visível, ha um Ser superior ao mundo, de quem
a ma.teria recebeu a existencia.
2.º Prova tirada da ordem do mundo. - Tudo quanto
é feito com ordem e regularidade, empre deixa suppôr
uma causa intelligente; e quanto inai~ perfeita fôr a
ordem, quanto mais admiravel fôr a regularidade, tanto
mai~ intelligente e superior se d-eve reconhecer a cau a.
Ora, no univer o inteiro, se descobre uma ordem mara-
vilho ·a. No espaço, os globos celestes se movem e exe-
cutam suas revoluções periodicas com uma exactidão e
uma perfeição que confundem a razão humana; na t en a,
as estações se succedem regularmente, os ventos a puri-
ficam, os rios e as chuvas a fecundam, o dia e a noite se
revezam, o sol a illumina e aquec·e em a consumir; nas
aguas, quer estejam encerradas nas su~s immensas bacias,
onde se agitam milhares de seres, quer permaneçam us-
pensas em nuvens, quer se precipitem formando as
chuvas; por toda a parte, ernfim, reinam · ordem e
harmonia.

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D"EUS: S A EX ISTEN C IA 11

De e espectaculo .geral, S'i passarmos a examinar


d·etalbadament e os ser es que povôam o mundo quant as
maravilhas ur gem diant e de no os olhos 1 As plant as
t"m suas b llezas diversas: cada uma se nutre com o
·n co que convêm á ua or ganização, á sua estructura .
á ·suas propriedade . O reino animal não é menos nota-
vel. Cada um do eres r e ebeu dons proprios á sua desti-
nação: o cavallo tem força e docilidade ; os animaes
ferozes, agilidade, gar ra e dentes para p egar em a sua
pre a. Ás aves, esta . a bia intelligencia deu azas ; aos
p eixes, barbatanas; a todos, meio par a cuidarem de
. ua d efeza e de ua conserva ção: a estabilidade n a especie,
o equiJibr"io constante nas l is que os r egem, uma pro-
porção regulada sobre as neces idades do homem.
Finalmente, no cume da c1-eação ter restre, o homem
appar ece como a obra pr ima da sabedoria e do poder
creador. Que admiravel proporção nas ·par tes de seu
co rpo ! Que dignida<le no u porte ! Quem não admi-
rari a a estructura dr seu membr os, a disposição dos
nervos e das arti culações, a circulac:ão do sangue nas
veias, a re piração que mantém a vida, a assimilação
da comida que a fortifica, o somno que a r epara 1 Cada
nm dos s~ntidos , os olhos os ouvidos, a lingua, concor-
r <'m a tSeu fim. Gallian o a aábva df' fazer a primeira
autopsia de um cadaver humano. Arrebatado, exclama :
«Que bello hymno acabo de cantar em honra do Crea-
dor (1 ) .»
E ', pois, verdadeiro que {) mundo ' uma maravilha
de ord·em e harmonia. Esta obra prima de intelligencia,
saber e poder, ' infinita mente a.cima do homem, e é
preci ·o admittir a existencia de um Ser pessoal, superior,
dotado de uma intelligencia e de uma vontade soberana:
é Deus.
(1) Co nsulta r B oss uet, Oonna.;.,sanc<0 d e D i<0u, cap. lV . - F énelon ,
Tniité de l'ewis tence de Dieu, 1.' par te, cap . II.

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12 RELIG I Ã O EM GERAL

8. - III. Provas morais. - As provas morais têm o


seu ponto de partida na alma e na consciencia dos homens ;
isto ·é, nas crenças dos povos, e nas leis moraes que gover-
nam a 'Vontade humana. As provas moraes da existencia
de Deus são: 1.0 O consentimento <1e todos os povos, 2.0
A lei natural ou a conscie-ncia.
1. 0 O consentimento de todos os povos. - A crença
do mundo intei:r:o na exi tencia de Deus é um facto prova-
do pelos annaes dos diversos paizes, pelos monumentos
hi toricos e p elas r elações dos viajantes. Ora, todos os
povo . civilizado e barbaro. , antigos e modernos, acre-
ditaram na exi tencia de um Deus. Remontemos aos
tempos mais afa. tados de nós: os Egypcios, Assyrios,
P·ersas, Gregos, Romanos, sem falar dos Judeus cuja
religião nos é mais conhecida, todos tinham altares, sacri-
fícios, templos, sacerdotes, ceremonias agradas, orações.
Plutarco, philosopho pagão do egundo seculo,
escrevia: «Lançai os olhos sobr a t t'rra poder eis notar
~.cidades sem fortifica ões, sem altares, em magi tratura
r egular, encontrareis povos sem habitações di tinctas,
sem casas, sem villas, sem moedas, sem theatros; porém.
não achareis nenhum sem conhecimento da divindade e
sem culto religio .» ( C'ontra Calotes, n. 0 31.)
Cícero di se com tanta verdade : «Em parte alguma,
vet·eis uma horda tão inculta, tão barbara que ignore a
existencia de um Deus, que não saiba dizer qual é a
natureza delle.» (Tratado das leis, I. II, C. vm.)
E ' um facto, igualmente, ·ql;le entre todas as naçõ-es
que acreditaram na pluralidade dos deuses, reconhe-
cia-se todavia um D eus superior, pae das outras divin-
dades assim como do homens; é o J upiter dos Grego
e dos Romanos que impera no Olympo:
Et totii,m nutiu. treme[ ecit Olympum (VIRGILIO ) .
E ntre o povos modernos, o accordo não é menos
imiversal. ão só os Judeu , os Christãos, o Mahoroe-

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D ~ S : R U A R :X J S T E N C l A 13

tanos, ma ainda o hinez o Hindú , a- tribu · da


Ameri a, da Airica da O eania, r e onbecem a exi tencia
de Deu . om effeito, st te temunbo ' decisivo e dá a
e r teza. R un toda. as ondi õe exigida peia logica
mai an : é univer al; tem por obj ecto uma v rdade facil
de conhecer de uma importancia xtrema, contraria ás
paixõe ... A rença em D eu é a voz da ·natureza, , por
con eguinte, da verdade. ara p roduzir ste entimento
univer al é neces aria uma causa univ rsal como elle, e
capaz de ubjugar con tantemente as intelligencias. Ora,
ta crença não póde vir n m da: p aL.--::- que têm inte-
r e em n gar a D u · n m dos precon eitos que variam
se undo os tempos, o lugare , a n ações e os temper a-
mento ; nem da ignoran ia, pois qu a rença em eus
se desenvolveu com a civilização; nem da ducação, qu
differe com os cl imas e o. povos; nem da p lítica dos
príncipe dema iadam ente im1 otente ou intere ada para
criar melba nte dou rina ou propagai-a· nem final-
mente do medo, bem que Petr nio t enha pretendido que
o terror fez inventar o. d use : Primus i?i, orb e cleos f ecit
timo-r... porque é preci o acr ditar em Deu para ter
receio delle, e aliá a idéa de bondade e de mi ericordia
e liga mais ao nome de Deus que as de justiça e de
everidade.
Por con eguinte, o consentimento unanime de todos
os povos baseia-se na verdade e prova a existencia de
Deus.
2. 0 Prova tirada da lei natural ou da consciencia. -
Existe uma lei natural , isto ' , uma r egra ab olu ta, uni-
ver al, immuta 1, que pre creve o bem, prohibe o mal,
e e impõe á consciencia humana com uma autoridade
irr ecu av 1. A existencia desta lei é provada: 1.0 pel
testemunho da con ciencia que nos prescreve cer tos
dever es para com Deus, para com o proximo, para com-
nosco, approva o que é bem, condemna o que é mal,

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RELIGIÃO EM GERAL

infunde-nos alegria quando somos fieis, remorso quando


somos culpados ; 2. 0 pelo testemunho dos homens, os
quaes todos e por toda a parte reconhecer am, tanto na
sua legisiação publica como na sua conducta particular,
uma diff erença essencial entre o vicio e a virtude, entre
o bem e o mal. - Mas donde vem esta lei? Ião p.óde vir
sinão de Delj.S. Com effeito, não ha lei sem legislador,
como não ha effeito sem causa. Ora, esta lei, absoluta
em si mesma, immutavel nos seus principios, universal
e referindo-se a todos, não póde vir nem da educação,
que é longe de ser a mesma para todos o homens, nem
dos preconceitos dominantes que não são nem con. tantes
n em immutáveis, e só achariam vantagem na destruição
de ta lei ; não vem tão .pouco da autoridade humana qu e
seria incapaz de impol-a ; nem da razão individual que
a póde perceber, mas nâo crear. E ' pois necessa.rio que
seja imposta ao homem por um Ser superior, primeiro
autor da lei. «Só um Ser infinito e perfeito póde legit i-
mamente mandar ao homem ... Deus, fonte universal do
Ser e da vida, é tambem o autor eterno e o guarda infal-
livel da lei moral (1 ).»
Por conseguinte, Deus existe a titulo de legislador
universal.
\. 9. - IV. R efutaç ão 1;i1,rnmária do atheisrno e do posi-
tivisrno ath eist·ico. - Chama- e atheisnio o erro ou a dou-
trina q_ue tende a supprimir Deus, e athetu.is o que rejei-
t am a ex:i stencia do Ser divino. P oder íamos distinguir
o atheismo pratico e o atheismo especulativo. O primeiro
é o estado ou a conducta de um homem que age e
procede como si Deus não existisse : é um estado
infelizmente por demais commum, hoje em dia; e basta
dizer que é uma inco~sequ enc ia lastimavel e culpada
entre as convicções e a conducta. O atheismo e p ecula-
tivo tende a erigir em ystema e doutrina a negação de
(1 ) A . de M a rgerie, Th éodicée, t. I. p . 246.

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D E U S : S U A E X l S T E N C I A 15

D us. S rá e te athei mo sincero 1 Poderá existir real-


m nte L. E' p rmittido duvidar que -haja verdadeiros
ath us, inceramente convencido . A. experiencia demons-
tnt que os qu fazem profis ão de ath ismo, se deixam
1 var mais por bravata do que por convicção, d men-
t m muitas vez na pratica, sua tbeor.ia m ntirosa.
Gabando-se de uas negaçõ y tematicas, mentem á sua
razão e á sua on i n ia, ou ão as sua paixões que os
incitam a negar a Deu . «Eu quizéra ver, lh s diz La
Bruy 're, um homem sobrio, mod 'rado, casto, eq uitat.ivo,
affirmar qu não ha Deus ou alma immortal: então
falaria sem intere e. Mas e w homem não encontra.»
(Ca.rat'res cap. x.)
Em todo o caso, em no os dias, o ath i mo procura
tran formar - em doutrina, ob o nome de po itivismo.
e cola p itivi ta r e onhece como chefe om te, profes-
sor d mathematica, como .mestres Littré, Renan,
Robinet, et ... ra, o po itivismo tem por ba e te prin-
cipio: só o finito wm exi t ncia e realidade; o infinito,
o ab oluto não pas a d uma abstracção, de um ideal.
Portanto, não 1 a Deu . Deus ' uma ficção, ou, quando
muito, uma hypóthese, hoje })erfeitamente inutil.
«Aquill o que e onta ou imagina, diz Lütré, da au a
do univ rso, ' icléa, conj ctura, modo d ver ... As idea-
liza ·õ s tneologi a sempr foram fie ti ias.» Segundo o
p silivi mo, ó são r eaes a mawria, a forças que lh ão
inherentes e a. leis que della decorrem. «Ü conjuncto
· da-.~ xis i1 ·ias, diz omte, é constituído pela materia e
p la · forçã. imman ntes á materia.» O positivismo não
pas a pois de uma forma disfarçada do atheismo.
Ora, a refutação do atheismo ou do positivismo
atheistico se acha nas diversas provas que demos da exis-
tencia de Deus; n n11uma objecção se póde manter
diant daqn llas prova metaphysicas, physicas moraes.
fa , pare1 dar uma r futação directa, é preci o esperar

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16 RELIGIÃO EM GE!i.At

, que o atheismo tenha formulado argumentos apoiando


sua n egação. Até o presente, limita-se a negar e não
prova cousa alguma. Ora, uma simples negação não
chega a destruir nossas provas; e para erigir o athei mo
em doutrina, não basta dizer: «Deus, esta bôa e antiquada
palavra, um pouco pe ada talvez, mas que a philosophia
interpretará em sentidos cada vez mais diluídos, D eus
não é sinão a forma mais elevada da razão (isto é, uma
abstracção), é a categoria do I deal». (R enan ). Não, negar
a Deus não é supprimir a sua existencia, e a puras
negações é sufficiente que a humanidade responda : «Ha
eis mil annos que estou de posse da minha cr ença em
Deus. Rio-me das vossas negações gr atuitas e descanso
tranquillamente na posse da verdade.»

ARTIGO II
Natureza de Deus; suas perfeições, e em particular
sua Providencia.
I . Natureza de Deus. - II. Principaes attributos ou perfeições
de Deus: 1.0 attributos absolutos; 2. 0 attributos relativos. - III,
A Providencia: suas provas. - Refutação das objecções.

10. - I. As provas pelas quais demonstramos a exis-


tência de Deus, já nos dão a conhecer, em parte, a sua
natureza_ Por ellas sabemos que Deus é o Ser uecessario,
causa primeira e soberana de todas as cousas, princ1p10
e autor da ordem physica e da ordem moral. Trata-se,
todavia, de caracterizar melhor esta natureza divina, e
ele precisar, tanto quanto possível, o que con titue sua
essencia.
A esta pergunta: existe Deus! a humanidade em
peso responde : Sim, a sua existencia é certa. Mas a
esta outra pergunta: Que é Deus ! a resposta não é
mais uniforme, e, não poucas vezes, o erro confundiu
suas theorias com a verdade. A verdadeira natureza de
Deus parece sufficientemente indicada nesta definição:

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D E U S: S U A S P E R F E 1 Ç Õ E S 17

«Deus é infinito e possu todas as perfeições .» Com·


effeito, a maior parte das propriedade divinas enun-
ciadas pelas diversas resposta dos philosophos e dos
theologoi:;, são contidas na infinita perfeição de Deus;
della dec.orrem como corollarios e devem ser collocadas
entre os attributos divinos.
Dizemos por tanto: 1. 0 Deus é o Ser inifinito em si. -
Com effeito, existe por si me mo, e, na qualidade de
ser necessario, possue r ealmente todo o ser: não :se pócl0,
acima delle, conceber um ser maior -0u melhor, isto é,
« um ser que seja mais er do que elle ». Por conseguinte,
é sem limite na duração, eterno; sem r estricção na sua
soberania, independente; sem limites no exercício de sua
vontade: livre e omnipotente. Além disso, é a causa
p rimeira, o principio de tudo quanto existe e póde existir;
e, a este titulo, possue, de modo sobreeminente, tudo
quanto encerram o seres contingentes, exi tentes ou
possíveis: porque tudo quanto se acha no effeito, deve
se achar de modo mais perfeito na causa. Deus é pois
infinito em si mesmo.
Accrescentamos: 2. 0 Possue todas as pe1'f eições. -
Chama-sé perfeição toda a qualidade que é melhor ter
do que não ter. Os philosophos distinguem as perfeições
simples a perfeições mixtas. ()hamam simpl s as per -
feições cuja concepção por si mesma não offerece limite
algum, como a intelligencia, a justiça; e mixtas, aquellas
., cuja concepção apr e enta um limite determinado, o qual,
portanto, é inconciliavel com urna r ealidade superior;
como, por exemplo, a exten ão phy ica, incompatível com
a immaterialidade; a faculdade de raciocinar, incom-
patível com a vi ta por intuição. Ora; Deus possue
formalmente todas as perfeiçõe simpl s, visto que é o
er infinito; e tem ummamente, i to é, no gráu mais
el vado, e virtualm n te, i to é, em principio poder,
toda as perfeições mixta .

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18 RELIGIÃO EM GERAL

Todas es as p erfeições, levadas ao infinito, consti-


tuem a natureza propria de Deus. - Digamos agora
os attributos divinos -..que são a sua consequencia.
11. - II. Designam-se por attributos, as proprieda-
de e p erfeições diversas que a intelligeI).cia humana
di tingue, de certo modo, na unidade infinita da essencia
divina. Sem duvida, em Deu.s, as perfeições não são
distinctas umas das outras; tudo di semos, affirmando
que é infinito, ou infinitamente perfeito. Todavia, nosso
espírito limitado, incapaz de comprehender inteiramente _
a Deu.s, lhe attribue, por uma especie de analyse intel-
lectual, perfeições multiplas.
Ora, os attributos divinos pódem ser repartidos em
duas classes : os attributos absolutos e os attributos rela-
tivos. Os primeiros, chamados tambem attributos meta-
physicos ou quiescentes, convêm a Deus em sua natureza
intima e constituem, de algum modo, a essencia divina.
São: 1.0 a unidade, 2. 0 a simplicidade, 3.0 a immutabi-
lidade, 4.0 a immensidade, 5.0 a eternidade.
O attributo r elativos convêm a Deus considerado
em uas relações com o mundo creado. ns são chamados
opera,tivos porque são o principio dos seus actos; são:
1. 0 a intelligencia, 2. 0 a vontade, 3. 0 a omnipotencia.
Delle deu ao homem alguma participação. - Os outros
são chamados moraes e constituem, por a sim dizer, as
virtudes de Deus, que as creaturas racionaes se devem
esforçar por imitar. São: 1. 0 a sabeddria, 2. 0 a bondade,
3. 0 a santidade. Expliquemos um p ouco cada um destes
attributos.

l.º ATTRIBUTOS ABSOLUTOS OU METAPHYSICOS.

12. - l.º Unidade de Deus. - Por estas palavras,


queremos dizer que não omente a natureza divina fic a
acima dos gener o e ela categorias, mas ainda que é
incommunica vel e não póde pertencer a mais de um ser:

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DEUS: SUA S PERFEIÇ ÕES 19

Deus. E' um e unico : como tem a plenitude do er , não


póde encontrar fóra d si outra plenitude; sendo infinito,
não póde ter nem um infinito igual, porque não seria mai
o seT infinitamente perfeito; nem um infinito superioT,
porque deixaria então de ser infinito ; nem um infinito
inferior, porque este, por isso mesmo, seria finito . Por-
tanto, o infinito é um e unico (1) .
2.0 Silmplicidade de De1is. - Um er absolutam nte
simples é aquelle que exclue o composto, quer physico.
quer metaphysico, quer logico isto é, que não é, phy i-
camente, formado de partes di tinctas; que, metaphy-
sicamente, não póde passar da possibilidade á exi tencia,
do pod er de agir a successivos actos; que, loO'icamente,
não póde ser classificado num genero nem especificado
por diff ren as. Ora, Deus é o Ser absolutamente sim -
ples; não admitte a composi ão propria do corpo e da
mate1·fa; Ser necessario, existe e não admitte mudança;
Ser por exce1lencia, é acima de odo o genero.
3.0 I rnmutabilidade de Deus. - E ' o attributo pelo
qual Deus não está submettido a mudança alO'uma e não
póde passar de um estado para outro. Não muda na
sua natureza porque, sendo o Ser infinito e ab oluto
não póde adquirir nem perder cousa alguma . Não muda
nem me mo nos seus decretos, porque, endo o ser infini-
tamente perfeito não tem que modificar uas c1ecisõ s
em consequencia de conhecimentos ulteriormente' alcan-
çados ou por causa de uma vontade incon stante qur
., eria uma imperfeição. Os acto exteriores de Deus a
creaQão, o governo de sua Providencia, não prejudicam
a immu tabi.lidade de Deus: não são mais do qne a
execução de suas vontades eternas (2 .
4. 0 l mmensidade de D tis . - A immensidade divina
consiste no fa to de Deu tar presente em toda a parte,
(1) Fénelon, Exi.ftence d r Die u,, l P pa rte, cap. V .
(2 ) Fénelon, Emttnr f d e D ieu , I P parte, cap . v .

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2'l R. EL TGIÃO E M GERAL

em er limitado por espaço algum. Acha-se presente em


toda a parte, ni:io só por sua intelli<Yencia que tudo per-
cebe · por seu poder. qu e tudo conserva; mas ainda p or
eu ser substancial que se ext nde a tudo quanto ex:ste,
não á man eira do corpos porque Deus não tem corpo,
nem exten ão phy ica, ma n este sentido que sua substan -
cia e eu ser est ão em toda a parte e contêm tudo de
modo infinito e sobreeminente: é á. con.sequencia de seu
er infini to.
5.º E ternidade de Deus. - A eternidade divina é
u ma dura ão em pr incipio nem fi m. E' simuJtanea. isto
é. sem ucces ão de in tantes. D eus. sendo o Ser necessa-
r io, é, p or i so me mo, eterno; en do causa primeira não
poud pr incipiar ; s€Udo infinito e p"rfeito. não póde
acabar. - A eternidade de Deu não é successiva como
o instan es de qu e se compÕE', pa r a nós, o tempo move]
e mutavel. Deus é immutavel : p ortanto sua existencia
não adm itte mu·dança alguma, e, por conseguinte. nenhu-
ma succe ão. O tempo não é si.não nma ima(7em mov 1
da immutavel eter nidade. Platão dis e : «Ü pas ado. o
pr e~· ente e o futuro ão par cell a do tempo. Não dE>vemos
attrihu;r-o a urna natureza eter na. Só o presente lhe
convêm. O pa ado e o futuro pertencem ás cousa
caducas.»

II. ATTRIBU TOS RELA TIVOS.

13. - Entre e tes attr ibutos que se r ef er em á acção


de Deu ohre as creaturas , di tinguimo , em pr im iro
lugar os att ributos operativos. São:
1.0 A inte~ligencia. - Por esta palavra, entende-se
o onhecimento dos principio · ·e de igna- e mai parti-
cularmen te pela palavra sciencia o conhecimento da
~ua con equencia . Ora Deus po úe ao me mo tempo,
a intellig encia e a scz".en cia, porque ão per feições, e não
pódem er r ecusada ao er infini tamente perfeito. Aliás,

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D mU B : B O A B P E ll ~, E I Q Õ Jl S 21

o homem as po ú em e rL lil didu, e, por cons guinte,


achanM1 d m do sobr min ut i D us. ln llig ncia
infinita, D m1 conhec -s · lllpl'eh nd -i:;e a si propri .
A 111ai , conh e , m i, todas ai.; ousa po siv i : o
que e de igua por sohwia d simples inl ll-igenc-ia;
conhece, po1· soi noia àe u'isão, tudo quanto foi, tudo
quanto erâ; por soienoia m dia, os futuros puram nte
condicionaes. Ar speito do act s livres, produzidos p ela
vontade do homem, Deu os conh ce taes qua hão de
er, depeudeutel:l da uo-ssa liberda<l . 'om .rreito, porqu
a ilnel11g •uc.u rn1mita do Deus, q u onll e todo o po -
síveis, não bavrn de v r o uo.s os acto Jivr s, Uio clara-
mente no futuro como 110 pr 1:1 ut , e isi:;o s m >storvar
de modo a1gum o xorcici d nossa voutad '/
2. 0 A vo11tad . - Em D us, a liberdad uma facul-
dade livremente activa de iuzer que lho u1 raz: a ontade
J.lulllaua miagem <.l >lla, por •lll, com .sla <lüf ,r n ·a qu
em Deus a llll1ruta p ede1çao e. )g qu D eui:; nao
optH' 1:1rnao para o l> m, · para uw b •m mJ:rn1to. o
e 1::rcw10 ua vouLacle, D eus não pr cmm como u s, de
r coner a deül.1 ruçao: sua omuue p l'leüa 1
inLe1ra-
meULe espouLauea, o qu Ha quer ab olutameme, se
realiza n e si:; rrnmcuL ; m!U:i lia ouLud .s di vmus q u
ÍlMill suooi'Cllnuuus ú. outu<lo 11 re Li hom em, ou a
couc.L<,;oe1:1 4ue lJeus uec.:01La, colllo, por c.·cmp o, a prece.
0. 0 A omwpot nciu. - .lLl ' por vlttude d s~e attl'i-
" buto que De us vode realizar produzir tudo quanto
poss1 01, isto , tudo atJ.uilio qu , m si, u i:to nc na uma
cuu LL'Ullwçao a uso tu tu, ·orno sena um c.:frculo quadrado.
De ui.;, seu do a au.sa pr1m 1rn 1 mfmi t.umente perfeita,
dove po:ssuir um pou r ml uuLo; a mais, qulz conced r
certo pou r a 1:1uas cr atur!U:i; por cous gufoto, tem a
pl nüuue do p <ler; afinal, o mundo om toda as suas
maravilhas, a imm usidade do ' U, da t rra e do oc auo,
attestam o pod r infinito de D u.s. Não sómente Deu.s

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22 RELIGIÃO EM GE RAL

poude fazer todo esses p1·odigios, mas o seu ser infinito


lhe permitte produzir ainda tudo quanto quer.
14. - Temos que mencionar ainda outros attributos
relativos de Deus, que são chamados mais especialmente
attributos rnoraes. ertas virtudes, que residem na
ontade, têm por objecto dirigir nossos actos e nosso
procedimento moral; estas virtudes se acham em Deus
<le modo sobreeminente, sem limitação. São:
1. 0 A sab edoria. - Por este attributo, Deus, nos
seus actos exteriores e livres, deve ter em vista um fim
e um ideal digno de si mesmo ; deve escolher e dispôr
os meios proprios para alcançal-os: é o que se chama a
sabedoria.
2.º A bondad . - Por esta palavra não se devi!
entender a bondade intrínseca pela qual Deus é infim-
tamente perfeito, fonte e razão de tudo o que é bem;
mas da bondade relativa de Deus, de ua beneficencia.
Por e te attributo especial, Deus é propen o a conceder
espontanea e genero amente todas as qualidade de bens
aos seres creado por eu poder, como tambem a desviar
delle toda a e pecies de males. Si a bondade de Deus
i:;e manifesta a favor do peccador e t nde a perdoar-lhe,
chama- e mise1'icordia.
3.º A santidade. - Por sua antidade intrinseca,
Deu po·· úe e a rectidão e essa bondade moral que
excluem delie, as im como de eus acto , qualquer vicio,
qualquer defeito, ,a menor imperfeição. Por ua anti-
dade relativa, Deus ama es encialmente a virtude pres-
creve o exerci io della; por ella ainda, tem horror ao
vi io e o prohibe. - A santidade tem por consequencia
a justiça: por e te attributo, Deus distribue a cada um
o que mere · ou o qu lhe é u cessar io; aos bons, uma
recompensa ; ao máus, um ca tigo em proporção com
os seus acto ; a todos, os meio indisp n av i para alcan-
çar o f im da ua xi tencia.

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D EU S: SUA PR OVIDENCIA 23

III. A PROVIDENCIA.

15. - Por causa de sua importância, r rvamos um


estudo mais especial ao attributo divino chamado Provi-
dencia. Por esta palavra, entende- e o governo universal
e permanente pelo qual Deus, occupando-se sempre das
cousas creadas, as conduz e dirige, cada uma para o seu
fim particular e toda para um fim geral e commum.
Certos philo ophos deistas, com J . J. Rousseau, bem
que reconhecendo um Ser supremo que creou tudo, pre-
tendem que este Ser não se importa com suas creaturas
e negam, por conseguinte, a Providencia.
,, Ora, 1.0 a razão nos diz que Deus, summamente sabio,
não poude cr ear e não póde conservar o mundo sinão
para um fim digno de si, e é obrigado por sua honra
propria a dirigil-o para este fim por meios efficazes.
Deus que, por bondade, deu existencia ás suas creaturas,
tem que se importar com ellas e cuidar dellas com amor,
pois que é bom. Sendo infinito e todo-poderoso, não fica
sobrecarregado com o governo do mundo, e portanto,
cada creatura ha de ter uma parte na sua solicitude. Mas
ter esta noção da divindade, é crer na Providencia e
affirmar sua existencia.
2. 0 E' preciso admittir uma verdade quando se funda
.sobre a crença universal dos homens. Ora, um consen-
'timento unanime do genero humano reconhece a Provi-
dencia tanto geral como particular. Todos os legisladores,
todos os philosophos da antiguidade, entre outros,
Pythágoras, Platão, Cícero, Séneca, e com elles todos os
povos, professaram o dogma de um Deus moderador das
cousas humanas. Com effeito por toda a parte, no mundo
antigo e no mundo novo, encontram-se templos, altares,
sacrifícios, upplicações, hymnos de gratidão. Ora,
Cícero, com o seu bom senso, disse: «Si os deuses não

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R.ELIGIÃO EM Gl!:RAL

pódem ajudar-nos para que lhes prestar um culto para


que honral-os, para que especialmente dirigir-lhes uppli-
cas (1) T»
t 3.º A experiencia nota que na ordem physica
moral, se mantem maravilhosa harmonia. Ora isto não
póde ser sinão o resultado de uma Providencia. Sim, no
mundo physico, os astros do firmamento percorrem
sempre a mesma via, as esta ões, os dias e as noites se
succedem; os elemento permanecem con tantes no seu
equilíbrio; a organiza ão das plantas e dos animae.s, e
de suas especies. fica encerrada numa ordem invariavel.
No mundo moral, não meno inabalaveis ão as ba es e as
leis: ape ar das paixões humanas. sPmpr e a consciencia
nos prescreve certos deveres; a sati faC'ção ou o remorso
ão a oonsequencia da virtude ou do vicio. Afinal, o
homem, particularmPnte. sente que acima de si ha uma
poderosa mão que condnz tudo a seus desígnios. e el'lta
mão providenc'al. Boss_.uet nol-a mostra, na sua Historia
universal. dirfaindo o destino do povos. Portanto. assim
como a vista de um Estado bem con tituido nos impe1le
a proclamar a presença de um sabio governo, assim a
contemplação da regularidade do mundo physico e moral
nos constrange a concluir logicamente a existencia da
Providencia.
16. - R efutação Ms objecções. - Comtudo os
sophistas oppõem a esta verdade algumas objecções tiradas
da presenGa do mal physico e moral.
1. 0 «Ha no mundo desordens physicas, monstruosi-
dade , animaes malfazejos cataclysmos da natureza, etc.
Ora, tudo i to não exi tiria si o universo fosse governado
por uma Providencia infinitamente sabia.»
R. - A Providencia divina opera com o concurso
efficaz e con tante di:1s causas segundas. P orque seria
Deus obrigado a impedir-lhes os effeitos, particularmente
(1) De Natura àeorum, lib. I, n .0 1.

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DEUS: SUA PROVIDENCIA 25

si fôrem um castigo merecido T Por acaso, será Deus cons-


trangido a produzir em tudo o mais perfeito ? Afinal,
conhecemos o plano geral dos seus designios, e quem nos
as egura que aquellas desordens apparentes não con.tri-
bu m á execução do plano .p rovidencial?
2. 0 «Ü homem é sujeito á dôr, ao trabalho, á doença
e á morte. Soffre da ign-0rancia, da inclinação ao mal,
etc. Como conciliar todas estas miserias com uma provi-
dencia justa e paterna Y»
R. - Deus não está obrigado a impedir o que é uma
consequencia natural da constituição dos seres: ora
todos esses males são in11erentes a no a natureza humana.
Aliás, a bondade divina mitiga esses males por conso-
lações e soccorros; ella os impõe como um castigo mere-
cido, ou os permitte como um exercicio proposto á vir-
tude, para augmentar os nossos meritos e as nos as recom-
pensas. « tribulação, diz Montaigne é para a alma um
como martello que nella malha e que, malhando, a lu tra
e desenferruja.» Portanto, tudo isso não é mais do que
um mal relativo podemos transformai-o em um bem
verdadeiro.
3. 0 «Üomtudo, ha mais do que os males individuaes:
notam-se as desordens sociaes, a desigualdade das condi-
ções, a partilha tão desproporcionada dos bens terrestres;
como conciliar tudo isto com uma Providencia equita-
tiva!» 1
R. - Deus, que nos tirou do nada, não deve a cada
um sinão os meios necessarios para chegar a seu fim, e
não está forçado a tornar suas liberalidades iguaes para
todos. Aliás, a de igualdade das condições é, muitas
vezes, consequencia da conducta do homem e resultado
de sua negligencia ou de sua incapacidade, e não effeito
da acção de Deus. Todavia, ella tem suas vantagens;
concorre á harmonia do mundo, liga o pobre ao rico, o
fraco ao poderoso, e contribue a estabelecer, na sociedade

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26 &ELIGIÃO EM GERAL

humana, o laço da fraternidade. Afinal, temos que nos


lembrar que a vida presente não é o fim definitivo, que
somos devedores á justiça de Deus, sinão pessoalmente,
pelo menos em virtude do grande principio da reversi-
bilidade das culpas e dos merecimentos, dos soffrimentos
e das expiações.
4. 0 «Emfim, por que meio, com uma Providencia
justa e santa, explicar o mal moral 1 O peccado e os
crimes commettidos pela humanidade poderão ser compa-
tiveis com o dogma da Providencia?
R. - Deus,. depois de conceder a liberdade ao homem,
deixa-lhe o poder de usar e abusar della. O abuso dessa
liberdade tem que ser attribuido, por força, não a Deus,
mas sim, ao homem. E' este o responsavel por sua perda,
porque o Creador não lhe recusa os meios d e alcançar
seu fim, a felicidade; porém, acha bom que a mereça
pela pratica de bôas obras e pelo bom uso da liber dade.
- Além disso, nenhum attributo de Deus acha-se lesado
pela existencia do mal moral. Sua justiça não soffre
desse mal, porque concede ao homem o soccorro suffi-
ciente, e lhe recompell:sará a fidelidade como ha de
castigar-lhe a revolta; a sabedoria divina permanece
intacta, porque sabe tirar o bem do mal; os crimes de
uns pódem servir ao aperfeiçoamento dos outros, e, um
dia, as razões da Providencia nos revelarão sua infinita
sabedoria; a bondade de Deus não deve chegar ao ponto
de nos tirar o grande dom da liberdade, mesmo quando
delle abusamos; e emfim a santidade divina não é
inconciliavel com o mal moral: permittindo-o, Deus não
o approva, não o autoriza, nem mesmo se poderia dizer
que o tolera ou a elle se mostra indifforente, porque
sempre o prohibe, ás vezes o castiga neste mundo com
penas exemplares, e r e olveu castigal-o na outra vida
com supplicios eternos.

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D O H O M E M 27

'oncluamos, pojs: «A Providencia está sufficien-


tem nte vingada. Neste ponto, não ficam outras incer-
teza inão as que são in p araveis de todas as altas
q ue tões de qu se p óde occu_par o espirito humano.>
( Conf renciri de Monsenh or F rays.'in ous, t. T, A Pro-
videncia.)

' \1 I'l'ULO II
D H OM EM

oção do homem. - Divisão deste capitulo.

Os homini ublini <l dit, m"l!umqu tu ri


.!its. it t .r elos ad ·id ra toUe·~ v1tltus ...
d

tuclo d homem ,
a ua alma, e,

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28 RE LIGIÃO E M GERAL

depoi de ter demonstrado sua existencia, diremos qual


é sua natureza e quaes são suas propriedades essenciaes,
provando: 1. 0 que é uma substancia immaterial e espi-
rit ual ; 2.0 que é livre; e 3.0 que é immortal.

ARTIGO I
Existencia da alma.
I. Em principio, todos admittem sua existencia. - II. Diversa1
opiniões sobre a sua. natureza: materialismo e positivilimo. -
Espiritualismo.

18. - I. O espírito humano, quando se eoncentra em


si me mo, nota factos, depara com phenomenos que não
pódem ser attribuidos á materia inerte, e que, por con-
seguinte, deixam suppôr, em nós, uma causa differente
de nosso corpo organico, visto que não ha effeito sem
causa. Ora, os phenomenos ver ificados pela observação
psychologica pódem se resumir em tres classes. A philo-
sophia reconhece factos sensíveis, factos intoeUectuaes,
factos voluntar,ios, e a cada uma dessas classes corres-
ponde uma faculdade: a sensibilidade, a intelligencia, a
vontade. Mas essas diversas faculdades não pódem sub-
sistir em si me mas; pertencem a um ser que nos é intrín-
seco, em que ellas têm o seu principio. E ' este ente que
chamamos alma humana.
19. - H. Toda a philosophia antiga e moderna acha-
se de accordo neste primeiro ponto. Mas é quando se trata
de definir a natureza dessa alma, que as divergencias se
produzem. Sem duvida, certo numero dos melhores e mais
autorizados philosophos, Sócrates, Platão, Aristóteles,
Xenócrates, Pythágoras, Cícero, faziam da alma um ser
immaterial e simples, distincto do corpo. Mas, em geral,
os philosophos antigos não desprendem sufficientemente
a alma da ma teria: consideram-na quer como um fogo
subtil, quer coi:'no uma porção de éther, quer como uma

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t.. IA DO HOM'bJM
~. =--·
harm nin cio$ 1uaL1·0 >lem llto:, umu c·sp ·i de fluido
f'.palliado p r tod o rp . Epicuro Lucrecio e a1;
e-. la. por lle .f undn ]a,, dérH 111 o . I' ao 11ia.t rial-ismo ,
d01 1trina qu icgrachrn 1o 11 alma humana qu<"r co nfun -
1il-a om a materia.
De l

n m :

mai:

n i-

(l) D fo tion . fies clr 11 ce• mt!<lical•B.


(2) JZevue d•s D•u11:·Mo11des, abril de 1868.

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30 RELI G IÃ. O E M GERAL

11 gação ela alma lrn maua, assim como a negação d"EJ Deus.
Ma~ ontra e a e. ola materialista, é preci o lem-
br ar aquella ou tr a, mlúto mais numero a e mai impo-
nente pelo t alento e pela autoridade, que ' chamada
spirituali ta. AffiTma e eruüna que a alma é iro.material,
espirito, impl , uma di tincta, por con eO"uinte, do
·or po cuj a e n cia -é er materia. Esta doutrina, ao
me mo tempo mais r acional e mais consoladora, tem a
·eu favor o bom en o do gen ero humano e o e pirito
e clarecido do m Thor philo ophos, que sempre e tabe-
1 ceram uma distincção e sencial entre estas palavras :
e pirito e materia, alma e corpo.
o. tem po: antigo , o e pirituali mo foi altamente
profe ado por ócr ate , Platão, Cícero, éneca ; no
:eculo cb ri ·tão , por Oríg ne , Tertuliano, santo Ago -
·tinho, e todo os P adr · da I gr eja; no tempos modern o
por De 'carte , Bo suet, F én elon, Leibniz, falebrancbe,
P a cal, ewton, Kepl r, Linn u , Buffon, uvier, etc.
Em no o. · dias, conta entre eus defen or . o abio mai .
illu tr : Amp 're, auchy, R écamier , Télaton, Flourens,
etc.
A certeza da exi tencia de uma alma immaterial e
esp ir itual di. tincta elo e rp o, apparecer á na tb es
eg ninte.
ARTIGO II

implicidade e e piritualidade da alma.


J . A a lma, na sua nat ureza, é uma substancia simples imma -
t •rial. - n . Em certas operaçõe , é ind ependente do orgams, e,
por conseguinte, espiri uai. - III. Refutação el as objecções.

20. - I. Por ta palav ra ' : sirnplicidaàe da alma,


cntend mo.- qu a alma não ' um ser for mado, como o·
·orpos, por uma aggreo-aç.ão de part juxtapo ta , e
oc upando certa xten ão no e ·paço. alma, ', portanto,
uma ub ·tun iu ·impl ' S i mmat rial. E um a ub tan •ia,

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ALMA DO HOMEM 31

porque nem as opeTações interiores que se produzem em


nós como sentir , conhecer querer; nem a faculdade
que as produzem, a sen ibilidade a intelligencia, a von-
tade, ub i tem em si mesmas : precisam de um ser que
as leve e. sustente, e este principio é uma substancia. Ma
este ser, que é a no a alma, é imples e iminaterial.
E' um principio geral que todo o effeito é da mesma
natureza que a causa que o produz, e que a causa contem
emin entemente a. qualidade <lo effeito. Ora. não ha
nada tão imples e immaterial como éstas tres operações
da no sa alma: p en ar, omparar, qu r r; portanto, a
simplicidade ou immat rialidade da alma se prova facil-
mente por meio de cada uma desta tres faculdades.
1.° Pela facitldade de p ensar . - Nos os pensamen-
to ão absolutamente simples immateriaes, indivisíveis,
não têm nem peso nem extensão nem côr. Suas proprie-
dades, em summa, estão em opposição manifesta com as
do compo to e da materia : por conseguinte, seu principio
productor ou a alma ' igualmente simples e immaterial.
2. 0 P ela factildade de comparar. - A alma faz a com-
paração entr e varias idéas, dellas onhece a relaçõe ;
une-as ou sepera-as no JUlZO . Ora estas comparações
exi"'em que o agente que compara, seja simples· de outro
modo, não poderia perceber simultaneamente os elementos
da comparação e depoi tirar um juizo. O mesmo se dá
., com sen ações. Ouço uma música. vejo homens, respiro
um perfume: noto a differença que exi.ste entre essas
sen ações comparo-as, -declaro qual é a mai agradavel.
Contudo essas sensaçõe affectavam differentes partes
de meu corpo. Quem as reuniu e comparou? Um agente
unico; portanto, a alma é simples e immaterial. Bayle,
ceptico famo o do eculo xvrr, achava este raciocínio sem
replica: «P-Ode-se di~er sem hyperbole, escr eveu elle,
que é uma demonstração tão certa como as da geometria.»

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32 RELIGIÃO EM GERAL

3. 0 P ela faculdade de que1~er. - Nossa vontade se


d·e wrmina segundo um conhecimento. Ora, o agente que
conhece o que queremos, deve ser simples, porque, si fosse
composto, o conhecimento estaria numa parw, a volição
em outra , o que é impossível e absurdo, a vontade não
podendo exer citar-se sinão segundo o conh.ecimento.
Logo, a alma, que é o principio que conhece e quer , é
simples.
21. - II. Por e tas palavras esp11ri:tualidade da alma,
entendemos alguma cousa mais precisa que a simplicidade
e a immaterialidade. A e piritua lidade exige não só a
ausencia de toda a composição e extensão, mas tambem
a independen ia intrínseca de toda a mater ia. Uma
ubstancia espiritual é pois aquella que 1.0 é simples;
e 2. 0 na sua existencia ou nas suas operações não depende
da materia, mas póde, p elo menos em certas circumstan-
cias. operar sem o concurso de or gam.s materiaes. Ora ,
tal é a alma h1tmana, nisto differente da al'rna dos bru tos.
Com effeito: 1.0 a intelligencia discerne e percebe
objectos completamente inaccessiveis aos sentidos: por
exemplo, Deus, o infinito, o verdadeiro, o bello, o bem,
o dever... A alma os concebe como immateriaes, e lhes
attribue propriedades inteiramente spirituaes. Ora, estas
oper ações não pódem depender de um orgam material.
Por conseguinte, a alma é de natureza espiritual, pois
que a operação segue o ser.
2. 0 A alma conhece as proprias cousas . ensiveis, mas
de modo muito mais eminente que si as conhecesse só
pelas impressões organicas: concebe as noções de ser, de
fin ito, de substancia, de modo, de verdade, de belleza, etc.
Ora, este modo de conhecer não pertence a uma faculdade
organica, mas sim, espirit ual.
3. 0 A vontade, por sua vez, procura bens inaccessi-
vei aos . entidos e a seus appetites. Precisa do bem
infinito, do bem moral, da virtude, da ordem, da . honra,

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E S P I R I T U A L I D A D E D A A L M A 33

da sciencia, etc. Prefere e t es bens aos bens sensíveis, os


u11icos que a poderiam commover si fosse uma faculdade
organica. A mais, exer ce pleno domínio sobre su as
proprias oper ações: determina-se por si mesma a fazer
ou não fazer qualqu er cousa. Ora, si estivesse ligada aos
orgams, par a e resolver a um act.o, precisaria da presença
do objecto de te acto; p elo cont rario, muitas vezes, a
vontade se determina em detr imento dos orgams, e escolhe
o que lhes é contrar io: logo é indepen dente dos orgams,
e. por onseguinte, immater ial e espir itual, e o agente
em que reside é igualmente espiritual.

III. - REFuTAÇÃO DAS OBJECÇÕES.

22. - I. - Contra a immaterialidade da alma.

1.0 «Nunca teremos uma noção completa e adequada


do corpos, nem mesmo dos phenomenos psychologicos;
portanto, não· podemos affirmar com certeza, que o
pen am nto e a materia sejam contradictorios.»
R. - ão ' neces ario que tenhamos a noção abso-
lutamente compl ta dos corpos para pronunciar que ha
incompatibilidade entre o pensamento e a ma teria; basta
demon trar que a materia e o pensamento têm proprie-
dade contradictoria . O aperfeiçoamento dado á materia
não lh e muda a natureza e nunca conseguirá tornal-a
capaz de produzir effeitos immateriaes, como o pen-
, aI;llento. '
2.0 «Leibnitz en ina que os elementos da materia
ão simple : portanto, pelo menos neste systema, a ma-
teria póde ser dotada da faculdade de pensar.»
R. - Primeiro não está provado qu e o systema de
Leibnitz eja certo e admissível; mas, ainda que o fosse,
eria preci ·o admittir distincções. Uma cousa é a sim-
plicidade, outra é a e piritualidade. Bem que simples no
e tado ideal, um elemento material, no estado de existen-

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34 RELIGIÃ O l'lll Gl!:RAL

ia. fica empr campo to. incapaz de pr oduzir o que é


um e indivi iv 1 como o pen amento; por on guinte é
preci o qu a alma . ja piritual.

23. - II. - orzlra a espiritiwlfrlade da alrna .

id'as,
ncia
nu ritiva.
não

côr; a jmpr õ .
teriam tornado ag n
hypothe mat riaIJ
d arrazoada.
2.0 «A alma . offr
com 11 : a '

ntr
e o

d orp

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E S P 1 R I T A L 1 D A D El D A A L hl A 35

na vida presente para exercer uas funcçõe · por con -


eguinte, soffre as onsequencia da ua vici situdes
orno um arti. ta soffre as vici itudes de eu instrumento;
porém, a alma não fica meno di tincta do corpo. Uma
organização franzina e doentia encerra á vezes grande
alma; muita vezes uma alma d primida anima um corpo
robu to. Em certo anciãos enf raquecidos a alma nadJi
p er.d u da ua intelligencia e da sua enerO'ia. Emfim
n ão e vi u já com a p rturbação da aúde le. õe
organicas at' mtúto grave ·, sub i. tirem muito r eg ulares
o acto ela intellig ncia e ela vonta de1 Loo·o a d p n-
clen ia da alma a r e. peito lo orpo, não imp d a sua
·espiritualidade.
3. 0 «Ha entre o b om m e o · anünae grandes ·e-
melhan a · á vista dis. o, p ara r logico, . eria preci ·o
dizer que o a.nimaes. tanto como o· homem, t êm um a
alma simples espiritual.»
R. - Entre o homem e os a.nimae , notam- e, effec-
tivamente certa emelhança physica ; mas ha entre
elle , intellectual e moralmente, uma differença enorme.
O animal po sue um in t in cto natural, ente a dôr
phy i ·a, e admittimos, com o enso commum, - contra
D ·car tes e Malebranche, o quae no animal não viam
mai do qu uma machina, - qu o animaes receberam
urna como alma sen itiva, dotada de percepções conh -
cimentos .·en iveis. omtudo, o animal não t m alma
. piritual; sua ope1:ações não p as am além do instincto;
é desprovido de intelligencia e de razão; é incapaz de
for mar idéa universaes, de jul gar raciocinar; nada
aperfeiçôa; não inventa cousa alguma; não t êm idéa
alguma do bem, da justiça, da belleza; não se eleva até
a idéa de Deus nem ao conhecimento de suas perfeições.
«A reflexão é o limite que separa a intelliD" n cia do
homem da do animaes (1) .» Por conseguinte, o animal
(l) ll" lou r en s, D e l' instillct de l''inteUigen ce doa wni m<111v.1;.

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'
36 RELIGIÃ O EM GERAL

é simplesmente vivifi ·ado por um princ1p10 substancia]


imples e indivi ivel, dependente do corpo em todas as
operações, e destinado a não lhe sobreviver (2). A alma
humana, pelo contrario, .é, ao mesmo tempo, simples e
espiritual, dotada de intelligencia, de liberdade e de
immortalidade.
ARTIGO III
Liberdade da alma.
I. oção do livre arbitrio. - II. P rovas da liberdade da alma.
III. Refutação do fatalismo. - IV. Solução das objecções.
Conciliação da presciencia de Deus e da liberdade humana.

24. - I. O magnífico privilégio da natureza humana


é a libetrdade. Ahi apparece toda a dignidade do ser in-
t elligente; ahi é que mais brilha a sua superioridade
obre a natureza animal.
A liberdade de que aqui se trata, é o poder que no sa
alma pos u e de dirigir suas determinações. E' o direito
de querer e escolher uma cousa de pref erencia a outra :
chama-sê igualmente livre ar bitrio. O exercicio desta
liberdade, dizem os philosophos, implica primeiro o
conhecimento do fim que se quer alcançar, depois uma
deliberação, acto mais ou menos rapido da intelligencia;
em seguida, a eleição, ou e colha feita pela vontade ; vem
afinal a execução·, que não é indispensavel ao acto livre
da vontade.
O fatalismo nega a liberdad e. Mas este erro gro seiro
tem a p ectos multiplos. Ás · vezes, ·upprime completa-
mente a liberdad e: a. im faziam os estoicos, que ad-
mittiam um destino, - fatum, - · divindade tão cega
quão inexoravel, a quem tudo era submisso entre os
homen e entre o deuses; ainda ··ão a im os di cipulo
de lVIahomet que dizem: «Estava esci:ip to !» Em virtude
de principias diversos, os astrologos, os parithei tas, o·s
(2) Bossuet, Oonnai.ssa.nce de Dieu, cap. v .

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LIBERDADE DA ALMA 37

materialistas, o prote tantes n egam o 1 diminuem a


liberdade humana. Em no os dias, a e cola po itivista
e. phy ioloaista chega ás me ma conclu õ attribuindo
todas a det rmin açõe á influ encias do meio, do clima,
do temperam nto, da 'I oca, te.
25. - II. ontra todos e e rro , affirmamos que
a alrna é liv·r e o provamos: 1.0 Pelo senso intimo e p ela
ron ien i.a · 2. 0 p ela razão e p los argumento qu tira da
mesma natureza da vontade. 3. 0 pela r universal do
genero humano. - Esta d mon.stração e completa pela
consequencia ab urda e mon truo a do · fatalismo .
1. 0 Prova tirada do sienso intimo da consciencia. -
«E cute-se e con ulte-se cada um d nó , diz Bo su t
e conhec rá que é livr , e mo sentirá que é racional. »
Quero uma ou a, porém into ,q ue a quero livremente ;
ante de me determinar a andar ou a ntar, verifico
minha liberdade; durante a e. olha e a execução de meu
actos, a con ciencia me affirma que go o de minha
liber dade; depois d feito o acto, appr ova-me ou c nsura -
me: porqu e eu podia re olver -me ou não me resolver
a isso.
«A verdade do livre arbítrio e eu exercício diario
' de uma evidencia tão intima, e, ao m e mo tempo, tão
invencível, que nenhum homem, a não ser que e teja
onhando, póde duvidar della na pratica.» (Fénelon).
J . J . Rou .:ieau é de te parecer: «Ouço muito raciocinar
.,contra a liberdade do h omem, diz elle, porém, desprezo
todos e , e ophi mas, porque, por mais que um argumen-
tador me prove que não sou livre, o sentimento interior,
mais forte que todos os raciocínios, sempre os desmente.
2.0 Prova de razão, tirada da propria natureza da
vontade. :__ A vontade aspira ao bem; ella o quer sem
limites. «Ü homem tem a intelligencia do bem, o sen-
timento do dever e o amor da virtude. Comprehender-
se-ia então que não fos e livre. Comprehender-se-ia que

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38 RELIGIÃO EM GERAL

Deus tivesse dado á na creatura -0 disoerniment-0 do bem


e do mal, o.gost-0 p elo primeiro e o odio do segundo, sem
lhe conceder o poder de escolher e de seguir esta inclina-
ção natural ~ I sto fôra o supplicio de Tantalo. Estària-
mos r eduzidos a invejar a sorte dos animaes.» Si o
homem não fo e livr·e, si não pudesse dirigir a vontade
e as forças da alma para o objecto de suas operações, a
intelligencia só serviria para tornar mais requintado o
upplicio de~ e homem. «Diríamos ao autor do homem :
Porque nos infligi te semelhante tortura? Porque no.
mostrates a fonte divina i não quereis permittir que a
ella cheguemos no· os labios . edentos. Vós que a.ssim no ·
affligis e de nó zombai , não ois nem bom, nem justo
não soi D eus e de vós se desvia o no o coraÇão.)
(Aul,ard.)
3. 0 P?"Ova tvrada ela f é do genero humano. - Todos
o · homens e todos os povos, mesmo quando admittem o
principio do fatalismo, procedem sempre como si tive em
uma fé invencível na liberdade pessoal. Todos têm na
sua língua a palavra lib erdade, todos deliberam tanto
em publico como em particular, compromettem-se por
contractos e juramentos, approvam as bôas acções
f erreteiam as más. Ora, is o tudo up.põe a liberdade
hnmana po rque, ele que ser-ve deliberar, empenhar-se,
approvar o bem, ceTI"urar o mal, i o homem não fôr
livre em seus acto L . A mais, sempre e p or toda a parte,
em toda as ociedades até na~ mais barbaras, achamo
leis sanccionadas por penas e por re compensas. Qual
seria a sua utilidade si o homem não fosse livre de as
observar ou desre peitar ~ Por toda a parte tambem,
encontramos templos, orações e expiaçõe . Ora, tudo i to
é inutil si o homem fôr arrebatado., sem liberdade, p ar a
onde o impelle a necessidade. Logo, o genero humano
acredita na liberdade.

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t.lBE&D 1IDE DA .At.:M.A 39
. ·---....=== ==== --·=

27. - 1 .- ' Ll 'Ã D ' DJE •S.

1Y Ob j<· ·ção tfrarlci da vftysiologia. - «


m 11 Lo as paixõ , o · l1 abilo-,
plt y .· i ·o s br m ral, ã a cau a
11 •• 'fül d l v !unta ria on

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40 R E LIGIÃO EM GERAL

2.º Ob jecção tirada da psychologia. - «A vontade


não se determina sem motivo, e este motivo não ·é outra
cousa sinão o bem. Logo, a vontade é fatalmente levada
a escolher o maior bem: é o detierminismo.»
R. - E ' grande engano considerar a vontade como
os braços de uma balança em equilíbrio, os quaes se
inclinam segundo os pesos. Os motivos pódem pesar
sobre a vontade, mas nunca a violentam : sollicitam-na,
porém, deixam-lhe o poder de r esistir. A experiencia o
demonstra : a alma é capaz de seguir os motivos ou
moveis inferiores, e a razão pagã o r econheceu pela
bocca de Ovidio :
.. . Video m eliora, proboque,
, Deteriora sequor.
3.0 Ob jecção tirada da theologia. - «lia contradicção
formal entre a pre ciencia de Deus e a liberdade do
homem. Com effeito, o que Deus pr eviu, acontece in-
.fallivelmente: .portanto, não somos livres.»
R. - E ta difficuldade appareceu como insoluvel a
muitos philosophos, e, p ara salvaguadar a lib er dade do
homem, sacrificaram em parte a presciencia divina,
dizendo que não passava de simples conjecturas. Preten-
demos conciliar a pre ciencia divina com a liber dade
humana; mas ainda que esta conciliação fosse impossível,
apegar -nos-iamo a este parecer de Bossuet : «A-primeira
regra da logica, diz elle, é que nunca se devem abandonar
a verdades uma vez já conhecidas, por maior que seja
a difficuldade que temos em concilial-as com outras;
pe~o c ntrario devemos agarrar fortemente as duas
extremidades da correu te, ainda que não percebamos a
parte central que as une.»
Comtudo, a cont r adicção entr e a presciencia e a
liberdade é somente apparente. Para a intelligencia
divina, não ha pas ado .nem futuro; para ella tudo
acontece numa duração índivi ivel. Deus não prevê;

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lMMOR'r.cl.L l DADE DA A L M .! 41

vê t odas a cou as como pr esentes, e, p or conseguinte, a


ciencia que Deus tem dos acontecimentos futuros não
muda a. natureza dell s; .,.,,.. que cumpr imos livremente o
que devemo fazer livrem nte. A determinação que a
este respeito tomamos, não foi o eff eito da presciencia
de Deus; ·ó foi o objecto des a presciencia. Sem d 1wida.
o que Deu previu, acontece infallivelmente, poréIL, não
fatalm ente. A. previsão de um eclip e feita por um
a tronomo, J1ão é a causa de . eclip·o:. e e não obsta em
cou.sa algum a ao urso dos a t ros; do mesmo modo, a
pre ciencia di\'ina leixa inteira a nossa liber dade.

AR'l'lGO IV

lnun ortalidade d a alma.

L Pl'ovas principaes da immo1talidade da alma: 1. 0 sua


natureza; 2. 0 exigencias cfa. lei moral. - II. P r ovas secundarias:
J .0 s us desejos suas n ·essidades: 2.0 consentimento de todo
os povos. - III. Refutação das objecçõt>s.

28. - «A immortalidade ela a lma, e ·r veu P ascal,


' uma cou ·a que nos inter e.'sa tão profundamente, que '
pre- ·iso te r p r lido todo o juizo para ficar iudiff r ente a
t r e ·peito. 'l'oda a nossa a çõe todos o no so pen-
·amento devem tomar rumos tão diff r ntes, conform
tivc>rmos q u e ·pt>rai· 011 não e pe1·ar por ben et rnos,
. que é impos ·ivel em1 r hend r qualquer diligencia com
bom n o dis ernim nto, inão regulando-a em vista
d . te ponto, que t m c1 e1· no so primeiro objecto.»
P nsarn ntos.)
'orno provas prin ipaes da immortalidade da alma,
a pr sentarem 1. 0 s1i.a natiireza · 2.0 a lei moral cu jo
au tor é Deu ; como prova complementares : 1. 0 os
d · jo as 1irec ss idad de no a alma· 2.0 o consenti-
1n n to cl f od os os povos.

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42 R.ELIGJÂO EM O~RAL

29. - l. - PROVAS PRINCIPAIS.

it 1. 0 A natureza da alma e~úge a invmortalidade.


A sjmplicidade da alma implica sua não-decomposição,
e sua espiritualidade conduz· logicamente á idéa da sua
permanencia depois da morte natural. Com effeito, o
que chamamos morte, não é o aniquilamento, é uma
decompo ição ou dis olução, palavras que indicam uma
separação da parte . Ora, a alma não tem partes : é
espiritual e simples: não póde, portanto, ·estar sujeita
á morte.
A este respeito, ouçamo Cícero: « i. não ser que
jgnor mo. a primeira palavra da sciencia naturae., não
podemo duvidar de que a alma seja outra cousa que
uma substancia muito simples, sem mistura, sem com-
po ição, sem elemento diversos. Segue-se daqui que não
se póde nem dissolver, nem dividir, n em romper, nem
quebrar. E ' pois immortal, porque a morte não é mais
do que a eparação, a de ·união, o rompimento das partes
que antes estavam ligada e como que soldadas.»
(Tusculanas, liv. 1.0 , n. 0 29.)
Mas a alma, si não póde ser decomposta, não po-
deria ser aniquilada? - Para aniquilar a alma espiritual,
seria necessario, como para creal-a, um acto positivo da
divindade, visto que aniquilar e crear são <loi' actos
iguaes. Ora, Deus faria este milagre do aniquilamento
da alma . Uma razão para affirmar que não, é que não
se acha, na natureza, exemplo algum do aniquilamento de
um ser. E ' a sciencia que isto ensina. Depoi da morte,
o corpo do homem, o dos animaes, mesmo a planta, não
são aniquilados, mas dissolvidos. Porque, por conseguinte,
a alma, que é muito mais nobre, voltaria para o nada ~
Porque, para e sa alma, faria Deus uma excepção á lei
geral? A -semelhante aniquilamento e oppõem ua
sa:bedoria, sua justiça e sua bondade.

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1 t 11r ' 1t 'J' ·1. ·1 n u Pl ]) 11 1. 111

11.i llllt t a immor-

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30. - l l. - lh VA l' HlT.Ul'l l'l 'l' H(D, .

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44 ItEL lGJÁO EM GER.AL

Com esta ancia de sobrevivermos, experimentamos


igualmente uma sêde inextinguível el e felicidade. Ora,
emquanto ao r edor de nós todos os seres vêm os seus
d esej.os satisfeitos, o homem só não é feliz: por toda a
parte mostra o seu desgosto, soffre e se queixa. Por
acaso, Deus nos teria ludibri ado? Teria collocado em
nossas almas o desejo ele viver e o desejo de ser feliz sem
nun ca os saci ar~ Não. tal não póde ser , e devemos con-
cluir que sua justiça e sua bondade, um dia, numa vida
melhor, s.atisfarão nos ª"-; esperanças. E' o grito de um
celebre poeta incredulo e sceptico:
Revolva-me embora,
Solfro ... Tard e é, velho se f ez no. so planeta:
l mmensa esperança atravessou a terra.
Para o cé1t é preciso levantar a vista.
(Alfredo DE MUSSET. )
2.° Consentimento imanim e dos povos. - Todos os
povoi:;, por toda a parte e sempre, acreditaram na im-
mor ta lidade da alma. As honras pre tadas aos r estos
mortaes, as preces e as ceremonias funebres communs a
todo·,,; os cultos, os tumulo e os mausoleus, são outras
t;rntas provas desta crença. Ora, e te consentimento
una nim e não póde provir sinão da verdade. E is porque
Cícero dizia: «Cremos, baseados no con ·entimento una-
nime de todos os povos, que a alma sobrevive ao corpo. »
(T·u.scitlanas, liv. I.) E :::léneca accrescentava: «Quando
se trata da immor talidade da alma, não é uma pequena
prova este accor do universal das nações aterrorizadas
pelo inferno ou ajoelh adas perante os deu es.» (Carta,
117.) P latão, falando da inunortalidade ela alma, não
r eeeia c:onduir : «E is ab i uma verdade que é preciso
erer, a não ser que se tenha perdido o juizo.»
( D e L eg., XII.)
As provas de razão que demos da immortalidade da
alma, demonstram de modo rigoroso a sua sobrevivenciaj

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IMM O RTAL I DA D E DA A LMA ~

a mais, e t~belecem que esta sobrevivencia deve ser


t rna. Por isso, a f. ' do genero humano, como resulta
de todas a tradições é que as penas e a recompensas
da \ ida futura durarão eternamente.
A bondade de Deus não o inclinará a conservar eter-
namente feliz a alma que lhe fez a vontade Y Seria com-
pl<"ta a folicidade, si a cada instante estivesse ameaçada de
acabar ~ A iro não pensava C1cero: «Si a vida bemaven-
turada póde perder-se, diz elle, é impossivel que seja a
verdadeira vent ura.» (De finibus, liv. II.) E tambem
o parecer de anto Agostinho e de santo Thomaz. Por
razões analoga não exige a justiça divina que os que,
r or uma v ntade culpada e fixaram no mal, soffram
<" ternamente o ca tigo de seu crime? E' só com esta con-
'di ão que o temor da penas se torna um freio poderoso
para deter as paixõe , e é por causa de uma esperança
de b n.:; eternos que a crença na immortalidade consola
a de ventura, anima a virtude, justifica a Providencia
e explica perfeitamente o homem e o mundo moral (1 ) .

31. - III. - REFU'l'AÇÃO DAS OBJECÇÕES CONTRA A


IMl\íORTALIDADE DA ALMA.

1.0 O destino da alma é ser unida a um corpo: por


·onseguinte, não póde exi tir nem viver em elle. »
R. - Sem duvida, no estado actual das co u a ·, a
alma acha- e ligada ao corpo. Esta união é seu destino
.,ne te mundo, ua condição nece saria para conquistar o
de tino futuro; mas não é sua condição absoluta. O corpo
e a alma têm natureza distinctas, exi tencias proprias,
e, até durante esta vida mortal, a alma exerce tanto
mellior sua funcções, quanto mais estiver subtrahida á
influencia do corpo, como se nota no somnambuUsmo.
A distracçã~ da alma é um como preludio a uma separa-
(l ) Monsenhor E' ra ys•i nous, D.éjeme du chri8tia?>i8m.e, t. I.

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46 R E LIGIÃO EM GERAL

ção mais completa que e realiza na morte. Então, o


co rpo se dissolve, a alma se desprende, se encontra mais
perfeitamente a si mesma ·e sobrevive. - Além disso,
si a objecção fosse eria, teria sua solução no dogma
ela r surreição âos corpos.
2.º «A p r ova tirada da lei moral não tem valor
alg um : com effeito, o vicio e a virtude acham uma
sa ncção sufficien te neste mundo: 1.0 no r emorso ou na
alegri a da consciencia; 2.° no desprezo publico ou na
estima elo, homen -. Por conseguinte, não é necessario
reco rrér a um a san cção na vida fu t ura.»
11. - A ·ancção <lo vicio e da virtude é r ara ne · P
mnn lo, muitas veze.'l é incompleta, in ufficiente. Em
primeiro lugar, nem empr e o remorso é o ca tigo lo
vicio. O criminoso ·e aco:stuma a uma espanto a tnm-
quillidade, e, ás vezes. por faltas leve , o r emorso lança
o desa ·socego m alma honesta . A alegria da con s-
eiencia é de conh ecida das almru ti rn oratas bem qu
fie is. A morte acaba com o remorso e priva das alegria
da co n ·ciencia aquelle q ue morre duran te o acto me mo
el a cleclicaçào e do heroísmo: logo, nem o remorso, nem
a paz são uma . a ncção sufficient . - Quanto ao des-
prezo pub li co, todos sabem que não alcança muito:
·ulpa los. l nn um er o:-; eeimes di far çados e capam á
vi stas dos homens! B tambern, quantas virtude. e con -
cl id as, quantos acto mPri torio · não con eguem appar e-
ce r, ou p erd eriam o valor ao mostrar-se! Portanto, a
opinião do. bomen e a justiça humana não são um a
sancção n em universal, nem sufficiente. A lei moral
x1ge a vida f utura e a immor talidade da alma.

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E E S S l tJ A D ~ D A R E T, I O 1 Ã O 47

CAPITULO III
ECES 'IDADE DA RELIGIÃO

Idéa exacta da. Religião. - Divisão deste capitulo.

32. - Entr tes dois sere já estudados, Deu s, infi -


n itamen t p rfeito, ci·eador e soberano enhor de todas as
vou ·a. o homeni creatura feita á imagem de Deus,
dotada de i.ntelligencia, d liberdade e de immortali<l atle,
potl rão e d verão exi tir certas relaçõe ? Sim, por certo .
\. no.· a raz.ão o affirma e todos os povos assi. m o têm
ac'. l' ditado. Ne ta convicção descansam todas a religiõe
que e n ontram no mundo.
Ainda não diz mos em que consistirão estas relações,
porém, oncebemo que um vinculo deve ligar o c.:reador
e a crea.tura. 'onhecemos sufficientemente a Deus para
aber qu o Ente oberano se inclina com bondade e
amor para a ua cr atura, afim de lhe prodigalizar todo":>
os ben.· : não rá tambem natural e justo que o homem,
elo ·eu lado, reconhecendo ua fraqueza e sua impotencia,
1 i·ocur a Deu ~ Ao- e ·pectaculo das infinüas perf ições
d Deus o homem e confe sa tributario desta Majestade ;
offer ·e-lhe a homenagem de ua gratidão, invoca-a,
<! força-· por lhe agradar com sua humildade, seu amor,
;:;na submi ão. Eis a parte do homem. Mas, Deus, por
ima yez, inclina-se e desce, ou ante , sem esperar por
.Jlo o s.forços, é o primeiro a approximar-se e dá, por
as ilu dizer o signal: vem a nós pelo soccorro, pelo
0

per dão pelo beneficio e, por conseguinte, tambem pelo


amor.
Ora, i o tudo con titu a Religião, e sustentamos quB"
este comm reio é indispensavel, necessario do lado de
Deus n cessario igualmente da parte d o homem.
Vamo proval-o invocando como testemunho: 1.º a
nalu1' za roe Deiis e a natureza do homem, que reclamam

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48 RELIG I Ã O EM GERAL

estas relações ; 2.° a necessidade que o homem tem da


Religião para ser feliz; 3. 0 afinal, a necessidade que as
sociedades têm tambem -da Religião para se manter na
ordem e na estabilidade.
ARTIGO 1

A natureza de D eus e a natureza do homem exigem


uma Religião.
1. A natureza de Deus exige nossas homenagens e nossa depen-
deucia. - II. A natureza do homem lhe impõe deveres que se
resumem na Religião. - III. Solução das difficuldades.

33. - I. O Ente infinitamente grande, poderoso e


santo, a quem chamamos Deus, não é um extranho para
nós. E ' n osso Creador; a elle somos devedores do ser e da
vida. E ' tambem a nossa Providencia; a cada instante
conserva-nos por seu poder e por sua bondade. E' pois
para nó um bemfeitor e um pae. Comtudo, ao mesmo
tPmpo que tem por attributo a bondade e a misericordia,
po su , no me ·mo gráu, a ordem e a justiça; e, por
conseguinte, deve necessariamente qu erer p or toda a
parte ordem e justiça perfeita.
Que cotl3a erá reclamada pela ordem L . Em pri-
meiro lugar, e ante de tudo, que a creatura fique, em
r elação com o seu autor, "na subordinação e na depen-
deu ia. Sim, e tá na ordem que o Ser omnipotente, in-
finüo eja honrado, re p eitado por sua cr eatura in-
telligente. Que cousa será e:icigida pela ju tiça? ... Que
o homem, cumulado de beneficios por Deus, seja grato
para com eu bemfeitor, e pois que sua bondade nos
gratif icou com estes dons incomparaveis, uma vontade
livr e, um coração capaz de amar, a justiça reclama que
o homem conceda a seu soberano senhor inteira submissão,
a eu Deus infinitamente amavel, a homenagem de um
eoração cheio de gratidão. Será Dem; livre de supprimir
essas relaçõe de dependencia, de submissão e de amor 1

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IN'!'EltESSE lil li'.ELiCl'.J)AD l!l DO HOMEM 49

Não, a ua natureza a is o se oppõe; e poi que D eus é


a ordem infinitamente sabia, a justiça infin itamente
perfeita, deve exigir de nó emelhantes homenagens, e
dellas não póde dispen ar ningu m sem delogar á sua
natureza perfeita e divina.
34 . - II. Por ua vez, a natureza do homem quer as
m mas homena"'en de dependencia e de respeito. Com
ff eito, o homem foi creado em condiçõe especiaes. Como
o · u di vino autor é intelligente, livre, ·cap az de amar .
Ainda m mo que não tive e e ' gloriosos pr ivilegios,
<1 v i·ia j á tender p ara Deu·', por que toda a creatura foi
feita para D u . Ma justamente porqu é intelligente e
·onhe ·e ua ori g m e s u fim, porque é livre e póde
fazer nobr u ·o de ua liberdade, porque é capaz de
~ma r li põe de seu coração, o homem n ão deve pensar,
agir trabalhar inão para eus: .é este seu f im supremo,
é e ·te u de.stiu glorio ·o, qualquer outro f im não só
·eria inferior a D u , mas ainda s ria indigno do homem.
Por con guinte, o hom m ~· e deve a Deus completamente,
corpo e alma coração e vontad : deve-lhe a homenagem
da intelligencia, p la f' ; a homenag m do cor ação, p elo
amor; a h menagem da vontade livre, p ela obediencia;
a homenagem do coq o, pelos . ignaes xteriores da
adoração da depende11 ·ia: em re umo, deve a Deus
uma R eligião.
35. - UI. oluÇão das dif ficuldades. - 1. 0 «Mas,
. dir-. -á qu D u. nã preci a de nossas homenagens :
no a fidelidad não o torna mais feliz, n em nossas
revolta. o fazem mai. infeliz.»
R. - E ' v rdade, no " a indiff er ença n ão é capaz
de alterar a felicidade de Deus ; nossas homenagens não
pódem augmentar-lhe a gloria, nem no sas revolt as
diminuil-a. omtudo, como já dissemos sufficientemente,
este culto de dependencia é confor me á orcl m, é segundo
a ju tiça, ~ D u , que a m sma ord em justiça, não

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50 RELIGIÃ O E M GERAL

póde eximü·-::ze de exigil--0. Podia deixar de nos crear ;


mas, pois que somos obra d e uas mãos, seu domínio sobre
nó é inalienav l ; no o culto, em summa, não é util a
Deus, ma além de . er do ·domínio ela ordem é salutar e
vantajoso par a nó .
2.0 «Deus é infinitamente grande, e o homem in-
finitam ente p equeno: então, julga-se qu·e Deus se ha de
dignar abaixa r os olhare · até nossa baixeza, ou que nossas
homenagens po · am chegar até eu throno . »
R. - Não se dá com Deus a mesma cousa que com
os príncipes da terra, junto aos quaes nem todos pódem
chegar . Deus, ·em prejudicar á sua grandeza, póde
receber a homenagens de uas mais ínfimas creaturas.
Não achou indigno delle cr eal-as, e com bondade as con-
serva; porque, neste ca o, desdenharia importar-se com
ellas e r eceber sua homenagens 1 Demais, será o homem.
tão pouca coru;a ? Leva na intelligencia e no coração os
traços da divina semelhan(}a; não será isto suffici ente
para que D eus go te particularmente do respeito e da
u bmissão do homem 1
3. 0 « ão será a divindade acab runhada ou pelo
menos importunada com a multidão e a variedade de
no · as homenagens?»
R. - Não, porque Deus, por sua sciencia infinita e
por ua omnipotencia, sem pena e sem esfor ço, abarca
numa ó vi ta e abrange num só acto o universo cc•.n a
imm ern,idade dos seus detalhes. Ora, creado á imagem
d·e Deus, o homem occupa um lugar importante na
cr eação universal, e não ié possível que Deus desconheça
a homenag·ens deste ser intelligente ao qual deu uma
razão para que conhecesse seu autor, e um coração para
que lhe pagasse o tributo do amor.
Concluamo que todas as objecções que nos provêm
de J .-J. Rousseau e dos deistas, seus adeptos, sob o pre-
texto de manter illesas a honra e a tranq uillidade de
Deus, não tendem a outra cousa sinão a favorecer o

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INTERESSE E F.ElLl all>.ADE DO HOMEM. 51

orgulho ou a negligencia do homem : não pódem alcançar


oR grandes principios que logicament -deduzimo de um
conhecimento mai.s serio e mais minucioso da natur eza
de Deu e da natureza do homem.

ARTLGO II
O interesse e a f elicidade do homem exigem uma Religião.
I. Dois elementos de felicidade : 1. 0 a paz do espirito; 2. 0 a
paz do coração. - II. E' somente na Religião que se acha a. pas
do espirito. - III. 6 a Religião dá a paz do coração.

36. - I. O hom m ' ·riado para a feli idad : , entr-o,


e todas na aspiraçõe ·, todo seus esforço tendem á ·0 11 -
qui ta da felicidad . Comtudo, sendo uma creatura
intelligente, precisa de uma feli idad differente da dos
gozo materiaes: nem as riqueza· dest·e mundo nem as
alegria da terr a, nem a satisfação do sentidos pódem
matar e ta êde inextinguivel. De que necessita então
o homem para ser feliz? O verdadeiros sabios verifica-
ram, e a experiencia lhes deu razão qu os doi elementos
d felicidade mai certo são a tranqui llidad do espírito
e a p az do coração.
Ora, a R eligião, e unicamente a Hieligião, póde dar
e. ta tranquillidade do espi rito e esta paz do coração; e
ne te duplo ponto de vi ta, podemo dizer que a Religião
' nece saria ao homem.
37. - II. A paz do esq:>írito não pó 1e existir quando,
na alma, ha incerteza e duvida obre as verdade impor-
tantes, que devem dirigir no. sa vida. «Como será possivel ,
diz J ouffroy, que o homem viva em paz quando sua
razão, ncarregada de lhe dil'i gir a vid a, cabe na incer-
t za a respeito da propria vida. e não sab cou. a alguma
do que precisaria saber~ Com o viver ocegado quando
e ignora donde se vem, para onde se vae e o que se tem
de fazer neste mundo L. quando tudo é enigma, mysterio,

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52 RE LIGIÃO EM GERAL

motivo de duvidas e alarmes~ Viver em paz nesta igno-


rancia é cousa contradictoria, impossivel (1) .»
Por mai que façamos, todos esses problemas se
erguem diante de nós, e o espirito do homem, quando
não é embrutecido, J;lem tão pouco corrompido, exige uma
solução de todos esses pontos, e fica na anciedade e per-
t urbação emquanto permanecem incertos. Ora, para
dissipar essas duvidas, a razão e a philosophia são impo-
tentes. Sim, a r azão, abandonada a si mesma, sente-se
muito fraca, até com a sabedoria e a experiencia dos
seculos passados. A Philosophia hesita, e balbucia nas
suas respostas. J .-J . R ousseau confessa-o: «Üs philosophos
eguem as falsas luzes de fogos fatuos que não nos guiam
sinão para nos transviar. » Numa pagina -celebre, Theo-
doro Jouffroy contou como, depois de ter consagrado
ua vida a procurar a verdade philosophica, «mais nada
permanecia em pé no . eu pensamento devastado.» Pare-
ia-lhe, diz elle, entrar numa existencia sombria e despo-
voada, e accrescenta: «Eu era incredulo; com tudo,
aborrecia a in redulidade (;1 ) .» Confissão cheia de t r is-
teza, logo seguida desta verificação que, privado de
certeza, um philosopho póde morrer de pesar e desespero.
P.elo contrario, a todos os problemas que nos inte-
re-.ssam, a verdadeira Religião· dá soluçõe nítidas, preci-
sas, positivas, indubitaveis: fixa nossa intelligencia p or
uma autoridade incontestavel, p ois que é divina; e o
menino que conhece os primeiros elementos desta Reli-
o·ião verdadeira, é mais instruido que todos os philoso-
phos. Ouçamo,s ainda e ·ta declaração de J ouffroy: «Ás
questõe que eram para mim as únicas que merecessem
occup ar o homem, a Religião de meus avós dava respostas,
e nesta respostas eu acreditava; e graças a estas crenças, a
vida presente era para mim muito clara, e além do tumulo,

(1 ) Th eodoro Jouffroy , Mélhlngea philoaophiquea .

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!:N'l'ERESSE E F füLIC.lJ)ADEJ DO tlOMEM: 53

via sem nuvens a exi tencta futura. Tranquillo a respeito


do caminho que devia seguir ne te mundo, tranquillo
a r.espeito do fim que devia alcançar no outro, comprehen-
dendo a vida nas suas duas phases e a morte que as une,
comprehendendo a mim mesmo, eu era feliz desta felici-
dade dada por uma f1é viva e certa em uma doutrina que
r esolve todo · os grande problemas que pódem interessar
o homem (1 ) .»
Por cons.eguinte, a Religião responde á primeira
nece idade da natureza humana; sati faz ás exigencias
de no so e pirito e lhe as egura um el m nto de tranquil -
lidade e de felicidade.
38. - III. A paz da alrna, segundo elemento de feli-
idad , io·ualmente não se en outra . inão na Religião.
Onde está a fe li ·idade? Será na honras, nas riquezas, nos
pra.zere ela terra ? Não ser á antes na paz de uma cons-
cit>ncia qu e não r eceia en ura alguma da parte de seu
Deu ? Primeiro. ouçamo , sobre este ponto, as declaraÇPes
da autoridade/ em seguida, consultaremos a expe-riencia.
Qu·e dizem os sabios '/ ... A philosophia antiga, per-
plexa, não abia onde collocar a felicidade, e Cícero,
fi l'mando- e no testemunho de Varrão, affirma que, no
seu tempo, sobre e ta questão, contavam-se 288 senti-
men to div r os. Séneca affi rma com razão que a feli -
_cidade vem, «não com o r ecompensa, mas como accessorio
da virtude.» Santo Agostinho, aba.lisa.do philosopbo, ainda
., ante de ser crente, olta est e grito da alma humana:
«Senhor, vó · nos fizestes para vós, e no~-so coração fica
inquieto, emquanto não descan a em vós! »
J .-J . Rous eau exp 1·ime o mesmo pen amento quando ,
diz : «Quanto mai me concent ro em mim mesmo, quanto
mai me ·consulto, t anto mais leio dentro da minha alma
estas palavras n el.la impre sas: Sê justo., e serás feliz (2).»
(1) Theodoro J ouffroy, Mélangu philo1ophique1 .
( 2) P en samento• d e J .-J . Rousseau.

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54 RELI'GIÃ O E M GERAL

Mas e-sta felici la.de, fructo da justiça absoluta completa,


qut>m nol-a dará, sinão a Rieligião ? Montesquieu o reco-
nhe e, e exclam a: «Cousa admiravel ! a Religião christã,
que parece não ter outro obj ecto que a f elicidade da
outra vida, torna-nos tambem f eliz·es nesta. »
Com effeito, que nos ensina a experiencia? Ensina
que nada, nas cousas deste mundo, póde captivar a alma
hum ana e dar-lh e felicidade. Os reis da terra confes-
·am-nó tristemente. alomão, no seio da · riqueza de
todas as delicia , exdama que «tudo é vaidade e afflicção
de espirit o.» Tiberio e enfastia em Capri; er0 <;e
d istra he clo·s de~gostos do imperio com espectaculos san·
grentos. O imper ador Severo, das ultimas fileiras da
mili,'ia elevado ao fastígio do pod-er, solta este queixume:
«Tucl f ui e i. to não me serviu de nada! »
O hc; tio, a aciedade, o desgosto: eis a partillia do ·
felize do mundo. E ' tambem o grito do seculo actual,
farto de Q:ozo de toda a especie, .que escapa da bocca de
um poeta, depois de li bar a taça àe todas as satisfacções :
Vos nl.o ' prazer s que, em rneu soccorro, convido,
A cho tanio desgos to qu morrer me sinto.
(Alfredo DE MussET. )
E ' que, na realidade, as alegrias deste mundo erão
semp r e perturl1adas, ás vezes pelo remorso, muito mais
p ela anci dad e, pelo r eceio de a. ver dissipadas, p elas
doenças, pelos achaques, acridentes, revezes, pelas appre-
l1 eusões da morte.
A H.eligião pelo contr ario, depois de trazer rncego
no e pírito, dá tranquillidacl e e paz ás almas. Exgotta
a fonte le no as inquietações e de nos ·o remor o
i:ifastando-nos do vi io e do peccado; não no,Q livra, é
verdad e, das prova ões mas suaviza o· seu riaores ; nR
oração dá- nos 11111 con. olo; na espe rança , um remédio ;
na re ignação, n m soccorro e uma força. Depois d11 pena,

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OliDE U E ESTAntLlOAD.11l DA SO l ED.AUE 55
,,..--_ = = == === === ==' -: = = = = = =

aponta-nos a r ecompen sa. Por onseguinte, póde- e dizer ,


sem r c io de ngano qu o hom m religio o é s mpr
o mais feli z ou o mai . onsolado.
onr.hrnmos que a R ligião é n cessaria para a f li-
iclad e orre.c;;pond a no sos ma is caro int resses.
quell es, portanto. que pr tend m de tnrir no homt>m
o sentimento religios , mbat m contra s ua propria f Ji-
riclade são os inimigos da humanidad . E' o par · r do
proprio J.-J. Rouss a u : «l~ugi, diz ll e, {lo qu b o
prel exto i xpli car a natur za, m iam doutrina d o-
l1-1clora n ora ã.o dos hom ns... D rr ibando, d truincl
ra l ando ao:<: p és tJu clo o qu - o h om ns r e p itam , tiram
aos afflicto o ul t imo rerur ·o nas mi rias; aos poderosos
f' ri os, o unico fr io das paixõe. . Arran cam do fundo do
rorac;ã o remorso do rim a . perança d a virtu 1
ai nel a por cima gabam-s d s r os b mfeitores do genero
humano. unca, dfaem lles, a v rda 1 é nr·civa aos
l1 omrn.. Ni to a r dito tflnto orno l k, r, no meu
1 nre C'r, nrua granel peova de qu o sen · nsino n ão ' a
1·r rclade. ~ (Emile.)

ARTIGO UI

A oricfl nd preciso d e uma R e ligião poro s mante r na


ordem e no e tnbUidod
1. 1' <>~ t e >n unb o clu Du1·torid1iclo : Philosopbos o logislador s. - JI. A
rni11o e l>om sun so p1'll\'n01 quo n It ligião n ecossaria : l.º psrn
r egu lnr e mod 1· r111· o pocl or : 2 .0 p11rn torn a r os só'l>clltos 1·es17el l0Rns e
"R ul nt is~ o•; 3. 0 parri d ar (1 s loiR uma !•U toridnd o uma san ccilo.

39. - bom m ' f •ito para a so i dad : a . 11a


l rópria natur za o indica . I ão f i mo prrt nd rarn
'l'rtos ph.iló. op ho.·, <' I' ad para vi ver no estado selva(J'em.
, nas a piraçõ , su;i s n ·~ sidad,s, s u int r sse, tudo o
imp ll para a vida social. Ora o estado de sociedade, em
qu o h m m ha d viver, supp~ rtas bas ndições
' m as qua s a ord m a 'ta bilidad e s riam impo siv is.

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56 RELIGIÃ O EM GERAL

Como congregar milhões de individuos, conciliar -lhes os


interesses acorrentar-lhes as paixões, sem um vinculo
mor al, sem uma autoridade r espeitada e obedecida, sem
leis fielmente observadas? Mas quem poderá dar ás socie-
dádes esta base solida e estes meios de estabilidade~ Só
a Religião. Vamos proval-o 1.0 pelo testemunho da auto-
ridade, confirmado p ela experienciaj e 2. 0 pelos ensina-
mentos da razão.
40. - I. T estem1mho da ciidoridade. - Aquí, por
autoridade, entendemo o testemunho dos philósophos e
dos legi ladores, dos que, por conseguinte, são mais
aptos para n o t raçar as regras de uma sociedade bem
estabelecida.
Ouçamos primeiro o philosophos. «E' uma verdade
certíssima , diz Platão. que si Deus não presidiu ao e5tabe-
lecimento de uma cidade, e si ella teve um principio
apenas humano, não lh e será possível escapar aos maiores
males ... Devemos fundar as casas, assim como os Estados,
consagr ando como 1 i · as propria vontades da intelli-
gencia suprema. Si um Estado é baseado no vicio e
governado por p essôas que calcam a justiça aos pés, não
ba nenhum meio de salvação (1 ) .»
Compenetradas desta doutrina, as nações mais famo -
sas da antiguidade applicavam-se a tornar suas consti-
tuições profund amente religiosas. Assim, no principio de
eu livro das L etis, Platão julga necessario chamar em
seu soccorro o poder bemfazejo ela divindade. «As cidades
e as nações mais dedicadas ao culto divino, dizia Xeno-
phonte, foram sempre as mais duradouras e as mai5 sabias,
assim como o seculos mais religio os foram sempre os
mais distinctos pelo genio (2) .»
Roma tinha as mesmas idéas sobre este magno assum- ·
pto; sabe-se com que ritos religiosos fundava cidades ou
colonias. Cícero ensinava que, sem a assistencia dos deuses,
(1) Platão, Dd L egibw .

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OR.DEM E ESTABILIDADE DA SOCIEDADE 57

um E tado não se podia manter em pé; Plutarco disse:


«E' mais facil edificar uma cidade nos ares do que cons-
tituir um E stado sem crença e sem culto religio o.» Mon-
tesquieu nota: «Quando Roma chegou a desprezar os
deu e precipitou-se para a ruína. »
Os philo ophos modernos são do me mo parecer :
« unca diz J.-J. Rou ea u, foi fundado um Estado sem
que a Religião lhe servisse de base.» Voltaire não é menos
explicito: «Em toda a parte em que houver sociedade esta-
belecida diz elle, a R eligião erá necess·aria.»
Entre o legisladores, não achamos nenhum que deixe
de faz er da Religião o ponto de apoio de toda a sociedade
e de toda as lei . Solon Lycurgo na Grecia · Zor oastro,
onfu io entre os P ersas e os Chinezes ; Numa Pompilio
em Roma, são uma prova di o entre os antigos. No vnº
eculo, fahomet ba. eou sohre a Re1igião toda a legislação
do povo mu ulmano. O legisladores modernos não p en-
am de modo differente. Franklin, um dos illustres fun-
dador e da republica do E tados Unidos da America do
Norte proclama, no principio de sua constituição, que,
« em o soccorro de Deus e sem o culto r eligioso,» sua
mpreza não ha de vingar. Na França, Portalis, ao qual
se de-..·e grande parte do actual codigo francez, presta este
te temunho que não é sem valor: «Quando não houver
mai Religião, não haver á mais, para os homens, nem
patria nem sociedade.»
. Ei ahi en. inamentos verificados pela experiencia, e
provados de modo eloquente pelos factos da historia : por
toda a parte e sempre, para os povos, a ·época da prosperi-
dade e da ventura é aquella em que são mais r eligiosos,
e a 'po a da decadencia coincidiu com o abandono das
cr enças e das praticas r eligiosas. Não sejamos pois sur-
prehendidos por ouvirmos homens eminentes r epetir estas
verdades. «Ü paiz soffre escrevia Jouffroy em 1834. Pois
bem ! esta neces idade não satisfeita da sociedade não é

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58 R.ELIGlà O EM GERAL

uma necessidade material; segundo mfoha opinião, é uma


nece sidade moral. O christianismo lançára na sociedade
uma ordem moral , isto é, um conjuncto de verdades
sobre todos os pontos que têm mais intere se para o
homem; e a ociedade vivia por meio destas verdades ...
Os seculos de truiram esta ordem, ou pelo menos a trans-
tornaram. O vacuo deixado por ·essa immensa de truição,
este vacuo e tá por toda a parte. Está nos corações, é
confo amente sentido pelas multidõe , assim como o é,
de modo mais nítido pelos espíritos distinctos. E ' preciso,
p ortanto, encher esse vacuo (l ).»
Um celebre publicista contemporaneo Le Play,
escreveu: «Üs povos felizes ão devedores da ventura de
que gozam, á pratica do bem prescripta pelo Decálogo ...
As raças simples que vivem num estado de paz completa.
fo ram fundadas por uma familia submettida á lei moral
e acreditando que esta lei foi revelada por Deus ao
homem (2) .»
4 1. - II. A razão confirma plenamente e as liçõe
da auctoridade e da experiencia. Com effeito, diz-nos que
três· cou as são nece arias para que uma sociedade e
mantenha na ordem e na paz: 1. 0 um poder sabio e mode-
rado, i ento de fraqueza e de tyrannia; 2. 0 um re peito
profundo e uma ver ladeira submissão para com a auto-
ridade; 3. 0 emfim, a obediencia fiel ás leis civis e moraes.
Ora, quem poderá manter essas tre condições e senciae '
A Religião e só a Religião. Com effeito :
1. 0 Sóm ente a &ligião póde tornar o poder sabio e
niodemdo. - «Ü príncipe que não tem Religião, dis e
:Montesquieu, é um animal terrível que apenas sente sua
liberdade quando dilacera ou devora (3) .» o mesmo
( 1) D iscussion sur la foi à'tusociation ( Moniteur de 19 de março
de 1834) .
(2) L e Play, L es oiivriers ettrovéens, t. I. - Consultar, do mesmo
nuctor : Réforme soei.ale.
( 3) Esprit des Lois .

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ORDEM E ESTABIJ, IDADE DA SOCIEDAD-E 59

. ntido Voltaire escreveu « i o mundo fosse governado


por atheus valeria tanto oomo e tar ob o imperio immr-
cl ia to daquelles er s infernaes que os poetas antigos nos
mo tram sempre o upado. em atormentar sua victi-
rna ( 1 ) .» A historia confirma · a maxima e os tyran-
no de todo o seculo foram ímpios.
P lo contrario, ao que têm o poder nas mãos, a
Religião ensina que são mini tros de Deus e não senhore
dos homens; lembra-lhe qu sua auctoridade não é um
clil'eito, mas um deposito de qu dever ão prestar conta.
E, dest modo qu modera o poder e dá ao mundo prin-
cipe ju tos e dedicado ao interesse dos povos.
2. 0 Só a R eligião pôde ·rnanter os subdlitos n o respeito
e rw iibm.issão. - orgulho humano r evolta-se natural-
mente m pre ença da autoridade, qualquer que seja a
' Ua origem ou natureza. Em no o dias e pecialmente,
tanto falou ao homem d sua dignidade e eus direitos,
tão pou o de ua -cons iencia e seus deveres, que está
·empre d. po to á in ubordinação e á revolta. m povo
sem crença e m Deus erá nec s ariamente um povo
insubmi · o rebeld , e, no· dias de cólera, tornar-se-á
uma torrente devastadora que tudo arrebatar á na sua
pas ·ag m. ão temo debaixo dos olhos tristes exemplos
cl ·se facto ? . Desde um -·eculo, quanta con tituições e
quantos poder foram d rrubados pela revolução! Mas
'Omo · ha de pôr um dique a esta corrente de insubordi-
nação r evolta? ó a Religião o póde fazer ; ó ella
rnostra, no pod r, urna autoridade estabele i la por Deus ;
ó ella n ina fficazm nte ao homem a obediencia e a
su bm· são; só ll a, emfim, nnobrece a dependencia, pre-
gando que obedecer val mai do que mandar. Que paz e
·ubol'dinação não e en ontrariam, no povo, si e sa maxi-
ma. fo sem mai conh ·idas e praticada !
( 7) Homilia .'°bre o athei.smo .

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60 RE LIGIÃO EM GERAL
~~==~============================"'==========

3. 0 Afinal só a R eligião póde gwrantir a observaçiio


das leis civis e moraes, bases das sociedades. - Com
effeito, donde as leis civis tiram o poder e a autoridade f
Será da força brutal de qu e dispõe o p oder Y do receio do
gladio e da ju tiça humana? Mas, neste caso, as leis tor-
nam- e uma tyrannia. Ora, um povo que não obedece
sinão á força brutal, é um povo infeliz. J.-J. Rousseau o
dis"e : «Â tranquillidade do Estado sob o despotismo é a
tranqÚillidade da morte; é mais destructiva que a propria
morte.» Já ·e abe o que acontece quando um p ovo tyran -
nizado desperta. Portanto, as leis civis precisam de outra
garantia, preci am de uma força moral. Mas nunca hão
de po suir uma força moral sufficien te fóra da Religião;
só esta dará á leis um caracter sagrado, ensinando-nos
que o 1 gislador r ecebeu o poder de Deus e que os subditos
são obrigados a obedecer á leis como a Deus mesmo,
quando sa leis são ju tas e honestas. Com essa noção
da lei, e a sancção divina que as corôa, concebe-se que o
povo julgue natural, ju to e até glorio o submet ter-se e
obedecer .
Quanto ás leis rnoraes, cuja sancção escapa ao poder,
e que não ão meno indispen aveis para o sustento das
sociedades, é ainda a Religião· e ella só que póde assegu-
rar-lhes a execução. Elia só previne o crime e o suffoca
na sua fonte, porque attinge a consciencia e nos mostra,
na lei moral, um Deus legislador, testemunha e vingador
de tudo o que é máu. Ora, a razão e a philosophia não
têm nada de parecido.
«Philosopho, disse J.-J. Rousseou, as tuas leis são
muito bella ; porém, mostra-me, por favor , a sancção, e
deixa de tre variar.» Alhures, diz ainda: «Não comprehen-
do que alguem pos a er virtuoso sem Religião. Por muito
tempo, acreditei o contrario; agora, estou muito desen-
ganado ( 1) .» Com effeito que se ha de substituir ao pen-
{l ) Roussetw apol-Ogista, p . 61.

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ORDEM E ESl'ABILIDA.DE D.A SOCIEDADE 61

sarnento de Deus e do dever 1 O interes e? Mas ninguem


ignora que o vicio se revestirá sempre deste pretexto. -
A estima da virtude V Mas não sabemos, por experiencia
que toda a nossa admiração pela virtude cahe perante a
lucta que a virtude nos impõe? - As recompensas huma-
nas . As mais das vezes vão .coroar a ambição e não o
mérito. Por isso, o heroi mo e a dedicação se acham só
na Religião que inspira essas virtudes. «Sem a Religião,
dizia Leibnitz, não se faz caso do amor da patria ;
ridicularizam-se os que cuidam do bem publico.» O philo-
·opho de Genebra dizia: «Que todo o genero humano
morra, si fôr preciso, de miseria e de fome! Tal é a
linguagem interior de qualquer incredulo que raciocina.»
Por conseguinte, para resumir e concluir; fóra da
Religião, nada de poder sabio e moderado, nada de sub-
ditos r espeitando a autoridade, nada de leis civis obe-
decidas, nada de leis moraes ob ervadas: portanto, não
ha ociedade po sivel ! Prejudi ar o principio religiosos
é minar a sociedade na sua base; pelo contrario, pro-
t·eger a Religião, é trabalhar para a manutenção e pros-
peridade da sociedades humana . «Ü apêgo á R eligião,
diz Machiavel, é a garantia mais c rta da gr andeza de um
E tado ; o de prezo da Religião é a causa mais certa da
ua decad ncia.» (Tratado do Príncipe.)
Mas i a Religião é necessaria á sociedade, é preciso
r·econhecer que não é menos nece~ aria a cada individuo
em particular, pois que a sociedade se compõe dos indivi-
luo , €, no seu conjuncto, não pód€ ·er . 1não o que são
o indivíduos qu€ a compõem.

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62 RELIGI Ã O EM GERA L

CAPITULO IV

FUNDO DE TODAS AS RELIGIÕES

I. Elementos constitutivos de qualquer religião : 1.º o dogma;


2. 0 a moral; 3. 0 o culto. - II. Relação do que vem exigido
pelo culto.

42. - O nosso e. tudo pbilosóphico sôbre Deus e sôbre


o homem deu-nos a conhecer que, entre estes dois seres
que se procuram e e chamam, são necessa.rios um encon-
tro relações, um commerc:i o: D eu os quer, e delles o
homem preci. a. Dahi f.'sta con lusão logica: necessidad e
ela R eligião.
Todos os povos de todos os tempos e de todos os
paizes assim o entenderam; por isso, .é em vão que se
procuraria uma nação sem R eligião, sem commercio com
Deus. Comtudo, muitos povos deixaram de ter, nas uas
relações com a divindade, os mesmos processos e as mes-
ma pra.ti a . Muito homen erraram no modo de se rela-
ionar com esta divindade cujo soccorro invocaram. Toda-
via, examinando de perto as varias religiões, si é verdade
que se verificam grande. diversidades nos pormenores,
não é menos certo, por outra parte, que entre todas
existem algumas semelhanças e caracteres êssenciaes que
constituem, por assim dizer, o fundo de todas as religiões.
Importa conhecel-os e precisal-os.
Notemos, em primeiro lugar, que esses caracteres ou
elementos eonstitutivo de qualquer religião são baseados,
elle tambem, sobre a natureza de Deus e do homem. No
seu commercio com a divindade, 'a ntes de mais na.da, o
homem traz o seu espirito, umespirito inquieto, que quer
ver e conhecer; e Deus, em troca, traz o seu espirito, intel-
ligencia infinita, para esclar ecer o nosso espirito limitado,
para confirmar e augmentar as no sas luzes. Em seguida,
o homem traz o seu coração, feito para amar, e que soffre

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P'IJNDO DE TODAS A.S R'ELIGtÕES 63

de desfallecer tantas vezes no amor; e Deus approx:ima


delle o u oração para lhe dar a força d amar na uni-
dade. na perp tuidad e na santidad . Emfim, o homem
traz a . ua vida , sta vida que pretende ser feliz, e que,
tanta vez , não passa de offrimento , por causa de
no as imp rfeiçõe mi rias; Deus communica a sua
vida infinitn , cheia 1 força de con ola ão d al gria
de immortalidade. Eis toda a Religião, e s6 nos resta
diz r orno ·e por que meio e faz e te comm reio ou e ta
relação de e. pirito, d oração d vida. Tres palavras
lh orr spondem : o dogma, a moral e iilto e são ta
tres cou a que aehamo no fundo de toda as reHgiões.
1.0 O dogma. - Por esta palavra, entende- e um
fundo d ren a identica entre os partidarios da mesma
r ligião. Sim, qualquer r ligião apr enta um coniuncto
de ren a ou verdad s r econh cida . Na ba e, acham-se
a. verdad s racionail'I e phil os6phi a que enun íamos;
a exi tencia de Deu e a exi ten ia da alma, uma vida
futura. recompen a para os bon e ca tigos para os
mán . Ma , al ém de sas verdade geraes acces iveis á
razão humann notam-se outra mais e pe iae consid -
rada c0mo ensino divino. Cada religião po u uma
pe i d r v lação, verdadeira ou fals a, feita ao homem
p r Deus mesmo. E' o resultado do que dizemo : o hom m
emprega, na busca de Deus o seu pirito e a sua int lli-
g ncfa, e D u e approxima do homem e lhe communica
' verdades ; não abafa a razão humana, mas dilata-a, fala
ao homem porque o ama como um pae ama seu filho ; e
porque a felicidad e d e Deus ' entreter-se com o homem
e elevai-o acima da propria natureza por conhecimentos
mai perfeito e verdades mais lumino as. Notemos ainda
que esta communicaçao, na convicção universal, seria
feita por Deu mesmo, descendo sobre a terra e conver-
sando com o homens. Uma especie de incarnação no seio
da humanidade : eis o que encontramos na origem de qual-

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RELIGIÃO EM GERAL

quer religião, com uma cr ença ou um dogma, consequencia


de um ensino divino, ·q ue é o primeiro elemento dessa
religião.
2. 0 A moral. - Esta palavra designa o conjuncto
das regras que dev·em dirigir o procedimento do homem
nas suas relações com o semelhantes e, ao mesmo tempo
lhe indicam o que deve a i proprio. Em cada religião
os principio geraes da moral são tirados do razão e da
philosophia, e se r e umem nesta maxima: «Faze ao pro-
ximo o ·bem que desejas para ti me mo; não faças a outro
o mal que não quizéra que te fizessem.» Comtudo, a
Religião exige mais alguma cousa: reclama para Deus a
primeira homenagem da no sa fidelidade segundo a
palavra de Cícero: «Ante de tudo, a Religião é o exercício
·da justiça para com Deus.» Em seguida, determina, de
modo mai particular, os deveres do filho para com os
paes, do servo para com o amo, do cidadão para com a
patria; afinal, a esta moral natural e universal, accres-
centa-se habitualmente uma moral especial, fructo de uma
communicação divina.
O homem queria dar seu coração e sua vida a Deus :
e Deus veiu aquecer este coração, dar uma regra a esta
vida, dizendo ao homem quanto deve fazer para agradar
a Deus, para fazer bem ao proximo, para se enaltecer a i
proprio pela pratica çle uma virtude mais elevada e de
deveres mais perfeitos. Ora, esta r egra moral acha-se em
todas as r eligiões, embora só esboçada e, ás vezes, desfi-
gurada por extranha interpretações e por ridículos erro ·
mas em parte alguma se encontra religião sem moral.
3. 0 O c·nito. - E' o terceiro elemento universal da
religião, ab orvendo, ás vezes, os outros dois, ·como si todas
as relações do homem com Deus se devessem limitar a
algumas praticas exteriores.
a r ealidade, o culto é a homenagem prestada ao
reador pela cr atura intelligente, e é uma parte essen-

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F UN DO DE T OD A S AS RE L I G1ÕE S 66

cial da religião; é o meio indispensavel das relações cuj a


necessidade, provamos. O culto é baseado sobre a natu-
reza: é a fraqueza humana chamando em seu auxilio o
occorro divino e Deus. a e ta invocação, baixando até
o hom m lhe communica a sua propria força para o
ustentar, os seus beneficios e o seu amor para supprir
a fraqueza humana, e a sua mesma vida de ventur a e
antidade para remediar as tristezas e miserias da infeliz
vida t errestre. O culto é universal ; por toda a parte o
homem reza; e, por toda a parte, tem certeza que Deus
não fica indifferente á suas homenagens, nem surdo á
sua supplica. Quanto ás particularidad'es, o culto é
differ nte segundo as religiões, porém, mesmo nisto,
pódem-se reconhecer caracteres geraes que se acham em
todo o , culto. . A importancia desta que tão exige que
demos a conhecer esses caracteres geraes de qualquer
culto.
4 3. - Il. O culto es encial a qualquer r eligião deve
l'<'unir tre condições. Della o antigos povo puderam se
afastar mais ou menos; mas a razão declara que o culto
tem que er: 1. 0 interior; 2. 0 exterior; e 3. 0 publico.
1.0 O culto deve ser interior. - Com effeito, o homem
é, antes de tudo, uma intelligencia: é por ella que se
distingue dos animaes, por ella que se eleva até Deus e
lhe presta a homenagem ele todo o seu ser. Tudo quanto
dissemos da necessidade da religião, em r elação á natureza
do homem, teria que ser repetido aqui, a respeito do culto
interior. De que serviriam, com ·e ffeito, as demonstra-
ções exteriores para com a divindade, si o coração e o
pirito não as vivificassem? Não teriam mais valor, n em
mais merito do que a homenagem inconsciente do sol, dos
astros e da natureza, cegamente obedientes ás grandes
leis que os regem : não é isto o culto espontaneo e livr e do
ser intelligente.

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6fi RELI G I Ã O E M GERAL

Antes de tudo. o verdadeiro culto interior consiste


n'Um sentimento de fé na palavra divina, de confiança
na bondade de Deus, de amor cheio de gratidão para
com os seus benefícios, de r espeito e submissão á suas
vontades.
2.0 O cuJto de.v e ser exPeni,or. - Com effeito, a razão
nos diz que o homem deve a Deus a homenagem do seu
er inteiro. Ora o homem Dão é um puro espirito, tem
tambem um corpo, e este corpo é obri()'ado, a seu modo,
a glorificar o se-u autor: faz isto pela oração vocal, pelo
canto, pelas posições supplicantes e p elas ceremonias
exteriores. Aliás, sentimo p erfeitamente que este culto
exterior é a expressão natural e n ecessaria do culto
interior. Póde aquelle qu e crê e ama, calar sua fé e
deixar de manifestar seu amor? «As ceremonias do culto
exterior diz F éneJon são. para com Deus, o que as
manifestaçõe. de respeito são para com ·um pae que seus
filhos saudam , abraçam e a quem ervem com solicitude.»
( f'Ya1·tas . )
J sto é tão natural e t ão necessario, que o culto exte-
rior é o unico sustento do culto interior e, ao mesmo
tempo o seu indispen savel alimento. Sem as exterio-
ridades do culto e sua pratica , a fidelidade interi or
desapparece ; sem ellas dissipam-se depressa o gosto, o
espírito e a pratica da religião interior. E' sem razão
pois qu€ J .-J. Rousseau escr eveu: «Adoro a Deus no
meu coração; admiro-o nas suas obras; não lhe dirijo
orações ; não lhe peço nada! » Na realidade, quanto vale
e em que se resume semelhante religião em espírito, sem
praticas de piedade?
3.0 O culto exterior deve ser tambem publico ; isto é.
ha de manifestar-se por meio de homenagens solemnes,
prestadas em nome de todos. A experiencia e a historia
demonstram que só o culto publico torna a religião sen-
sivel e popular, e que só elle a mantem e anima. Assim

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F' U N D O DE T O D A. S AS RE Ll O l ÕE S tl7

naçõ , Pi

ã pre ·iso ternplos. porqu , bem que Deu eJa


l r :ente em toda a par e, no a fraqueza nco ntra um
h rizont · mai limitado. el e um lugar
clifi ·io no · in ita ao r co-
us mbl ma · levam no so.
idJ ' a: at' o D eus que nelle se

, ão n . aria ass 1nbléas r ligio as · é, com eff ito,


l or te m io qu a r li gião un todos os homen · un ·
tom utro · p lo mesmo la o 1ue o prende a D us. «Para
os hom n , .eh.~ Mont qnieu nada é mai con olador
do que um luO'ar onde acham a divindade mais presente,
on le t dos juntos faz m ·obresahir ·uas fr aquezas e ua
m i · ri a (l ).» E ' ne sa:' homenagens . publicas que o
menino vem haurir a f > e o r peito para om Deus; o
(1 ) Esp-rit de• Lois , liv . XXY, 3 .

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6 Rll:L TG!ÃO EM GERAL

operario o e pirito de obediencia e de trabalho; o pobre,


a resignaç:ão · o rico, um nobre u.so de sua opulencia:
todos, a verdadeira .llO_ão da liberdade, ela igualdade e da
fraternidade humana .
Exigem- e e renwnias sa.crns; os . entidos são o ca-
minho que leva ao coração; actuando sobre nossos olhares
e sobre nossas imaginações, as ceremonias desp ertam em
nós piedo o. sentimentos; ao mesmo t empo, instruem o
homem nas uas crenças e nos eus deveres, e lhe propor-
ciona m o meio de pagar a Deus a divida total de sua
ador ação.
E ' iucli pen, avel um sace rdoc,io, i to é, não e póde
pre cindir de sacer dotes escolhidos entre os homens, para
offerecer, em nome de todo , as homenagens, e principal-
mente o sacrificio, que é o acto r eligioso por excellencia.
E ' de to la a nece idade ter sacerdotes para cuidarem
do exer cício do culto e cumprirem as suas ceremonias;
porque, dá-se com o culto o que se dá com as leis; que-
r endo as egurar a execução das leis civis, não se póde
ficar sem magistrado · par a vigiar a observancia do cul to
e elas leis moraes, ha de haver sacerdotes.
Emfim, todos o povo comprehenderam que si o
homem deve a DetlS uma parte do tempo que elle pro-
prio nos concede, é n ecessario ter dias consagrados espe-
cialmente a atisfazer e ta divida. Dahi os dias de festa
e de olennidad e. Ora, po-r uma coincidência admirável.
que não e póde explicar sinão por uma tradição primi-
tiva e universal, nota-. e que a divisão do tempo em
:emanas é conhecida de todos os povos, e que a sanctifica-
ção de um dia obre ete é um uso geralmente adoptado.
O setimo dia torna-se, deste modo, o dia de D eus e do
homem, em que o encontro se faz ao pé dos altares, em
que o commercio de u.rn com outro se estabelece pela
oração e pelo sacrificio, em que a sociedade faz acto
pubUco de religião, pagando a Deus um justo tributo de

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lN"DIFFER.EN A EM MATEBJ A DE R.ELIOlÁO 69

ao m m mpo i nt L'ior rter ior

' AJ: l'l'ULO V

DA 1 DIJo'FERE ' ·A ]!; r M 'rEru DJi; RELIGIÃO

L Duas especies de incliff r nça: um a pratica outra sysiema·


t ica . -l T. indiffer u ·11 prntica uom iu n ·equoucia ou u nrn
obardia. - III . in.diff~r nça systematica. ó: l.º injuriosa para
om D us; 2. 0 absurda em si mesma; 3. 0 p rigosa para o hom m.
- l . R futa ção das obj ecções.

44. -- l. Ac:abunios d no f u 11do l


as r ligiõ
rito e
ponto
alg un
lutam
algun , imporla- e muito pouco com
la l ou tn l fórma d r l igiã , coro tanto que faça bem
ao · melliant s. 'l'odas a. r li giõe. . ão bôa ·, dizem
ou tr o · ; onv >m aprnas . !!"lli " a. r eligião c.l SC'ltH pai. Oll
d paiz em qn e viv . Ontro qn r eria m ·ont entar-se
·om uma reli O'ião feita a ·eu gosto; p ar a ellc ' "Uffici n e
tira r da r eli•:rião nat.nr.a l ai ·un pri11 ·í p io. la rg ~. ba -ta.
. er um hom m bou to. Eis xactam nt o que e póde
·harn ar ind'iffe1-. n a. Para un é a indifferença pratica;
admittem theori 'amente todas as verdades que tab Jec -
mos prec dentemeut e não vão a,l ' m . Par a ou t ros é a
indifj'erença sy t(muitica, e, de bôa vontad e, erigiriam
em d011trina · rta t h eori a obr a igualclad perfeita d

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70 RELIGIÃO EM GERAL

todas as religiões. Temos que refutar suooessivamente


um e outro erro.
4 5. - II. A inclifferença prática é a omis ão do.
actos e d veres religiosos por aqu elle que acreditam nas
verdade funda.mentaes da religião, e nisto se deixam
ficar. E ' preciso dizer que e: ta indiffer ença - é uma
inconsieqiiencia iUogica, e uma cobardia culpada.
E' uma inconsequencia illor;ica. - Com effeito, si
são verdadeiro os princípios que estabelecemos, e disso
não se póde duvidar, si exi te um D eus cr ea dor , justo e
bom , si temos uma alma espiritual, immortal e livre
devemos admittir as consequencias que decorrem desses
princípios e ter uma r eligião, u ma moral, um culto; e si
fugimos deste dever, somos illogicos e desarrazoados.
Ouçamos um philosopho pagão, Platão censurar um
desses crentes illogicos: «Reprehendo-te porque não· te
poder ás defender , quando fôr e chamado a juizo ; che-
gado que fôres em frente de teu j uiz, ao pé do seu
tribunal, ficarás boquiaberto e tonto ( 1) .»
E sta inconsequ encia não ·é só uma falta de logica,
censuravel num espírito eri o; é ainda cheia de perigo :
porque um Deus justo não póde isentar de castigo um
ser racional e livre C!Ue rreu a cumprir os deveres mai
r igorosos e mais sagrados.
A indifferenç,a pratica é uma oabardia culpada. -
Com eff eito, de que procede ? Ou do descuido ou do
re peito humano, num como noutro caso, ha cobardia e
culpa. Não será um absurdo e ruma negligencia repre-
bensi' el, deixar de fazer, para Deus e para a religião,
um acrificio que a consciencia reclama e que a justiça
exig e~ Proceder a im é falta de caracter e de ener gia ;
é antepôr no o gozos e nosso de'"ca11so ao serviço de
Deus e ao cumprimento do dever, e emelhante incuria
mer ece perfeitam ent o nome de cobard ia.
(l) /J M L ei.3, liv. XII .

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!ND!FFER..ENQA EM MA'.l'ERIA DE RELIGIÃO 71

Que diz· r da incliff.er enç.a pratica que resulta do


respeito Jmvniano? 'J' r medo do h men · ou da opinião,
re ear uma zombaria ou um sa r a mo quan do se pratica
o bem, não erá, na realidade, grande fraqueza 1 E' mentir
a si proprio, poi que e despreza na pratica o que se
acredita de coração; é fazer abnegação da dignidade
humana e desta liberdade de que e deve ser cioso e ufano,
a liberdade le onsciencia, que implica certamente o
direi to de cr r na v rdade d cumprir o bem; é cons-
tituir-., e cra vo da opinião não das pes ôas honesta ·,
mas do líbertlnos ou do espiritos me quinhos. Não será
isto uma cobardia indigna de um ser intelligente e livre,
indigna de um cidadão sem medo e sem macula 1
Portanto, a indiff.er nça pratica é, ao mesmo t empo,
uma inconseqwencia la 'timosa e uma fraqiteza sem
des ulpa.
46. - 111. indiff 1 nça systemática, de que deve-
mo occupar-nos aquí d modo mais p ecial, é a theoria
:los 1u pret ndem qne toda as religiões são igualm nte
bôc ·, qua qu ·r qu ,jam, ailiás, as ·rern;tas, a moral o
·ulto qu po ·a adoptar. l >ara justificar-se, allegam
que a tol rancia é o v rdad eiro progr , que é e te o
e8pirito hodierno, e pirito de onciliação e de p az, e que
p n ·ar le outro modo, é r cuar muito scculos e voltar
á tyrannia r ligio ·a da idade m dia. Mai adiante respon-
d •r mo a e. ta c nsura. Por mquanto, provemos que
o sy 't'ma da íudifl r uça, m materia de r eligião, é
élbsolutam nte irracional, inadmi. ·ivel; porque, 1.º é
injim:oso para com Deus; 2. 0 absurdo e contradictonio em
si m mo; 3.° perigoso para homem.
l .° y.~ t nw ela indif f r .nça é inji1rrio ·o parn co1n
n cu ·. - ' 111 f1' ito, a verdad uma, D eus, que é a
Yc·rtlad rue · nrn, uão pód ·er igualmente honrado p or
religi õ<:> · contra liC't rias. uppondo que eus mesmo
tenha 'iau 1 iclo uma cr nça e um culto religio o, não

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72 RELIGI-Ã O EM GER AL

deve ter deixado os homens livres de seguirem ou não


esta forma de r eligião determinada por elle. Si isso não
passasse de hypothese, já qualquer homem intelligente
teria o dever de procurar a verdade e sahir da indif-
ferença : porém, si f ôr uma realidade, sí Deus revelou
certamente a religião que prefere, deixar de seguil-a é
violar o seu preceito, desprezar a sua auctoridade,
injurial-o. Ora, é precisamente isto que faz·em os indif-
ferentes; não se importam em procurar si ha uma religião
prefervd'a por Deus, e, com J . - J. Rousseau, dizem
temerariamente : «Sêde catholicos em Roma, anglicanos
em Londres, calvinistas em Genébra, muçulmanos em
Constantinopla , idólatras em Pekim.» Será i1Sto serio ?
Será poss ivel que Deu · acceite igualmente esses diversos
cultos que estão em opP'o·sição, pois que o idólatra e o
muçulmano insultam e blasphemam o Deus a quem o
catholico e o protestante r espeitam e adoram ? ão, logo
tal systema é injuri'oso para com Deus.
2. 0 E ' absiirdo e contradictorio em si mesmo. -
Argumentamos aqui, não contra atheus negando a Deus
e toda e qualquer religião, mas contra os que, acreditando
em Deu , admittem que uma r eligião é necessaria, porém,
que todas são bôas. Qual será pois a r eligião que deve-
r emos seguir ? A religião de nosso· paiz, de nossos ante-
passados, ou então a r eligião puramente natural ? Num
, como noutro caso, ha contradicção. Com effeito: 1.0 Si
cad a um fica obrigado a seguir a religião em que nasceu,
póde acontecer que esta religião seja evidentemente falsa
e absur da: or a, deste principio resultaria que ficaríamos
obr·igados a permanecer no ·erro e na mentira, com perigo
elos inter esses mais graves da alma e da eternidade. Não
ser á isto uma injuria assacada contra o bom senso e uma
contradicção manifesta?
2.0 Si todas as formas de religião devem ser igual-
mente rejeitadas para ·conservar somente a religião na-

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lNDlFFlllllENÇA EM 'MA'l'EIUA DE RELIGIÃO 73

tural, esta maxima será a ruina de toda a religião, ao


mesmo tempo em que proclama neces aria esta religião
nat ural. oro eff · ito, qualquer religião preci a de dog-
ma , de princípios de moral, de culto. Mas qual é o
logma qu sub istirá e será universalmente admittido
p ela razão humana? ual será a moral dos que não
terão mais cr nça na vida futura, num D eus autor, j uiz
e vingador da 1 i ? A que culto finalmente s rá nec ssario
ap gar- eL. Valeria tanto como diz.er: «Queremo
erguer con ervar o edificio da religião, porém, sup-
primimo a ua ba e, d struimo os seus alicerces.» Já se
vA, o ani iuilamento da religião, mesmo natural, da
qual ·e pro lama a 4 cessidade. Não nos d eixemos poi ·
nganar : o: que, em tb oria, ,p r egam a igualdade d
toda · as r ligiõ s, são o que, na pratica, não querem
s g uir n nhuma: re. ·1 itam-nar:; m ger al para fical'
<li p n ado de pro urar e praticar particularmente a
v rdadeira: ' uma ontradicção ab urda .
.0Emfirn, o syst·ema da indifferença é perigoso
·para o honio1Mi. - 'om ei.f ito, expõe o homem a um
p ri o muito gl'ave. Pód er qu , na r ealidade, D eu s
tenha dado a. conh r 'uma r eligião, e a tenha. tornado
obrigatoria, sob a ·ancção de um cas tigo t rno (1) .
I sto não ' i mpo ·ivcl · p ortanto, antes d tudo, é neces-
sario indao·ar si a sim foi i de outro modo s ria expôr-nos
a um I rig ; , si D u · Lab leceu uma r e]io·ião, não
pocl mo · .G •ar na indifC r nça sem grav perigo Iara
" n6 , p rigo qu augm nta em proporção do conhecimento
que t mo · de ta r ligião da tem r idade com que :ficamos
na indiff r nça. E ·obr qu razõ s se poderá basear a
no sa indiff rença? rá ob re o xemplo dos outros?
Ma quando trata d um interesse tão consideravel e
tão pe)i!· al, . 1· a 11 indi.ff r ente, não s rá pro er
(1) uutor foln nqui 11 respeito de um hom em que só conhece 11
Rell1eilío do Ohrisio por ouvir dizer.

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74 REL IGIÃO EM GERAL

antes com a temeridaide de um louco do que como um


homem sensato~ E' preciso pois sahir da indifferença
para e capar ao perigos e males que d ella são a conse-
quencia.
Concluamos que o systema da indifferença é tão
lamentavel quão desarrazoado. E' com razão pois que
o papa Gregorio XVI assignalava, como 'Ullla fonte de
males, «o indiffe rentismo, este y tema p erverso, que
1

declara que a salvação eterna póde ser alcançada em


todas as crenças r eligio as, comtanto que os costumes
sejam bons e a conducta honesta.» (ENCYCL. JJiirG!ri vos,
15 de agosto de 1832.)
« ão ha mais do que duas especies de homens
racionae , di e Pa cal; os que amam a Deus de todo o
coração, porque o conhecem, e os que o procuram com
toda a vehemencia do coração, porque não o conhecem. »
E cmn. o mesmo autor podemo1s julgar, do modo seguinte,
o procedimento dos indifferentes : «Tamanha n egligencia
em um negocio em que se trata de nós proprios, da
eternidad e, de tudo o que no diz re peito, me irrita mais
do que me enternece; as usta-me e espanta-me: os
indiffer ntes para mim ão uns monstro .» (P ensaniento . )
4 7. - I · . Será preciso agora, refutar longamente as
ob j cçõe levantadas contra a no . a the e?
1. 0 «Todas as religiões ão bôas, dizem alguns, e
a doutrina de uma ó r eligião bôa, é a into"letrancia eri-
g ida em dogma.»
R. - ão, toda as r eligiões não são bôas: uma só
o deve er, porque as diver as r eligiões são contradic-
toria e a verdade é uma. Ora, D eus não póde acceitar
do mesmo modo uma homenagem e um insulto, um culto
que o honra e outro que o ultraja; não póde pôr no
mesmo plano o erro e a verdade, a vfotima e o algoz. -
E não e diga: Esta doutrina é a intolerancia, e a per-
turbação lançada na sociedade, é a guerra civil ateada

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INDlFFERENÇA EM MATERIA DE R.ELIGIÁO 75

no mundo. Não! porque nunca a verdade se impõe pela


força e pelo o-ladio. Por demais Deus r.e peita a liberdade
por elle concedida ao homem ! Ali ás, deve-se distinguir
entr a intol rancia do erro, a int leran ia das pessôas.
A intolerancia do erro ' um a necessidade ,q ue se impõe á
razão e ao bom ri. o; a mentira não d ve er tratada do
mesmo modo que a verdad . Ma a tünnatiza.r f o
princípios a verdad ira Religião s mo trará tolerante
para com a pe ôas, vi tima mai ou m nos voluntarias
do rro · esforçar- e-á por fazel -a voltar á verdade p ela
p· r ualSão e não p la viol ncia · ruté admitirá a tolerância
civil que o E tado. julO'ariam dev r conceder a réligiões
di identes, com a condição d que a verdad gose, pelo
menos do· me mos ·direito .
2. 0 «Ba ta . er homem ho11esto: ' a m lb or das
r·eligiõe ·; al'm di so, um homem hone to não muda
de religião.))
R. - ão negamo que ser homem honesto não seja
um ponto importante em qualquer r ligião; porém, não
' tudo. O primeiro dever do homem honesto, não será
mo trar-s ju to para com Deus e dar-lhe quanto lhe
devemos? submetter-lbe, por conseguinte, o no so espirito,
o nos o coração e a no . a vida? em uma palavra, ser
r ligio o? Aliá , ,' muito duvido o que, em r ligião,
alg1.<em po a er absolutamente um homem honesto, no
sentido ab oluto da palavta, não só aos olhos do mundo,
, que não vê mai. elo qu o exterior, mas perante a cons-
ci ncia e D u , que penetra os pen amentos mais íntimos
do coração. - Urn homem honesto não muda de religião;
a maxima é bôa si te homem hone to tiver na v rda-
deira R ligião; então, não a deve desertar para seguir
o erro e a mentira. Mas, pelo contrario si reconhecer
que está no erro, não será louvavel e glorioso para elle,
sahir des erro afim de abraçar a verdade que se ma-
nif sta á intelligencia e ao cora ção? Não é summamente

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76 D A R E V E L A Ç Ã O

honesto abandonar a mentira por um partido que parece


melhor, deixar as trevas do vicio ou de uma moral
duvidosa, pelos encantos da vir tude e de uma moral mais
pura~ - Accre centemos que muitas p essôas honestas
não teriam que effectuar e ta mudança de r eligião si
ella mesma ou seus antepassado não tivessem cahido
na estultícia de Largia r a verdade para eguir o êrro.
E' a respo ta que pódem, muitas v~zes, dar os que deixam
uma r eligião meno bôa pela unica Religião verdadeira
e necessari a.

DA REVEL AÇÃO
l\OÇõES PRELIMINARES
I. A Religião revelada. - II. Noção precisa da Revelação . -
lII. Divisão das materias deste tratado da Reve lação em geral.

48. - I. Só pela luze da razão, chegamo a estabe-


1ecer as ba es da Religião em geral. O no so espírito e
elevou a certo conhecimento de Deus e de nós mesmos; da
natu r eza de Deus, e da natureza do homem, deduzimos
a n ecessidade de cer ta relações entre e es dois seres, ou
de uma r eligião de que conhecemos os elementos essen-
ciaes, que . ão : uma cr ença, uma moral, um culto. Tudo
isto , a r ligião natural, necessariamente admittida por
um espírito intelligente. Todavia, bem que se originando
des e me mos principio , estabeleceram-se varias re-
ligiões .que differem umas das outra . Não é permittido;*"
dizemos, a um bomem ajuizado manter- e indiffer ente a
r espeito dellas; mas é dever e in tere e seu procurar
entre as diversa religiões, a que apresenta caracteres de
certeza e de verdade.
Ora eis um facto que não . e póde negar. Ao lado
da verdade. de ordem símple mente natural e philo-

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PR.ELIMINARES 77

ophica existem outras regras de conducta mais per-


feitas; ao lado do culto exigido pela razão, ha outro culto
constituído por praticas e ceremonias d.e uma ordem mais
eminente. E todas às religiões que nos trazem e ses
dogmas e.s a moral, esse culto, pretendem tel-os recebido
de Deus mesmo por manifestação directa da sua vontade,
e chamam-se r ii:giões sobrenatu1·aes ou rev.eladas, por
oppo ição á r eligião puramente natural. A r eligião
obrenatural ou, em outro termo , a revelação, não pód
r conb cida do mortae pela proprias luzes humanas.
em auxílio do a lto o homf'm não des obriria d lia nem
tQdo, os doO'ma , nem toda a moral, nem todo 0 culto;
e at', depoi que lhe foi manife tada, nem empre lhe
ompr ehend todas as crenças, nem concebe facilmente
todos o devere que ella impõe. Quer isso dizer que
de' a rejeitar a Revelação Y - De certo que não, por-
que ' manife to que . i é Deus mesmo que impõe e a
crenças e sa moral e e culto, o homem tem que
a ceital-o e submetter-se a ell . Ora, a revelação de
uma r eligião obr enatural é um facto que póde ser
demonstrado como todo o. outros factos da historia.
, i chegarmo a provar i to o re ultado será que não
devemos contentar-nos com a religião natural, aliá:
in ufficiente mas qu é preciso, a mais, cr rmos na
Revelação e a ceitarmo os eus ensinos.
Este e tudo e e ta demon tração ão muito inte-
re sante . Mas ante de o· encetarmos, demos, em pri-
n;eiro lugar uma idfa precisa da R evelação.
"- 49. - II. o sentido mai lato, a palavra 1· v elação
(do latim reviela.r , retrorsiwi ·veliim clare), ignifica:
descoberta de uma ou a e condida. Desta definição geral,
resultaria que as verdade que nos são desvendadas e
tran mittidas p ela razão, já ão uma especie de revelação.
omtudo, no entido preciso e theologico da palavra a
l~velaçã propria1nente dita é «a manifestação exterior

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78 D A R E V E L A Ç Á O

e sobrenatural fei'ta por Deus, de qualquer verdade


religiosa, quer possamos ou não conhecel-a já pelas luzes
da razão. » Dond e se segue que: 1.0 a Revelação propria-
mente dita se faz por meio differente da-razão; 2. 0 póde
manifestar-se sobre verdades já conhecidas que a razão
conseguiu descobrir ou por ella entendidas: neste caso,
ella aperfeiçôa, completa e firma contra todas as duvidas
as verdades racionae ; 3. 0 emfim , a Revelação póde
abranger verdades que estão acima da razão, isto é,
mysterios incomprehensiveis, deveres e um culto de uma
ordem sobreeminente. inaccessivel á r azão humana.
Eis ahi , pois. em que consi te a Revelação. O racio-
nalismo contemporaneo nega-lhe juntamente a possibili-
dade a utiliçlade e o facto. I sto se concebe facilmente;
o r acionalismo assim como vem indicado por seu nome,
é a glorificação da razão humana que reivindica a
omnipotencia ; a Revelação é, não o aniquilamento, mas
a submi ssão da razão humana perante a razão super ior
de Deus. Visto isso, não é para se admirar que o raciona-
l i mo e declare adversa rio da Revelação.
50. - III. Ora, . ão justamente a pretenções do
racio11alismo que vamos combater, levantando, contra
c:a.da uma das sua n egações, as affirmações seg uintes
obj ecto deste estudo: 1. 0 P ossibilidade da R evelação ; 2.0
Utiliclade e n ecessiclade moral da R evelação; 3.0 E xisten-
cia certa da R evelação .
Mas aqui. achamo-no em presença de um facto :
varias religiões pretendem ser r eveladas; com tudo, todas
não 0 pódem ser ·imultaneam ente poi se contradizem .
Ha, por conseguinte. uma revelação verdadeira e revela-
ções falsas. A que caracteres havemos de r econhecel-as,
ou, em outro termos, quaes são os nossos m eios de
demonsi?'ação ? Examinal-os-emos no .quarto capitulo em
que os r esumiremo em dois : a Prophecia. e o Milagre.

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S U A POSS I BlLIDADl!i

ão e! s principio gera s que pr cisamos estabele-


c r ue te tratado da Revelação: m seguida, applical-os-
erno á unica R Ugião verdadeira, aquella que reune os
aract r d uma revelação divina, i to ié, á Religião
chri tã pr{'parada p la rev lação judaica e levada á sua
p rf · i<;ão por No o • nJJ r J u 'bristo.

AE I'l' L l
PO . 'JBJLIDADB DA JiJJJ VELAÇÃO
l . A Revelação possível: l.º do lado de Deus; 2. 0 do lado do
.hotn •n1 ; 3.0 do lado da verdad eonsi d rada em si mesma. - I l.
Jwfutação dns objeções. - III. Ensino do concilio do Vaticano.

51. - l. En ·arand SllCC s ivam 'nte a Rev lação do


Jado l Dr u qu a dá, d lado do hom m iu ar b , do
lado da propóa v rdade qu d lla é o obj cto, si não
se en ontra, em part al guma, impo si bilidad , repuguan-
ja, será pr ·i ·o admiWr qu ella é possiv l. r a, sob
n nhum d " s tr a p e ·tos a H, velação apresenta a
m nor impo .ibüidad n m mesmo a mínima diffi-
culd ade séria.
1.0 Do lado d.e Deus. - · i n ·ia divina é incom-
parav lm nte mais va ·ta do qu a J1ossa 1 pois que ~
infinita, mquanto o nos ·o 'f', pfrito é imperfeito e li-
mitado. l ão pod mo uppôr qu lla abrang , nos s us
b rizon s, muitas v rdad · (llle es ·apam á no. ·sa vista
e ft no ·sa fra ·a razão?
" A mais, D us é oronipotent : si lhe apraz manif >s-
tar ao hom m v rdad s ou vontades qu deseja dar a
·onh ·er , quem póde prohibi.r-lhd eriam os meio que
:faltariam a eu pod r? Deu.-nos uma v6z e orgam : acaso
não no ' I , de falar usando dos lnE'.' tn08 m i 1os 1 'ou deu-
nos a razão, prim ira :fonte de luz ; não lhe será pos.sivel
accrescentar a ella outra font de informaç~o, a inspira-
ção, ou uma assistencia divina ·ommunicada a um dos

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80 D A R E E L A Ã o

eu · interprete ? ertamente, Deu não fica embaraçado


para de cobrir o meio de falar ao homem por elle tirado
do nada.
Jfas erá oppor tuno que o faça f Deus é a infinita
abedoria: sabe mai do que nós o que deve fazer para
o hom m. 'i julgou b m leval-o a um conhecimento
mais alto, a de er ma perfeito 1 a uma fe licida e
maior, quem lh negará o d ireito de fazel-o f
im 1 poi , logo qu admitte um Deus infinita-
mente p erfeito, podero o e abio, a revelação é po sive
da pa rte delle. · ·rescentemo · até que, por ausa da
bondade e do mor de D us, a Revelação é ejavel
, como qu e natural.
2. 0 D o lado do hon m. - ~ rá verdade, como p r
l nd m o racionali ta , qu o hom m tenha que alcançar
por i m mo, p lo trabaU10 do eu pensamento, o supremo
gráu da · ·i n ia de D do de er, de modo t al que a
uatureza humana e opponha a uma r evelação divina f
B m qu admittindo o progr o do homem sob o ponto
de vista r eligio o como em todo o mais, os racionali ta.s
não qu rem o progr inão por meio humanos e não
com a int r v nção d Deu . omtudo, é um facto que o
hom em, a mai da ez , não conhece as verdad e 1 até
as mai l m ntar , inão p la ducação ou pelo ensino.
nde e tá o abio que d va a ua ciencia omente a i
m mo f ra, si o homem consegue app render a ciencia
ordinaria, unicam n e por intervenção alheia, eria d ar-
razoado ou impo iv 1 que vie e a conhecer a ciencia
divina pela in r nção do proprio Deua f E i é suscepti-
vel de p rf ição m tan to pontos, pela influencia e acção
do eus em lhant 1 porq ue então, em mater ia de
religião não eria igual mente perfectível, por effeito da
ac~ ão di ina Y l ão a nos a natureza não r epugna a este

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S U A POSSlBILCDADE 81

aper fei oamento: digamos antes que o chama por arden-


te aspirações.
3. 0 Do "lado da. ve1·dade considerada em si rnesma. -
em tão pouco se encontra impossibilidade alguma
debaixo de te ponto. Com effeito, as verdades que Deus
no póde r evelar são de duas especies; ou são de ordem
natural e pódem er comprehendidas; ou são de ordem
sobr enatu ral e inaccessiveis á nossa intelligencia, incom-
prehensivei i fô r melhor usar desta expressão. Ora,
me ·mo ne 'te ca o, não ha impossibilidade alguma, nem
tão pouco contradicção. Quantas cou as, na verdade,
a ·c:eitamos sobr e a f' de testemunhos, sem as comprehen-
der ! Quantos mystei'ios acreditamos firmemente, na ordem
mttural, · m poder, por nós mesmos, verificar-lhes a
certeza, por exemplo: a redondeza da. terra, a fixidez
r lativa do ·ol, o volum e a distância do astros, as lei
da gravidade, da electricidade, etc. Somos desarrazoados
por admittirmos e ·as verdade ? Por certo qu e não; é o
contrario qu eria uma falta de razão. Um cego de nas-
·imento não é capaz de compr ehender as côres; podemos,
comtudo, fazer-lhe ·onc ber e aclmittir que existem. D o
mesmo modo, ·ertas verdad s não estão ao alcance da
nossa razão; ma D eus, que conhece o infinito, póde fazer
com que a concebamos e admittamos sem que todavia as
rutencl amos. Por que motivo haveria a menor contra-
dicção nes as v rdade conhecidas, mas não compr ehen-
dida "/
oncluamos, portanto, que a Revelação é possível,
· ja qual fôr o lado pelo qual a examinemos. Explica-se
ela part de Deu ; é admi sivel do lado do homem; como
verdade, é perfeitamente justa : por conseguinte, é
J os iv 1.
52. - II . 'roda a. objecçõcs que e faz em contr a a
pb · ·ibilida 1 da velação se r edu zem a esta :

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2 D A R ~ V E L A Ç Ã O

«Deu , depois de dar a razão ao homem, não póde


mais, sem contradizer-se e desfazer suas primeiras deci-
sões, revelar-lhe mystério , porque o my tério ou a verdade
sobrenatural aniquila o papel da razão ou lhe é contraria.»
R. - l. 0 Admittindo mysterios ou verdades supe-
riores á intelligencia humana, longe de renunciar á sua
razão ou de a destruir, o homem faz della um uso muito
mais digno, que é de submettel-a a D eus. Porque não
comprehendemos n em Deus, nem a nossa alma, eremos
de arrazoados de cr er nelles, e será preciso, por isso,
uegal-o ~ «Quanto mais forcejo para contemplar a e en-
cia infinita de Deus, diz o proprio J. J. Rous eau, tanto
menos a concebo ; mas ella existe, é quan to me ba ta.
Quanto menos a conheço, tanto mais a reverenceio :
humilho-me e digo-lhe: Ber dos el'e , eu sou porque tu
és. O uso mais digno da minha razão é aniquilar-se diante
de ti.» (Emile.)
Aliás, antes de admi,ttir a Revelação e o seus ensi-
nos, a razão tem um papel muito importante a de em-
penhar. Quando a Religião e apresenta com as suas
verdades obrenaturaes e reveladas, ella traz suas creden-
ciaes, o · motivo de credibilidade e manda-no examinar
·i as suas provas são authenticas e ufficientes. I isto, a
no · ·a razão póde exer citar -se ; não abdica, t em dir eit o
e obl'igação de ·ondar a prova . Ma quan do o facto da
Revelação é d monstrado, a razão deixar á d ser logica
p orque acceita esse facto e suas consequ encia ? Por certo
que não, e é o contrario que seria in nsato.
'on luamo poi , com Locke e com Leibnitz: ~Pre ­
t end r l im itar o qu D us p ócle fazer 1 or aquillo qu
podemo entender, ' dar uma xtensão infi nita ao n o o
entendimento, ou fa7_,er de Deu um n te fi nito ( 1) .»
(J ) J ulio ' imon, R eligi<m n atu reUe , p , 37.

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S U A POSSIBILIDADE 83

2. 0 E' falso que as verdades sobrenaturaes, e até os


mysterios sejam contra1· ios á razão. «A fé, observa Pascal,
diz muito bem o que os sentidos não dfaem; porém, nunca
o contrario: está acima, mas não contra.» (Pensamentos.)
Desde que uma verdade excede a razão ou lhe fica inacces-
sivel, é impossivel a esta razão pronunciar e provar que
ha contradicção no que reconhece simplesmente ser incom-
prehensivel. .
A mais: a fé é auxiliar e complemento üa razão
humana. E' uma luz mais brilhante que vem se acc1'es-
centar a outra luz. A Revelação é para a noosa razão o
que o telescopio é para a noRsa vista : faz-nos ~mxergar
nwll10r e mai'.-; longe; e do mrsmo moclo que o tele.scópio
auxilia a nossa vista, sem nada aniquilar, nem contra-
dizer nada do que ella via, assim a Revelação alarga o
circulo das verdades conhecidas pela razão e accrescenta
aos no:sos conhecimentos naturaes outras verdades sobre-
naturRes, sem nadn snpprirnir ou impugnar das primei-
1·as; accrescenta mais luz ás verdades naturaes e faz
entrar a nossa razão, segundo a palavra de Fénelon, «no
infinito de Deus.»
Com nm "[Jhilosopho contemporaneo, podemos, com
m nita razão, ·orrir «da indulgencia daquelles doutores
<1ue se dignam permittir a Deus de existir, mas com a
condição que fique calado;» com rlle tmnbérn, pocl<·mos
reconhecer a possibilidade da Revelação e concluir: «Ha
pois duas revelações·: uma natiwal, outra sobrenatural,
P hilosophia e Religiãio, tendo cada uma o seu clominio
JH'oprio ( 1). »
53. - IiTiI. Acabemos esta demonstração da poi:;sibi-
1 idade da Revelação relatando os importa11 tes d ecretos
du concilio do Vaticano (1870) sobre esta ma.teria:
«Si alguem disser que não é possivel ou não convem
que o homem seja instniido pela Revelação divina a
(1) José Droz. Da Philosophia moral.
84 D A R E V E L A Ç Ã O

respeito de Deus e do cu lto que se lhe deve prestar, que


seja anátbema !» (II Cân. De Rev elatione.)
«Si alguem disser que o homem não póde ser divi-
namente elevado a um conhecimento e a uma perfeição
que exeeda sua natureza, mas que ·p óde e deve chegar
por si mesmo á posse de toda a verdade e de todo o bem
por um progresso continuo, que seja anáthema !» (III
Câ'n. ib .)
«Si alguem dis · r que na Revelação divina não ha
nenhum mysterio verdadeiro e propriamente tal, mas que
t.odos os dogmas da fé pódem ser comprehendidos e
e demon trados pela razão convenientemente cultivada,
por meio dos principios naturaes, que seja anáth ma! »
(1 Cân. De F ide et R:atione. )
Todas as proposições de ignadas por estes anáthemas
do oncilio tornaram-se boje heresias manifestas.

CAPITULO II
l. Reflexóe importantes. - II. lnsuf ficien<"ia da religião
na tural: Erros ela rnzão hum:rn.!1 a respeito de Deus, do culto,
rl a a lma, ela moral. - III. Os philosophos antigos e modernos
ron rln em pela necessidade de uma revelação.

l ' T [f.JJDAI>E: E >! ~ C E SS JDADE :uo 1iAL DA REVELAÇÃ O

54.- J. Em primeir o lugar, externemos algumas refle-


xões. 1. 0 Escrevendo 110 titulo deste capitulo as palavras :
Nec essidade da R evelação, não queremos dizer que a razão
humana seja tão fraca, tão incapaz que não possa elevar-
e, por ' i me ma, ao conhecimento de certas verdades de
ordem natural e moral, nem tão pouco que não possa
entender nenhuma dessas verdades, uma vez que lhe
sejam transmittidas. No principio elo seculo XIX, o papa
Gregorio XVI condemnou como um erro a opinião de

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'U A U'l'ILlDAl>E E N EOlil:sBIDADE MORAL 5

Larrn nnai ·, que t n lia a estabelecer a impotencia abso-


luta da razão humana abandonada á proprias forças. O
oncilio do \ aticano (1 70 ) lançou o anáthema contra
a opinião que pr t nd ri a que a razão não póde por si só
ou por m io da. r eatura 1 var- e ao conhecimento do
D u r ador. E' pre •i o poi reconh c r á razão
humana certo pod r no que ' do eu dominio, e admitti-
mo · que e ta r azã. inão individual, p elo menos colle-
ct iva aj uda la p l a luz do outr s, podia ·ch gar a
· n tituir uma r nça, uma moral, erta r 1igião natural.
2.° Por on O'uiute, a R velação não é neces aria d
nece s1·dade ab ol11ta ·ma n te entido relativo qu
D us i julgar bom na ua ab doria e bondade, elevar
o hom m a um fim br natural d ve á sua reatura

razão humana, diz mo n , ntr gu a


si pr pria , quasi sempr ' err u na v r dad capita s, at '
na mai ' 1 ru nta t ·, ·on o eu , o culto a alma, a moral
in li idual e ocial.

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86 D A k E V E L A Ç Ã O

l .º A respeito de D'e1UJS. - Exceptuand-0-se o povo


judaico depositario da R evelação primitiva, entre todas
as nações, mesmo as mais civilizadas, nos seculos antigos,
o verdadeiro Deus, foi, por toda a parte, esquecido, desco-
nhecido ; os povos se prostr aram aos p és dos idolos :
divinizaram a pedra, a madeira, os astr,os, as plantas, os
animaes, o homem. O crime e a volupia tiveram altares :
«Tudo, disse Bossuet, era deus, menos o proprio Deus. »
Sem duvida, alguns philo ophos rmais in.struidos, taec
corno Platão, Sócrates, Cícero, Sén eca, se tinham elevado
até o conhecimento de um Deu immaterial; comtudo
f ornavam parte nos actos de idolatria das multidões deli-
rante ou, pelo menos, não se atreviam a levantar a vóz
para condemnal-as.
2. 0 A respeito do culto. - Corresponde ao caracter
dos deuses: a devassidão e a embriaguez fazem parte d o
cult o de \ ênus e de Baccho ; o templo de Babylôuia
de Mêmphis, de Corintho, da Grecia e de Roma são o
theatro de homenagens inconcebíveis prestadas publica-
mente á divindade. Alhure , julga:Se fazer um acto
agradavel a D eus immolando victirrnas humanas, muitas
vezes as mai innocentes e as mais puras. E sses sacrifi-
cios fazem parte do culto official: os imperadores, os
philo ophos, os sabios ahi se acham de envolta com a
turba dos ignorante , as im como os historiadores da
antiguidade o contam sem pejo.
3. 0 A respeito da alrn.a. - A propria existencia da
alma é um facto muita vezes esquecido do povo e da
multidão. Si os philosophos della falam, é entremeando
·om idéas sublimes muitos erros sobre a sua natureza e
destinos. Os sabios da Grecia como o de Roma, têm
alg umas duvidas ·obre a immortalidade da alma; pelo
menos, custa-lhes acreditar nos castigos eternos da outra
vida e o ponderado Tácito não se atreve a cer tificar que.
a virt uo ·a alma de Agrícola . sobreviva em outra patria.

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SUA TJLlDADE E NJ'.CESSIDADE MORAL 87

4.0 A r speito dos deveres da moral individual e


social. - A moral ligando- e intimament ás crenças,
não é d admirar que o pagani mo, atl' nos eus mais
bellos . nlos, tenha re<>valado em torp ezas que a lingua
simple ment hone ta se r ecu a nomear. éneca e Cíc ro
P J'. io e Juv nal p ialm nte a c·o ntam m termos
a u. tadol' . · não s ' não cen uraram aqu lla. atro icla-
él . , ma~ íc ro ch1;1ma ,a qumo «phflosopha.r .» .
a antiguWad pagã a familia offer e o e.sp ctaculo
das m smas v rgonha.r:; : o pae tinha s br· o filhos direito
d vida de mort , e d 11 usava. O Tayget na Gr eia,
a ilha do Tibre em Roma eram o lu ar d abandono das
crian (}as fra a ou al ijada · dos velhos imr>restav js; a
mulher er a trat,acla como uma scrava que se abandonava
Regundo o capricho e, no imperio romano, foi preciso
r rorrcl' a 1 i. p iai -para onstranger a casam ento
o.<; membro do patriciado.
A soei dad dividia- e em dois campos: os hom ns
li vr R e os . ravos. E ste eram os mais numero os: m
Ath n as, cm certa 'po a, a pl'oporção ra d duz ntos
e. ravos por um hom m livr : em Roma, a s ravidão era
a condi ão dos doi ter os da população. Ahi , em um m z,
nos rombates dt> ladiadior , p er eram mais de trinta
mil R ravo.. O virtuoso Trajano não r ecuava diante
(!p~· as atr oridad es disso Plinio o J oven o feUcita (1) .
'T'a l ', m re umo, o espe tacu1o do que póde a razão
hum11na , guiad a p la philosophia, fóra da R velação . E
não s diga : « ão ostuim s antigos,» porque se encontram
m toda a parte ond não penetrou a verdadeira Reve-
laçãio. E vemos, no seio m mo das nações civilizada pelo
chri. tiani . mo, até on l h ega a razão humana quando
rej ita nsino r v lado : o atb eismo, o pantheismo, o

( 1) Robro estes p ontos, achnr·s ·Üo num erosos porm nores em Ni ol rrn :
/iJliid-. p/lüoaophiquea , t . J ,. n ; nin da mais m D ezobry; Rome <LU
si~c le d ' 11 uuusti.

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88 D A & E V E L A Ç Ã O

materialismo eis o seus dogmas: a immoralidade o


·aque, o incendio, a anarchia, tudo isso encoberto pelo
nome de socialismo e emfim o livre-pensamento: eis a
. ua moral e o seu culto!
56. - III. Apó es. es re ternunho da hu tória da
<"XI ri en ·ia, . erá para. admirar qu o mai abio philo o-
phos, tanto antigos como modernos, tenham appellado
para uma r velação e tenham p r oclamado a sua n ces-
s1:dadte?
· a Grecia, Só r a te dizia, segundo o u di cipulo
Platão: « ão esper eis nunca r ealizar o de ignio de
r efor mar os costume dos homens a não ser que praza a
Deus mandar-nos alg uem que nos instrua da ua parte
(1 ) .» - «E claro, pen,c:;ava P ytbágor , qu o bom m
deve fazer o que é agradavel a Deus, mas não lhe é
possivel conhe el-o sem que o tenha apprendid o de Deu
mesmo ( 2) .».
Em Roma, o pbilo opho éneca escr evia: <i:Longe
de descob rir a verdades ignoradas dos antigo , todo.
os dias as antigas v rd ades p erecem. Ah! quando me mo
a is o consagrariam o todo o nos. os esfor ço , não
chegariamo ·inão á b ira do aby mo em cuj o fund o
cond a verdade ( 3) .» - «Ü (mico meio d r econ titui r
a Y r c1aide r l i ,.io._a. li er a íc r o. ' voltar ao n ino
divino (4 ) .»
A philo opbia moderna não insistiu com menos força
·obr e a nece idade de uma revelação : «E r a neces aria
uma r evelação, diss Bacon ; a revelação é o por o o
lugar d e descanso de toda a contemplaçõe humanas :
o..;rm lla, bom m nem pu l era in ve-ntar um culto quP
fo~ · digno da livi nda l e ( ) .» - « J1ma v r dade qur

(1 ) Apoiou. 'ocrat is .
(2) J a mbliqu e, V ie d e PvthagoTe, XX.VIII.
(3) Qm:eatio 11atural, V II, 33.
(4 ) Tm cu/.a11aa, t. X II.
( 5) D e A.ugmPnt lw &cientiarum , IX .

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SUA UTILIDADE E NECESSIDADE MORAL 89

nunca devemos perder de vista, disse Bayle, philosopho


protestante do seculo xvn, é que o homem precisava de
uma r eligião revela:da que supprisse a neces idade da luz
philosophica. A razão accrescenta o mesmo autor, não
serve sinão para dar a conhecer ao homem quantas trevas
o rodeiam, quanta impotencia o domina .e quão necessaria
é t1ma rev lação ( 1) .»
Entre os nossos contemporaneos, Emílio Saisset
pergunta em que con iste pratica, historicamente, a r eli-
gião natural : «Feriu-a responde elle, uma infelicidade
. nmma ; ella não existe. E ' um ser imaginario e phan-
tastico ... Quando um eloquente escriptor do seculo xvm
J .-J. Rous eau, na sua Pr ofissão de f é do vigário saboiano,
pretendja escr ever o symbolo da religião natural, só pela
in. piração da consciencia, conseguiu escrevel-o, com
ffeito, ma dicta<lo por uma philosophia preparada pelo
rhri tiani ·mo ( 2 ) .»
«E ' necessario que o homem se e teie sobre uma
revelação, diz Frederico Bastiat, para estar verdadeira-
mrnte m om:rnun.i cação com Deus (3 ) .»
«Os pbilosophos, diz Tocq ueville, estão quasi sempre
cercados de incert ezas ; a cada passo a luz natural que os
::i lumia se ob ·urece e ameaça de se apagar, ie ainda não
descobrira m in ão um pequeno numer o de verdades
q_ntradictoria , no meio das quaes o espír ito humano
fluctua continuamente desde milhares de annos. O
prim eiro obj ecto e uma da principaes vantagens da R eli-
gião ' fo rnecer sobre cada uma destas que.stões primor-
diae uma solução nifrda precisa, intelligivel para a
multidão muito d ura.d ura (4 ).»
(1 ) D iction, cril.., urt. Ma nicheus.
(2) E ssa\ sur l<• P hüosophw et /.a ft eligWri
(8) Etudea sur B Mtiat, por M. B a u n ard .
(4 ) De la Dtmoc-ratie on Llmt rique, t, Ili , cap. VI .

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90 D A R E V E L A Ç Ã O

«Desd e a r evelação do Decalogo escreve por sua vez


Le Pl ay, o e. pirito humano não fez nenhuma descoberta
do nde tenha sahi,do 1uma corusequência útil (1) .»
De.<>ses testemunho , que se poderiam mult iplicar de
modo indefinido. concluamos que a Religião natural foi
sempr e insuffi ciente, e a pbilosophia séria, longe de
proclamar a impossibilidad da R evelação, della r eco-
nheceu a utilidade : no passado reclamava-a por ardentes
votos; e agora que a Revelação foi dada ao mundo, sauda-a
como o sol da verda,de e o unico meio de salvação.
~
,~
OI' ~
... .. • •

APITULO III
EXIST ENCIA D.A. REVELAÇÃO

o farto da R e vela \ iiO. - Divisão das m.aterias creste capitulo.

57. - E stamo de posse de um a religião que nos


ensina, além das verdades da ordem puramente natural.
' -e-rdade de uma ord m superior que a razão não poderia
d cobri r. Aos deveres da moral natural, accn~scenta
outros p r eceitos de uma moralidade mais alta, e um culto
mais excellente; é isto um facto. Ora, e te facto não póde
re ultar inão d uma manife.<>tação da verdade religiosa
por um meio superior á razão, isto é, p ela Revelação.
Mas esta Revelação não se faz de mod-0 r epentino :
os monumentos da historia e da tradição nos ensinam
que ella começou na origem ·do homem, continuou com
os seculos e foi completaJda pelo ensino divino trazido
ao mundo por J esus Christo e cham8do R evelação chrístã.
O conjuncto desta Revelação abrange pois o p eríodo
dos seculos decor ridos desde Adão até J 'esus Chr isto;
( 1) La Paür; sociale.

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D A R E V E L A Ç O P R r ~l 1 1' l V A 91

porém, tres épocas principae foram te temunhas desta


manife tação divina da verd~d religiosa: a origem do
mundo o tempo de Moy ' e o d•e Jesus Christo.
a r alidade, não houve tre revela ões differentes:
não D us não se 0ontradiz n m mocufica os eus en inos.
a verdade, não ' mai que uma 6 me ma revelação,
q ne e d nvolv u como uma planta; , eguntlo a com-
paração d Bo u t , a me ma luz divina qu s levantou
. obr o mundo om lentidão e ru aje tad como o dia que
p a. a p lo clar ões cada v z mais f-ulgnrant da aurora
a 11 tes de heO'ar ao r plendor do mei -dia .
.A sim, a Revelação apre enta tre phas distinctas
que vamo tudar uc es ivamente e se chamam : l. 0
~ Re elação 17rimtitiva ou patriarcal; 2. 0 a Revelação
m o aica ou judaica, commnnicada particularmente por
foy é ; e 3. 0 a Rev la ·ão ·hristã dada ao mund. pol'
J u hristo, a qual ficará immutavel até o fim dos
ulos.
ARTIGO I

Da Revelação printltiva.
I. Noções d sta Revelação: quanto ella abrange. - Provas da
sua xi t ncia, tiradas: l .0 da razão; 2. 0 da historia.

58. - l!}nt ndc- por R vew çifo primitiva a que foi


f ita a no. ROR prim iro. paes, em prim iro lugar, n
parai o ten e ~ re, e, em eguida, ao patriarca a seu
de · ·c-ndente, at ~ a épo a de Moy ' .
principae verdades qne foram objecto desta
ltevela ção primitiva são : 1. 0 a xistencia de Deus, ser
et rno, e 'piTitual ·e uni co; 2. 0 a creação do mundo e do
hom em, qu Deus cons rva e governa por sua Provi-
lencia; 3. 0 a exi teu eia da alma humana, substancia
ri:ipiritual, livr , immortal, distin ta do corpo, bem que

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92 D A R E V E L A Ç Ã 'o

lhe seja unida; 4. 0 o culto de D eus, e, em particular, a


~anctificação do setimo dia da semana pelo descanso; 5. 0
a existencia dos anjos e a distincção entre os bons anjos
e o máus anjos ou demonios; 6.0 a queda de nossos
J rimeiro pae · e o dogma da transmissão do peccado
original; 7.0 a promessa e a expectativa de um libertador
que devia reparar a queda; 8.0 emfim, a existencia de
ontea vida, feliz para os bons, infeliz para os máus.
59. - O facto desta Revelação primitiva é confir-
mado a nó chri tãos pelo primeiro dos nossos livros sagra-
do , o Gên ,sis, o livro mais antigo e mais authêntico que
Pxista como tarnbem o mais verdadeiro, mesmo pr escin-
diudo a inspiração divina. Provaremos mais adiante a
autoridade e o valor historico deste livro. Mas, além da
narração <lo GAne is, pod\,mru; offerece,r, como testemunho
do facfo da R evelação primitiva, duas provas tiradas,
uma da razão, outra da historia.
l .º 'Prova de razão. - Achamos por t oda a parte e
sempre, em toda as religiões antigas e modernas, a
crença nas verdades fundamentaes que lembr amos mais
acima. E sta crença poude mais ou menos ser alterada
no detalhes, mas fica identica quanto ao fundo . Ora,
partindo deste facto, fazemos este raciocínio muito simples
e ·oncludente. ,Pm· entre essas verdades, si algumas
pódem er descobertas e demonstradas pela razão humana,
como a exi tencia de Deus e da alma, ha outras que esca-
pam ao· entido. , as irn como ás investigações da razão,
tae são a existenc<ia dos anjo.· bons e máus, a noção do
de can o septenario, a promessa e a expectativa de um
libertador .etc... E stas são de urna ordem suprasensivel
ou sobrenatur al. Que espírito podia por si mesmo elevar-
se a esses c-0nhecimentos ? E' por tradição que os possuí-
mos, mas como é ,que os primeiros homens que os trans-
mittiram a nós, os puderam adquirir? «Estas cousas, diz
Platão, se apprendem f acil e perfeitamente si alguem

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IJ A l , V l!l L A Ç Ã O P 1' 1 M l •r 1 V A 3

nol-as en inar ; omtudo, ac r escenta elle, ninguem nol-as


en inará si Deu não indicar o ·aminbo (1) .» As verdades
le 1ue falamo · não no ch egam si não como obrevieram
áqu ell que no pr ederam, i to ' , por um nino divino
ou uma R ev la ão primitiva.

que
ao
qu e
(3).

pho.-, omo

(1 ) Platüo, Mv iJ< t ., t. lX. dns Obru .


(2) D o Mundo, liv . VI .
( 8) P híleu o.
(4 ) De L eoib ., li v. U , JO .

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94 D REVELAÇÃO

2. Pro va d historio. . - m facto historico univer-


sal, que .confirma e ta conclusão e prova a Revelação
primitiva, é que o monothesinio, ou crença num só D eus,
puro pírito criador do mundo, foi a r eligião do
primeiros tempo" e a lei natural em toda a sua pureza
precedeu a idolatria e a superstição. «Na origem, diz
Luciano, o E gypcios não tinham es tatuas nos templos.»
Heródoto affirma outro tanto dos Cario , dos Arcad ios,
dos Lydio · e do P ela cos. Varão diz que o Romanos,
durante mais de 170 annos, não tiv r am nenhuma imagem
dos deuses, e que os que introduziram a jmagem do
ídolos, tabel eceram um êrro antes ignoraido. Plutarco
confirma es.ses testemunhos. Os historiadores, dizem a
mesma cou a elo Celta e Germano . Emfim, a crermo
nos melhores documentos, o hinezes de de a sua
origem , até os tempo.· ele Confúcio ( vrº . écu lo antes ele
Chri ·to não fo r am idolatra .
Que d ve concluir de ·t e facto hi:torico? «Pare-
e-nos a proYa manife ta de que a verdaicle r ligiosa foi
originariamente revelada ao homem, d iz um philosopho;
porque, vi to como de todas a cousa · é a mais fóra do
seu alcamce teria sido ele coberta a ú1ti'ma e fo e o fructo
da ua invençõe e pesquizas; pelo meno ter ia augmen-
tado com o de envolvimento do e pirito humano . Mas,
tal não e deu e foi precisamente o contrario que aconte-
ceu . Foi no berço do mundo que a verdad-e brilhou no
maximo resplendor e, em seguida, os erro mais gro eiro
e mai in en atos vieram encobril-a, exactamente á medida
qu o o·enero humano de. cobria as artes as letras e as
e enriquecia com as proprias invenções (1 ) .»
E ' assim qu e os testemunho da hi toria e juntam
ao ensinos do philosophos e confirmam a narrativa
·agrada do Gene is obr e o facto da Revelação primiti va.
(1) Nicola ,, Eludes philos ophiques, t. I, p , 236 .

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D A R E V E L A Ç Ã O P R l M I T l V A 95

ARTIGO II

Da Revelação mos aica ou judaica.


oção geral. - ubd ivisã.o deste a rtigo.

60. - A luze da R v lação priootiva iam-. e e ur -


cendo cada ' ez mai no espirito humano. O proprio povo
judaico, depo itario da verdade r ligio. a ao ontacto om
as naçõe infiei , p erdia as pura noçõ que r·ecebera d
Deu . Interveiu então a Provi dencia do mofo mai
notavel e erviu-se de Moy ' para manife tar ao mundo.
pela egunda vez a verdad acer a de D u , da alma.
da moral e do culto. «Deus, diz os uet, r e:olveu es re' er
na pedra o que o hom em não lia mai. em en proprio
coração. » E colheu p ois a Moys' não somente para
transmittir ta 1 i e escrevel-a nos livr o ' da nação ma
ainda para xplical-a commental-a m eu nome. Mai.
tarde, d poi de Moy. ' , commun icou o ·eu e pir ito a
outro e criptores agrado a h omen chamado
priopheta que não e limitaram a con ·en ar iutacta a
r evelações feitas ao grand legislador do8 H ebr n
a.inda a completaram por eu propri o: n ino at' a
vin da do Messia que lhe devia r matar a perfei ão.
A R ev lação nios.Q/Íca ou j1tdaica abrang poi o ·
tempo decorrido desde Moy é até J st hri . to (1705
ante. de J . . at' a er a cbristã.)
E' um facto atte. ta.do pela Biblia, u Ant1'g o T e ta -
1h ento . em duvida a hi toria profana vem confirmar
este ensino de D eu a u povo; em duvida tamb em o
me mo u ino é omprovado pela in titoiçõe. pelo
monumentos da n ação judaica, e pela prop ria xi t encia
« d ~ te p ovo que cinco mil anuo , diz J .-J. Rouss au, não
pud ram c1 truir n em alterar , que r : i tiu e re i t e ao
L mp , á for una e ao conqui tador e. ;» mas é pre i o
r econh ' l-o, é pela m ma Biblia, e p cialm nt pelos

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96 D A R E V E L ç Ã o

livros de Moysés, que conhecemos os pormenores, as


cir cumstancias e as provas authenticas da eguncla Reve-
lação. Por isso, mai adiant , teremos que demo trar a
autoridade historica elo Pentateuco : todavia, p ar ece-nos
melhor eluci dar esta que tão só quando tratarmos da
divinda de da R evelação rnosaica.
Aqui, limitar-n os-emos simplesmente a dar a conhecer
os l/ivros sagrados do Antigo Te tamento, que contêm a
Revelação judaica. - Depois, daremos um resumo dos
ponto principaes que são ob jecto desta R evelação.
~ I. - Livros do Antigo Testamento.
I . Livros de Moysés. - II. Outros liVTos historicos. - III.
Livros de moral. - IV. Livros poeticos. - V. L ivros propheticos.

61. - I. No Antigo Testamento, collocam-se m


primeiro lugar os cinco livTOs compo. tos por Moysés
(1705-1585 ante de J . C. ) e designados p elo nome de
P entat euco.
Dois desses livros ão hi toricos; os outro. tres dizem
respeito ao c1iUo e á rnoral. Eil-os na ordem em que ão
dados pela Bíblia:
1. 0 O Gênesis. - E' a hi tória da cr iação, do dilúvio
e do patriarchas; estende-se de de a origem do homem
até a morte de José no E gypto (1770 antes de Chri to ) ,
e encerra, deste modo, um per íodo de cerca de 2400 annos.
2. 0 O ~xo do . - E' a narrativa da sabida do Eo-ypto
e da e tada do povo hebraico no deserto, até a promul-
gação ela Lei no Sinai ( 1625 antes de Chri to ).
3. 0 O L evitico. - Este livro trata especialmente do
c:ulto; é como que o Ritual da religião judaica, e contem
as cer emonias r eligio as prescripta ao povo de D eus, os
d·everes dos acerdotes e levitas, a descripção do Taber -
naculo, etc.
4. 0 O livro dos Numeras. - Ielle acha-se a enume-
ração dos Israelitas na sua sabida do Egypto e o seu

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D A. R E V E L A. Á O P R I M I T I V A. 97

por

ontinua-
Ma.cha-

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98 D A R E V E L A Ç Ã O

beus contra o reis <l·a Syri'a, para a defesa e liberdade


do povo judaico (167-1H30 antes de Christo ).
Afinal, quatro livros de pouca extensão, escriptos
em épocas auferente. ' são como a relação de quatro
episodios notavei da longa historia do povo de Deu; "
ão os livro de Riith a l\foabi ta (cer ca de 1560 antes de
Christo) ; de J ii,clith, a libertadora de Bethulia ( 658 antes
de hristo ) ; d e Tobias, h erói do capt iveiro de mJVe
(720 antes de Christo) e de Esthe1·, que pre ervou a ua
nação da ruina ( 470 antes de Christo ).
63. - III. O Antigo Te tam nto contém quatro
livros de moral, que são antes collecções de entenças do
que t r atado seguido . São:
1.0 O livro dos Prov érbios,, attribuído a Salomão :
e. pecie de aphor ismos e lições instructivas exprimidas
de modo conci o, e r eferindo-se ao procedimento do
homens.
2.0 O liv1'0 da abedoria cujo autor é de conhecido .
E ' um elogio da verdadeira sabedoria : o e criptor sagrado
refere a origem de sa sobedoria, descr eve os d everes que
impõe e a recompen. as que ha de receber.
3. 0 O E cclesiastes, attribuido a Salomão é uma ]e -
crip'}ão da vaidades do mundo, das quae mostra o nada:
V anitas vanitatiim !
4. 0 O E cclesiastico, que se julga er obra de um
J e us, filho de Sirach, contem, como os Proverbias, regra
de sabedoria e maxima de moral.
64. - IV. 1 o Antigo Testamento, há livros poéticos,
verdadeiro cantos lyricos, escriptos num e tylo rytbmado.
São em numero de tres :
1.º J ob, poema notavel, o mai antigo monumento ela
poe ia hebraica, em que vem contada a hi tor ia do celebre
patriarcha da Iduméa, modelo de soffrimento e re ignaçã
(cerca de 1 00 ante. de Chri to ) .

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D.\ REVELA *o MO AI A ou JUDAr A 9

2.0 O P a.l?nos ão ode r eligio a , em numero de


oonto e cin oenta 11a maior parte ompo. ta por Davi,cl
algumas por alomão. O P almo são cantos á gloria
de Deu : un narram em e tylo lyr ico a obras do seu
poder ou os grande, facto da hi toria judaica; o outro
ão uma descripção prophetica do reino do Mes ia , da
conv r são do · Gentio , te. (J.040-1001 ante de hri to ) .
3. 0 O antico dos antú:,o , obra de alomão, é uma
pecie de epithalamio 011 canto nupcial: ob véu. alle o
r ico , o poeta enaltece a união de Deus com seu povo,
pr esagio da uniã de J e u hri to com a Igreja.
64-a. - \ . Afinal, o Antigo Te tamento contém
predicçõe feita ao r eiuo de I rael e de Judá por
hom n inspirado , chamados Prophetas.
Acham- e dissemin ado num per íodo de 400 anno
(de 830 a 450 antes de 'hri to ). Alimentam as esperança.
na nação, o tentando, cada um por ua vez, algun traços
da phy ionomia do l\fo ia annuncia:do. Em seguida,
predizem o ca tigo e a maldiçõe que cahirão obre o
povo de Deu e obre a nações vizinhas. - Contam-se
quatro grande propheta e doze pequenos; esta deno-
mina ção veiu da maior ou menor extensão dos e cripto
dei.xado por elles. Os o-randes Phophetas ão :
1.0 I saias (758-720 ante de Je us Christ-o). Annuncia
as de graça que ameaçam o Judeus, Babylonia e as
nações vizinhas. A i o accr e e nta esperança e conso-
lé),ções para o povo de Deu , o edícto de Cyro para o :fim
do captiveiro; comtudo, prophehza particularmente o
nascimento de J e us hri to, ua vida, eus milagres, eus
·offrimentos, ua morte e seu r einado glorioso.
2. 0 J er rnias ( 627 -5 6 antes de hristo ). Seu livro é
dividido em duas par tes: uma, ·p rophetica, contem o
annuncio do captiveiro de Babylonia, a volta para J eru-
. além, depoi de setenta annos; a vinda do Me sia , sua
morte, etc. A outra, elegiaca, é uma queixa lugubre

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100 D A R E V E L A Ç l O

so bre as ruínas de J ernsalém ; é conhecida pelo nome de


Lamentações. Ao livro de Jeremias, se junta o de Baruch
que era o seu ecr etario, e fez tambem algumas prophecias.
3. 0 E zechiel (595-570 antes de hristo). Escr eveu
. uas prophecias durante o captiveiro de Babylonia, para
consolar seus compatriotas : grandes visões fazendo
prever a ruin a das nações inimigas, a resurreição do povo
judaico, a rnconstrucção do templo, a gloria futura e o
r einado eterno do Messias; tal é o conteúdo do livro de
Ezechiel.
4. 0 Daniel ( 606-536 antes d e Christo) . Escr eveu
tambem durante o captiveiro. Seu livro tem uma parte
hi torica e outra proplletica. Descr eveu a successão dos
quatro gr ande imp erios qu e devem preparar o caminho
ao r einado do Messias e desapparecer primeiro.
Citar emos apenas os nomes dos doze peqiienos p1'o-
pheta , na or dem pela qual ão dados na Bíblia, bem que
não sej a absolutamente a ordem chronologica: Oséas
(805-725 antes· de Christo ); - J oel, (770-700 ); - Amos
(775-700 ) ;-Abdias (794-776 ) ;- J on~is (880-800); -
M.icheas (750- ?); - N ahum (720-690 ) ; - Habacuc
(680-660 ) ; - Sophronias (640-630 ) ; - Aggeu (521-? );
- Z acharias (518-513); - Malachias (450-?).
Ao todo, o Antigo 'I'e tamento encerra quarenta e
t:inco 1ivr os, todos r econh ecidos authenti.cos pela Igrej a.

~ II. - Objec to da Revelação mosaica o u judaica.


I. Conservação do dogma. - II. Confinna0o aperfeiçoa -
mento do moral . - III. Annuncio prophetico do Messias.

65. - Póde-se dizer que a Revelação mosaica ou


judaica tem um triplo obj ecto: 1. 0 a conservação não só
das verdades naturae , como tambem dos dogmas da Re-
velação primitiva; 2. 0 a confirmação e tambem o aperfei-
çoamento da moral natural ; 3. 0 de modo especial, o

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OBJE TO DA REVELA ÃO JUDA I A JOl

annuncio proph{'tico do Me ia , com a de: ripção de sua


vida, suas obra e s u r inado.
66. - I. A r p. it lo dogrna ou da crença, impor-
tava precaver contra o erro da naçõe idolatras, o povo
d tinado a on ervar intacto o d po ito da verdade r eli-
gio a. Por i so, a R v lação mo~ai a insi te obre e tas
v rdades fundamenta d qualqu r religião: D us é o
r unico creador · ' pur e pirito portanto, não se
dev rá r pr sentar m culptura . ob ymbolo alo-um,
por medo de que o pov ahi a na iclolatria; ' o grande
legi lador da nação, uni o r ei ver :ladeiro, o juiz vinga-
dor r munerador o· undo a. pr vari açõ . ou a fid -
lidade do povo. - Moys's on. ena intacta a verdadeira
noção da alma; 1 mbra a ua rigem di tingue-a do
corpo; é e piritual : ' nm opro emanado de Deu ; é
immortal, creada em t -rmo na duração, chamada a
terna r omp n a ameaçada c m terno ca tigo i
fiz er um abu o culpado d . ua Jiberdad . S m duvida,
povo judai o, material gr eiro ra particu larment
s nsivel á b nçam da terra; ma o abio 1 gi lador
l mbra-lh , muita veze a alegria~ e as penas futuras
da utra vida.
O culto judaico ori ginou- e de a pura cr n as:
D us não qu r a hom nag n idolatri a que se encon-
tram entr todo o povo vizinhos dos Hebreu . Sem
dqvida I rael terá os eu acrificio sangr nto , vi timas
immola las sobre o altar do 'l'abernaculo, e mais tarde no
templo d J eru ·a]' m · mru: o sacrifício judaico não é
rnai do qu uma imaO' m e figura -mblematica de um
O'randc acrificio, que, um dia ba de r <>"atar o mundo;
todo os pormenores foram indicados por D us me mo,
muito ant s que a realidad . ucc de se ás figuras .
2. 0 Quanto á rnoral, a revelação mo aica, principal-
1u ·nte no Deute1·onornio, completa e aperfeiçôa a lei
gravada na nral.m nt no coração do hom m. Compa-

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102 D A R E V E L A Ç Ã O

rem-se toda as legislações antigas de Athenas, E spar ta


e Roma com os simple preceitos do Decálogo, e ver-se-á
a superioridade moral de que o povo judaico foi devedor
á ua Revelação. Ponham-se em parallelo o en in o. dos
philo opho antigos com o commentario da lei judaica
escripto por foys' e com as sentenças proverbiaes dos
escriptor es saO'rado e julgar-se-á do progre so moral
trazido pela segunda Revelação. Ao lado das leis geraes,
acham-se prescripções particulares r egulando detalhada-
mente a vida individual e social: a injustiça, a preguiça,
a impureza e todo os vicios são ahi infamados e forre-
teado ; a igualdade dos es'Posos, a <indissolubilidade do
casamento, a f;Olicitude pelos filhos são as base consti-
tutivas da fami lia.
Como socie,dade Israel acha na sua lei regras de
con<lucta para com o povo. vizinhos, prohibição· severa
da escravidão; o extrangeiros, os mercenarios, os criados,
o. pobre e .tão collocados ao abrigo de leis protectora :
em ·umma. é o christiani mo em preparação e como que
esboçado.
3.º Um elos mais importantes objectos da R evelação
mo aica ' o a1V1iit,ncio do Messias. F eita em primeiro
lugar a nosso. primeiros ·paes, e muita veze. reno-
vada aos patriarcha a promes a de um libertador era.
por a im dizer, a base de toda a religião judaica. Moysé.
fôra a figura viva deste libertador e perado; ma , ao
morr·er, annunciava um Proph eta mafor do que elk A
lei, o · acrificio . a fe tas, são delle o presagio e a prepa-
ração . David e todos os Prophetas virão, l or sua Tez
fortalecer a expectativa e conservar a peranças da
nação judaica . No meio de outras predicçõe relativas
á patria acha- e, por to da a parte a idéa dominante do
Messias futuro : ua vida até nos menore incideutes ua
paixão, sua morte, ·ua resurrei ção, u e 'tabelecimento de
seu im1 ri o immortal ·obre a.· ruina · lo judaísmo

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D .! lllt Vlt L .\ _:\O C B . J 103

r jeitado, tudo ahi vem d - · o, arumnciado com uma


pre isão nota•el : de tal modo qu podem ~ dizer com um
grande aen:io do IT> seculo rtnliano qu a Jei judaica
n ão ó presaaiava o isto, ma o ]ev~rrn p or assim dizer
n o ·o: l ;r gra ·ida ri to.

ARTIGO m

ldéa geral - ar ·o.

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104 D A R E V E L A Ç Ã O

incontestavel, mais re ~ pland ecente do que o sol: a exis-


t encia do christianismo. E' o maior · acontecimento do
genero humano: quarenta seculos o prepararam e já
dezenove séoulos entem o seu influxo e beneficiam do
·seus fructo .
Assim como fizemos para a Revelação mo aica,
vamos indicar os Livros sagrados que contêm a Revelação
christã, e, em seguida, daremos um resumo dos principaes
ensinos contidos · nelles.

~ I. - Livros do Novo Testame nto.


I. Os quatro Evangelhos. - II. O livro dos Actos dos Aposto-
los. - III. As diversns Epistolas. - IV. O Apocalypse.

68. - O Novo T estam ento comprehende quatro


E vangelhos, um livro intitulado Actos dos Apo tolos,
vinte e uma E pistolas ou cartas do Apostolo , e uma
prophe ia de ão João, conhe ·ida pelo nome de Apoca-
lypse: ao todo, vinte e ete livros r econhecidos como
authentico pela I greja.
I. O E v ang elhos ão a nalTativa da vida de No o
Senhor e o r e umo dos seus principaes en ino . ão em
numero <le quatro :
1.0 O Evangelho egundo são M athim1,s (e crip to mai
ou menos no anno de 42 de J .-C. ), p elo apo tolo d t
nome. Elle o compoz para os Jud eus, na língua p or 11
então falada, o yro -chaldaico, mi t ura de h br aico,
syriaco e chaldaico. O seu livro foi logo traduzido m
gr go, quer p elo autor me mo, quer por alguem qu
trabalh ou ob a suas ordens. Vê-se que é obra de um
Judeu, amante de eu paiz, conh c dor de ua r eligião,
e e. crev endo para concidadãos que querem achar n a vida
do Salvador a realização das antigas prophecia .
2. 0 O Evangelho de ão Marcos (e cripto pr ova el-
ment no anno de 4- de J . .). ão Mar o era discípulo

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D a R E V E G A Ç 1 O HRIS'l'Ã 105

de são Pedro; não conhec rape soalmente a Jesus Christo,


mas ligára- e a ão Pedro de que era o secretario ou o
interpret . Acompanhou-o na ua viagens, l'ecolheu a
narrativa do apo tolo, e compoz o seu Evangelho em
lingua gr ga a p dido do Romanos dos quae muitos
falavam te idioma. ão Marcos foi o primeiro bispo de
Ue -and ria. O eu Evangelho foi approvado por são
Pedro; à ordem hi torica não foi e crupulosamente con-
·errnda por lle: pócle--a notar ahi um plano antes orato-
r i.o e apolog ti o; o autor upprime certo pormenore ·
absolutamente judaico , ac r eJ centa outros factos mila-
gro o omittido por são Matheus; a claridade e a brevi-
dade ão o caracter particular de te Evangelho.
3. 0 O Evangelho de são Lucas, apparecido entre o
annos de 70 e O de J. O. O seu autor, pagão de origem,
não conh·ecera Jo o enhor. onvertido por ão Paulo,
tornou- e o ompanheiro fiel das suas viagens, viveu
numa grande intimidade com o Apo tolo e com a
antis ima irgem e recolheu as tradições delle ·. São
Lucas ompl ta muita vezes são Math us e ão Marcos
sobre a infancia de J e us, a suas pregaçõe , as suas
admir a veis parabolas; dir-se-ia que pretende particular-
mente dar mais a conhecer o seu coração e a sua divina
caridade. São Lucas era medico, pintor, poeta: o seu
Evangelho r flecte o artista no stylo e n de cripções:
foi e~ cripto para o Grego de que o autor falava admi-
rav elment a lingua .
..
4. 0 O evang lho de são J oão, foi composto por este
apostolo no fim do 1.0 seculo. Emquanto os outro.
Evang li ta redigiram a hb;toria do alvador numa
ordem qu t m muito traços de semelhança, e fez dar
aos seus escriptos o nome de E vangelhos syr1Jopticos, são
J oão tem outro methodo, como tinha outro fim . E ' que
começa varo a urgir as primeiras here ias atacando a
divi dade do Salvador. Querendo combater aquelles

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10(\ D A R F. V E L A Ç Ã 0

rro ·, ão .João app lica-. e a tornar J esu hristo ma is


conh ecido: mostr a-o na na natureza humana, admira-
velmente ama nte; porém, estabelece e pecialmente a sua
di' inda de com o auxilio de facto e di cur o não rela -
tado por . eus prede e sor ; o stylo reflecte o pensa-
mento do a utor : J)ell e apparecem o ardor e a ca ridade.
69. - ] l . O Novo T eNtamento pro egu e com a narra-
tiva dos Actos dos .d._postolos1. E ste livro é tambem da
lavra de . ão Luca que o escrev u em Roma , mai · ou
me nos no auno 64 de J. . Contém a historia dos p rimei-
r os annos da Jo- reja, H narração das viagens e dos
trabalho · dos \_postolos, particularmente de ão Paulo, e
a aba com a chegada deste apostolo a Roma, onde havia
d ser julaado e degolado doi anno mais tarde, n o
m mo dia em qu eri a upphciado ão P edro (67 depois
de J . C. ) .
70. - J 11 . As E pístolas são Cart as escri ptas pelos
Apó.·tolo , e dirigidas que r ás christandades por elle
fundada. , qu er a particulare : alguma · têm o nome de
epi tolas catholicas e sã destinada a todos os fi eis do
mllndo. São a expli ação e o cornmentario do Evangelho,
e liam -se na a ·embléa uo chri tãos par a a instrucção
l .·t es. Conta m- e :
Q11-atorz episfolas de são Paulo: são as mais impor-
tante" quer como extensão, quer como doutrina. Uma
é dirigida .aos Roman oo ; dtrns a~ orinthios; urna aos
Gálatas; uma aos Ephé. io ; uma ao Philipp en es · uma
ao ' ol " en . es; dual:> aos 'rhessalonicenses; dua a
Timótheu, bispo de Eph e o; mna a Tito, bispo de Cr eta,
urna a Phi lemão, e a ultima aos H eb r eu . Essas diver sas
epi to las foram escripta do anno 52 ao anno 66 de J .
Uma pútola d são ']_'Mago, apostolo · é dirigida á
ca tho licida<le.

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D A R E V E L A Ç Ã 0 H R l T Ã 107

Duas pi.stola.s d.e são Pedno : uma do anno de 4-


out r a de 6-6 ão destina,da ao mundo catholi o como
convinhll parti ularmente ao primeiro papa.
Tr s pi.stola.s de ã.o J oã-0 : uma para a ompanhar
o eu E vangelho e as outra dua man dada a part icula-
r a El cta, mãe hri tã. e a aio di ipulo do apo tolo.
ma p f tola at hól ic-0 d 'ão J1ida
fé e á caridade, f e ha a er ie da ar ta ap
71. - I . Emfim o NoYo T e tamento e mpl ta
om A po aI-yp~ ou r evelação d ão J oão. E ' a n arra·
tiva das vi õe qu te ap o t olo t ve na ilha d P athmo
para ond o exi lál'a D omiciano. E e livro com a p r
exhort açõ con elh á ~ete principa ~ iar ej a d
mundo chri ã o · em eguida. debaixo d :mbol alleg ' -
ri o , ão J oão ,. e prophet iza o acon ecimen t ~ qu
dev m a ian ala r a h:i to ria da I a reja n a ~ ia di Yer
ida de e m ultimo luaar. o im do mundo. A p o alyp ·e
foi ~ r ip to n o an n o 94. de J . cara c er all gór ico
proph etico d te liY r o orna mu i o · ·cil a sua in er-
pr tação.

~ I I. - Obj ecto da R e ,- la ção ch ris tã.


P rincipae ensin o- rela ti>o : 1. 0 ao dogma : 2.0 á moral. 3. 0
ao cult o.

,..,2. - ..

(· 1a

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108 D A & E V E L A Ç Ã O

de Deus a sua natureza, as suas perfeições e a existencia


da alma simples, espiritual, livre e immortal, já tinham
ido promulgadas muito olemnemente pela Revelação
primitiva ao depois esclarecidas e aperfeiçoadas pela
Revelação mo aica. Mas é particularmente á Revelação
christã que somo devedore , sobre estes pontos, de noções
mais prechhS, e de modo todo especial sobre Deus, a vida
futura, a r e urreição do corpos, a natureza e eternidade
• elas p enas e ela r ecompen as.
Depois de restaurar a r eligião natmal om suas
crenças, J esus Christo funda obre esta base uma dou trina
sobrenatural que tem por dogmas principaes : o my terio
da anti sima 'l'ríndade, ou das tres pessôas em um Deus
unico; o da Incarnação do Filho de Deus, que corresponde
á expectativa universal e vem a ser o nó e como o centr o
da nova religião; o la Redempção do mundo pelo offri-
m nto e p ela morte d J esus Christo; depois a Igreja,
com a sua infallivel autoridade e a missão de continuar
até o fim dos tempos a obra do Chri to, pela communi-
cação da graça, pela remi são dos peccados, p elos Sacr a-
mento em geral, e em particular pela Euchar · t ia. Cada
uma de a p alavras ~mcerra uma no,v idade divina, cria
uma ord em nova de crença e de vida. Desde dezoito
eculos, a razão huma,n a discute sobre e tas verdades:
póde achal-as demasiadamente sublimes p ara a sua pre-
ten ão orgulho a, porém não ch ega a derrubal-as e não
acha nada de melhor a dizer . O" mais bellos genios
inclinam-se diante da perfeição e da sublimidade desses
ens;nos.
2. 0 A Jiornl evangelica tomou por b· ·e a moral
natural já apgrfeiçoada pela Revelação mo aica, e a
elevou ao mais alto gráu de p erfei.ão e de pureza que seja
pos ivel alcançar. Ao egoi mo que é o f undo da natur:eza
humana e de toda a moral pagã, o E vangelho substitue
como baise ia r eligião nova o desprendirnento, isto é, o

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~
R E V E L A Ç Ã O Q H R ! S TÃ L09

espirito d pobreza e d acrili io · m eauida quando


o coração tem d pojado d i me mo dá-llie como
a liment o que nenhuma religião antiga onb ia : o arnor
d D u. o arnor do proxirno. 1 i d Mo é mandavp,
temer a D us a de J u~ bri to ord na amal-o como
a um pa : é o primeiro pre ito · d pois pr cr v não
d pr-ezar o l obr e não opprimir o fra mas amal-o
orno a um igual, ante como a um irmão: ' o egundo
prec ito. Ei ·obre que ba erá fundada a o iedad
chri tã.
Quanto á moral indi' idual, não é ba tante prohibir-
no ' o acto r preh n iv l a l i chr · tã va mai longe;
de e até o mai intimo da · usei n ia probibe me mo
o de ej o ou o p n amento do mal. Afinal, para os que
não qu r-em cont ntar- e com v r tri t mas entem
d-entro de i aspiraçõ para uma p erf i ão maior, o
Evana lho tem onselho qu r umem na pob1 za
voluntaria na ob d· ncia inteira, na castidad levada
até o heroi mo; é o fundamento da vida religio a
p rfeita.
3. 0 O Ciilto inaugurado p la Revelação hristã é
dio·no elo eu dogma tão ublime e da ua moral tão pura.
E' o culto «em ~ pirito -e v rela le,» qu ub titue as
ho menag n imp rfeitas e gro ~ eira do r agan· mo e até
o acrificio já purificado da religião judaica; culto
qne não ' mai limitado a um templo unico, nem a um
·, ó povo. ma que se deve e tend r ao univ r o inteiro e
durar até o fim dos seculos; culto e encialmente interior
e ocial, que acha a sua grande e principal expre ão no
·acrificio eucharistico ou na Missa, renovação e conti-
nuação do acrificio offerecido ,sobre a cruz de Jesus
Chrdo e dotado do m mos effeito . Em vi ta deste
sacrifi cio perfeito a R evelação chri tã abre novos
templos, e tabelece um acerdo ·io novo, inst.itue novas

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110 D A R E V E L A Ç Ã O

solennidades em que o espírito, o cora ção e a alma acham


a um tempo luz, força e sant idade.
Portanto, temo razão para dizer que sob todos os
pontos de vista, a R velação christã é o aperfei(}oamento
da r eligião natural e elas Revelações pri:rnitiva e mo aica.
Iremos mais longe e concluírem pela divindade desta
Revelação. Mas ante -, é preciso e tudarmo o m ios de
d&monstração que no hão de conduzir a e ta conclusão
rigorosa.

APITULO IV

IEIOS DE DEMON TRAÇÁ.O PROPRTO PARA D! TING TR


U~fA. REVELA ÃO DIVINA .

Estad preci o da questão. - Di1risão d ste apitulo.

73. - A Revelação, acto muito po ível a D u , muito


acc itavel da parte do homem moralment n e rio m
nosso estado d natureza limitada e decahida tornou e
um facto; teve lugar, pela prim ira v z no m mo berço
do mundo; mai tard , m favor do povo hebraico p lo
intermedio de Moys' do prophetas e, emfim , numa
derradeira manife taçã f ita ao mundo por .J u
hristo.
Ma ta Rev la ·ão uc . iva uma no u onjun to,
erá um facto não ó compr ovado, ma ainda um facto
divino? S rá obra c1 Deu u não pa ará d uma obra
humana, d um embuste d uma men ira Y Em outro
termo a no a ReliO'ião revelada . rá r alm nte d'i ina?
Questão capital que é preciso re olver aO'ora.
i Deu falou realmente á humanidad d v t r -no
dado meio de v rifi ·ar a ua interven1>ã a ·ua palavra
por lfleio de igna incont tav i" o <l \'e tau to -IDa·
qu , na 'poca de M ysés e prin ipalm n de J u

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as
a
.·e l' o-
n li c·
1

por i ~"3 m smo qu e :ã rn ais mail)


e· 11 111 lr nl rs fnn m1 n objC'ct-O d alnqu >s ma is (' 11 '<Hllint ·
1

l s pelft impi r dacl<' d sre ul o x vrrr e ra •ionali srn o ontern -


pornn o. linp rtn, por ·ons uilll <', tu lal- · m uma
a Ll <' t1 çfi.o tanto lll ll io·r q nc sü , pol' onl ra parL ., os m ·ios
d Cl >mo·11 slr cição dn. di vinda 1 d 11ma rev la ão. N t•
N~pit ulo , ·onsag- rnr m :-; 1.0 ar Li "º á proph
ao milagre, cl antl · br um on r id · s fa
un111 11 ·ü (','Hei.a , e l'n z n 1
a ~li Ili I' O l' y ll d ('1111 O ll Htrn 1j Vil:t.

n:rrn 1

1. 'oçiio ln propli i i~. l l. 11 u. possibilidndo. - 1l r. ondi·


~-•s HS rH'in d umn vo rd nd irn pro~ lt in. - [ . un for~a
probtlllll' • dcmo11 st.rn ti vn . - · . ~ o l11 <(ito du s olJj ções.

74. - l.
' l'ta d um Cn (,o fnLnr , qu ni't
1 las •am n A na u r a s». Disting nirn
dn simpl s n jl' ·lura ou da pr vi Rü

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112 D A R E V E L A Ç Ã O

ou no conhecimento de certas causas physica de que se


podem prever ·os effeitos. O astronomo, o medico, o
homem político prevêm, cada um na sua esphera, factos
que se realizarão no futuro: não prophetizam, porque
não ha nisso cousa que exceda ou o instin cto natural ou
a sciencia e a experiencia do homem. Mas si um homem,
sem nenhuma deducção, por intuição, vê e prediz factos
resultantes de determinações livres de Deus ou da von-
tade humana, factos absolutamente contingentes, sem
causa conhecida, é certo que esse homem fará uma
prophecia propriamente dita. E' manifesto, por outra
parte, que emelhante conhecimento não é naturalmente
possível ao homem e não póde vir sinão. de Deus.
Agora, temos que estabelecer que 'ª prophecia, assim
definida, f> possivel, e que reunindo as condições deter-
minadas, é um testemiinho concludente a favor da divin-
clade de uma Religião.
75. - II. Possibilidade da prophecia. - Em primeiro
lugar, será a prophecia possível a Deus? Sim, com evi-
dencia, D eu.s, com effeito, é o Ser infinito, eterno, immu-
tavel; por conseguinte, é preciso admittir que conhece
t udo, vê tudo: o passado, o presente e o futuro ou antes,
como di semos falando dos seus attributos, o que nelle
(.:hamamo a prescicncia, não é mais do que a sciencia
perfeita de tudo; para elle, não ha futuro nem passado ;
tudo se move num presente luminoso. P ortanto, D us
sabe, desde toda a eternidade, o que deve acontecer na
creação · quer isto se dê por virtude da sua propria von-
tade, em execução das leis que estabeleceu, quer pelo facto
da vontade livre do homem, tudo o que ha de ser , Deus o
sabe e o póde predizer.
Mas a prophecia possível a Deus, será tambem possí-
vel ao hom em~ Não é possível ao homem entregue ás
uas luzes naturaes e a seu proprio poder. Mas si aprouver
a Deus reYelar á intell igencia humana o conhecimento

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MEIOS DE DEMONS'.rR.AÇ'ÃO P 0PHEC1.A 113

que elle tem do futuro, não ha nada que lhe possa


impedir; e Deus póde igualmente dar ao homem favore -
cido desse conhecimento a missão de o predizer e annun-
ciar. Dêste modo, a prophecia erá po 1vel a,o homem
como o era a Deus. Deus .é certamente livre de commu-
nicar ao homem a sciencia que e te não tinha natural-
mente. Por que meios o ha de fazer? Por aquelles que
fôrem escolhidos por sua sabedoria; quer illumine direc-
tamente a intelligência, quer actue sobre a imaginação,
quer impressione os sentidos, dará a conhecer o que sabe,
e o homem poderá prophetizar.
Eis o que no diz a razão, e é tambem o que os povos
acreditaram. Com effeito, todos tiveram os seus oraculos
propheticos. ão é somente entre o povo judaico e o
povo chri tão que achamos esta crença na prophecia. São
conh ecidos os famo os oraculos da Grecia, os de J upiter
em Dodona e de Apollo em D elphos. Roma teve os seus
adivinho e foram conservados por muito tempo os
oraculos das Sibyllas, e em particular os da Sibylla de
Cumes, lembrados por Virgilio.
Ultima Cumcei v enit jcvrn carrninis cetas ...
E ntre todos os povos antigos, consultavam-se o vôo
das aves, o cur o dos astro , as entranhas das victimas :
certamente aqueHas pr edicções não tinham o verdadeiro
caracter prophetico; por,ém, o mundo inteiro acreditou
na prophecia: portanto, ella é possível. Enumeremos
"agora:
76. - III. As condições essenciais á verdadeira pro-
phecia,. - Para ser verdadeiramente divina e constituir
uma força probante a favor de uma religião, a prophecia
deve reunir quatro condições :
1.0 Deve ser anterior ao acontecim ento por ella
annunciado: decorre isto da natureza da prophecia e
resulta da sua definição. Ora, póde-se verificar a authen-

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114 D R E V E ~ A Ç Ã O

tici<lade de uma prophecia e a , ua anter ioridade, como se


verifi ·a um facto hi tori<!o, pelos monumentos pelos
te temunho t radicionaes, pelos escriptos que dão prova
da sua antiguidade e da ua existencia real antes dos
acontecim nto preditos.
2. 0 Deve ser clarn · isto é, d ignar antecipadamente
o aco ntecimento de modo suJificientemente nítido e
preciso para que a ·ua applicação não eja arb itraria,
mas facil de r econhecer .
3. 0 Deve er li tt eralmen.te cumprida, porque é o
cumprimeruto exacto e preciJ o da predicção que r evela no
propheta a autoridade do seu ensino e o caracter divino
da sua mi são. E ' poii:; ó quando os acontecimentos
ju tificarem a ua predicção, que a prophecia póde
appar ecer na r ealidade do seu cara<!ter divino. Todavia,
quando um propbeta confirma uma pre<licção, cuja
realização está muito afa tada, por milagres ou prophecias
de acontecimentos mais chegados, o cumprimento destas
vem a ser uma garantia certa da auctoridade das outra
e da missão verdadeiramente divina do seu autor.
4.0 Afinal, .é p reci o que haja imposs·ibilidaàe abso-
luta de attr ibuir a prophecia a uma previ ão puramente
natural, ou a um concurso fortuito.
Com effoito, i a predicção não fo se mai .d o· que o
resultado de uma douta previdencia ou d e uma previsão
indecisa , . eria o fa0to do homem; pelo contrario, i ella
se manifesta obre facto eontingentes, dependentes da
livre vontade divina ou h umana, ou de causa ainda não
exist entes; particularmente, i tiver pqr objeeito factos
multiplo ·, diver o sem nenhuma relação uns com outros,
e venha a r ealizar-se em todos o pontos, é evidente que
erá um a prova conclud nte da intervenção de Deus.
Com o auxilio des: es caracteres e dessas condiçõe
er á sempre po ivel e muita vezes facil distinguir um a

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l\IElO DE DEMONSTRAÇÃO PROPB.ECIA 115

verdadeira p r 01phecia doo oraculos ~alsos, enganadores:


" tes ú ltimo ão faltos de pr cisão, ambíguos, sem nexo,
muito pouco anteriore ao facto e, não rar as vezes,
de mentidos pelo acontecim nto .
77. - IV. A prophecia, quando r ev te a condiçõe
que acabamos d citar ' verdad iramente o ignal do
divino. A ua força probant e d mon. trativa não pód
er r j itada; é irre i tiv 1. om effeito 'ab olutam nt
fóra da intellig 1cia e do alcanc do homem penetrar o
my terio do porvir e arrancar-lhe os futuro livre : só
Deu o conhece e ó elle póde ommunicar o conheci -
mento dos mesmo ; por on guinte, qualquer prophecia
de se genero torna- e te temunho evidente da intervenção
divina.
A prophecia é o milaare em eu gráu upremo poi.
que ubmette a natureza inteira e toda a leis do mund
á predicção <lo propheta: tem sobre o milagre uma ·up -
rioridooe de extensão de permanên ia , poi qu . diria
a povo inteiro. chamado a a istir ao e pe taculo d s
factos, e conserva para o se ulos futuro todo o eu
poder demon trativo.
Não é tudo. Visto que a proph eia atte ·ta no mais
alto ponto a intervençã divina, qual leve ·er o u
re ultado para a I ligião ? E' que, i o propheta pr ga
em nome de D u ao m smo tempo que prediz em nom e
de Deus, e i os aconte imentos ·que ll annun ia ão
tambem uma doutrina e ta pr gação e e ta doutri na . ão
·, manifestam nte livina .
om effeito, orno admittir qu Deu , a v rclad por
e encia, e valha da .'Ua pres ·iencia infinita ou da ua
omnipotencia a favor de uma doutrina tTon a, om-
muniqu a um impostor, o dom de propheeia, para fundar
·obre a tena um culto i mpio ou uma religião m n ti rosa 1
E' impo . iv L P o1· ·onseguinte, qUé:llquer propbP.cia
verdadeira demon"tra il1\ nciv lmellt a 1iYindade de

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tl6 D A R E V E L A Ç Ã O

uma r eligião. Eis porque Moysés dizia aos H ebr eus : «Eis
o signal pelo qual r econhecereis se um propheta fala em
nome de Deus : se o que elle predisse em nome do
, enhor não aconteceu, o Senhor não falou por sua bôcca :
não r espeiteis esite propheta temerário.» (Deut., xvm, 22 ) .
« ou eu, diz o Senhor, pela bô ca de Isaia , ou eu que vos
annuncio, de de o principio, o que deve acontecer no fim,
e vos predigo, muito antes, cousas que ainda não ·existem.»
Aliás, não ha ninguem que conteste seriamente que
uma prophecia propriamente dita não seja obra de Deus :
os incredulos submetter -se-iam . i reconhecessem as pro-
phecias como authen ticas. «Si pud erem mostrar-me no
Antigo Testamento, dizia Proudhon, uma unica linha
referindo-se ao Novo, conf ~ o-me' vencido (1) .» Mas
Pr.oudhon, como muitos outros, nunca estudou os prophe-
tas. Em lugar desse estudo, o r acionali mo prefere
entrincheir ar-se no silencio, no desprezo e ater-se a vãs
objecções, cem vezes r efutadas, mas á quaes omos ainda
con trangidos a responder.

78. - .- SOLUÇÃO DAS OBJECÇÕES.

1.° Contra a possibilidade das prophecias. - 1. 0 «E '


evidente, disse Voltaire, que não se póde conhecer o
futuro, porque não se póde conhecer o que não exi te.»
R. - I sto seria verdadeiro si o futuro fosse 'Pura e
simplesmente o nada. Mas o futu r o é uma r ealidade
quer nas causas que o preparam, quer na sciencia emi-
nente e transcendente de Deus, que vive com todos os
tempos, e p ara quem tudo é certeza. Quando um a tro-
nomo annuncia um eclipse, e te ainda não existe; haverá
por isso impossibilidade de predizel-o? O astronomo vê
a consequencia na causa existente e, de antemão, aponta
para ella: assim faz o propheta.
(1) Broch u1·e, L e Miserere.

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SOL UÇ ÚE DE OBJE Ç'ÕES 117

2.º «Â presciencia divina, manifestada ao homem e


eguida da predicção, deve neces ariamente ter a ua
r ealização: é, portanto, a de truição da liberdade
humana.»
R. - Já r futamos esta objecção. A 'Pre ciencia de
Deu· é certa; a liberdade humana não o é meno . Esta.
dua verdade se conciliam : D eu , cli emo , prevê orno
lines O' acto · que d emos cumprir livremente, não
lhes muda a natureza, nem violenta a execução. A p r edic-
ção não modifica as cou as; anterior, na ordem do tempo,
á. acção do homem fica-lhe po terior na ordem das idéa ,
segundo este axioma philosophico: «prin1JS est esse
futitru.m, quam prcevideri ut sic. »
2.° Contra a origem divina a força probante da
proph eia. - 1.0 «Â alma tem um 'Poder deductívo e
conjectural, perfectivel pelo uso, e con ideravel em certa.
cir umstancias, como, por exemplo, no somnambulismo:
a pr dicçõ s e a prophecias pódem muito bem não tel'
outra cau a inão uma causa natural. »
em negar a per .:;picacia de certos espiritos.
em contestar que a experi encia a pos a ainda desen-
volver, e em rejeitar certos effeitos surprehendentes do
sornnambiilismo natural ou artificial, contentar-nos-emos
com notar que todo o poder conj ectural se manifesta em
facto exi. tente e em causas que o e pirito, livre da
ma.teria e do !Sentidos, póde conh cer melhor; então, por
'via d deducçãn, o homem póde tirar certas consequencias
pr dicções mais ou menos prova.veis. Mas ahi param
as conjecturas. Não _pódem · alcançar os factos afastados,
dependente de causas não existentes ou. r esultantes da
livre vontade ,. de D eus ou do homem, ,como ão as verdà-
, l j- ~

deiras prophecias.
2. 0 Emfi;i;n: «As propbecia n,ão prova1u cousa alguma:
todas as religiõ as tiv~ra:µi; o proprio paganismo tinha

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118 D A R R V E L A Ç Â ó

o seus ora culo. ; aca o podemos invocal-os e concluir


p la divindade dessa religiões? »
R. - Os oraculos do paganismo, a preten as predic-
ções dos falsos cultos, e toda a adivinhação antiga não
têm nada de commum com a inspiração prophetica;. Com
effeito, e ses oraculos eram, na maior parte do tempo,
uma velhacaria ; as predicções dos ora culos e das sibyllas
eram cer cadas de t revas e, muitas vezes, d e immorali-
dades ; eram -feitas no meio de um apparato ridículo,
não e referiam, na oua quasi totalidade, sinão a facto
proximos, sem al ance e sem consequencia . 1 estas condi-
ções, me mo supp ondo que os oraculo. fo em verdadeir os,
não teriam provado cousa alguma a favor da r eligião,
tanto mai · que não v.inJ1am em aibono de uma doutrina.
Acontece de modo muito differente com as verdadeiras
prophecia:,; que tiram precisamente a sua força probante
das condiçõe. muito diver a na:; quaes e faz em e e
r ealizam.

ARTIGO II
D o m ilagre .
I. oção precisa do milagre. - II. Possibilidade do milagre.
III. Póde er verificado como todos os factos . - IV. Força
prob:inte do milagre. - V. Solu ção das objecções.

79. - I .. P óde-se definir o milagre : « m facto en 1-


vel, que deroga a lei conhecidas da ordem physica e o
cur o or linario da natureza, num caso particular.» No
principio, Deus estabeleceu leis geraes que guem o eu
urso : ão, por natureza, immqtaveis e univer ae e con-
cebe-se que, para as deroO'ar, é preciso o mesmo poder que
a · fixou . Si , pela ac<}ão directa e immediata de Deus, se
produz um facto acima ou afóra das fo rça que actuam na
natureza, ou das lei. que a governam, chamamo este facto
um nvilag1·e : milagre de primeira ordem, ou qu,a1rdd á

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lF.IOS DE DEMON 'l' UA QÃO : 1-flliAGR E 119

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120 D A K E V E L A Ç Ã O

verificado e, ao mesmo tempo, responderemos ás objecções


racionalistas.
80. - II. Possibilidade do milagre. - Será pos.5ível
o milagre tal qual o temos definidoL. Eis como um philo-
:opho do sé ulo xvrrr, J.-J. Rou seau, num momento de
bom sen o, re olve e ta que tão : «Poder á Deu fazer
milagres; isto é derogar as leis por elle estabelecida ?
Esta pergunta feita eriamente, seria impia si não fosse
ab urda.. Castigar aquelle que a resolvesse negativamente,
r ia dar-lhe muita honra: bastaria encerral-o num hospi-
cio. Mas, que homem duvidou jamai que Deus pudesse
fazer milaO'res (1) ? »
Enunciada em t rm. · precisos, 'ª questão da possi-
bilidade do · milagre e reduz a isto: «Existe Deus? Será
omnipotente? » b ! si Deus não existisse, certamente não
haveria milaO're, , porque não haveria quem os produzisse.
om effeito. quem poderia derogar as lei geraes do
mundo? Mas, si Deu existe, e si é todo podero o, ainda
que fo e preci o nm golpe de Estado do seu poder, o
milagre é po sivel. O mundo existe e foi creado por Deu s:
não é i to o maior do milagres? Fica regido por leis
nniver aes; ma aquelle que estabeleceu essas leis, não
teria o poder d suspendel-as em circum tancia dada 1
O legi lador supremo seria o captivo eterno da sua
propria lei .
O simple bom senso indica que isto não póde ser;
toclo os povo responderam: «Sim, o milagre é possí-
vel». om effeito, todos nelle acreditaram. Puderam
enganar-se e tomar por verdadeiros milagres factos que
não o eram; por ém, acreditando em falsos milagres,
admittiam a sim a possibilidade dos verdadeiros.
Accrescentemos que si Deus póde fazer milagres,
póde tambem communicar este poder a certos homens:
todavia, estes não ope~arão por suas proprias forças;
( 1) Illª Oarta da Monl,a,nha .

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Mmos DE DEMON STRAÇÃ O: MILAGRE 121

serão o del O'ados de Deu ju tamente o uso que farão


do pod r qu. lhe dnd-0 m tradi. o ara ter divino
da sua mi ão.
81. - ibi -

em

n m n hnrm nin d mun

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122 D A R E V E L A Ç Ã O

82. - III. O mi lagre p6de ser rmwito bem verificado.


Um facto exterior e sensível póde er submettido á
verificação de dois modos: como fa cto present e e como
facto passado; nos dois casos, póde adqu irir toda a cer teza
desejavel, em virtude das leis physicas e moraes que
concorrem a produzir, cada uma na ua ordem , a eviden-
cia dos facto .
Ora, o milaoTe, bem que obrenatural na .·ua causa,
não deixa por i ·to d e ser um facto exterior e . ensivel ·
e, como todos os facto phy ico que se produzem diaria-
mente sob as nossas vistas, póde ser ver ificado igualmente
como facto pre ente ou como facto pa. sado.
1.0 Examinemo. o caso de um milagre presente, que
cabe ·ob o olhar e sob os sentido .. Supp onhamos o mila-
gr e da r esurreição de um morto : eu o vi quando vivo
falei-lhe ; em eguida, o vi morto, certamente morto, já
em e tado de putrefac ·ão; mais ta rde Yejo-o ah indo
do tumulo á voz de um thaumaturgo, falo-lh e, respon-
de-me : é elle mesmo, perfeitamente vivo. Qual deste
tre facto · e capa a uma verificação regular scientifica.
Nenhum. Poi bem! s i esses tres facto são re onhecidos
verdadeiros, o mila:gre está provado. Ei um facto
presente de que e tem certeza.
Que importa, em seguida, que um racionalista me
venha dizer: «Mas r esta contra este facto uma certeza
que annulla a prova ; ' a ,u.niver. alidade da lei, que elle
deroga.» Re ~ pond.o~ lh e . Ei -nos em fr ente de dua certe-
za : uma, a certeza da lei· outra , a cer teza da derogação.
Por que motivo, pois, concluir que é a lei que é certa e
não a derogação a essa lei? Por aca o, a lei e a der ogaç.ão
não pódem . ·er juntamente certa , uma com o lei geral,
outra como excepção? ... Por exemplo, a lei do impo to
é geral ; porém, si apr ouver ao legislador i entar della um
cidadão por qualquer grande erviço pre tado á patria,
aquelle que fica encarregado de obrar os impostos ter á

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?l!ElO DF. DEMONSTRA ÃO: :MILAGRE 123

direito d exigil-o · ·ob o pr text qu a 1 i é g ral T Do


me mo modo a l i univer ae da natureza conservam
toda a ua certer.la embora haja alguma ex epção, impo ta
por Deus tal exc p ão ' rum milagre.
Objecta- e ainda: Ma para d cidir qu ba milagre,
eria preci o conhecer toda as 1 i da natureza e o
egredo della . ra, ta ciencia é incom pl ta, e, por
mquanto o fa to permanece inexplicado ma não póde
er proclamado milagroso.»
1. - ertamente não ' sempr facil reconh er o
milagre, e eis porque piritos erio devem mo trar- e
prudente e não a ceitar o milagre sinão com prova. Quer
isso dizer que ja pre i o para determinar o milagre,
co.nhe er toda a leis da natureza e tod o eu
egr do ? Não porque d t .modo para er logi o, deve-
ríamos rejeitar tambem toda a affirmaçõe da . i ncia,
e não admittir mai n nhuma lei da natureza como
certa. 1.'eria a a tronomia a pretenção de conhe er toda
as leis que regem o mundo ideral 1 physica e a chimi ca,
todas a leis do mundo natural? Ora, ape ar disso, é com
muita razão que o sabio affirmam pos uir 1 i certas,
as quaes con titu m a harmonia do mundo e não pódem
er de menhda por lei alguma. A im, para verificar .um
milagre, não pre i amos conhecer toda a l is da creação ;
basta~no saber que algumas leis qu e regem a materia, são
certi ima ; por xemplo conhecer a lei da morte, para
poder concluir que a derogação feita a esta lei é um
verdadeiro milagre.
2. 0 Vejamo agora o caso de um milagre passado. A
verificação póde ser f ita com a me ·ma perfeição, não
por meio de provas phys i a." é verdade, ma por meio de
provas morae.s que têm o me mo valor. Qualquer facto,
mesmo que se tenha passado mai de cincoenta sooulos
antes de nós ou a mil legua. de nosso lugar, torna-se
verificavel .para nós, si delle possuímos uma narração

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124 o :E & L A Ç Ã O

\'erdadeira, e si esta narração nos chegou por uma t rans-


lllssao; ei a duas leis hi torica em virtude das quae
os facto p a~ ados ou distantes n o pódem chegar com
uma certeza igual á dos facto de que somo testemu-
nhas. E ' o que a philo ophia esta beleceu; é o que todos
os povos admütem: a hi toria, a. tr adiçõe , as r elaçõe
sociae de cansam sobre a base desta cgunda certeza.
Ora, um fa·cto milaoTo o não e capa a e a 1 i ; é
um facto exterior e ensivel; póde ser vi to e ocado p or
testemunhas ; póde er verificado como facto presente;
póde er contado de modo verdadeiro e chegar até nó
por meio de testemunha fieis. Por con~ guinte póde ser
certa e devidamente verificado.
83. - A este princípio gerai , r econhecido verda-
deiros por todos quando e trata de fa to a or dem
natural a critica mod rna racionali ta oppõe, quando
trata de um facto de ordem sobrena tural ou ra exigen -
ci a e diff iculdade . Examinemol-as rapidam nte.
l .° « ão acredito no mila()'re, diz o vulgacho, porqu
nunca vi milagre. »
R. - i e ta razão tiv se algum valor, eria pre iso,
conforme o m mo principio, r ejeitar todo os facto d a
hi toria que nos precederam, e todo o·~ que não acon-
tecem ob o: no . . olb aré ; não os vimos. E e para
darm o o milagr e corno real, preci amo verifi al-o pes-
soalm ente, ei portanto D u obrigado para obter no a
a<l.hesão, a fazer tanto milagres quantos homens ha obre
a terra, e até a r ep etil-o quanta v z duvidarmo . er á
i. to razoav 1, ou antes, não erá o maior do absurdo ?
2. 0 Mas ou amos outra pretenção ; é de Renan.
Depois de n ter dito que «n m a. : ôa d povo, n m
as da sociedade mundana ão comp tentes na verificação
do milagr e», is o que elle exige, em nome da critica
rnoderna : «Que amanhã um thaumaturgo ·e ap r esente
com garantias ba tante erias para serem discutida.s; que

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::úEI D!!: DE.MONS'l' R.Aí,'Â MILAGRE 125

e annuncie como capaz suppon.ho, d !'e uscitar um


morto: que farão os abio Y Designarão uma commissão
compo ta de pbysiologi tas de phy ico de chimicos, d
pe ôa exercitadas na critica bistorica. E ta cornmi ão
e coTh rá um cadaver ertificar- e-á que a morte é p rf ei-
tamen t r al d ignará a ala em que deverá fazer a
exp ri n cia, fixará todo o y tema de caut la n ce aria
para não deixar 1lwar a uspeita alguma. i em tae
condições, a r ·utT ição operar, hav rá uma probabi-
lidad qua i igual á certeza ... O thaumaturao erá d poi
convidado a r produzir o ·eu acto maravilho o, m outra
ir um tancia , br outro adavere m outro m io»
i, cala. v z o milagre ucced r , erão pr-0vada duas
cou a : a prim ira ' qu no mundo e produzem acto
obr n a tura ; a gunda ' que o poder 1 o produzir
p erten onc dido a r as p e ôa ( 1) .
om um a b n da ] .

a
mm um

( 1) El . R eu11n , i d u d • J •a1,,. , Introducçllo.

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126 J) RE V F : T, A \Á O

Essa · pr et nçõe ão uma inj1t,ria á majestade divina.


om qu direito a creatura e atreve a impôr ao Cr eador
condições de pe ôa · de tempo e de lu<Yar par a acreditar
no . eu milagres. .. . erá preciso, par a agradar ao homem,
qu o oberano Me. tre e on titua o rvo e o e cravo
la: vontades e exig ncia de ua creatur a ~ O genio dos
eculos precedente não acreditar am em tal admittiram,
pelo contr ario q ue era . ufficiente, p ara dar redito ao
facto milagro o , do te temunho de p ôa:~ prudente .
. eu ata e de bôa fé, que affirmem tel-o pr enciado, e
qu e aliás, reunam todas a condiçõ requ rida para
formar uma certeza historica. ão sejamo n m m no '
credulos, nem mai exigente . Além di to em tempo
opportuno, ver emo, qu o milagr e da Revelação mo· ·ai a
e hri tã atisfazem amplam nte as xig ncia. da critica
ra ionalista.
84. - IV. Fôrça probante e demonstrativa do mila-
gre. - R ta-no concl uir que o milagr notado e veri-
fjcado como o póde deve r , é de uma auctoridad
muito con ideravel, irre i tiv 1 para pr ovar a int r ven ão
divina.
Em primeir lugar, imm diata e directam n te, o
milagre no. · manife ta Deu. . em duvida o
apparece Jla obra maravi lho a da creação no exer ic10
ela ua providencia : t davia, e tamo aff ito · a e t
e p e taculo do univer ·o, e a 11 no
veis. Ma qu e um facto extraordinario v nha a produzir-
cl modo brilh ante, fó ra da: lei da natureza, ficamo ·
mai impr :ionado e r e ·onh mo um enh or ob rano.
E ' o par cer do proprio Rou~. eau : «Quem, p rant a
maravilha , diz ell , deixará de r conh cer imroediata-
m nte o enhor da natur za ?» (Emiie I. IV.)
Ma indir tam nt e por via d on quen ·ia lo i ·a.
o milaO'r onfirma a mis ão divü1a do thau maturgo qu
D us empr O'a para effe tuar e mi]aO'r , e, por c ns -

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MEIOS OI!: DEMON $TRAÇÃ O : MILAGRE 127

guinte a verdade da doutrina que esse thaumaturgo


prega, a justiça da lei por elle promulgada, a divindade
da religião por elle trazida. i um homem por ua propria
autoridade e palha ensinos ou decreta leis quem me
con trange a lhe dar i' e a lhe obedecer YMa , si elle fala
em nome de Deus si da parte des e mesmo D eu , elle me
traz 'Uma lei, e me impõe uma religião e si. como p rova
da veracidade da . ua palavra, faz um verdad iro milagre.
posso recu ·ar vêr a Deu na ua propria affirmação L .
O judeu pinoza annunciava a eus amia qu abraçaria
a R ligião christã i pud e t r erteza do fa to da r ir-
r ei ão de Lazaro.
om ff ito, a linguag m elo milagr é ab oluta-
mente d emon trativa · ei porque os verdadeir . thau-
maturgos appe1laram para o te emu nho e sua. obrac;.
E' uma prova não oro nt ri goro a. ma nniv rsal :
dirige- e a todos os espírito ; ' ac es ivel ao, p quenoc;.
ao humild e., aos ignorant ronv m igualmente ao.
'ábio ; ant ipa t oo O!l r aci inio. . r . lve ela. a
difficnlclades, r pond a toda a obj e õe. : afinal, é
11ma demon tra ão p er p tua . porqu o mil agre pe rdura.
tradicionalm nt , impre iona conv n e o que o pr . en-
c iam ; ma in. rn igualmente a po teridad . ba, ta qne
~ ja v r dadeir para que . e po a cled11zir cl lle. até o
fim d seculo , m mo aranm nto vi torio. o.
85. - ontra o milaar ua fôr a pr bante.
ultima objecç- do racionalismo .
a a religiõ pr tend m t r milaar a n
favo r : por con · anint . de appar ce o pod r d mon. tra-
tiv do mila r .»
. - P rqu .fal ·a ' r jcriõ
fal milaar , quer i diz r qu
o 11e rdfllleir ' ?
id nt

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128 D A R E V E L A Ç Ã O

cou ·a semelhante, é impossivel que todos os homens o


tive em imaginado e ainda mais impos ivel que outro
o tivessem acreditado. Afinal, em lugar de concluir que
não ha verdadeiros milagres, é preciso dizer, pelo contra-
rio, que ha verdadeiro milagres, poi que ha tantos
falso .» (Pensamentos .) Sim, a conclu ão a tirar dis o, é
que, como a verdadeira Religião teve milagr e , todas a
falsas religiões tentaram a contrafação da verdade.
2.0 «Mas, accre centa-se, o demonio tem igualmente o
seu poder; a Igreja catholica lhe attribue facto extra-
ordinario -e reconhece os prestigias diabolico : como
então, distinguir os milagres divin o des e pre tigio e
como deduzir do milagre uma prova a favor de uma
religião?»
R. - Sim, admittimos que o demonio, depoi de se
tornar anjo máu, nada perdeu de sua intelligen cia e de
sua força; sab emo , tambem, que a experi n cia de mui to
seculos lhe duplicou o poder. Comtudo, não é meno
verdadeiro que e poder fica subordinado á vontad e ou
á licen ça de Deus, o qual nunca soffrerá que o demonio
lhe imite as obras a ponto de tornar impo ivel o di ·cer-
nimento aos rn/ilagres divinos e dos pr tigios d'iab ol'icos.
Entre o ignaes cara cteristicos do divino pódem
indicar-se: 1.0 O esplendor das obras : o poder divino não
conhece ob taculo algum, o do demonio é limitado e
reduz, as ma'. das vezes, a usar de modo impl mente
urprehendente, da forças da natureza; 2. 0 o numero
e a ordem: Deus faz tudo com ordem e harmonia · u
milagre · revelam sua providencia; o prestigio diabo-
lico p elo contrario, ão limitado em numero e conf os
-em seu~ effeitos; 3. 0 as circumstanc'ias nas quae e r ealiza
o núlagre · de ordinario, Deus não faz milagre inao por
intermediarios dignos delle, por homens virtuoso e
santos, e ó empr ega meio honesto e convenientes; o
demonio opera por meio de seus sequaze que, quando

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ME:IOS DE DEMON S TRA ÃO : UL AORY. 129

não apparentam a immoralidade ão, p lo m n . , extra-


vagant orgulho o d procedim nto equivoco; qua i
sempre u am de pro o indiO'no grote o · 4.0 afinal,
o milagre divino proveni nt do Ser bom, t m por fim
immediato uma obra d e b n efic encia e de mi er icor dfa
e, por fim ulterior, o en. ino de uma doutrina e o ap er fei-
çoamento moral da humanidade; o pre f O'io diaboli co é
ant para ati fazer a curiosidad e, e mai para cau ar
panto do qu para er util ; e finalm ente, 1 va á
confu ão das doutrinas, ao e qn im n o d D u s ao
triumpho do vi io e á immoralidad .
Por m io de todos e s caract res será mp r e fari l
r conh ecer a interven ão de D eu , e di tin gu il-a da do
d monio. Por ronseguinte. o milagr divin o p erman e erá
o privil gio da Rellgião v rdad cira, e o pre. ti g io dial o-
lico er irá ant para d ar a conhece r a falsidade de u ma
doutrina. Conv m applicar estas reg ra: ao spirit ismo
qu e certos apontam como o mil agr e d n o sos d ias.
uspeito na sua origem ridícul o e gr ote co n o cw pro-
cesso , fun e to no~ seu. r e ultados mu ita: vezes imrn oral
no eu fins, p eriO'o o na ua con. equ v11 :·!n c;, é .erto
que o e~ pir i ti mo não tem o aracter divino ( l i.
Concluamo que o verdad eiro milagr e ' p os-, iv l e
póde er verifi cado, qu e sua pr ença ' d e n onslra ivn
e pr ova um a Religião divina.
~ gora que nossos meio d demonstra ão stão lrg-i-
timam ent e tabelecidos, vamos appli a l-o. , cm p r irn ir0
l1J gar, á R ev elação mosaica, em seg u ida, á R e1elaçiio
rhristâ.
(1 ) Consultar sobre estas ma.terias, Oonfér ences d u. P . Fél ix . an no
<le 1 86 4, Conférences conventu.elles du. P . Monsabré, t . III, L es Miracles.

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DIVINDADE
DA

REVELAÇÃO MOSAICA OU JUDAICA

TJTÇÃO PRELIMINAR
Jcl éa geral e diYi ão deste t rabalho.

86. - . 'a bem ~ ag ra o que r R ev lação; dem-0ns-


tl'amos a sua possibilidade e a ua grand e utilidade, que
pudemo. cham a r um a ne e8s idade moral. Mencionamo
o facto da . ua t>xisten ia. Em tres 'poca differente ,
D eus falou ao mund o; no paraiso terrestr e; m eguida,
ao povo judai o. priu ·ipalmente por :intermedio de
:.\foy é ; afinal. ao univt>r so inteir o, por .>lo o enh or
.Jrsu s C' hri st o. R ealm ente. e. sa t r e · o-randes manife -
tações n ão são mais <lo que uma . ó e uni ca revelação
ape rfeiçoando- e no clec urs do. seculo. .
D ella precisam o. · rn o.-t r ar o caracter divino e ab -
m os p or qu e m eio clemon.·trativo , e prova com oda
a cer t za , a d iYinda de de uma revelação: a propbecia e
o milagr e são os caracteres manife t~ ela intervenção
divina . D epois d e estabel ecer a qiwstão de direito, p a .
mos agora á qu stão d facto.
Parn re olvel-a melhor , neste e.·tud o han'mO.' de
1·eparti l-a em dua · partes. D e -de a rev la«ão f ita a
Moy. é , a R eligião .iuda.ica foi uma reli()'ião verdad ira -
men te divina . Duran te mai de 1500 annos, personifi ou
no mundo a ver dade d o()' mat ica, a verdade moral, o
Yerda d eiro culto ; preparou a R e,v elução eh.ri ·tã que foi
o . eu bri lhant de abro h ar. onv<>m, poi. ·, faze r remontar
at~ Moy. ', a pront d monstratiYa la cliYinr1at1 c <la nossa
Re1igião chri tã.

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D! \ ' J )< [),\ DE 0 .1 MO ~ l 13 1

i'vla -. {> prin ipalme nt do Penta,f p,11<;0 d


\'amo t irar o. · n 0)-;.80 te~· t m un ho .
e. tabeleí' r a anto-ridad historica d este
t es. D e poi a pp l i 'a remo {t R 've la çã o mo aica o no SO'.;
rn io · d m on ,.tra ti vo:..; : 1 .0 11 proph eia j 2. o rnlilagre.
1,,_f in a l. •011 f irnrn rem o as n o ·sai; n ·lu õ s p o r uma
pro a i11trin ,·eea. tira d a la 1J rf ú;ão da, R ligião j 11,d(Jll:ca.
E ta .' div er. as q u tõ vão s r o obj e ·to d os q u a tro
capi t ul o;; con sag rad o. a cl t>m on. trar a di1i 'Yldacl da R v -
la ção 111 0 ·aica.

TI IS1' 0 Rl A DO PEN T A1' EU O

J . :.\ foys é ' m confr onto com o h i toria dores m ai s antigo "
l T. o udi ~õe nece a ri as para que um livro t enh a uma ver dad ei ra
uu to ridad e hi t ori ca: l. º A ut li Pnti C' idad d o P ent ateuco; 2.0
\T ra <>id11de; 3. 0 In t g ri dacl e.

87. - J. Moy és. leg is lador dos .J ud e:•us. «hi sto rii'l -
do r , não d e um povo. m as dos p ae · de todoo % p ovos,
biogr a ph o elo hom em , a na li<>t a ela na t u r eza . h r onistn
elo ge ·to d <' D eu ., app ar e ·e-no (·Om um pha r ol irn n oitf'
c1o t emp .» :Ja: ceu n o E gy pt o, 1:371 a nn ~ a nt e · d e
.J e. us ' hri st o. 1000 a nn o · a n te d r H r ód ot o, e ba mad o
«p ae el a hi ·t oria .» :564 anno. a n tes d C' H om e r o. ·ê rca
el e 400 a nn o. antes d a g ue rra d e Troia. E ' a nt eri or d e
:300 ann os a Nan chi on a th on d os Ph enicio , d e 1000 armo
a Confu cio elo: Ch inezes e a Zor oastro d o P er sas, d e 1171
an n o a B er o. o el os C ha ld eu.-. d e 1240 a nn os a )ian t'th on
dos E gy p cios.
P or essa. <latas, vê-.'\€ qu e Moysés f> o ma is ant igo
d o historiador es conh ecidos, se é verd a d e que s ão mai,.
t hegad os á ve rda.d o.. q·ue fi am m a is p ert o da ori gem

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D :W:O AI

podemo oncluir que narrando as p r im ira"


d Deu d ia, m n do qu qua lquer

89. - I. - THENTICIDADE DO PE T TE

prova : J.0
da obra· 2. ~ 0
emunho r ºn.
f' r a; 3. 0 a irnpo sibiUdad ab. of11J.ta
.·uppnsiçiio por um imp or .

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AUTORlDADE HISTO&IOA DO PENTA'l'EUCO 133

l.º Caractreres intrinsecos. - O Pentateuco traz em


i mesmo o cunho <la sua época; tudo ahi e tá impre-
gnado da a.ntiguidad : o estylo, a phrase, as palavras,
o factos e os acontecimentos que ncerra · aquella simpli-
idade de co tumes e de pormenores que se acha icrual-
m nte nas mais antiga obra de Heródoto e de Homero;
aquella precisão histórica e geográphica que e póde
ncontrar só num habitante do paiz filho da ria ão·
mfim, aquelle genero imples e m aff ectação que
convem a um homem incero e 'hon to escrevendo em
n nhuma emphase como em nenhum ent hüSia mo a
narrativa dos facto mai tupendo d que ' te temu-
nha, e muitas veze · O autor : e· exa tamente Moy '
estampado na ua obra tal qual a hi toria e a tradição
o conservaram na sua r eco1idaçõ .
2.° Caractere-s extrinsecos. - O Pentateuco e.xi tia
ertamente 250 annos antes de J e us Chr i to di o temo
como prova a traduc ão do tenta, feita do hebraico
para o grego sob Ptolomeu Philadelpbo. Ora então era
venerado como obra de Moys 's. E ta authenticidade
aliás, é attestada e confirmada p elo monumento hi to-
ricos do povo judaico, pelo e cr iptos p t riores ao
P entateuco: os livros do Jiiizes, do Reis do Propl1Jeta
etc., não omente a elle fazem allusão, mas attribucm-no
positivamente a Moysés.
A hi tória profana junta os us t temunho aos da
historia sagr ada; e tá perfeitamente de accordo com a
:narrativa. de foysés, a r espeito destes facto importantes :
o diluv io a· origem e di per ão dos pO'vo , a e -istencia
de uma nação judaica que teve Moy és por chefe e legis-
lador etc. Esse povo judaico, com eu u o e sua hi to-
ria eria inexplicavel por pouco que d ixa e de
acreditar na authent icidade dos livros de Moy és, porque
a religião e a nacionalidade desse povo ~ eus altares e ell
ulto descan am sobre ·os riptos dó legislador.

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134 DlVINDADE DA REVELA '.ÁO MOSAI A

'I'ambém o. escriptore. · pagão consideraram igual-


mente o P entateu co como obra pessoal de Moysés: é o
que affirmam T ácito (H ist., v, 4 et seq.), Plinio o Natu-
ralista (xxx, 1), Juvenal ( at. xn ) , que se exprime do
modo seguinte :

J iulaic11,m eéhscunt t s rvant t m (}ttiiint jus


Tradidit arcano q1wdm11mqu e volumine MOSES ...

Podemos accrescentar ainda D iodor o de icilia (liv.


I ) . Estrabão (liv. VI ) . s m falar dos e criptor es eccle-
iasticos dos prim eir~ eculos.
D este mod o, a cren a geral que attribue a Ilíada a
Homero. a. Ph1'lippicas a D emó--thene , a Eneida a
Virgílio, a César o Comm entarios que t ra zem o seu nome,
não é mai. fundada do que a qur dá Moy é como o auctoT
do Pentateu o.
3. 0 I mpos iM/;idade. ele 1ima supposição por um
impostor. - Contra a univer al tTadição, a incredulidade
do seculo XVIII, ba eando- e obre um texto bíblico qu
attribu a E dra certo trabalhos obre a E cr iptnra
do · H ebreus, puzéra na conta de e Judeu, que vivia 460
anno.· ante · de Je ·u · Christo, na ' poca da volta do capti-
''eir o de Babylonia, a ·ompo ição do livro. do Penta-
teu co, o quaes elle teria apresentado ob o nome d
Moy é pa ra lhe · dar maior auctoridade.
Ma~ e ta supposição cabe perant ~ factos s o-uinbe :
1.0 A ntes de E sdr as, Zornbabel trouxéra para J ern al'm
as tri bus ·aptiva" e a historia judaica r efere que já
restabelecera na cidad ·anta o culto. a festas e a ordem
levitica segiinclo as pr scripções do l·ivro de ~f oysé :
p ortanto. e te livro existia.
2. 0 orno pud ér a Esdra p ers uadir a todo um pü\' O
qne um toman e compo. to por elle e ra devido a foysfs '?
Era facil ·onfundir o faLsario. A v rdade é que o judeu

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A '!' R\O .\O F: ill R'J'O!l.I C' .\ 135

fez mais

iso
os

H. ta, po.i.
obra d Moy-' ·
90. - l 1. - E RA C LDADE DO PEN 'rA 'l 'E O.

Moy · ' s é um autor veridico havemOi de provai-o


t1 rnod , uffi ient :i estabele rmo : 1.0 que não foi
cnganado ou induzido em êrro a r peito dos .facto
narrado. por elle · 2.0 que nã foi nganador ou não quiz
i.nduzir em no aqu Plle para 1uem escrevia; ~ 3. 0 que
;; ind a que pr t ncl e tal, nã o lhe era possivel conseguil-o.
l. Moy , · não foi enganado. - Não, não foi ind uzido
m êrr o; ra p lo contrário muito bem informado dos
:factos que ·onta. E e facto~ e referem a dua época
diff r ntes : trnia , anterior ao e r iptor , começando na
reação e abrangendo um espaço de cerca de 2600 annos;
outra é aquel la em que viveu o autor; começa na hi tor ia
da sabida do Egyp o e vae até a morte de Moys' '.

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136 DIVI DADE DA REVELAÇÃO MOSAICA

Ós acontecimentos da primeira época estão contados


no livro do Gênesis e comp r ehendem a creação, o diluvio,
a disp er são dos povos, a vocaçfoo. de Abrahão e a vida dos
pat r archas até José, assim como a.· communicações que
Deus lhes fez.
Ora, conceber- e-á que :J\foy; és po·a,de facilmente ser
instruído daquelle acontecimento·;;, visto que a vida tão
dilatada dos primeiros homens, r elatad a em todas· as
tradições antiga , e p er feitamente explicada por Buffon,
Deluc e 'uvier, ·encurta consideravelmente as distancias,
e não deixa lugar inão para cinco ou seis gerações entre
Mo rsés e dão. Aliás, a importancia desses factos e o
caracter eminentem nte tradicional dos antigos povos nos
autorizam a pensar que essas lembranças eram religiosa-
mente con ervadas na familia. ão falam.os aqui da
inspiração divina que alumiava o historiador, pois que
aqui não est~damos os seus livros sinão no ponto de vista
do seu valor hi torice.
Quanto á seg unda época, de que lVIoysés era con tem-
poran eo, é de toda a evidencia que, misturado como o
foi ao acontecimentos por elle contados, estava perfei-
tamente informado.
:--rr. Moy 's não fo·i enganado1·. - Quando um impos-
tor forja uma narrativa, toma os mcios para que seja
ac ·cita e para isso li ongeia as paixões ou o amo r proprio
daquelle-.:; a quem pretende seduzir: o estylo e a narração
lhe. r eflectem a idéa preconcebida, e é difficil que o autor
não revele se u intento e sua falsidade em um ou outro
ponto. Achamos em Moysés alguma cousa semelhante .
. -ão; e. te autor escreve com a sinceridade e fran queza
de um historiado r imparcial. Conta aos Judeus as preva-
r icações, faltas, castig·os que t iveram; assignala as culpas
do príncipes da nação e dos membros da sua propria
familia; nem dis imula a fraquezas p ~· oaes. Esconde-se

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AIJ'l'ORIDADE HlS'l ' &l 'A DO PEN'l'ATEUCO 137

quanto pód , do me mo modo qu ' d pojára de toda a


ambiçã e ac -itára ó com p ar a. sua mis ão de liber-
tador. Não, não é a im que um velha ·o creve a bi toria.
III. A.inda qiie M oys ,s pretendes e enganar o
Jud eiis, era-lhe irn.po sível cons g1ií-lo - om eff ito,
dirigia- e a um povo in truido, tanto quanto eUe mesmo,
da hl toria do us antepa ad . l ' m di o, contava-ili
prodigio orno eff tuado ob vi ta de t " .Ah.i
se a llavam ahida do
Egypto ou d facto milagroso r alizado no d rto, e
não r eia diz r-lh : « o o cont rn.plaram toda
obra !» D eut., xr, 7.).
i Mo~é fo e um impo tor, mo e ha de e plicai·
que a nação int ira não e tive e in urgido para o
confundir e lapidar, orno ell proprio ordenava que
lapida em o pr varicadore ?
Dir- e-á qu a na ã foi umpli · ? ria
n m uma te temunha hon ta para prot tar ! Os homen
de todo o t mp ão o m mo e <liz i-m i deixarieis
alt rar ou fal. ili ar de tal mo lo a hi toria patria?
Afinal a i tituições e o monum nt da nação
judaica ão uma garantia da de M y é : o
t mplo d J rusal ' m onde con rvavam a ta boas da
l i, a f . e da Pa.s hoa do p nteco te in tituida UI
m m ria <la ahida do Egypto e da promulgação da lei
no inai, toda a 1 gi lação do povo h brai o, tanto
ua hi toria, confirmam a·' narrativas de Moy é ão
um p nhor de sua veracidad .
91. - III. - I TE RlDADE DO PE TATEUC .

l or ta palavras, ent nd mo" que o P ntateuco no ·


chegou m alteração importante no tocante ao dogmas,
ao en ino morae e ao fa to importante. nell contidos.
em duvida, ncontram-se, nos vario t xto alguma

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13 DIV!NJ).\DE D.\ REVELAÇÃO :MOSAICA

differença de con t'rucções e expressões; mas, no fundo,


não ha nenhuma differença essencial.
l.º E ' urn. facto que todos os textos do Pentateuco
qne no foram legado · pela antiguidade, estão perfeita-
mente semelhantes. O texto judaico ou hebraico concorda
com o texto saniarita?w. A mais antigas versões, a dos
Setenta, feita em língua grega, 285 annos antes de Jesus
Chri.sto, a do Arabes, a antiga Vulgáta latina, e uma
multidão de outras traducções ão identica . É preciso,
poi , admittir a integridade do livro primitivo, ou
uppôr que todos o textos estão alterados, e todos do
me mo modo: o que é materialmente impossível.
«Re entemente o douto.r inglez Buchanam, achou na
India e trouxe para a Europa um manuscripto de que
e serviam os Judeus de raça negra estabelecidos, desde
tempo immemorial, naquella ' regiõe , e eparado de todos
os seus correligionario : este Pentateuco indiano não
differe da nossa Bíblia.» ( Card. Wisema;n.) O t rab alho
dos rabino sobre a Bíblia, a im como os estudos do
ca tholicos, dos protestante · e dos racionalista· confirmam
esta perfeita integridade do Pentateuco.
2.º A razão, aliás, explica muito bem e te facto.
Considerando que o livros de Moysés servem de base á
con ·titui\ão, ás leis ao governo da nação judaica; refle-
ctindo na veneração do povo hebraico por seus livr os
sagrado ; lembrando-se de que estes livros e achavam
em todas as mão. ·, que delle se fazia leitura publica nas
assembl éa que um exemplar do mesmos e achava
depositado no templo, sob a g'Uarda dos levitas, e, emf im,
que esses livro eram o ritual dos sacerdotes, o codigo dos
juiz s, o cateci mo de todo· comprehender-se-á facilmente
que qualquer aJteração era moral e materialmente impos-
ível. Ouçamo. um historiador judaico : «Dedica-se tal
respeito a es es livros, escreve J osépho, que ninguem e
atreveu jamais a lh es tirar, accrescentar ou alterar a

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A 'rORlDADE HISTORI A DO PENTATEUCO 139

menor cousa. Consideramol-o como divinos, chamamol-o ·


assim, e fazemos profissão de os observar inviolavel-
mente e si fôr preciso, de morrer com alegria para os
manter (1) .» Os Judeus guardaram este cuidado zeloso
e o christãos fizeram ouüo tanto : explica- e, poi, , a
perfeita integridade do Livro agrado em o- r al e do
P entateuco em particular.
Por conseguinte, resta-no con cluir que, n o t riplic
pont-0 de vista da auth enticidade da veracidade e da
integridade, os livro de Moys' merecem toda a con f ian -
ça. Podemo::., poi , com toda a eguran ça bw;car nell ·
o nos os argum ento ·e as no as provas da divindad e da
R evelação judaica.

CAPITULO II
DIVlNDADE DA HELJGIÃO JUDAICA DEMO S'l'RADA PELA
PROPHE TA

I. Prophecias anteriores a Moy és e de que elle é omeute o


hi tori ador. - II. P rophecias de Moy é . - UI. Prophecias p o te-
1;ores. - I V. Exp ctativa univ rsa1. - V . olução das obj ecções.

92. - A Revela ã mo aica ou judai ·a apr 'enta- 'e


a nó fortal ecida por grande numero de prophecia . Umas
·ão anter ior s a Mo é , e este não ' . inão o narrador ou
hi toriador dell as; outras são de Moy és, outra mfim
. ão d uma 'p a po terior. L embremo. summariamente
as principae .
1.0 Prophecia ant riore· a Moys é . - êm relatada
por ell e uo livro d Gêne i. e e rl'ferem parti cularment"
á prom a elo Me" ·ia . primeira ' fe ita por Deu:
me mo a no o primeiro. pa , logo depoi da queda
ori D'inal. Dirigindo- á 'erp ent , ·ou ante~. ao demonio
(1 ) J o ópho , 0 11t111 .:! µ /t Í-011 , liv J, cup. TI .

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140 DIVINDADE DA REVELAÇÃO MOSAICA

tentador, disse-lhe: «Porei inimizades entre ti e a mulher,


entre a raça della e a tua: ella esmagar-te-á a cabeça.~
(Gen. m, v, 15.).
Essa promessa de um libertador é renovada a Noé,
d pois a Abrahão, a Isaac e a Jacob. E. te patriarcha,
no ponto de morrer, torna-se propheta e diz a Judá, o
. quarto de seus filho : «Judá, teus irmãos te louvarão ...
O sceptro não sahirá da tua raça até que venha Aquelle
que salvará o povo de Israel, o Desejado das nações.»
(Ib ., XLIX, 10. ) Depois, predisse o d tino de cada um de
seus outros fill1os.
Moy és não é mais do que o narrador dessas primeiras
prophecias · porém, ella não estavam ainda r ealizados
quando foysés as consignava no seu livro, e cumpriram-se
litteralmente entre o povo judaico, na descenden cia de
Abrahão, na familia de Judá.
II. Prophecias de J11oysés. - O legislador dos Hebreus
foi tambem propheta. Cada uma das dez pragas do
Egypto foi p or elle annunciada de antemão, com indica-
ção preci a do principio e do fim. (Êxodo, vm.) Estes
acontecimentos, é verdade, não estavam afastados, mas
eram sobrenaturaes, e, por conseguinte, o homem não o
podia prever sem uma revelação divina.
Em seguida, Moysés annuncia aos H ebeu que terão
um rei (D eut., xvn), e, 400 annos mai tarde, a sua
predicção e realiza. Disse-lli es que, em castigo de sua
revolta contra Deus, nenhum dos que estavam com vinte
annos na época da sabida do Egypto, entraria na terra
da promissão, com excepção de Caleb e de Josué (Num.,
XIV ) e o annuncio se verifica. Prediz um legislador maior
do que elle que o povo de I rael deverá ouvir (D eut.,
xvm) : é o Messias que apparecerá 1500 annos mais tarde.
Prophetiza a ua propria morte, e ella chega no momento
marcado, sem accidente ou doen a que a ·preceda. Afinal

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PR OPHE CIAS 141

esta prophecia tão bem verificada durante quinze éculos,


bastaria para comprovar a sua missão divina: em varias
circumstancias annuncia que si os Judeus fôrem fieis á
leis do Senhor, Deru; fará para elles prodigios iguae
áquelles de que gozaram seu antepas ado ; mas, pele
contrario, i se esquecerem do verdadeiro Deu e r ejei-
tarem a ua lei ser ão acabrunhado por flag llo e redu-
zido a uma servidão de que se livrarão só voltando-se
para o enhor. Ora, toda a historia da nação judaica
acha-se re umida nesta predicção. Sabe-se como, sob os
juizes e sob os Reis, a infidelidade do povo attrahiu
immedjatamente o castigo, e como o seu arrependimento
mcitava salvador es na pes ôa de Josué, amsão, Ged ão,
,Jephté, Judith, Ezechias, Ésd.ras, os Machabeus, etc.
Toda essas prophecias tiv·e ram por objecto aconte-
imento futuro , eminentemente livre , dependentes do
u o pleno e completo da vontade humana e, muitas veze ·,
obrenaturais e milagrosos, provenientes, por conseguinte,
da liberdade divina. .A. anterioridade da prophecia sobre
os acontecimento é verificada pela authenticidade mesma
do Pentateuco que as encerra; por sua divulgação entre
os outro povos, pelas traducções que delle foram feita
em lingua sa;maritana, depois em lingua grega pelo
ietenta. .A. sua r ealização é um facto não menos certo,
provado pela histor ia hebraica e pela historia profana.
Emfim, Moy és fez publicamente a suas predicções como
garantia de sua missão divina: declara-o ao Pharaó do
I!Jgypto, e entende com isso confirmar as orden por elle
dadas ao povo de I srael da parte de Deus. Portanto, a
Revelação mosaica, esteando-se na prophecia, é manifesta-
mente divina .
.A.ccrescentemos ainda que esta conclusão recebe nova
·onfir-mação nas outras prophecias com que a nação
judaica foi favorecida depois da morte do eu legislador.

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142 Dll'! NDADE DA R EVELAÇ'ÂO ~10SAI CA

III. Prophecias post eriores a Moys és. - Longe de


attenuar e faz er esquecer as predicções do seu enviado,
Deus, nos seculos segiu.inte.s, as confirma , pelo contra r io,
por outro prophetas, quatr o gran d es e doze peq1tenos.
Seria por demai ex:t nso r elatar aqui e tu.dar deta-
lhadamente todas as . ua: predicções ; digamos somente
que uma ·e reforem a·os grande acontecimentos que
inter essam o · reinos d e Israel e de Judá, e as nações
implicadas na hi. toria dell'e . Ma ei quatro factos prin-
cipaes por elle anrnmciado · : 1.0 A ruina de Níni ve e do
primeiro império a yr io (Nahiun . o 3 cap .) · 2. 0 o ca-
ptiveiro de Babylônia e ua duração de 70 anno , predito
por ,Jeremias (cap . xxv e xxrx ) . I aias, 200 annos antes.
p rophetiza o fim delle e noméa a yro ( cap . Lxv) ; 3.0
duran te es e ca ptiveiro, D aniel vê e annuncia a ucces. ão
dos quatro grandes imperios qu e devem pr ceder o
Messias : Assyrios, P er as, Gr ego , Romano. ; 4.0 a tomada
ruína de Babylonia, com a queda do egundo imperio
a yrio ob Balthazar, admiravelmente d·e cripta por
I aia , com 150 anno de antecedenci.a, r ealizando-. e com
yro ( 538 anuo ante de J esus Christo ) .
As outras prophecia ' 1 - e ão a mais numerosas, -
l ' fer em- e ao Messias promettido e esp erado. Póde-se
dizer que toda a historia de J e us Chri to foi feita ante-
riormente.
1.0 A época do eu na cimento é annun ciada 490
an.nos ante por Daniel (cap. 1x) e por Malachi ru (cap .
m ) · na cer á de uma virgem, diz I aia (ca p . rx ); em
B elém, accr eJ centa Michéa (cap . v) .
2. 0 ua infân ia , ua vida. ·ua~ p r egaçõe. , ·eu:
milagres ão p articularmente amrnnciado por I aias.
( cap. IX, XLII. LV. ) .
3.0 A paixão e a morte do Salvad or são de criptas
p lo me mo propheta (cap. LJIJ ) . tamb m por J er emias

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PROPH F.C' IA S 143

(cap. XI, Larnent . ap. ru ), Za charia (cap . XlV ) , e David


no eu Psalnios (Ps. II x 1~ . LlV, xvm, etc. ) .
4.º A Resurr ição de J Tt;:; hristo ' predita por
O éas (cap. xrv ), por David (Ps. xv ) .
5.º A r eprovação do povo judai o é prophetizada por
Dani 1 (cap. rx), O éas (cap. rn ) , Amo ' (cap . IX) e
I aias (cap. LIX) .
6.º Afinal, o r inado de J e u. Chri to stabelec i-
mento de ua Igreja, sua perpetuidade gloriosa, formam,
por assim dizer, o th ma de toda as prophecias : Daniel
( ·ap. n v11 ), I a:ia ( cap . rx Lv, LXV, etc.), David (Ps.
u , CL'\' etc.) têm prazer ro de cr ev r es e imper'io
immortal.
E ' as.sim que d Moy. ' a. J e u Christo, Deus cuida
em preparar o hpm. ns a urua nova R evelação. Todas
e.~ . as prophecia · como as que precederam, ão anteriore ·
aos acontecimentos; Judeu a possuem como o Penta-
teuco; hoje ainda tão entre as mãos das t r ibus disper -
·a. que esperam mpre p Ja realização dellas: cegas,
não quizeram vêr a luz! 'omtudo, essas prophecias cuj a
data ·é certa, ram clara ao ponto que milhares de
Judeu não puderam resi tir á evidencia do eu cumpri-
mento, porque se r ealizaram exactam nte na p s 'Ôa d
.J e us 'hristo, assim omo o vamo verificar.
93. - IV. ão deixemo e te rápido e. tudo da.
prophecias m essiânicas sem fazer notar e verificar o
,guinte. xpe tativa de um Me ia foi universal e
eria inexplicáv 1 em uma pr ome a primitiva fortalecida
por annúncio proph tico . E ' cer to que esta expectativa
não foi par ti ·ular ao H ebreus. J ob, no paiz da Iduméa,
1 00 annos ante de J sus Christo, proclamava ua
's perança em um Redemptor ; Balaão, vindo do paiz cl
Moab, annunciava a estr ella que se levantaria sobre o
ber ço do alva<lor. Todo os povo. antigos têm as mesmas
t radições.

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DIVINDADE REVELAÇÃO MOSAICA
144

Entre os Persas, lê-se no Z end-A.vesta, escripto por


Zoroastro 600 annos antes de Nosso Senhor, que um
mediador, chamado Mithra, intervém entre Ormuzd,
Deus creador, .e o homem culpado, e vem destruir o
imperio de A.hriman, espirito do mal, ou demonio.
A China, no tempo de Confucio ( 500 annos antes de
Jesus Christo ) , tinha as mesmas esperanças, e o K ings,
livros sagrados da nação, dizem que o libertador esperado
virá do. Occidente.
A India, com as suas incarnações millenarias de
Wisc hnú, fala como a Cb,ina e a Persia: a parabola ·ao
menino transviado, salvo por Baghavat, nos contos dos
Vedas, não é mais do que a allegoria do mundo esperando
um Salvador.
Os povos mais civilizados da Grecia e de Roma
conservavam a mesma fé no Redemptor promettido.
Aristóteles diz que elle é «verdadeiro libertador e salva-
dor.» Segundo Platão, «é um Deus feito homem que virá
para ensinar os mortaes». Sócrates, no seu Dialogo com
Alcibiades, relatado por Platão, diz «que é preciso esperar
por um senhor que virá ensinar á humanidade os nossos
deveres para com Deus,» e julga que não ha de demorar.
Em Roma, Tácito e Suetonio referem, nas suas historias,
que, no tempo de Augusto, antigas tradições annunciavam
que, nessa época, o Oriente recuperaria a supremacia e
que homens vindos da Judéa seriam os senhores do mundo.
Virgilio na sua Écloga a Poll!ião, faz-se o interprete dessas
tradições, cantando o nascimento de um menino que ha
de r estabelecer a idade aurea, e Cícero relata que as
sibyllas multiplicavam -0s oraculos annu.nciando o advento
de um rei cuja soberania Roma havia de r econhecer.
Nas Gallias, os Celtas adoravam, sob o nome de Isis,
«umai virgem da qual nascerá.a um filho, desde muito .
t empo esperado.» Esta tradição é confirmada por desco-
bertas feitas no paiz de Chartres, e em Ch.âlons sobre o

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PROPHb! I A S l4õ

Marne em 1 33, de uma inscripção encontrada no


de troço d um templo pagão : 4: Vfrgini pariturae
Dniides.»
De todo e pormenor concluamo com Voltaire
uspeito de amigo do chri tianismo : «Era,
tempo imm morial, uma maxima ntre o Hindú
hin ze que o ábio viria do O cid nte. \.. Europa
pel ontrário, dizia que viria do Ori nte. » Voln y, outro
phllo opho incredulo confessa que «a cr nça num grande
m diador a ha a- e palhada p r t da a \.. ia,» Boula 11-
"" r outro impio, reconhece qn «não ha povo algum q·ue
não tenha tido em U1ante xp ctativa.» Conviria accre -
cantar que desde a R elação chri tã cessaram todas e as
e perança , e porque? A razão di o é qrue todas as pro-
phecias já tiv ram a ua realização.
94. - V. \.. r p eito d prophecias contida na
R elação judaica, a incr edulidade, mentindo a i própria
fez est duas objecçõ contrária :
1. 0 pr ph cias ão por demai clara · : evid ute-
m nte f ram feita d p oi doS acontecimentos.»
R. - A objecção cabe diante das provas de autheu -
t icidade qu já demo . O e::;cripto de Moy é e do
propheta ão muito ant rior aos acontecimentos. O:
· us exemplares foram e palhado por toda a part .
versão saniaritana, a dos Set<Ynta, a Vu,lgáta, a Biblia ta l
qual ainda e acha nas mãos do Judeu , tudo demon tra
que o texto da prophecia é antigo e não ·offreu, ao
dépois, nem alteração nem modifica,, ão tendo por fou
tornal-as mais clara .
2.0 «As I rophecias ão ob curas: dá-se-U1es a sigui-
fi cação que se quer. Além di so, não será arbitrario
recolher em differente lugares textos ca uae e ajuntal-os
como si fo em uma só e me: ma prophecia ?»
R. - Ha ob curidades na · prophecia : é possivel. E
porqu e? E ' que não nos collocamp no ponto de vista

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146 DT V!NDADF. DA R1':VELA ÇÃO MOSAl A

preciso em que Deus se a0ha, julgando os oraculos no seu


conjuncto e nos seus detalhes: Deus fala, mas aos homens
de uma época, de um lugar, de uma nação, segundo a
lingiuagem e as necessidades delles. E ' o conjuncto da
predicções que dá e plendor a ellas e força á nossa
demon tração. Seriam ellas verdadei ramente o effeito
do acaso? Valeria tanto dizer, segundo a resposta zom-
beteira de Cícero, que um animal com o seu focinho
escr eveu a Andrórnaca de Ennjo.
3. 0 Mas, accrescentam certos, si as prophecias são
tão numerosas e tão evidentes, como se faz que os
J udeu.s tenham recu ado reconhecer Jesus Christo como
o Messias?
R. - Si consultarmos a historia, vemos que os Judeus
são de opiniões muito diversas. Uns ficaram impressio-
nados pela evid encia e converteram-se em grande numero:
foram elle que formaram a Igreja primitiva, e era
preciso que ua convicção fosse profunda para os levar
a abandonar uma r eligião de que apreciavam a excellên-
cja e que até então fôra verdadeiramente divina. Os
outros fechando os olhos á luz, obstinaram-se em desco-
nhecer o Messias: este endurecimento fôra prophetizado
p or Isaia e longe de ser um inconveniente para a causa
de J e us Christo, dá maior esplendor á verdade, porque,
hoje ainda, ch sper os sobre todos os pontos do globo., os
J ud ew ão as testemunhas inconscientes, porém autori-
zada ela verdade das prophecias.

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MlLAGRES 147

CAP I T ULO III


DIVINDADE DA HELIGIÃO JUDAI A D]!;í\10 'L'RADA
PELO MILAGRES

1. Principais milagres ffectuados a favor da Revelação


mosah:a: l.º as dez praga do Egypto; - 2. 0 passagem do mar
\ ermelho · - 3.0 factos surprehendentes acontecidos durante a
e tada no de erto. - II. Refutação do systema nat11.rali sta do
y tema mythico.
1'
95. - I. Ta impo ibilidade em que e tamoo d e
reforir e di utir detaUladamente ca da um do fa to
mílagro. o relatado por Mo és, contentar-no. -emo com
lembr ar o principai . Agrupam-se ao redor de três ·' rie
le acontecim nto : 1.0 A. dez pragas do Egy pto; 2.0 a
passag m do niar V nn elho · 3. 0 um conjuncto de factos
adrnirá eis acontecido. · durante . 40 anno. que os Israe-
lita moraram no deserto.
1. 0 As Zez praga do Egypto . - Moy · ~ · llOr or clem
de Deu:>, fôra ter com o rei Pharaó para lhe p edir a
liberélade do povo hebrai o detido em servidão por es e
monarcha . A vi ta d a recu a do rei e como prov1:1 tl e
. ua mi ão divjna, Moy. é. feriu o Egypto de dez fla.gellos ,
c:om qu ameaçou u ·c:es:ivamente o oberano egyp io n o
c:a o de e lle persistir em ua re u . a . o curto espaço ele
cinco ou ei · semana. o. flagellos e multiplicaram n a
ordem seguinte: as agua fo .r ilo e ele tod os o:; 1 o º"
foram transformada em sangue por sete dias ; - o
E&ypto. achou-. e1 coberto de rãs, em . eguida de pernilonO' s
e ao depoi de mosca ; - uma grande mortandad e dizi -
mou o rebanho ; - ulcera espantosa atormentaram os
habitante-- ; - tempe tades e chuvas de pedras a· olaram
o paiz; - nuvens de gafanhotos destruiram a colheita: ;
- durante tr dias, trevas e. pes.·ru obr iram o Egypto ;
- afinal, numa só no itt, o anjo exte1·rnina lor matou
todos o, primogenito. do. Egypcio . ( "f!)x odo, cap. v-xrr .)

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148 DIVINDADE DA REVELAÇÃO :MOSAICA

Todos esses factos são annunciados de antemão por


Moysés e se r ealizam como elle predisse. Com isso o
Egypto fica apavora.do. O Pharaó endurecido vê-se cons-
trangido a reconhecer o dedo de Deus e cede ás instancias
do povo egypcio que pede a partida dos Hebreus, tanto
receio tem de outros flagellos: tres milhões de habitantes
sahem do captiveiro.
Esses acontecimentos, Moysés os refere a contempo-
raneos : não teme appellar para os que di so tudo foram
as testemunhas. Achamol-os attestados por auctor es
pagãos. Manethon, na sua H istoria do Egypto, Tácito,
na uas H istorias (liv. V, cap. 1), falam d esses factos
extraordina.rio que tiveram por resultado a sahida do
povo e a sua estada no deserto.
Esses prodígios foram pru.blicos·; são contado por
nações rivaes ; são derogaçõe manifestas ás leis geraes e
constituem verdadeiros milagres ; além disso, Moysés não
os realizou sinãQ para provar que era enviado de Deu .
2.0 Passagem do mar V ermelho. - Depois de tre
acampamentos no E gypto, o povo hebraico tinha chegado
em frente do mar Vermelho (Mar Erythreii, hoj e Golfo
Arábico ), e achava-se perseguido p elo exér cito do Phar aó.
Os H ebreus a ustados p ediam para voltar a.traz e entre-
gar-se pns10neiro . Mas, por ordem de Deu , Moysés
extendeu a mão sobre as ondas, e as aguas se dividiram,
ficando á direita e á e querda, diz o texto sagrado escar -
padas como uma montanha. Os Egypcios se lançaram
no encalço do Israelitas; porém, a um signal de Moysés,
as aguas se juntaram, submergindo todo o exercito de
Pha.raó «do qual não escapou nem um homem.» Chegados
á outra margem, Moysés e os Hebreus entoaram o cantico
da libertação.
Basta ler esses pormenores da I,larrativa da Bíblia
para ver que se trata, com effeito, de um verdadeiro
milagre, - não de uma passagem a favor do ·fluxo e

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ílLAOR E S 149

refluxo do mar, - mas de uma uspensão evidente da,


lei da natureza. orno, na realidade, tras milhões de
homens teriam pa ado no intervallo de seis horas e num
e paço de 300 pas os deixado pelo refluxo? Como é
pos ivel que o exercito egypcio, que devia conhecer esse
movimento da.s ondas, tenha avançado por esse lugar com
tanta temeridade? E si o facto fosse tão imples, como
Moysé con ·eguira per uadir ao :povo que isso era um
v rdadeiro milagre, e ainda instituir uma f ta comme-
morativa d um pretenso prodígio contra o qual todos
teriam protestado? Segundo o testemunho de Estrabão,
Diodoro d Sicília e Manethon, havia, entre os I chthyó-
phagos, habitantes da praias do mar Vermelho, tradições
relativas á pas agem de um grande povo pelo leito
de eccado do golfo.
3. 0 Milagres eff ctuados no deslPrto. - Multiplicam-se
por a im dizer, a cada pa o: a) Uma columna de
111Uvem, durante o dia, guiava o povo de Israel e lhe dava
ombra; tornava-se lumino a durante a noite. «Perma-
neceu, em exceptuar nm só dia nem uma só noite,
durante toda a viagem. » C~xodo, XII.)
b ) Codornizes cahiram com abundancia no deserto
de in, a ponto que, durante um mez, todo o povo poude
alimentar-se com esta comida. (lb. xv1) Aqui, não se trata
la p assagem de aves de arribação: as codornizes são
trazidas. providencialmente ao meio de um deserto em que
não podiam achar alimento.
e) O manná que, durante quarenta annos, servia de
alim nto ao povo de Deus, é um dos milagre mais extra-
ordinarios. om effeito, cahe regularmente, desde o
momento indicado por lYioy é· , durante quarenta annos,
todos os dia , excepto no sabbado; mas, na vespera deste
dia, cahe duas vezes mais abundante, e, por excepção,
conserva- e só no dia do sabbado; uma medida desse
manná, collocada na arc:1 p r Moysés, alli se conserva

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150 DfVl l'D.\D E n.1 REVELAÇÃO MOS .II .\

inalteravel durant E' muitos ·eculos para attestar ao~


H ebrew o milagre realizado a favor de eus pae · (Êxodo,
x ·r. ) Como d epoi I retender explicar e · es factos p ela
pret n. a tamargueira (tamarix mannifera ) que cresce na
Arabia ma não poderia produzir em um anuo com que
alim entar um homem durante ·ei meze ?
d ) A_ ag1ta elo rochedo, po.r duas veze , jorra sob a
vara ele fo~r sé. para ap lacar a êde de todo o povo. Tácito
(H1.st.. liv. Y, 1) e Plínio (liv. III, 1 ) , narram e se
facto rnaraYilh o>;o, e attrihu m a Moys 's um poder d~
m~ gico .
) A promulgação da lei obre o inai, no meio do
ap parato formiclavel d cripto por Moy é (Êxodo, XIX
e xx ) C'On. ti tu <' um facto milagro. o de primeira ordem,
atte.s tacl o 11ão . ó pelas taboa onservada · na arca de
allian ·a. ma;~ ainda pela duração desta lei durante 1500
anuo .. 11 té J e·s u Christo., e pela história de um povo cuja
vida e r egula 1 or e ta surprehend nte promulgação.
::.\fanetb on e Diodoro de icilia attribuem esta legislação
ao .Judeu Mo. 's e dizem que elle a rec l>Bn d J ehovah .
f) Afina l, a ron ·ervação. da roiipas e dos calçados
dos H ebr eu. d nrante quarenta anno é outro milagre
1

permanente. P ara diminuir a importancia d te acont -


ci m nto, ce rto. auctores, Goethe (I rael no deserto ) e
Renan (E studo de historia rel·igiosa ), tentaram reduzir
a doi ann o. isó a c1 mora dos I raelita na Arabia. ua
affi rma ção r Yictoriosamente contradita pelo judeu
l\lfün k ( Pale ti na ) . A sciencia veiu por sua vez legitimar
11 narratiYa ele Moysé . Em 530, um frade egypcio, por
nome Cos111as, numa obra intitulada Topographia cliristã,
publicou a rela ão de uma viagem na Arabia e no Sinai,
em que se acham r produzidas grande numero de inscri-
pçõe gravada: ·obre o rochedo , e indicando os acam-
pamento elo.' Hebreus. A isua obra, esquecida durante
doze ·ecu los ·ó foi publicada em 1707 pelo benedictino

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MILAOR..ES 151

Montfau on. E a divulgação determinou o Ingl z


Pococke e um Francez, o ond d Entraiaue a empre-
henderem a viagem do inai para v rif i ar m emelhan .
dad : foram com eff ito, achado muit xa to as
inscripçõ reprodrurz.ida p lo mini tr !inô'"k~ For. t r
onfirmam a• narrativa d-0 :Êxodo.
E preci o p is r onh c r qu
ão numero na história da Rev la ã m ai a,
impo ivel attribuil-os a au a natura . A vida :to povo
judaico, durante 1500 anno , no m i da auerra~ da.
divi - eria, m a intervenção da ProvidAncia mai.
tun mila()'r p erman nt : a rie da maraYi1ha · ff tua -
cla por J ehova h a fa or de et ant pa. ado , mant m
ainda hoj o Judeu na perança d que hã d r uperar
ua antiaa independencia. Que ha de ·on lnir logi ca-
mente inão que o leai lador d Hebr us pr vou a ua
missão providen ial divina por uma ucce ão dos mai.
urprehendentes milaare ? Por con eguint , a religião
por elle ftmdada em nom de Deus ' uma r eli(l'ião divina.
96. - II. omt ud o ontra o milagr · m a ral
contra o da Revelação judaica em particular formou-
uma dupla orrente de opinião racionali ta, m tendencia
a conte tar-lhe a realidade e o valor. E te doi y t ma
de interpretação no.· vieram da .Allema'Dha : 1um , o
11aturali mo, outro, o mythisnw.
egundo o natiiralismo, nos pretenso fa t mila-
groso , não ha nada de obrenatural, mas tudo e póde
d .plicar, quer pela cau sa ordinarias, quer por certa
esperteza do operadore , quer emfim pela int rvenção
de causas de conhecidas da multidão. Assim, tudo dev
. er r eduzido a uma interpretação natural: a. vi ões são
hallucina.çõe · as pragas do Egypto actos de pre tidigi-
tação, imitado aliás pelo magos de Pharaó · a pa sagem
elo mar V rmelh o se effectuou p or favor de uma maré ;
o manná era uma espe ie de cogumelo ; o trovões do

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,,
152 DIVINDADE DA REVELAÇÃO MOSAICA

Sinai eram petardos; e, afinal, não se deve esquecer que


Moysés era muito versado na sciencia occulta dos
Egypcios.
E sse systema naturalista se refuta por si mesmo : o
mesmo Strauss, racionalista àllemão, se indigna contra o
que chama «as produ cções monstruosas de um systema
que renega a hi toria, sem freio nem r egra (l ).» Ren an
acha este processo engenhoso, porém «as mais das vezes,
ubtil e forçado (2) .» Com effeito, si semelhante inter -
pretação p'lldesse prevalecer algum dia, não haveria mai
certeza· alguma: a palavras não teriam mais sentido, e a
linguagem não passaria de extranha confusão e perpetua
mentira; não subsistiria nenhum acontecimento historico.
Ora, appellamos para o bom senso de dezoito seculos
e para a bôa f é universal. Não somente os Juqeus não se
enganaram a respeito do ~aracter milagroso dos fa ctos,
mas nunca occorreu a um homem erio a idéa de compa-
ral-os a prestidigitações ou a processos magicos. Podemo.
desa.fiar todos os pr estidigitadores do mundo a que
produzam um facto um tanto chegado aos milagre de
Moysés. Im ocar causas desconhecidas, é uma confissão
de ignorancia, e, além disso, uma falta de bom senso,
porque 'll.ma causa, ainda que fosse desconhecida, como
a força mysteriosa do magnetismo e da electricidade, é
sempre universal e produz effeitos constantes : o milagre,
pelo contrario, é sempre uma exc!:)p ção; caracteriza-se p ela
extr anheza e pr·ecisamente pela ausencia de relação entre
o effeito e a causa, que não é, de ordinario, mais do que
uma palavra ou um acto da vontade.
Por isso, o modo de interpretação n aturalista é agora
julgado e abandonado, como demais simplório ou r idículo.
Então, o racionalismo se apega á interpretação mythica.
O mythismo é .o systema dos que sustentam que os
dogmas ou verdades sobr enaturaes não são mais do que
(1 ) Strauss, VW,O, de J esus , t . II, p . 675
(2 ) H istoir e critique de J éaiu .

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M T L A G R E S 153

symbolos ou lendas, e os pretensos milagr es não são


factos mas simple mente interpretações engenho a .
Segundo elles, o mytho é a expressão symbolica de uma
id 'a, de uma verdade r eligiosa ou moral, ou de um fa to,
sob o véu de uma narrativa fictícia , ou, i r eal no fundo ,
;:idornado com circumstancias inv ntadas e ordinaria -
mente maravilhosas. Ha mytbos phi'losophicos, que são
uma forma de narrativa escondendo id'as ; mythos
po 'ticos r e ultantes da imaginação e formando a 1 nda ;
mytbo historico , fa tos conservados p la tradição, mas
mb llezados á medida que se tran mittiram de bôcca em
bôcca.
Poi ·que pela primeira vez, encontramo o ystema
mythico, importa mostrar a sua falsidade: a no a r efuta -
ção ervirá não só para a verificação dos milagr da
R vela ão mosaica mas ainda para a do milagres do
Evangelho.
Para dar-lhe alcrurna con istencia os p artidario do
, y tema mythico o faz m de can ar sobre dna r azões
prin ipai : 1. 0 a diffi uldade de explicar por outro modo
a narrativas maravilhosas da Biblia e do Evang lho · 2. 0
mna razão d analogia.
Depoi do que di. emos da po sibilidade dos milagre .
torna-se inutil re p011der á primeira razão invocada p elo
mythismo. partidarios deste y tema não querem
sab r da ex,pli a ã naturali ta: têm razão. Mas entre
e ta opinião e o ystema mythico, vem a explica ão
atholica que tudo concilia. Inutil, poi recorrer a uma
theoria que não tem base alguma ·como vamo proval-o.
Quanto á razão d@analog-ia, eis como o partidario
do mythi mo a e tabelecem: «Entre todo o povos, dizem
11 s, a fabula pr deu a historia; e o douto Varrão
livide judiciosamente as diversas idades do mundo em
tres classes: os tempos desconhecidos, os tempo heroico
e os tempos historicos. ~iro como os demais povos, os

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,,
154 DlVI:ilJJADE DA REVELAÇ'ÃO M OSAICA

Hebreu estiveram forço amente submettido a essas lei


e, entre epes tambem a ign oran cia a imaginação, a poesia
criaram tradiçõe heroica obre a ua origem e a sua
p rimitiva hi toria.»
Or a, essa r azão de analogia e tá ver ladeiramente
sem base e em força, porque: 1.0 as narrativa fabulosa .
ou mythica das outras naçõe , egundo Strau mesmo .
exigiram . ecuJos para se elaborar em e propagar m por
tradições orae · os livros de Moysé . p lo contrario, foram
compo to. por um e. criptor contemporaneo ou r elativa-
mente chegado ao · facto ; 2. 0 ntr e a narrativa. da
Bíblia as mythologia pagãs, não ha nenhuma em -
lhança: na fábula, tudo ' n ebuloso, phantástico. inintt>lli -
gível · na Bíblia, tudo l~ claro, luminoso preciso ; 3. 0 entre
os povos antigo . n o dizer de Varrão. mytbo precede a
hi.: toria: não anelam juntos. Na r elaç~ ele Mo~r. é .
quem pod·erá dizer ond acaba o mytho, onde começa a
historia. Encontra- 'e o maravilho. o p or tod a a parte. e
verdadeirament não exi te analogia alguma entre a
t radições bibli a e as fabula heroica da Gre ia ou da
Italia .
Além di. ·so, o ·y-tema mythico .·e r efuta rlir cfa-
ni nt . om effeito, o milagre <livino e di ·tingu e fo
maravilho. o mythologico por caractere muito notav i..
Basta, para differençal-o , omparal-o no . eu ohj to .
na . na circumBta ncias e no seu fim.
Quan to ao obj cto, <J' maravilhooo mythologic va<>
directamente á deificação da natureza elo homem; dahi
o polytheismo e todo. os u err os; pelo con rario. o
maravilhoso di' ino tende a manifestar o Deu: uni co e
ver dadeiro. mantendo o homem no r . peit na clep n-
dencia.
Quanto á circ1imstancia. da narrativa ·, nada de
comparavel ntre a implicidade da r laçõ biblica e
a · phanta ~ia . ela In dia. da China, da do Egypto;

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11 11 11 I•' F l (.' .\ O ll .1 1, I•: 1 ~I 0 S A l (' 1\ J.'j.')

11 e ta .. os
d eva neios da rabula e lo 8pirito human o;
naqu li as. o <"nnh o S€'mpr€' gr~rv e ch1 vrr o. imilhan ça e el a
\' E' rd ade.
No se u fi m. o 1m1 ra vi lh 01'0 divin é r-;e rnp1·e digno cl f:'
De11:; tenck a g lo1·ifi a l-o; tem p o r fim eon firrn ar o
l1011w nt na vi rtude . irnq inir-ll1 e nob res };r ntimen to. um
iclca l mais p rf it·o ; o mi:iravi lh os myt hol gico,, pelo
c·o 11 trar io, r r ba ixa D €'ll}; ::io nív el d homem. divini za ª"
paixõer-; e clíi ::io " ir io to h1 <1 liberd::id e.
( '·OlH· lu 11 111 os : soh toclos o. pont os el e vista , l1ão 11 H
11 11l1u1na :rna log i a , fria r ntn' os mi lagr e. cl11 .Revrl a~ão
lll osa i ·a <' o m;uav ilh oso da 111y thologia . P o1· co nseg u in tc ,
o s.vs t n1 a 111 .\·thi co (.> fnlt. o el e ba};e, €' niío pe rm anece <· tn
pr diflnt r ll e 11ns:-11s p 1·ovn s hi sto ri ef!s.

t ' \PTTl 1 T10 I \'


,))IVf 1 i) Al)I.; DA HEVE l• A\':\ Q .Jll DA I ' A D l•: i\IO NS'l' ttAJ) l ' E i. A
l ' J.]H,L~ E H,: .\o DA 1,1•:1 ~ I OS A I C'

:'-\ up <•rio r id11\l L' 111i11 r 11 Ll' da l1l' i 111 o~aie;i 11 0 t ri pli,·1· po11tu dt•
v i~ta : 1.0 do cl og n1 :1 ; ~ . 0 d a. m o rnl: ::1. 0 d iL pol itic•:1.

97. Tão pl'('t<'1Hlr 111 os q111' a /ri dr ilfoy . 's.


f'S tndild a r rn si rn ei-; m a r no;.; .'>rw; cl r t;ilh í'S. ln ·r o F:i o·nal
c· 1·icl<·11t ·e· vi sÍl'C' I el a cl il' i11clacl r : para tirnr rs ta ·o nclu sãn
riµ;oro sa , sc ri ;1 J) l'<'C' ÍSo (•onlwvl' r ;1hsn l11tanw nt c o pod er ri o
t•:-<pí ri to human o. Ora . ig nora mos o po n to p1·el·i. o r m q11 P
a<·ahil . Ma s o q ue· p HIE'ni <r.'> al'firni;1r. (> qll\' 11 unC'a
1H•n hu1n ;1 lc-µ; islação hurnana po 11 <l l' attin g ir o g r á.u d e
P t' l'l° (' Í <:~o que· se' rnanil'rs ta 11 n l ei 1n osain1 n o trip licf'
pont o d e' 1·ista d ngm ú l ico , mural . e a tÍ' p o/í,/ ico. O ra , não
<' 111 es ta sn1 <'rioridad r tão ernin n le, t. ~t o in contestav rl ,
co 11 firn1a 1· o (Ili ' l i s.· p m o~ dn sua ori ge m \' E' r la lei ru111 ent e
sobrehu111a 11a e diviua '!

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156 D1 fNDADE DA &l!:VE.LAÇ10 MOS.V A OU JUDAICA

l.º O dogma na lei mosaica. - Emquanto a verdade


religiosa, entre todos os demais povos, ia-se perdendo na
idolatria e nos mil erros por esta ensinados, as.sim como
e póde verificar p elo e tudo da historia profana, o
povo judaico, graças ao ensino e aos livros de Moy és,
·on e.rvou sempre a ma~ p'llI'a noção do verdadeiro
D ui>. Para elle, J ehovah foi sempre o Deu espiritual,
invi ível e único, criador de todas as cousas, e senhor
ab oluto do mundo, essencialmente differente dos deu e
<la naçõe , os quaes e approximavam do homem por sua
uatureza e ainda mais por suas paixões e vícios.
Com a noção de Deu , se conserva tambem a noção
ela alma humana, substancia espiritual, immortal e livre,
chamada a uma vida eternamente feliz ou infeliz, con-
forme o uso que t iver feito da sua liberdade. - Em
eguida, de a noção tão exacta de Deus e da alma, nasce
um culto r eligio o que 'não se a.s emelha em nada aos
cultos idolatrico que se encontram por toda a parte, ao
r edor des e povo privilegiado; entre elle, não ha nenhum
acrificio humano que macula as homenagens pr e~ta das
á divindade p ela outras nações; os acrificios de victimas,
·colhida entre os animaes puros, mais chegados ao
homem, são porém conservados como um emblema de
adoração e expiação, e tambem como uma figura do
grande sacrifício e perado; mas n elles trudo foi determi-
nado com uma preci ão admiravel de modo a evitar
qualquer erro uper ticioso. O templo, o sacerdocio, as
festas, tudo está organizado em vista do futuro : de algum
modo sente-se viver nelles a fé e as esperanças da nação.
Deste modo, não só a razão humana não tem nada
que censurar nas crenças da Revelação judaica, mas ainda,
comparando-lhe as doutrinas com os ensinos ridículo
ou sup ersticio os dos outros povos, só se póde admirar
a evidente superioridade dessa.s cr enças e reconhecer
nella a mesma luz de D eus.

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t ' b: I\ ~· b: 1 ' Ã 0 IJ A 1, b: J M 0 !; A 1 'A 157

n in

divin » tol.·m1 - , materiali ta.


a di()'nidade humana a ponL ur
mai . a()'ra<lo da l i n atural,
auL ri M1· R promi · uidad inJ'anti idi a mai v r o-
us im tl t rui r a .famili a
dnz ·tod11 a m rnl. a int r
J'unda a · s ola do

cn. nra r.
( ra, ouçamos M sr~ :
«H onra L ·u Lua mã .
Nrl nlllLCl rÚl:!; 11 ã e mm Uorím

li' o 1

a viuva
za, rna.s

( 1) V Ir " ll"/)11/J /it·tc tl t• l'lll/{/.o , i ol ns, A >"l do c rol>r• , t . 1, p . !\1) 2


O Sll l(U il) t (>S .

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158 DIVINDADE DA. REVELAÇÃO JUDAI CA

Em summa, a lei de Moysés não contém nada que


não eja proprio a fo rmar o oração do homem: contrasta
exce sivamente eom todas a leg i laçõe humana , e
póde-se dizer que, i a moral pura não e acha. e na
Biblia, o mundo andaria ainda a procurai-a. Mas si ella
s acha ne te livro unico, não rá porque Deu a revelou?
3. 0 A politfrct 'na lei de Moys és. - A theocracia er a a
forma poli ti a do governo entre os Judeus. A realeza é
r eservad a a D eu mesmo e é elle que er á o autor das leis
civi e politica , a.ssim como das leis r eligiosas e moraes.
«J ehováh é o r ei, o legi lador, o juiz.» (I saia,s, xxxm, 22. )
Por isso, na hi tória judai a, não vemos poder legislativo.
O Sanedrini explica a lei, porém, não a modifica.
No ponto de vista político, a legislação de Moysés é
muito .·imples. Isra el deve levar uma vida particular e
e pecial, sem nenhuma r elação com as nações extrangeiras.
ati feito co m o s lo qu e Deus lhe outorgou, não deve
entr ega r- ·e á conquista , ma · . ó defender contra os ataques
de fóra a terra . agrada ela patria. O fim de se isolamento
é conservar intacta a cr ença judaica, não corr omper a
f é nem os co tumes pelo contacto com os povo idólatras,
e conserv ar, com um angu e puro de qualquer mistura,
a esperança sempre viYa do Libertador promettido. Ahi
e ·tá o principio de e espirito de na\!ionalidade que, em
parte alguma, achamo mais ardente e mais duradouro
do que no povo judaico.
No ponto de vista civil, os regulamentos emanam
tambem de Deus. Haver á ou a mais prudente, mai
sabia do que a constituição da familia entre o povo de
Isra el ~ Com poucas excepções, a unidade do casamento
é proclamada e mantida; a autoridade do pai sôbre o
filhos, e do senh or sobre os criados, é cheia de benevo-
lencia e bondade ; os laços do parentesco são apertados

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PERl" E I , i( o DA L EI A 1 (' 159

divi ã da nação m d z tt·ibu


t rnoda innli na l p la i
d ti-
l .'

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]6(} PERF E I ÇÃ O DA LEI MOSAICA.

modo «que esta instituição resistiu á. prova do tempo,


da fortuna e dos c.onquistadores ~» Não excede elle todo
e esfôrço do espírito human o~ Ante , não s rá pre<!iso ir
procurar m D eus me mo o conjunto ele emelhante Reli-
gião Não será prec · o admi ttir que aqui ha alguma
cousa que está acima do homem e manifestamente divina ~
E' assim que, na obra de Moy ' a perfeição da
doutrina, da mor al e da 1 i se une ao r plendor da
prophecia ,.e d-0 milagre para atte tar a dNvindade da
R v elação da qual elle foi o interm iario.

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DIVINDADE
DA

REVELAÇÃO CHRISTÃ

LIÇÃO PRELIMINAR
Idéa geral e divisão deste tratado.

98. - Já conhecemos a R evelação christã. Sabemo


qual é sua origem: tem por autor Jesus de Nazareth que a
trouxe á Judéia para ser communicada ao mundo inteiro;
eu objecto são dogmas, uma moral, um culto aperfei -
çoando a Revelação mosaica. Não supprime, não aniquila
nem contradiz o eru inos da razão humana, nem tão pouco
as r evelações precedentes· p lo contrario completa-as e
constitue, no seu conjuncto, a mais bella de todas a
religiões.
Mas esta Revelação chri tã erá realmente divina ~
Virá de Deus? Será a expre., ão exacta do seu pensa-
mento e das suas vontades' Affirmamol-o e vamo.
demon tral-o.
Por emquanto não falamo da divindade da pes ôa
de J e us Christo, mas simple mente da divindade da sua
mi são. Sem duvida, esta dua verdades estão unida .
J esus Chri to disse de i me mo que era o Enviado de
Deus, igual a seu Pae, Deus como elle. Comtudo, aqui,
ó queremos considerar J esu Christo como Enviado do
alto para trazer uma Religião á terra, em nome de Deu
mesmo. Teremos provado a divindade da Revelação
christã se chegarmos a demonstrar a divindade da missão
de osso Senhor. Ora, elle foi realmente o Enviado de
Deus.
Trata-se aqui de um facto historico, confirmado
pelos testemunho contemporaneo e por uma tradição
tão constante como certa ; mas esse facto nos é principal-

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162 DIVINDADE DA REVELAÇÃO CHRISTÃ

mente r elatado e garantido pelos livros do Novo Testa-


mento, e, de modo ainda mais especial, pelos Evangelhos.
E' ahi que iremo procurar a no sas demonstrações e
as nossas prova .
Entretanto, a im como fizemos para o Pentateuco
de Moysés quando se tratou de estabelecer a divindade
da Revelação judaica, devemos: 1. 0 demonstr ar a aitto-
ridade historica do livro do N O'VO T estam&nto que
contêm a Revelação chri tã; 2.0 mostraremos q11~ J esus
Christo é verdadeiram"nte o Messias promettido, tendo
r ealizado na sua p óct e na ua vida todas a: antigas
prophecias que a elle diziam r e peito; 3. 0 patentearemo
a divindade da ua mi ão, ba eando-a, por um lado,
sobr e a prophecias por elle mesmo fe itas, e, por outro
lado, sobre os milagres a elle devidos, e de modo especial
sôbr e a ;:,Ua R esurreição; em seguida, confirmaremos a
divindade da sua Religião por um estudo rapido sobr e a
pree rnin~ncia da sua doidrina no ponto de vi ta dogmá-
tico e moral; pela maravilha do seu estab elecimento e
do eu. progre o , p elo 71J8roismo dos seus martyres,
p elo prodigio da ua co'fliServação e da siia perp etuidade.
Afinal, a no a canclusão geral será que a Revelação
chri tã é verdadeiramente divina e deve r acceita nos
seus dogma e em todos o devere · que impõe.

CAPITULO I
AUTORIDADE H ISTORICA DO EVANGELHOS

I. Authenti idade dos Evangelhos. - II. Veracidade dos seus


autore . - III. Integridade p rfeita do nossos Evangelhos actuaes.

99. - A autoridade hi órica de um livro, já o


dissemo , é ufficientemente estabelecida quando é
demonstrado : 1. 0 que é realmente da época e do auwr

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1(\'

11.M1 qu;1i a o nUr ibn rn ; 1.O <1tt1 ll(l o v~11·i l' i ·itdll qn o nul.1w
l 1do11 n. 'l'dll<1 1l ô rt)i 1) trl ( 11 nnnt.l n li ( ll l ll l~ ll !i,(1 ,. i
l' :1 .0 q11n.ndn 0·'1 Ail\ll'I pü~l'Í ] )lt>H )ll>H 1•)i (\ 11 1t p()Jt'I '1H
1111·a t oeefl tl p inl.1 J.l' "i lud • i:iul}Rl.111w i1d q111 p 1•pv1tn1 1111 ~
111td ll p .. d u d rt Hllll. 1t1Ll,0 1·itl11L1 wii11 il,i vn. (J;•n Ln H fH u
Oil li 1·0.-i d t> ov '11(1 (,11111 nt,o q11 11 11 ·c• 1•1·11 11 1 11, 1 ~ 1 11 r;11)
(• li l'i f.1 11 ; LllC'H HI o Jll~ l'I il·11 li11 ' l[l•(\ ll [11 Oil 1ltlHHó H /!] 1 W/ l(j //,, () .~ .
() ~ 11 ()1-t'lOH H.d VC' l'f.l11 1·iof.l 1 OH ?"!// 1:ona/i.~ fll 8 t\O tli111tlp t11·n
n co~, on f.{ 111r1 <> H o •0 111. 1-1 l n 111 : 11 6H, p lo
t•0 11(,1·11rio 1 l'! l lHI 11
l111ll Ofl ((ll t\ 1L 1111l,(l l' Íd 11 d ld Hl01·i1·1L d
l11Vitllf.{ 1 1]1 (1H Il i U
IH
(l ixn C:t> ll Hll ll] J.t ll ltlll, li, d (Jl'IC'.jf11· Jl OÍH (jlli (l~Jl lll d 11111n
rn11/h M1,tfd <l1.1({1; p e d 1• i(,11n1 r 1il 1· HL11,IHll n1; id11 , de• 11ni 1 1 m ·11,
r•i'fl rul c 1-1n nrn1 11, cl 11 m11, ·i1~/ 1•r1 1 "lrlnrln 1 ll1'lt1l1d 11..

100. - I!' J\ IJ'J' ll MN'J'I IJI Al)lil )JOH ICVAN(111\111J f)!i ,

OH q1 111tro lilvn 1 1 ~ r Jli oH Kito ·xnc l11111 (·nl1· d mi 1i11 ·l,or 'H
nofl q11 nc '" ' ·º
t\ Lt,rilJ11 idw;, t• <·11.i oH 11 oll1 f'i'l l1w1\ 111 . N 11
M(ll/1 (! 1 1 .~ rH•t'(.! li () R u livro 011 tr <11; ll'llll t;k tl !i (18 111
.J t'lill f.I ( lhri HI O ; .w o M flfCtJ/1 1 Il i IJll H 11 1t ll OH 111 11.iK Lnq l1 ; 11 1 IJ
(•11l1'(• l)H HilllCIH !):, (' ()() ; 1· 8/lO ./ 1)1 11 rl/ t ÍH Ol l 11 il"ll(IH
/ , 11 r;t1 .~,
11 0 1u111 0 100 d11 ur·n ~ li l'i 1-1 l 1 .
1iHi.ll t,IH•Kt' ('llf lil11 l p6tl • 8( 1· 1'111;il1 11 11 Lt !)l'OVlld!l J) r
1 1

q1nit, ro ll l' j.ç l!lll ('ld,()H dí 1.d. i111~ LIJH: l.º () .~ Cf/,1'(// : l f'1'('H i ~ldrt
.~ (! (),~ !1QH lilv 11 111.ç.•ll101i; ~.º (L 711 1 r1 .~ 1· 1 · i11 ç1 (J 1111 JI OHHI' l11< iLi u111
<I li k ( pi H(• ll"l)Jl' l tlV' ll l f.;' J'(• jll ; ;J.' 1 l/ H fr Htl"IJl'l('/'l,hfJ/I
. t· fl1'Íir1 .~ rto ,q, 1int IOK cl n lii Ktl1r i1l, (' 11 .n 1~ i r11111r11111 i l1it!Ítl1ul rJ
ilt• ?/,lli/t Mt1! /Hll/Í~! l o.
1. > Hoh d<• (• a l'(Jt; lnr 11 int1·i n11t' N111, 1il.e11 d 1r1 )H
1111 111 1

OH HÍ ll ll fl '"" q11 alid11dt H q il( (~ lrl HÍ (ll'Oj1 1'Íl)H l,1·u:t. Ili ()


1

l1Jv 1l 11 K'1 l lt oH . A l i111.ç 11 n n1 q11 !'(1 1·1( 111 c)o n1p <)1i l OH 6 ,jf~ 111.r11.t
p rt)Vll ll l'1Lv() r doH f11 ~ll li V(J rd ad •i n a1 1 0 1· H. 8111 M1il.l1 111~ 1
•fl ·1· •11d o Jl lll'I í>H .J11d c11i;1 •rnpn• ll 11 idi Q1t11 1inr ~ ll H
n tt o t'1d11d o, o H)Jt·o •holrfoico: f!ií.o M 1t t 01;, K1 o 1111 •flA 11

fil () ,Joí'lti, 'Ht r ev •11d ) flll l"ll OH l{I JI( ioH, )oi l'V lrl R. Ll tt li11g111l

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164 DlVl ' DADE DA REVELAÇÃO CHRISTÃ

grega, uniYersalmente conhecida. O estylo dos narradores,


as allusões continuas ás E cr ipturas, aos costumes, ás
particularidades historica · e geographicas dos Judeus ;
as palavras, e os actos de J e us Christo, r elatados com
tamanha precisão de pormenore só propria de uma
pe · ôa da nação, de uma estemunha ocular, tudo isto
prova que os Evangelhos tiver am por autores Judeus
contemporaneo e di cipulo , de J esus Christo.
2. 0 A prescripção ou po se i gítima. - E ' um axioma,
em direito, que «a posse serve de titulo», e já, no segundo
seculo, contra o hereges Tertuliano invocava este argu-
mento a favor da v rdad e chri tã. Ora, a Igreja universal
de de a ua origem, esteve de posse dos quat ro Evange-
lhos; sempre o consider ou como a'Uthenticos, sem que
jamais, de de tantos eculo ·, o seus m1m1gos mais encar-
niçados pude. em d monstrar que assim não são. P or
con eguinte, a Igreja está de posse, e, até que os seu
adversario tenham esta bele ido contra ella a prova da
sua opposição, a Igreja deve s r considerada como
fundada em justiça e verdade contra os que lhe atacam
a po e legitima.
3. 0 Esta po e legitima não é um argumento nega-
tivo. Ba ~ eia-se, com effei to, sô bre testemunhos extrín-
secos, po itivos ·e preciso" Assim, é um facto certo que
em 312, no momento em que a I greja ahia das cata-
cumb , já po uia os quatro Evangelhos, reconhecidos
como obra authentica dos seus autores. O historiador
Eu ebio o affirma, e com lle, todos o. seus contempora-
neos; conta-se que o imperador Constantino deu ordem
para tornar a vêr o texto delles com o maior cuidado e
confrontal-o com os mais antigos manuscripto e escr ever
cincoenta exemplares delle para dar de presente a cada
uma das cincoenta Igrejas mais celebres do mundo.
Antes delle, Origenes (185-254 ) menciona o quatro
Evangelhos como «os unicos acceitos sem contestação

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AU'I' !UD DE lilS'l'Oltl DOS EVANGELHOS 165

r nm

(J Vô r Dougrrnd, Lo hri,itúm i.•111r 1•1 1-.. l'•mru pr/i.. n11lx , 1. 11 ;


1
/ 1. lt1,d fl1t 1,I U " lr~ PJ (lf\OÜ ~ .

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166 DIVIN DADE DA REV ELAÇÃO CHRI STÃ

ver ão syríaca, conhecida sob o nome de P eschito (a


simple ) . Si, pois, naquella época, as traducções come-
çavam a multiplicar- e, é que os originais existiam e
estavam e palhados d e~ de o fim do primeiro seculo.
E' a conclusão rigorosa admittida pela propria critica
allemã (Reu eh, R ol mann ) , e pela escola racionalista
franceza (R éville, Michel-Nicolas, etc.). «Em summa,
diz Renan, admitto como authenticos os quatro E vange-
lho canonico , julgo que são quasi ~er tamente dos
autores a que v~m attribuidos (1) .» Com um pouco mais
bôa f é, R enan diria como nós: «São integr alm ente dos
autores a qu em são attribuidos.»
4.0 I mvossibilidade d.te uma siipposição. - Não
admittindo que os qu atro Evangelhos sahiram das mãos
dos Apo tolo cujo nome levam, é preciso convir que são
t r abalho de um fal ari o que os publicou e espalhou sob
nome emprestado . Ora , e. ta hypothese é inadmissivel.
Com effeito, i essa fraud e teve lugar, effectuou-se O'U
durante a vida dos apostolo ou depois da morte delles.
No primeir o ca o, como acreditar que não tenham protes-
tado ontra emelhante t rapaça, que o embuste não tenha
ido descoberto, ou que não resoasse um grito de ger al
reprovação~ No segundo caso, como teria procedido o
falsificador? Então, já os exemplar es se achavam em
toda a mãos, eram lidos em todas as I gr ejas, conhecidos,
não ó do christão ·, mas ainda dos proprios pagãos, que,
antes de se converter em, o estudavam com cuidado, e
c1'eviam, como fa r iamo nós mesmos, examinar a sua
au thenticidade e o seu valor . A fraude er a portanto
impo ivel.
H ouve fal o evangelhos que circularam nessa época,
a historia nol-o ensina; mas nunca for am r econhecidos
por aut henticos. Ora, o zelo que tiveram os primeir os
c;hristãos em os repellir no é uma garantia da authen-
(1 ) R enan , Vie de J és us, In trod . p . 23 .

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VERA lDADJD DOS EVANOELBOS 167

n rvado . Emíim,
rph yri , Ui ro-
prim ir . se ul s,
a omba-

niu giu m
autl1 nti s.

101. JI. - fütA IDA! E D EVA illLIIOS.

om

m r.u·
ua nt t loulri11 a ao.· li. 'lll"SO J sns hr i.st ,
sab -se q u fal ava n ã rrn srgr l o, mas publi am nt ,

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16 Dl.VINDADE DA B.BVELAÇÃO CBIUSTÃ

no templo, ou~ caminho e na praças; annunciava verda-


des sublim , admiraveis, cuja eonsequencia immediata
e natural havia de er o reconhecimento do Messias e a
revogação da lei de Moys' , e que tiveram por r esultado
a conv r ão do mundo. Será possível que os apostolos
pudes em ser enganados ao mesmo tempo sobre este ensino
e sobre os milagre q ue o coniirmam ~
2. 0 Os evangelista não foram enganadores. - Sabe-
mos : a ) que o seu carácter se oppunha a qualquer idéia
de invenção e d fraude. Eram pobre pe cador ,
ignorantes, timido ; por medo, tinham abandonado o
u Mestre e hefe : ão P edro o r enegára á voz de uma
criada. eria r ealmente par a extranhar que a seme-
lhantes homen OC<!Orre e a id'a de inventar o romance
da vida de J us Christo e do seu milagre .
b) sua narrativa tem uma expr ão de varaci-
clade, implicidade e candura que nunca se encontra no
livro de um impo tor e de um embu teiro; indicam o
facto. com preci ão, de ignam os lugare em que succe-
deram, itam a t estemnhas ainda vivas, confe am o
defeito proprio , a sua ignorancia, a ua co bardia.
«Quanto mais attenção se pr ta ao caracter inimitav 1
dos evang·eli. ta , diz Rollin, tanto mais e fica con tran-
gido a r conh ecer nelle , com a verdade ·da ua r lação,
um e ·pirito differ ente daqu li do homem.»
e) Aliá, qual t eria ido o motivo que incita o
e\·angeli ta p ara nganarem os bomen ? O amor da fama
ou da gloria~ Ma era tão facil convencel-o de mentira .
O eng d da riqu za e r compen a T Mas, abiam p lo
·ontrari , qu iam ao encontro da per eguição, do odio,
do supplicio e da morte! Ora, Tácito di e: «E preci o
a r di ar num . cr iptor que não tem inter e em escre-
ver.» (Vida de Agricola. ) E Pascal accrescenta: «Acredito
d bôa von tade m te t munhas que s deixam matar.»
(P ens(llm nto .)

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VE!tACIDADE DOS il!VA GELliO S

3.º Ainda que os apo tolos quiz seni iograr, a fraud e


lhes era inipo sivel. - om effeito, de um lado, era
muito fácil ao J ud us manife tar o embuste; bastava
appellar p ara o povo, hamar a juizo as pretensas te te-
munha : a fraude e r lava immediatamente. Ora, os
Jud us não fizeram tal, a de p i to da ua antipathia
pelo apo tolo .
omtudo, por outra par te, o Judeus tinham summo
inter e e em faz 1-o, porque, ndo o Christianismo
r conhecido v rdadeiro no eu autor, na sua doutrina
e no u milagre· era a ruiu a da Religião mosaica,
orno o rovou a exp riencia, e a nação perdia
pr tigio, a ua gloria nacional e até a sua
pezar di o, os Judeus deixaram livre curso
ás narraçõ evang li a : por onseguinte, o seu caracter
de v racidade appar eia evidente, incontestavel.
A toda e a provas, accre centemos ainda que os
principaes facto do Evang lho acham a sua confirma-
ção no test munho da hi toria profana. Assim, o
hi toriador judeu J os pho Antiguidades, liv. XVIII,
Giierra dos J ud u , I , VI) fala longamente de Jesus
hristo e do eu milagr . Tácito, Suetonio, Dion,
r fer em o r e n aro nto feito por Augusto; Macrobio,
o mas acre do ' Inno ente ; 'elso e Porphyrio, a f uga
para o Egypto; J ·ul ia.no o Apóstata não nega os milagres
de J u lu:i to : contenta- com atttribuil-os a inter-
nç dia bolica . Tertuliano e ão Justino, na suas
' Apologias ref rem e mo um acto publico, conhecido de
todo , o r latorio mandado por Poncio Pilatos ao impe-
rador Tiberio a respeito da morte de J e us Christo, que
Ta ito onta tamb m no eu Annaes. (Liv. XV.).
eO' uinte, rejeitando a veracidade dos nossos
Evangelho , eria preCÚ\o supprimir igualmente todos os
docum nto da hi toria profana e r epudiar assim toda a
e rteza historica.

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170 DIVlNUADE DA REVELAÇÃO HRIBTÃ
==~~~~~~==

102. - III. - L TEGRIDADE DO EVA GELHO .

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IN'l'EGRIDADE DOS EV ANGELHOS 171

tiv ra que fal. ificar, ão ainda todos os escriptores dos


primeiros seculos que os citam ou commentam. Conce-
b - e pois que a integridade dos Evang lhos t nha sido
tão religio am nte mantida no decorrer dos seculos e que
o con ilio d Tr nto tenha r olvido de a preservar igual-
m nte para o seculo futuro r evendo e adoptando a
e lição da V1tlgáta.
P ortanto, o Evangelhos po ' uem a authenticidade,
a v racidade, e a integridade, e, por con$eguinte, o mais
alto gráu d auctoridad qu se po. a exigir da hi toria ;
podemo nelles ir buscar om seO'urança as no sas asser-
ai nos as prova .
A r es ent mo. ·ta onclu ão de J. J. Rou seau:
«A maj stad ias E scripturas m • urpr h nde, diz
ll ; a santidad e do Evangelho fala ao m u coração.
m livro, ao m mo tempo tão ublime tão simples,
não p 'd s r obra dos homen . o tom de um
enthu ·iru ti o ou d um ambicio. o e tarioL. Dir mos
qu a historia do E vang lh o ' pura ficção 1 Não, ninguem
inv nta c1 · m do. s factos de ócrat . , de qu e
são meno attestados qu os de
ria mai · inconcebív l qu muitos
h m ns tive sem ·on corcl ado em compôr ste livro do
qu um . ' fo rn e· r o as umpto d 11 . 1 un a autores
juclai o teriam a ·h ado sem J.hante modo d escr ever .
O Evan g •lho t m caract r s d v r<lad tão grande.:;,
. tão ·urpr h ncl ntes, tão inimitav i , qu e o inventor
eria mai admirav l do qu e o h ro .» (Emi l, liv. IV.)
Evangelho, dizia
:-; ·rela, um não .· i qu
di põ o nten lim nto, n anta o oração· nte- e,
a m lital- , o qu xp rim nta conte mpl ando o céu ...
O no ·:so ru pirito ' dominado por sta l itura, nunca
a alma ro rr p ri g d transviar com t livro.»

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172 DIV1NDADE DA REVELAÇÃO CHRISTÃ

(Pensamentos.) Sabe-se como esse conquistador famoso,


preso em Santa H elena fazia do Evangelho a
ua leitura habitual, é achou nes as paginas a fé e a
gra ça de bem morrer.

APITULO II
JESUS CHRISTO VERDADEIRO ME SIAS

I J e us Christo realizou todas as prophecias no que respeita :


J.º á época da sua vida; 2. 0 ás circumstâncias da sua vida e da sua
morte; 3. 0 ao estabelecimento do u i mpério eterno. - II. Refu ta -
ção dos diver os systemas inventados pela incredulidade moderna
rela tivamente á pes ôa de J esus Christo: 1.0 realidade da sua exis-
tencia contra Dupnis e S trauss; 2. 0 erteza do fa ct os evangelico
contra R enan; 3. 0 divindade de Nos o Senh or J esus Christo contra
o Racionalistas.

103. - J . Notamo nos livro de Moysés e nos


criptos dos Prophetas vindo depois delle, grande
número de prophecias r elativa á expectativa do Messias,
á época da sua vinda, ás principais circumstâncias da sua
vida da sua paixão e da ua morte, e á historia da nação
no meio da qual devia apparec r. Es a prophecias,
accrescentamos, não eram particulare ao po o judaico:
as principaes tran puzeram os limites de e pequeno
povo, e, segundo o testemunho da hi ·tória profana, a
expectativa de um Libertador era •um facto constan te
e universal.
Ora, é tambem um facto que todas e ·sas prophecias
conservadas no livro santos dos Judeu e na memorias
dos povos, e verificaram exactamente na pessôa de
Jesus Christo. Esta confrontação, para ser completa,
deveria ser longa : limitar-nos-emos a indicar a .·ua.
grandes linhas.
1. 0 Jesus Christo vüÍlu na época deterYnJitnada. - Ao
morrer, Jacob annunciára que o sceptro e a autoridade
não sahiriam de Judá e da sua familia até que viesse

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.JESUS CH&I STO VERDADEIRO MESSIAS 173

o Desejado das nações. Ora, J esus Christo appareceu


no momento em que a familia de Judá acabava de
perder a autoridade pela usurpação de Herodes o
Idumeu (36 annos antes de J esus Chr isto ) ; a ruina de
Jerusalém e a dispersão do povo judaico (37 annos
depoi da morte de Jesus Christo) completam o cum-
primento da propbecia de Jacob.
Daniel, depois de ter -annunciado ·O fim dos quatr o
grandes imperios, vira formar-se um novo reino figu-
rado por uma humilde pedra desatando-se da montanha
, em eguida, cobrindo o mundo determinára a época
da vinda do seu fundad or. Desde a ordem dada a
ebemias por Artax rxe Longimâno, no anno vige imo
do eu reinado para a r econ trucção de J eru além (1 )
até o reino de Cbr ist o deviam decorrer 70 emanas de
annos ou 490 anno , que o propheta decompõe orno
segue : «Durante as 7 prim i ras emana J eru além ser á
reedificada em tempo difficei ; depois de mai 62
emanas, o bristo será mor to : em seguida, uma nação
extran()'eira de truirá a cidade e o anctuario. O.
acr ificio acabarão e a de olação e tará no templo·
e o povo, qu e t er á r negado o bri to não rá mai o
eu povo.» Ora egundo o calculo do chronolo i ta .
a época mar cada pela morte de bristo be()'a no anno 33
da er a cbri tã, e a ultima emana acaba com o anno 7 .
ép oca da ruína do t mplo e da cidade santa: o acrifício
ces a e a nação di p rsa para mpr .
Afinal emquanto o J udeus, depoi da volta do cap -
tiveir o d Babylônia r edificavam o templo o proph -
ta gge1t e Malachia animavam o trabalhadores e
annunciavam que este gundo templo mai glorio o
que o primeiro, veria no eu recinto o Libertador espe
( 1 ) Qu at:ro decretos a seu { vor conseguiram o Judeus dos is peTSU <
e só o 4 . 0 é que falta da r eildificação de Jerusalêm .

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174 DIVINDADE DA REVELAÇÃO CHRISTÃ

rado. Ora, J e us Gbristo veiu antes da ruina do templo,


e abi fez ouvir ·OS magníficos ensinos da sua R eligião.
A im, a época, tn~s vezes marcada p elo prophetas,
corresponde exactamente com o tempo em que Jesus
Cbristo appareceu obre a terra. Por is o, o Judeus d
então ram muito bem scientes do portento, e pelo que
to a ao Judeus mod rnos que r ecu am acr editar no
Mes ia já vindo e ainda e ·peram por elle estão obri-
gados a convir que a época mar cada pelo propbetas
foi prorogada por ca•u sa das iniquidades da nação ou
a valer- de uma interpretação arbitrária dizendo que
a. semanas preditas por Daniel são semanas de secu -
lo . Quanto á expectativa da nações é um facto que
ella teve um termo, e que e e termo coin cid e exacta-
mente com a época em que J esus Christo appareceu.
2. 0 As prophecias ·r elativas á vida e á morte do
Messias promiettido e r alizani ein J csiis Christo. -
eja-nos sufficiente lembrar os facto s seguintes : asceu
em Belém, como annunciára o propbeta Micheu ( cap.
v, 2) ; teve por mãe a virgem Maria, assim como o
predissér a I aias (ca p. IX ). m novo astro o deu a
conhecer, egundo a propbecia de Balaão. Isaías, annun-
ciár a o precur or J oão Baptista ( cap. XL, 3) ; disséra
a doçura e a caridade do alvador, a multidão do seus
milagre (cap. XLII e xxv) e, de modo especial, as igno-
minias e o·s soffrimentos que o deviam levar á morte
(cap . LIII ) . Ora, a vid a, a paixão, a morte de Jesu
Cbr isto não corre pondero exactamente á propbecia 1
David descreveu a trahição de Judas, as vestimentas
do Christo r epartidas por sorte, seus osso contados,
por'm, não q·uebrado (P s. xxr e cvrn ) . ão é i. to do
dominio da hi toria 1 Zacbari as vira e es acontecimento
precedidos da ent r ada triumphal do Salvador em
J eru além ( cap. IX, 9) , o preço da trahição fixad o em
trinta dinh eiro ( cap :xr, 12 ), consagrado depois á compra

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JESU HR.ISTO VERDADEIRO MESS IAS 175

do campo de um ol iro. Ora, todo


'e r eali za ram e ·actament , e qu m ler es a· paginas do
propheta, ' a perguntand ··i é uma predicção ou a
r ela ão do facto occorrido .
3. 0 O sfa.belecÀmi nto de ii,ni irnp rio et erno fundado
por o so enhor J esii,s Christo. - Um dos caracteres
do Me ia fiuturo obre os quaes o prophetas mais
in istiram é a influen ia que havia de exercer sobre
a nação d I rael. ttribuem-lhe o papel de fundador
d um grande imp rio que e levan ta r á obre ruinas
e abrangerá o uni ver. o inteiro (!saias, cap. II e LX ;
David, P . XXI e LXXr, etc. ) . Esta grande r evolução
deve t r por re ultado a r·uina e a dispersão do povo
judaico a conver ão dos Gentios e a ua entr ada no
r eino do hri to (Ib. e Daniel, rx.) Ora a hi toria nos
mo tra que por ua humilb açõ , eu offrimento e
. ua morte J e u hri. to entr ou realmente na sua gloria;
a funda ção do novo imperio coincide com a p aixão de
J e ·us ; a di per são do Judeu . eg uiu de p erto o supplício
infliO'ido ao alvador , e c1 de o dia do Pentecostes, os
Gentio entraram em grande núm er o no r eino espiritual
da Igreja.
obr e o conjuncto da pr oph ecia , far emos a seguinte
r eflexão de P asca l : «Ainda que um só homem, diz elle,
tives fe ito um livro de predicçõe a r e peito de
J e u Chri to, quanto ao tempo e ao modo, e que Jesus
Christo tives: e ' indo onsoante e sa prophecias, já seria
uma força infinita; mas aqui temos infinitamente mais.
E' uma er ie d e homen durante quatro mil annos que,
con tantemente e ·em variaçõe , vêm, um depois do outro,
predizer o me mo acontecimento. E' um povo inteiro
que o annuncia durante quatro mil annos ... E' isto, sem
co nte tação muito mais con ideravel. » (P ensamentos) .
E ' preciso pois concluir que Jesus Christo, realizando
na ua pes. ôa tão grande numero de prophecias diversas,

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176 D!VI- ' DADE DA REVELAÇÃO CHRlSTÃ

é verdadeiramente o Messias promettido. P retender


que tantas predicções não deveram o seu cumprimento
em sua pessôa, sinão ao acaso, seria absurdo e ridiculo ;
diwr, emfim, que mesmo os Judeus não reconheceram
em J esus Christo o Messias promettido, é olvidar ao
mesmo tempo o grande numero dos que foram c-0nven-
cidos e convertidos, e o oraculo propheti00 que annun-
ciava, de antemão, o endurecimento desse povo culpado.
104. - II. A incredulidade do século xrx applicou-se
especialmente a discutir o valor histórico dos testemunhos
que nos dão a conhecer a vida e as -0bras de J esus
Christo. Acreditar-se-ia em tal atrevimento? Chegou
ao extremo de pôr em dúvida a propria existência de
Nosso S·enhor. Neste ponto de vista, temos que dar
a conhecer e r efutar brevemente tres sy t emas igual-
mente falsos.
1. 0 Sy st emas de Dupuis e de StrOJU;Ss . - uma obra
intitulada : Da origern dos cultos, Dupuis (que nasceu
no departamento do Oise em 1742, e morreu membro
do Instituto em 1809 ), t entou infirmar toda a reali-
dade histórica de J esus Christo, pretendendo que esse
personagem não passava de uma fabuia, de 'Uma pura
allegoria. Partindo deste principio que todos os cultos,
sem excepção, tinham a sua origem no culto do sol,
allegava qu e J esus Christo não era outra cousa sinão
o sol; que os doze apostolos eram a personificação dos
doze signos do Zodíaco ; os quatro evangelistas repre en-
tavam as quatro estações, etc... O systema de Dupuis
exigia uma credulidade demasiado grande no homem.
Em 1 15, uma chistosa brochura t endo por titulo:
" Prova de que N apoieão 1vul~ca existiu, adoptava toda
a theoria de Dupuis, e applicando-a a este autor que
acompanhára o primeiro consul em qualidade de membro
do Instituto do Egypto, provava-lhe, p elos mesmos prin-
cipios, que apoleão não era sinão uma fabula; elle

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JESUS ' H&lS'l'O VERDADEIKO MESSIAS 177

tambem, repr entava o ol de qu u ava o nome grego;


eu quatro irmão ymbolizavam a quatro tações; seu
doze marechai , o dozes m ze ; :ua mã Lretitia, ra a
aurora; surgira do lado do Ori nt , na ua maravilhosa
campanha do Egypto; em guida, por um momento
encob rto no n voeiros da Ru ia, acabava de se
ubm rgir no onda do ccid nte... Depois, o autor
da br hura insinuava o que o próprio Dupuis poderia
muito bem não er mai do qu um mytho. O ri o e o
esqu cim nt i , na realida-d , tudo o que m re um
y t ma cl mentido por todo o fa to ela historia.
m 1ra11.. publicou, m 1 35
um livro a que deu por titul \71'da de J sus · sem ir tão
orno Dupui pret nd u r ve tir a m ma th oria
rta forma i ntifi a. gundo 11 , a vida do Christo
não ria uma fabula ma um mytho, isto é, alguma cou a
m io verdad ira meio falsa: J esu eria um per onagem
d •mna exist ncia vaporo a longínqua, como Hercule
ou Orph u; o E ang lho ria um tecido de lenda origi-
nada da uper tição popular, , m re um . J u hristo
eria, não um indivídu , ma., um a I l 'ia. O , hri to é a
humanidade; a ua pre1 n a divindad , é a nos a divin-
dade ou, m outro termo , a id ' a antici pada da uniãio
de Deus e do homem em nós, tal qual a philosophia a
prom tte á no a orgulho a razão.
erá pr i o r p tir que a hi toria univer al se
l.~va nta ontra es a th oria atte ta ar alidade da xist''n-
ia de J u hri to 1 Qua1 nta eculos o preparam;
dezoito eeiulo pr tam te temu nho á ua vinda. om
.ffeito, porque ha chri tão · 1 Onde e tá a origem do
bristiani~ mo? omo d appareceu o pagani mo 1 Quem
r formou o co tum e creou povo novos? ... Tudo isso
é um my terio inexpl icavel si Je u Cbri to não fôr uma
realidade. Aliá , já demonstramos que não somente os
Evangelhos, livro ab olutamente bistoricos, provam a

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178 D!VlNDADE DA REVELAÇÃO CHRIST!

e:ristencia de J esu · Christo, ma o testemunhos p.rofanos


attestam-na com superabundancia. Tácito (An.naes, liv.
XV ), uetonio (Vida de Claudio, éap. xxv ), Plinio o
Moço (Carta a Trajano ), Flávio J .osepho, historiador
judaico, nascido só tres annos depois de os o Senhor,
na· suas Antiguidades judaicas, o Talwud, livro das
tradições da lei judaica, etc., contam a vida e as obras de
J esus Christo ( 1 ).
2. 0 Systerna interpretativo de R en<ll/'I,. - Depois da
fabula de Dupuis e elo mytho de Str auss, um escriptor
francez, R ena'll, na cido em 1823, num livr o publicado
em 1 63, sob este titulo: Vida de J esus, não quiz mais
negar n em explicar a história de o so Senhor, mas
sim, transformar o Evangelho em um romwnce . E sta
historia torna-se um drama em tres partes que se poderiam
chamar, diz Foisset, a pastoral, a chwrlataneria, a
tragedia. A primeira parte da vida do Ghristo passa-se
no campo em :viagens ·onde conqui ta a popularidade pelo
prestigio da palavra e por obras extr anhas. a segunda,
apparece com t endencias ambiciosas, ajunta di cipulo
enthusiastas; torna-se r eformador e até r evolucionario;
attr ibue-se o poder do milagres e consegue disso conven-
cer as turba. ; afinal, não tendo mais consciência dos seus
actos, deixa-·' e entontecer por seus succ-essos. Então,
começa a terceira pha e, t r agica: provoca uma grande
oppo ição; de esperado, deixa que seus di cipulos lhe
imponham um papel em que nem ·onhára, o de t hauma-
turgo. A morte chega a tempo para lhe acabar a carr eir a;
é uma morte tal qual a de ejava ; ser á legal, porém
tragica, e o enthu.siasmo do seus discípulo o re uscitará
para sempre. Tal é o hristo de Renan; da sua lenda,
o tempo fez o Evangelho.
( 1 ) Con sulta r o sábio tralbalho do padre Gainet: La, B i blie 1a,n1 la
Bible. O autor consagra todo o tomo I V a reconstituir a vida de Nosso Senhor
com o auxilio de citações de autores profanos.

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JESUS llRI STO VERDADEIRO MESSIA S 179

ontra e te y ·tema d R enan, protestam o bom


senso e a verdade. As prova testemunbae. que e tabe-
l ecem a verdad historica d s facto~ evang li o , são
per emptorias : já a · terno r e ·umido. ão nos d:iss
R nan que consid er a o no o quatro Evang lh-0 como
auth nti os 1 Não c n.•urou t rau por ter demai. · aban-
dona l o terr no hi torico Vae á vi ta di s-0 r e tab lecer
a v rd ad d o. .facto 1 eri a lógi o razoáv 1. Ma , não
qu er ndo o !nisto d,o atholi co , e.s r eve a Vida de
J s1ts gundo as ua vi ta a sua phantasia.
Quan do trata d facto s simplesm ent hi torico
distingu entr o. fa to · certo e a 1 nel as, , onforme
·apri ho, t nta de·truir as affirma ões ma~ · bri-
do evang li ·ta s, po r m io c1 ta formu la. :
«Par e; - dir- -ia ; - provav l m n t ; - ' r ença;
- talv z · - u ·p ito ; - qu m sab ( 1) 1>> omtu l o,
su s ·i tar duvida. m ba 11 m p rova n ão é r efutar a
bist ri a verclad ira . A m a i authentica da: n arrativa
J od r á a ·har ·ontradi tor s que l ança r ão, por toda a
pari co m o m smo dir ito, ponto: d in t rr gaçã . ra ,
é nisto qu on:i t t do o -syst ma d e R nan . A l 'm
di · · , im agina fa ilm nt po rmenor s ignorad os de todo .
P elo m · nos vae b b 1-o a bôa font . 'I'- m muito ·uid ado
em não diz l-o; ntrin ch ira-. e at raz da u a qua lidade
l e ori ntolista., ~ qua nto lh basta. A: veze", ' verdad
man l a ·ousultar os texto. "l o Evanrr lh , e, no lugar
indi ado, o l >itor fi ·a rrr a n Jern nt ·urpr h nditlo ao
à lrn r xa ·tam nte o ·ontrar io do que affirma o e rip 01'.
Quando tr ata d fa tos rnilogrosos con tado· p lo:
va 11"C'lista: então R nan fi a m oppo. ição m u
prine1p10: para lle os Evancr lho. não ão mai.
d um nt . hi ·to r i ·o. , e a: int l'[ reta õ . surg m como

( l) Conswlar um a iutere~ftat1te refutação de Renan . Vida de um chamado


J uu• . por J ol!.o Loiseau . Nella a cham- se 95 formul a d e duvida no mesmo
ca pitu lo, curiosos espéci mens dns ontrodi ções do auctor da V ida de J ew.• .

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l o D!VUffiADE DA REVELAÇÃO CH RI STÃ

por encanto. Mas achareillos de novo e te autor e a sua


th eoria na questão dos milagres evangélicos (pag. 192
e 200 ).
3. 0 I n terpretação dos racionalistas modernos. -
Certos espíritos dê te século muito sério para abraçar
as theorias de Dupuis e Strauss, e muito re peito o da
verdade hi tórica e da pes.sôa aucru ta de J u Chri t o
para ultrajal-o como fez R-enan, repre entam
Senhor como um r eformador e um philo opho: eu
Evangelho é para elle a car ta de uma sociedad nova.
ba eada sobr e a fr aternidade. 'l'odavia, para e e racio -
nalistas moderado , J esu.s Chri to não pa a de um
homem eminente e a sua obra não exced o limi e do
poder humano. E' um legislador como ócrate e Platão .
Quantos contemporaneo no so partilham e ta aprecia-
ção ! E xperimentam para com Jesus bri to um verda-
deiro sentimento de admiração, mas s m r econhecer nelle
o Me~ ias e ainda men os um D eu .
Comtudo, depois de tudo qu anto dis emos, é preciso
chegar a esta conclusão: « im, J esu hri to foi o 1es ia
promettido ao mundo, um verdadeirao Enviado de D us ·
não é um homem or dinario, mas é Deu em pe- ôa.» E sta
divindade de Nos o S enhor brilha a cada pagina dos
Evangelhos.
a ) São João inicia a u a narrativa evangéli a por
estas palavras: « To principio era o Verbo o Verbo era
Deus ... Por elle, tudo foi feito, do qu foi feito, nada
foi f ito sem elle ... O V rbo e fez carn e habitou entr
nós, etc.» ( ão J oão, cap. r. ).
b ) Em grand núm ro d , circ:umstâncias, Jesu:
Christo se declarou Filho de D eu , em t udo emelbante
a seu P ae; elle o diz a eu d. cipulos na intimidade ( ão
João, m, 16 ; xrv e xvrr; são Mathus, X VJ 16); ao '
Judeu no templo, a Pilatos na solennidade d um inter -

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J E' ' ' HltlS~'O VJfüJ)ADEIRO fE S ! AS 181

rogatorio juridi o. Por uma onclusão logica, quandu


fala leva- e a ima do patriar has, de Moysé , dos pro-
pb ta , d David: declara-se senhor do Sabbado, tão
podero:o como seu Pa (São Matheiis, xrr, ; são João,
v, 17-26 ). Attribu - a m sma natureza que a de D eu.
s u Pa , exi()'e a me ma fé, as me mas honra . (são
Ltu;as, xrv, 26; são Mathe;u,s, x, 37.). Os Judeus tomam
sta d larações ao pé da 1 tra e a empregam para
ac u:al-o xi()'ir ua m rtr. (São João, x, 35.).
) A' autoridade da sua palavra, J esus Christo
juntou a aut ridade ainda maior da suas obras. Provou
a sua div indad p r grande numero de milagres, reali-
zados m abono da verdade das sua affirmações: « i
não a reditais na minha palavra , diz elle, acreditai
na: minhas obras.» ( ão João, x, 38.) Emfim, Deu·
me mo toma cuidado em proclamar Jesus como seu Filho,
no mom nto do bapti mo no rio Jordão na Transfigu -
raçã obr o Thabor. D ste modo, toda a vida de No o
nhor, d de o s u nascim nto m Belém até a ua mort
ob r o alvario, att sta nelle a divindade.

1 um ·[tbio, a ,·ida
um Deus.» Era lamb

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1 2 DIVINDADE DA REVELAÇÁQ CHRISTÃ

CAPITULO III
DIVINDADE DA ~n s. ÃO DE JESUS CIIRISTO PROVADA POI
SU A PROPHECIAS

J esus hristo foi tambem propheta: 1. 0 quanto á sua propria


pessôa; 2.º no que diz resp eito a seus. discipulos e á sua Igreja ;
3.º em r elação ao povo judaico. - Todas estas proph ecias st
r ealizaram exacta mente.

105. - J esus hristo demonstrou a divindade dE


ua missão cumprindo em ua p e ~ôa todas as prophecia~
que eram r elativa. ao Me sia annunciado. «Mas, convinha
C)U Deus não se limitasse a isso e que o Me ias preditc
pelos vidente não lhes fo e inferior na ordem prophética.
A · ua dignidade, as im como o lugar que devia occupar
no centro da historia, exigia que, resumindo em si os
tempo que o t inham precedido, abraçasse numa larga
vi ão o tempo que o haviam de seguir.» (P. Monsabré.)
Com effeito, J e u Christo foi também propheta,
não á man eira do pl'Ophetas da antiga h~i que recebiam
as suas luzes de Deus e confirmavam a alliança por
prome a , ma como quem preside, em nome de Deus,
a todo~ o acontecimento e o dirige: e é ni to que f.oi
«p ropheta maior do que Moy és.» Ora, as suas prophecias
exactamente r ealizada con tituem um eloquente teste-
munho a favo r da &ua mi ão divina.
Entre a predicções de Nosso Senhor, umas se refe-
r em á s1ia propria pessôa; outras, aos seus discipulos,
e ao estabelecim ento da I greja, outras ainda são relativas
ao povo j w:J,a;íoo; e, afinal, alguma dizem respeito ás
circumstancias que precederão o fim do miindo. Q.uanto
á ultima , não podemos sinão verificar a sua existencia;
mas o cumprimento da primeiras no é uma garantia
da realização futura das outras.
1.0 R elativamente á siia pessôa, Je us Christo annun-
ciou o detalhe preci o da ua paixão, da sua morte e

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MISS .fo nrv!NA DE J. e.: SUAS P R.OPHEO I AS 183

da sua r esurreição: «Eis que subimos até J eru além, e


t udo quanto foi escripto pelos prophetas a respeito do
Filho do homem será cumprido, porque será entregu e
aos Gentio , tratado com deri ão, flag ellado, coberto de
escar ros, e, depois de o terem flagellado, o farão morr er,
mas resu citará no terceiro dia.» (São Mat he1is, x.x, 18;
são Marcos, x, 33; são Lticas, xvm, 31.) Ora, a historia
no en ina que toda e a predicçõe se realizar am
exactamente. Que importa a duração do tempo entre o
annuncio do acontecimento e a ua realização? Esses
facto estavam muito fóra do alcance de toda as previsões
humanas: percebe-se que quem fala é o enhor. Sabe
fiu r tar- e ás persegu içõe de seu inimigo quando a sua
hora ainda não chegou; ma · entr ega-se a elles quand o
veiu «a hor a do poder da trevas.» Saberá, do mesmo
modo, zombar de todos os calculos e de todas as precau-
ções quando fôr o momBnto de recuper ar a vida.
2. 0 R elativarnent a seiis disci1ntlos, J esu Christo
predi se a triplice apo. tasia de P dro, a t r ahi ão de
Juda. , a di· p r ão do. outros apostolos ( ão Matheu ,
xxv1 ) ; a descida do E spírito anto, o dom dos milagres,
o prod ;gios que acompanhariam a pregação do Evan-
gelho. ( ão Marcos, xvr Actos dos apostol,o , cap. r. )
Além dis o, annunciára que a perseguição movida contra
Mestre e extenderia ao. discipulos, ma que a verdade
triumpharia d todo o ob taculos. ( ão Math eus, x;
sãe Liicas, xxr. ) Ora, tudo aconteceu : depois de t r
r nunciado ou abandonado a J esu bri ·to, o apo 'tolo ,
inve tido· da força do E pirito anto, tornaram- e os
pregadores d . ua doutrina· foram per eguido~ por causa
d lle, .ma todos acrifica ram a vida para onfir mar o
E'Ilsino · de J e u .
Quanto á ua Igreja, o o enhor a mo trou como
p quena, no u princ1p10, como um grão de mostarda,
qu chega a ser uma grande arvore, depoi ; era «O

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l84 DlVINDADE DA REVELAÇÃO OF!RISTÃ
~==~========================================

pequeno rebanho,» porém, queria que augmentasse de dia


para dia, a ponto que todos os povos não formassem mais
que um só rebanho, sob a direcção de um só e mesmo
pastor. (São Matheus, xm; são João, x.)
3. 0 No que diz respeito ao povo judaico, Jesus Christo
fez uma predicção tão clara e tão precisa que o seu cum-
primento por si só chegaria a firmar o seu caracter
divinamente prophetico: «Jerusalém, virão dias para ti
em que teus inimigos te cercarão de trincheiras e te
envolverão por todos os lados ... De ti não deixarão pedra
sobre pedra.» (São Lucas, x1x.) Outro dia, falando das
immensas construcções do templo, prediz a sua completá
destruição, e declara que «não passará esta geração sem
que a desgraça se realize.» (São Matheus, xxrv.) Emfim,
a dispersão de toda a nação judaica é annunciada após
uma série de guerras, de pestes, fomes e ruínas. (lbid.,
são Litcas, xxr, xxm.) Ora, a historia profana conta que;
no anno de 70 da era christã, os exércitos de Vespasiano
e de Tito cercaram J erusalém. Os historiadores Josepho
e Tacito relatam as circumstancias dessa horrível guerra :
durante um cerco de sete mezes 1.100.000 Judeus pere-
ceram nas sedições, pelos combates e pela fome; 100.000
foram levados captivos. A cidade e o templo desappare-
ceram sob as ruinas, e, desde essa época, a nação dispersa
nunca poude reconstituir um povo. Juliano o Apostata
tentou reerguer o templo: «os esforços reunidos do poder
e do enthusiasmo ficaram infructuosos, e o lugar do
templo judaico, occupado hoje por 11ma mesquita muçul-
mana, apresenta sempre o edificante espectaculo da ruína
e da desolação.» ( Gibbon.)
Jesus Christo, portanto, fez prophecias authenticas,
conhecidas de antemão, recolhidas pelo mesmo povo
judaico e perfeitamente realizadas. Os antigos Israelitas
puderam não reconhecer, na pessôa do Salvador, o
propheta annunciado por Moysés; mas, para nós, teste-
MI SR ÃO OJ VINA Dffi .1 . 1r. ua Mlt.AO!lES 185

munbaR ela onCirmnção dada á ua palavra p la historia,


ncontramo aqui duns forças m prov jto da m mn
v rdad : v rifi u o orn ulo antigo os s us pr pri R
ra ul umpriram i a ima d utrina leva 1 oi m. igo
t priin iro ara ter divino: a prophe ia verif'i ada.

APJ'l'UL V
DtVJNDADE Dó Ml JE HRT 'J' P VAD l' U
MILAGRES

[. ir umstnn ln.a 111 q11 ,J sus Ohrlsto ore ·tuou os ff(' \l fl


uiil ngr t;. - l l. nrnct r di HLin Liv d ss s 111 ilrigr F!. - IT 1.
Est1td a Lu11l dn 1·ttfr a lt rotip i to elo~ milagr s v1111 g li •os : J .º
Refutnçii.o d syat ma na t1,1'Cilis t<i mythioo · 2.0 lt fnLnçüo do
syst nrn plmnLo.sistu d 1! 1• na?i.

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186 DIVINDADE DA REVF.LAÇÃO CHRISTÃ

povos de Athenas e de Roma . Por conseguinte, a Judéia


não er a um paiz de iO'norância; era, aliás, a terra dos
milagres e a lembrança dos prodígio effectuados por
Moy és devia tornar os Judeus per picaws no exame dos
factos maravilhosos.
No tempo em que appar eceu o Salvador, esper ava-se
pelo aiclvento de um Messias guerreiro e conquistador .
Ora, J esus Christo e tava directamente em opposição a
essa expectativa: revelou-se sob o aspecto da hum ildade,
da mansidão e da paz. Além disso, t inha contra si a
seita em ·que se dividia a nação ob o nome ele Phariseus
Saduc u,s, Essenios, que exploravam o povo em proveito
da sua ambição. P ortanto, Nosso Senhor achava contra
a sua mi são preconceitos dominantes, e, em particular,
um zelo exce ivo pela lei de- Moysés, opposto a qualquer
tentativa de alteração. Ora, começa j ustamente a se pôr
1

em opposição com todos esses preconceitos; condemna o


or gulho nacional dos Judeu , lança anathemas contr a
toda as sei tas rivae ; condemna até as esperanças elo
seu. di cipulos, e é dPbaixo de'.'ta fiscalização maligna e
furiosa, que emprehende o eu papel ele thaumaturgo,
€tm frente da ciencia, elos preconceios e de toda as
paixões excitadas.
Vae r ealizar o seus portentos no segredo? Sem
duvida , a mode tia nas sua acções mais brilhantes o
levava por vezes a concitar as testemunhas a calarem o
que tinham visto ; porém, o interêsse da sua causa exigia
a miudo que os seus milagres fossem publicos: as.sim os
effectuava perante os seus apostolos ·e na presença das
turbas, de vez em qiuando, sob as vistas de tres e quatro
mil pessôa.s, na fr ente de eus m1migm;, que, não os
podendo negar, se limitavam a lançal-o na conta do
demonio, como si Satanaz pudesse combater contra si
propno.
108. - II. Caracter distinctivo dos milagres de
J esu Christo. - Os · antigos thaumaturgo tinham

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MISSÃO DfVINA DE J. C. : SEUS MILAGRES 187

eff ctuado o u prodígj com não lhes


ra pl'ópri em nome d D u
Elia . foy ' e o propheta .
trario o l'€aliza <-'ID

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Dl \' lr ' D ADE RBVELAÇÃO CHR!ST Ã

factos por elles contados, tanto dos factos extraordinario


e milagrosos como dos outros, a critica racionalista e
mostra cada vez mais exigente e rebelde a respeito do
sobrenatur al. Portanto, não nos admiremos de achar
em opposição aos milagres evangelicos: 1.º o systema
natiiralista que já conhecemos; 2. 0 o systema mythico
que querer ia attribuir ás narrativas mais recentes do
Evangelho o caracter lendario por elle já attribuido ao
milagres de Moy. és. 3. 0 Afinal, R enan tentou introduzir
todo um systema de interpretação de que importa mostrar
a fraqueza.
1.° Syst erna naturalista. - Os pretensos factos extr a-
ordinario e milagrosos do Evangelho, d izem <>s parti-
dários dêste sy tema, devem ser attribuidos aos oráculo
dos prop.hetas. Os Judeus tinham forjado um a idéa mara-
vilho a do Messia por quem esperavam. Compuzeram
a ua hi toria com a sua imaginação, transformando as
esperanças em realidade. Por outro lado, esta imaginação
excitada enxergou milagres nas cousas mais naturaes.
Assim a estrella dos Magos não era mais que um cometa;
a transfigura ão, um effeito de sol nascente; a marcha
de J e us sobre as onda , uma illusão de optica; a multi-
plicação do pãe , um jantar de caridade; as curas,
processos babeis de conhecidos da multidão; a resurrei-
ção do. mortos, o fim de um somno lethargico ou da
cat alepsia; até a resurreição de Jesus Christo era o
r eapparecimento do suppliciado que não era morto.
Ma é preciso t er dema iada simplicidade para
acreditar que um povo inteiro, instruído e intelligente,
como o eram os J ud us, tenha julgado vêr milagres onde
não houvesse sinão factos de ordem natural. E que seria
da hone tidad·e daquelle escriptores sagr ados de que
mostramos o nobre caracte r e a perfeita veracidade, si
tivessem edificado sobre factos communs toda a serie dos
milagres que narramos. Pois bem, contra a interpretação

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MH> ÃO Dl 1 .A Dlil J. . : Sl!l .MlLAORE S l 9

an~u inão por uma

Ac r centemo , para honr a da natureza humana,


qu o modo d juterpr tação naturah ta foi julgado
po to de lado como mui to implorio e ridiculo.
yst ma myt hico. - J á mo tram o quão fal o
yst ma applicado ao fa to ant:go da hi to ria
judai a. ra, si todas as razõ d analogia, si toda a _
diffic uldade invocadas p elo partidario do rnyt ho a
favor do eu yst ema tão totalmente d provida d
valor em r lação aos facto extr aordinario da antigui-
dade judaica, a inanidad do ystema appar c ainda
mais vidente no que diz r e peito ao milagre evangelico .
O «longos sec;ulos» que o proprio trau s julga
necessarios para a formação da l nda mythica, faltam

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190 DIVINDADE DA REVELAÇÃO CHRJS TÃ

completamente no caso pr ente : com ef:feito os E vange-


lho , a sim como ficou provado, seguiram de pouquissi-
mo anno a morte de J e u hri to. Na realidade, erá
em dez ou vinte anno que e _p ódem formar tradições
fabulo. a ou mythicas 1 Al 'm di.s o, considerando os
E' angelho e comparando-o com a mythologias pagãs,
verifica -Fie facilmente que, de parte a parte, não ha
semelharn;a alguma. Seriamente, haver á alguem capaz
de a: ·imila r J esu-- hristo a H ér ule e a Vi chnú. Ta
narrativ a· vangeLca , havtir á o:rnbr a de analogia com
o. facto.· cantado por H omer o, dois eculos depoi. da
g uerra de Troia f ·Os tempo fabulo. º"' da Grécia acabam
mil anno · an t de J e rn hristo, e os tempos hi tór ico
omeçaram 600 anno ante da era ·hri tã. Os Evangelho
foram e cripto · em uma época de luz e civi l i~ção, em que
se pód dizer que a hi tória e tava definitivamente esta-
belecida. H oje, ninguean coO'ita seriam ente em conte tar
os factos evangelico e o me·-mo t r aus admitte-lhes a
cer teza e aiuthenticidade em tudo quanto se r ef re ao.
fa ctos natu ra da vida d .Je. rn ..,hristo. P or que motivo
a , ua razõe · deixariam de er clemomtr aürn quando
se tra ta d facto s sob r natura ·? ~ épooo é identi a, o
. criptore. ão os mesmo , a ua narrações e baseiam
no me. mo ' docrumento:'. N" e, te ca porqu faz r int rvi r
di tin ções . ubtis 1 E quem ha ele dizer. no Evangelho,
oncl · acaba o mytho, e oncl omeça a hi toria propria-
mente dita 1
Accre:centemo · afinal, que o Jud u não eram de
índole tão cr dula e de e pirito tão conde. endente como
alguns o. supp õem. ão certamente, não viram milagr ec
onde hav ia ó fábula lenda. ! Eram ba tante e crupu·
loso. e di e temo a prova no inquerito feito por elle 2
re: peito da cura do cego de na cença. ( . J oão, 1x.).
3. 0 Systema de R enan. - Em outro Jugar, já dem~
a conhecer a theoria r acionalü ta e pretenciosa de te auto1

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MISSÃO DIVINA DE J. MILAGRES 191

a Je u.
deixa :
iva i to

modo,
s a. in inuação, hr· to não nganaria
po itiv;amen o 'POVO ; mai «deixa-o a reditar» por causa
de apparencia · d milagre , q u effectua 'erdadeiro.
procUgio· . «Impuzeram-lh e a fama de thawnatnrgo e a
· o não oppoz muita r e. ·'.teill ia .» X· t ·a o, Je u ·
Chri to não ' um v· lha o, ma um charlatão. «Ora, di
o padre Lacordaire, ferreteanélo ta p rfida i11:inuação,
é ma '. v rcronho o r harJatã do qu velhaco.» om
effeito, e te ultimo papel d appar e dia.nt do charlatão
que abu a da cr edulidade para alcançar um fim immoral;
e a humanidad e int ira prot ta contra . -melhante papel
attribuido ao Reformador do muudo, ao modelo de toda
a . antida<le. l~nan o p rceb tão claramente que a cres-
henta locro, embora com timidez : «J ~ u hri to estava
de bôa fé : não queria enganar ma
mesmo, e julgo u faz er milagre qu lle, na r ealidade,
não fazia.» N e t e aso ' infligir ao sabio por excellencia
o labéu da loucura e da e tupidez. E poderia.mo , então,
perguntar ao novo ht toriador omo é que o mundo
acreditou «na sabedoria de Jesus» e que o mesmo teve
(1) Vie de J ésus , p . 259 .

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192 . DIVINDADE DA REVELAÇÃO CHRIST Ã

a seus pés «durante tantos seculos milhões de adora-


dores» ?
Aliás, é impo sível admittir que J esus Christo esti-
vesse de bôa fé nos milagres em que consentia desempe-
nhar um papel activo. Ora, nesta segunda hypothese,
Jesus Christo seria manifestamente um hypocrita, um
velhaco e um impostor. Com tudo, é a este Jesus. que
Renan disse no fim do seu livro: «Agora, descansa na
tua gloria, nobre iniciador. Tua obra está completa ...
Mil vezes ma:s vivo, mil vezes mais amado desde a tua
morte que durante os dias da tua peregrinação terrestre,
has de ser a tal ponto a pedra angular da hu.manidade
que arrancar o teu nome dê te mundo seria abalar a
terra até os seus fundamentos. Entre ti e Deus não
haverá mai distincção. Egrégio vencedor da morte,
toma posse do teu reino em que milhões de adoradores te
seguirão pela estrada real por ti traçada (1 ) .» Será
possível associar esse elogio ao insulto que precede, e
adorar um Deus enganador e tratante? Reconheçamos
q·ue Jesus Chrºsto fez verdadeiros milagres e merece essas
homenagens, ou que enganou d scaradamente e, neste
caso, não se devia louvar de tal maneira. Assim, nessas
tergiversações de Renan, mais uma vez fica provado que
a iniquidade mente a si mesma!
T erceira hypothese sahiu das elucubrações mais ou
menos doutas e razoaveis de Renan. Trata-se principal-
mente das curas extraordinarias effectuadas por Nosso
Senhor: « a falta de sciencia medica, diz elle, a presença
de um homem superior, tratando o doente com brandura
e dando-lhe, por alguns signaes sensíveis, a certeza do
seu r estabelecimento, é muitas vezes um remedia deci-
sivo ... Quem se atreveria a dizer que, em muitos casos, o
c.ontacto . de 'Uma pessôa muito bondosa não vale os
(1) Vie de J éau•, p. 426 .

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MISSÃO DIVI NA DE .T. Q.: SEUS MILAGRES 193

recursos da pbarmacia. Dá o que póde, um sorriso, uma


esperança, e isso não é vão (1) .»
Vê-se facilmente que e. ta phrase encobre uma com-
paração que outros fizeram, depois de Renan, dos mi-
lagres evangelicos com os prodigios alcançados pelo
magnetismo. Deste modo, as curas effectuadas por
Nosso Senhor, as dos possessos do demonio c'omo as
dos ceO'o s, surdos, mudos e paralytico , e talvez até a
r esurreição dos mortos, seriam o r esultado de uma
palavra bôa e amavel. F eliz sciencia ! porque não foi
descoberta mais cedo e iporque não se lança mão della,
em no sos bospitaes, a favor de tantos doentes? 'I'alvez
Jesus Christo, por intui ão, avantajando-se ao s u seculo,
já conhecesse as descobertas destes ultimos eculos e,
para elle, o magnetismo não tivesse segredo , de maneira
que os !leus portento maravilho os não passariam de
operações magneticas... E xaminemos, por um instante,
esta ultima hypothese.
Haveria, pois, certas for ~as naturaes des onhecidas,
r ultantes de um fl.uido magnetico, fluido universal
espalhado em todos os corpos, o qual fluid o, ·ubmettido a
diver as influ ncias, produziria effeitos surpr hendentes.
E. te fJui do, nas mãos do homem tornar-se-ia nm
instrumento de prodígios, quer pelo uso de objectos
mat riaes, e, em particular, do organismo human o, quer
pelo uso de um poder occulto, o poder dos espfritos, por
· intermedi·o de um medium que a isso se preste com mais
facilidade. Em summa, o magnetismo e o espiritismo ,
qu e têm muito pontos communs, eis as duas sciencias
novas qu realizam e explicam os milagres!
Para derrubar essa tbeoria, basta enunciar e com-
parar as condições em que operam o magnetizador e o
thaumaturgo. Segundo os dados actuaes da sciencia
occ11lta, duas cousa são n c s arias para que o magne-
(1) Vi• d4 Júu•, p . 260.

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194 DIVINDADE DA REVELAÇÃO CHRISTÁ

tismo po a prodiuzir os seus prodigios: o operador, que


não é qualquer p e ôa, mas deve ser predisposto a seu
papel por ua con tituição e por certo regimen hygienico;
e o paciente, que ha de ser «um sujeito lucid~,» geral-
mente um joven ou uma mulher <le con tituição fra ca,
de nervo delicados e sen ívei . . Com tudo isso, são ainda
r equeridas varias condições de t empo, de lugar e assis-
tencia. Depoi é preci o recorrer a cer tos meios: de
ordinario, ão pa;« es; de ta maneir a se alcança um
somno factício, uma operação interrupta, difficil, con-
trariada. Emf im, o r e ultados obtidos pelo magnetismo
ão certa r evelaçõe · mais ou menos verdadeiras, o
conheciment o da d oença · e dor· seus r emédio , mas não
a C•ura in tantanea; fin almente, intervenções que, a serem
verdadei ra , nã:o passam de manifestações diabolicas.
Ora, erá assim que aconteceu com os milagres evan-
gelico ? Evidentemente não. Aqui, o operador é J esus
Ch ri. to, cu ja , .. da labor io a e humilde não póde ser
con iderada como uma preparaçãoo ao papel de magne-
tizador : com elle, qualquer indivíduo torna-se apto a
r eceber a ua divina influencia. Effectua prodigios por
toda a parte, em qualquer tempo, em cautela deter-
minada de lugare cir cum. tancia e testemunha . Os
. eu meio ã:o a prece e a palavra, não «a palavra
in inuante e branda que anima e consola,» ma a •palavra
toda podero a que manda ás ondas e ao mar ; a palavra
que diz: «Quer o, ê curado .» E a cur a é immediata.
em contacto e a distancia, re ti ue a aúde ao servo do
centurião, á filha da hananéa, etc. Minal, o re ultado
por elle alcançado, ão povo -que acreditam, abraçam
a verdade em l ugar do êrro a virtude em vez do vício ;
peccador e que e convertem e são perdoados; alma que
ão alva , e 'O mundo que e torna christão !
Que o magnetismo mande aos ventos e ás tempes-
tades; que far inco mil pessôas com cinco pães; que

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:r.rrr.AORE DA RE tmRE I ÃO DE .J. 195
===

t nr e "'º d nA sc nça om um p ou o
u ma palavra r Litua o movim nt o a
urd

11! r a u n, p r
oby m qu
d ivina ,
Ot-; rn ·i mtlL ta. do mund , ontin u adt
f/l;(J,11. 111aturgo in mpünt\ l qu
!lua mii;:ã 1 or mcfo cl mi l;in-res
l rocl igi R ,divi nos:.

A 1 1 DADE DO ('J llH 8'1'1A L8 M P lt AO FEL


l llJ ~ 1': J) ltl~ H.ltl!:I Ç' ÃO m: J8 S ll Iu •r

1. fn rLo dn r c~ urr (• i ~ÍLO do .J t'i:\ U ~ ('hri sto: n s n tL ' rifi ·nção


lti lori n. - J l. H o f' ut a~iw daR ohj ·r~õcH: 1.0 obj<>ct;õ s judai os
rosi.1sd tnd 11s 1w ln in c rt'd ulid nd d o ~t·c ul xv111 ; 2. obje r;õe.q
racio11ol is tas · 3.0 lh oorirr 11wd1•nt(I de Nt'11 (111 .

lJO. - 1. os pro líg-ios


' hri slo cl•iX}ll

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196 DlVINDADE DA REVELAÇÃO CHR!STÃ

Religião é certa. Importa, pois, assentar muito bem as


provas deste grande milagre.
Em primeiro lugar , J e us Christo morreu realmente
sôbre a cruz: eis ahi um facto histórico que nunca foi
contestado pelos Judeus e p elos pagãos, e não se vê; em
p arte alguma, que surgissem duvidas a este respeito.
Aliás, lembrando-se de tudo quanto offreu Jesus Christo:
a flag ellação a coroação de espinho , a crucifixão,
conceber-se-á facilmente que a morte devia seguir-se em
breve. P or outra parte, Poncio Pilatos, antes de aban-
donar aos di cipulos o corpo do divino suppliciado,
mandou verificar que a morte era real. Seus enviados
ficaram tão 0ompletamente convencidos disso que não
lhe quebrar am os membros. Todavia, um soldado
r omano deu ao alvador, na região cardiaca, uma lançada
que er a mais que ufficiente para matal-o. Em seguida,
a quantidade de iperfumes, - cerca de cem libras de
aromas com que se lhe deu a sepultura, - e tres dias
de r eclusão num immulo sem ar e sem comida, eram mais
que su.fficientes para occasionar a morte de um homem
em estado de bôa aúde.
Ora, e te J esus Christo cuja morte foi tão real e t ão
cuidadosamente verificada, terá resuscitado r ealmente?
Sim, pois que foi visto vivo, p erfeitamente vivo, não só
alguma. hora , ma dur ante quarenta dias. E ste facto
não é meno hi torico do que o de sua morte, e as prova
que o atte taro são irrecusaveis e numerosas.
1. 0 Não ' somente sohre uma única apparição mais
ou menos r eal a uma mulher que descansa a fé da I gr eja
na resurre1çao. Não, é sobre um conjuncto de factos
extraordinarios mas reaes. O Evangelho relata doze
apparições de Nosso Senhor em circumstancias muito
diver sas : a santas mulheres que vinham para lhe com-
pletar a sepultura ; a Maria Magdalena em parti0ular;
a são Pedro e a são Thiago; aos apostolos reunidos no

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MILAGRE DA RES URREIÇÃ O DE J. C. 197

Cenaculo, Thomé ,e stando ausente; aos dois discípulos de


Emmaus; tudo isso no dia me mo da resurreição; oito
dias depois, mo tra-se qe novo aos apostoli0s r eunidos, na
presença, desta vez, de Thomé cuja incredulidade con -
egu vencer. Mai tarde, appar ce ao discípulo. na
margens do lago de Tiberiade ; convoca sobre o Thabor
para mais de quinhentos di cipulos; afinal, no dia da
A cen ão, ao meio dia, p rante um num ro con id ravel
de testemunhas, ahe .de J erusalém, 'be ao monte das
Oliveiras e, dahi, se eleva glorÍIO amente ao céu. P óde-se
conceber q ue tanta g nte ficou igualmente illudºda, que
todas essas testemunhas tenham acr eéli tado vAr o que
na r ealidade não viam e hega. , m a a rificar a vida
'em d efeza de uma hallucinação ? eria m lhor dizer,
então, que o mundo inteiro se achou de re-pente victima
de uma illusão.
2. 0 E sses ap!ostolo ·, e ses discipulo , ·sas piedo as
mulher que a impiedade e o racionali mo no repr s n-
tam como «credulos,» eram , de facto, cl , rente , que não
acceitaram a verdade enão d poi d prova vident<: ·.
Basta ler o E vangelho para se conv ncer que n em P edro,
n em J oão, nem Thomé, nem o di cipulos de Emmau s,
nem me mo a antas mulh r tavam dispostos em
acreditar na Re ·urreição, bem que J us hristo a tive•
annunciado por mais <le uma v z. E ' só oom a evidencia
.,qu ficaram p r uadido e onv rtido "
3. 0 final, será sem valor o test munho e a autori-
dade de todo aquelles que acreditaram, desd a orig m,
no milagre da Resurreição ~ ão P diio n ão receava
dizer ao Judeus, no dia do P nt cost . , ao . ahir do
enáculo : «Es J esus d Nazar th, qn vo pre~amo , r.
o mesmo que mata e resuscitou omo t ncl · pr seu-
iado.» (Actos dos A postolos, n, 24. ) ra rn lugar de
contradizer o apostolo, ei que· 3000 .Jndeu , e ma i 50W
no dia giuin e, e c nvert m e p d m o baptismo. Pc r
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198 DIVINDADE DA REVELAÇÃO CHRISTÃ

conseguin te, não se podia ser chri tão sem acreditar na


Resurreição d e J e us Christo, e, com tudo, o Salvador
r esuscitado teve . eu adorador es. em J erusalém, nesta
capital em que era tão facil tomar informações, depois
em orintho Athenas, Ephe o, Antiochía, Alexandrfa,
Roma, nesses centro de luz, em que, sem duvida, os
philosopho·, e os sabio e tudaram, examinaram, disesuti-
ram ante de e r enderem á for ça da verdade ; c·er tamente,
a C'O nvicção não lhe calou no peito sinão com provas
irrefutaveis. P or aca. o, depois de dois mil annos e tamo
mais ao alcance do elemento de persuasão que tiveram
por r e ·ultado a aclhesão tão com pleta e tão sincera de
p essôas tão illu ·tres.
111. - II. Depoi · dos testemunho · positivos do
milagre da R esurreição, ·erá preciso determo-nos ainda
na refutação, ce-m vezes feita, das fúteis objecções com
que certos pretendem empanar o resplendor dê te facto
culminante na hi 'tória da humanidade?
1.0 Objecções jiulaicas. - A incredulidade do seculo
xvm não acbou cousa melhor que reeditar a invenção
do pharisai. mo e do sacerdócio judaicos: «Ü di cípulos
le J e u · vieram tirar-lhe o corpo, e di eram que
re u citou .» O fa to do desapparecimento do corpo de
J e. us hristo é certo : o seu inimigos o verificaram
tão bem que não lh es fi ou out r o recurso sinão dar uma
explicaçã ao caso. Ma , escolheram uma supposição
r ealm ente a b urda: «Üs seus discípulos o tiraram
fizeram acr editar na sua resun·eição.» Comtudo, havia
guar· las collocados juntos ao tumulo pelos príncipes do
sacerdote e tinham elles obrigação e poder de impedir
qualquer trapa ça. E . e guardas foram ubornado com
dinheiro 1 ou fo r am destroçados pelos apó tolo 1
proveitaram-. e e: te. ultimo do somno dos guardas,
como os Jud u tentaram affirma-lo?... Outras tanta
hypothe. es inadmissíveis e gr atuita .
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.MILAGRE DA R.ES.lJRREIÇÃO DE J. O. 199

orno, na r ealidade, suppôr ·que todo os guarda


deixaram corromper, com desprezo da disciplína e
p rigo para a vida, sem qrue nenhum delle fo e mais
hon to ou denuncia e o culpados afim de roer cer uma
r e ompen a? orno é qu o Judeus deixaram semelhante
trahição em inqueri to e em ca tigo L. Fala- e de corrup -
ção p lo ouro: · ID8'' onde puderam o di cipulo tão
pobres, a har tanto d inheiro 1 T riam u ado de violencia 1
Ma como homen tão timido , que e di·' per aram
quando s u Me tre foi pr o, se teriam atr vido, sem
armas, a nfrentar um corpo de oldado romano YA ser
praticada violencia, me mo a er en aiada, os guardas
t riam ertamente .denunciado o attentado do apo tolos,
e não o fizeram. m duvida, de ·de e momento, o odio
elo Judeu e teria exercido contra o audacio disci-
pul10 : ora por emquanto,' deixam-no muito ocegado,,,.
Dir e-á que os guarda dormiam ? Ma i dormiam,
obsen a santo Ago tinho, como pódem affirmar que o
dis ipulo vi ram? Outro im porque não foi severamente
ca tigada e ta infracção á E ciplina militar 1
Não no d teremo. na upp o içã.o absurda de que os
di cipulo cavara m o roch do vieram por um ubterra-
n o ff tuar o u piedo o r oubo . Ora, ta! em alguma
hor a cavar o r ochedo m le pertar a atteução dos
guarda ! TinO'u m ter ia achado e denunciado o artifi io 1
. Delle não ficaria indi io nenhum 1 A byp'Oth e ' r eal-
mente por demai pueril... fina l, tirar um adaver, não
é r u cital-o; ainda qu fo em admittida toda a
expli aç- achamo-no na pr ença de' te facto empre
milaO'ro o : o hri to depois de morto foi de novo ".isto
heio d vida.
2. 0 Ob j cções raciona.listas. - incredulidade con-
t mporan a, ab ndonando o terreno d uma objecção
antiquada r futada pelo bom sen o, tentou pr judicar

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2-00 DlVlNDADE DA REV'E.LAÇÃO CHRISTÃ

o facto da Resurreição pretextando «que os evangelistas


que o r efer em, se contradizem e mentem.»
Admittimos que ha variantes de pormenores em suas
narrativas. Ora, isto prova justamente que não foram
inventores. Si quizessem ludibriar-nos, era tão facil
entrarem em accordo ! Antes de escreverem, nada mais
simples do que r eunirem-se e combinarem!
Ora, tal não se deu, precisamente porque os apóstolos
escreviam segundo as suas lembranças e conforme a
verdade. Aliás, as variantes de que .cer tos se queixam,
se r eferem só a detalhes e não ao facto da Resurreição:
a r elações se completam, porém, não se contradizem de
modo algum.
Os mesmos incredulos accrescentam que, «resu.sci-
tando, J e us Christo não devia mostrar-se apenas aos
apostolos, mas de pref erencia aos seus inimigos para
convencel-os.» Não se diz que Nosso Senhor não appare-
ceu a seus adversários. Na verdade, elles não mereciam
muito semelhante favor. Comtudo, é de crer que elle
teve a misericordiosa condescendência de tornar de algum
modo a sua resurreição pública e n otor ia, e eis ahi prova-
velmente, o que determinou tantas conversões entre os
Judeus presente á pregação de são P edro.
Mas, ainda mesmo que J esus Christo r ecusasse aos
seus perseguidores o testemunho de que não eram dignos,
quem o poderia censurar~ Deste modo, com taes exigen-
cias e semelhante theoria de acreditar só no que se vê,
cada um poderia exigir o privilégio de uma apparição
particular e p essoal de J esus resuscitado. Certamente, é
muito exigir. Deus não r ecebe as ordens da sua creatura,
e, com isso tudo, onde estaria o mérito da nossa fé Y
3. 0 Th e;oria moderna de R enan. - Segundo este
escriptor phantasista, a Resurreição de Jesus Christo não
é Feal, mas simplesmente moral. As . hallucinações de
Maria Magdalena e a credulidade dos apostolos tiveram

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MlLAGRE DA RESU RR El ÃO DE J. O. 201

como consequencia a crença no pretenso milagre de


Chri to resuscitado. Até onde não poderão chegar a
imag'. nação de uma mulher e a simplicidade de pes ôa
credula 1 «Hora solenne, exclama Renan, em que a paixão
de uma hallucinada dá ao mundo um Deu r esuscitado .. .
O grito: «Re uscitou !» como um r elampago se espalhou
entre os di cipulos. O amor lh proporcionou por toda
a p arte uma crença faci l (1) .» E é tudo quanto o autor
nos diz del:> e grande facto.
orno r esposta, limitar-nos-emos a mandar Renan e
o eus leitor con ultar o texto d Evang lho euja
authent:cidade 0 proprio Renan reconheceu. D epois de
1

uma leitura imparcial e feita de bôa fé, p er guntar-


lhes-emos si ahi se tr ata de uma resurreição real ou
imple mente moral 1 Dir-lhes-emos: E' po ív 1 que
e criptor serio e hone tos procurem transviar assim a
opiniã·o 1 E' crivel que todos os Judeus convertidos, todos
o chri tão contemporaneos dos apostolo·, e o milhõe
de fieis que profe aram o hristiani mo, se tenham, com
a Igreja universal, enganado a ponto de tomar por uma
verdadeira re urreição o qu não pa sava de uma sob re-
vivencia ideal, imaginaria de J esu hri to no e pirito e
no coração da humanidad 1 E i s e hristo igual a
Deu , aturou tamanha fraud durante qua i vinte seculos,
rá r ealmente o sabio que Renan venera e que merece
t r ao · seu p 's «milhões de adoradore 1»
oncluamos que a nova int rpretação de 11.enan não
tem ba e alguma offend igualm nte o sen o commurn,
o. texto evangelico , a tradição de todos 'º eculos, e,
finalmente, e tá em contradicção, ao mesmo tempo, com
Evang lb , que est e riptor proclama auth -nti o e
om a razão humana que pretende particularmente
invocar.
( 1) Vie d1 J é•u1. p . 433.

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202 DIVINDADE DA REVELAÇÃO CHRISTÃ

CAPITULO VI
DIVINDAD E DA REVELAÇÃO HRI T.\ PROVADA PELA
SU BLLM:IDADE OA A DOUTR TN"A .

Excellencia e su perioridade da do utrina chris tã no triplice


ponto de vi ta : 1. 0 do dogma; 2.0 da moral ; 3. 0 do culto. -
onclusão: é divina.

112. - A R evelação chri tã qu e o. tenta o êllo do


divino na vida maravilhosa do seu fund ador , nas suas
prophecias no eu. milagres, apre enta- e a nós com
uma doutrina tão ublime, tão p erfeita e tão pura, que
se procural'ia em vão nas obras humanas um ensino que
lh e ej a .·em lhante ainda que de long·e. Se a Religião de
Moy és já revelava no dog111a, na moral na legislação até
civil e politica, uma perfeição tão superi or que fomos
obrigados a concluir : «E' obra de uma abedo ria divina, »
que havemo de dizer da Revelação chri tã, rnao qu e
ell a é de uma sublimidade manifestamente divina ~
Aliás, o que j á di emos, indicando o obj ecto da
Revelação ·hristã, no <li ·pensa aqui de entrar em muitos
detalhes. Limitar -nos-emos a verificar a excellencia e a
up eri oridade da doutrina de J esu · hri to a r espeito
do dogma, da moral, e do culto para concluir que este
ensi no ' verdadeir amente de D eus.
1. 0 O d ogn11a,. - Que J e us hri to tenha mantido,
de envolvido e fi rmado contra o ·e ffeito do tempo e as
observações da r azão humana, esses g randes dogmas :
um Deus creador e piritual e unico, um a alma espiritual ,
livre, immorta l, uma vida f utura com a uas recom-
pensa e os eu ca t ;go , - já seria muito p ar a esta
t erra em que os systema succedem ao systemas, em qu e
a ve rdad e de hoje vem a er êno amanhã. Comtudo, fez
mais: . obre as verdades da ord em natural, re taurada
com a ua cr ença. , f und·ou uma doutrina sobrenatural
de qu e onhecemo o~ mao·nifi o ·en in os: Filho de Deus

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StmLIMIDADE DA DOUTRI NA DE J. e. 203

feito homem, v iu en inar ao mundo a 'l'rindad a Incar-


nação e a Hedempção: r evelou-nos a sua ()'raça os meios
de a ommuni ar ás alma ; a Igreja, os sacramento , a
Eu ·haristia, a o-loria terna: outra tanta palavras,
como já dis emo á quaes corre pond m v rdad de
um a ordem ante d sconhecida. Ma a maravilha é qu e
este en =no divino e torn . para qualquer pirito uma
r egra d 'P n am nto uma lei de vida, .que r icos e
pobre ignorante abios a h em nc e ~ dogma a luz
para a ua intelliO'en ia, o d e an o para o seu coração.
« ou a admfravel ! n ~ ta doutrina, o ac e ·iv L e (')
in omprehen ivel a verdad in telligivel e o m~ t rio
in ondavel e n ntram pr tam mutu apo =o. Ei
que h a 19 ecul o o mai r e O'enio , r eliO'io o ou ímpios,
e tudam os dogmas chri tã em nun ca h cgar, e tes
a ele truil-o aqu ll e a ompr h en del-o . «Ürig ne ,
.ÂO'ostinho 'l'homaz, Bo. ·uet L ibnitz, Pa cal, a·~. e ta -
ram, sobre e a formula xtranhas, o olhare que desco-
briram a lei do p e1r amen to a marcha <lo astr-os, e
decla raram qu não as entendi am, porém, que e es
m:Fteríos imp er, crutavei. lh · mo travam xpli avam
tudo. o mes mo t mp o, levantou -. e outra r aça igual-
mente formada d ºTan<le · e pi rito , h abeis em di cernir
o. lado fra co da ou a , em en tend er o ophi".S ma , em
u ·ar da arma do motej o e d o ridi ul que t ntaram
mostrar qu e ó havia ·ontrad icção, fa lta d razão, trevas
·n · a formula:s; ma. nada con eguiram. E , com effeito,
i eh gas m a prO\'ar esta a · r ção, o hri stiani mo
a a bava n o d prezo. \. .. im ap ' dezenove s u lo da
mai. alta <li, u ·ão qu e jamai houve, e a formulas
ainda . ui si'.' tem em to la a u a integridad e ( 1) . Onde
havemos de a har um a doutrin a philo ·ophi a ou reli-
crio a al can ando m lhante altura, de afiando, de.ste
( 1) Bougnu <l , Le Ohristiani.sme et l es t emps 1nése11ta, t . II , p . 596 .

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DIVINDADE DA &EVELAÇÃO CHRISTÃ.
204

modo todas as investigações e todos os ataques, nada


tendo que recear dos progressos de todos os genios e de
todos os seculos T
2.º A moral. - Eis a pagina sublime pela qual Jesus
hristo iniciava o ensino desta moral evangelica que aper-
feiçôou tão marav'.lhosamente a moral natural e a lei
mosaica: «Bemaventurados os pobres de e-:pirito, porque
delles é o r eino do céus; bemaventurados os mansos;
bemaventurado os que choram; bemaventurados o que
têm fome e sêde da justiça; bemaventurados os miseri-
rôrdio o ; bemaventurado os pacíficos; bemaventurado
os que padecem perseguição pela justiça.» (8. Math eus
cap. vr.)
«Quando e pensa no estado do mundo ao momento
em que taes palavra eram pronunciadas; quando se
reflecte no perpetuo estado do coração humano, tão
pessoal, tão egoísta, não se póde deixar de admirar a
profundeza a ~ uavidade, a opportunidade cele tial de as
paginas. Ahi e tá Deus, vivo visível, ne ta novidade. E
embora houves e apenas e tas oito maximas no Evangelho
eu o proclamaria divino (1 ) .»
E: que sobre e ta base do de prendimento e da dôr,
.J sus Christo estabelece uma n ova lei moral por elle
re. umida em dois preceitos antes desconhecidos : o amor
df' Deus, e o amor <lo proximo. ·Manda, não tr mer
perante Deu , mas amai-o como a um pae: é o primeiro
preceito. Ordena em seguida, não desprezar o pobr e
-0pprimir o fraco, ma amai-o como a um igual: é o gun-
do preceito, semelhante ao primeiro; vae até o perdão e o
amor dos in '. mio-os, até o acrificio da riqueza em proveito
da indigencia, de modo que o dever da caridade se torna,
por assim dizer, a regra das sentenças de Deus, o objecto
(1) Bougaod , L e Ohri.atiani.ame et ~ tempa prütn.U, t. II, p . 236 .

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SUBLIMIDADE DA DOUTRINA DE J. C. 205

das suas eternas recompensas ou o motivo dos seus eternos


castigos.
raça.s a es a doutrina da igualdade e da fraterni-
dade humanas, a familia se acha r econ tituida obre a
ua verdadeira base; a e pôsa d ixa de r a e crava do
hom m; o menino é um ente s_agrado; a e cr avtdão
de apparece e uma nova oci dade funda sobre o p rin-
ipi da caridade hristã.

r paru,
«Ha no

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206 DIVI DA DE DA RELIGIÃO CHR ISTÃ

estão todas cheia da magnificencia de São Pedro de


Roma; e toda a gente abe que, 'na ultima aldeia catbo-
lica, quatro parede de pedra caiadas, quatro taboas de
pinheiro por altar, um ramo de alecrim para aspergir,
bastam para um velho sacerdote e um menino mal eurou -
pado tornar o culto impon ente e commovedor. Ha, em
todas a func õe cath olica , uma imagem viva da
pre ença de Deu e da piedad dos homens ; e e es cantos,
e.· e.s ritos, s p aramento no meio de uma sociedade
r ali ta. que não tem mais nem fo rmalidades, nem tradi-
çõe , obr esahem tão Yivamente n o meio de todo o r esto,
que, na ua pre. ença, quelqu r homem e sente transfor-
mado (l ).»
O E vangelho não cont m lei alguma civil e politica;
emquanto foy. é aba:xava a e e detalhes que r egulam
a vida de uma nação J e us hri to não promulga nenhum ·
pre eito de e gen r o, e e: te sihmcio é ainda um caracter
de sublimidade e de p erfeição. Com effeito differind o
da lei mo aica qu não ra dada sinão para o povo
judaico o Evangelho ' d inado a er a lei un '. versal de
toda·' a. nac;ões e le todo os seculo . Formulou o prin-
cipio da igualdade social e da fraternidade entre todos
o, povo · · que ne e idade haverá, pois, de leis civis ou
política '? A · regra da moral cbri tã chegam.
A doutrina chri tã acha, portanto, r esum ida ne ta.
palaHa : verdade no doo·ma, pnreza e ca ridade na moral,
sinaridade n o nlto. Ora, si durante 4000 annos de
p esquiza · a ·sídua , o homens, e o mais b llos gênio;
dentre os homens, não puderam achar essas formulas, é
que o espírito humano não podia de.-cobril-as; e si ao
ca bo de 40 eculo de tentativa infructif eras, um homem
r evelou ~uhitam en t e em lbante doutrina, semelhante
moral e emelhante culto, e os poude fazer prevalecer
(1) ;rules Sil:non, Re/igion nalurel/e, p. 360 .

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S UBLI MIDADE DA DOUTRINA DE J. C. 207

no mundo, é que e e ho.rui:Jm era mai do que bf)mem.


Era Homem-Deus! E' a conclu ão de Bos uet. E ' tambem
a de J. J. Rou seau. «Só o Evangelho, diz elle, é, no
tocante · á moral, sempre firm e, sempre verdadeir o,
sempre unico e sempre semelhante a si m mo. A intelli -
gencia nos diz que convem aos homens seguir os seus
preceitos, mas que achal-os sobrepujava o seu poder.»
(Carta sobre o monte.)
Accrescentemo que o magnifico en ino de Jesus
Christo, dado com uma autoridade sem rival, num estylo
cuja simplicidade iguala a grandeza, r evela o tom e o
caracter, não de um homem, mas de . um Deb.s. Além
disso, differenciando- e das outras doutrinas que se
adaptam só a uma época e a uma nação, extende-se a
todos os homens e a todos os tempos, sem que seja neces.sa.
rio, em tempo algum, accre ·centar-lhe ou tirar-lhe um11
palavra. Podemos, pois, concluir, não só com os gimios
; atholi.cos, mas tambem com os que se mo tram advp1·-
sarios de Christo, e deixam, ás vezes, escapar apreciações
que a verdade lh es arranca : a Revelação de J e us Christo
é divina. Assim pensa o allemão Strauss: «Ü Christo,
diz elle, não ba d e ser superado por pe·' ôa alguma ...
nunca será possível elevar-se acima delle, nem conceber
alguem que lhe seja igual ( 1 ) .» E' o par ecer do norte-
americano protestante Parker: «J esus diffunde uma luz
brilhante como o dia, sublime como o céu, verdadeira
.como Deus. Philósophos, p oetas, prophetas, r abinos, deixa
tudo abaixo de si... Deus está no coração desse joven
(2) .» E ' também a opinião do philósopho-his.toriador
francez, Renan: «Quaesquer que sejam os phenomenos
inesperados do futur o, J esus nunca será sobrepujado.
Todos os seculos proclamarão que, entr e os filhos dos
(1) Strauss, Du passag er et du perm<t11 e11 t d<tns le Christia.m'.!lme,
p . 127 .
(2) P arker, D is cow·s S lll' les m<ttieres refo.liv es à la r eligion, p . 27 5.

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homen , nenhum nasceu que seja maior do que Jesus
(1 ) .» J á os Judeus, no seu bom senso simples e ordinario,
exclamavam : « unca homem falou como elle !» (S. J oão,
vn 42 .) P orqu e se ba de parar no meio da logica e não
e dirá: «J esus Cbristo é Deus, pois que suas obras, seu
nsino e ua doutrina o revelam •como tal ~

API'I'ULO VII
DIVI DADE DA RELIGIÃO CHRIS'rà PROVADA PELA
MARAVlLHA DO SEU ESTABELECIMENTO

I. F acto da propagação rapida do Christi a nismo . - II. Gran-


deza das difficuldades a vencer. _:_ III. Fraqu eza dos meios em-
pregados. - IV. Refutação das obj ecções.

113. - Na r eligião chri tã, o divino surge por toda a


parte: na propbecias que o annunciam, nos milagres que
o confirmam, na p erfeição intrínseca desta Religião consi-
der ada em i me ma. Demos mais um passo em nossa
demonstração. O Cbristianismo vai no. apparecer muito
milagroso e divino tambem no facto do seu estabeleci-
m ento. i por uma parte, considerarmos a rapidez e o
f eliz exito da ua propagação, e por outra parte a
grandeza da difficuldades que teve de vencer, com a
fraqueza dos meios que estavam em seu poder, é impos-
sível explicar tamanho successo sem uma intervenção
d:r ecta de Deu : " E ' incrível, logo, é divino! » exclamava
Tertuliano, no segundo seculo. Ha de ser tambem a nos a
conclu ão depoi dos factos que vamos examinar.
114. - I. O facto histórico do estabelecimento do
Cbri tianismo no meio do mundo pagão, com uma r apidez
espantosa é comprovada pelos monumentos mais irre-
cu avei , quer da antiguidade cbristã, quer da anti-
(l} R e nan , V ie d e .l.ésus, p . 459 .

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i::illlU ~IAltA iLJ:IOSO 1C 'l'ABELJi;Olllll!:N'l'O 209
-=~================================;::;~~.~·""'"'~'---:

guidade profana. itemos somente algun testemunho ..


r ca d d z anno apó a morte de Jesus hristo,
Pe lro dirigia d Antio bia a ua l.ª Epistola ao
fi i e palhado no Ponto, alac ia, Cappadocia, A ia
Bith nia. l ortanto, já havia cbristãos em toda essa
pro incias. ão Paulo, pou o t mpo d po·s, screvia
ao fi is das principaes cidades. da recia, ao babitant s
le orintho, ' olosso, 'l 1he aloni a, e podia dizer a
1 omano que a sua fé estava annun iada n mundo
in iro. (Ep . aos Rornanos, J, ) . n cinco n ta anno
dcpoi da morte de são J oão um cél bre phil sopho,
·onvertido da doutrina d Platão aos nsinos do hri -
tianismo, são Ju tino, m ncionava no seu Dialogo com o
jud u Tryphont esta cfrcumstancia importante: <i:Não
xi t nação em que não e tenha off r cido, em nome d -
J u hri to, pr ces ao Ia e ao r ador de todas as
·ou as.» No gundo século, 'r i-tuliano se atrevia a
N> r r na sua Apolog tica dirigida a magistrados d
lmp r io: « 'omos de hont m, já nch mo as idad ,
as ilhas, o · castellos, os a am1 am utos, a aldefas e os
·amp s; só d ixamos vazio os vo os templos. i n os
r tira. ·s mos, o imp rio ficaria de rto.»
s hi. toriadores profan os falam do mesru mod1 >.
'l'a iLo no n ina qu e no r inado d N ro, t rin ta annos
<l pois ela mort de J sus 'hristo, l1 avia m Roma uma
grand - multidão d hristãos : «1n1ilti ti1.do ingens.» (Ann.,
., liv. V, 44.) Plinio o Moço, gov mador da Bithyn:ia,
s r via ao imp erador 'l1rajano cfu o hri stianismo, na
ua prnvincia, ra prof .· ado por grande num r o d
p sôa. do dojs sexo , de todai:; as idad s e ela ses
( omnis 01·dinis), que essa r eHgião s extendera, como uma
ontagião, não só nas idad . , mas ainda nos campos.
d r to d Maximino II, conservado p lo historiado1·
Eu bio, assignalam, orno motivo da pers guição, a
<li ffu ão m x mplo do Christianismo. E', portanto,

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210 DI VI N DADE DA R E L I O I ÃO CR RJS T Ã

um facto averiguado que, desde a ua appari~o, a


Religião chr istã realizára progressos admiraveis (1 ).
115. - II. Mas como explicar e·' e facto 1 A nova
r eligião achava um acolhimento tão facil ~ Longe disso, o
Christianismo tinha contra si difficuldades sem numero,
insuperav is naturalmente. om effeito, tinha como
ad versario :
1.0 O Judwismo, com o seu pre tigio, a·3 uas espe-
rança. , o seus dogmas, o seu legislador, o seus sacer-
dote , a sua existencia de quinze se.culo . Quando s :~
pensa na ob tinação desse povo judaico d ·de mais de
1900 annos quando se conhece o eu apêgo á religião de
seus paes e a tenacidade da ua fé, póde-~ e medir a exten -
são da ua r e..,i tencia ao ensinos de Jesus Christo.
2. 0 A I clolatria em geral: apr e ·entava e ·ta uma oppo-
·-ição incrivel. A este universo, «onde tudo era Deus,
alvo Deu mesmo » a e te paganismo que, por toda a
parte, tinha o. us altare , a uas ceremonias, as suas
festas, o eu ac rdocio, que profe.sava uma moral facil,
e divinizára toda::; as paixõe , o hristiani mo off erecia
uma inversão completa de todas as idéas e de todos os
co tume : comtudo, tinha que e tornar acceito.
3. 0 O Im perio roma.no, em particular; solidario com
a idolatria, a esta protegia com a . ua autoridade, o seu
pre tigio poder . O culto dos idolos era a r eligião da
patria e a historia r efere que os enadores e o proprios
imperadore e di ·putavam a honras do acerdocio. Por
outra part , o mundo não e tava mais immer.30 numa
época de ignorancia e barbaria, mas corria então o seculo
de Augusto re plandecente de todos os fulgores da
philosophia, da eloquencia, da historia e da poesia; nunca
estivera mais diffundido o go to pelas lettras, sciência
e artes; e é a esta ociedade, ao mesmo tempo tão
(1) Vê r as bell as paginas de D. Guéranger : Sa1nte Oécile et la
aociétti ramaine, cap . XI .

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EU '(Al!AVH,JIQ , ES'l'ABEt,F: IMENTO 211

jnstruida tão atorm ntada do ntia, que e apresentava


o hris tiani mo.
116. - III. P lo m n de qu instrumento e
arma ia lan çar mão a n ova r eligião para aSS€gurar a
nqu i. La s 1 s l mund , o hom m po u e tr
temíveii,;: a palavra a ·pada ouro. ão os
m qu de ord inario, triumpham o onquista-
ra , d tu_l iss hri tianismo não tinha cousa

com
duz ?

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212 DIVINDADE DA RELIGIÃO CRRISTÃ

ser que tenha sido amparado por urna força divina. »


(Pensamentos.)
117. - IV. «0 homem, disse Bossuet, argumenta
sempre contra Deus.» E, com effeito, o successo inespe-
rado do Christiani mo que deveria impressionar tão viva-
mente qualquer espirito sério, recebe da incredulidade
explicações não menos extranhas.
«Enthusiasrno pela novidade!» dizem alguns. - Sim.
sem duvida, o Christíanísmo era uma novidade, excitou
incríveis enthu.siasrnos. Mas a diffículdade estava em
provocal-os. E' preciso collocarmo-nos na época em que
appareceu esta novidade para apreciar o seu verdadeiro
car acter. ão e tava a r eligião de Jesus Christo em
opposição com todas as crenças do pagani mo~ ão
condemnava neste todos os preconceitos e todas as incli-
nações, todas as paixões e todos os co tumes? A homen
chafurdando em todos os vicios, escravos do orgulho da
avareza e da volupia, o Christianismo dizia : «Dora avant .
er eis humild , carido os e mortificados!» F oi preciso,
portanto, que esta doutrina triumphasse dos corações.
«Ora, dis e Bo uet, nada é mais r ebelde, arrogante.
indomavel que o coração do homem.» A novidade que
produz semelhante mar avilha é certamente uma novidade
divina.
«Fanatismo!» dizem outros. - Mas geralmente os
fanaticos têm alguma cousa de sombrio e esquivo: seu
zelo é brutal, violento, sanguinário; as chammas e o
punhal, os crimes e as vinganças são para elles meios de
ucce o e de conquista. Ora, será possivel r econhecer
n ssa descripção os primeiros fieis que não respiravam
sinão a paz, a caridade, o perdão das injurias, que não
conheciam outras armas além da persuasão, da paciencia
e da prece' Onde estão os pagãos que o chrístãos tenham
sacrificado á sua r eligião? Onde estão o Cesar es p er. -
g-uidores de quem os christãos tramaram a nüna 1 Ond e

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SEU l>U.KAVlLHOSO ES'rABELECfMEN·ro 213

estão as provincias que elles tenham percorrido com a


espada na mão para estabelecer o reino do Evangelho?.. .
Além disso, como conceber um fanatismo que dura seculos,
que e apodera ao mesmo tempo dos povos civilizados e
barbaros, que alcança juntamente a infancia, a idade
viril e a velhice, os sabios e os ignorantes, .os ricos e os
pobres ~ Abençoado fanatismo, de origem verdadeira-
mente divina, que teve p or resultado purificar os costu-
mes, tornar o hom n mais esclarecidos e melhores,
fornecer, p_or toda a parte, esposos mais fieis, filhos mais
submi os, magistrados mais íntegros e subditos mais
doceis ! Um fanatismo que reune todos esses . caracteres,
se as melha muito a uma sabedoria divina.
Afinal alguns espiritos scepticos quizeram attribuir
a propagação tão r ápida do Christianismo ao interêsse, ao
orgulho e ao temor suscitado pelas ameaças, á e perança
da eternas recompensa . - Perguntamos de bôa fé e
inceramcnte, que intere e, neste mundo, podia seduzir
os chri tão · ~ O d offrer perseguição e morr r nos
upplicio ? im, o orgulho humano póde inspirar algu-
mas façanha , alguns sa rificios feitos por o tentação:
mas a fidelidade constante ao deveres mais obscuros, a
abnegação de i m~mo, o desintere e, a castidade, nunca,
si fiz ermos ab tracção do auxilio divino! Desejamos viva-
mente que, por orgulho ou espirito partidario, os nossos
racionali tas modernos experimentem fundar uma escola
d ubmi são á lei , de virtude · heroicas, de caridade,
dedicação á patria, que dure seculos e nunca se desminta!
Quanto ao ff ito qu pód produzir obre os espíri-
to a per pectiva de upplicio s m fim ou de recompensa
terna · além deste mundo, cm duvida, emelhante pensa-
men o póde affe tar e ommover, porém, ó quando omos
ronv ncidos da verdade do hr· tianismo, porque os que
não acr ditam na religião cbristã zombam das suas amea-

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214 D 1V1 N D A D E DA !!. E LI G 1 ÃO C H !!. 1 S T Ã

ça e promessas: sirvam de testemunhas o nossos incre-


dulos e liv r es pensadores.
E' em vão, poi ·, que se procura empanar o exito
e tupendo do Evangelho, attribuindo-o a paixõ s Yulga-
r es: é mai;· nat ural e mais ajuizado r econh cer nelle a
obra de Deus, e r epetir com Tertuliano: «lncredibile,
ergo dim.'Ylnim ! E' incrivel, logo é divino! »

APITULO III
DlVJ DADE DA RELI GIÃO HRI T i\ PROVADA PELO REROISMO
DOS MARTYRES
I. Du ração e violcncia das p rseguiçõe . - II. N umero consi-
(1ravel dos martyre . - IU. Vnlor do seu testemunho. - IV.
Refutação das objeoções.

118. - Outra prova da divindade do Christianismo,


é o testemunho do sangue, dado pelos mártyres durante
três eculos inteiros. Dá- e o nom de mártyi·es ao:s chris-
tãos, homen , mulheres, meninos, velhos, que sacrificaram
a vida para não renunciar á fé e morreram pela Religião
de seu chefe J e us Chá to. Se !Pascal poude dizer:
«Acredito de bôa vontade em testemunhas que se deixam
matar,» que e ha de pensar de uma religião capaz de
inspirar não ó uma vez, nem mil vezes, mas milhões de
vezes e e testemunho do sangue derra mada? A incredu-
lidade, per cebendo muito bem a fo r ça de te argumento,
quereria a:lia tal-o, pel:o menios !(lttenual-p, negando a
duração e a violencia da p ersegi.úção, o numero e a
innocencia do chri tãos immolado , e emfim, o valor
que a Religião christã póde tirar da morte de seus filhos
assim sacrificados. Mo tremos a falsidade de semelhante
interpretação, e r estabeleçamo , p elo contrário, a verdade
sobre cada um de es ponto : verificaremo , deste modo,
que o Christianismo r ecebe do seu martyre mais uma
prova r esplandescente da sua divindade.

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HEROISMO D O S MARTYRES 215

119. - I. Di&ração e violência da pl7r egnições. -


E um facto hi tórico que o império tinha deuses e tem-
plo e que, com grande u ceptibilidade, pretendia con-
rval-o . E outro facto não meno certo que o ch ri tãoo
tinham que e ab ter do culto dos idolos. Dahi um odio
implacavel do pao-ani mo contra a nova religião, odio que
e manifestou por accusaçõe e calúrnnias como a · que são
J u tino, Tertuliano, Orígenes, Minúcio Félix refutaram
na sua Apologia . uetonio e Tácito nos representam
o christão como inimigo irreconciliáveis do · deuses
do E tado. Ora, este odio n carniça do não podia ficar
inactivo naqueUe em cuja mãos r e idiam o pod er e a
fôrça; e se accrescentarmos que, naquella época, o povo
romano era se<lento de sangue· que achava, as im como
o contam o historiadores, todo o seu prazer nos jogos
abominaveis do circo, comp rehenderemos facilmente que
o furor do pagãos havia de exteriorizar logo em
morticínio..
Com effeito a historia r efer e que, de Nero a Diocle-
ciano, i to é, durante tres eculo , a perseguição foi, por
as im dizer continua. Todavia, contam-se dez épocas em
que ~ e manifestou com mais violencia, depois dos decretos
dos imperadores que deram o seu nome ás dez persegui-
ções principae que o Christianismo offreu:
l .ª Sob Nero, de 64 a 6 da era christã.
2.ª Sob Domiciano, no anno de 95.
3.ª Sob Marco Aurélio, de 166 a 177.
5.ª Sob Sieptím·io S evero, de 199 a 204.
6.ª ob Maximino, de 235 a 238.
7.ª Sob Décio, de 250 a 252.
8.ª Sob Vaüriano, de 258 a 260.
9.ª Sob Aureliano, em 275 .
10.ª Sob Deocleciano, de 303 a 313.

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216 Dl Vl N DAD E DA R E L 1 G 1 ÃO C H RI S T Á

Estas perseguições foram muito reaes: não só as


Actas dos martyres, escriptas dia a dia, são dellas uma
prova irrecusavel, mas ainda todos os historiadores do
tempo as mencionam . Citemos, entre os autore christão :
são Justino, Tertuliano, Minucio Felix, são Cypriano e
todos os ap ologi tas. E usebio, que vivia no quarto
secul.o, dellas fala muito na sua Historia, composta, como
se sabe, de fragm entos de autores primitivos, contempo-
ran e9s dos factos. Lactancio que vivia no meio das p rse-
gwções, e cr eveu um tratado Da m orte dos persegitidcn:es .
Sem dúVida, todos êstes e.scriptores não sonharam, num
delirio commum, perseguições e supplicios imaginarios.
Interroguemos os autores pagãos: não são meno
u:r;ianimes. Tácito, nos seus Annaes (liv. XV cap. 44 e
49 ) , conta _como Nero incendiou Roma para accusar os
ê_hri stãô!) · desse crime e condemnal-os aos niai. crueis
s'uppli cio:s e como foi visto, elle proprio servir-se de
christãos untados de pez, como tochas vivas, para illumi-
nar as suas corridas nocturnas. Lampridio, na sua Vida
de AlexandN3 S evero, o sophista Libanio, no seu Elogio
de Jul iano o Apóstata, notam os mesmos rigores; e ste
ultimo feli cita o seu her óe por ·ter abandonado meios que,
longe de destruir os christãos, os multiplicavam. A Carta
de Plínio a Trajano é um testemunho irrecusavel: o
governador de Bi t.hynia, assustado pela multidão de
victimas innocentes levadas ao supplicio, pede ao impe-
r ador que linha de con ducta deve seguir nesta emergen-
cia. E' pois um facto muito certo que a perseguição foi
real e terrível : teve algumas intermittencia durante os
r einados de Nerva, Antonino, Marco-Aurelio; com tudo
Bo suet diz com r azão: «Üs christãos foram sempre
p rseguidos, tanto durante a vida dos bons como dos
máus imperadores. Essas perseguições er am feitas ora
p elas ordens dos imperador es e pelo odio particular do
magistrados, ora pela . ublevação dos povos e pelos

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RE ROI SMO D O S MARTYRES 217

decr etos promulgado authent icam ente p elo Sen ado.»


(H istoria universal, l.ª parte.)
120. - II. Número e innocência dos martyres. - P elo
que diz r espeito ao numero dos martyres, s ria difficil
precisal-o; por ém segundo os documento mai authen-
tico , foi avaliado em treze milhões. Os catalogos são
incompleto ; segundo os e cr iptores ecclesiasticos dos
cinco pr imeiros seculos, deve- e julgar que o numero das
victima foi immen o. A ultima perseguição, m parti-
cular, ordenada p or Deocleciano, e de todas a mais longa
e mai cruel, ensanguentou o universo. Segundo Eusebio,
hi toriador da época, «é impossível fazer- e uma idéa
exacta da multidão que uccumbiu por toda a parte. »
Lactancio accrescenta: «Toda a terra se achava cruel-
mente atormentada, e exceptuando as Gallia , o Oriente
e o Occidente estavam assolados por tres monstros.» Até
o imperador mandou erigir uma columna e cunhar uma
medalha com e ta inscripção : N omine christianorum
delieto. Pouco tempo depois, o historiador ulpicio Severo
escrevia: «Dez anno de verdadeira deva tação acabru-
nharam a Igreja de Deus: nunca guerra alguma exgottára
tanto o genero humano.» (H ist., liv. II .
Agora, porque é que soffriam os martyres. Seriam
réus convictos de algum crime capital ? Tácito nos disse
o contrario. Ouçamo o te temunho de Plínio, na sua
carta a Trajano: « té o presente, eis a minha conducta
em relação áquelles que me foram denunciado como
chri tãos: p erguntei-lhes i eram christãos; recebendo uma
resposta affirmativa, renovei a minha p ergunta segunda
e terceira vez, ameaçando-os com o supplicio. Quando
perseveraram, mandei executal-os... Outros abjuraram.
egundo a ua affirmação, a sua culpa era só reunirem-se
num dia determinado, ante do na cer do sol, cantarem
juntos um hymno a Christo como a um Deus; prohibi-
rcm-se o furto, a pilhagem, o adulterio, o perjurio e

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218 D l V I N DA DE DA R E L I GI ÃO CH RI S T Ã

entarem-se a um banquete commum ... Só achei nelles


uma uper tição exces ·iva ... Crime nenhum.» Segue a
extranha resposta de 'l'rajano : « ão se devem procurar
os christão , porém, ·endo denunciado , é preciso casti-
gal-os. i o accu ..ado nega que ..,eja christão, e ·i confirma
a sua depo ição invoeando o deuse , que se lhe per dôe.»
O de-er eto d Maximino TI nota igualmente que o cr ime
do · christãos é de ertarem o culto dos idolo . Leiam-se
as Actas dos marty1·es, vêr-se-á que a accusação, como a
sentença, indica só e te ponto. E', pois, averiguado que
os martyre" eram innocent.es.
121. - IliI. Valor d.esse testernwnho dos mártyres. -
Durante tres seculo , fr ze milhões de chri tãos de qual-
quer idad , de ambo · os sexo , de todas as condições, no
meio de horriveis supplicios, infinitamente variados,
acrificaram livremente a vida quando, por uma palavra
só, podiam ·alval-a; sacrificaram-na calma, reflectida-
mente, não por uma opinião, por teimo ia, por um inte-
re se p ssoal, mas unicamente pela fé e por Deus, a favor
de uma religião abraçada por convicção, apesar de dogmas
de uma extranha sublimidade, apesar de uma austera
moral, e i ·o, com o fim de obter uma recompensa além
da vida pre. ente!
Na verdade erá i o natural 1 Donde provem esse
her oi mo superior a tudo quanto a antiguidade pagã nos
apre enta de mai bello n e genero? Quem póde
in pirar tamanha coragem unida a tantas virtude ? Aqui
só convem a exclamação de Tertuliano: «E' incrível, logo
é divino! » ou o parecer de Pascal : «Tenho fé em teste-
munhas que se deixam matar para ustentar uma depo-
s:ção !» im, a r eligião que in pira tae convicções e
coragen , não póde vir inão de D u !
122. - IV. R espostas ás objecções. - Comtudo, não
é essa a conclu ão do racionali tas incredulos. Para
attenuar o testemunho dos martyres, dis er am: «Üs

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HEROIS.MO D O S :MARTYRES 219

eh ri tãos eram edicio o · m re iam portanto a morte!


ou eram fanaticos e a ua e tupi z loucura deviam ser
r primida .»
Haverá ne e
hri tão ~edicio os !
conspiraçõe por 11
h fo ou in pirador
culpado·'... Ió. apr ntamO;' a A ctas do · u martyri-0
em que Y ~ m on iO'n ado o testemtmho. ela ua fidelidade
a toda . a lei · t mos m no o p der ·• edictos dos
imp ra lore-..;, app llamo para todo.· o. monumen to da
hi t oria afim de d mon . trar qu r am castigado p or
a usa da ua f' não do. . u. rime·. bamem embo ra
a e as onvicçõe profunda:, a . a fi rm eza impavida
p r ant a amea, a · e na l r nça dos upplicio. fa natis-
mo ou loucura, - . ão Paulo fa lou , om ffe ito, da lotl ura
da cruz e dell a e glor ifi ou; - por'm, om ão Paulo
igualm nt , ham ar emo «sabedoria d ivina» um fana. -
ti mo e uma loucuxa qu . e manife ta, . em nun ca se
d mentir. por YÜtud .- heroicas ohra. i:inblim e de
paci ncia, carid ade ded icação.
ccre · nta-~ , á. veze : «Toda a r eligiõ tiv ram
o eu mártyr . ;» e citam- mártyr do Alcorão, do
prote. tantismo o. do d u. · Brahma , que na: India:,
e precipitam livr m nt . ob o ca rr do . vU idolo. Não
.,;e inv ntaram tamb em o · martyr da Jiberdad ?
Realmente, rá po ivel comparar o martyre do
hri tiani mo com aqu ell es preten o martyr e de todas
a. r ligiões. i ha fanat1smo e loucura, d e que lado
e-atarão? i con ultarmo a b.i toria imparcial, veremos
que o mahom tano morr com a e pada na mão, pela
conquista ou por ua defoza, ma. não p or ua f é ; que o
prot ·tantism s armou par a o aque, em odio da Igreja
e da sua fé anti a; que o Hindú obed ce a uma supersti-
ção cega na bu.;.ca da mort . Mas, será verdade que todos

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22-0 DIVI:ND.ADE DA RELI G IÃO C liRl S'l' Â

e.s s intitulado mártyre.s morram pacientemente como


o chr:LJ tãos, por uma cr ença, pela verdade, pela virtude ?
Não erá as mai da vezes, o orgulho, a ambição, a
t imo ia, a paixão, em summa, que move os sectarios e
o tran fo rma m victima . ão, todos es es pretensos
heróe , nem na ua vida, nem no seu caracter, nem no
·eu fim, n em no u genero de upplicio, pódem er
•ompa rado · com o tr eze milhões d martyres de que . e
ufana a Religião chri tã.

APITULO IX
DIVINDADE DA RELIGIÃO CH RISTÃ PROVADA PELA
l\IARA VILHA DE SUA ONSERVAÇÃO E DE SUA PERPETUIDADE

Principaes obstacul o que o Christiru.âsmo encont rou e su perou:


1. 0 os sophista dos prim iros seculos; 2. 0 as heresias ; 3.º as
im7 a ões barbaras; 4. 0 o mahometismo; 5. 0 os scismas; 6.0 a
Reforma ; ~ . 0 o philo ophismo do seculo XVl!I ; . 0 a Revolul}ão. -
Conclusão geral.

123. - 'l'udo, ne te mundo, offre a lei da caduci-


dade e da morte· as r eligiõe antigas não es apar am a esta
lei geral: o abeismo ou o culto dos a tros ntre os Chal-
d u , a religião de Zor oastro entre os P ersa , o paganismo
da Greci a e de Roma desappareceram. O judaísmo está
m decadência, o mahometismo não vive mais como r eli-
gião; só o Chri tianismo, depois de dois mil annos de
exi tencia, e apr esenta numa perp etua juventude, como
o unico senhor da verdadeira ci vilização. Comtudo, os
dogmas que elle en ina são difficeis de acreditar e os
preceitos de moral por elle pregados são oppostos a toda
as t endencias da natureza humana. Este facto é já um
prodigio ; mas o que attesta ainda melhor o seu poder e a
ua divindade, são os combates incessantes que sustentou,
e dos quaes sahiu sempre triumphante desde a sua origem
até os nossos dias.

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S A rOIN 'ERV Ç.Ã O PERPE'l' U 1DA.DE 221

Entre o obsta ulo qu o Christianismo teve de


Yenc r , é pr :iJ o menc.ionar especialmente, depois das
perseO'uiçõe do judai mo dos imperadores pagãos: 1.0
o ophistas do prim, ir eculo ; 2. 0 as her esias j 3. 0 as
invasõ barb aras · 4. o malunnetismo · 5. 0 os scisinias ·
0

6.º a R forma · 7.0 o philo ophi'srno do seculo XVIII i


. 0 a R vol1ição. Vamo dar a conh cer brevemente cada
um d -0bstacuJo dizer orno o hristiani\Smo, ou
ainda melhor o atholicism o, que é delle a mais a1ta e
ma1 pura r epre· entação triumpbou na lucta.
1.º O ophistas dos p1·imeiros s culos . - Apenas
omeçava o hri tiani mo a e e tabel -cer como doutrina,
quand o foi viol entam nte atacado m nome da abedoria
e da philosophia. Cel.so, no egundo século; P orphyrio,
no terceiro; Hierocle , logo no princípio do quarto,
xgottaram contra a nova r ligião todos o epig rammas
e todos o sarca mo . o fim do quarto século, Juliano
o Ap' ta ta, sobrinho de Constantino, qu fôra educado
no hri tianismo ao l ado de são Basilio, voltou contra
os discípulo do Chri to todo o recur o do seu genio.
Pro lamaclo imperador ( 61 ) r esolveu destruil-os não
mais p ela e pada e p los algozes, ma p ela palavra e
pelo ensino. P r ohibiu en inar o dogma chri tãos e
r e tabeleceu a doutrinas do paganismo com as praticas
do cultos idolatri co . ob a mascara de uma tolerancia
exterior, empr eO'OU contra o Christianismo todas as
a rmas: diffam ação cabala, inju tiça, ridiculo, astucia
fo1·ça, tudo lhe servi a. Hoj e, quem se lembra dos sophis-
ta. 1 Qu ve tigio deixar am na hi tor ia? E quem não aoo
que o Galileit levou de vencida a Juliano o philosopho e
o apóstata?
2.° As her esias. - D o IVº ao vmº seculo, a Igreja
christã, livre dos per eguidores topa com um inimigo
ainda mais t rrivel qu e os algozes. São as h er esias que
procuram succes ivamente olapar o verdadeiro Chri tia-

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222 DI VI N DADE IJ A R E L l O I ÃO CH R1S T Ã

ni mo, atacar-U1e a doutrina am açar-lhe ora um or


outro do artio·o do ymbolo.
O Arianisrno abre a lu ta (319) . Ário n gava :
divindade do erbo e, por con "'Uinte, do hri to feit'
hom m: ali tou n-0 u partido acerdotes e bi po convo
·ou oncilio contra oncilio; o mundo, um dia con
admiração, a ·bou-. ariano. Ape ar do concilio de 1cea
o arfani mo não extinguiu inão no eculo VII. 1

p rincipio do vº -.;;;eculo ( 41 ) ' o Pela.gianiS?no que appa


re e e arnea:a invadir toda a Igreja. N gando o peccad<
original e a ne e· idade da graça, Pelágio negava :
propria Revelação. O m . mo v0 e ulo Yê urgir o to
rianis1no que ata a a J esu hri to, pr tende r econhecei
nell dua · p ·ôa·: e r e u. a á. Yirgem Maria o titulo d(
Mãe de D eus· em eguida, o E utych1{mis11io e"'u cami
nho contrario confunde, em J e us hri to as dua<
natureza divina humana: coºn demnado em halce.
donia o erro d Eutyche é attenuado e propagado no.
seculo. eguinte p lo MoriozJhysitas, d poi por ergic
e o M onothelitas, que não querem vêr em J e u hri te
mais que urna ó vontad uma ó op ração.. A lu ü
pro o-u até a épo a do 3. 0 concilio de Con tantinopola
em 6 O. Io vmº e u 0 'cul , eis a here ia do lcono
clastas, ou d truidore de ima"'ens, que atacam a:
ima"' ns e e .t atua do antos, todos o emblema d1
culto, o do"'ma catholico da homenagen lecitima pre
ta<la á anti sima Virgem e ao santos do céu.
A cada in_,tante, pois, durante quatro seculo , •
hristiani mo está em lucta com o êrro; julgar-se-ia qu
va perecer ob o ataque combinado do e pirit
humano, da força brutal e do ophi ma coroado. Mfü
a cada a alto, o hri tianiSllilo responde pela voz do
eus pontífice e do. seus concilios. Em Nicéa (325 )
em Con tantinopola (3 1 ), m Ephe o (431 ), em halcE

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SUA E PERPETU!DADE 223

donia (451 ) d Nic'a (7 7), affirma a


ua vi toria a pujan a da ua vida .
3. 0 As do barbaro . - Foram llas no v°

do

teu-a
vier am

O 11w homet1· mo. No setimo ec nlo, um novo


inimi o-o ur o-e d Ori nte: é o mahom ti mo fundad pela
fo r ça e udad n fanati mo mais ardent . MaJ1om
p oz a cimitarra n a mão dos seus ad pto , afrouxou a
leis roais sa nta 1a moral, tornou licita. a <l va idão
a pilhagem, pr metteu gozo eternos ao ' qu p receriam
n a lu cta. A · ia M nor, a .Airica, a EspanJ1a Ih ah m
nas mão ; a Italia .é ameaçada, a França m io invadida.
A civilizaçã.o periga, e o furor dos sectarios e manifesta

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224 D!V T N DAD1': D A R E idGIÃO r HR.T S T Ã

particularmente contra os cães dos christãos... Mas, e.


que, pela espada de Carlo Martel, o Chri tfanismo, ei
Poitiers (732 ) embarga o passo á avançada triu.mphan1
do Islamismo. Durante dois seculos ( 1099-1270 ), a
Critzadas, emprehendidas pela causa sagrada da Rel
gião, con ervarão a Europa em pé de guerra e oolvarã
a christandade. O poder do cr escente rcirocede perant
o estandarte da cruz, e o Evangelho triumpha d
.Alcorão e da sua moral relaxada. Julgar-se-ia que, co1
Carlos Magno e o Santo Imperio romano, o Christianism
vae conhecer dias de paz ; mas não ha de ser assim:
sua condição é a lucta e eis que lhe é preciso appan
lhar-se para outros combates.
5.0 Os scismas. - Desde os primeiros seculos,
Christianismo já tivera que sof:frer mais esta prova:
divisão entre os seus membros. No rv 0 seculo, os Don-0
tistas, na Africa, e os Mielecios, na Asia, tinham dilac€
r ado a Igreja. Comtudo, no seculo rx, um scisma mai
terrível, o scisma grego , iniciado por Phocio, patriarch
de Constantinopla ( 831), separou da Igreja romana tod
a christandade do Oriente. Durante dois seculos, o
imperadores de Byzancio favoreceram esta divisão last'
mavel, acirrando a lucta oppondo-se ás tentativas d
approximação, até que Miguel Cerulario, outro patriaJ
cha de Constantinopla (1043), consummasse o scism
por uma separação que ainda perdura e puzesse el
frente do Chri<stianismo com séde em Roma, o Christü
nismo diminuído e desprestigiado da Igrej a greg
scismatica e da Igreja russa, originaria de ta.
No mesmo tempo, eis que começa a lit,cta do sace:
doc1:0 e do imperio. No VIIIº seculo, o papa Gregorio 1
libertára Roma ' do poder do imperador de Constant
nopla: as províncias da Italia, abandonadas pelos Cesar1
de Byzancio, se tinham c-ollocado, por si mesmas, sob
autoridade dos papas. Pepino o Breve, em 755 e Carlc

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StTA PV.RPl!lTtTlD D!'; 225

Magno, em 774, fundaram d finitivam ente a sobe-rani.a


ternp01·al dos papas prote tora da sua indep ndencia
espiritual. P ar eia que, á ombra d p od r pacüico,
a I greja chri tã ia gozar de um compl to r ep u o: acon-
teceu ju tamente o contrário. A pr t n. - ambiciosas
de H nriqu TV da Allemanha contn1 Greo-orio VII e
o papado d r am a o a nova lucta (107 5). ontinuada
por Freder ico Barbaroxa, Fr derico II Luiz da Baviera
i>tc.; no m io de a guerra empr r novada, s ncce-
<l iam-se os antipapas ; era a d or d m o-er al.
O exílio dos soberano pontific<'s ~m vinhão,
durant 70 anno , exilio ch amado capt1ºv iro ele Baby-
lonia tev por coru; qu ncia o Grande s 1:sm.a do Occi-
dente (1378-1419). Con t itu , por i . ' . nma da maü::
terrivei prova enir ntada p lo hri tiani mo, J orqu
ra o principio da autoridad ba e de toda a i dad
tavel, que era violado. O. r ei os imp rador , o.
E tado catboli o, abra(,lar am apaixonadamente um ou
outro partido, e a v rdade, ru lla pud t.i>ri a naufra-
gado n es diluvio .
Em.fim durante todo es e periodo da ifütd media.
o Chri tianismo ' atacado em t do.<> os pontos por todos
o modo : na França, p lo lbigenses · n a 1talia, por
A rnalclo de Brescia, MarsiVi:o de Padiia, et . ; na Ino-la-
terra, por W iclef : na Boh mi a, por J oão H1,i,ss, at' que,
afinal, o oncílio d on tança, tão agitado a~ m 1414
··O papa Martinho V, unico e 1 itimo pontifice, e om ell ,
mai uma vez e tá alvo o hri tiani mo .
6.0 A Reform a. - Muito ante do i::c ul o xvr, a disci -
plin a da I greja romana, depo itária e guarda vigil ante
do verdadeiro Chrfrtiani mo, fôra violentamente atacada
por preten os reformadores. A Igr ja me ma luctava
con tr a o abu os d que era a prim€ira a g ro er . D d
são Bern ard o qu eram o seu concilio smao uma
entativa p rp tua tl reform a alutar 1 unth ro, nascjdo

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226 DI VI N DA DE DA R E L I G 1 Ã. O C H R I S T Ã.

em 14 3, emprehendeu, em 1517, uma reforma muito


differente. De uma disputa de monges, a respeito das
Indulgencias, elle fez uma revolta religiosa. Estes
grandes dogmas do Chri tianismo: a primazia do papa,
a autoridade da I greja, a transubstanciação eucharística,
o culto da Virgem e dos antos, o purt;atorio, os sacra-
mentos, etc. ; e tas instituições primitivas: os votos monas-
ticos, o celibato eccJesiastico, a unida<le e a indissolubi-
lidade do matrimonio, etc., iso·.s obraram na nova doutrina
do livre exame; e é ao conjuncto dessas ruínas que se dá
o nome de R ef01·m a .
emelhante estrago feito ao dogma, á moral, á
di ciplina e ao culto christão devia natu rnlmente suscitar
espantosas tempestades. Essas não demoraram em
chegar. A Reforma, começada na .A.llemanha foi inti10-
duzida no norte da Europa por Gustavo Wasa; na Suissa
por Zwinglio e Calvino (1516-1540 ) · na Escocia por
Hamilton, Buchanan e João Knox (1538-1560), e na
Inglaterra por H enriqite V III (1533 ) . Calvino e Th eo-
doro de B ez,e tent aram fazel -a penetrar na França,
conseguindo-o com grande infelicidade para es e paiz
(1533). Com a Reforma, as guerras de religião en an-
guentam e incende1 am a metade da Europa. E' o
momento em que a igreja, no concilio de Trento, affirma
do modo mais solemne a sua crença, a sua moral e o seu
culto. O veril.adeiro Chri tianismo, qu~ tantos esforços
e tantos erros con]uiados podiam aniquilar, recupera
nova vida cada -vez mais pujante. Sahido victorioso da
prova, produz um exercito de santos; lan ça-se á conquista
do novo mundo e r : >fficeta a sua perp t ua juventude.
7.° O philosophiSJmo do século XVIII. - Deixamos
de lado o jansenismo, heresia desleal, nascida em 1640,
que, a despeito do ' 1:: neno da ua penna e do occorro do
bra90 secular, nunca se atreveru a atacar o Chri tianismo
e a Igreja pela frente, mas sempre se eRcondeu como a

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SUA COINSERVAÇÃO E PERPETUIDADE 227

cobra, supprimindo a liberdade humana, deixando á


g l'aça toda a r pon!>abilidade do no o actos, limitando
ao prede tinado:' o:: effeito ~ d:i Red~mp••ão, e, por outro
lado exagger ando a moral ao ponto di> lançar no de e -
pero a melhor vontades. Durante m1i1 de um seculo,
o jansenismo e palhou a sua peçonha, até que Pio VI,
por sua bulla A:uctoreni F.id i lhe d u o golpe mortal.
Comtudo. um 1nimigo mai terrivcl e levantára
contra o Chri tiani mo : quer mos fala r da incredulidade
philo ophica do ecul'° XVIII.
Preparada por Voltaire, J. -J. Rou eau, Diderot,
d ' Alemb ert e os outro cor ypheu <; da ei ttl, 1m pia ; achando
apoio em ministro<; complacentes que se chamavam
bois ul na França, Aranda na E panha, Pombal em
Portugal, Tanucci em Napoles; podendo contar com o
r ei Frederico II na Pru. ia, J o ~ ' II na Austria, Catha-
rina II na Ru ia, a incredulidade phiksophica do seculo
xvm dispunha de fôrças immen a ; armou-a todas contra
o hri tianism,o, li ongeando-se com a ie p rança de
cantar em breve o De profii,ndis obre o caixão da religião
catholica. E com effeito, a in r dulida<le qua i conheceu
o triumpho.
A França, embora f ilha primogenita da Igrej a
entrava ne ta guer~·a, do lado da impiedad , com tudo
quanto a sua lingua e o eu c::iracter tP.m de attractivo
contagio o. Não er a mais o ataque sério; a armas dos
tàes philo ophos, vxa combater a Revdação, eram o
ar casmo e o gracejo, auxilhdos por uma pretensa
ciencia, e o riso zombeteiro para desacreditar a Religião
com os seus ministro. e as sua-; cr enças.
A Allemanha, com José II, r esuscitava o gallicanis-
mo; e o josephisrno, escravizando a I greja em seu
proveito, e coll0 c~.va acima do papa, d0 concilio e dos
bispo . Depois de tudo subverter, José 1I pretendeu ser
o bispo universal. Io mesmo tempo, seu irmão, grão-
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228 DlVl NDA DE DA RI>LIO l ÃO C R&IS 'l'Á

duque da Toscana. empr egava o seu poder em favor dos


jansenistas r eunidos em Pistoia. Assim, por toda a
parte, o philosophismo se julgava victori')SO. Logo depois
dos incredulos e dos sophistas, vieram os carrascos e a
impiedade parece:i alcançar o triu.mpho t~ om a Revolução.
8. 0 A R evolur;âo. - Por esta palavra, queremos
designar especialmente os attentados praticados contra
a Igreja e o Christianismo em nome do principio revo-
lucionaria. A FranQa, que fôra o berço do philosophismo,
foi a primeira a r ecolher os seus tristes fructos. A 13
de fevereiro de 1790, um decreto da Constituinte suppri-
mira as ordens relig10 a.s e deelarára na<:ionaes os bens
do clero. Em breve, a famosa decisão, conhecida pelo
nome de Constit1!iÇâú civil do clero, entrPgou aos eleitores
a escolha dos bisp0s; sem fazH caso ãa intervenção do
papa, supprimiu os 185 bispadcs franeezes e os substituiu
por 83 bispados civis com séde, quasi sempre, na capital
do depar tamento. Todo o clero recebeu ordem de prestar
juramento a essa constituição. Mas, dos 300 :µiembros
do cler o que faziam parte da Assembléa nacional, só 4
bispos e cêrca de 60 ecclesiásticos deram a suà adhesão.
Para os outros, a s na r ecusa foi o signal da perseguição
e do exilio. O T error abriu uma era nova, destinada a
sanccionar o ath eismo e a decadencia do Christianismo
e da I gr eja. O culto foi proscripto, as I grejas foram
fechadas, os cor.ventos invadido~, os sarcrdotes expulsos
ou mortos. O culto da razão foi substituído ao do verda-
de.iro Deus, e a pcma de morte tornou-se o castigo
uniforme de qualquer infracção a essas leis iníquas. A
matança ent rou r:or assim dizer nos co.'Jt'.lmes . Em Paris,
em quatro dias ( 2-5 de setembro de 1793), foram executa-
dos 189 sacerd Jt.es ou frades e quasi 3000 indivíduos de
ambos os .s exos e de todas as condições, qualificados de
suspeitos. Praticaram-se as mesmas atrocidades na pro-

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SUA OONS~~HVAÇÃO E PERPETUIDADE 229

vincia. Contaram-se 4 milh~ de victi.raas em toda 11


França.
Pouco depois, Roma cahiu em poder dos exercitos
francezes: a superstição, como se appclldava então a
religião, ali foi abolida como em Paris e pareceu que
se podia renovar a inscripção de Diocleeiano : Nomine
chn:stianorum deleto. O papa Pio VI despojado de seus
Estados, foi arr.<istado d{' pri ão em prisiio: em Florença,
Turim, Briançon, Grenoble e Valença, onde morreu a
29 de agosto d{' 1799. «E' o u~timo papa ! exclamaram
os ímpios, e é Valença que vi11 os funernes do Christia-
nismo e da I greja i»
Era o momento na Providencia : a 14 d e março de
1800, Pio VII era eleito e se dirigia para Roma. Bona-
parte entrava na França com o prestígio da victória.
Assignava com Pio VII a Concordata de 1 02, que resti-
tuiu á Frarn;a a paz religiosa e d eu ao mundo o espe-
ctaculo do Chri. tü. nismo maic.: uma vez resu citado.
Houve ainda nesta r esurr i ção nm ponto de suspen -
são no momento em que Nap oleão 1°, perseguidor por
sua vez, pretendeu dictar leis ao summo pontifice e á
Religião e prendeu o papa em Fontainebleau. Mas de
rep ente, tudo mudou de face : Napoleão tomou o caminho
de Santa Helern.1,, emquanto Pio VII •oltava a Roma
para reencetar aii a sarie dos triumphm; da Igreja e dn
Christianismo.
Taes foram r.s luctas e as victorias da Religião
chri tã no pa acto. H oj , novas proctlJas rugem por
cima de ta imtitui~ão velha d dezoito seculos. Dir-se-ia
que o inferno agu ça toda as armas para atacar ao
me mo tempo o hri tianismo no seu fundador, na ua
fé, na sua moral, no seu culto, no cu chef P , nos seus
pa tores e nas suas in tit ui çõe . Mas o pas ado nos é
um penhor do futuro e as victorias prec dentes assegu-
ram o supremo definitivo triumpho.

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330 DI VI N DA DE DA R E L I G I ÃO CH Rl S TÃ

Podemos, poü,, concluir e dizer: Si o Christianismo


fo e uma instituição humana, cem vezes teria succum-
bido. Si ainda permanece de p é, mais robusto e fecundo
do que nunca, depois de 1900 e tantos annos de luctas, é
que a mão de Deus o sustenta. A estabilidade da Religião
christã é um milagre permanente, que prova mais uma
vez a sua origem verdadeiramente divina.
Todos os testemunhos que citamos a favor da Reli-
gião christã acham 0 seu r emate e a sua confirmação
na autoridade eminente e considerável dos grandes sábios
de que e honra o hristiani. mo. Pód~-se affirmar que
religião alguma se apresenta com semelhante cortejo de
intelligencias, genios e virtudes (1) .

(1) Dan10s, nó Apprnclice B , no fim deste volume, uma nomencla·


tura n.breviada dos Grandes homens do Ohriltüvniama,

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A IGREJA

PJ JDl~ l ~ 1 AHJ ~ '


I. bj to dost stu Jo. - II. Dun~ a. m n st ru~íio.
- UI. Divisíío g r J d• t trntnclo.

munc.1 bl·ilhante
d

gravi -
datl , e tud
C'SJ. ·ia l.

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Â. IORE.1.A.

tos e preten dem merecer o mesmo respeito e a mesma


confiança.
Todavia, a verdade 'é uma e não se póde achar, ao
mesmo tempo, em sociedades que se contradizem. Neste
tratado queremos produzir os testemunhos sobre os quaes
a Igreja catholica esteia suas affirmações, discutil-os
com lealdade, e concluir que ella tem a seu favor a
immutavel e pura .verdade.
125.-=. II. H á dois modos de provar a verdade da
Igreja catholica. Cada um tem o seu valor, aprop riado
ás diversas intelligencias. O primeiro é a demonstração
indirecta; o segundo é uma demonstração directa, rigorosa
e completa.
Por ,d emonstra:çã\o indiroota, entendemos aqui a
citação simples dos homens profundamente instruidos na
sciencia religiosa, assim como das suas obras. Do mesmo
modo que nas que tões !iterarias, scientificas, historica.s
ou jurídicas, temos confiança nos te"stemunhos das auto-
ridades reconhecidas competentes nas letras, nas scien-
cias, na história ou no direito; também, nas matérias de
religião, podemos, muito r azoavelmente acreditar na-
quelles que são eruditos na verdade religiosa, nos douto-
res, nos theologos, nos sacerdotes. Ora, que autoridade
não constitue, a favor da doutrina catholica, a serie dos
doutores e dos santos que, depois de estudar o Catholi-
cismo, persuadidos da verdade dos seus ensinos, se torna-
ram os seus apologistas, desde os apostolos até os nossos
mais illustres contemporaneos (1) l Todavia, esta demons-
tração abreviada, bem que rigorosamente sufficiente,
convem sobretudo p ara as pessôas pouco instruidas e
incapazes de julgar por si mesmas.
( 1) Vê r, n o À. ppeni!ice B, o n o11110 E•tudo a, Y•3P•ito dos gra,nà es
homens do Christianismo, on de se n otará que 11 ma ior parte dos nomes
citados pertencem ao Oa,tholicillmo.

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NOÇÕES P RELIMINARltS 233

A demon trnção directa ompleta é a que pro.va


a verdadeira Religião d mo lo rigoroso e em todas as
suas partes. E ' usceptível de desenvolvimentos mais ou
menos exten o e abrange um duplo obj ecto: ,1. 0 a Reli-
gião christã, e 2. 0 a R ligião catholica.
E ' este methodo da demonstração completa que
guimo e tr atamos de levar a seu termo final. D epois
de provar qu e precisamo de uma r eligião, e deduzir
suas verdades fundam ntae , seus principaes dev r es e
ua praticas es enciae , perg untamo-nos si esta religião
geral era sufficien te; e, vendo que o homem entregue a
i mesmo empre e tinha enganado a respeito da verdade
religi osa, conduimo p ela neces idade de uma Revelação .
Então, a Revelação niosaica em primeiro lugar , e em
seguida christã, nos appareceu com taes p r ovas e caracte ~
res de certeza e superio1idade moral, com tal con juncto
de testemunhos exter iore , sen iveis e divinos, que é
preci o r eco nhecer qu e a Religião de Jesus Christo é
verdadeiramente divina.
Ma. eis que, entre a religiões que r econhecem J esus
hri to como chefe e a sua doutrina como codig-0, se
apr entam muita so iedades que differem es encial-
mente ntre si e pretendem possuir igualmente a verdade.
Ora, é evidente que o fundador de u ma r eligião divina
deve ter dado á sua instituição taes signaes de verdade
que não eja po ivel onfundil-a com uma falsificação .
.P.rocurar e es igna ou caracteres de verdade, desco-
brir entre a diversas r eligiões a que os possue com
exclu são de qualquer outra, eis o novo obj ecto de u ma
d mon tração completa.
E' este estudo que emprehendemo e, d epois de
termos provado contra os incred ulos ou os indiffer ent s
a divindade da Religião christã, temos agora que dem ons-
trar a verdade da I greja ca.tholicci contra os her eges das
varias seitas.

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234 A IGREJA

126. - III. Afim de pro eder com alguma ordem


n - . a demon tração: 1.0 daremos a noção exacta do que
deve ·er a v rdad ira igreja de J e us Chri ·to, quer em si
mesma, na ua constitwição, quer no caract res que a
r evelam e~t eriormente; 2. 0 e tudar emo , em seguida a
lg1' ja 1·01narw, para verificar que ella p.o sue a consti-
tuição exigida por J esus Chrirto e os caractere· essen-
ciaes da verdade· 3. 0 faremo· a applicação dos me-.smo
principio á. lg1'e,ia isnwt:ica , depois ás l gr jas pro -
testantes, para no · co.nv{'ncer que e"tão absolutamente
desprovi las c1 . sa ·on titu:i ção e l e e.s aractere" E
af inal, por causa da sua importancia, fa r emos um estudo
e ·pecial da · prerogati vas da Tgr ja em geral e do ·ummo
pontifice em parti ular : umas e outras ão muita vezes
de. conhecida ou mal entendidas, e -é util, sobre essas
important es que tõe. illuminar a geração ontemporanea.

CAPI'rULO I
NOÇ.~O GE RAL DA VERDADEIRA TGREJA DE J ES S CHRIS'rü

Qu estão de direito . - Divisão deste capitulo.

127. - A palavra 1:g1'18ja (do grego, E cclésia, assem-


bl ' a ) iesigna , de modo geral, uma sociedade de pessôas
professando a me ·ma r·eligião. Comtudo, num sentido
mai pr ci o, definimos a verdadeira Igreja «a sociedade
dos homens que prof e sam a verdadeira f é revelada por
No o Senhor J €i fü Christo, participam dos me mos
acramento · por elle in stituídos e obedecem ao pastores
que elle estabeleceu. » E esta Igreja ou rú igião que
tencionamo descobrir .
Or a, a Igreja é uma instituição completamente
dependente da vontade de Jesu Chri·-·to, seu fundador.

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O NS ID E RADA E M s l MESMA 235

conhecer a origem, a natureza , a


mos só que interrogar
a vontad . Para tanto,
' u . O alvador deixou a
do us a to

livro
ti o

r elat ivam nte

1. articr-0 a
no 2. 0 a r ti()'o

A.RTIG I

A Jg r c ja co n id<'ra d a e m i n 1c m a o u na u a n a lurcza .

I . l 11 titui çíío ln lgr<>ja. - Ir. A ua e nstituição. - III.


'o udi ~õ s cssC' nciar fa soe i dad religiosa fundada por J sus
C'hri l .

128.
H uniu prim ir ua
dcu-llws o llOtnC' CÜ'
<'ff'<'il o s mandav a
pr parar-Ih
L rrn ela ua arr ira mortal,
· rl o 11u111 r d utr · e.li ipulos; o

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236 A IGREJ A

e p ecialm n te de 72 que lhe er am mais fieis. Tal era,


segundo a parábola evangélica, o grão de mostarda que
havi a de se tornar uma gr ande arvor e, o pequeno rebanho
que um dia eria um gr an de povo.
Antes de ubir par a o céu, J esus Christo, querendo
deixar sobre a terra collJtinuadores da sua obra que
instrui em e sanctificassem os homen , elevou os seus
apo tolos á dignidade de sacerdotes e bispos j de sacer-
dotes para que lhe perpt'tuas em a doutrina, o sacerdocio
e o sacrificio; de bispos para que, por su a vez, pudessem
governar uma porção da Igreja, cr ear outros bispos que
fo em os sew; successores, e obter auxiliares na p essôa
<los sacerdotes.
Por e e.s titulo · os apo tolos r aro todos iguaes;
obedeciam a Christo ó como a seu chefe. Comtudo,
d epois que teria desapparecido, para manter uma auto-
r idade sobr e a terra, Nosso Senhor estabeleceu em seu
lugar um viO'ario encarreO'ado de o substituir e governar
. em eu nome. A escolha do Salvador cahiu sobre Simão
P edro, e delle J esus fez o chefe dos apostolos e d e todos
os chd sitãos por estas p a.Iavras que lhe dirigiu: «Tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha I greja, e
as portas do Inferno não prevalecerão contra ella.» (S.
Mathe1(,S, xv1, 16. ) «Eu t e dar i as chaves do r eino do
céus ; tudo quanto ligares sobre a terra, será ligado no
céu.» (io. ) E ainda, após a sua resurreição, depois de
obter de são P ed ro uma triplice protestação de amor em
r eparação da sua triplice r enuncia, accrescenta: «Âpas-
oonta meus cordeiros, ap ascenta as minhas ovelhas (S.
João, xxr, 15 ) »; isto é, sê o pastor supremo dos fieis e
dos bispos.
Os apostolos, depois da ascen ·ão de Nosso Seuh or,
continuaram a obra do Mestre, e a conversão de 8000
Judeus, no di a eguinte ao P enteco1'tes, constituiu
definitivamente a Igreja.

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ONS!DF.RADA EM S I MESMA 237

129. - II. E sa constituição da Igr ja de Jesus


hristo é nitidam ente delin ada. Vemos em c.ima um chefe
supremo: por emquanto, é P edro, vigario e substituto de
J· w hri to, eh fe visi.vel d ta ·ociedade dai qual o
Chri to p enna'l1 ce h fe invisível. Abaixo, dependente
d e sa prim ira autori Jade, ncontramo o apostolos,
pa tor ubordinado , chamado a gov mar cada um
um a porção da Igreja; e, afinal, ·O' imple1 fieis, entrados
1~a J greja p lo bapti mo e ubm ttido á autoridade
spiritual do pontifices: formam a multidão o rebanho.
Além di to, e . a o i dad , qu se deve prolongar atr avés
d éculo ext nder a todos os pontos do espaço,
po ne o maravilho o poder de s p rp tua,i· on ervando
a m ma hi rar hia r gular.
A Igreja fundada por J esu Chri to ' , pois, uma
so i dade reli gio a, um E tado ~ piritual analo()' aos
Estado u oci dad p litica , ma xercendo o u
domini br · · al rn.a. . «A !o-reja, di. Pi. TX, ' uma
verdadeira perf ita ciedad , t talment ind p ndente
li vi·c, o ando do lir it proprio e on. tarutes a ella
onf rido por u divino fundador.» (Ency l. Q1ia11ta
c1traj yllabii, prop . x1 ·.)
Ora, num E tado u r ino ivil, há duas or k n d
cida]ã qu mandam qu be fo- m. Os prirnei.ro.·
01 titu m o oov rno s outro ' o povo ou o:~ . ubrf1.tos .
Do m mo modo, na Igr ja d Jc>. · lS hri Lo, há
duas rd n de fiei : os que mandam • ~· qu ob d
i to é, o pastor s irnpl fieis · , e mo s a o i -
la ele r ligio a é ba ea da ôbre uma r n a e , ôbre uma
v rdad , os primeiro formam a IO'reja doe nt , u qu
nsina, o outro a forja discente ou en inada .
mm n-ui tla, qualqu r ·tad civi l p ue uma l i
l'nndc wental, d ·r iacla na sua ori r m, LHO regímen
(;.O n ·tituciona l ou forma c.le O'OV rno: monar lüa, ari t -
era ia ou r publi a. I r eja t m igualm nt ua iei
fundamenta l ; ripta no Evangelho e int r pretada

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238 A 1 G & E J A

pela tradição. E' ahi que se acha .ai doutrina em que


devemos acreditar, a moral que é preciso praticar , o
culto e os sacramentos que é nece~ ario empregar como
meios de salvação. Quanto á for ma gove.r namental
impo ta por J esus Chr:isto, não é nem a r epublica abso-
1uta, nem a aristocracia, ma a monare.hia; todavia, uma
monarchia electiva e auxiliada, mas não dirigida! e con-
duzida, por uma aristocracia de ciencia e de virtude,
constituindo chefes subordinados.
Tal é, pois, a co·nstitriuição da I greja de J e us hristo
e deveremo en contral-a em qualquer eculo na verda-
deira sociedade por elle fundada.
130. - III. Condições essenciaes da I greja. - Re u-
mem-se em tres: a p er pefoidade, a autoridade, a infalli-
bilidade.
1.0 A obra de J esus Chr·i to eleve ser dmavel, pro-
longar-se no tempo e extender -se no e paço, e, como
impeTio indefectível, atravessar os srculos em fica r
abalada pela queda das in tituições hurrnanas. Os prophe-
tas ammnciaram que o reino do Chri to, i to· é, a sua
I gr eja não ha de ter fim; elle mesmo declarou solenne-
mente que «as portas da inferno não prevalecerão contra
esta I gr ej a., e qu estará ·com ella até a consummação
dos século .» (S . Math., xv1, 16 ; xxvm, 20 ). vontade
expressa de J e us Chri to é, pois, que a if:greja p erma-
neça até o fim do mundo, resistindo a todo os ataque ,
triumphando de toda as vicissitudes; será, portanto,
perp étua.
Aliás a raizão ·exig e confirma e ta conclusão.
Instituindo a sua I greja, o SenhOll' queria, por meio
della, alvar todos os homens em todo os tempo e todos
os lugar ; mas, para alcançaJ.· te fim, é preci o qu a
I g reja tenha a perp etuidade.
2. 0 Além disso, tem ella nec idad da aiitoridad .
Que seria, com effeito, uma ~ ocied1a1d r eligiosa cujo.

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CONSIDE&ADA E hl SI MESMA 239

hef não teriam n rn o ilirerito de n ina r , n m o pod r


de mandar de modo fficazf E ' ta ocieclad , em brev ,
per eria pela base.
Por :iJ , N o tlhor dizia a u apo tolo , a<XS
chefe da ua IP"reja : «To lo o p der me fo i daido no céu
· bl' a ten a ; orno m u Pa me enviou, as. im vos
anvio. lc1 , n inai toda as íll'a õe .» ( . M ath., xxvm,
1 . ) E accre e nta : «Quem vo ouve a mim ouve; quem
"' ~ d preza, a mim d pr ~a ( . lit1,cas, XI, 16 ) . «Tratai
o:rno a um pao·ão um publicano aqu ll qu não cuta
a I gr eja.» ( . Math., XVIIT 17.)
Ora, isto é muito razoáv 1 porque se a liberdade d e
xam discus ão ' ra iOJ1al qua;ndo trata d uma
doutrina philo ophi ca, m qu todo cl mentos, fiu to
da r efl xão humana ·ão uj eito~ ao erro, o m mo não
poderia r a roopeito d uma doutrina r ev lada qu
sab ema.nada de Deus. Quamdo ,' er to q u D us faL01U,
e quando a Igr j·a nol-o affirnua, a ua autori] de faz
lei ; di cutir cada um éLo w ns.ino riá. dar- e por
rhlial de Deu mesmo, ria faz r da R elig ião não mai
u ma cr eação divina, mas i:m uma cr eação humana .
0
. fas, para as. egurar a, inteira p looa autori-
dad da IO'r j•a, J. hr:isto lh d u omo garantia e
salvaguard a a infalli bilidad . E' a ultirma e suprema
condição da I gr eja 'l1 ·te mundo. Expli ar'€mo. mais
tarde a ua na rur-eza e ru uas con qu ncia . Basta, por
€'.lllquanto, verifi armo.s que ta infallibilidade r esulta
manifestamente das prom . a. divina e da vontade de
J u hr·· to. «Às porta do inferno» i to é, a p oten-
cias do erro e do mail não preval e l'ão contra el la: por
conseguinte terá a segurain a da doutrina e a impossú-
bilidad de errar. J e u ' Christo e tá «com a Igreja,
todo. o lias até a co11S'UIIlJnação d seculos ;» portanto,
a! ,eg U!I·a-lhe umJai assilStencia immedialta e p essoal donde
r esulta a infallibilida,cle.

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A IGREJA

Eis as condições de existencia feitas á Igreja verda-


deira de J esus Christo; perpétua, atravessará os séculos,
com a autoridade por apanágio e a infallibilidade como
salvaguarda.

ARTIGO II
Dos caracte r es ou no tas da verdad e ira Igre ja.
ec ssidade e condições dessas notas ou caracteres: 1.º a
unidad e; 2. 0 a santidade ; 3. 0 a catholicidade; 4. 0 a a postolicidade.

131. - J esu Christo não fundou mais de uma


Igreja, uma única sociedade de fiéis. Ora, foi obrigado
sob p ena de cahir na imprevidencia mais completa, a
estabelecer notas ou caracteres visíveis que a déssem a
conhecer, que a tornassem facil a distinguir entre a ver-
dade e as suas falsificações. E como destinava sua Reli-
gião a todos os homens e a todos os tempos, certamente a
cer cou de signaes evidentes, apparentes, p elo menos, a
todos os olhares attentos e apreciaveis tanto para o igno-
rante como para o sabio. Esses signaes ou notas for mam
o que s chama em linguagem theologica o caracteres ou
notas da verdadeira Igreja.
Si desejarmos conh cer .esses signaes da. Igreja verda-
leira de J ui'> hristo, temos só qu e consultai· as vontades
do fundador; são com.signadas no E vangelho que é o
liVl"o da sua. palavra, e na traidição catholica, interprete
fiel dessa palavra divina. foitas vezes, aliás, a razão
ou o bom \Senso ch ega para que possamos deduzir ou
confirmar a n ecessidade e as condições ele cada um desses
caracteres.
132. - I. A wiidade. - Evidente é que J esus Christo
fundou somente Uill1a lgreja: não prego u sin~o uma dou-
trina; mão instituiu ma.is que um só corpo d e pastores,
e é a um só coUegio apostolico que disse : «Ide, ensinai

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DA IGREJA 241

todas as nações. Ensinai-lhes a guardar tudo quanto


eu mesmo vos confiei. Aqu elle que não acreditar, será
condemnado.» (S. Math., xxvm, 19.) Além disto, queria,
assim como o disse elle proprio, «um só rebanho e um
só pastor,» (São João, x, 16) e -confiava o cuidado
supremo dessa sociedade unica a S. Pedro, a quem mandou
«governar igualmente os cordeiros e as ovelhas,» (S.
João, XXI, 15), isto é, os fieis e os bispos, pastores em
relação ao rebanho, porém, ovelhas em r elação a Pedro,
como nota Bossuet. Resulta de todos esses textos, qlle
se podei~am multiplicar indefinidamente, que o pensa-
mento formal do ,divino Mestre era fundar uma socie-
dade unica, e, por conseguinte, a unidade deve ser um
dos caracteres visíveis e apreciaveis da sua Igreja.
Mas qual iserá essa unidadeY - 1. 0 A unidade de
fé de crença, segundo a palavra de são Paulo: «Uma
só fé, u m só bapti mo;» a unidade em tudo quanto é
ensino divino, conforme e te dizer de Jesus Christo:
«Ensinai t udo quianto eu mesmo vos confiei. Aquelle que
não acreditar será cond mnado.» E' claro que por esse
modo de falar, osso Senhor 00ndemna qualquer alte-
r ação do seu ensino, sem distincção entre os artigos
important ou de somenos importancia, fundamentaes
ou não. E ' toda a doutrina r evelada que ' preciso
admittir, , portanto, a unidade de fé deve ter por conBe-
qurencia as mesmas crenças religiosas, os mesmos dever es
encfa , o mesmos sacramentos, o m mo culto.
ão Paulo, escrevendo ao Ephesios, exprime-se nos
:;eguinte termo : «Ü Espírito Santo estabeleceu os
bi p para governarem a Igr{;ja de Deus, para que não
sejamos orno meninos que f luctuam a qualquer vento
de doutrina, mas para que cheguemos á unidade de fé
e á formação do corpo de Jesus Christo.» ( ap. rv,
11-16 ) . ·m o ap tolos o bi po não ão insti- j'
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242 A I G & E J A

tuidOI ' mao em vista ·0 0 uruda,d.e p rf.eita na fé. Esta


wnid1a de é pois, nec aria á Igre ja.
Aliái , itoda a trialdüção ~m.terpr.etou ffillpr nesse
seTutido o pen aaniento de Nosso Senhor. !Porque, parti-
cularmente uos primeiros tempo , os concílios foram
tantas vezes convocados~ - Era para restabelecer a
unidwde de crença, frequienteme11te abakuda pelas heresias.
Afinal, a razão, tanto como a Escriptura agrada e
a <tradi ção, mostra <1. nece ida.de da unid ad~ de fé. Com
effeito, uma socüecla le não póde existir oom ter por base
e por condição e&san ial a unida,de p erfeita nas cousas
para a quaes é coinmituti.da. As im, a sociedalde brasi-
leira ou francesa ou allemã não póde ser uma sociedade
hem organizada sem que as uas leis, os seus deveres, os
eus dir itos e a swa ~ libeTdades, sejam absolutamente
o m mo para todos · 0i1dadãos. Quando esta umidade
vem a faltar, começam .a desordem e ·a a.narchia. Do
me mo modo, se, num ex' rcito, a unidade de fim e direc-
ão falta, póde e esta · ·certo que este .exercito, por forte
que eja, ha .die ser derrotado. Or.a, si assim acontece
com as Í'll tituições humana , naturalnnente muito imper-
feitas, orm maior razão, h avemos de ac.h!a.r i o numa
in tituição divina, cO'lllo a I gr ej a de J esus Christo que
tem por mi ·são dirigir <1. coDiSóencias em tudo o que ha
de mais importante no mundo, a · crença religio as. Ora,
si da Re'V eku;ão caida um pudesse tomar o que quizesse,
segu'lldo o que julgasse importante ou não, de que
serviria esta mainif tiação da verdade que Deus teve
por bem farer-.nos 7 Jão . ó seria inurt.il, ma até um acto
nocivo, pois que ·e '°'ª revelação sem prO'Veito· se1·ia de
natm'eza, - wssIDi é demonstr<ido pela experienci a, - 1

a 11a111çar rJa familia christã germerus de divisão, ie, deste


modo, Deus t eria as umido uma norma de conducta
summame.nte de arrazoavel. Em primeiro lugar é por-

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CARACTERES DA VERDADEIRA IGREJA 243

tanto necess:ario que a verdadeira Igrieja de Jesus Christo


tenha ~ unidade de fé.
2. 0 Mas, para alcainçal-a, não é meno pre [ o ter a
urudade de governo. Consi te e ta na submi ão de todos
os fiej ao m mo eh f.e legitimo. Tudo quanto accres~
centarrmoo p:aira provia:r a nece idade absoluta. desta
uni·dadie de gover10Jo ou de regímen, é cons quencia do
que acabamos de expôr. om eff ito, é de toda vidi:mcia
que a unidad e le fé de crença e de pra,ticas religiosas
seria compl tamente ill u oria e imp ivel sem a existen-
cia d um poder divina.mente onstitU!ido, en arrega!do
de manter e dirigir a crença a moral, o ulto; tendo,
em umm~ de .ID.di ar ·a caia membro da ociedade reli-
gio a o que deve fazer ou evitar paTa fi ar na 'UJlidade.
Ül'a, a ex.isten ia d se.m llrnnte p de..r é pr ci am nte
o qu ·e hama a 11,nidad de gov erno.
E ta unidad perfeita na administração da soei dade
religio a foi altamente pr.oclamada p lo Eva.ngelho. o o
nhor ao a ntar a b< da con ~ Uíi ão da Igreja,
colh eu ll m smo um eh fe unico do poder e o consa-
grou, ize:ndo-lhe: «Tu ' P~dro (1 ) e obre ta p cha
difi ar i a minha I greja.» E albur : « imão P dro
r ezei p r ti para que 'a tua f' nun ca v nha a d fallecer. »
( . L ncas xxu. ) « p a enta m u coréL iro , apa -
enta a minha velha » ( . J oão, .xxi) ,i to é, o
a tor upr mo d todo o r banho ; e mfim, ta últi-
mas palavra ai nda mai · expli ita : «D ar -t - i a
d r ino do ' us · tudo quanto liO'ar obr a t rra
liga 1 n ' u, •e tudo quanto d. ~igal' br ai t rra
d iaa 1o n ' u .» ( . Mal h. ·vr. ) E ' impo iv 1 não
r · nh e r n t x t . a von t acl f rmal 1 .J
.h1·i to : n ão e tab l eu rnai til um o·ov imo na
e, ~ tod · ~ temp da sua exi t e.n ia
(1) J li in·oprinm uto dL o pedra, e uúo P dro .

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24-t l G R E .T A

preciso vêr á frente dessa instituição um chefe unico


encarregado de manter, pela unidade de governo, a per-
feita. unidade ·de fé.
133. - II. A santidade. - Quando se trata da
Igreja, a santidade póde ser interpretada em s ntidos
differentes. Uma Igreja, com effeito, póde ser santa no
seu fundador quando aquelle que a estabeleceu deu o
exemplo de todas as virtudes; santa. no seit dogrna e na
sua moral, quando não ensina sinão doutrina puras, e
não impõe sinão deveres cuja observação leve a praticar
actos virtuosos e bons; emfim, póde ser santa nos seus
membros,, quando as pessôas que a compõem, vivem de
modo conforme á lei de Deus.
Mas aqui falamos dos caracteres exterior v1Slvei.
que devem as ignalar aos olhares a verdadeira Igreja de
Jesus Christo, e distinguil-a do erro. Ora: 1. 0 a santidade
do f11,ndad.or não p óde ser invocada como testemunha,
pois que todas ais seitas cbristãs reivindican:n como chefe
a Nosso Senhor Jesus Christo cuja santidade é incontes-
tavel. A santidade do dognia e da rnoral é <Certamente
uma propriedade essencial da Igreja verdadeira, mas
n~te ponto tambem, este caracter não seria exclusivo
e evidente, porque é impossivel a cada homem e:rn parti-
cuJar ser juiz nesta materia. Ha dogmas impenetraveis
e ha gráus na santidade de uma moral. Aliás o seis.ma
e a heresia, bem que alterando a douitrina. e a moral,
pódem ainda lhes conservar uma santidade r elativa. 3.0
Fica, pois, a santidade d os m embros, e é ella, com effeito,
que cànstitue uma realidade notavel. Todavia, para que
e ta santidade po a servir de cignal distinctivo da
verdadeira Igreja, é preciso entendel-a não como santi-
dade universal e absoluta, devendo achar-se em todos
os membros da I greja verdadeira, porque o homem que
pertence á Igreja verdadeira, conserva a sua liberdade
e pôde ser membro prewi ricador ; nem tão poUJco como

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IM Vlfül All.b! lRA IGJtlCJA 246

. anLidade ini J.'ior, porque e ta capa aos olhares e della


omo santidade xterior, mamjfestaàa

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2 6 A IGR EJA

por nmner o milagres·. (xvr, 20.) A narrativa dos


\.ctos dos Apostoles e a hi toria do estabelecimento do
Chri&tianismo nos mo traram o milagre como frequen -
ti imo, e é justamente o meio que podera ·aii.nente contri-
buiu ao successo el a prego.ação evangelica, provando a
clivinclaJde do Chr:i.1Stian1ismo.
3. 0 Afinal, J e us Christo prometteu estar com seus
apo·'toloo e os su ccessores delle wté a coru;ummação dos
secul os, assistil-os, por conseguint€, de um modo efficaz,
que daria bom exito á palavra de seus enviados. Têm
elles por mi Não converter o mm1do; donde r esulta que
a so0iedade que cumprir melhor essa obra divina e
produzir fnictos de conversão espalhando por tooo a
par te a verdade, a graça e a sa.nticlaide, será, por isso
mesmo, marca.da pelo sello da eleição divina.
üra, e sa tres a:nanifestaçõe1 da santidade interior,
o heroismo d a virtmde, o milagre, os fructos de conversão,
constituem eff ectivamenite um car acter positivo e resplan-
de cente da yerdadei ra I gr ej a de J esus ·Christo. E ste
car acter lhe p ert ence exclooiva nec· sariam.ente: neces-
sari amente, poi.s que Nosso Senhor assim o quiz e dec1a-
r o1l; ·com exclusão de qua lquer outra so0iedade, po-rque,
1 i o contrario fosse, Deus faV'oreceria igual.mente o erro
e a Yerclade: a i o se oppõem form·a1mente a sua veraci-
dade e a sua ju;;;t iça. Por co·nseguinte, a seguooa nota
. da Yerdadeira Igreja, é a anbdade manifestada exte-
riormente pelo h er oísmo da virtude, pelo milagre e pelos
fructo. de conversão.
134. - III. A catholicidadie. - A verdadeira I greja
de J e us Chri to deve ser catholica ou universai, isto é,
exiender-se a todo·.s os tempos e a todos o lugares. Donde
r esulta que podemos d istinguir duas espécies de catho-
li0idade : a do t empo e a do espaço. Mas a primeira se
confunde com a perp etuidaide de que já fa1annos. Quanto
á segunda, J ·es usi Clu'isto a quiz d e modo manifesto.

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CARACTERES DA VERDADEIRA IGREJA 247

Instituiu a ua IO'r ja para salvar o mundo inteiro; e,


para alcançar fim é pre is o qu 'll!L doutrina chegue
ao conhecimento de todo o homen:s e, portanto, que
. ua Igreja estej à espalhada por toda a parte. Comtudo,
não quer dizer isso qu todo o· homen de todos o
lugares t nham nec saJ:iamente que ntrar na Igreja de
J su Chri to, ma qu e·-ta IO'reja deve te.r repr e en-
tantes por toda a t rra, e qu · u do()'ma ua moral
devem ser pregados em todas a r egiõe . D poi disso,
os povo , a im como individuo , fi rum livre de
a ceitar ou r jeitar a ' r<l ade; e qua:ndo Deu lhe forne-
oou o meio de onhe el-a fez t udo quanto . ua justiça e
ua bondade exigem; pert n e á vontad hUimana fazer
o r esto. Ma Deu quer que por ua I g l'eja o E vangelho
de verdade eja a.I1'IIJU11ci00o a todos Pº' os, é neste
sentido que a ua [ greja deve er catholi a.
nhum ara ter d(l, verdadeira 1gr ja é mai
frequent claramente nun iado. No Antigo 're ta-
m nto, por toda a par te em que ' iue.%fuo dn vioua do
1 ·ia e elo tab 1 cim nto da nova relio·ião, nos
l almo: nas· prophecia , anuu11cia- e ta liffu: ão da
verdad :obr t da a t rra. 'erá preci. lembrar a
magnifi a predi ão d I aia ( ap . LX ) em qu vem
d ripta a cli liO't>n ia ele tod a · na õ · da t rra em
lirigir para a nova .J rusalém, af im de r colh er a 1 i
qu ha c1 . aJilr d iao . r á ne ari o r ecor ]ar o
p· almo II d David em qu D u · promertte a . en Filho
t da a na õe · p r b ~1»a n a 1 m do 1uJtimo proph tas,
Dani 1, não r pr ento u a Igr ja ob a fio·ura de uma
p drn que i ·p 1a a a esta ua "ymb lizan lo todo o
granel s imp ' rios, eh ()'a a rum a montanha qu cobre
t da a t rra 1
ro Nov 'l' tamento a prom o o nhor
não ão nem m nos laras n m m n notaveis. Repita-
mo ainda auguma da palavras ditas a odoo oo

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248 IG&EJA

apostoles: «Ide ensinai todas as nações.» E mais e tas


«Pr.egai o Evangelho a todos as creaturas.» (8. Marcos
XVI, 15.) Quer pois que a sua Igreja. seja cat bolica ot
universal.
Assim é que os apóstolos o entendem, , depoi de
Penteco tes, separam-se e partilham o mundo en re i.
livro dos A.ctos, tant o como a historia profana. n o l-~
mosba lanç.ad.oo á conqui ta do universo: a ia
Grecia, o mundo romano, a Africa as I ndia o imperic
dos Parthos e talvez a própri a China r ecebem a pregaçãc
do Eviangelho.
Não ha, portanto, duvida alguma : no p usamente
de Jesus Christo e na interpretação dada ás uas vontad~
pelos apo tolos, a ca,tholicidade dev ser um do aracteT ~
mais notávei s mais c rto da v rdade da sua I reja.
135. - IV. A apostolicidade. - No o Senhor r·
viu-se dos apostolos, e un icamente do apostolo para
diffundir a sua R.eligião; donde r esulta manifestamente
que a sua Igreja, exclusivamente verdadeira, é a qm
tiver ficado apostolica. Mas is o d ve-se entend r de dua~
maneiras: 1. 0 apostolica pela doutrina, con ervando en:
alteração, todo. os ensinos tran mittido pelos apo tolo
2.0 apostólica pelo ministério, guardando, sem inter-
rupção, a succe ão 1 gitima dos pa tore desde os apos.
tolos até os representante actuaes da autoridade r ]j .
giosa . Ora. tal é na realidade, a vontade xpr~ a dE
Nosso Senhor.
1.º Em relação á doutrina, en;tr egando ao apo oloo
e só a elles O· c:Wdado de pregar o Evangelho NoSS<
Senhor lhes disse «Ide, ensinai todas as naçõ ... En Í·
nai-lhes a observar tudo quanto eu me mo vos confi€i
Quem vos -0uve, a mim ouve.» (8 . Math., xxvm 19 20
- 8. Lu-eas, x, 16.) Ora, do mesmo modo que os ap-0 0101
não puderam alterar a doutrina do Me tre, a verdad irE
Igreja d ve conservar intacita a doutrin a d apo tolos

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CA.R AOTER.ES l>A VERDADEIR.A IGREJA 249
==~====================~=============-

São Paulo enuncia claramente esta n e sida;de quando


diz : «Si alguem, ainda que fosse um :rnjo, vindo do céu
vos t rO'Uxer outro Evan gelho differ ente d,o qu r cebestes
seja elle anathema !» (Gal. r, 9.)
2.0 A apostolicidade de ministerio não é menos clara-
mente enunciada é tambem necessaria á verdadeira
I greja. E' aos apostolos, e som nte ao aposto los, que
o divino fundaidor da religião christã disl e: «Eis que
estou comvosco até a consummação elo eculos.» (R.
Math ., xxxvm, 20.) Ora os apostolas deviam morrer.
Com quem, pois, estará No·sso Senhor depois qu elles
ti verem desapparecido? N e e arirumente com aqueHes a
quem elle tiverem directa e legitimam nte transmittido
seu poder com sua doutrina, e is o com ex lu ão dos qu
se revoltam contr a apostolos, usurpam o seu poder
e se constituem ministros sem mandato nem successão
legitim a.
E' claro que a apostolicidade se torna, deste a:nodo,
um signal certo de verdade para uma I grej<1 christã.
Todavia a apo:stolicidade de d01drina só, JJão é sempre
um facto facil de verificar-se. Toas as seita-.; d ~'IBi<lentes,
cam effeito, pretendem ter conservado o ensino apostoEco.
Por outro lado, para r econhecer a verdade do faoto, seria
preci o comparar minuciosamente o ensino actual de
cada Igreja com o ensino dos aposto1os: é isso um
trabalho de muito fôlego e inacces ivel a muitas pe sôas .
. Mas eis que para o dispensar e simplificar, Jesus Christo
deu á sua I gr eja outra apostolicidade mais evidente ou
mai facil de reconhecer: a apostolicidade do governo.
Para verificar esta, não ha mai que resolver uma
simples questãJo de historia ou de facto. Tratanido-se,
por exemplo do chefe da Igreja, temos só que examinar
si ,é o succe sor legitimo, sobre a sé apostolica romana,
daquelle a. quem foi dito: «Tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei minha Igreja.» Tratando-se de um bispo

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250 A 1 G R E J A

ou de um pastor qualquer que prega uma doutrina ou


exer ce um poder em nome de Jesus Christo, basta vêr
, ·i é s.ucce or dos apo-rt;olo de modo legiti'mo, oru, mais
S'illl1plesmente, si está em communhão com o chefe supre-
mo .da I gr eja, si recebeu delle os seus poderes, si é
r egular e legitimamente in tituido por um bispo tamb m
legitimo, em união de d01rtrina e de governo com o
pontífice r omano. Si a r po ta a essas pesquizas for
affir:rnativa, erá um te temunho certo de apostolicidade.
Ta.l ,é, portanto, em direito, o vinculo que deve unir
a verdadeira I gr eja a eu fundador: a apo"tolicidade
dou.trina!, tendo a ua demon tração e prova evidente
na apostolicidade do governo.
De tudo quanto precede, r,esulta que a verdadeira
Igreja, segundo as Yonta des expre~as do eu fundador
deve t er p or caracteres ou notCl!S a itnidacle, a santidade,
a ca tholicidacle e a avo tolicidacle.

CAPI'l' LO II
A IGREJA CATHOLIG.A ROMANA É A VERDADEIRA IGREJA
DE J ESUS CBRISTO

Defini ção da I gr eja catholica r omana. - Divisão deste capi tulo.

136. - Entre as I grejas christãs que se apresentam


e r eivindicam a po se da verdade, encontramos em pri-
meiro lugar a Igreja cathólica ro?nana, de todas a mais
antiga e a mais e palhada. Merece fixar primeiro toda a
no a attenção, não só por esse titulo, mas ainda por que
temos a felicidade de lhe pertencer tambem por ella
ostentar, assim como vamos verifical-·o, todos os caracter es
da absoluta verdade.
P elo nome de Igreja cathólica romana, designa-se
a ociedade christã cujo chefe e centro se aichaan em

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NOÇÃO D J. IGREJ A CATH O L I CA 251

' crov rnada pelo papa o pa tor r o-


nh m por u up rior l crjtimo lh m.
T ndo que demonstrar qu ta o i dad ' a Igreja
Y rdad ira d J u hri o om x lu ão de qualqu r
u ra a u tudo dois artigo m qu
0
1. ua co?'list1.faição 2. seus ca1·ac-
0

R'l'IGO I

Noção d a Igreja ca tholica .

J. ou füui ~,ão ac tual da lar ja c:üholi a. - II. Forma go• r-


n::unental. ~ III. Iodo d elei iío do papa do bi po do
paro ho .

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A IGREJA

dia . Ha, ne.sta sociedaile, o chefes e os administrados,


os que governam e os que são governados, o qu ensinam
e os que são ensinados. E ' bem na realidaile a mestr:na
sociedade christã que se conservou pelo correr dos seculos
e mantem intacta a sua primitiva constituição.
Não houvesse mais que ssa demonstração, ella seria,
comtudo, d e grande valor para concluir pela v erdade da
Igreja romana. Mas ha n esta verificação ummaria um
ponto sobre o qual não se poderia in.sistir demais. Jesu
Christo, como já ·d issemos, e tabeleceu na sua Igreja um
centro : é a séde apo tolica on o papado, base e funda-
mento da sociedade christã. Por conseg1linte, onde se
conservam t e fund ament o e esta base, onde se encontra
este centro da unidade christã, ahi está verdadeiramente
a Igreja.
Ora, é na Igreja catholica romana que e con.serva
o papa1clo ou a séde apostolica. Chegando a Roma no
r einado do imper ador Claudio, cer ca do armo 42 da era
christã, são Pedro ahi estabeleceu a sua séde ; ahi ficou
25 annos e morreu crucificado, no governo de Nero, a
29 de junho do anno 67, sobre essa collina d o Vaticano,
que conserva juntamente os seus despojos e o seu trono .
Com a sua séde pontifical, o primeiro papa legou todos
seus poderes a seus successores: são Lino, são Cleto, são
Clemente, etc., até Pio XI, actualmente reinant e. Roma,
- e, por conseguinte, a I gr eja catholica, - é portanto
depositária da séde de são Pedro, signal e monumento da
sua doutrina assim como da sua autoridade. A i o
servem de testemunhos a historia, as tradições e os monu-
mentos; aliás, seita alguma jamais reivindicou esse
apanagio incontestavel da Igrej.a rcxrnana : esta é, por
conseguinte, a uni ca verdadeira Igreja de J esus Christo,
e todas as outras seitas não passam de alterações. Dahi
a formula acceita como um axioma desde os primeiros

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NOÇÃO o .~ I GREJA CATH OLI C A 2õ3

e ulo : ubi P trus, ibi Eccles·ia. «Onde está P edro, ahi


ootá a Igreja.» E te ra.ciocinio não tem. replica. Isso
equivale a dizer : Onde está o alicerce, ahi está o edificio ;
onde tá o centro ahi está a circrumferencia ; onde está
o t rono, ahi está o império. Proclamemos, pois, bem
alto ta primeira d coberta : «Onde e tá e ~ a pedra,
ahi se acha a Igr ja verdadeira!» Mas continuemos em
nos a in vesrtigaçõ .
138. - II. Já dis emos que Nosso Senhor deu á sua
Igreja com um symbolo de fé e um co :Ligo de moral, uma
forrna governamental, que não é nem r epublica, nem
ari to r acia ma uma monarchia electiva. Ora, de de
dezoito s culo esta forma governamental se mantem na
Igreja catholi a romana. O chefe supr mo é o papa,
vigario de Jesus Christo monarcha que aoverna com uma
autoridade inteira. E ' ajudado, em duvida, por
auxiliares; ma ainda qu to.m a o eu conselho, não está
obrigado a eguil-o: reina e gov rna. E ta monarchia, a
mais antiga de toda a Europa, ficou ei ctiva.
139. - III. O modo de el ição poud variar: no
princípio, o clero e o povo de Roma de ignavam o oberano
pontífice; mais tarde, intervieram as nações e os principes
chr i tão~ da Europa; ma a eleição foi mantida. S gundo
as r gras actualmente estabelecidas, o papa é eleito pelo
eollegio do cardeaes reunidos em c01iclave. Alexandre
III e o concílios de Latrão (1178) de Lyão (1274), de
Yi DlJ a (1312 ) r egularizaram este ponto. Os cardeaes
pódem ser mn numer o de 70: pertencem a diversas
nações e sãio nomeados pelo papa. Formam, por as.sim
dizer, o conselho do summo pontífice, auxiliam-no na
admini tração da Igreja e lhe dão um successor quando
a séde fica vacante; a eleição é f eita á maioria dos dois
ter ços dos suffragios.
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254 A IGREJA

O papa é ig>ualmente coadjuvado no governo da


Igreja pelo, bispos que são O'~ admini trador das
diocese.; , ob · a autoYidade do pontific supr mo. A
eleição do bispos variou twmbem na sua forma. Primi-
tivamente o povo era con ultado e o clero pronunciava;
d.e-pois a autoridaide t emporal interveiu; ma "'<e:mpre
o papa teve que ratificar a eleiçõe para que s tornas-
uem legitima ·. Hoje, na maior part da",; naçõe catholica ,
a eleição dos bispo. í: reg ulada por conco rdatas ou trata-
1

don com Roma . A nomeação é preparada p elo chefe


do E stado e proposta ao papa qne a r ej eita ou acceita e.
então, preconizà; ou o papa propõe candidatos ao
governo qne dá ou recu. a o . eu placet, etc. Em todo o
ca ·o, o bi po nomeado p ócle .. e faze r consagrar e entrar
no exerci io las ·u a funcçõ e epi·.;;copa e admini 'tra-
tiva só depois el e ter r ece-b ido ele Roma as ua buJlas
de in tituição.
Quanto ao simpl e ·ac 1·clohes, elles são eleito. e
ordenado pelo bispo da · 'Ua diocese ' r epectivas. Ma
as nomeaçõ á parochia e diver a dign idad . ão
sub1n ettida . a reg-ulan1ento que Yaria,1n com os paizes.
Afina l, os membro ou subditO', da Igreja ão os
sirnpl fieis. Entra-·' e na Igreja pelo baptismo, ficando
excluído della, não por um pecc.ado mortal qualquer.
mas p ela apostasia publica, pela heresia , p elo ci ma, por
uma · e,ntença de excommunhão pronunciada , e emfim,
depois da morte, pela reprov.ação eterna .
D e tudo quanto acabamo. de dizer, resulta que si
a Igrej a catholica romana , d tinada a viver no m io
dos homens, acompanhou na ua di ciplina exterior o
progre so dos eculos, não deixou por is o de permanecer
sempre muito fiel ás r egra senciae e fundamentaes
da sua constituição primitiva, obra .do !eu ftmdador
J es us Chri to.

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A JOREJA ROMANA TEJ\I S ltA TERES DA VERDADE 255

AR.TIGO II

A Igre ja catholi o romano po u todo o s caracteres da


ve rdade ira Igreja.

Appli cação da quat r n ta s ou ·ara t rc : l.º a unidade; 2. 0 a


ru1ti facl ; 3. 0 a catholi ida '! e· 4. 0 a a p tolicidade. - onclu ão.

da imidade ele
d

1g- r ja.
Si en tr' o · l'alholico ha , : br mat ria,
lib r lad clt' en' nça r cliscu;..são, ' qu . a mat ria ,
obj L' o tl a c.:onl rowrsia. não foram lC'ei lidas p or um
j ulg-ann r nlo la lgr C'ja. : rruudo e.· axi oma : l n 11 e .
:arits. 1111ilas; i11 <l11b iis. libertos: i11 om11ib11, charita-.
:'Iras n 111 u'>a 1ib,' r la tlt' n(' m es 'l "ªri la d

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256 A I G R E J A

Que admiravel espectaculo de unidade apresenta,


com effeito, a Igreja catholica, tão fortemente unida
na sua crença e repetindo, em todos os pontos do tempo
e do espaço, o mesmo Credo dos apostolos, de Nicéa e
de Constantinopla! E' a mesma fé no fundo dos corações;
é o mesmo symbolo na expressão ; é a IJ ~ma prece, o
mesmo .sacrificio, a mesma língua liturgica, os me.smos
sacramentos, a mesma vida christã: em SUlllrrna, é a
realização do desejo de Jesus Christo: Unum sint! ou
como o livro dos Actos conta dos primeiros christãos:
«Um só coração e uma 'S'Ó alma!»
2. 0 Esta unidade perfeita acha ta;mbem a ua ex pres-
são na unidade de gov erno. Leia-se o magnifico di<>cul' o
de Bçis.suet sobre a 1t11ida.de da I g1·eja e diga-se si o
catholicismo realiza a vontade do seu fundador! Em todos
os tempos, porém, nunca mais do que em nossos dias, ·
esta unidade de mini terio foi evidente e perfeita. Todos
os membros da Igreja cathólica são unidos a seus bispos
e por estes ao chefe unico que occupa o lugar de Jesus
Christo. Em outras épocas, este principio era rec·oJJ.he-
cido tanto cO'mo hoje ; comtudo, quer por causa da infe-
licidade dos tempos, quer por consequencia de difficul-
dades inherentes á independencia natural d-0 espírito
humano, a autoridade do soberano Pontífice encontrou,
ás vezes, -0pposições mais ou menos vivas da parte dos
governos e dos povoo, na applicação e na pratica; hoje,
•porém, apesar do sopro de independencia e de opposição
que agita o nosso seculo., logo que o papa manifesta as
suas intenções, na Igreja romana ha só uma voz para
a.cela.mar a u a autoridade e reconhecer o seu poder .
3. 0 Todos os testemunhos historicos, antigos e moder-
nos, concordam para evidenciar esta maravilho. a unidad(>.
Sempre é o papa que convoca preside ou approva o
concilios : é elle que não só tem a preeminencia, mas ainda

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A IGREJA ROM ANA TEM O CARA TERES DA VERDADE 2[)7

governa e manda. Já no n° seculo, anto Ireneu, bispo de


Lyão, escrevia: ~Todo os fieis ão unidos á Igreja romana
por causa do eu principado upr mo, como os membros
são unidos á sua cabeça.» Em todos os concílios é reco-
nhecido que é Pedro qu fala pela bôcca do seu ucoossor
e todos acatam a sua autoridade. Toda a Igreja, mesmo
gallicana com Bo uet na ua frente, proclama Roma
centro da unidade. Poude- e vêr na França que esta
unidad catholica não é ó uma theoria ma im uim
facto brilhante, quando em 1 01, Pio VII, querendo
restab eleeer o ex rdcio do culto sobre uma nova bas ,
supprimiu com um ri co de penna 135 édes episcopaes
pedindo pura € simpl~ment e a à missão dos titulares.
Em nome das velhas preten ões da igreja gallicana, 36
bispos julgaram poder resistir. O papa não fez caso disso
e tirou a esses titulare os eu direito e a ua juris-
dicção. Pois bem, aqu lles mesmos que eram lesados p-0r
esse acto de autoridade, reconheceram á imitação de
Bossuet, o direito supremo do papa.
O anno de 1854 presenciou o mesmo espectaculo de
unidad , quando o soberano pontífice, Pio IX, procla-
mou o dogma da Immaculada onceição; então o episco-
pado e o mundo catholico mostraram uma submissão
uniforme e p erfeita. Afinal. não será um t temunho
incomparavel da unidade catholica o ultimo concilio do
V aticano (1870-1871), no qual se manifestaram junta-
mente a maior liberdade de di cus ão e a admiravel união
de tod-o o episcopado com o pontífice romano, centro do
governo como da doutrina 1
A Igreja catholica p-0ssue, pois, eminentemente o
caracter rda unidade, e, nestes tempos de desordem e de
anarchia em que se agitam as sociedades civis e as seitaJS
religiosas, é para todos os homens ti_ue reflectem, uma
das notas mais refulgentes da sua divinidade : é tambem

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258 A I G R E J A

o que faz voltar á Igreja romana tão grande numero de


no o irmãos ·epara;dos.
141. - II. A santidade. - Lembramo aqui que não
. e trata da antidade interior , de que só Deus é o juiz, ma
da antidade exteri or e vi ivel, qu e manife ta pelo
heroismo ela virtitele, p el rnilagres e pelo friictos d
conv 1·são.
1.0 O heroisnio da hU!lilildade, da abnegação da
penitencia e principalm ente da dedicação e da caridade,
' UJ11 facto tão habHual 1ia I gre ja catbolica, que n e
ponto de vista, até s u inimigo mais encarniçados lh e
prestam homenagem. cu am-na, á vez , d erro e
de uperstição mas não lhe pódem recusar n em me mo
contestar a ·uperioridade da virtude. Que outra ocie-
dade r eligiosa e pailhou tanto como a I greja romana a.
obr · de ben eficencia e de caridade . Remontem á origem
ele toda · e ·a fundaçõ , in titui ·õe · de que goza o no o
"eculo: hospício. bo pitae , ·anta. crusas lazar to. a ylo.
para toda as ·d ôr ' e 11 c idade · ahi . e nota a mão
caridosa da I gr eja ca th olica. Que outra ociedade multi-
pli ou como ella , as communidad r lia-io a que .,e
dedjcam á in t rucção do ignorante" ao cuidado do
po bre , ao allivio de toda. a m· eria 1 E para não citar
mais que do i: exemplo entr e mil, onde e há d achar
fóra da Igreja catholi ca, a irmãs de ca1·idacl e a irmã-
zinhas elos pob1· . Ond e e encontrará mn 1 r o compa-
ravel ao acerdote e a missionarias da Ia-reja catholica
romana .
E que se ha de diz r do heroísmo da virtude do
santo do qu a I g reja r omana inscreve, ada anno
no seu catálogo ou martyrológio? Ante de lh e attribuir
as honra de um culto publico, ' preciso verificar num
exame eri o e ev ro que caia um delle não ,·' foi fi l
aos grande. d rv r · do bri~ tian · o ma praticou,
num gráu her oico, a · virtudes que na cem do Evangelho.

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A IGREJA ROMANA TEM OS CARA TERES DA VERDADE 259

ertamente não quer mo diz r qu Reja impos ivel


encontrar, na ita. s parada', p ôa. hon ti. ima e
até virtuo a ; ma , qu ociedad , me.. mo chri tã, poderia,
fó ra da Igreja atholica romana mo trar em e p ta ulo
ao anjo · .e aos hom n ant como ão Fran i o de
ale\ . ão Fran i co Xavier ·~ão \ icente d Pau lo Y Não
ha dtn ida , poi , a. Igreja romana tem todo o dir ito a
reivin lica r o heroiRmo da virtnde, pTirnei ra man ife ta ão
ela antielacr.
2. 0 O 1m'lagr . - E uma que. tão ele hi toria p rfoi-
tameute . cla1·ecida que o hri.'tiani . mo e e.:;tabel eu
pelo mila(l're. Ora e, maravilho o pod r "' cons rvou
na Igreja catholi •a r omana e somente nelJ a. Não quere-
mo.- falar aqui do. fa.cto ex traordinari s ou lendas que
enchem a vida dos santos e hi torias ela Igreja no
el · oner do secuJo·-. Bem qu ·es factos tenham as
sua provas deixai.mol-o de lad o para não tratar, por
ora sinão do · rnilagr \'. rificados, r onhecid Ora ,
não pa a anno:, por a im dizer, em que a história, -
a historia v reladeira e . éria - regi ·tre algtw de. e
facto sobr naturae. e tupen<l.o. que são o signal
evident da protecção divina amparando o Catholi i mo .
Para limitarmo-nos a uma prova qu e se po·· a verifica r
e e ·t ja fóra d qualquer onte tação !iremo · que a
Igreja romana continua , ada seculo, ean cada pontifi-
ca lo, at' quasi cada anno, a inscrever novo. nome no
u cata lo.;o do · santos. ra, é preci"o ·aber que a Io-r ja
r omana não pro ede á beatificação ·e á canonização dos
:auto inão depois de te t munho auth ntico ~ de vario.s
facto demonstrado · milagroso , com todo o rigor da
cri ti a. ·a usa ' in trui·da por um ribunal severo,
compo to d homen ennin ntes em ciencia · em virtude;
e, pela menoT duvida :obre a realidade .do milagres, '
abandonada . Póde-se dizer que a xigencia da Igreja
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260 A T G R E J A

a esse respeito p ar cem exce ·siva (1 ) . Ora , a despeito


dessa prudente severidade, cada seculo e o nosso, como
os que o precederam, vê novos servos de Deus conquis-
tarem, por milagres cu:Ldaidosamente verificados, o culto
dos altares. Durante o seu pontificado, Pio IX canonizou
52 santos, ·dos quaes 45 martyres, e beatificou 221 servos
de Deus. Leão X:III pronunciou 18 canonizações, entre
as quaes figuram são Bento Labre, são Pedro Claver,
são J oão Berchmans, são Pedro F ·o urier, e são J oão
Baptista de la Salle; e 114 beatificaçõBS.
O papa Pio X beatificou entre out ros Joanna de
Are, João Vianney, parocho de Ars, e continuou o pro-
cesso de muitas outr&s causas; ao todo canonizou 4 santos
e ooatificou 73.
E', pois, bem certo, que, além dos factos extraordi-
narios de cura que se realizam nos principaes centros de
romairia, particularmente em Lourdes, - factos sobre
os quaes, muitas veze , a Igreja deixa de se pronunciar,
oom que sejam perfeitamente authenticos, - ha prodígios
muito bem verificados que provam que o milagre ficou
sendo o privilegio da Igreja eatholica. P oderiamoo quasi
fazer nosso o verso de Racine :
Ora, qwe tempo foi mais f ertil em rrvil,agres ?
3. 0 Os friwtos de conversão. - H á hoje, espalhados
por todas as partes do mundo infiel, mais de 13.000
missionarios tendo á sua frente 140 bispos, vigarios
apostólicos, e 60 prefeitos apostólicos (2). Quarenta annos
atraz, o numero dos missionarios era só de 4.500. Só este
facto já é uma prova e1oquente do bOIID. exito alcanç.aido
nos paizes infieis.
A sociedade das Missões extrangeiras de F ra;nça,
fundada em 1663 com approvação do papa Alexandre
(1) Consultar o padre Moigno: L ea Splenàeurs à~ la foi, t . V,
inteiramente consagrado ao processo de ca.non.izaçã o de são Bento José
Labre.
• (2) .A.nnual"W pontifical de 1905.

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· A IGREJA ROMANA TEM OS CARA CTERES D.A. VERDADE 261
,-

VIII e r conhecimento legal d Luiz XIV, conta actm.al-


mente nas Indias e no Extr mo Oriente, 35 bispos,
collocado na frente de ou ra tanta mis ões, onde estão
auxiliados por mai de 1.300 padre da ociedade e por
6 a 7 cento acerdotes indíg na . H.ecebe cada anno da
Propagação da f' mai ou m n 1.200.000 francos (1) .
Fóra d es r ecur o b m mingoado quando repar-
tidos pois que dev m pr verr á viag n e ao sustento
de tantos mi ionari o~, ás de pez do . culto á c r ~ ação
da igrejas da escolas te. a propaganda catholica não
di põe de nenhum re ur o ou apoio humano. Al 'm dis.so
f uncciona em paizes mui tas veze m1fillgo e p ersegui-
dores, sem protecção actual dos governos. Por toda
perspectiva, os mi sionario ó nxerD"am soffrimentos,
privações p e1 guiçõe e upplici
Ora. em 1904, com esse pe oal e ses reem os, as
Missões extrangeiras a<lmini trarnm uma população de
1.340.346 chritão di p r o effectuaram 36.470 baptis-
mos de adult , 130. 71 bapti mos de filho d pagãos,
48 .1 55 bapti mo de filhos de christão e 517 c-0nversõ
de hereges (2).
Não meno admira.veis ão o fr uctos de propaganda
alcançadas p elos Padres Branco na missões africanas.
Os mis ionario do cardeal Lavigerie occupam 8 vica-
riatos apostoli o com 57 sacerdotes. Em 1904, obtive-
ram elles como subsidi oo 200.000 francos da Propagação
da f é. Com isso instruíram 153.000 catechumenos,
b~ptizaram 7.000 adultos rnai de 6.000 menino , man-
tiveram 150 e c:olas e cuidaram, nos s us hospitaes, de
170.000 doentes ( 3).
(1) A instituição <la Pro]><tpaçiio da [i, fundada em Lyão em 1 822 ,
recolh eu 3 1.723 .33 4 francos do esmolas, no anno de 1923, Todo esse
d in hei ro é consagr ado á propa gação ca tholica .
A obra da Santa lnfanc i a , imitação da precedente, ins ti tnida em 1 43.
angariou a quantia d e 11 . 630 . 000 fran cos. Sub venciona 215 missões
e ajuda 11 . 1 3 4 estabelecimontos, escola s, asylos, etc., onde, em 190 8 ,
fo r am so ccorrid os 76 0 . 000 cr eanças.
(2) Eslatist ica <le 1 905 .
(3 ) B ole tim das missões da tlfrica, Jan eiro de 1!105 .

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262 A IGREJA

Na China , no Japão, na Syria, Turquia e P er ia.


etc., os J1es1litas e o Lazaristasj na O eania, os Padr(')s
Marista d e 'L y ão e os mi ionario elo Sagrado Coração
d e I. udun · n a Afri ca Occidental e Oriental, os Padres
do E spfrito anto, r ealizam os mesmo prodígios (1) .
Ora , aquillo qu e os :--a erclotes e r ligi o· os franceze , 1

o mai numer o ·os na intem r a ta e glorio. ·a phalange dos


mi ionario· catho li w.~ . fazem nas r eO'iõe confiada a
"eu zelo é tamb em r ealizado em outro · lugare · p or mi · ·io-
n ari os el e outra. na õe , e, por t oda a part e, magníficos
u cce ·".:>o. animam a . u a ded icação. P oi , p od emo muito
brm r epetir, a r e. p ito de. ses n oYo apo tolo , as pala-
'Ta. de N os ·o enh or: «E u vo · e::;eolhi e envi ei para qu e
dés ei. fru tos e para ine esses fru t os permaneçam .» (S.
J oclo . xv, 16.) E s t e fefiz exito do ·p roselyfrmo catholico
appa r ecerá ainda ma w n otavel e salien te quand o lhe
oppuzermos a e terilidacl e da missões h ereticas. Por
em qu a nt ba. ta verifi arrn que a I gr eja romana possu e
admiraYelm ente a ter ceir a manif ~ tação da santidade,
o. f ni cto de convei·são, tanto co mo o h er oi. mo da virtude
e o milagr e. E ', p or con seguinte, ver :ladeiramente santa.
142. - 4. R esposta ás ob ej ecções. - Ao t e. -
temunh o que acabam o d e fo rn ecer da antidad e p er -
manente da I gr ej a ca tbolica, oppõem-se, ás vezes, as
so mbras existente neste quadro.
a ) «T odo o membros ela I greja diz- e, estão lon g
d ser antos ; ha membros p eccaclore entre o· catholicos,
até prati ca n t€13, e os escanda los ahi não são raro .»
R esponder emos: 1.0 Não é necessari o, para qu e uma
r eli o·ião seja perfeita e divina que todoi> os homen. que
aclher em á sua doutrin a se jam , antos. Onde se havia d e
achar ·ern elhante r eligião ? O homem oru erva sempre 01

a . ua liberdad e e, por muitas vezes, d ella faz pe ·im o

(1 ) Oon s ull a l' o · J.wiais da P ropugaç(j,o ela fé e a l lel11ções ll<ts


<liursas mi s ões.

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..
A IORF.JA ROMANA TEM OS \RA TERES DA VERDADE 263

rr.so . l a ta l ois, n todo · os m ios


d t rnar ant
e qu , d facto, á antida.d o q u
ão fiei . 2. A Ig r ja primitiva , fundada por J u '
C'h 1i.,to, ontava igualm nte 1hri tãio. imp rf ito " O
Evan 0 elho ais Epi tola elo ai o' tolo o livro dos \..e o
di o dão te t munho. Houv Lirn tralüclor ·obard s
ntre o apo tolo. · · her eo- . ,, pe cador e' o di ci-
pulo. · a1 ó ·tatfü n o· meio do martyr . rão o Eva11 -
gell10 a lar ja que di o f ram ·a usa 1 rtam .nt ,
ma ' a fraqueza hum a na qn cu 1,.;a na, á. vez 1· , a melh r
vontad . «'l'od . os ca-t holi cos iwati ·ant s não são e, rn-
pla l' e:s.» Por a ·a. o .·e l-o- iam mais s não prati ·a m
Ião é ant ' mais provavcl qu •a hinclo a l - peito das
. uas c r nç~· da l i da su a ·on:; •i n ·ia , c:a hiriam ainda
mai baixo .·i nã tive sem · meios que lh : offe r ce a
I gr eja para e mante!' m ou l vantare m . i fôr pre i:' O
to rn ar m m lhor .·? Quer i. s .dizer, I"P timo. que
a Igr eja lh e. · apadrinh ·ou excit e as fraqueza.? Não ',
pelo ntrario, po r qu . ão inl'ieii; [1 I g r eja qu p · e am
· es andalizam. Aliás ,; que e. tão fóra ela [gr<:'ja , S'.Cl'ão
m lh r ou p i r e ? 3.0 Afinal , ape, ar da. que l as
e •a n<lal o. · ele qu se queixam e qu foram an11u11 •iado'.;
p r No." -o ellhor •om n ee s.-,a ri o:, para provar m a
vi l'lu 1, el os bon ·, não é l to la a cvid.cn ia l al'a qualquer
espi rito impal'c ial qu o mund o ac ual ', m ·n s ·au -
da loso, mais virtuoko moral do que o antigo mune.lo
J agão~ \'iycm o · d "atbo lieii-;rno .· m 11if:.so p n:a r, si
a lgT ja a i ·ai1 ·a s 111dhantc l'e ' ulta lo daquell , m smo
qu ·vivem f ' ra da 1Tta j11fh1 e11cia dir ta , qtl ·a ntidad
maravilh sa não alcan a ri am os chri:tão fo.~~ m docei ·
a se us en . in
b ) « \ ' pretensa san ticla1 e <1a l g rt'ja accr . ce nta 111
(•c 1·tos morn li-sta s, nã se poderia oppôr s i ·io do •ler o

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264 A IGREJA

que a deve repres ntar no meio do mundo~ Não houve


máus papai que de honraram o throno· pontifical ~»
Deixando de lado a segunda pair te da objecção, á
qual responder emos mais explicitamente ao tr atarmos
das questões historieas (1) , limitemo-nos aqui a simples
observações. Na realidade, n em todos os membros do
clero brilham como santos. Mais uma vez, será a Igrej a
causa di · o 7 Pelo oontrario, não lhes prega que o bom
exemplo é o 1 eu prim iro dever 1
Ma , no sacerdote, a despeito do seu caracter sagrado,
acha-se o homem e, por con eguinte, não ha motivo de
ficar admirado quando nelle se notam fraquezas humanas.
Comtudo, serão esses vicioo do clero tão grandes e tão
numerosos como certos pr etend em ~ Em épocas laistimosas,
quando a Igreja ra opulenta e a ambição fazia por
demais as ve7.es ela vocação, houve lamenta veis abusos:
é infelizm ente verdadeiro. Mas, no <Seculo presente,
agora que a Igreja depauperada te m r etemperado o seu
clero e as suas orden religiosas na antiga disciplina,
falar dos vicios do sacerdotes e do monges, não é digno
de um homem incero, mas sim de um diffamador. Os
factos isolados se tornam mai s saliente á medida que
são mais r aro ; por isso são commentados, ampliados,
publicados com tanta co:mplacencia ou animosidade. E
desses pretensos vícios, as ignalados p or alguns como
horr oroso e canda1o , quem dos a.ccusadores poderia
affirmar em consciencia que nell€s não cahi u de modo
muito mais culpado. ... Que outra c01·poração poderia
sustentar tão vantajo amente o inquerito a que oo máus
submettem o clero (2) 1
Renan, escrevendo na R eviw des Deux-Mondes, as
suas L embranças de inf ancia e juventude, presta ao clero
·este testemunho pouco suspeito : «Fui educado num
(1) V êr o tomo IV, ApoLooetica, e. VII .
(2) Dam os aqui a estatistica mais r ecente das condemnações crimi·

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A lOREJ ROMANA T E\l OS CARA TERES DA VAADA.l>lt 265

de ex 11 ot

a:

nu~e qu fora m pro nu nciurlu s de 1 80 u 11101, c011 lrn 11s pro f lseõ •
ilhf'ro s 1111 .b' r trnçn.

Tnb lhi\1·•, udv<>Jo:ndo<,


JlrO ·urndor 8 , O ÍÍ ICt fl~'i
11 JU ~ li(0·a, flt . , .
,\t •<l 1ro"4, ri 1 urg1õ
phnrmfll utH'OP , •t e
. '
20

7
15

4
20

7
10 74

27
3 000

43.62 1
48, 8

1.5, 6
\ rt1"4l0"4 li 5 2 23 63 27, 2

P roÍf''4"1fHt'~
Jll'tl((J'
.. 3 li 10 4 2 11 0. 60 .33
\ congrcgn-
01 !'\ lU'1 • 3 4 2 13 60.625 5,30
l~ro co ngr gaç~<·s 1n ~

t' lmo vo o pc_q~on1 d o-


t'f' ll lC\. ' . ... 6 10 ô 28 232 .441 3,0l

J• B •i lz-111 , A t•riminalidu<le na. Jt'ra.nça , 1>. 54 , ·p u b lic11 d o m J9 0 4.

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266 A IGR ÉJÀ

143. - III. A catlwlicidade. - Esta propriedade


p ertence tão ex lusivam ente á I greja romana que é por
este nome qu o eu · inimigo. a de ignam habitual-
mente·, e is o de de mniti imo tempo. Io rv 0 eculo, santo
Ago ti-nho dizia ao D onati ta : « hamando-no catholicos,
vo con demnai a vÓ ' mes mo ·. Conf e . ais que a verdade
não e tá do vo o lado.» Outro tanto e póde dizer a
toda a-.. seita do nos os dia .
A J,g r eja romana foi sempr catholica. J á di " emo
que cin coenta anno. dep i. da morte de Jo o enhor,
a palavra vangelica alcançarn r egiõe em qu e ainda
não tinharm voado a aguias romana e uma multidão
de povo de.. conhecidos á ci,ilizaçã pagã tinha.m r ece-
bido a palavra de vida. Ora, a Igreja não contava
omente algun di ipulo ' cli p ei. o aqui ou ali . Ouvimos
Tertuliano p r oclama r que i o · ·bristão ,.e r etira:;;, em.
o imperio ficaria deserto. Plínio o M'Oço queixava a
Trajano de que, na ua provincia da Bithynia, não se
achavam mais compra dores de vicüma pagã . D de
· a época, a Igreja r omana andou empre dilatando o
seu imperio: co nqui ou u cce~ iYamente a Grec ia, as
Gal1ias, a Italia a Africa, a E pan ha, a Inglaterra,
a All emanha . Qu.a.ncl o o cii ma grego, e. mai tard e.
a h r ia prote.. tante lh e arrancarwm varias provincias
da Europa, conqui tou as Indias e o Japão; por meio
de Chri tovam Colombo ganhou o Novo Mundo e, á
med ida que audacioso nave,,,·antes de· ob r em nova
t erra , a I gr j a atholica nella penetra com o seu
m1 10nario.. T ome- e um mappa-mundi, e procure-se
ahi uma ó r egião boj e conhecida em que a I gr eja roman a
não tenha di:ci pulo !. .. Ella rea liza, p ois, li tteralmente
a palavra de J :;;u Chri to: «Ide ensinai a todas as
na ções, pregai o Evanaelho a toda cr eatura .»
Ma não é ó a catholicidade geographica ou de
espaço que pertence á I greja r omana : é tambem a catho-

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IGll lr.,JA llOMA • 'l' E1\[ O (' lt TE lmS º'' V EllD D ~~ 267

a , l or ' rn não
us ad pt . pr rte n ern a

Bn t r a prin az ia cab
ath ol i v i. t a cl num ro.

( 1) Ei s os n u m r os puhl i<·ndoR m J 903 po r um sn bio iesu i tn


nll m ii.o . o .P . Kro , r1u 0 sn o rnou 1llu Rtr pelo l'iti cn dn stn ti sli cns .
Os 1 . 5 •17 rnilh õe d 1 h nhilnnl!'h do !flobo S<' r <'pn rt m do modo
sr.g u in l :
hrl stiíoR dCl 1nu nclo in t \'Í ro 5 4 . il J7 00 u 53, 11. 1 00
.J u cil'u
M usu 111111 nos
1 1 .0:17 ·ººº
u 0,7 p . 100
20:! . 0·1 . O ou 13, l p . 100

m onot h ii, t11 s 762. l 02 . ()0 ou 4 . G p . 1 O


Portnnto. qun • i fl 01 l adL• do h u mn nid ud <'.
O t' C"t; t O M <i l' orn p<1 e· mo s gu :
1

( ' on f u inni• ln s 2!l5 . 0rl0 . 0 0 0


Br11 h1n11 11i Rl llR 2 1O. 000. 0 00
ll ud hi Nlll R . . . . . . 120 . 000 . 000
'l'noistns P hh i 11t oi,ta s . . 6 1 . 000 . 0 O
J~(l lÍ l' l ti s tUR ,. K•Í l us d ('R('Ollh l'' Íci11 s 1 19 .0 00 . 000
Os « l !l milh ~os d 1·l1is liios "ª
d i videm co mo R ·g u e :
rd hol kos . . . . . . . . 20 4 . 5 (Hi . 000 0 11 4 .2 'P· 100
l' roll'Ktnn 11s d•• todu s llR S" Ítos 1(Hi . 7'27. 000 ou 30.3 IJ . 1 00
S•· 1s111 nl1<·os . . . . . . 11 7 .8 75 . 000 o u 2 l. 4 p 1 00
J\ s quulro itrnn d lN r liJ,:"itH':-- q111" 11dor11m o Vl'rd11dc-iro l eus, sii o 11 ss i111
1 PJUl rt1d11 t1:
11 1holi,·o• Protw:-. lu nt Sdsrn ti c· o~ Tsrnc li t.ii s
J•: u ropn 11 7 . 657 . '.l il n1 . 2n:i . 1a <1 no . p 1c; . 5! 2 !< . !i 4 2 . 4 3
si n 11 . 51 :1. 27 (j 1 . nu; . 1ott 1r,. 1 9 7 . 1()fl 7 )~ . 905
\ ír i('n :1 . CJll 4 . 56:J 1 . trn :1. ;1,1 L :J.fl(i l .!l i 70 IJ. l10 0
.. \ 111nri4·n 7 1 . ~fíf) . 7!J ,'..! . 65 Ci . DB7 1 0 15 . Cl9 :l
Ü(' :'H
. \nin. 97!l . 9.1;) :). J 7 . 2f>9 l 5. 172
Tol11 l 26 1. 5 6 5 . 922 li6 . 72 7 . J O J1 7. 75.5 66 Jl . 036 . 6 7

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268 A I GREJA

da universalidade e da civilização. A Igreja romana se


chama, pois, coon todo o direito, Igreja catholica.
144. - IV. A apostolicidade. - A apostolicidade,
como dissemos, deve existir na verdadeira Igreja de dois
modos: na doutrina e no ministerio. Ora, a Igreja
catholica romana possue este duplo caracter de aposto-
licidade. Sua doutrina é p erfeitamente a dos apostolas: ·
nunca alterou nem o symbolo, nem os escriptos, nem tão
pouco as tradições apostolicas. A prova di'3so seria muito
longa ; mas é um facto certíssimo para quem é capaz de
comparar o ensino actual com a doutrina dos apostolos.
Aliás, a apostolicidade do1drinal tem por guarda a apos-
tolícídàde do ministerío e esta é de uma demon tração
mais facil A presença, numa Ignija, de pastores legíti-
mos succedendo aos apostolos, sem interrupção alguma,
e permanecendo em communhão de doutrina com o
successor de são Pedro sobre a sé romana, é a mais
visível como a mais firme garantia da apostolicidade
desta Igreja. Já Tertuliano dizia aos hereges do seu
tempo : «Mostrai-nos as origens das vossas Igrejas;
ostentai-nos a successão do vo o pastores ; provai que
o primeiro r emonta até o principio e foi ou um apostolo,
ou um delegado apo tolico.» (De prre criptione, cap. 37 .)
Ora, esta prova de successão ininterrupta póde ser apre-
. entada por todos os bispos da Igreja romana.
Com o auxilio dos documento. anais authenticos,
foi feita a lista de todos os pontific.es de Roma desde
são P edro até Pio XI, duzentesimo sexage imo sexto
successor do prirrneiro papa. Esta longa erie de ponti-
fices nunca foi interrompida senão durante o lapso de
tempo necessario para eleger um novo chefe. As eleiçõe.
foram sempre feitas canonica e legitimamente. Citam.ise,
comtudo, alguns antipapas cuja u urpaçã<0 sacrílega foi o
fructo da ambição pessoal' ou da ingerencia tyrannica
dos príncipes; mas essas poucas eleições viciadas não

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A IGREJA ROMANA TEM OS RA CTERES DA VERDADE 269

impediam o papa legitimo de existir ao me mo t empo e


de t riumphar em br ve. Não ha, pois, intermittencia
s r ia na succe são apo tolica do& pontific s romanos.
Ora, o que ' verdadeiro a ,r e p ito do Bispo de Roma,
é igualmente veDdadeiro a r e peito de todos o bispos
catholicos. Qualquer s' de epi copal do Catholl ismo tem
sua historia sua chronologia u a li ta de pontífices, e
o co,r po epi copal inteiro procede ,em linha r cta do
coll gio dos apo tolo ou de uma delega ão le()'itima do
pontífice de Roma. De de J e us Christo até a()'ora a
I greja romana é po,is apostolica rpela doutrina e pelo
mim terio.
A conclusão °'eral que e deprehende de n as div r -
sas considerações é, p or ·cons guinte qu a I greja roma?'la
é verdadeiramente iima no u dogma e no eu governo ;
santa pela sua doutrina, mas tambem pelo heroi mo das
virtudes que inspira p elo milagr qu effe tuam no
seu seio e pelo fructos de conver ão realizados por ua
palavra; cathoUca juntrumente por ·s ua extensão e por
sua sup erioridade numeri a· apostoiica, mfim, por sua
doutrina e por eu ministerio . Reune, portanto, de modo
admiravel os quatro car acteres que Nosso Senhor mesmo
a si()'nava á I greja por elle fundada; por conse()'uinte, a
I greja catholica romana é a verdadeira I greja .de JOOlls
Chdsto. Poderiamos concluir, 'já, com essa demon tração.
que todas as outras seitas christãs, que della. e sep araram
e a contradizem, não são a verdade· ma , com upera-
bundancia de direito, desçamos até os pormenor es, e
digamos, de modo mais esp ecial, o que lh s falta para
poderem r ivinclicar o titulo el e v rd ad ira I greja de
J sus htisto .

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270 A I G R E J A

CAPITULO III
A IGREJA CISMA TICA, EMBO RA E PRETENDA
ORTHODOXA,
NÃO É A VEHDADE IBA IGREJ DE JES S CH RISTO
Definição ela Igreja scismatica. - Divisão deste capituJo.

145. - Chama- e I greja grega scisniática uma


oci dacle de clui tão do Oriente, submettidos a vario
patriarcha elo rito gr go e separados da Igreja romana.
1

E ta Igr eja tem a preten ão de pas ar por orthodoxa,


i 'to é, uni a.mente verdadeira e fü~l: é debaixo de te
nome que · de ·igna a si propria . Comtudo, nó , catho-
lico , chamamol-a IoTeja grega scisrnatica, distinguindo-a,
de te modo, da I greja g1'e{Ja 1rnicla que faz parte do
Catholi i mo embora tenha a sua liturgia em língua
gr ga, e alg1.m u: o disciplinare differentes dos da
Igreja latinR.
A iro como fizemo .~ a re peito .d a I gr eja catholica
romana , estudar mo a I 0 Teja gr ega cismatica na ua
origem e na sua con titnição actual; em egu1da, prova-
r em s que ella não tem o:s cararl ·1·e ela verdadeira Igreja
de Je u"' liri. to e não póde pretender , por con eguinte,
o titulo de orthodoxa que e att ribue com tanto orgulho.

ARTIGO I

Noção geral da I greja scis mati ca , que se prete nd e o rthodoxa


I. Origem do sei ma grego. - II. Suas subdivisões actuae .
III. Forma e eon tituição ela Igreja scismatica. - IV. Duas
observações importante .

146. - T. A Igreja ºTega sei mática r emonta a


Phócio que, depoi. · de ter u. urpado a séde patriarchal de
Constantin pla, em ~7, tomou o título de patriarcha
ccwnenico óu univer ·al, av<1 allando os patriarcha
orientae de ~nti ochia,. Alexançlda e J erusalém, erigin.-

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À IGREJA SC ! ShIAT ! A 271

do- em rival do bi po d Roma a qu m mandou


anathematizar por um on iliabulo r uuido m on tan-
tinopla em 866 censurando a IO'r ·ja romana p r certas
prática relativa ao j jun á ab tinencia, por au a
do c lihato do padre e do accre cimo d F'~·zioque ao
y 'mbolo de Tjc ' ia. Por pírit de n ilia ão, papa
João III on ntiu em r conb cer Phocio como
patriarcha legitimo, e durante e ulo e m io, ap ar
das preten ões do patriarcha , eu. :uc e" ore·, ub i tiu
algum laço entre a dua · Jgr ja.,.
omtudo Migu l C ndario , sendo el valo á ' d
on tantinopla (1054-10,...9 ) f z . N o pr ten. o motivo
de queixa de Pho io con. t1mm ou . i ma ºTego. Houv ,
m 1274 no egunclo con ilio clt: Lyão, e em 1319 no
concilio de F lorença tenta.tiva de r eunião, J orém não
tiveram r ulta.do tpor cau a .d a ob tinação ou da p rfidia
elo Gr go . A 1grej ai ·cis:matica fez profi :ão de r jeitar
a parti0ula Filioque bean qu a lmitt~ a ·divind·a.de
do Espírito Santo· não re onhece a ob rania do papa
e não t.em completament e, a r ·peito do purcratorio, a
mesma doutrina que ia Igreja r omana ; os . •eu · , a.cerdote.
e casam anas não o bi po. .
147. - II . O espírito de independência 1ne epa rou
Con tantinopla de Roma ab riu o c:aminho da r volta ás
Igrejas do Oriente dependentes elo patriarcha lo. Com
ffeito, viu- e o i ma multiplicar-se no eio da Igreja
eparada . A Igreja parti cular .-; de Antio hia e A1e-
xandria e. tão ainda, admini"tra iYam nte, i1a dependen-
cia do patriarchado de on. tantinopla . Ma. numa e
noutra r esidencia, acham- e patriarcha ºTegos indep en-
dentes ob o titulo de jacobitas eo·n)cios ou y rio" que
con ervara1m, com a. suas communidades de discípulos,
o erro de Eutych es. Na yria, na Me ·opotaania, na
Persia e nas ln dia , va ri a eita · n estorianas têm tambem
as sua· cr·ença., a sua admi nistração e o: , us pa tore:

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272 A IGREJA

distinctos. 'l'oda estas sei.tas, comprehendidas sob a


denominação geral de Igrejas scismaticas, são inimigas
umas da outras e nunca concordaram. em cousa alguma.
Por outro lado, a Ru ia, depois de ter permanecido
fiel ao Catholici mo muito tempo ·depois da revolta de
Constantinopla, erigiu, no seculo xv, um patriarcha
scismatico dependente de Byzancio, e Moscou veiu a ser
o e-entro de uma nova Igreja, que conservava ainda o
rito e os ruso grego . Mas, em 1667, Nicon, patriarcha
de Mo cou, tornou-se independente. Afinal, Pedro o
Grande, imp ra;clor da Rus tia, em 1702, substituiu o
patriarcha de Mo cou por uma assembléa de bispos e
dignatarios formando o Santo-.Synodo. Confiou a esta
assembléa o cargo da administração da I greja russa
orthodoxa, e como nomeava os membros dessa assembléa,
teve r eabnente nas mãos toda a autoridade ·r eligiwa,
salvo, todavia, as decisões dogmaticas. P edro o Grande
deu á Rú sia uma liturgia em lingua russa, e, desde essa
época, a I greja russa orthodoxa era, na realidade, u ma
igreja nacional da qual o czar era o curador e protector.
Dividia-se em três grandes patriarchado : Moscou, Kiev
e Petrogrado. Era o imperador que nomeava os titulares
dessas dignidades.
Accrescentemos que na Russia existem numerosas
seitas scismaticas, em particular a dos Raskolnicks q11e
não acceitaram as reformas de Nicon; ainda hoje conta
mais de doisi milhões de adeptos.
148. - III. Vê-se, p elo que precede, que a Igreja
grega scisrnatica está longe de formar um todu homogeneo.
A unica ligação importante que lhe une os membros, é a
r ecusa de obediencia ao papa de Roma, com a negação
da sua primazia sobre as Igrejas do mundo, e este erro
doutrinal que se acha no berço do scis;:ma do Oriente:
a rejeição do dogma de que o Espírito Santo procede
juntamente do P ai e do Filho. Cada patriarcado

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A T O REJA s e 1 s :1c A T 1 e A Z73
----
scismatico formava, há pouco, uma Igreja distincta.
de Constantinopla e tava collo ado ob a dependência do
sultão, discípulo d Mahomet, emquanto toda a ússia
reconhecia a autoridade do Santo-Synodo, ma urvava
sob os regulamentos que o soberano leigo sanccionava ou
impunha por si mesmo á Igreja e ao clero.
Aliás, as diversas Igrejas sei maticas con ervaram,
além do conjuncto das crenças christãs, tod
mentos e a hierarchia da Igreja romana. s offícios
a emelham-se consideravelmente com o. da Igreja gr ga
unida. Um ponto importante, porém puramente di ci-
plinar, distingue essas varias Igrejas do catholicismo
romano, é a autorização do casamento dos acerdotes.
Todavia, o celibato é considerado entr e elles como um
estado mais perfeito, e os bispos são escolhidos entre os
sacerdotes que não são casados.
149. - I\ . Antes de iniciar o exam e a discussão
das notas ou caract res que auxiliam o re onh imento da
verdadeira Igreja de J e us 'hri to, temos que fazer tluas
observações preliminares.
1. 0 A origem da Igr ja grega scismatica está no
seculo IX: começa por uma separ.ação da Igreja romana,
por urma revolta contra a supremacia do papa, em br ve
seguida de heresia; falta-lh e pois a perpetuidade no
passado e não r emonta directamente até J esus Christo.
. 2.0 Esta 'Igreja não póde ter a autoridade no ensmo.
Nosso Senhor disse: «Aqueile que vos ouve, a mim ou'Ve;
aquelle que vos d espreza, a mim de9preza.» Ora, como
se ha de admittir que uma seita que se subtrahe á auto-
ridade universalmente reconhecida até então, erigindo
a sua insurreição em principio; em seguida, rejeitada pelo
chefe supremo a quem J esus Christo confiou o cuidado
de vigiar sobre os pastores e sobre o r ebanho; repellida,
emfim, por todo o corpo episcopal encarregado de conser-
var no mundo o depósito da verdade ; como se póde

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274 A I G & E J A

admittir que e ta <: üa eja ainda depo·.sitaria da auto-


ridade ne0e ' sari a para in ·truir e n inar as naçõe ? A
. imples razão havia de , e in urgir contra e sa theoria
e, de;;te modo, antes de mahs nada, a Igreja scismatica
não se acha nas condi ões indispen ·aveis .a uma so ieda<le
chr istã que pret end s.er a verdadeira I gr eja de J e u
hr i to.
ARTIGO II
A I g r eja scis m a ti ca não te m o s ca r acte r es da verd a d e ira
I gre ja d e J e us Chri to.
Exam e dcs e· diver o (•a ractc re : l.º a unidade; 2.0 a santi -
dad e; 3. 0 a ('atholicidade ; 4. 0 a apostolicidad e. - Conclu são.

150. - Aq uillo que já di-;semo da origem e da


itua ção pr ente da I gr eja grega cisrnatica e da I greja
rus. a que de1la e separou, facilita muito a nos a tarefa e
nos peTmitte dar a este exame certa r apidez e grande con-
ci ão. Não, a I greja ·ismati a, - e n e ta palavras com-
prehend emo o. sel: diver; ·o ramo , ~ não pos ue o
car a ter que No ~ o Senh or a ;;;igna á ociedade chri tã.
la qua l é verdadeiramente o :f\uhdador e o guarda.
151. - I. A uwidade. - Não a pos ue a I gr eja
.·ci mática, quer e trate ela ·unidade de clo1drina, quer da
unidade de got1terno.
1.0 Não tem a ·unidade de doutrina ab oluta e com-
p leta. Além de acharmos n eu seio as antiga seitai.
de Nes1:orio e de Eutyche · separadas umas da::; outra
pe la doutrina e anathematizada,s pela Igr eja r omana da
q1aal e epararam, não será p or effeito de uma violação
do g1'a nde principio da unidade doutrinal, qu e a Igreja
scismati ca existe hoje ~ a r ealidade, ella não ad.rnitte
mais os dogmas em que acr editava antes ela revolta de
Phocio e de Migu el Cerulario a saber: -esta verdade
important·e primeira occasião ou primeiro pretexto da

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TG R E J A s M A T 1 A 275

para ·ão, qu l e juntam nte do


Pa do FiU10 ta v rda-
de

om
m
d omina ·ã
avilta la qu·e n m o;-; bi:-;p os, nem m m o s
patriar has pócl m t omar p o. ela.· : ua s f'll'ncçõ ... , m
uma li • nça expr .. a <lo 1-;n lt ão, qu e :.;e at tribu o dir ito
c1 decidir as qn<:> ..t Õe!'> relig io. as eomo cliri g os nerroc ios
1\11 • .

P or ou tro lado. o ·le r o ru ·so e. tava ·urva fo ·ob o


s C'ptr elo za r , qu orno lh e
aprazi;i . era 1. o o q11 t ev~ e m vist;i J esn. hristo
quando cli ..~e a o h ef ios apo. t olos: «Apasc nta o m us
e· rd iro , apa · nt.-1 as minha. velha s,» quando for-
mulou .st voto: «Qu não haja mai que um r banho
ob a dire ·ção ele umCt ·ó pas tor! »
152. - "JiT . A sa ntfrlad . - A l g reja, ismá tica não
po.-:-;ne a sa nticl a le xl ri or qu ili li cam os eomo o s ig na l.
ela verdad . Fala r mos cfa sa nti la cl d o. e u f1indadm s ?
. i Pho · io, Mi g u 1 Cc ru lar io, e P · d ro o
' r an l 11 ão tives m iclo a mbi ·i ·o. como Euty-

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276 Á

ches e Nestorio, o Oriente seria ainda catholico. O scisma


grego nasceu da p aixão e não da santidade.
O Evangelho ficou sendo a sua lei moral: porém,
hoje não dá friu'Ctos no meio dos po·vos separados do
principio da vida, como ramos arrancados do tronco que
lhes comimunicava uma seiva vivificante. Por isso, vê-se
pouco ahi e sa triplice manifestação da santidade interi or
de que falamos.
1. 0 O heroísmo da virtude não se encontra nem nos
membros da I greja grega, nem nos conventos scismaticas,
destroços do Catholicismo dos antigos dias morada
apparente de prece e mortificação, transformada muitas
vezes em asylo de uma preguiça proverbial ; nem t ão
pouco no clero de ta Igreja, em que parece que todo o
zelo e toda a perfeição estejalrn apagados ou paralysados.
egundo o testemunhos mais irrecusaveis, as dignidades
e o cargos são muitas vezes compr ados a dinheiro. A
ignorancia e o aviltamento mancham o membros infe-
rion~s de um clero que se recru ta hereditarialrnente numa
casta acerdotal. Os popos ( 1) riussos são conhecidos por
eu amor do lucro e da embriaguez, consequencia muito
natural do meio por demais inferior donde são tirados.
Todavia, r alizou -se um p r ogresso r eal no clero das
cidades1 mais instruído e de costumes mais dignos. Em
summa, esta Igreja scismatica qill'.e continua a tributar
honras aos antos, não deu ao mundo o espectáculo de
um só santo, na accepção precisa da palavra e as perso-
nagens a quem a Santa Russi.a pre ta honr as publicas são
antes bemfeitore.s da nação, mais lendarios do que
historicos.
2.° Será necessario accrescentar que, no seio do
sciS1IDa, não se trata de rrvilagres? Como interviria Deus
com prodígios effectmaaos a favor de uma doutrina por
elle condemnada e de UIIIla revolta que vae de encontro
(1) Sacerdotes rUS80S.

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A I GRE JA SC T SMATICA 277

ás suas yontade-.?i Por isso, a historia fi a muda e não


menciona nenhum desses factos tão adrniraveis quã.0
estupendos que foram sempre o a:panagio de UJIIla r eligião
divina. Fala-se, ás vezes, de maravilha-s alcançadas pelas
orações de monges da Russia r eputados piedosos e santos.
Sem du'Vida, Deus poder á recompensar a sua devoção e
a sua fé; porém, o milagre e:ffectuado a favo,r dessa
doutrina é cousa inaudita.
3. 0 Os verdadeiros fructos de conversão faltam á
Igreja scismatica. O Oriente cahiu no scisma e na heresia
pe.la culpa doo seus pastores; por-ém, nunca estes mani-
festaram -0 menor zelo pela conversão dos infieis: nem
apostolos, nem missões para diffundirem ao longe o
Evangelho ! Só a scismatica Russia exerce Thllla propa-
ganda: soube conquistar ao culto nacional mais de tres
milhões de musulma.n os da Europa e da .Asia. Não e tá
demonstrado que a f é foi a inspiradora dess.e movimento.
Sabe-.se, por outra parte, com-0 se effectuaram as conver-
sões á orthodoxia na Polonia e na Asia septentrional:
pela violencia e pela p erseguição. E' com a imposição
da sua lingiua, d-0 seu culto e dos seus sacerdotes que a
Russia suj.eita as populações á sua conquista, sob pena
de deportação e de exílio.
De 1878 a 1903 o missionar.io. orthodoxos da Russia
tinham levado a sua propaganda ao J a.pão e recrutado
a.h i 27.000 indígenas administrados espiritualmente por
um bispo e 40 sacerdotes que tiveram que abandonar o
paiz no momento da declaração de guerra entr·e a Russia
e o J aipão.
153. - III. A catholticidade. - A I gr eja scismática
nem tão pouco tem esta nota da verdade: não é catholica,
não é nem pretende tornar-se univer al. A Igreja de
Phocio é um producto exclusivamente oriental que nunca
conseguiu tornar-se acceito no Occidente. A Igreja russa,
que della se separou, ll!UilCa passaná de uma Igreja
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• IGR EJA
278 A

nacional, limüada, pela fronteira s elo imperio. l.\ão ouviu


a ordem divina: «Id , ensinai todas as naçõe ; pregai
o Evangelh o a toda a cr eatura,» ou não e importa com
r ealizal-a. P or mai' va ·t o que eja , ' evidente que o
imperio ru ~ ' O não é 1U1niver-·al .e a sua diffu.são não ' a
catholicidade elo e pa o.
P or aca . o, teria esta Igr ja a Yanta gem elo n11m ern .
Os 11 milhões ele particlari os. que cont am toda.· a.
I gr ej as cismatica aliás diYiclidas entre si por dissenti-
mento.· profund os, e no quae só a Ru" ·ia entra com
77 milhõe de subditoo e-s tão long de alcançar a ca tho1i-
cic1 acle nUJmeri ca. ela Igreja romana.
E ' .evidente poi que as Igreja sei maticas não têm
o caracter de ·ath licidade ne ·e sario á verdadeira I gr ej a
de J esus Christo.
154 . - IV. A apo tolicidcicie. - Poder emos dizer
·q ue a I 0 Tej a s ismatica po ue a apostolicidade de do1t-
trina. Não, pois que modificou o ~n ino dos apo tolos e
r ej eita hoj e ·o eu symbolo como a tradição apo tolica a
r espeito da proc edencia do E .·pirito anto, e r ecusa ao
papa o titulo de chefe da Igreja univer al, bem que pro-
clamado pelo Evangelho e r econhecido sem conte tação
durante os no" ~ primeiro eculo do catholicismo.
'l'erá ella, pelo meno , a apo tolicidade elo mini t erio?
Tão pouc·o. om effeito, a Jg rt>ja grega, na verdade,
se prende por uma ordinação talvez valida á u~ce são
apostolica dos pa tore ; mas t endo .esta I gr eja cooneçado
por uma ruptura o · --eu bi po: e os eus a.cerdote
deixaram, p or isso me mo de ser o succe ore. legitimo.
dos apostolos. Não são maÍis o~ herdeiros d.aqueUes que
for.aro encarregado por J esus Chri to de o·overnar a ua
Igreja. Separa.do ela autor.idade pontifical e anathema-
t izados p elo supremo pa. tor a quem fo i mandado qu e
apascenta e o verdadeiro r eba·nho, Ntão, dora avan te,
sem communhão com a dynastia apostolica : ' o que

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A IGREJA PHOT E TANTE

explica abalmente a e terilidad do c1 ma no p onto


de i :ta da O'raça da antidad . ·P or cionsernin te, a
Igreja ci mati a n ão póde pretender p ca r acter d a
apo toli idade.
'l'iremo ao·ora d tudo quanto pr ede uma conclu-
ão O' r al. Longe de p ·-suireon o conju1J1cto do ignae
ou aract r qu d vem, o·m'lldo as intençõ do d ivin o
fundador, ev1den iar a erdad ira IO'r ja a todos o
olhare a ociedad i mati as do Ori nte e da R u" ia
não po·' uem n nhuma d· a. nota 11 ce aria ·.
ão t ~ m a 1~nidad d doO'ma e d O'OV i»no; são
totalm nt d pr ovida da · tres manife taçõe xt ri·ores
da v rdadeira sant'idad não tendo nem o h roí mo da
vi r tud n em milaO'r , n m fructo .d conver. ão; não
po su m a catholicidad d e pa do nume ro; afin al
falta-Ih s a apostolicJidade de ioutrina, a · ·im como a
do minist r io. E om razã pois que dizemos: O iSillla
grego ou r rus o não T pre nta no mundo a iedad
chri·-tã esta b le ida por o :o Senh or e p elo · aposto los.
Ha muit temp o qu e o bom se11 ·o popu lar tiro1u e ta
·onclusão. Qu em fóra d·os paize em que domina . ta
r ligião, tev · jamais a id éi a ele ·e 1ornar s ismático greo·o
ou ru so, p r ·onvi · ão por a mor ela ve rdad. • ou da
sa ntida<le ~ E ta J gr ja separada pó l -.s r um objecto d e
·Ul'io. iclad e c.le e ·tudo para o inv e~t i ga} r es; porém ,
fi ca sem int re ·.e orno m peri 0 ·o pan o: cr nte..

' APIT LO lV
.\ IGREJA PRO 'l'ESTA TE .\o É A VERDADEIRA IGRl!:JA
DE ,JE . rtRJSTO

Dcfi ni çfo do prot e tantismo . - Divisão da male ri a de te cap itul o.

155. - P el nom d l yr ja prot tant e, designa-


mo · a d ifferen t ita 1uc a 101 taram a r forrna reli-

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280 A T G R E J A

giosa do seculo XVI. Luthero inaugurou o principio do livre


exame e da interpretação individual da Biblia, e per-
mittiu a cada um acreditar no que j'll'lgava encontrar
na palavra de Deus, sob a inspiração particular do
Espirito Santo. Era abrir uma via muito larga a todas
as crenças passiveis; e, com eff eito, o livre exame fez
surgir uma multidão de opiniões religio as as quaes,
todas, se abrigaram sob o nome de reforma. Chama-
ram-se tambem protestant es, porque, em 1529, o impe-
rador Carlos Quinto, para remediar as desordens susci-
tadas pela reforma, prohibiu qualquer innovação em
materia religiosa, e os principes lutheranos protestaram
contr a essa deci ão. As vezes, tambem, os protestantes
ão app ellidados hugwemotes, de uma palavra allemã
(Eidgenossen) que significa «confederados por jura-
mento.»
Hoje, as seitas protestantes ão inntuJneraveis, e não
podemos n em estudal-as, nem discutil-as em detalhe.
Contentar-nos-emos com dar a conhecer os tres ramos
principaes do prote tantismo, que, pelo nome dos perso-
nagens reconhecidos como chefe , se chamam Igrejas
liithierana, calvinista e anglicana; em seguida, agrupan-
do-as sob o nome de Igrejas protestantes, provaremos de
modo summa.r io e geral que ellas não são a verdadeira
I gr eja de Jesus Chdsto, porque não possuem os caracter es
que o divino fundador attribue á sua Igreja.
ARTIGO I
Noção das principaes Igrejas protestantes, lutherana,
calvinista e anglicana.
Origem, noção e constituição actual: 1.0 da Igreja lutherana. ;
2. 0 da Igreja calvinista; 3.0 da Igreja anglicana. - Observações
geraes. ·

156. - J. Luthero na cido na Saxônia, em 1483,


entrou na ordem dos A.gostinho e chegou a ser doutor da

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NOÇÃO DAS PRINCIPAES IGREJAS P ROTESTANTES 28 l

universidade de Witemberg. Em 1517, sentido de que o


papa Leão X , deixando de lado a ordem dos Agostinhos,
confiára aos Dominicanos o cuidado de pregar as indul-
gencias concedidas aos que, por suas esmolas, contr i-
buíssem p ara a construcçã:o da igreja de São P edro de
Roma, Luthero com~ou por atacar os abusos das indul-
gencias, os quaes podiam ser r eaes na Allemanha · em
seguida, a dout rina mesmat <las indulgBncias; finalmente,
o doO"ma do p eccado original, a justificação e •os sacra-
mentos. ·
O papa condemnou as theses impregnadas de erro
do frade r evoltoso, e este appellou para o concilio; dep ois,
recusou admittir a autoridade de um e de outro, preten-
deu que cada um podia interpretar a Escriptura sagrada
a seu modo, éScreveu contra o purgatorio, o .culto dos
santos, o merit o das bôas obras, p regou contra o celibato
dos p adres e os vot os monasticos, autorizou o divorcio,
a bigamia, o aque dos conventos. e, finalmente, a esta
apostasia deu o nome de r&f orma.
Era evidente que semelhante doutrina levava á :ru.ina
e á de truição da religião pregada p or J e us Christo ;
mas lisonj ava o orgulho e as paixõe , dirigia-se a um
p ovo cuja f é e costumes já estavam abalados: gr angeou ,
p ortanto, numerosos adeptos na AJlemanha em primeiro
liugar. Dahi, espalhou-se pe]a Dinamarca e p elo norte
da Europa. Numa as embléa convocada em Augsburgo,
em · 1530, por Carlos Quinto, os discípulos de Luthero,
sentindo a nece idad de pôr um ymbolo em lugar
daquelle que acabavam d'e destruir, r ediD"iram sob a
inspiração de MeJanchton, uma formula de profi ã:o
de fé, conhecida sob o nome de Confissão de A11gsb1trgo,
que e tornou a senha d lles.
, .As formulas de fé e multiplicaram na Igreja luthe-
rana, e hoje é difficil dizer qual é ·eu dogma. Mas a ua
constitluição religio a é muito simples : Luthero conservou

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282 1 G R E J A

o acerdocio aboliu o piscopado uppr1mm o papado.


omtud o, o acerdocio de Luthero não ' nada do acer-
docio de J e u om effeito egundo elle,
qua lqu r homem ' acerdo p r i o me mo que tem
fé em J e u hri to. A ume e larga a funcçÕ€ a er-
dotae . á vontad . O lut her ani mo r ecebe do rpoderes
t mporae a ua con tituição civil ou admini trativa.
Ba ~ante e palhado no norte da Europa c ntral, conta em
Fran a un. 30.000 partidario . Não xi na Europa
m r id.i nal , n m tão p ouco na \.merica latina a não ser
por fracçõe diminut · proveni ente d em igrante .
157. - II. Cal vino na c u m oyon (Oi ·e), em
1-09. B em qu nomeado ·ura de Marteville e depoi de
P oint-1 'Evêque, nunca r cebeu a · orden . Partidario das
id 'a . luth eran ru , aibandonou a França e r etirou- para a
lli:sa : prim iro para Ba iléia. m guida, para G ne-
brn. onde contava poder dogmatizar mai livre-
men te. Tomand o de Luth ro o prin ipio do livr exam
de te xtr ahiu um p r ot tanti mo norn. m livro por
elle publi ado m l 36, ·:ob o titulo d Instifaição christã,
r :um mai: ou m no.· a ua doutrina. Encarece muito
erro. de l mt hero: a ju tifi ação o-ratuita, a on equen-
cia do peccaido ori ginal. O monge allemão cons rvára
o a erdócio; ah•in o não quer nem papa n em bispo
nem ac ·relotes, ma-: . ó mini tro. preo-adore cada
um póde h o-ar a . er um dell e deixa r de o r : ba ta-lhe
uma delega ão. Não ha 1DJa.i: c-er emonias nem culto
exteri or! A ord m foi uppre. a e alvino con ervou
·omente a ceia. Luther o não pudéra deixar de reco nh cer
a presen~a r eal de J e ·u.. hri. to na Eu bari tia· alvino,
porém, a r ej ita: na c ia não vê mai qllle uma lembran ça
e na comm unhão apenas uma mandu ação pela fé. De
Genebra, onde dominava oro de. poti mo feroz alvi no
espalhou ua icléa pela u a um pouco na Fra.nça,

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NOÇÃO DAS PRI CJPAES IGREJ~~S PROTESTANTES 2 3

ma prin ipalm nte no Paize Baixo , ua E " c eia e na


Inglaterra.
Hoje o calvinismo prop1famentE' dito exi te q u asi
que Bxclusivam nte na uii a e na Fran a. Não t m
1

v erdadt~ira con titui ão r eliofo a . ..A.h i dogma flu ct ua


in cert o, á m er cê .ao livr e exa m e; não po u j erarchia ,
pois que o sacBrdoc io e o epi ' copa lo foram abolidos e
que todo hom em é minist ro. \ Igreja •alvini.'ta recebe
elo. goYerno1" a. ·ua con titui ção administrativa. Xa
Fran ça, o decreto le 1 d e G ·rminal. a nn o X , exige
6.000 ·arvini . ta 'para f'o rni ar nm con ·i:•torio. 'in co
igreja. 011 . i toria e: form:-im ·ut111 s~- no clo. Al (· m disrn ,
ha em Pari" nm conselho ·e11tr a l eo mpos to el e L5 mem-
bro , e a faculclai l el e th ologia ' Hlvin is.ta a hi f u i·ona
com a faculdad luth er a na . Em Monta nban. acham- e
U!1Tl • minario e uma fa uld acl e calvini . ta s. E -ta seita
prote tante conta na Franr;a 91 co1i. istorio e 572 pa to-
res ou mini tro. p ara nm n'l.1Dne ro <lr partidario. que
chega mai ou rn€'no. a 720.000 .
158. - III. H c11riqn l Ill , r i da lnglat rra, a
prin ípio ombateu n e rgi ·am ente a r e forma cl Luthero.
m livro s ripto por elle ·ontra a nova h re ia , val e u-lhe
do papa, em 1521, o titulo d e l fc nso r da f'. \. paixã
o arra ·tou primeiro ao :~c i . ·ma e em seguida á h r·e ia.
o papa lemeut vn n egá ra a Ile nriq U 1(' 1
vr.n. a li ença
d abandonar Cat ha rina el e Ani gão, s ua l gitirua po. a
pa1·a ontr ahir a amento com }urna B olena. O princip
irritacl re olveu romp er ·orn Homa: em eon quen ia,
fez-se d eclarar ·hpf ·upr emo da I g reja a.nglicana
(1 31 ). 'l'odavia , não alt erou em nada a doutrina catho-
li ca , e a ua r eforma , a prin ·ipio, f i ó cli ciplinar. Ma ·
o prote ·ta nti mo não a chou muita liffi ·uldad para
p 11 trar num pai z a,.sim preparado á r evolta. Depoi
da mort d H enrique Vlil, . n . u ce·' or Eduardo VI
aboliu o atholi i mo e e tab l u a r forma. Afinal,

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284 A IG REJA

a rainha de Inglaterra, Isabel (1562 ) , deu á Igreja


anglicana a sua constituição definitiva. Bem que lhe
impooesse o~ erros lutheranos, conservou-lhe a jerarchia
catholica, supprimindo oomente a autoridade do papa
que foi r e ervada á eorôa ; deixou-lhe a mais as igrej as,
as ceremonias e quasi todo o exterior do Catholicismo.
H oj e, essa forma constitutiva ainda p ermanece a
mesma. O soberano nomeia os titulares ás sédes episco-
paes. e deve vigiar pela conservação d o ymbolo r edigido
em 39 artigos pela ordens de Isabel. A administração
e a disciplina do clero são confiadas aos arcebispos e
bispos. Apesar dos esforços dos r eis, uma multidão de
seitas não conformistas se estabeleceu no eio mesmo do
anglicanismo.
Tal é a 'Origem das seitas Vu,therana, calvi'fl!ista e
anglicana, e taes foram, no .começo, os seus principaes
erros. Mas, actualmente, esses r amos protestantes déram
nascimento a um numero infinito de ramos menos impor-
tantes (1 ). Digamos só que, hoje em dia, di tinguem-se,
no protestantismo, dois partidos por assim dizer oppostos:
os orthodoxos, cuja doutrina s e assemelha bastante á
dos primeiros chefes; li ongeiam-se de querer conserval-a
ficando fieis a uma confissão de f éj os outros, QS racio-
nalistas ow protestante ltib{311·a;e,s, fieis ao principio do
protestantismo, não mar,can<lo limites á interpretação
individual dàs sagradas E cripturas e ao poder da razão
humana, admittem o que lhes agrada e não receiam
ult rapassar os seus predece ores.
Antes de r efutar o protestantismo em geral, demons-
trando que n ão pos ue os caracteres de verdadeira I greja,
façamos aqui algumas observações q'UJe se applicam ás
varias seitas.
1.0 Podemos con testar aos protestantes de todas as
seitas a sua origem christã. Como pódem pretender
(1) Temos os Evang eliataa , Methoài8taa, Baptúttu, etc., et c.

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NOÇÃO DA PRIN IPAE IGREJAS PROTESTANTES 285

l: a ra h\rar m c.l l'iLI.' apuro os pr ot st a ut prct n -


d ram qn a JO'rcja a th óli ·a, pcrrn nn cida f i l tl ura ut
quat r o prim i ros s c wlos, t i nh a [H r ·i l o qu Hcs
a r .' U:~ ·ita r arn . nclo ass im , cpl <' s r ia lrs ta p ala ,•r a d o
divi n o fun 1ador : « Ei s qu c>.' tou omv0sc t od os os. cli a '
até a on •11mm a ·ão d · scC' ul os » A vl,,; ta l i~ · o, · prol s-
tant , inrn g in aram qLll' r ra m 01; h r n l ir : ou " U · e · ·or s
elas an tigas seita.-; cl H 1· O.'i D ona t ist as, .Pelao·ia nos,
lVIani ·h ur; até os lbi gcnsrs, \ aldens. , lht::~ i l <k M.a.,
ha el e formar um a l"' r r j a ]l ' l'P('ltt , co1n hr r ·ia '
qu n ã tôm · nll{'Xão 11r nl111 ma um as ·o m ou tr a
l if f r r m C.'.' C' n ialnw nt c '
.\ l'i na1 <.l os an te·pns'->a lo.. cl ' q u ' s • h on rn -
va 111 , os i1111 va ] r ' n '11u1 H' i<t lll a lllll il f i lia ·ã Y r ronhoR a
m ntir . ,; a e f'i c Hnt L" ciuz id oc:> <1 (".~ ( l' s1 1blcr l"uig io: pr l n-
l •rn q ur hou n ' se.m11", no !W io d a Ig rej a •a(h oli ·a, ·cr to
num ·r cl j ustos esco ndid os qnc p ro l'C\-;sava m, Ptn scO' r lo,
s i r inc ipi os ela r ·l'on na . !\ la..., .itdos {'sco ndi lo · n ão
p óllem eo n: t ilu ir a Yir>i cl · g rn rnl ' lg rrja d ' ,) (\' li
( ' hr is t i . «C' orn . perg u n ta lhss ud , 1itl miltir ·un ia l " r ja
C'Hto1Hl itl a, Jg n·ja · 111 pa ·tor 's, Sl' lll pr "'ªU l' '-'>, ~c m f '
S (' lll SêH'1'1111l l' llt os, ri unndo ,Je:-; n · C' l1r i: to r 1 11ou ao u
após t ol os qu ' i rl'g"il."Sl' ll\ ct su a llout r i na sobr' o: LPllrnclo.'
no m un d o i nt , ir J !»
Pnra nilo (•H h ir rn todas \<;: a e nsrqu n eia~ a bsur-
d as, os r -rc rn111d o:-; t ivr rn m q ur acl opt ar o :yste ma l

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286 A I G R E J A

J uri u que faz consi tir a I greja de J-esu 'hristo na


reunião de toda a Igreja christã.s. Mas, neste ca.so
d que rv e a reforma. E e a confis ão não é uma
prova de que o protestanti mo não possue a visibilidade
perp tua da v rdadeira Igreja?
2. 0 Outra ondição que pertence á natiwreza intima
da r lio·ião fundada por o o Senhor, é como já dis-
. emo , a aii,torrida<k do nsino. Ora, é de toda a eviden-
cia qu o prote tanti mo não t m e não póde ter e ta
autoridade, oppondo-s a ella o principio do livr'tfl exame.
Dest modo eu pa tores, longe de de empenharem o
I apel de enviado d e Dem não· t~m n em !Dle.smo o de
prof ore porque, deipoi de ter m exposto o seu
parecer sobre a Yerdade religiosas, devem, para ser
logicos, concluir empre a im: «Tal é a convicção que
me foi iMpirada pelo E pirito Santo: si elle vos di ser
a me ma ou a, acreditai no que vos en~ ino., sinão, tendes
que r ej eitar a minha doutrina.» Aliás, e e ministro
cr erá amanhã o que elJe prega hoje~ Não ha de duvidar,
depoi de r eflexão mais seria~ Sempre o Espirito Santo
in pirá-lo-á no m mo entido? Com certeza, não é a
0
melhante eMino qu s·e applica a promessa do
alvador: «Eis que estO'U! cOlmvo co até a consummação
dos eculos,» nem ta' outras palavra· : «Quem vos ouve,
a mim ouve! » j
.ARTIGO II
As I g r ejas p r o testa ntes não t êm o s ca r acte r es ou nota ii
da verdade .
Applicação ás Igrejas protestantes dos quatro caracteres: 1. 0 a
unidade; 2. 0 a santidade; 3. 0 a catholicidade; 4. 0 a apostolicidade.
- Conclusão.

1 59. - O histórico que acabamos de fazer das


diver as seitas protestantes já nos revelou um vicio de
origem: não provêm directamente de J esus Christo.

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OS PROTESTANTES NÃO TJl:M AS NOTAS DA VERDADE 287

Pudemo tambem notar outro d :f ito : o principio do livre


xam , ba e do prote tanti mo, é a ruina da autoridade de
en ino, indispens.av .l · a qualquer r eligião e esp cialm nte
estipulada p lo fundélldo r da R liO'ião ooristã. Mas a
R ligião v r-dadeira nece ita de caract res videntes,
ac-ce ivei ao prim iro olhar d qualquer homem attento:
ora e signaes car ac teri tico.,, faltall11 totalm nte ao
protestantismo.
160. - I. A unidade. - A Igrejas protestantes
não p o u em, de modo algum, esta primeira nota dis-
tinctiva da verdadeira I gr eja : não têm n em a unidade d
doiitrina, n em a u nidad d gov erno . Houve, sem duvida,
em certa épocas, e principalmente no principio do
prot stanti mo, apparen ia de unidade de cr ença. Foi
em prol da unidélld que e redigiram symbolo , e, em
particular, o primeiro de todos, que tem o nome de
confissão de Augsburgo (1530). Mas ha muito tempo
que e~ a p r ofi õe de fé offr ram a sor t das ou as
humana e cahiram m i~u1ina. Duzentos annos atraz,
já B o uet podia e crever a H istor ia das variações da
l g1.:_eja prot stante. E' p r eci o vêT nes.te livr o todas as
modificaçõe trazida s á doutrina p las varia: confis ões
de fé, para verifi ar o qu veiu a :er no protestanti mo
a unidade dogmatica. Ant de Bo · u t, já havia a con-
fissão saxonica (1551 ) a de Witt mb rg (1552 ) par a os
lutherano ·; a de trasbiirgo, de França e de Genebra,
com mais quatro ou cinco da fabricação do"" Sui-. os, para
os calvinistas; domas confi sões da I gr eja anglicana, duas
da Igreja da E scocia, e a de Dordrecht para a B lgica
os Paiz -13 Baixos. O me mo movimento d varia ão
continuou depois.
«E ste nome d protestante , commum a tão grande
num ro de< homens, escreveu um ministro evangelico,
Steeg, abriga muitas diversridades... Ellas subsist em no
mesmo paiz, na mesma cidade, na mesma rua. S~rão
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288 A IGREJA

diver idade de m cliocre i.mportancia ~ De modo nenhum.


ão ás v ze-3, muito grand . Póde-se affirmar altamente
que não ha 'llmi ó ponto de doutrina admittido por alguns
que não ~ eja rejeitaido por outros ou suhmettido ás
int rpretaçõ mais oppo ta ( 1) .» Es e texto, extrahido
de um relatorio official, lido m 1 67 perante 80 lll1inistro
r unido em Pari não foi contestado por ninguem. Um
hom em fica prote tant b m que deixe de acreditar na
Trindade na Redempção. Na Hollanda houve 1500
ministro· ôbr 1 00, que adheriram publicamente á Vida
de J,g iis por Renan. ob a imprn ão dê se p erigo, a
alliança evalJ'igelica tentou reagir. Quatro grandes
a embl 'a convocada em L ondr es, Pari , Berlin e
Gen bra, - esta ultim a em 1 66, - tiveram por
r ul'tado uma ex ranha confu ão: não puderam entr ar
em ac ordo obre tre artio-o fundamentae ; a divindade
de J e u hri to de appar cera da fórmula e a alliança
evangclica teve de di olver- . O protestantes da França,
r eunido em ynodo geral em Anduz , em 1872, não se
atr veram a introduzir e1 e dogma capital na uia nova
D claração le f' onde e acha omente determinado este
mínimo de cr ença : a autoridade da EscripturaiS, a
Redempção em J e u hristo e o grandes facto chri tão .
ma fra cção do ynodo, - cerca de um terço - recu ou
me mo admittir a declaração e retirou-se para formar
l o-r eja liberai autônomas e di: id ntes.
O partido que permaneceu orthodoxo, teve em
Reim , no mez <le maio ·de 1905, um synodo officioso.
Impotent para crear a •uinião, m mo entre os imembros
pre ente . limitou - a onvidar oo seu partido : a inter-
pretarem a declar ação de Anduze na plena liberdade da
ua con iencia chri~ tã. »
( 1) R~açiio do sen hor Ste g, publi cada no jornal protestante: L $
• dis ciple du Oh.rist, 15 d'° maio de 1867.

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NÃO TftN'. AS N TAS DA VERD OI:: 2 9

Por orus gujn , hoj - o pro · tan ismo t m som nte


·az 1:ta tot ' 'l'I ns ! 'I'anta

são incapaz
(1) E cho do Synodo d e R eima, 1905.
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290 A IGR.EJA

Um.a santidade que não existe no interior: com effeito,


os principios da r eforma tendem igualmente á ruina da
moral e do dogma. Para os protestantes, o homem é
salvo pela fé: ne te ca o, as bôas obras são inuteis e a
unica r egra de conducta se r e ume em praticar o que
parecer bom. Ora, não ha criminoso qu<e não possa escorar
com e ta maxima o seu actos mais culpado . Que se
ha de r esponder áquelle que pretende, com Luthero, não
ter liberdade moral ? i o homem não é mai senhor da
sua vontade, não póde mais haver heroisrrio na pratica
do bem, como não haverá mai limite na fraqueza e
decadência. Por i o, a im como o confessam os mesmos
pr.ote tant , entr e elle não e acham aquelle fieis de
um e .outro exo, que e con agram a Deus de modo
ab oluto para instruir os ignorantes e alliviar o infelizes
com uma dedicação que ó é inspirada pela devoção e
pieda,de.
O cel br e prote tante Leibnitz (affirma-s(j qii,e mor -
1·e ii catholico), admirando. todas a dedicaçõe catholicas,
não podia deixar de gemer obre a e terilidade do protes-
tantismo que ainda não produziu mn verdadeiro
mi ~ionario uma unica irmã de caridad . omtudo, não
queremos dizer que entre os protestantes não haja nem
méritos, nem virtudes. Ha certamente entre eJles, como
em toda a parte, alma virtuo as e chri ·tãs, ôbre as quais
a bôa fé e a sinceridade attrahem grande. graças de D us;
mas nem por i o deixa de er verdadeiro que o prote tan-
tismo nunca e atreveu a comparar o antos com os
heroes do hri tiani mo.
Aliá , já . e notou que o~ m lhor dentre o pro-
testan acabam qua i sempr por convert r ao
catholici mo: o u amor in ero da v rdad é habi ual-
mente recomp nsado pelo onheci mento da verdadeira
fé, e a virtude o encaminha para o Catholici mo. Pelo
contrario, si acontecer, ás vezes, que certos catholicos
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OS P ROTESTAN'l'ES NÃO T~!II AS NO'l'AS DA VERDADE 291

ua
,
l:L'

ão

da lo f m e r-
m io natmra
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292 A I O R E J A

de qu dispõem a seitas prot stantes ~ - Segundo as


eGta ti tica mai r ecentes, a di ver a naçõe.s protestantes
teriam nos «pa ize infici » 93 2 op er arios apostolico ,
dos qua e 5233 ·.só p or 00111ta da I nglaterra e 952 r etri-
buido p la ociedade alle:mãe (1) .
A itu ação delle ,é das mai va ntaj o as: cada um
r ecebe um ·ord nado minimo de 2500 fra nco na Ame-
ri ca e d0 6000 fran o na A ia; ·.si fô r ca ado, recebe
ainda 1000 fra ncos mais 500 francos p ar a cada um
de u fiU10 . Muita.,,. vez também o :missionario
pr ote tante accu mul a a f1un çõe o ordenado·,,,.
Numer osa sociedad prote tantes fornecem . soc-
corr o · e m io.,,. d propaganda. A So iedade bibUca da
Inglat rra por i .,ó ga ta annualmente para este fim
4 milbõe (is to é, mais de 9000 francos por rnissiona-
6 conto m nweda brasi~e ira ) . Si a este n u-
centaTmos a quantia dadas p or out ras
·ocieda<les h o·a- e a um tota l ann ual de 3 milhões (2)
a pôr em paralklo com o ete .milhõe alcançado pe-
la m.is oe catholica". m mi ionari o anglicano, o
senhor Bu h anam, t:mha, pois, r azão em dizer , faz al-
guoo anuo , nu·Ill(<l r elação official: «Nenhuma nação
tev j amais para a exten ão das sua cr ença , tão
gr ande .meio e facilidade ·.» ccr ecentemos ainda que
a mi.s ões p rotestante ~ não trabaTham sinão ob a pro-
t ecção do nacionaes de qu dep endem e á sombra da
ua bandefra .
Ora, com todos esse elem entos de bom exito, a que
r e ultado chegou a p r op aganda pro testante~ H a p ou-
cos anno.,,, di zia. o bisp o an.;li ano de alisbury : «De-
claro, p e.saro o que o no ·o. mi ·ionari os não têm bom
exito (3 ).»
(1 ) Am i uario pontifical, 1 905 .
(2 )
(3) Vê r os do cu mentos nuthê n ti cos d ados pelo cardea l i nglês
\Vi sema.n , nas su as Oonfer encia$, t. II.

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OS PROTESTAN'l'ES NÃ O 'l' ih C AS N O'l'AS DA VERDADE 293

tamb m laração· d
lndia : «Hoj , diz-.,, . b


nom .»

t r -ão omple tament mo-


pr ote.~ tantimo ? E ' pre i o,
para a r edital-o, e ·pera r por anna · ..;eriam ent re-
digidos. m rip t r p rot tant , num li v ro intitu-
lado: Agonia do prot sta ntismo, p utl e d clarar que
·ôou a h ora ela mort para a Ig r eja d Calvin .» o
m . mo temp , o d nt or Brü hn r na \.llemanha, dis-
corri a obr a d acad ncia do prot tanti mo e o doutor
Ew r , n a Ame ri a, pr -gava . obre o rnáu exito do pro -
t estantism o. A s -ita , 1 rot e. ta nlc: .,ão poi:, nd mna-
da por aqu lle, m smos qu teri am mi: ão de d f n-
d 1-as. "~ · u~·, fru tos el e c nvc r" ão, muito tl i · utiveri ·,
ão aliás longe ele ·co n~pornl r a·os r cc m· o. ] qu
dispõem os l a 'tores e nis. ionari os ir >le~· t:rnt s, e por
onseguintR' tem s dir it d ~h · oril"e ta r , on ante:,
dq lh n gar o -6Un ] erda k
162. - JTí. A catholicidad . - O prot e: tanti.;mo
não forma u ma o ·i eclad atholi ·a ou uni ve r al. om
effcito, cacla rn1 a ela nas s itas, con id rada s parada-
m ntc, 'ape nas co nli ci cl a num ca n to do globo n nhuma
póde les<> nv olvcr >;em . clivi lir a inda. O lu th r anismo
cc up a .,.ó part e ela Allrmanha elo nort da Em·op a
não pa s.·ou das frontei ra a qn tinha h o·ado durante
a vjda <l eu autor. O alvini mo p rmanec u tacio-
nario n a uis. a, na E co ia e m algumas provincias da
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294 A IGREJA

França. O anglicanismo, é verdade, penetrou, com os


seus missionarios, nas vasta.s colonias inglezas, depois,
na America e na Africa; porém, está longe, como
acabamos de verificar, de ter feito a oonquista desses
paizes.
Não se póde, r ealmente, considerar como .urna só
Igr eja um amontoado de seitas que não têm entre si
laço algum de crença e de aidrninistração e se anathe-
matizam umas ás outras. Comtudo, por excesso de
condescendencia, adrnittamos que o pretestanti mo, em
geral, não forme mais que uma unica sociedade; assim
mesmo, e tará ainda muito afastado da catholicidade da
Igreja romana, em relação ao espaço e ao nitmero .
Com effeito, os protestantes são desconhecidos em
varias grandes nações da Europa: Espanha, Italia ; são
pouco numerosos na F rança, na Turquia, na Grecia, na
Russia e no paizes balkanicos. A' excepção das Indias,
não têm províncias na Asia; na Africa, não occupam
sinão as regiões recentemente colonizadas pelos I nglezes
e são quasi ignorados na Oceania, exceptuando a
Australia. Na America, dominam apenas nos E stados
Unidos, e nos outros paizes têm adeptos só entre o
emigrantes de paizes protestantes que pouco a pouco
desappar ecem na massa do povo catholico; ei quanto á
catholicidade do espaço.
Quanto ao numero, a inferioridade do protestan-
tismo é ainda mais notoria. Ainda que a e tatistica já
citada, dando 166 milhões de protestantes, fosse exacta,
a I greja romana, por si só, seria ainda muito mais nu-
merosa que todas as seitas protestantes r eunidas,
Em presença desses dados, é permittido perguntar
aos protestantes, quando rezam o symbolo doo apootolos
que elles conservaram, o que entendem por e tas
palavras: «Cr eio na santa Igreja catholica,» e si pódem
applicar este artigo á suas seitas?

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OS PROTESTANTES NÃO T.êM AS NOTAS DA VERDADE ~95

163. - IV. A apostolicidade. - Ponhamos o pro-


testanti mo em confronto com esta apo tolidade exigida
por J esu Christo, a qual comprehend juntamente a
doutrina e o ministerio.
Em primeiro lugar, o protestantismo não tem a
apostolicidade de doidrina. Com effeito, os apóstolos,
escolhido por Jesus Christo tran mittiram só uma fé,
os me mo sacramentos, o me mo culto, condemnando
a divisõe , o scisma , as heresia , collocando-as no rol
das obras que ex luem do reino dos céus. Ora, os
prote tantes terão a mesma fé ~ Não, pois que todas aJS
va riações da Igreja protestante ão motivadas por pontos
de doutrina admittldos por uma seita e r ejeitados por
outras.
Sobre este artigo fundamental do hristianismo, a
Eiicharistia, quantas diver gencias no seio do protes-
tantismo! O lutheranos r econhecem a presença r eal d e
Jesu Christo na Euchari tia; os calvinistas a rej eitam;
outras seita a interpretam a seu modo. Somente sobre
este ponto, surgiram, no seio do protestantismo, mais
de vinte interpretações diff erentes : então será possível
dizer que todas e sas itas ficaram apostolicas? Notam-
se as mesma divergencias a r espeito dos sacramentos:
certo prote tantes admittem cinco sacramentos, outros
tr s e outros omente o baptismo. O anglicanismo con-
e1'vou as ordenaçõe a jerarchia cathólica; Luthero só
r econhece o sacerdocio; para o mini tro, Calvino exige
só uma delegação. Onde se ha de achar ni so a doutrina
apostolica ~
Afinal, cada seita protestante arranjou um culto
do qual são eliminadas as imponentes ceremonias que
a Igreja recebeu dos apo tolos. P or .conseguinte, não
se póde pretender que o protestantismo t nha a apos-
tolicidade de doutrina.
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296 IGREJA

Não póde n em tão pouco, r eivindicar a apostolici-


dade d 1n1:ni t rio. E . ta dis emos, con iste na succes-
ão ininterrupta do · bi p o obre as éde·' e tabeleci-
da pelos apo.stolo ou por us u cce :'or e legitimos,
egund o a 1 muolamento instituic1 0 ou Ganccionados
1

pelo eh fe ·d a I gr ja universal. Ora, ·é evidente que


nem Luthero nem alvino n m H enriqu VIII per-
tencem a e ta ucce.. ão. Luthero inaugura o eu mi-
11 i ·te ri p ela r evolta ; alvino H enrique \ III não
r eceberam a ordenação • acerdotal. Ao chefe do pro-
te -tantismo a todos o ministro da-:;; diversas seitas,
podemo , poi , dirigir ta palavra de Tertuliano aos
innovadores do eu t empo: «Mo trai-nos a origem das
vo a Igreja a ordem e a succe ão do vo os pastores,
de modo que po ·ais r emontar até o::; apo tolo ou até
qualquer d e homeru;; apo tolicos que per everaram
até o f im na communhão do. Arpo tolo , visto que é
a ·' im qu a Igr j a verdadeiramente apo tolicas jus-
tifica m que o ão.» E tambem se pódem applicar a
todo o prote' tante a palavra que santo Optato de
Mil vo escrevia dos. D ona ti tas: «São filho sem pae ,
di cipul o em me tr{' , ucces or es sem predece:ssor es,
pa tor es sem r ebanJ10 .»
Dir-se-á ta lvez qu e, na falta de ucces ão aposto-
lica oo chefes do prote tanti mo r eceberam immediata
e directamente de Deus a mi ão n ecessaria para refor-
mar a Igreja, como ão Paulo para trabalhar na sua
fundação~ - Ne te ca o, mo trem-no·.s ellBS os seus
títulos; dêm prova da divindade da sua missão! «Sim,
repetiremo com Tertuliano, mostrem elles por que
autoridade exercem a mi ão que e attribuem; próvem
que J esu.s Ohri to lhes d eu o poder de faz er milagres:
só aJS.Sim é ·que r econhecer emo os verdadeiros apostolos
de J e us Christo.»

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OS PROTESTANTES NÃO 'I'tM AS NOTAS DA VERDADE 297

I gr e-

toda e a.s

n-

e 1) Or cá /u1vbr d. r uni\ d I RJJl4 trr


(.!) I ui

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298 A I G R E J A

caminha para a unidade religio a. O. Estados Uni-


do contam hoje 14 arcebi··pos 78 bi. po catholico ,
ajudado por mais de 8.000 a erdotes e regendo um
numero uperior a 20.000.000 de fiei . Na Allemanha,
a ciencia r ligiosa traz ao eio da Igreja catholica, os
e p irito mai recto e os coraçõe~ mai hone tos. E'
de rer que as n~çõe protestante hão de chegar ou ao
Catholicismo total ou ao racionalismo e a-0 atheismo
total: não é i o tambem uma demonstração evident
de qu a verdade não e.;;tá no prote tantismo, mas sim,
uncamente, na v rdadeira Igreja d J e us hri to, que
é o atholici.mo ( 1 )~

CAiPlTULO V
PREROGATIVAS DA IGREJA EM GERAL
E tado pr ci o da questão. - Divisão des te capitulo.

164. -- No ponto a qu e chegamos, resulta das nossas


preced nt demonstrações que só a Igreja catholica.
ronwna permanece de pé, ó ella póde arro tar o confronto
da ua con tituição pre ente com a vontades explicitas do
fundador divino do hristiani mo, apresentar, ella só,
a notas ou ca racter es a ignado por J esus Christo á
(1) Eis um quad ro que mostra claram ente o augmento da r eligião
ca tholica, durante oilo annos, qu er nos paizes mixtos da Europa, qu e.r
no p a i1.es de mi ssão : Em 1895 Em 1903
All eman ha . 18 . 000.000 20.321.141
Ingl a te rra e Escocia 3.200.000 5.500 . 000
H ollanda . . 1 .650 . 000 1 . 790 . 461
Russ ia 3 . 335.000 11 .3 26 .804
Suissa . . 1 . 400.000 1 . 383.135
Indo- hina . . 790.77 2 1 . 036.165
China 670.000 76 2 .000
J apão 47.000 56 . 321
Africa . . . . . . . 3 . 200 .000 3 . 028.404
E tndos Unidos da America do
Norte . . . . 10 . 000. 000 14 . 000. 000
F a ltam dados certos do Canadá, das Antilha s, da Australia, da
Turquia e da India.
Os numeros de 1895 são ertrahidos de La Vera Roma (1897) ; os
de 1903 provêm da Est atística do mesmo anno feita pelo P. Krose.

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s A A U T O R l D A D E 299

, a a ntida<l • a ·atboli ida 1 , a

tã aO' ra m lir i t ú
r nb r qu Ih . falta o

rtos di-

Al g uma.·
(' Hi [} ral · u -
. \ arn 8 8liu·-
u e . ivam n .
JDm 'J)l' im iro lu glu", r ·o nh • mo á l greja, m r; ral
lua.· g-ra nd · pr r ()'ativa · : 1. a ant rida.cl no g v mo
d · fi ' i>;· 2. a infallibil·idod c 11 C'n sin .1a doutrina
H' I ig iosa. ~s t u cl de. e d is clir iLo u privi l gi s
s r á o ohj lo d s dois arLi gos

ARTIGO l
Dn a ut ori fl udl' <lu l gn•jn no gove r n o <lo fi ' is.
J. al ur zn <l 'Hla :wl oriclad : locln spi rilu a l. - 11. Dlroilos
qu ~ã o :t ro ns qn n ·ia d ll a : J .0 Pod r do nS'i no; 2. 0 pode r d ml-
niMIC'ri j 3. porl r cl g V rn .

165. 1. E ' ·e rto que a l g r ja r


ci o 1-;r•11 f'un lacl r a1 1t riclacl inteira e J l(• na i1 0 gov rn
cl ()s f'i eis. Co rn o pro vas <li.'-'.'O, sô qu<' r rn s a.· palavras cl
osso f-ir· nh t· já muitas veí\ •s ciladas: « ss im como m u
l'ac m •n vi u, u Larn b em vo nvio.» ( . J oão, xx, 21.).

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300 A I G R E J A

Todo o p o d~r m foi dado n o c ' u e na terra: ide, pois,


in trui toda as naçõe ensinando-lhes a observar tudo
quanto ll' mesmo vo confiei.» (S. Math . X.X.\TIII, 20.)
Jo n ino dogmatico ou moral, a autoridade possuida
p ela Ig r eja, é a amtoridade meSJna de J esus Christo que
.·tá em pr ·om ua Igreja. (S. M ath., Ib .) a admini -
t r ação dos fiei 6 a mesma au t oridade divina que é
commu nicada á I gr ej a : «Tuc1o quanto tiv rdes ligad o
obr e a te·r ra, ser á li ()'a do no céu. » (S. Math., x vm, 18.)
«Quem Y·O ouv , a mim ouve; quem v.os de preza, a
mi m d preza.» ( . L ncas, x , 16. ) «Tratai como rnn
pagão e um publican o aqu elle que não ouve a Igrej a. »
( .Mat h., L '\'.VTII 17.)
P ortanto, ' p r eciso re onhecer qu e J esus Christo deu
aut·orid ad á ua Ig r eja . A mesma razão nos diz que
a im devia r , porqu:e, d ~ el e que o Salvador fundava
uma so ieclade r eligio a, era p r eci o, p ara lhe a egu-
rar a exist encia o prin cipio nece ario da autoridade.
\ em p elo. textos do Evangelho, que esta vontade de
Je u hri sto ' expr sa for mal.
Ma qual ' a natureza de ta autorid ade da I gr ej a L .
ertament d ve · r da .me ·ma ordem que a missão
qu e lhe fo i confiada. Ora a ua missão, e, por conse-
guinte a . u·a autor idade, é, antes d e tu do, ei&pir itual .
Todavi a, e ta mi .. ão e applica ao homens, e a con -
dição da I greja ' viver no meio delle , participando da
. ua xi tencia t emporal. Dahi nascem r elações de-
licadas e, ~ ~ veze , complica<las, entre -0s interesses
esp i rituae~ e temp·orae .
Comtudo, em pr incipio, os d oí poderes espiritiw.l e
t nipornl ão distincto . J ·esus ChrilSto mesmo os dis-
tinguiu, diz ndo, n uma cir cums tancia memoravel:
«Dai a Ce ar o qu é de Ce·,:;ar , a Deus o que é de
D eu .» ( . M ath ., LXIr , 21 ; S . Lu cas, x x, 25. ) Os apos-
tolos p r egaram a mesma .d:outrina (S . Paulo, Rom.,

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S U A A U T O R I D A D E 301

xm 7 · a on lharam o r es-
peito ao pod r tab le ido. a tradição reconhe-
ceiu te prin ipio da di tin ção do p d re . Nada
mais exa to ·ta liu uao-em d Ju -
tin.iano na homens o
a rdo io o 1mp r1
a ou a divina o
humanas.» Muit
lembrar a

Latrão, mesmo.

p o rqu ~ a autorida<1 e. piri tual da


ousa tt'mporaes, a ociedadcs
á. ' - z~ con ideral-a como rival
ua attltud l ara a Igr ja pód
alliada, ou
i a Igreja
part governo humano~,
0 ·rata 1 or e.5 apoio e o ap rov ita. para bem
d&S almas; :i ncontra r bo tilidad , r clama nergica-
ua l iberdade e o: u direi to , e offre a
per ·e"' Ut ao c•oim paci n ia es1 rando por dia .melhor e ,
que empre acabam por eh gar. Mas a indiffer ença
·erá po ivcl ~ Em th ori a ·im; na pratica, não. E' o
qu demon tra a história do pa ado. E se na hora
pre en te, fala-se de s pa,ração da I g1,eja e do Estado,
al'm d r a r ejei ão c1 urna allian a an iga de 1
· ulo. e f.e unda m ben ficio. , ' para r ar qu , sob
o nom d epar a ão, es onda r alrnente o sy tema ela
op 1 r c~· ão la l g1· ja pelo E. tado. Eis porqu a Igr ja
' opposta a sse pr.incipio q ue cl esaipprovari a 0om menos.
en l'"'ia, si o. governo consenti m a lhe deixar, como

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302 A IGREJA

nos Estado Unidos d a America do orte, a sua indepen-


dencia e a sua liberdade, porque então, pela .mesma
nece idade das cousa , se tornaria bem depre sa mais
pro pera e mai p od rosa.
166. - rr. Comtudo, a Igreja, por virtude da sua
in tituição, e p ela vontade formal de Jesus Christo, possue
e deve con ervar a autoridade espiritual. Ora, o exer-
cício dessa autoridade implica um tríplice poder : l.º o
pod r de nsino; 2. 0 o poder de minist rio; e 3. 0 o po-
d r de govêrno. Importa precisar tudo muito bem.
1.0 Poder de ensino. - A I greja recebeu a missão de
en inar todo o povo . Tem, por conseguinte, o direito
e o dever de e palhar a verdadeira doutrina, de pregar
e catechizar, manter e explicar as suas crenças entre os
povos já chr i tios, e propagal-as entre as nações ainda
infiei ou · heretii.~as. Deve cuidar da educação dos fieis,
preservando-os d~ qualquer erro, e isto, livremente, sem
que o E tado tenha que intervir nem pelo exequatiw,
nem 'Pelo placet. «Condemnamos, diz o concilio do
Vaticano, e reprov.ttmo as maximas dos que dizem que
a communicação do chefe supremo com os pastores e
os rebanhos póde ser legitimamente impedida, ou a
tornam dependente do poder secular, pretendendo que
a cou as e tabelecidas p ela Séde apostolica ou em virtude
da sua autoridade, t êm força só quando estiverem con-
firmada pelo assentimento do poder secular.» ( Constit.
dogrnat. De Ecclesia, I , c. m.)
O bispos têm, por direito divino, a obrigação de
proscrever a doutrinas iperversas, os má;us livros e tudo
quanto poderia prejudicar a fé: desobedecer-lhes nestes
pontos, eria desobedecer a Jesus Christo.
i a Igreja r eivindica todas 3as liberdades da pa-
lavra e do ensino, não é para impôr ais suas doutrinas
pela força; não, ella respeita a. liberdade de consciencia:
expõn a verdade e deixa os homens livres de acceitá-la.

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s u A U T 0 B l D A D E 303

A s irn 1)1'0<' d J\ p : 1olo:-i


r 11 111 OI' ou Lor
~ 1 mio ~,(' n ií, s cl v lf111 '1 1r <1 a
abw:; qu 1l n, ud rnn a.
2. 0 Podrr éfi

( S LI t 111LO, 1 r OV(' l' ft8


gn~íto lo J1v1rn g 1111 .

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304 A 1 O R E J A

pela origem e pela le tinação; est1ío baseada em direitos


tanto mai · inviolavei que são o fructo da caridade dos
fi ei ; não e póde 1 var ôbre ella mão violenta sem
praticar uma injustiça e um sacrilegio, e os homens que
della são unicament · o dep o itario não 8S pódem
alienar n m dellas e d e fazer.
Ha uma differen a e encial entre possiiir cousas
t emporais na qualidade d proprietário, e governá-las
0omo oberano. A I gr eja reivindica o primeiro desses
direito e .não ~ez mai que a ceitar o egundo no de-
cmrso do ulos. H oje, porém, e te direito de sobera-
nia não é nem meno incont tavel nem menos sagrado.
O papa ~ão oberano legitimo de E tado que lhes
p rtenceun, não somente por virtude de uma prescripção
de quinze ecul , mas por d ir eito de doações regulares
a signada por P epino e arlos Magno, p elo direito das
naçõe acc ito por toda a Eul'Olpa que, assim como
raciocina Bo u t, via n esta soberania a garantia da
liberdade espiritual da Igreja (1 ) . .Assim, comprehende-
se que o. · papa qu não ão, afinal de contas, sinão os
depo itario d te poder temporal, r eclamem a i:ma
manutenção, 0oom-0 é seu direito e dever.
3.º Poder de gov erno. - Por essas palavras, enten-
demos o direito qu tem a Ig r eja de se administrar. Em
virtude d te p oder chamado tambem jiwisdicção, a
Igreja faz tres cousa : 1. 0 Provê á administração r e-
ligio a do paizes fieis, e mesmo d.o ~ christãio di persos
no meio das naçõ ainda infi eis; 2. 0 promulga leis;
3. as egura a execução das mesmas por penas coerciti-
0

va . Eim tres ipalavras, o poder d e go,erno é adminis-


trativ o, 'legiSi1,ativo e coercitivo.
a) Para administrar os paize fi ·i::,, a I gr eja, por
meio do papa divide o imperio chri tão em d1'oceses, e
(1) Para m a is -a mplos d etalh es, o leitor p ód e consultar o nosso
Estudo do t omo IV, cap. vnr : O pode r temporoJ. dos pa.pas .

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S U A A U T O R I D A D E 305

a dio e em paroch'ias. P ar a go vern ar a dioce es, . o


papa non1jlia o bi po ·: é o eu lir i to pe. · oa l e propdo
i não h ouver con ord at a m o. Efiea nclo . ta r gra; o
bi jJ por ua vez nom eiam o U'Ígár io · para a dminis-
trar · par.o hia : ' tamb m o . eu direito pe·' oa l e
próprio, fóra o ca o de on e - con corclatá ria s modifi -
cirnd o e . prin ipi o.
No. paize infi 0i;;, o J1ap a., 11 favo r cl s chri tão que
alli p óc1 em l'l 'b a r, estab0l vicariato o post-oz.icos cuja
jurisdi ~ão ' ntregu a bi spos in pál'tib 11.s infid'lúii,m.
E t , p r ua v z, co nfiam a sa rd t e- a nxili ar e , ou
mJJ s 1011ario um a part el a ua juri lic ão. E a inda em
virtnd <lo m mo p o 1 r admin istra tivo q ue o papa em
t oda a loTeja e os bi po ' na na. dioc ap provam
ou ü1 -titu m a ord ns ?'cligiosa' •OU a~~ omniuntida<l ,
so iedade particiu·l a r0 basl'a<l a. obr a prati a d o
on elho eva n geli s. D e1 ois l e lh es ter ela lo e tatuto;;;
a l O' r ja a torna. . ob a ·ua JH'ot0e ·ão, def n 1 eu direitos
r laima para ll a a libcr ]ad e da vi r tu le e d . acri.fi cio .
b ) \ l O'r -ja elll virLud c d o seu l ir eito legislat·ivo,
1 ó l e promulO'a r 1 is ' d 't:rPtar p r c cito obri ga torio
p ara s f i i . E ·t cli r e it l é ext' r ·icl p elo papa e pel
con ·ili o O'("ra · bl" o · ch r i:tão tlo mun l o inteir : clahi
o mandam nlo ' da I g1· ja.. bi ·po. póclem igualm nte
lar - tat nt lavrar leis e rf'g ulamento;-; para a u·a
fü ese
qui z Nos ·o

eu

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306 101.ZJA

a
tm
trad

CJa

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S U A AUTORIDADE 307

do exercício das funcções agrada e da .,,epultura christã;


a outras ão t&rriestres ou fornporaes, tendo por fim
emendar a alma com a dôr impo ·ta ao corpo, muitas
vezes cau a ou cumplice elo peccado. Estas p enas afflicti-
vas são a priva,ção do bens e da liberdade, as penitencias
corporaes, etc.
Quanto á p ena espvritua,~s, quem poderia criticar
o uso dellas 1 Em direito, não s ria uma deri ão pretender
que a Igreja deve guardar no eu seio membros que a
ridicularizam, des.prezam, insultam e não querem nada
com ella 1 Na realidade, a historia e a xperiencia nos
mo tram que qualquer soei dade t eve mpre o direito
de rejeitar o subdito r ebeldes, a Igreja e rmostrou
sempre mais clemente qu toda a demais ocie.dad
deste mundo.
Pelo que diz r e p ito ás p ena 'tternporae , a Igreja
é que d eve julgar da opportunidade de a applicar
s gundo o tempo, as circum tancias e os povo . Mas, em
principio, é pr ci o r econh e r que a I greja manda a
ser humano composto de corpo e alma, e, portanto,
póde pungil-os por um duplo gladio: o que fere directa-
m nte a alma e o qu para attingir a alma d modo in-
dir cto, fer o orpo. A I greja sempre 11 ou tanto deste
gladio orno do primeiro e di o temo a prova nos câno-
nes penitencia s elos primeiros s culo , nos estatutos e
ànáth mas do concilio , etc. oncilio de Trento reco-
nhec expr amente te direito á I gr eja ( ess. xxv,
cap. m ) e ' pr ci o confe~ ar que d llc usou no decorrer
elo seculos, ó para manter a j1u tiça e o direito do fra o
contra o forte, para alvaguardar a moral, a santidade
do 1matrimonio a liberdade das consciencias christãs e
a ind p nclen cia do povo contra os eu oppres ores.
Tão se d ve lançar na conta da Igreja o que é da respon-

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308 A IGREJA

sabilidade das instituições humanas. Si, por exemplo,


E tado ' catholicos em certas época , julgaram dever
ela sifícar entr o crim ' a heresia ou a magia, e decretar
penas contra os rebelde , como culpados contra o bem da
ociedade, a Igreja não é r sporu;avel da everidades do
poder e ular.
i hoj , a I 0 Teja. ;por cau a da~ diffict1ldades e da
circum. tancia . e mo tra mai conde cendente, i o não
é uma razão para condenmar o que era o eu direito
no pa . ado, e poderia ainda . er o eu dir ito no pr ent
no futuro. Bento XIY, 110 eu rescripto Ad assídiia .
(1759 ), Pio YI n a, bulla izu;torem fidei (1794), Pio
IX no yllabus (l 64, propo ição XXIVª ) condemna-
ram formalment a opinião que recu ·a á Igreja o direito
de. cmpr gar, endo pre isa , a fo r ça exterior.
'l'a - são os dir ito privilegio da Igreja no
ensino, no nii1i1'.sforio e no gov erno dos fieis: tudo i ·o
r e ·ulta da plena comi leta autoridade que recebeu d e
. u fundador para cumvrir . ua mi são e anctificar as
alma: ·. Um cl'ip tor .prote. tante do eculo passado
Guizot, clL e ela 'Igreja catho1ica romana: «E ' a maior
·ola de r e.-;peito qu te11 ha appar ecido sobr a terra.»
Com dfeito, nes:a J crreja ·ó e conhecem dua cousa : a
autoridade e o re peito; a autoridade no que mandam
e falam em nome de D eu ; o resp ito n que ão o · disci-
pu lo · .,,u bditos deis a a111toriclade.
A I oTeja romana impõe o eu en ·ino com autoridade,
exerce com autoridade o eu mini terio anctificador
ord ena om autori iacl · o que ' moral e bom; e todo o
qiue q uer eun ficar seus <li cipulo e filh o· ouvem a "'ua
palavra, r ecebem a ua direcção, obedecem ás sua leis
com ubmi ão e re. peito: ' ó com esta condição que
permanecem cathoüco .

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S U A I N F A L L I B I L I D A D E 309

'J0 ARTIGO II
lnfallibilidade da Igreja no e n ino d a doutrina religiosa.
I. Iniallibilidad : em que eonsi te. - II. ua ne e sidade. -
III. Promes as clivina . - IV. Em qncm r eside a infallibilidade
onelusõ s.

167. - I. A infrillibilidad nt ndida no u ntido


geral é a impo ibilidade d enO'anar. E ·ta palavra,
applicada á Igr ja ao u nsino expl'im a imp o ibili-
dad em qu a ha a v rdadeira iedac1 fundada por
J esu · hri to, de profe ar n i.nar o -erro. temo ,
ant de ma· nada, qne infallioilidad não é a me ma
cou a que irnpi3ccabil1"do.d . ~ inf allibilidad o pr1V1-
legio d não pod r enganar-·.se no n ino; a imp cabi-
lidade ria o privil O'io de irnn a ommett r p cado;
ora, ta preroO'ativa não pertenc á IO'r j a e não foi
objecto de prom e a alguma. primeira pelo ontrário,
foi dada á I gr eja não em tud e para tudo, mas im n a
e phera m que d v ua m· ão i to '
no e11 ino da verdad
lamento d·o O· tumes e á di:s iplina o·er al. Fóra d es
ponto a Igreja não O'oza da infalUbilidad doutrinal;
ma , obr e ta qu tõe , é impo~ ivcl qu a sua cr ença
a ua deci õe , eru ino. S€'jarn contrario á
verdade.
168. - Til. infallibilidad no en ino ra n ces-
ária á I greja; com ffeito, a simples razão a reclama
tanto como a fé nol-a eo ina . Qual d via er ôbr a t rra
o papel da I grej a? Era, m primeiro lugar, guardar
intacto o depo ito da Rev lação. Para que ella pudes
in truir o mundo e para que e t não e tran via no
erro, D us lhe confiou a verclad na ua palavra cripta
e in pirada. DBixa11do na mão da I areja e te l eposito·
agrado, Deu lh devia ·uma a i ten ia p cial na guarda
infallivel da R velação, para imp"di r o erro de alterai-a.

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310 A IORE.JA

nh or afiançou
á ou r a o a inão

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SUA lNFALLIBILIDJ:.DE 311

modo, seria preciso clizer qrue No o enhor qu iz preci-


pitar todo o mundo na mentira: o que seria um abrmrdo
e uma pla phemia.
2. 0 Quando mandou os eus Apo tolo pr gar o Evan-
gelho, o Salvador lhes di e ta palavra, já muita vezes
citada: «En inai a todas a naçõe. ; eis que estou 0om-
vosco até a consumma ão do seculo .» (S. M ath .,
xxvm, 20. ) Ora , ta palavras: «Estou com' o co,» indi-
cam uma a istencia po itiva de Jesus Chri to, a i tencia
que os aeompanhará na ua mi ão de apo tolo , d modo
que os pov-0 deverão acreditar nelle como m Jesus
Christo. Além disso, o alvador pr,o.mette e tar com
elles «todos os dia ,» i to é, em internupção, até o fim
dos seculos. E ta infallibilidade deve, poi durar tanto
como a Igreja.
3. 0 São P aulo diz por sua vez: «Â ' ua I gr ej a, Deus
tem dado apó tolos pa tores, doutores para que chegue-
mos tod os á unidade de uma mesma fé, e não ejamo
como menino , impellido pnr qualq<ufü vento de doutri-
na.» (E ph ios, rv, 11-15.) H a, por conseguinte, uma
autoridade estabelecida por D eus para .m anter a unidade
da fé. Ora, como eria mantida es a unidad necessaria,
i os que têm por mi; ão in truir e dirigir pucle em cahir
no erro? São Paulo r e0onhecia, poi , implicitamente a
infallibilidade de a I greja que a1hures elle ,c hama «a
columna e o fundamento da verdade.» (1 Tim., ur, 15.)
170. - IV. Mas m quem reside o privilegio da
infallibilid ade? E xceptuando são Pedro e os papas, seus
successores, - os quaes r eceberam prome as especiaes,
assim como v remo mai adiante, - o privilegio da
infallibilidade doutrinal não foi dado a nenhum bispo
em particular. A premes a dirigia somente ao coUegio
dos Apostolos r eunidos, e a sua ef ficacia persever a
somenw no corpo dos bispos seus suocessores.
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312 A IGREJA

Póde portanto, a ontec r que um e até muitos


bispos cabiam num err o contra a fé : isso, infelizmente,
a,conteceu com bastante freq uencia, visto que a historia
no ensina que as her ia·' foram m ui ta vezes occasio-
nada cm propaoada p o.r bi ·pos seduzidos ou enganados;
ma · é impo ivel qu a I greja inteira se engane sobr e
um ponto d utrinal. e te modo, a defecção de certo
numero de pa tore-' i1ão imp ede a Igr ja de er infallivel
e o privil gio da infallibilidade permanece para a unani-
midade moral dos b · p o . ..,
171. - V. D ê e princípio geral, importa tirar
conclu õe particulares e preci as. P ergunta-se: mas
quando orno a Igr ja goza e u a do seu privilegio de
infallibilidade . Para r e ponder a esta questão, é útil
conhecer uma di tincção feita desde muito tempo p elos
theólogo .
Notam elle dua maneira de conceber a infallibi-
lidad : bamam uma a infallibilidade negativa e outra
infallib1'lidade positiva . Eis por xemplo, que a I greja
e acha di pera pelo univer.,,o. Acontece que sobre um
p nto de doutrina, re11 a ou moral, o papa e os bispo·
en inem actualmente a mesma cou a. Ser á possivel que
a unanimidade moral ou a maioria dos pa tores esteja
no erro . obre e te ponto . Não, r e pondero os theologos,
porque No o enhor prometteu tar com os Apostolas
e os bi. po ., ·eu ucces or , «todo o:s dia. ,» até a con-
ummação do eculos. Ora, a Igr ja não póde e tar
con tantemen reunida em assembléa conciliar; por
con~ eg.1iinte, me mo no e tado .de dispersão, ella goza
da infallibilidade, porém de uma infallibilidade negativa,
n te ntido qu de ta cr ença uniYer.,,al e unanime não
r esulta uma nova verdade de fé ou uma de~inição doutri-
nal que todo os fieis e tejam obrigado a admittir por
uma adhe ão p-0 itiva. omtudo, neste caso, o privilegio
não é meno real, e não oro nte a palavra divina pemnitte

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S U A I N F A L L I B I L IDADE 313

re onh cel-o, ma a razão r clama, porqu o tribunal


inf allivel -tabel e. ido p r J us hri to deve
1

qu o rro p6d urgir cada dia ; e


e tribunal perma n nte i preci a e
r umr- ert z,a d n inar a v rdad .
Quanto á. frifa.J,libil1:dacl po diva ella .con i te em
pod u: dar s m r rro uma d ci ão dogmatica e
mor al, tornal-a obriaatoria para todo o chri tão do
univ r o ca th ' lico. rtam nt e privilégio foi dado
á Io-r ja por J hri to u funda.dor : d corre desta
a: «Ei
o-oza usa d
d ter.minada

para r umir e -ta que tã , a J.areja.,


no ta elo d d i~-p I ·ão, goza d uma infaUib?"-
n ga.tiva fl fa t nã-0 p6d en. inar univ r al-
rnent um rro dogma ti o ou moral · r unida em on ili o
geral goza u a da ua irif aUi bilidad positiva, não
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\

314 A I GRE J A

podendo, nem de direito nem de facto, formular uma


doutrina que não seja 0onforme á verdade.

CAPIT LO VI
DAS PREROGATIV~ ESPECIAE AO SOBERANO PON TIFICE

Rarzões de tas prerogativas. - Divisão do capitulo.

172 . - Do me mo modo que J esus Christo deu á sua


Igreja em geral certo direito e prerogativas que abonam
a efficácia da ua mis ão, as im quiz elle a.sseg ur ar ao
chefe desta I greja certo direito·.;; e privilegios necessa-
rio para alcançar o fim da sua instituição. Segundo a
ob ervação de Bos uet é por P edro que Nosso Senhor
começa a distribuição <las sua.s prer,ogativas. «Era
manifestamente o de ígnio de Jesus Christo assentar pri-
meiro num ó -0 que, ao depois, queria distribuir por
muitos. Ma a continuação não deistróe o principio, e o
primeiro não p erde o eu lugar, porque as ,promessas de
de J e~ u hristo, a im como os seus d ons, não têm
arrependimen o (1 ) .»
Ora, pelo facto de Pedro e tornar o chefe dos Apos-
tolas e de toda a I greja, precisava elle de uma autoridade
primeira ou principal, ou da primazia, não somente de
uma primazia de honra entre iguaes, mas de ruma
primazia de jurisdicção e governo, tal qual a p ossue UJ'.lJ
oberano; e porque P edro tinha a missão especial d€
guardar o depo ito da verdade contra o erro fazer
voltar ao bom caminho os que delle se de via~ em preci·
sava igualmente da infallibilidade. Ta ão, com effeito,
a duas prerogativas especiaes ao soberano P ontífice
1. 0 A primazia na jurisdicção e no govêrno; e 2. 0 <
infallibilidade doutrinal nas materias relativas a fé e ao~
costumes. Vamos explicar, nos dois artigos que seguem
(1) Pratica sobre a -unidade da I greja,

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PRIMAZ!A D O P A P A 315

dir ito privileO'io. do papa, o quae ão hoje


dogma. catholico . ,;dl· J<.lt,{, '
ARTIGO I
Primazia do papa.
I. primazia foi dada a são P edro: testemunhos do Evan ge-
lho. - II. E11a se transmitto aos Papas, seus successorcs. Prova-se
isso: 1.º p la raziio; 2.0 p lo ensino tradicional; 3.0 p los Concílios.
- III. ons qu neins d ta primazia.

173. - I. Ant d
ão P

povo, e
a J~

(l) J>rotira aobro a. uriidado ela. Ivr oja.

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316 A IGREJA

Chri to, confe;;; ando tambem que é .muito raz-0av 1 exigir-


se ddle um amor mai" entranhado, pois que t em mais
dignidade e um cargo mais elevado.. » (Ibi d. )
174 . - II. Ma e a primazia dada a são P edro
deve e tran mittir aos soberano Pontífices us succes-
ores legitimo .
1.0 A razão o r eclama. - om effoito, J esus Christo
tabeleceu a prima zia d um chefe só p ara manter na
I gr ja a 1unidade de fé e d e gov ruo., e p oder as im
fundar go~r ernar a ociedade hri tã.
Ma e 'ª unid a.d e de cr en a e de r egim d ve durar
tanto orno a propria I gr eja, i to é, até a. ·on ummação
do eculo"" E ' nc e ario pois que haja sempre um
chef . E preciso que o edi:fi i-0 tenha empre a sua base;
o r ebanho, o eu p a-stor · de outro modo, as promessas
divinas deixariam d e cumrprir : a obra ria incom-
pleta e ferida de morte.
2.0 E o que empre p ro lamou o ensino tradicional
d a Igreja, de de o Apo tolo até o t empos presentes,
como o provam a hi toria o e criptos do-.s doutores.
Com effeito, empr desd e ão Pedro que é o primeiro
por toda a parte, em todos o acto em que intervem a
Igreja, vem o p apa fa lar e portar-se d o me mo modo,
na qualidade de chefe dos bispos e dos fieis. Por exemplo,
quando e trata de onvocar um concilio geral, é o papa
que tem a iniciativa : é elle que convoca a assembléa e
dirige a di cussõ e . Quando urge uma qruestão litigiosa
entre os bispos é o. pontífice de Roma que a julga em
ultima in tancia. E em virtude de que dir eito ~ Porque
é o ucce -or de ão P edro e herdou seu: pleno poder.
3,0 E' tamb m o que reconhecem e proclamam os
concilios. - J.á no rumo de 325, o concilio de icéa esta-
belecia esta primazia dos pontifice romano , uccessores
de P edro. O concilio. d e Latrão, em 1215, a reconhecia
· com não menor evidencia. O segundo concilio de Lyão
(1245) tratou da reunião da duas Igrejas grega e latina.

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P&IMAZIA D O PAPA 317

riente deito

romano ucc or.»


ou ilio de Plorença dizia : «D fi-
nimo qu a anta 'd apo toli a e o pontifi e romano
t"m a primazia br o mundo inteiro, que o pontific
romano é o u0 e or do bemav nturado P dro á p ôa
do qual No o enhor Je us hri.J to d u o pl no poder
d r ger e governar a Igr ja 1wüver al, a 1m como
determinam as a ta d con ilio ecum nico o . agra-
do cânones.»
O oncilio dio · ati ano (1 70) d poi de ter 1 m-
brado e n ino d con ilio o sancciona n t s de re-
to : « i algu m di r que o bemaventurado Pedro não
foi constituído eh fe de toda a Igreja militante, não
r beu mais qu um a primazia d honra e não de
jurisdi ção verdacl ira .. ., O'U que o pontífice romano não
é o succe or de P edro na mesma primazia, seja anathe-
ma. » (' on.st. dogm. De E cciesia, cap. m e. 1 e rr.)
/ 17 5. - III . .AJ3 consequ ~ncias des a primazia do
oberano Pontifice, lembrado p lo mesmo concilio elo
\ aticano ( cap. rrr) são: 1.0 Que todos os chri tãos, pas-
tores fiei , cada um e todos, quae quer que sejam o seu
rito a ua dignidade, lhe são subm ttido , não só nas
cousa que dizem re peito á f' aos costume , mas tam-
bem nas que pertencem á disciplina e ao governo da
Iigr ja nniver al; 2. 0 que o papa póde e deve communicar
livremente com o pa tores e os r ebanhos sem a interven-
ção do poder se ular; e, por conseguinte, é reprovada e
ond mnada a th oria do que dizem qu a communi-
cação póde er legitimamente impedida pelos poderes
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318 I GREJA

con tituido e que o acto da anta sé só têm fôrça por


virtude do con entimento do poder ecular · 3. 0 qu o
oberano Pontifice é o juiz upremo do fiei , e que se
póde recorrer á sua decisão para todas as causas que são
da.competência eccle iá tica; tJ,. 0 que, p lo contrário a en-
tença da sé apostolica, acima da qu al não ha nenhuma
autoridade não póde ·er r eformada por pessôa alguma,
e não é permittido a quem quer que eja julgar a ua
determinação. Por conseguinte, não é permittido appellar
d uma entença dos sob ranos Pontifices para o concilio
ecumenico como fo e uma autoridad uperioT ao
pontifice r omano.
Ja e Yê, i. o é a condemnação da antigas dou-
trinas que tanto ruido fizeram e tanto e torvaram a
I gr eja sob o nome de GaUicanismo na França, de
J osephismo na Allemanha e de R egalisrrno na Italia.

ARTIGO II
1nfa llibilidade do Soberano Pontifice.
I. S ntido preciso de ta infallibilidade - E' pr ovada: 1. 0 pela
Escriptura sagrada: 2. 0 pela t radição catholica; 3.0 pela definição
do concilio do Vaticano. - Cousequeucias da infallibilidade pon-
tifical. - lI. Solução das objecções: 1.0 obj ecções historicas;
2. 0 objecçõe theológica ; 3. 0 objecçõe philosóphicas. - Conclusão.

176. - I. Antes de provar a infallibilidade doutri-


nal do ·oberano Pontífice, façamos aquí alguma observa-
çõe importantes e essencia es.
1.0 Tratando-se do papa a im como da Igreja, não
e deve confundir a impeccabilidade com a infallibilidade.
Entre toda as cr eaturas, a impeccabilidade ou privilegio
de nunca peccar , foi concedido som nte á ant:i.ssima
Virgem : nrunca e falou em attribuil-o ao obernno
p ,ontifice. E te p 'de .peccar ou rrar no eu procedimento;
porém, po ue a infallibilidade, isto ', nao póde, como
chefe da Igreja, enganar-se no ensino.

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!NFALLIBILIDADE D O P A P A 319

2. A infallibilidade as eo·urada ao papa não é uma


infallibilidad hiimana ma divina : é um privil gio com
qu D us o favorece, do m mo modo que o investe dos
outros poder · , e i o ·om n no exer icio do u cargo
para pre en al-o d erro no eu poder upr mo de
apa ntar ·ou o·ov mar toda a T.gr ja.
3.0 Por con eguinte, a infallibilidad pontifical não
e xtend a todo os acto n m a toda as palavras do
papa· elle póde enganar-s como homem privado; po-
d ria, fóra da ua attribuiçõei:;, cahir no erro e a elle
arra ~tar os ·o utros; por' m, quando fala como chefe da
Igr ja, e, dirigindo- e ao universo catholico dá, de modo
olenne para toda a I'()'reja, uma definição a re peito
da f é ou da moral não ·e póde enganar; é o que enun-
ciamo dizendo que -0 papa é infallivel, falando
ex cáthedra. Ora e ta doutrina ' de. fé, a im como
vamo demon tral-o: 1. 0 p ela palavras de J esits Christo;
2. 0 p ela tradição cathólica de todo.,, o tempo ; 3.° pela
clefiniçõe dogniaticas do concilio do Vaticano.
177. - I. Provas tfradas elo E v ang lho. - S m
dúvida, a palavra. infallibili dade elo papa, não e acham
no Evano·.elho, como nem tão pouco a palavra consiibsta11i-
C'Utl , para exprimir a perf ita igualdade do Pae e do Filho,
nem a palavra trammb tan.ciação, para enunciar a pre-
s n a r eal d e J esu · hri to na Euchari tia. Ma" que
importa i to, vi to que a idéa expre · a por tas ipa-
1a,yr as alli e a ha 1e modo equivalente ? Falando a são
P edro, I o so . enhor lhe dirigiiu palavras já muitas
veze·-· citada , d e que é facil tirar o entido preciso e
exacto da infallibil.idade.
1. 0 «Tu és Pedro, disse o Salvador e obre e. ta pe-
dra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno
não preval cerão contra ella.» (S. Math., XVI, 18.) São
P edro é, pois a base sôbre a qual descan. a todo o edüí-
cio da Igreja; por conseguinte, si Pedro viesse a cam-

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320 A I G R E J A

balear ou a fraquear, é a Igreja inteira que seria aba-


lada ; por ém, não é possivel ! Nosso Senhor affirma que
as p ortas do inferno, isto é, as potencias do erro, se-
gundo o sentido tradicional, nunca pódem prevalecer
contra a pedra a.ssentada por Deus: portanto, Pedro
é infallivel.
2.º «Rezei por ti, para que a tu-a f é não desfalleça.
Quando estiver es convertido, confirma t eus irmãos.»
( . Liwas, XXII, 32.) Assim Jesus Christo r ezou por
Pedro, e a pr ce de um Deus é certamente efficaz; rezou
para que a sua f é seja ina balavel, e impeça a fé dos
outr o de desfallecer. Ora, i P edro viesse a rrar, e ta
prome. a deixaria de se cumprir; longe de r eerguer seus
irmãos e firmá-lo na ' erdade, é elle que deveria ser
levantado e r eencaminhado. lfas isto não póde ser: a
palavra de Deus é infallivel, e, por conseguinte, P edro
não póde errar na fé.
3. 0 P or dua veze , o so enhor lhe d~ e: «Apa -
centa o meu cor deiros», e afinal: «Apascenta as minhas
ovelha.» ( . J oão, XXI, 15-17. ) Donde resulta que P edro
é e.,,,tabele ido pastor de todo o r ebanho, dos cordeiro e
da ovelha , dos fieis e do p a.stores, como já o dissemo .
Ora, o pa tor conduz e dirige o rebanho : é tambem elle
que o alimenta . Mas a alma vivem da verdade e não d o
erro; e si P edro viesse a en inar a mentira, não nutriria
mais o r ebanho não o governaria mais; pelo contrar io,
1 eria o r ebanho que deveria então dirigir o pastor e
fazê -lo voltar á verdade: seria precisamente o inver so da
promes a divina.
egundo e te texto , peroiuntamos: de bôa fé, qual
é o poder proprio, excepcional e upremo que Nosso
nhor quiz dar a são P edro, a não ser a infaU ibilidade
propriamente dita. D ir-se-á talvez: Mas J e us Chri to
não deu já e ta infallibilidade aos Apóstolo reunidos e
por elles a toda a I greja 1 Sim, sem duvida, porém, como

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INFALLIBILIDADE D O P A P A 321

diz Bossuet, «o fim não destró o principio,» e o Salvador


póde dar em particular a P dro o privil gio concedido ao
oll g io do Apostolo ; de tal maneira que &eTá con ti-
tuido o guarda e o ora ulo da invariavel divina verdade.
rraes ão, poi , as prom a p eia · feita. a Pedro.
Mas serão hereditaria · ? irn, r p ond emo nós, e é assim,
como vamo vêr , que o ntende t oda a tradição catholica. ~
t''1
y 2.0 Provas tiradas da trad1.ção. - Em primeiro lugar ,
' manife. to qu os motivo qu tinha Jo s o enhor de
dar á IO'reja na p ôa d e P d r o, um h fe infallivel
e upr mo, sub i t m ·om o. seus . ucc or s, , sob
p ena d fallir ás uas prom a , d via as egurar-lbe a.:;
m ·mas pr rogativa · at' a on o.rumação d o s culo .
Por i o, os Pac1r s da I gr ja, o c n ilios a tradi ção
r econheceram s mpr n papa um p od r . em r tricção
n m xam quando d finir a d mod o ol nne um ponto
le d utrina ou moral. E ra l l m adagio por toda a part
admittido qu o P ontifi ce r omano e n tinuava a r o
ÓrO'ão d o prim iro p apa in fallív l. N m io d o quint o
'culo, o papa ão L eã e r v ao concílio de Epb o
(451 ) as veirdad · qu . ão de f' a r e pito da Incarnação,
600 bi p o x la mam : «P dro fa lou p la bôcca d e
L ão: P d ro ' e to concilio
me mo : «E '

é r omana.
: om nt uma theoria : vemo , na
r ali l acl , p r toda a p ar te mpr
ã t rminac1a pela decisõ s dos
r oman . «Roma falou, a aiusa es tá julgada,»
go tinh o quando m 417, o papa Innocencio

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A IGREJA
322

I ondemnou as doutrina d lagio.


O ulo XVI

Portanto, a questão não era nova quando, em 1 70,


a 18 de julho, o oncilio do Vaticano julgou opportuno
form.!ltlar.. .nma ·definição ainda mais nítida e precisa

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1 N ~· A T, 1. I B l r, T D A D E D O P A P A 323

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324 I O R E J A

E ta xten ão não ' d .finida p lo concilio, porém, é


admittida pelo th oloo·o que nsinam io-ualm nte que
o papa ' infallivel na n l nrna .ão do. rro dogmaticos
ou mora ao quae'°' liO'a nota- o.u censnra a iro como na
canonização c1 an t na a ppr vação das ordens
reli io a .
178. - II. Examinemo ao·ora a obj cções levan-
tada , na occa iã da ] finiçã.o do oncílio, contra a
infallibilidade do papa. Entre e a obj ções, alguma
ã tirada da hi' tória, outra da th eolog1·a outra· afinal,
da pr t nsa ra ão philosophica. amos p ercorrel-as
u cc i am nt .
1.0 Ob j cções hi'forica . - ão acham, na ihi toria
da Io-r ja, papa , qu e falliram na f ', orno Liberio,
T ·ig1'Uo e particularmeut JI011orfo, que foi condemnado
p r um concilio g ral Y
R. - ão d d d zoito ul a f ' empre per-
man ceu üita ta na 'd cl P dro, e o poucos factos
ob uro iiwocado infirmam m nada a infalli-
bilidade pontifical.
papa Lib r io (357) t ria r ealment ub cripto uma
formula favoravel ao ariani mo? Bo u t a im o acre-
dita utro o u o·am. E pelo meno , uma que tão con-
tr v rtida ~e r e oh r . Mas a opinião dos
qu negam, par e tanto mai v ro imil, que o catholicos
da época de Lib rio não j1ulgaram que esse papa fosse
ulpado ou fautor d her ia. om effeito, emquanto
ond mnam p elo juizo mai sev ro a memoria de Os.io
d órdova, l o-ado do papa, é para extranhar que os
bispo o povo TOmano tenham rec bido triumphalmente,
depoi do eu xilio, um ummo Pontífice cuja queda
tivesse sido celebrada pelo ariano como uma victoria.
A ser r al, e a qu da não teria pas ado de percebida
entre os catholi cos.

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INFALLIBIT,IDADE D O P A P A 325

Aliás, mai tarde, Bossu t upprimiu, nos eus es-


criptos, quanto di · 'ra da pret n a queda de Lib rio e
lle me mo conclu que ainda mesmo que te papa
tive subscripto uma formula duvidosa, i ···o não
n tituia uma defe ção ôbre a s' d de Pedro: com
.ffeito a to não on tituia lllJl1 en ino dogmatico
dado ao mundo x catheclra.
)J Vigilio (53 -5 -5 ), não ndo m.ai que diaconu, ce-
d u ás in tan ia" da imp r atriz 'rh odora, a eitando o
papado om a on li ão d admittir na sua communhão
A.rnthimo, patriaT· ha uty biano d on tantinopla, e
r j itar as d i ~es do concilio g ral r unido naquella
idad . Foi , om f.feito, leito antipapa, em 5 7, viv ndo
ainda ylv rio, o papa legitimo a quem ell e f z exi lar.
omtudo, d pois da morte d e pontiE.ic , a ua eleição
foi validada ( 53 ) .
1' D escl e · · momento r ej eitou com indignação os co m-
promis o:s pol' ll . ubacripto quando diacono. Portanto,
o eu x mplo lono·e de p d r ser invocado contra a
infallibilidadc doutrinal do p ntifi ce ' romanos, evid n -
ia e ta prot e ·ão li vina que não permitt á. portas
do infern pr va l c r contra a cad eira indefe tiv 1 de
Pedro .
Quanto ao papa H onorio (626-6:3 ), ell tinha, numa
arta dirigida a 0rgio, patriaroha d 'on tantinopla
e _particlario d h r ·ia monoth lita, u. ado de palavra.
déma iaclo bran las, julo·and o io a inopporbuna a
qu i:; tão LI ita la no ri cnt a r . p ito do monoth li mo
( uma ·ó vontad , uma só opera ão em Je ·w hr~ to ) .
\ ua ·n rta pn r ~ · , p ortanto, não ter ido uma condem-
na ·ão f rm a l ela hc·r e ia na c nte [Ue tanta fferv s-
e" º ia d \'ia pr <luzir. O : xto con illo umeni o (3.0 de
on tantinopla , 6 O) , con 1 mn u o m.onotbelismo e
Honorio omo her g .

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326 A I G R E J A

A esse respeito, observemos: a) que a qualificação


de herege não tinha então o sentido rigoroso que lhe
damos hoje. Honorio não foi sinão indirecta e involun-
tariamente fautor de heresia, isto é, favoreceu-a por seu
silencio; sua fé, porém, foi sern;:pre orthodoxa, como
resulta dos .,,,eus outros escriptos e de todo o seu proce-
dimento. b) Bossuet reconhece que nem todos os bispos
tinham sido convocados para o concilio de Constantinopla;
por con eguinte, este não era absolutamente ecumenico,
e só o veiu a ser em virtude da parte que nelle tomou
o papa; em segmida, as senten(}as de um concilio geral
são irreformaveis ó na medida em que o papa as
approva, e é certo que nunca os papas trataram Honório
como herege. O papa Agathão, que dirigiu o concilio,
pelo contrário, o desculpa des ·a accusação; nota somente
a negligencia delle em abafar o erro. e) Afinal, ainda
que Honorio tive<> e sido justamente condemnado como
herege, não e poderia, nem por isso me mo, tirar desta
condemnação um argrumento contra a infallibilidade
pontifical, porque, na sua carta, que era completamente
privada, Honorio declara expre amente que não quer
dar, obre esta que tão da unidade de vontade e operação
m J esu Christo, uma definição dogmatica: reserva
po ·itivamente esta solução, julgando-a, no emtanto,
inopportmna. Por conseguinte, aqui ·não ha definição
ex cathedra; apena se poderia dizer que Honorio en•ou
como doutor particulaT.
, 179. - 2.0 Objeções t heológiws. - 1. 0 «A escola
theológica, dizem algun , era muito dividida obre a
que tão da infallibilidade pontifical; i to prova que esta
infallibiliclade e tava lono·e ele ser evidente.»
R. - Já di ·semo que não er a definida ante do con-
cílio do Vaticano; portanto, bem que ·certa, podia ser
discutida. Mas si exceptuarmos a scola gallicana, póde-se
dizer q1U.e toda a theologia, -com santo 'fhomaz na sua

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IN~'ALLIDILlDADE D O P A P A 327

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IGRE.tA

contava 34 prelados obre 135 sédes episcopaes qrue havia


então na França, e 35 sacerdotes delegado;:; do clero.
Examinemos agora es8€s quatro artigos.
O primeiro- e t~pula que o reis e o soberanos não
são submettidos a poder algum ecclesiástico na ordem
t emporal, e não pódem ser depostos n em directa, nem
indirectamente. O segundo é uma adhesão aos decre-
tos - aliás não approvados - do concilio de Constan-
ça na IVª e Vª sessão, a re p eito da superioridade do
con ilio sobre o papa. O terceiro quer que o poder apos-
tolico seja regulad o pelos . antos cânone , o que aqrui
significa pel<ts iisanças da I greja de F.rança. O quarto,
afinal, pretende que o julgamento do papa é irrefor-
mavel só quando é ratificado pelo consentimento da
Igreja; o que vem a ser, na r ealidade, a negação da
infallibilidade do papa.
Mas a Declaração de 16 2 foi condemnada por Inno-
cêncio XI, que a declara improvada, abrogada e annul-
lada; p or Alexandre VIII, que a declarou ig1ualmente
de pleno direito n1tlla, invalida, iUit oria; por Pio VI
que, na bulla Aiictorern fidei·, a qualifica de t ernercuria,
escandalo , injiiriosa para a santa sé. Mais tarde,
Luiz XIV a revog ou por um decreto, e o proprio Bos-
suet, d epoi de a ter defendido por muito tempo e com
vigor, acabou por abandonal-a dizendo: Ab eat qi/,O
li buerit declaratio! I sso não impediu, é verdade, o go-
verJ"o imperial de l apoleão I de t entar fazel-a revi-
ver nos Artigos orgânicos, pretensão r enovada depois
durante o segundo imperio. Mas i o tudo não con -
titue uma autoridade th ologica.
Póde-se affi~·mar, pelo contrario, que theologica e
conciliarmente a D eclaração de 16 2 não tem valor
nenhum. A assembléa não era rum concilio e era des-
provida de autoridade. Além dis o, foi condemnada,

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!NFALLIB!LIDAD E D O P A P A 329

fóra de França, por toda as cola s theoloO'ica , assim


orno pela santa 'é.
omtudo, o gallicanismo achava ainda alguns par-
tidario entre o bi po franceze que se filiaram á
oppo ição, no 0oncilio do Vaticano, quando se tratou de
proclamar o dogma da infallihilidad . Todavia, em pre-
en a de tantas luze originadas da di cussão, não se
atr ev ram mai a ata ar o fundo da doutrina ; valeram-se
el o argumento da inopporfnvni&de de uma definição
doo'matica. I o não impediu o 0on ilio d eguir avante,
, pelo voto de 532 bi po , contr a dois só que votaram
non placet, a infallibitidad pontifical foi pr-0 lamada
doo·ma d fé. Todo o ' opponentes s apre. saram em
dar a sua adh ão á defini ão conciliar.
E a im que o galli ani mo, que fôra uma opinião
livl'' emquanto a Igr ja não se pronunciára, que e tor-
nára uma opinião ttf/lneraria e erronea por ffeito das
ond mna - pontificaes, eri a hoj , depoi do concilio
do Vaticano, wna verdad ira h r sria. - 1
180. - 3. 0 Ob j cções p hilosóphicas. - A razão
humana v m, por ua vez, oppôr as sua difficuldade ao
dogma da infalllbilidade pontifical.
1.0 « papa é um homem, diz m cer to , e como póde
er infalli v 1? Pôde r um máu papa, orno admittir
ntão que a erdad infinita p rmaneça no u labio ?»
R. - omo já a· mo muita v zes, não é em to-
d.a a ou as q1u o papa é infallivel; goza da infallibi-
liclad ó em d t rminada·' cir um tancia e condiçõe ·
al'm di , a infallibilidade não é a impeccabilidade.
m duvida, m mo r trin!rida á verdade dogmaticas
e morai a infallibilidad é um privilégio con iderável
Eriamo a é um poder temiv 1 i fo e o r e ultado da
natur za, da razão da força do hom m. Por is o o
atholi o não diz qu o papa ' infalliv 1 de uma in-
fa llibilidacl h11111G11ia.• ma im de uma infallibilidade

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330 Â IG REJA

cl1'vina. E ste privilegio, ré Deus ,qu e o concede e é tam -


bem Deus .q u o guard a e preserva de qualquer êrro e
a bu .·o. \ . im, ·onform e a declaração feita por Pio IX
perante o concilio, no dia mesmo da defi nição, «a au-
tori la de do sum.mo Pontífice é gr ande; porém não
de ·tr oe ma. edifica ; não opprime, ma'S ustenta, e, muitas
vezes, defende o direito do. 1b i~ po .» ( .Allocução de 1 de
j nlho.) Accr cen temo q ue não é mais difficil á acção
de Deus pr e er var do erro a um homem ó do que a 600.
Ora, o oncilio, qu . e compõe de homens falliveis indi-
vidualmente, ' infallivel ollectivamente só por força da
a" i tencia do E pi rito Santo. E é tambem o E spírito
Santo que conserv a o papa na verdad . Se o privilégio
da infa.llibilidade parece consideravel, não o é mais que
o d - absolver o p eccado e onsagrar o corpo e o sangue
de J e. u hristo. Ora, a ordinação sacerdotal dá ao
ultimo do sacerdote esse. admiraveis p oder es; será
mais surprehendente qiLHl a eleição ·divina de um summo
Pontífice lhe confira a infallibilidade do ensino ?
~ 2.° «Mas, accrescentam ainda outro , em nome da
razão humana , para que duas infalli bilidade,s, p ois que
a IO'reja é já in.fallivel ~ E si e-.ssas du as infallibilidades,
a do concilio e a do papa, vie em um dia a contradizer -
se . » ,..
R. - .Não h á ilxiias infallibilidad s, uma attribuída
ao concilio, outra ao papa; mas só dois modos de con-
ceber o ex rcicio da infallibilidade na Igreja. Ora, de-
pois da infallibilidade do concilio, a infallibilidade do
papa é ainda u ti l, á vezes necessaria, porque a infalli-
bilidade collectiva não se pócle exercer sinão com certa
difficuldade. Não é empre facil reunir um concilio ge-
ral ; com tudo, a cada in tante a Igreja póde se achar
em fr ente de um erro, e, até qu e fosse possível r eunir o
concilio, esse err o teria t empo de prevalecer e alastrar-se.
H a, p ois, conveniencia soberana, para não dizer neces-

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l N FALLID r LIDADE D O P A P A 331

lt .
111n .. , l·01wi lio f'oi j ui :,1, d •stn qtws tão (!<'
(' ~' 1111 quasi t111animiclade do bi: p. pi'
l'oi p1·0 ·hrnrnclo, ~ qu
lia irim d . .'l' fl ·har miuit
qu1• tk in m rc. ui lar dH
os c·at lt 1i · s . e rios não J o 1ia ltavN, r , m1 r ai iclad
ltc 11v1• dt l'l' "ÍÍ . Ri n tlefini ·ã la infall ibilida]
clc> pr '1l':do Íl :-. ita l os l ho cal holico'
1ilgun-; 11·1111.-\'ialo: . nií l c•:,1, nrni: qu
t l'Íg'<, e· 1t >.i<· M vf> q\H a lgr ja rorn 1na, 1 or ctll t.·a d
1log-n111 , niío . fl't"ll p1" juií'. n l·~um a1)r ·inv 1.

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332 A IGREJA

Quanto ás srw;ceptibilidades inquietas dos governos,


faltam-lhes absolutamente motivos e bases. A procla-
mação do dogma da infallibilidade pontifical não altera
em nada as relações da Igreja com os Estados catholicos:
como a I greja se mantem no dominio do dogma e da
mor al e ·te novo artigo não póde prejudicar a politica.
Só a Religião se acha interessada nisto, e si a autoridade
do soberano Pontífice é, depois desta definição, mais
respeitavel e mais r esp eitada, os governos serão os pri-
meiros a beneficiar de um r espeito e de uma submissão
que, mais dia menos dia, se extenderão t::into á autoridade
temporal com o á autoridade espiritual. Esperemos, com
a Igreja, que esta definição, longe de prejudicar o pro-
gresso do individuo e dos povos, marcará a época de
uma v:olta seria á prosperidade pelo r espeito ele qualquer
autoridade e qualquer lei.
Um homem eminente da no sa época, o autor da
Refor·nia social, o senhor Le Play, presentiu maravilhosa-
mente a effica·cia desse gr ande r emedio. Comprehendeu
que a I greja, fortalecendo a aiutoridade do seu 0hefe,
trabalhava d modo eminente em prol do tempo presente:
«Meu caro amigo, dizia elle, a um opponente da definição,
não tens razão, ustentas uma causa ruim. A infallibi-
lidade é a mais alta expre. são do principio de autoridade.
E ' um dever par a nós, ainda no ponto de vista social,
acceitarmos e apoiarmos essa proclamação( l ).»

(1) Etude sur Le Play , pelo padre B aunard, p . 437 .

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,...,
CONCLUSAO
18 1. - A

( 1) Bougn1Hl, I're/nciu do tomo IV, l 'Eo lw .

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APPENDICE A
ESTUDO SOBRE O RACIO AL1SMO E OS ERROS MODERNOS
DELLE ORIUNDOS

/ I ',' Preambulo. - Divisão deste estudo.

182. - Muitas vezes, no decurso dos tratados que


compõem este volume encontramos o racionalismo, entre
o adversarios com que tivemos que luctar, o racionalisrno
com a sua obj ecções e suas negações. Sempre que o
deparamo , desacreditamo as ua doutrinas e r espon-
demos á nas objecções e duvida .
Mas, ' preciso convir que o racionalismo é o maior
erro do t empos modernos; é o inimigo declarado do
Ohri 'tianismo. Com effeito, a Religiã,o chri tã tem por
base o sobrenatural: o racionalismo, pelo contrario, é
a glorificação da , razão humana com prejuizo da Reve-
laçã,o e da fé . Em 1864, Pio IX, na encychca Qiw;nta
cu.ra e no SyUabus (Prop. 1-xrv) , denunciára ao mundo
e te grave erro, fonte de tantas n egações. O concilio do
Vaticano (1 70) delle se occupou muito, fulminou como
hereticas a theorias racionalistas, e assignalou, como
perigo principal da nossa época, «es a doutrina que,
afa.cando a Religião christã por todo os meios, porqu
e ta é uma in tituição obrenatural, tenta, com grande
ardor, tabelecer o reino do que se chama a r azão pura
e a natureza, depois de ter arrancado Christo os~ o
Senhor da alma humana, da vida e dos costumes dos
povo . Mas, accre centa o concilio, a Religião christã
sendo a. sim abândonada e rejeitada, Deus e seu Chri to
negado::;, o e pirito de u:m grande numero cahiu no
aby mo do panthei mo, do materialismo, do atheismo, a tal
ponto que, n gando a me. ma natureza racional e toda
a r egra do direito e da justiça, se esforçam por destruir
as bases da sociedade humana.» ( Const. DEI FILrus.)

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Jt ' 0 '1' E hlP01tAN E O 335

6 o inimigo
do té no eio da
r a ionali ta ;
nfraquec m

A.RTI I
E . po içíio g 1·111 do Raciona lism o conl. m pora nco.
T. r ig rn ou a.usa s iut ri or fo ra i na1isrn . - II. ua
histol"ia,. - IIT. TJ1 oor ia g m l do Ra i na lismo ont rnp r an co.

183. - J 1• ' n ovo ; pód -s


om ff ito, t r s

ntra a au tor i-
admittir outra
da razão in di-

.º A li-

im1 m.

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A P P E N D I O E A
336

3.º Outra au ·a do racionali mo, ' a ignorancia da


Rel·igião christã. Não a onhec ndo inão de modo up er-
ficial io·norando a ba obre a qua d cansa esta
Relio-Íão divinamente rev la<la; por outro lado, não
ouvindo inão ataques aos quae não se abe responder
por falta de imtruc ão r ligio a, julga-se o ·Chri tianismo
inimigo da razão e do progr o, acaba- e p-0r adoptar
o ra ionali mo. Ei o que francam nte reconheceram e
conf aram homen de bôa f' , que um e tudo mai
acurado da Relia-ião cbri tã fez voltar á luz. itemos
entre -0utro Jo ' Droz, m mbro da cad mia franceza,
que conta a ua hi toria no livro : Avei1 d im philosophe
chr 'ti 1. • \go tinho Thi rry, que começava uma revisão
d u erro quando f i urprehendido p la morte, etc.
a gêne e int rior e prulo ·óphi a do ra ionalismo e
ao-ora a ua origem hi tori a.
184. - II . .A.s duas primeiras causa que assignala-
mo para o racionali mo, fazendo parte da natureza
me ma do hom em, s eus ff ito e patentearam
forço amente em toda a épocas da hi toria. E acham-se,
effe tivamente ntr todo o povo m todos os degráus
da civilização io-nae de tra ionalismo nas religiões e
no en ino philo ophico de todos o sabios.
D v mo e nsurar e forço do e pirito humano,
de provido d qualquer outro soe ôrro e tentando rehaver
por i me·~ mo o re to da v rdad , ,d a moral e da religião,
di per o e qua i aniquilad Y De n nhum modo. Note-
mo todavia, que e ~for o foram impotentes por
toda a parte a r ecowtituir um codigo de crenças e
dever . is o, Platão, ócrate , A.ri tóteles, Zenão,
íc ro 'n ca o-a taram em vão o seu tempo e o seus
trabalhos.
Quando appareceu -0 hristianismo, o mundo, que
tinha êde de verdad , achou tão admiravei e.sses novos
n ino e tão podero o os motivos de cred1bilidade que

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l~A lO N ALl S ACO 837

ncompnnlta 11rn <ltH' IH'· 'iL ll \'l.'i!I F' cvl lu ·üo · m uma
ltt :t, 11111n J' grn d· vidn . ( ' pirit 111t111n11 0 l'orrruido
IHl 'ltris t i11 11ismo r111rn11! n1uit > fr111p nfio · g ilon 'rn
1

t'l lLnr ·onLn1. >Jl · iim'i a u.·íli

' 111 l1l' <.'g'H VHJll ll


a s1111 ru ;,,ii o 1rnb:tlhn vnm I nrn
cl u 1 l1il m;ophi a e cl 1t f ' s t rim i-
r i,; Ji 1· e ' aL11 ·a v1111t .' ll '<' ssi umcnl ·nela u1n elos
dog rnas ' i11 . ·lcri o::i n 'v Indo.-;. ill ut íi.o d ise ul in-s : 11u1 ·
11 111 por i-,so l ' i :uv ~ ti Hd111 iLLi r rt lkvc• l11 •ii nssnn
·om< u uuL ridnd c da 1 •T 'ju CJ ll l' cl li a ~ dq) >si tnri11 .
Nos ·ul·o x J l iulh cro 110 l'1111d ur t t ro t r·1~ l 11 nli i; mo
l ' ll li vr 'llt'l'CÍ.ra H) 1·ac·io11 ulis 111 0. 1 ' lll qu ' nsyln 11cl o
11 n : > ua r l'o n1111 d11 s n:.; l1 c n', ÍMi pr e· d1' rd es, J ntlh 1·0
r nsc rvn va n l<.<• vt lu ·iw (' o solll· i111t urn l · 11 íí 1·rj it u
sin it n nut ori lnde d:t lg n •,j11 1• 11 tnr cli •fio. \ lt)s1· r i1 l unt
sn rr n ln J'i c• nva n 1111 i1·u rr·u1·u dl' fé, > p ri n ~i pi 1
l it1r .r11111 c 1 ' ix11v11 n i11t crp n·ln ·íío ti >:-l !<' ' tos (1 r11Y.tt
i 11 1i vi lu11 I.
\ ' iu s • ' 11t ii 11 11 B 11 ropu Rt IJ n i11o.; pi ra ·ão d •:Ra
rn:t,iio l1u1u 11 n11 o mniN 'X lrn 11l 1 l' li iíos inl l' l\('(' !u nl • r li-
g-i : <[lt t' St' p o.~,,;11 t•o 11t• 1 '" N nwio ' a ·i 11111 dt's ' HS voz •s
d i:vo r lnnl '8 or1 p; 111 011 s' 11111 a s1 il1t Jll era
1
ul i111
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A.PPEN DICE A
3 8

num ~{'n tido m tapborico. Era mais um passo dado para


o r ac ionalismo moderno.
No eculo xvnr, na ce u o de!isrno: era a negação de
qualquer religião positiva , o . transtorno completo do
sobrenatural e do Christiani mo, o reino da razão pura.
Então, o racionalismo tomou corpo, tornou-se um systema,
e se deu como adversario declarado da Religião. Este
movimento teve inicio na Inglaterra e os seus principaes
inspiradores foram os philosophos Hobbes, Tyndall,
Bolynbrocke. a França e na Europa, Voltaire e Jean-
J acques Rou seau foram o propagadores dessas idéias
novas. 'l'inbam começado pela emancipação do pensa-
mento, continual'am p ela emancipação dos costumes e
acabaram natural e forço. amente, pelo cataclysmo social
da Revolução.
Viu- e então que não havia alvação sinão na volta
ás cnmças r eligio a : o Cbristianismo reabriu os seus
templos e reencetou o seu divinos ensinos. Comtudo,
sobreviveu o r acionalismo, variando as suas formas,
multiplicando as sua evoluções, desde o pantheismo
allemão, até o eclectismo francez ; desde o materialismo
grosseiro até o socialismo, a sua consequência natural. No
fundo, é sempre o me mo principio e o mesmo erro: uma
negação tendo por r e ultado a de. ordem.
185. - III. Th c,oria geml do racionalismo contem-
porâneo - Os racionalistas actu.aes têm isto de commum
que não querem admittir sinão o que a razão póde
d escobrir ou comprehender: rejeitam pois o sobrenatural
tanto nos fac tos como na doutrina.
Em primeiro lugar, para disfarçar a maligniolade
das sua negações ou das suas exigencias, pretenderam
que o seu methodo era o dos mais illustres doutores da
I greja e, em particular de ~anto Agostinho e de Bossuet.
Todavia, entre o methodo <lesses homens eminentes
e o dos ra·cionalistas modernos, medeia um abysmo. Com

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lt A C l O N A 1, l O N 'l' ll: 11( P O R. A EO 330

11 'e ·iy i:
l ing-t111g m
s( CtlVOl -

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A p P E N D I O E A
340

· 1 m n t p hilosoph1"ca
·rmp ao f acto da ordem pura-
ment natural.
Ei a theoria ger al do ra ionali mo contemporaneo:
quanto á appli ação de e p r incipio, ella é por d emais
vru ta para qu po "'amo aqui entr a r m porm enores;
cont n ar-no -emo em r efutar mais longe alguns dos
dado racionali ta.,,, que não ivemo occasião de encontrar
no de ur o do no o~ e tudos e do quaes a importancia
e a fal idad no par em xio-i r u~a attenção mais
p ia!.

ARTIGO II
R e futa ção umm á ria do Racionalismo.

Idéa geral e meios de refutação.

186. - ão empreh n ler mo aquí uma discu ão


completa do ra ionalismo: á m did a que os seus prin-
e apre entaram m n os o caminho, já o
tudo do no o quarto volume sobre
christão a concordancia elas sciencias e
da f' . , o racionali mo ' primeiro que tudo, uma
n ga ão: não tem corpo d doutrina; egundo as circum -
tan ia , varia o eu y t ma d ataque e acha tanto
ubt rfuo-io quanta differença ou e capatorias pód
apanhar o pirito humano. im, como tentar uma
refuta ão ompleta e absolu ta
Pio JX, no yllabus, formul u 14 propo ições tiradas
do ra i nali 'ta mod rno. , ab oluto ou mod erad o , e
a cond mnou por um acto da ua infallivel e suprema
aut ridad ( 1) . Por ua v z o con ili.o do aticano depois
d t r 1 nun iado o ra i nali. mo fulminou com eus
(1) Os leitores que qu izernm profunda r essas questões, farão bem
de consultar esse docum ento pontifi cal e os com.men ta rios que delle foram
Ceit.os. P6dem igualmente ler as A ctM do concilio d o Vaticano, a constl·
tuição Dei füius, e os cânones que rematam este ensí no doutrin al.

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REFUTAÇÃ O SUhlhlARlA DO RACIONAIJSMO 341

anáth mas 18 propo içõ qu oriofo am ma is ou m no


dir ctam nt d os s us princip i exalta m exagg rada-
m nte o poder da ra zão hum ana ata am ou n gam a
R velação o mila <>'r , fals ifi am ou d n atur am o::; n i-
n o da f é cont radizem a v r dadeira r ela õe nt r e a
r azão a f'.
em 1 arti ulari za r e. t ' erros q ue no· leva riam
muito lon ge, r •sp oud r em ú
li ' mo: 1. provand o a fal ida l do p rin ip·1:0 donde se
0

ori <>' i:U n e ta th or ia · 2.0 r efutando alg um a doutrinas


g raes qu r um m o r acionahsmo cont mp ran eo ; 3.
a igu alando as in v itav is e grav< · co1t · qu ncias dest e
rro, n o p onto de vis.la p hilo op hi o mora l e ~ o ial.

~ 1. - Fa l idad do principio racionali ta llU C não passa


do Panthc i-mo.
I. 'r h oria elo pan t h i mo ::i ll cmão. - LL S ua r fu!ac;.ã.o sum-
ma ri a. - ITI. ua ndomna<;:io formal p elo oncilio elo atica no.

187. - I.

rma um ó todo
n a I ndia . Ma
I rdi 1 a 1 m-
i to é do nada

C'itaram
mund o como qu o orp o o invó-
lo hom m nma p or çã da divindade
attributo.· p or con · 'ITuint de

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AP PE N DI CE A
342

uma ép ca mais r cente, B ariwh Spinosa, j~deu


ele Am$terdam (1632.-1677 ), quiz r ee L'O'uer o panthe1smo
arruinado ~ desacre ditado, escor ando a ua demom,tração
com formula ientifica. que e r eduzem a dizer que a
ub tancia é uni a e não póde er con cebida fóra de D eus.
E. te panthei mo iibsta ncial Na muito gros.seir·o e não
1

con eo·uiu formar €1SCOla. omtudo, leu nascimento ao


panthei mo idealista do Allemães, o qual conta entre
o eu principae r epre· entantes Fichte, Schell·ing e
H egel.
Ficht (1762-1 14 ) pr t ende que o ser pensante, a
qu chama o e1i puro, é a tmica realidade, e todo o mais
não pa a d uma concepção que p lo pensamento, se
t orna o não-eu ou o mundo.
Schelling (1775-1 -4 ) tem uma t h eoria ab oluta-
ment oppo ta á precedente. egundo elle, D eus é -0
wniu erscü cib i0luto, o unico êr real, manifestando- e por
transformações pa. ageira , e orno que por apparições,
i:;ob a dupla forma do ujeito e do objecto, o r eal e o
id al, o mundo corporal e a intelligencia. Mas, num e
noutro a o a realidade pertence á sub tancia uni ca e
ab oluta e D eu ~erá completo só quando o mundo e a
intelligencia attingirern a manife tação mais p erfeita.
IIegel (1770-1 31 ), cnjo y tema teve mais influen-
cia pa r tiu de outro p1·in ipio para chegar ao mesm-0
fim. egundo elle, o primeiro principio não é mais o ser
ab ·olnto e r eal mas o ideal, qu e não é nada, m as póde
vir a er tudo. E te tornar-se ou vir a ser (-e 0 fieri) é a
fonte d tudo: ele Deus, da natnreza da humanidade,
da intelligencia e da materi a. E te principio, como ideal,
é · como não r eal, não ' . D a hi o nom de identidade dos
contrarias dado ao sy tema de H egel. O ideal, f eito uma
realidade, progride, e c1 envolve e constróe pouco a
pouco o univer o; com tudo, essa r ealidade chega á

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SlJMMARIA DO RACIONALISMO 343

onsciencia de propria . ó no hom m ou ante , na


hwmawidade.
188. - II. Não con muito paço á

e ola
rem

á razã,o · r pucrna á
b m que ou di tinct
um r p oa l não uma et
ubm ttido a le" fata · r puo-na á razã te
ystema. ' uma extranha onfu ão <l infinit
do nece ario e do contingente, do p rfeito e do imper-
feito . Ora, ' i o um tran torno da razão e por on -
o-uinte, e a th oria ' inadmis h el.
2.0 O panthei mo id ntifi a confund e a . uh.-tan-
ia a id'ia o obje to a ord m lógica a ord m real
o nada e r . O seu ponto d parti la ' uma pura
hypoth , uma id 'a ab tracta do ab oluto m 1 var !n
conta a xperiencia o n o intimo. ta hypo-
the e é fa l a: .,. ntimo. qu temo uma · i ncia do.
bj ecto , e que portanto, d 11 ·omos di tincto . R~ 1 ugna
ab lutament admittir que o prin ipio l ocri o de toda
a.. exi encia é o nte-nada, i to ' , o qu e
3. 0 panth ismo fal o no u principio, ab urdo na
ua expr ,~ s ão ' ridiculo r evoltante na ua 0111se-
qiiencias. om effeito, e t D eu qu aucrm nta que vem .
a r o que não era, r á r ealmente um D eus 1 O pan thei -
mo, por um lado, aniqu il a D eu e conduz ao athei mo.
Por ou t ro lado priva o homem da sua per onalidade e
da ua liberdade : não somos mai que modificações varia-

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APPENDICE A
344

veis de um ser unico, portanto, incapazes de merecimento


e sem nenhuma r esponsabilidade, não mais homens,
porém, modo de ser; por conseguinte, para que servem
a leis, os tribunais, os castigos e as recompensas 1 E'
a ruína de toda a moral e de toda a sociedade. Por isso,
a doutrinas pantheista só puderam seduzir cabeças
occas ou nebulosa·. Repudiada pelo bom senso latino
estão abandonada em principio pelo racionalismo dos
outros paizes. E, comtudo, para acreditar que a no ·a
razão é igual á razão di' ina para pretender que ella
póde saber e comprehender tudo quanto Deus sabe e
entende, não é pre i o, em realidade, seguir a theoria
panthei ta que no faz iguaes a Deus.
189. - IIJ. E', pois, com razão que o concílio do
aticano derrubou a utopia pantheista por esta affirma-
ção solenne : «Deus é uma sub tancia e piritual, unica,
ab olutamente imples e immutavel, realmente e por
e sencia di tincta do mundo. E te unico verdadeiro Deu ,
não para augmentar a sua feli cidade e adquirir perfeição,
mas para manifestai-a, cr eou de nada, desde o principio
do mund , a r eatura espiritual e a creatur a corporal.»
( ap. D D eo cr eator .) E ' o panthei mo que elle fulmi-
na com os seu anathemas no decreto eguinte : «Si
alguem li er que não ha mai que uma ó e mesma
substancia de Deu; de toda as cou a ... , que a cousa
finita , quer corporae , quer espirituae ou pelo meno ,
as e pirituae o:. ão emanada da sub tancia divina· ou
que a divina ess ncia, pela manifestação ou pela evolu-
ção de i rn ma vem a er toda as cousas; ou, ernfim,
que Deu é o er univer al e ind finido que, ao deter ·
minar-se a si m · mo coru t itue a univer alidade da cou a
em gêneros, espécies, indivíduo : que eja anátherna !»
(lb. cân., III e rv. )
~
.... \ ____ http://www.obrascatolicas.com
REnlTAÇÃ O DO RAO ION ALI MO 345

~ 11. - Doutrina e rronea do Rac ionalismo.

L Jn on equ n ia illogi :mo dos ra ionali tas francezes.


IJ. R fu tação dir ta d algu mas das ua th orias: 1.0 O homem
·am çou p lo tado lvag m. - 2. O progre so continuo da
humanidade. - 3.º A r eligiões r eveladas não puderam produzir-se
inão na épo a d ignorancia. - 4.0 Todo o dogma factos
exi>licam p lo m;ytho p la lenda. - 5. 0 phllo ophia dev'e
tomar a lugar da R 1igião.

numa
fala

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346 A P P E N D I O E A

Fran a não , ó não ba nenhuma discus ão de se genero,


ma o autor J ulio imon, parece, toda s as vezes que a
palavra «Rev ia ão chri tã» lh chega ao bico da penna,
d ixar acreditar qu · on id ra a Revelação como ver-
dad iramen divina. e lara que abandona esta ques-
tão a th olomo . Todo o eu racionali mo consiste em
mo trar qu a razão não é impotente para formular um
corp d d utrina de moral. Theoricamente ' i to
l · p o1" m de fa to nunca e viu. Além di o Julio
imon que que toda a o tentação da ua r eligião
natural ' um empr timo tomado da Religião hristã. A
eu edifício todo falta a ba e, e a logica quizéra que este
autor fi zes catholi o d de que repudia o panthei mo
allemão.
191. - II . .r ã podendo, poi eguir o racionalismo
ôbr e o terr no do principio vi to que não tem nenhum,
r colh eremo omente a principaes affirmações que
con titu m mo o fundo do y tema. Enuncia.1-as-emos
ob a forma de propo içõ , d que nos será facil
c1emon trar a falsidade.
l .ª PROPO r - o: «Ü o-en ro humano começou pelo
e tado elvao-em».
R - E t prim iro ponto é de um a nec idade tão
ab oluta na l1ypothe e racionali ta, que, ao ser de truido
ou om nte abalado todo o onjuncto das sua doutrinas
havia d ruir no me no instante. Por i o, não ha
nenhum ponto hi. torico que o raciona.li mo mantenha
com mai en r o·ia ; por' m não ha ta.h z erro mai facil
d d rrubar do qu t .
E v ·rdade que, entre certo poeta-~ , como Horacio,
J u v nal e até Boileau · m c rta.s tradiçõe pouco
clara dá- e o genero humano orno tendo come ado qua i
pelo e tado de animalidade. A e pecie humana teria
sido, gundo tas t radiçõe e e tes poeta , por muitos
anno errante . obre a terra m familia, sem ociedade,

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REFUTAÇÃO SUMMAR.IA DO RACIONAL.ISMO 347

m morada , sem leis, sem nenhuma apparencia de


d nvolvim nto natural e moral; J an-Jacques Rous eau
cahiu nest rro e con iderou om historia a-s phanta ·ias
imaginaria do po tas.
Ma , eriament m que prova se ba iam eme-
lhantes a rçõe . O que ha d verdadeil'O nas tradições
ou imaofoaçõe: poetica. qu acabamos de lembrar, é que,
l pois da qu da do hon1 m la di per ão de Babel,
erta tL'ibu , pouco a pouco afa tada do centro da civi-
lização primiti a, tran viadas no m -io da flo r estas do
v lho mundo ou i oladas 1Jo ro h dos in ultos da Grecia
ou ]a Italia acabaram , c m vemo ainda certos selva-
gem; da Ameri a, por perd r at' a lembrança da civili-
za ã . ra , e. ad lvag m, qu , aliás, e teve longe
d er comp leto, não ' o e tado primitivo do homem; é,
p lo ontrario, um e tado ele degradação e de queda. E'
uma d cad ncia que foi s mpr re. c ndo at' que o
principio con titutivo da humanidade e da sociedades,
cons rva lo por alguns m mbro privil giados ela familia
humana ou então renovado por uma intervenção obre-
n atural <le D u , r eergue em a o iedades e trouxes em
alguma cow' a da ju tiça e da civilização originaes. Não
, aqui uma tbeoria levantada contra outra thooria.
Emquanto a opinião ra ionali ta não fornec prova ,
stab 1 mo nó a verdade, ba eando-a juntamente
br a h?'storia e sobre a philosophia.
] . 0 Que n ina a historia ? - Entre todo o livros
que falam da origem do gen ro humano, não ha nenhum,
- como provamo , - que m r ça tanto conceito como o
1 ntateiico de Moy , . Ora, todo o mundo abe qu ,
gnnclo t li vro, o hom m nas u n um e tado perfeito
de d s uv lvim nto intelle tual e moral, em plena
civilização, , por conseguinte, nos antípodas do estado
selvagem. D poi da Biblia, poderiamo examinar as

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A P P E N D I C E A

verdadeiras tradições de todos os povos : todas, sem


excepção, mesmo as da Grecia e da Italia, testemunham
unanimemente que, no ber ço da humanidade, não somente
o homem não era nem barbaro nem selvagem, mas, pelo
contrário, gozava de um estado de civilização, de ventura
e de paz que mereceu o nome de idade aurea. Ovídio
descreveu magnificamente aquelles tempos felize:3:
Auriea prima sata est cetas, qua, vindice; nullo
Sponte S1ta, sin.e lege, fidom rectumqiie colebat ...
Ora, sabe-se que Ovídio não tinha outro fim, nas
suas M etarnorphoses, sinão conservar p elos encantos da
poesia as mais antigas tradições da Grecia e de Roma.
Virgílio fala com o mesmo enthusiasmo da época feliz
do velho Saturno na Italia.
As tradições dos E scandinavos e dos Finlandezes, na
Eur·opa, as dos Hindú.s na Asia, dos Mexicanos e dos
P eruvianos na America, concordam todas neste p onto.
A origem da humanidade é a idade aurea, o tempo em
que o homem gozava da vi ta e da .conversação de Deus,
em que não havia nem dôr, nem doença neste mundo;
em summa, era -0 tempo da intelligencia mais clara e da
felicidade mais p erfeita. O racionalismo tem, pois, contra
si este testemunho tão unanime e tão surprehendente:
a historia de todos os povos. 1 J, 1
2.° A philosophia não é menos precisa, nem menos
enérgica nas suas provas. H á, na mais simples anályse
do <'.Oração humano, uma demonstração accessível a qual-
quer intelligencia, e á qual nenhum homem, por p ouco
que esteja de bôa f é, poderá nunca subtrahir-se. O sen-
timento da nossa ig·norancia, das nossas fraquezas, das
nossas inclinações para o mal, attesta, de modo
irrefutavel, que não pudemos sahir em semelhantes con-
dições das mãos de um D eus justo e bom. Os proprios
philosophos pagãos 'º proclamaram : somos por demais

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Rfl'f' 'J'A • DO 349'

Po1·
ão, .o

hom ni l rnb1·a- do

num c111ninh tn · nsee 1 dC' nl :


c•o nt inu o.»
R. - ta n ai affü-

progrC'sSos pa rn
nma L<i 0 • n\l d

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350 APPENDICE A

Deus, quer influa pessoal e dir ectamente, quer faça


intervir as causas segunda e accessorias que a sua pro-
videncia dirige.
l.º A historia testemunha que o progres.so da hu-
manidade não é continuo, s m interrupção. Para o
tempos que precedem o diluvio, a Bíblia nos offerece
disso uma prova irrecusavel. Durante dois mil annos, o
homem esteve longe de progredir moralment ; a cegueira
do e pirita e o endurecimento do cora ção chegaram a
tal ponto que D eus se arrependeu, d algum modo, de
ter creado o homem.
Depois do diluvio, o castigo dá -0 eus fructos; os
filho:s de oé conservaram durante algum tempo os
princípios da moral que faz progredir a. naçoo . om-
tudo , ainda não tinham decorrido tr seculo que a
idolatria e, com ella, a corrup ção, reappar ceram ô-
bre a terra, de modo ·q ue D eus teve que e1 colher um
povo para conservar neste mundo o deposito da verdade
e a honra da virtude.
Emquanto Abrahão e a ua descendencia conserva-
vam a:s tradiçõe pura e ãs, o Egypto chafurdava na.
mais grosseira super tição e numa decad Ancia moral
ainda mais lamentavel.
O pov-0 judaico, depois de Moysés, teve as ua alter-
nativas de grandeza e decahimento: o me ·mo se deu no
mundo pagão, sob as realezas as yria -, medas e persa .
O Gregos tiveram o apogeu da sua civilização, seguido
ele perto por uma decadencia quasi compl ta, n-0 ponto
de vista intellectual moral, politico artístico. O
Romanos cujas crenças e cujos costumes eram, no prin-
cipio, bastante simples e puros, tiveram tambem o seu
progr~ so ; a Italia teve o seu seculo de Augu to como a
Grecia tivéra o seu eculo de Pericles. Com tudo, Mon -
tesquieu escreveu o livro: Grandeza e decadencia dos
Romanos. E' preciso ler no historiadores e philoS-Ophos

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REFUTA ÃO S UMMARIA DO RA IONALI SMO 351

do tempo, o que viera a er a ociedade romana na época


da vida de Chri to. Ora toda a humanidad pagã
achava- ne se ponto e é natural per guntar-se aonde
havia de chegar o mundo seguindo e a pret nsa via de
pl'OD'l' ~. O e i ell não caminhava directamente para O
tado lva"'em mais ab oluto e mais. completo.
De de a orig m do Christiani mo a desp it-0 do
meio d ivilização de progr e o que elle trouxe á
terra, o povo~ nem sempre eguiram uma marcha
a cendente. Todas as naçõe da Europa tiveram periodo
felize. brilh ante seguidos de outro periodo de mi eria
d cad ncia, tanto nas. idéas co tumes, como na
sei n ias, nas art e no xito da armas. E pt\:;ClS
poi , r e onhec r que não há para o povo , n m para
o individuos, n m tão pouco para a humanidade em
ger al l i d progr .:>O continuo.
2. 0 acção divina da Providencia,
a:; épo ·as a v rdad ira causa de todo o pro"'r so e d
t do o resm' 0 ·imento. om effeito, quae:-; fo ram a épo as
d r g nera ·ão moral ivilizadora do mundo. No.·
tempo antigos., a ép oca do diluvio, a da vo ação de
~ brahão, a do tabel cim nto do povo judai o na Pal .·-
tina, ol.l Moy , No. tempos mai.s hegado a nó o
appar im nto hristianismo marca o prin ipi o de
nma nova ra p r ogresso e d ivilização. obre as
rui nas do imp 'rio r omano, a : i dad da idacl m 'dia
se ·on, tituem; com tudo, rão lia..:; tam bem alternativa
d ()' ran l za d adencia . A.~ v z . pirito humano
<'~tá m pr gr , o nas l ttras, sciencias art na indu -
t ri a; por'm a m mo t mpo, a moral e a virtud e tão
m de ·ad ncia a u tadora. O progre so g ral, univ r al
e simu ltaneo da humanidad não e vê em parte alguma.
A iro, na historia judaica, n nbuma r neração
pro luziu inã pela influ n ia ela a ão provid n ial:
pr ovam-n o diluvio, a vo a ão de brahão do p vo

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352 APPENDICE

judaico, a promulgação da lei sobre o Sinai, a pregação


do Evangelho. Desde a origem do Chri tianismo, o inter-
mediario do verdadeiro progresso é a 'Lgreja. Conforme
os eu ensino e a sua influencia venham a preponderar
ou a desfallecer no eio das sociedad , ba grandeza ou
decadencia. E o que aconteceu nas época de Carlo··
Magno, de Luiz IX rei de França, da Reforma no eculo
xvr, da Revolução no século XVIII. ão são o maravilho ·os
progre ·os do espírito humano nas descoberta científi-
cas do ' seculo xrx e xx que hão de alterar a lei provi-
dencial; não trouxeram, pelo contrario, uma profunda
decadencia moral ~ A resurreição i ella deve produzir- e,
r ealizar-se-á não pelos progressos da , ci ncia e da philo-
sophia ma sim, pela acção de Deus e provocada per
e e ar lor de fé, e· a vivacidade de entimento religioso,
donde ahirá a regeneração moral e ocial da humanidade.
As~im a hi toria imparcial dev reconhecer que não
ha marcha n ce ariamente a cendente da humanidade
nem lei de progreso continuo : ha tão omente a acção
providencial de Deu obre o genero humano. D te
modo, ao segundo ponto fundamental do racionalismo
falta a ba tanto como ao primeiro. Eis porqu o concilio
do Vaticano condemna a theoria racionali ta: « i al"'uem
clis.,er que o homem póde .deve chegar por i me m0
á I . e de toda a verdade e de todo o bem por um
progre. ·o contínuo, que eja anáthema !» ( De B vel.
cân. nr. )
193. - J!IP PROPO r 'ÃO: «A reli n-iõe revelada''
não e pud ram produzir inão nas 'po ·a d ignorancia.
quand o o homem, ainda no e tado primitivo, ·via por toda
a parte my terio e milagre.»
R. -- ada mai imaginário e fal o. Quai ão, ·om_
effeito, a época em que appa r ec ram a dua grande.,;
r velaçõ ·· obre as quae se baseia o hri~tiani ·mo isto
é, a r evelação mo aica e a re\·elação chri tã? Foi pre i ·a-

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MMARJA DO RA IONA LISMO 353

ment no apoaeu da civilização gypcia qu Moy. é


ommunicou a . ua lei ao povo d I . ra l ; era a um povo
•dudado no meio de.,,ta civilização, affeito d d 4 anno
á iencia do Egypto qu o legi lad r tran mittia a .. ua
r velação. rtam nte H breu.s não constituia.m um
povo de crian a de imaginação en. ibilidade nthu-
· i.a ta · como o pr t nd
E, tratando-

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AP P END I CE A
354

rio e acreditaram em milagres, i ·o honra a sua razão,


qu ~ e curvou perante a evidencia porém, não m
julgar e examinar. P or con eguinte, não e póde dizer ,
por um lado, que a humanidade se achava então no seu
e tado primitivo, nem, por outro lado, que a propria
con tituição do espirito humano o levava a vêr por toda
a parte mysterio milagre. Assim cahe esta nova
a. erção do racionalismo.
194. - IVª PROPOSIÇÃO: " as religiões revelada·,
dogma. e fac to , tudo se explica por idéa · humana e por
leis da natureza : ' a imagina ão ou a cr dulidade que
transforma a verdades em my terio e os facto em
milagre .»
R. - E sta asser ção é a theoria de Cou in ·obre o
mytho e os ·ymbolos. Applicam-na os r acionalista a
interpretar naturalmente todo os my terio e todos os
milagres. E ' assim que, para elles, a Trindade não é
outra cou a sinão o finito, o infinito e a relação do finito
com o infinito ; os milagr . da Biblia não ão mai do quc-
lenda , hyperboles factos ordinarios, porém, effectuado
em virtude de lei então d conhecida .
Tão havemo d voltar ás que tõe de segunda ordem
por nós já m ncionada e refutada.,. no p ercur o do
no so:;; estudo obre os milagres da revelação mo. aica e
·ôbre o do Evangelho. erá sufficiente r ponder aquí,
de modo geral, que este y ·tema d interpretação racio-
nalista appli ado á::i verdade , é o transtorno mai
compl to da id 'ia. e da linguagem ; ao r admittido,
seria preci o co.n cluir que a linguagem é dada ao homem,
não ó para di imular, ma· ainda para desnaturar o · u
pen:;;amento; não ficaria cou ·a alguma ob a forma
escripta ou falada ninguem podia ter e peran a de ~
fazer entender. \.pplicado ao facto ', e "'Y tema ' a
destruição absoluta de toda a erteza do .-eutidos de
toda a certeza hi:;;torica.

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REFUTAÇÃO SUMMARIA DO RA ION ALISMO 355

A melhor refutação e acha ne t dois facto.,.: appli-


cando ao m mo Dupui a ua propria t heoria obr e o
mythos, um autor graçado demon trava em 1 15 qrne
Napoleão I nunca existira. O allemão trau ~ na ua
Vida de J es:ns, emittiu principio. racionali tas de critica
historica q u o levaram a ta onclu ão: «J e us hri to
não pa a de uma idéa.» Rebatendo todo:,; o ar gumento
do raciona li ta allemão, e valendo · do me mo
principio , o padr d \ alroger, por um ar o-umen to ad
hominem, e tabeleceu igualmente que o proprio tr auss
não é mai do qu uma id 'a (Etiicl sur le Racionalismc
contemporain. ) Ei ahi até onde póde cheo-ar com a
t heoria d myUl · e do ymbolo !
195. - Vª PROPO r ÃO: «A rença numa r ligião
revelada não n ontl'ou nunca numa int llig n ia
~esenvolvida , e como, em brev , o-raças á philo ophia,
todos o hom n · ·h garão ao e tado adulto, a religiões,
e em particular o hri 'tiani ·m , - tornan lo- ob ol ta.·.
- de appar rão pa ea d r o lugar ao reino da razã .»
R. - A prim ira parte desta affirma ção é tambem
admiravelment de m ntida p la historia. Os maior~s
gênio e a mai fort in elli g~ncia mpr ·ouberam
alliar p erfeitament a razão e a fé. Homen como ã
J u tino, rígeue ' rr rtulliano ·an to go ·t inho, são J r ô-
nymo, ão J oão hry. ó tomo, pod rão r tratado d
' ignorant · porque foram crente ? 'anto Thomaz d
Aquino, D ca rte: Bos u , Fénelon Leibnitz abjura-
ram a razão porqu a reditaram no my erio: do 'hri. -
ianismo e no milagre do Evangelho
E agora, quem e a r veria a diz r que a razão do ·
[Jacordaire, \ i man. Dono o ort z Leão XIII Dupan-
loup, Berryer, Pa tenr etc. não e t v ao nivel da razão
do nos moderno racionar ta ?

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AP P END I CE A
356

A. egunda parte da propo ição não póde er actual-


mente de mentid a p ela hi tor ia, poi que vem no t ernpo
f u tilro; omtud o, pod emos valer-nos de urna for te
poder o. a inducção - ainda me mo qu não tivessemo
a p rome a l ivina, - p ara oncl uir que a prophecia
racionali ta nun ·a ha d vêr a sua r ealiza ·ão. aconte-
cimento do pa · ado no autorizam a d izer , com plena
e rt za mor al que o 'hri tiani mo, o qual om os seus
my t r i O:' eu milagr e , en terrou já muito er ro ,
ha l e . epultar ainda mui to outro ·. De d muit o terá
d appar cido no pó o racion ali., ,m o tede co ou fra ncez
e a I <Yr ja chrj tã e cr ent tará ainda d pé, dominand o
o mun 1o pa r a o il1 tr ufr e alvar . .(

~ IH. - Consequ e n cias do Racionalismo.


I. Do Racionali mo a hi u o posi t ivis mo ont mpora neo. Ora,
e te p ositivi mo t em p or con equ cn cia : 1. 0 o nihilismo q uanto :'1
c ren ·a, porqu e up prime Deu a a lma, a vi da f utura; 2. 0 o
1. ihili. mo rc lat iva m nte á mor al, p orq ue a moral indl'penàent e é
u ma him r a; 3. 0 o sociali. mo, como r ulta cl o fina l p ratico. -
TI . 'r hcor ia s e fac-to ; r fut ação.

196. - I. Para aca bar d r efutar r acionali o e


to la. · ua.· th ori a or ()' ulh o a ·, . ó n o r e ta i ndi car r api-
dam n t a · :ua con qH:en cia j á r eali za da. ou podendo
r alizar - em breYe. Na appa re n ia o r acional i mo nega
.·ó a. verdade · r velada o my teTio. · o · milag res m
r e. um o o . obr natural · })Or ' m na r ah da l e eh ga á
ne"'a ão d toda a Yerdacl r li<Yio a e m mo phil ' Opbica.
~T ã d u ultimam nte. ori m ao 1u e . e bama o
positivis mo ? I naugur a ]o n o e •n lo pa ado por o te,
ace:eito e propa gado em nome da ra zão da . i n ·ia por
T_iittr ', T aine, R nan . aint -Beu e, About \ acher ot, etc.,
o po itivi mo ( ·on ·e•>' uiu int r oduzir- e no Bra. il , mas já
:;tá m d caden· ia ) annu n· ia-: o t rmo mais
eleva lo elo p r·o()'re." o int ell e ·t ual orn o o d gma

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REF' 'l'A •ÃO S J\lllfA Rl A lJO RA ' l ' ALl ' MO 357
=====-=============-====~~-

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AP P END I E A
35

real a ce ivel ao conh imento inão o r elativo, o limi -


tado o finito; que o ab oliito o p rfeito, o infinito, não
, mai do qu uma idéa ou uma ab·-trac ão e, por con e-
o-uint não rá para a cien .ia mai do que uma· hyp o-
ºthe e ficti
' ia uma pura clum ra. te r esp ito ouçamos
Littré : «Ü e pirito po itivo fe hou u e ivamente tod as
a ·-ahida_, ao e pirito th oloo-ico e metaphysico, paten-
t ando ucc ivamente a condi ão de xi t ência de todos
os phenomeno acces ivei e a impo ibilidade de e perar
por ou a alguma além (1 ) .»
D ~ te modo Deu prim iro ' po to fóra da sciência:
«A phil ophia po itivi ta não n ega e não affirma nada
a r !'>~ ito da au a primeira ou finae . l ada abemos
relativamente á cau.""'1. do univer o e dos habitantes qu
n li viv m (2) .»
«D eu -, provid ncia imm rtalidad e -Ou tras tantas
palavra bôas e antiqiwdas, di e Renan talvez um pouco
obtu a e p ada ma qu a philo ophia interpretará
m cnt1.do ca,da, vez mai r finado .» Para e te philoso-
pho, «D us é immanente nã ó no conjuncto do universo,
ma em cada um do er e que o compõem (3).» E' o
panthei mo d Heg 1, i não quizermo ater-nos a esta
outra defini ção de R enan: «Deu é, para a humanidade,
o r e umo tran cendente da ua n essidades supra-
s n ívei a categoria do id al, i t ' , a forma ob a qual
conceb mos o ideal ( 4 ) .» e te càso, é puro atheismo e
Littré a centua esta opinião: « h1irrw,nidade, diz elle,
é a unica provid.encia que trabalha por nós.»
A re p eito da alma humana, temo a mesma negação.
gundo omte, o conjun to da existen cias <i: é consti-
tuído p la materia e pela for as immanentes á materia.
A1 'm d e doi termos a ien ia p o ,itiva não conhece

(1) onser vcition, révolu.tio n, positivisme, p . 61.


(2) L ittré, P M oles de ph i1osop hii 1'0sit i1•e, p. 3 4.
(3) .Revue des D eua:·Morides, 1 5 d e outubro de l 63.
(4 ) L iberté de pense,., t. V I , p . 3 4 .

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DO ltA IONALlSMO 359

mai nada (l ).» Para Tain , «a alma não passa do


onjuncto da funcçõ do cer bro da medula pinal...
p n amento ' inhereinte á ub tan ia ·Cerebral.» Na
opinião de Littré, a união da alma e do corpo é uma
doutrina contra a qual prote tam a sciencias phy icas,
con lue que não ha immortalidad . «E ta r nça, que
podia er verdadeira, não se a hou tal, a ci ncia não
tendo con eocruido verificar um facto qualqu er de vida
d poi da morte... O morto não têm mai que uma
exi t n ia ideal em no a lembran a (2) .»
Tínhamos razão, poi em dizer que o po ·itivism o é
a negação de toda a crença r eligio a~ Ma.,, d estróe igual-
mente toda a crença philosophica, e não pára perante
a er õe · como e tas : «Tudo quant não e·s tá na n atureza,
não é nada, e em nada p óde ser avaliado sinão como
uma imple idéia (3 ).» - «A metaphysica de Platão,
escartes, Malebranche, Boss uet, F énelon , Clarke só póde
illudir e piritos noviço . E ' adm irav 1 orno historia,
não e lhe pód dar crédito como . ciência ( 4 ) .» - «Há
um prin ipio que se apoderou om for ça do espírito
moderno e qu dev mos a H gel. Qu ero falar do princi pio
m virtud do qual um a as-ser ção não ' mai. verdadeira
do que a a er ção contraria. Admittimos m mo a iden-
tidade dos contrários (5) .»
orno admirar- e de que, com . emelhan tes princípios,
o po. itivi mo chegue a toda as negações, d pois das cfo
Deus e da alma: n egação da liberdade humana, pois que
€ ta se r eduz á actividade c rebral ; negação da moral,
pois que as inclinações n ão são mais do que modoo desta
mesma actividade ; negação da vida futura , pois que os
mortos não têm mais do que uma existencia ideal.
(1) Oours ele Philosophie positiv e, li ção 4 5° .
( 2) Co™ervation, p . 1 23 .
(3) Havet, Rev ue des D e-ux·M cmàes.
(4) H:enan, Jbid., 15 de janei r o d e 1 8 60 .
(5) eh"ª' • H egel el l' héuéUan isme.

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360 APPEND I CE A

Nas mesmas condições, o positivismo conduz, com o


seus principios, ao espirito de scept icismo e de negação.
Elle não poude verificar experimentalmente a origem da,
cousas, do movimento d os er es e da vida; portanto, a
Astronomia, a Biofogia, a Anthropologi.a são explicada ·
á maneira positivista ( 1) : é o materialismo que prevalece
e conduz ao nihilismo relativamente á cr ença.
198. - 2.0 O p ositivismo chega igualm ente ao
nihilismo quanto á moral . Sem duvida, enver go nh ar -se-ia
de procla mar a s uppressão de todo o dever; p or is o.
procura salvar as appar encias, falan do de uma moral que
chama rnoral independente. Na sua lingua gem, quer isso
dizer que dom avante a moral não depend e mais d·e D eu ·.
não passa de um ser ideal ; não dep nele de religião
alguma, pois que a suppressão de D eus tem por con e-
q tiencia o desa pparecimento de todo o culto; não depen de
n em da autoridade dos h omens, p orq ue em virtude de qu e
dir eito um h omem p oderia impôr leis e uma moral ao
se us semelh antes~ Onde, portanto, se ha d e achar o prin-
cipio e a regra desta moral indep en dente~ a honra, n o
sentimento da propria dignidade, dizem algun · ; no amor
do dei:·er pelo dever, pretendem outros; certo · fa lam
m mo ainda da consciencia, como endo uma r ·gra
sufficien te de moral.
Mas, .sinceram ent , que póde e ha de ser uma moral
independente ~ E ' evidente que lhe faltam a clar eza e a
precisão, não possue aiitoriclade, e particularmente nunca
terá efficcicia.
Uma moral ind~pend ente não p óde ser clara e precisa.
Onde se hão de encontrar dois homen que, in pirando- ·e
das sua proprias luze , julguem e apreóe.m do . mesmo
modo o bem e o mal no detalhe da vida, es.pecialmente
quando os interesses e as paixões têm que vêr nisso?
(1) Em nosso quarto volume, tomand o cada- um a cl·esta s palavra s
como título, refotamos os dado8 posit ivis t tt s da e cola m clern a pág . 22 1, 234
e 276 .

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REFUTAÇÃO SUMMARIA DO RACIONALISMO 361

De de que o mundo exi t , nunca o philo opho e o


ábio chegaram a fomular um código c1 mor al uniforme
e univeral : pretend r - -ia que cada um arra.nja e
uma moral para i !
Uma moral independente d Deus .e da Religião, que
o po itivi mo upprime, er á totalmente desprovida de
aut01•idade. er á uma theoria, mas não uma lei, poi
que não ha ninguem para ord nar o dever e fi calizar
a ua execu ão. A honra a ligni.dad humana não
ub i t m muito tempo em pre ença da lucta, muita
vezes difficil, cont ra o mal, principalmente quando e
pód-e fugir do olhar do homen e quando se pre uppõe
que a queda ficará e r eta. De que erve falar m cons-
ciencia ? Na aus ncia de Deus, a con ciencia é muda;
não profere mai oraci;tlo ; familiariza- e depres a com
o crime ·e, em breve, não conhece mais o remor o.
Afinal, que f ficacia poderia t r uma moral inde-
p endente? Onde -e tará a ancção para o bem como p ara
o mal ? i não houver mai nem Deus nem enhor, nem
éu nem inf rno, nem vida futura nem immortalidade,
nada mai além da vida pre ente de que ervirá a virtu-
d ? E para que dar-se ao trabalho de re ii:'Jtir á inclina-
çõe da paixõe ruins ?
O po itivi mo já no deu os seus fructo , quanto á
moral. omo havia de ser de outro modo? O livre arbí-
trio, outra font de moralidade, não é para Littré, « inão
uma per onificação da adividade cer ebral; » para Taine,
«O vici·o a virtude ão productos orno o acido chlorhy-
drico.» Renan con idera tudo aquillo como relativo: «Ü
homem, diz 11 , faz a santidade do que acredita, como
a belleza do que ama.» Não erão taes principies a destrui-
ção de toda a moral individual e ocial. erá preciso
com is o ficar admirado dos e candalo e crimes que se
multiplicam em nosso dia com proporções as ustadoras?
E' o termo a que deve fatalmente chegar a moral inde-

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362 A P P E N D I C E A.

p endente, porque o positivismo é a immoralidade erigida


em principio.
199. - 3.º A última consequência que s;e origina
n ecessa riament e das doutrinas racionalistas e positivistas
postas em pratica, é o socialismo, consequencia nem
sempre reconhecida, mas muito logica e, ao mesmo tempo,
a mai terrivel para as sociedades humanas.
O socialismo, com effeito, é a doutrina da soberania
da razão e do positivismo applicada ao governo do mundo.
Si, por uma parte, a razão fôr independente, e si, por
outra parte, tudo e limitar ao mundo r eal, si s-0 esta
ra zão fôr rainha, i puder dispensar Deus e crear uma
moral, é claro que ella só deve possuir o mando, e que
não póde h aver , na po ições sociaes, outras desigual-
dades sinão as resultantes das qualidades e da força
individual. Dab i o oc ialisnio . Sob este nome generico,
é preciso abranger todos os systemas que pretendem
r econstituir novamente a Sociedade, exigem uma nova
classificação social, ainda qu e por i ' O fosse nooessaria
a suppressão de tod a as di tincçõe , de t"Odas as j erar-
chias, de todas a-,:, propriedades.
Com r eceio que alguem nos accuse de tirar do racio-
nalismo con equencia cbimerica e duvido as, citemos
textos. egundo 'raine, «ha uma moral para cada seculo
e para cada raça, e o modelo ·varia segundo a circums-
tancias que o suscitam.» Ora, eis que Littré se encarrega
de nos dizer qual devia ser a moral do seculo XIX: «Outra
educação, outra vida moral, outra so~iedade estão nas-
cendo. A revolução não é uma pura e imples insurreição
do espirito contra as incompatibilidades theologicas; t em
como r emate necessario uma geração radical, que, mudan-
d u as condiçõe mentne , ha de transfor mar ao mesmo
tempo todas as condições materia . rna crença que
ganhou o e piritos culto de uma sociedade, tem cer teza,
mais dia meno dia de alcançar . a multidão.» E accre -

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REFUTAÇÃO SUMMARlA DO RACIONA LI S MO 363

centa: «Não ha id 'a efficaz e nova 'inão a que pretende


ub tituir a velha doutrina theologica por uma doutrina
ociaL Mas qu m agora prom tt'l uma doutrina, inão
o ocialisrno ?» E homem de c rta notoriedade
conclue audazmente: « cabar a r evolução o cidental é
o objecto do ociali mo e só elle póde dar cabo de ta
tarefa (1) .»
ultima palavra, poi , do livre p n amento e da
livre moral, i to é do racionali mo e do po itivi mo, é,
portanto a r eform a ocial egundo a int rp r etação que
acabamo de ouvir; é o ooiali 1no.
200. - II. Aliá , por toda a parte e particular-
mente na França (2 ), pa a- e facil e logicamente da
theoria para a pratica. doutrina raciona.li ta prega-
da durante m io ulo já produzin1m o eus fructos.
Não temo que faz r aqui a hi toria do ocialismo : basta
lembrar a pa agem logica da theorias utopista para os
facto la timavei que já fizeram perigar o equilíbrio da
no a ociedade.
Jean-J acqu Rous au, no ru ontrat ocial, semeou
a primeira id'ia de io·ualdacle ocial O con de H enri-
que de aint- imon fallecido em 1 25 a -co1ligiu em
odigo e a· na doutrina propa ·adas por Enfantin e
Bazard, tendiam omente a recolher a herança e os
ben acantes para o con aoTar ao allivio da mi eria
a'O r tabelecimento da igualdade da condiçõe .
, Fourier fall ido m 1 37, propoz a de truição d1;1
familia ub tituida pelo phalan tcrio r união de 1600
individuo trabalhando junto·' . não para ma em
proveito da a o iação.
Ei agora o com1nnni ta : e te recu aro ao indivi-
du o dir ito d propriedad que attribuem á ociedade
inteira. O grand propaaador dê te systema é E têvão
(1) Estas citações são tiradas dos artigos destes autores na Re111~e
du D sw;-Mondes, e das obras delles.
(2) Tantos, síuüo mais adeptos tem o socialismo na A!lemanha.

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APPENDICE A
364

Cabet na cido na França em 178 , doutor em direito,


'
revolucionario .
em 1 30 ardente agitador m 1 48, falle-
cido no Mi uri em 1 56. um livi'O intitulado Voyage
eni I carie, vulgarizou a sua thcoria que consistiria em
transformar a terra em uma parai~ i ento· de miserias.
Proudhon (1 09-1 64 ) deu ao communi mo uma forma
mais brutal: para ell , «a propriedade é o roiibo,» ·e,
portanto, . cada um tem direito ·obre a propriedade alheia.
O partidarios da organização do trabalho acharam
alguma cousa meno violenta: o eu systema é mai e pe-
cioso e deve a sua origem a Luiz Blanc, na cido· em 1811
membro do governo provisorio em 184 , fallecido em
18 2. P ara elle, o E tado é o grande proprietario. Para
remediar ao vicio da so iedade actual e á mi eria do
pobre, o E tado deverá in tituir fabrica nacionaes onde
t udo se faz em commum, com salarios iguaes, porém,
ufficiente para prover á nece idades de cada um.
Tae foram as th eorias a tentativas pratica. do
ocialismo durante a primeira parte do· eculo XIX. o
fim do mesmo ·ecu] o e no principio do xxº urgll'am
novas id, a , preparando out:r:os transtornos.
chamo-no em pre ença de um Socialismo de Es-
tado que entregaria aos governos õ dir·eito de conduzir
a evolução ocial, attribuir-lhe -ia todos o monopolio ,
e, em particular o cuidado de dar uma . olução á que. tão
operaria, uma organização ao trabalho, uma. pen ·ão á
v lhice.
Para sas nova forma do Socialisnio, foi creado
um nome novo: o Collectivismo. E·-ta palavra apparece
pela primeira vez no Diccionario de Li ttr '. ( upplemento
de 1 77. ) Applica-se a qualquer doutrina t endo por fim
a socialização: da terra ( coll ctivi mo agrario) do
i.nstrum ntos de trabalho ( collectivi mo indu trial ), em
outro termo a toda a dou rina excluindo a apropriação

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REFUTAÇÃO SU:MhlARIA DO RA ION ALISMO 365

individual do m ios d producç.ão e admittindo ó a


po ·.se ão individual do producto como r munera ão do
trabafüo.
O ollectivi ·mo ' parti ularm nte a obra do Judeus
a llemãe : La alle, Karl Max hâffle, e dos eu· emulo
d outra e cola: B bel e Liebknecht. 1 oro variante de
princ1p10 de appli açõe , tem ou t ve por represen-
tante na França , Lafarg·u e Julio Gue de, Gabriel
D eville, J. Jaure G. Renard, Rouanet, Millerand etc.
201. - r ão vamo combater separadamente cada
um d e doutrinario . er-no -á sufficiente lembrarmos,
em oppo ição a qualquer doutrina o iali ta, algun
grande principio de razão e bom n o, ab olutamente
ju tificado pela experi ncia.
1. 0 Ainda que a igualdade das. condiçõe foss e resta-
b lecida como poude ter xi tido na ·Origem da · cousa·' ,
não ub istiria por muito t mpo. est mundo, a
aptidõe , o talentos o procedimento estão manifesta-
mente em condiçõe desigua·e::;; neste caso, o trabalho
de uns e a inactividade do· outros hão de produzir ne-
ces ariamente uma d sigualdacle muito rapida na nova
si ua ão. Não ·e vê, cada dia, que os filho da mesma
familia, d poi de uma partilha igual, se acham em con-
diçõe·· t·otalmente differentes . n pro. ·peram, outro ·
ficam arruinado quer por cau a da ua conducta quer
p lo facto da circumstancias. Será ntão preciso
r omeçar inddinidamente uma partilha que daria
c·empre em r e ultado a mesma desigualdad 1
2. 0 A propriedade é cousa muito legitima quando é
obtida por meios h n e tos e r e onhecido·.;; pela consciencia
e p la lei:. E · e direito remonta á origem da
humanidade· é proclamado por toda· as legislações <>
preceito do Decalogo: «Não furtar,» é ap enas a sancção
de um principio univer almente admittido. O direitos
do ri ·o sobr os s us bens legitimamente adqufriclos sãio,

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APPENDIOE A
366

poi inconte taveis, e si tem deveres para com os pobres,


delle ha de dar conta a De'Us; porém, o pobre não tem
o direito de furtar o que o rico tem obrigação de lhe dar.
3.º A Reliaião chri tã que, desde a sua origem, pre-
gou o desapêgo dos bens terrenos e a caridade, não tende
a de truir a desigualdade das condições humanas, mas
ó a diminuil-a. O primeiro di cipulos traziam os seus
ben ao pé dos Apo -t'Olos, para pôr em commum com
o eus irmãos meno privilegiado , mas i so era f eito
livremente e nunca a Igreja lhes impoz semelhante
donativo como uma obTigação. E' fal ·o pois que o
communi mo tire a sua origem do Christianismo. Tudo
quanto faz o Evangelho é mandar ao rico dar esmola
egundo a suas po se ; em eguida, ao pobre prescreve
o trabalho a paciencia e a re ignação, e, para mostrar
que a felicidade não está no gozo e na riqueza, diz a
todo : «Bemaventur ados aqueUes que são pobre pelo
e pirito ou pelo coração.»
4. 0 Emfim a experiencia deu uma idéa do que vi-
riam a er a ociedades humanas, i o socialismo viesse a
prevalecer. Houve varia tentativas para realizar as
utopia e o devaneio de Saint-Simon, de F ourier, de
abet e de Luiz Blanc. Mas adveiu o que devia neces-
sariamente acontecer. A empreza falhou por causa da
má vontade de algun e pela r ivindicações do outro :
em todo o ca o teria sido a ruina publica em curto prazo.
P elo que diz respeito ás tentativas feitas pelo socia-
h-mo ontemporaneo, a experiencia demon trou que
todo 'O seu esforço ficam impotentes, completamente
esterei . Os congre o do· moderno·.:; reformadores
revelam, todo os dia , as suas divisões, as suas contes-
tações, o eus di sentimentos. De accordo sobre o
principio da expropriação do meios de producção, nã:o
chegam a se entender sobr e as medidas a escolher e
acaqapi por anatbemas e scissões.

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REFUTAÇÃO SUMMAR l A DO RAOION ALISMO 367

multipli am

cl
d pã

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368 A P P E N D I C E A

que houve ·e na França: ProudhO'Il matára o ultimo


Francez.
Sem duvida e a pintura é exaggerada, a · iim como o
devia ser para mais impre ionar os e piritos; com tudo,
não deixa de ser verdade que tal poderia ser, cedo ou
tarde, o fim do sociali ·mo e, por conseguinte, do raciona-
lismo, si o nosso seculo clé ·e livre curso á essas theoria
extranhas e ubversivas.
E com razão poi ·que o papa L eão XIII escreveu:
«Comprebende-se que a theoria socialista da propriedade
collectiva deve ser absolutamente r epudiada como pre-
judicial áiquelles mesmos a quem se pretende soccorrer,
e contraria aos direitos naturaes dos indivicluos, como
desnaturando as funcções d-o E tado e perturbando a
tranquillidade publica. » (Encyclica, De Gond. opific.,
1891 ) .

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B

O GRA DES HOME S DO HRL TIANISMO


Idéa geral. - Divisão.

202. - Em eguida a toda prova accumulada a


favor da divindade da Reli gjão chri tã, não é inutil, n em
fóra de propo ito mo trar que e ta Religião po ue ainda
a mai alta a mai in onte avel autoridade : a da
iencia do g ni no de orrer de todo o culo ,
d de a ua orig m at' a épo a contemp ranea.
E' um erro ou um pr on it'O manif to julgar qu
o monopolio da ci n ia d . ta lento p rt n á in -
r eduli dad moderna.

''ª m 1> oppôr


trario.· aYe rigua lo .

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APPENDlCE B
370
ARTIGO I
Chr istão dos primei ros secuJos.
I. Primeiros convertidos em Jerusalém. - II. Conquistas dos
po tolo . - JII. O patriciado r omano.

203 . - I. im é certo, J e us Christo escolheu os


eu primeiro di ipulo entre os ignorantes e os pobres;
o que con titue wna prova ainda mai:> evidente da divin-
dade da R eligião chri tã · sim, é tambem fóra de duvida,
e te m esmo Apostolo. iniciaram a pro pagação do
EYangelb nas el a~ e popular s; com i ·o não faziam
1 rnis tl qne egnir a<; ord n e o.· xemplo. el e Je. us
Chri.,,to.
lVIa quer i. ·o dizer que o hri t iani mo no seu prin-
ipio entr e os . eu. adepto não contou nenhum ho-
mem in truido? Não conhecemo todas as -celebridades
CJ.o primeir tempo e não po l mos citar todo os nomes
conhecido . lVIa si abrirmo o Evangelho e o livro dos
Actos alü achamo discipulo que não eram gente qual-
quer: Nfrod mo, llm do. chefe da ua nação Zacheit,
homem rico e eh fe do p ublicano , J o é de A11:m,(J)théa,
nobr de urião, Lazaro, pe ôa ;eon ideravel, cuja noto.rie-
dade, não meno. que a das uas irmãs M&rtha e Maria
Ma.gdal na, deu tanto re. plendor ao milagre da sua
re urreição.
204. - II. Logo depois da morte de Nosso Senhor,
contam-. e entre o di cipulos ardentes de Christo, Paitlo,
o conv rtido de Dama co, phariseu distincto que se torna
o mai erudito e o mai profundo dos Apostolas. Por sua
vez, elle p er cor reu o mundo, convertendo ao Evangelho,
em apho 1·gio Pantlo, proconsul romano; em Athenas,
Dyonisio, membro do Areopago; em Epheso, Apollo,
homem eloquente. o mesmo tempo, o apostolo Philippe,
no caminho d e Gaza, baptiza o poderoso intendente da
rainha da Ethiopia, e são Pedro converte, em Cesaréa,

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GRANDES VULTOS DO CH RISTLl.NIS:MO 371

o centurião Cornelio, destinado a exercer, mesmo em


Roma, um apostolado fecundo.
Era um homem vulgar ão Lucas, arti ta, poeta,
medico, evangelista e historiador dos Actos dos Apos-
tolas? Eram ignorantes, tes homens apostolico : são
Clernente, segundo papa, anto Ignacio de Antiochia,
são Polyccvrpo de Smyrna, santo Ireneu de Lyão, cujos
cripbos nos re taro, como os monumentos de uma sciencia
á qual poderiam utilmente r ecorrer os nos os orgulhosos
seculos XIX e xx 1
205. - III. De de o anno 42 da era christã, no
r einado do imperador Claudio, são Pedro, depois de ter
fundado e governado pessoalmente durante sete annos a
florescente Igreja de .Antiocbia, viera a Roma que a Pro-
videncia destinava a ser a capital do mundo catholico.
Logo, no quarteirão do 'l'ibre, especialmente procurado
p elos Judeus, J e15us Ohristo contava subditos e a Igreja,
um nucleo de fieis de valor. O príncipe dos Aposto-
los fixárn sua r esidencia no meio delles, na região que,
mais tarde, havia de ser o Vaticano. Alguns mezes
depois, a sua influencia victoriosa passava do Transtevere
á parte habitada pela mais alta aristocracia romana.
A familia judaica de Aquila e Priscilla o r elacionou com
Pudens, enador romano ligado com a familia famosa dos
Convelios illu trada por Scipião o Africano. O senador
convertido off ereceu o seu alacio l?ara ser, em Roma, a
., primeira igreja christã. (i(- l r -v
o anno 57, são Paulo se achára exposto, em
J erusalém, a todo o furor dos Judeus que o queriam
matar; p or ém, foi arrancado das mãos delles pelos
proconsules que Roma mantinha na J udéa.
Cidadão romano, Paulo appellára para Cesar, e, a
s u pedido, foi mandado á capital do mundo para ser
. ubmettido a julgamento. O Apostolo é carregado de
cadeias ; porém, a sua palavra não fica acorrentada.

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APPENDICE B
372

Preso qua livre, ecunda o apostolado de são Pedro;


entra em r la ão com illu: tre familia , da. quaes já
encontrára e conv rt ra membros influent . Naquella
famo a audiência do pretório a que compareceu um dia,
perante tudo quanto Roma contava de mai illustre,
prü::;tou e plendidamente conta da fé chri tã e na cidade
produziu en ação universal. Burrbo prdeito do pretório,
e éneca o philo opho on ·ul naquelle anno 57, a sistiam
á audiencia ujo re ultad foi a soltura do Apo tolo .
ão P.aulo não conv rteu á f' e e dois peronagens ·
comtudo deixou na almas delles os principio de uma
philo ophia in pirada no hri tiani mo.
Mas <1 verdade ia produzindo o s us fructo . Ao
ca bo d alo·un anno ·o patriciado romano fornecia á
sociedad e dos chri tão a flôr da velha nobreza, e a fé
contava di ·cipulo ne a grand familias de que a
historia no.,, cita os nome : a g n Pornponia, a ge'Yl!s
e cilia, a gens Ernviltia, a gMis Serg1'a, e muitas outras.
P enetrava na familia do Flavios destinada ao imperio.
A me ma côrte imperial enche de hristãos; a casa
de Nero e de Domiciano ontou algun . O senado
franqueou á nova religião o ~e u inacce sivel recinto, e
a mai alta mag· tratura , - muita vezes em segr edo
foram exer cida por hri tãos.
Bem e v ~ não é om nte entr e a gente miuda e na
ela e média que o Evangelho teve di cípulos: contou
muitos em todas a fileira da aristocracia romana (1).

(1) O sabio livro d e D . Guéranger, Sa.inte Oécüe et la. sociéU


romaine, e as preciosas descob rtas feitas nas Catacumbas e postas á luz
pelo senhor de Rossi, n ão deixam n enhuma duvida sobre este ponto.
Aconselhamos, pois, a leitura dos inter essantes ponnenores fornecidos pelo
illustre benedictiuo.

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O&ANDES VULTOS DO B&IS'l'IANI SMO 373

ARTIGO II
Doutores e Padre da Igre ja.
I. Doutores e riptores el o primeiro séculos. - II. Gênios
chr i ·tãos elo Iv. 0 écul o. - III. A idacl m' dia.

206. - I. Em p l.eno s 'culo d Luiz XIV, Fénelon,


nos seu D ialogas sobr a eloqu ncia, não r ceava dizer
de e. P adres da Igreja : «Eram e. pi ritos muito elevados,
grande al11na .cheja de s ntim ntos. h roico;-, pe ôas
que tinham uma xperien ia maravilho a dos espiritos e
do costume , homen de grande autoridade.» Ao con er
da penna e sem cuidado al ·um na olha, it mo entr
muito. :
No princípio do n. 0 se ulo : ão J ustino, philósopho
platonico, convertido á fé atbolica, da qual se torna o
apolog í ta, acabando p lo martyrio; T rtiillWrio, na cido
pagão, pirito f e unclo, ver. ado na juri prudencia e
celebre por s us :;;cripto apologetico. ; no fim do mesmo
e ulo e no prin ipi o elo m. 0 Cl ment de Alexandria,
gloria d a ce l br es0ola em qu e sue deram tantos
mestre abel' virtude; Oríg nes, que, ao
1 r a uma da. prin ipa luze. daquclla cidad-0
famo ·a attrahia a . i o abios do mundo; Eus bío, o
pa da hi toria e ele. ia tica, a qu m dev mo · tanto e
tão b llos frao-mentos de hi toriadore.:; de~ap pare idos;
Arnobio, apologista hi toriaclor, m tre de Lactancio
.qu foi ·h amado o Cíc ro chri ·tão ; Mínu cio F lix, que
brilhou m Roma p la eloquen ia, etc.
207. - Jl. Om O IV .° écuJ.o, vemo apparecer uma
pléiade d abios e Doutor , do. quaes basta citar o·
nom s, poi ainda possuímos o e ripto delles: são
Cypriano de arthago, ão Cyrillo de Alexandria, são
Ba ilfo de eJ ar ' a anto Athanasio, ão Gregorio
Naziarnzeno ão J oão Chysóstomo, ão J rônymo, cuja
rudi ão não tem igual, . anto Ambrosío, santo Agostinho,

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AP P ENDI C E B
374

um dos maior es genios que t enham illust rado a humani-


dade· an o H ilario de P oiti r , ão Gregorio Mogno, etc.
208. - III . 'culos eguinte foram menos
fe undo : i o provem da difficuldades com que luctava
a Igr ja na idade de ferro. fa com o fundado res das
orden mona ica , ão B ento, ão Vicente de L érins,
a iodoro, etc.; mai tar de com A.lcuino, Eginhardo,
Raban-Mauro, J ofio cot, H incmar, Flodoardo, Gregório
d 1'o nr , etc.; vemo apparecer a sciência unida á fe.
Depoi: cli o, ·erá preciso 1 mbrar o theologos da idade
media, A.lb rto Magno, auto Th omaz de A.quino, são
Boaventura auto A.n lrno e os d mai mestr es do pen-
am nto (1) L . Ba ta dizer mo que a Patrologia latina
conta na edição fign , 217 volumes in-quarto, desde os
po tol a é I nno encio I II m 1216; e a P atrologia
grega no m mo intervallo 109 volume do me mo for-
ma to. - Lendo e vol um e comparando-o com
algun livro ahido da p enna do philo ophos elso,
P orphyrio, Juliano o Apo tata, H ierocl , partilha-se logo
o par e r d La H arpe qu dizia: «F alta muito para que
t homens po am igualar a dial tica de um T er t ul-
liano a ien ia de um rígene ou os tal ntos de um
go tinho e d um hry ó tomo.» - «Qu prazer, dizia
la Bruy' r d amar a ReliO'ião de a vAr a r e;litada,
d f ndida, xplicada por tão bello genio e por tão
olido piritos .» ( aract 1 s, cap. XVI.) .
ARTIGO III
Horn ns iJl u.str d o tre ultimo secuJo .
1.0 Philosopbo ; 2. 0 magi strados e juri consul tos; 3. 0 historia-
dor · 4. 0 oradorc ; 5. 0 po ta ; 6. 0 sabio - onsid rac;õe impo r·
tante .

209. - ão no é po ível citar aquí todo os


homens cél br qu duran e e te período, f izeram ao
(1) s grandes genios da Renasc n~a são, nn un quasi totalid ade,
do domínio do catbolicismo.

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GRANDES LTO S DO CHRI STIANISM O 375

Chri iani mo a homen agem da u a fé e da ua fidelidade.


Não p odemos m n ciona r sinão o mais illustre segundo
a ua especialidad e n a ordem hr onologica.
1.0 Em philosophia : E rasnio (1467-1536 ), humani sta
cel bre e pen ador profundamente apegado á fé ap ezar l e
contemporan o da Reforma; D escart s (1596-1650 ) pae
d a philo.::ophia mod r na, chri tão onvicto; no seculo xvrr
F rancis o B&con, ao m mo tempo pbilo opho p hy ico e
nat urali ta (1560-1625); Pascal, peru;ador p or excel-
len ia, pbilo. opho geometra (1623-1662) ; Antonio
A rncmld (1612-1694), illu tre solitario d P ort-Royal ;
Mal branche, um do no maiores escriptor e.,, (1638-
1715), L e.i bnitz, na ·cido em L ipzig (1646-1716), am -
bos metaphysico. de gt·ande autoridade; la B ruy ' re
(1639-1696), c lebre moralista de quem é p r eciso ler
o capitulo D os es piritos fort si. - o eculo XVIII, L ocke
(1632-1704) e Clw·k (1675-1729 ), philo··ophos inglezes,
theologo e publici ta , et .
2. 0 E nt11i os mcigistrados e jiwisconsiiltos : o se-
culo xvr, Th omás Jlifor (14 0-1535) illustrava a In-
glaterra po1· . ua ciência e . ua fé; a França glor ifi-
cava- e do chanceller de l H ôp ital (1506-1573) e de
Dunioulin (1500-1-66 ), ambos tão gran ie:~ christãos como
bon jurisconsulto . - O eculo XVII no dá d' Aguesseaii
(1668-1716) Lanioignon (1617-1677), D onwt (1625-
1695 ) emquanto Grocio (15 3-1646), illu ~·trava a
H ollanda p r sua erudição e publicava o ·eu tratado da
Verdad da R ligião.
3. 0 Na hi tória, ba ta, para a glória do bristianismo,
citar, no -.seculo xv rr, lliabillon (1632-1707 ), celebr b ne-
dictino na cido em aiut-Pierremont; Natal A lexandre
(1639-1724 ), ábio dominica110; o padre de Tilleniont
1637-1698); R ollin (1661-1741); no éculo xvrrr, F.le1-iry
( 1640-1723), tão ver sado na história como na j usispru-
dencia; D . Calmet, histor iador e commentador , benedictino

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376 APPENDIOE B

de aint-Maur (1672-1757 ) · o apologi ta B ergier (171 -


1790 ); o padre onnotte (1711-1793) e o padre Gi"énée,
cuja erud.l,ção e s iencia tanta vez embaraçar am
Voltaire nos eu ataqu (1717-1793 ) t .
4. 0 Na eloquência do p{úpito : ó por alto lembrare-
mos alguns nom para mpre illu tre : Bo uet (1627-
17<04), geni incomparav~l; B01trd<ilo1tt7 (1632-1704) ·
Fléchier (1632-1710 ); F'nelon (1651-1715) Mas ill01i
(1663-1742 ). ão e dirá qu nelle o pirito não
igualou a eloquencia e a f'; ba tariam e homen
para a illu tração do ulo xvn.
5. 0 A poesia ' nobr ment r epr ntada n culo
xvr e xvrr por hri tão convicto ~uja obra atte tam a
fé profunda: Mall1JBrb (155 -162 ) Corneille (1606-
16 4) Boilea?t (1636-1711 ), R acine (1639-16 9), J oã,o
Ba pti ta, R01isseai1, (1671-17 1) etc. , 't
6. 0 Emfim não e d v a reditar qu a . iencia, no.
eculos XVI, XVII XVIII foi ho til á Religião lll'i tã. Não
ha dúvida que ·e póde:rri ontar como ábio e hri tão
Rog rio Bacon, o célebr dominicano inglez, fundador
da iencia experimental no e ulo xrn (1212-1294) ;
Cop 'rnico (1473-1543) pae da o mographia mod rna ·
Galüeu (1 64-1642), qu , m duvida, mi turou rro
theoloO'ico ao eu . y tema, ma via Deu por t da a
parte no univ r o e fi ou o filho ubmiJ o da Igr ja.
K .epler (1571-1630) fez dis ertaç- theológi a qu
o honram tanto como a . ua de coberta a tronomica ;
Boyl , phy ico e bimico irlandez (1620-1691 ) ensinava
o hri tiani mo ao Íne mo tempo qu a iencia · wton
(1642-1727 ) per onifica a ciAncia respeito a para com
Deu e a f,; J ofio B rnoiilli (1667-174 ) pert n ia á
lgr ja· R 'aiimur (16 3-1757 ) era cr nte; Eiil r (1707-
17 3) abra Jo u toda a. ciAn ia mathemáti as na ua
universalidade, e a sU'a. arta t . temunham . ua. anti-
pathia para o. atheu e o· dei ta · Lirmen (1707-177 )

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ORA DE DO HRI TIANIShlO 377

ra um naturali ta tão pi do o quão ábio; Lavoisier,


chimico (1743-1794 ), foi um hri.stão muito dificante.
Nun a havi'amo d a abar i quiz .,, mo compl tar
ta li ta qu no conduz at o prín ipi do 'culo XL\'.'..
Fa amo a:qui alo·uma ob rvaçõ . Em prim iro lu-
gar pód - lizer qu at' a ita in r dula d-0 fim do
vm, philo ophia história litteratura, juri -
prud 11 ia poe ia ci n ia, arte , t udo é chri tão.
li ta qu d mo além d muito incompl ta, r fer
parti ularm nt á França, porqu ó quiz mo dar alo-un
nome do qu no occorriam á m mória; ma tant-0
tão fl:nno o abio podiamo achar m todas a nações
chri tã (da na õ não hri tã.,,, pou o ão o que
merecem o nom d-e abio , tanto mai qu cahiram no
vid nt-e O'ros _iros ) . Não demos nome .
culptore etc., vi to que qua i
mai talento os, tornaram par-
m trabalho r lio-io o que deno-
tavam o que lhe iam na alma. Provam-no
a obra primas da idade m dia, da nasc nça (embora
ta ahi muito no go to pagão ) ·1o ulo eguintes.
i al uma alma , porém, arrebatad~ pela paixõ ~ , e
tran viam para long do hri tianismo e do us d vere
voltam á práti a da R li o-ião ant da morte: tai foram
Montvign (1533-1592) La Fontain (1621-1695 ),
"lliont qiii u (16 9-175 ), Bnffon (1707-17 ), La H wrp
(173 -1 O ). Tudo leva a r r .qu o proprio \oltair
t ria abjurado a ua im.pi dad i s u fal o amigo o
tives em d i -ado livr na última do n a; J an-J acqiics
Rou. · an ( 1712-177 ) tem acccnto de f' religião tão
profunda que, de tracto d lle ponde puhlicar um
volume com o titulo d J. -J. Rou a1i apologi t-a d.o
C'hl'i tianisrno .

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378 APPENDIOE B

Qu nome illustr de philooophos e sabios pódem


os ímpios oppôr á precedente lista elos crentes. Depois
de lembrar os famoso autore da Encyclopedia, Voltaire
(1694-177 ), d'Al rnbert (1717-17 3), Condillac (1715-
178,0) H lv tins (1715-1771 ), Diderot (1713-1784),
d'Holbach (1723-17 9), Raynal (1713-1794 ) Ma;rmontel
(1723-1799 ) accr centando-lh e Volney (1757-1820),
Boiilang 1· (1722-1759 ), e alguns outros ainda menos
onJ1ecidos, fi a b m d pre a esgotada a lista dos incre-
dulo ·. Francamente e le bôa fé, de que lado estão o
numer o a autoridade, '°
ab r a dignidade e a virtud ?
Para que . e pudessem oppôr os incrédu.los aos crenteis,
. eria preci o citar : 1.0 incr dulos verdadeiramente do-
tados de um talento superior; 2. 0 incrédulos perfeita-
ment onvictos do ceu sy tema; 3.0 incredulos que
tiv ~ em feito um e tudo erio da Religião; 4.0 incredulo
que tive em l vado uma vida honrada. Si lhes faltar
algum de caractere. , podemos recusal-os. Certamente
não havemo de negar a Voltaire e aos seus adeptos, o
e pirito que e lh reconh ece; mas, póde-se dizer que,
p~lo onjuncto c10 saber, elles ejam homens superiores L.
Eram convictos ou ant~s obedeciam á ordem dada por
eu chefe? ... 'I'inham feito um estudo acurado da Religião,
a não er para atacal-a L. Afinal, qual foi a sua con-
ducta ?... Si não conheceram o Christianismo ou levaram
nma vida condemnada p elo Evangelho, qual é o valor
dos ' eus ataqu e e da ua incredulidade L. Por todos
esses motivos, concluamos que, no passado, o Christianis-
mo teve a eu favor todas as autoridades da sciencia, da
historia, da philo ophia e particura.r mente da virtude, e
que, ne te ponto de vista algumas n egaçõe~ não pódem
diminuir a sua gloria (1).
(1) V êr em Fra.yss inous, Oonférences, t. II, Des beaw.i; esprüs
incr.édul es.

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UI/l'OS D f:fltlB'rTAN!SMO 379

AlVl'IGO

A scie n ein no seC'nlo l .


I. ' 1 bl'icl ndoa tl 1u:i.ppnr clc111 A: .I.º philosopl10R; 2. 0 s1tbiot1 ;
3. 0
co] bl'ldnrl 8 cli v l'flflB. - H . C'ontcmporttn OOl'I.

210. - P elo qn · Hz t' SJ ito IÍ po a nt 'm·


pol'fin e11 , nií.o faei l prom1n ·i11r-" n o p0l1 to de visl.a d11
cr nça on, la ?·n 1· d11lidafl r. Fn ·i hn ut o. n ossos adv l'·
1o1ari A noH lnnçnm em 1·0Hlo « qll í' H rn zão 11 phi los l hia •
11 s irui ia, gr a as flO , JW )g rcssoH ás d scobcdn moder -
nas se t·ornarant hosti H ao ' htistinn ümrn, o qna l \•;1e
ri ando uma on. n, i-rn t iqrntdn .»
Eis nhi ertnrn nl.c uma 11J:ri nu11 ~iio p •rl"oitam ente
gratnlta , 1 parn d r·rnb á-la bas ta-nos lançn t· mn olhar
sobr o , erulo ,' 1 ·, 11. 'i rn e mo l'i z mos pum os s ·nlos
pr d ntc. ; 1·e mos pelo 1·onttal'io 1 qu o hri s tianismo
possu r p1· scntnnl cs om lodHí'; ns f'il irns (111 s1·i n •ia lllais
au t01•iz11 da.
1.º · a 71't crn l1rra na µhito~oµ ilr:a . O s •eu lo x rx viu
bai ~ ar ao tumulo '7l at.ecn1brian11. (1 G -1 -J8 1 ot ador,
hi stol'iado1· •ujn & co n ic ·õcs ·u ja f s 1" vela m uffi-
1
·ientcrn onL · no {r 1mfo do hris liu11 L~ 1110 ; os d o is irmão
J os ' Yavi 1· llD Maú: /1· dr Bona /d 1 754- 18~l0 ), philo-
s pho~, litlcl'atos l ubli L· tas, crndi tos , •uj ns obra 1 a ·
sari1 p stori cln ck; Royer- 10/l arcl (17 '3-18-b ) foin e
il Bfrrrn (J O - J8 ~ '1 qu , p lo es tll(Jo p l'ln t f lexão,
lt.nram IÍ wnlien la r eligiiw; iliio P el/iico (17 -1 44 ),
ln. l itcrn L itnliano, q11 a f r sust ' nton na prova
n ntl l'l:l idnd r, ou tros mu i1 N dr CJll s g1 riam. o~
pai zeii lh1 g tt'il hi gl ·za., nll cmii, h . l Anhola italiana,
p rtugu -zn, "te.
' . 0 Nas srie 11 rias, 11 -C •lui stit reh rindi r 11 os loi-.
Tl.r,tsohell J 88-1 · ~ l 7D2-1 l , ast1·onorn . e lcbr s,
el os qna c. o pi·inwfro íl izia : « lwp;o u o m om nt.o om qu

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380 A P p E N D I C E B

a ciencia e a r eligião, irmãs eternas, hão de e dar a


mão;» o padre Haüy (1743-1 22 ) cr ador da cri tallo-
gr aphia; 'º doi J ussieu, B ernardo e Anto111io L ourenço;
Voz.ta (1745-1 27 ), phy ·ico celebre qu e escr evia no fim
da vida: «Duvid i muito, procurei; agora vejo a Deu ·
por toda a parte;» Cuv·ier (1769-1 32 ), que tão bem
verificou o a·ccordo ·d a sciencia geologica com os en ino
da f '; D el'lic (1727-117 ), geologo e physico cuja con-
clusões são a. da Bibia; Ampere (1775-1 36), phy ico
tambem chamado patriarcha das mathematica , chri tão
comoKepler e Newton; auchy (17 9-1857 ), mathemático
e geometr a; B iot (17 9-1 57 ), phy ico e chimico; de
Blainvüle (1777-1 50 ), naturali ta; Brongniart (1769-
1 32), mineralo{)'i sta e geologo; Binet (17 6-1 56),
a t ron omo e mathematico; E Uas de B ai1,mont, abio
geologo (179 -1874 ); Flourens (1794-1 67 ) phy iolo-
o·i fa; Gratiolet (1815-1 65 ), abio Il'aturali ta; Marcello
é/)e Serr e.s (17 2-186.2 ), tão ver ado na sciencia da
co mogonia; D e Quatrefag es, não meno·.;; distincto na
anthropologia (1 10~ 1 92 ); Dumas (l 00-1 4) e
Pasfour ( l 22-1 95), que occupavam o primeiro
lugares entre o abio chimicos da no a ép oca; F aye
(1 14-1902), uma das notoriedades em a. tron omia ; o
padre ecchi (l 1 -1 7 ), celebr e a~ tronomo italiano·
o padre M oigno ( 1 04-1 5), f undador e r dactor do
abio jornal Les Mon<:le, etc. Ei certamente nome que
honraram 'a sciencia e não menos a Religião, mostrando
n a ua pe ·ôa a união adm irável da razão e da fé.
3. 0 Em outra ordem de merito, citemo ainda cele-
bridades catholicas, ha pouco desappar ecida , em que
a alliança do saber e da fé não foi meno resplande-
cente. O anno de 1 6 viu morr r B erry er ( 1790-1 6 ) ,
o principe da eloquencia contemporanea, gr ande juri ta
e grande christão; Ros..sini ( 1792-1 6 ) , compo itor
musico, inspirado p ela fé . Em 1 69 a França perdeu

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GRANDES VULTOS DO OHRISTl.A ISMO 381

T1·oplong na ido m 1795 el bre juri con ulto, antigo


pre, idente :lo nado que d larava qu «d poi de ter
muito lido, m uit pr urad o, muito trabalhado, não
achava mai do que uma ou a verdad ira, o ateei mo,»
Laniartin (1790-1 69 ) po ta ao qual a Religião forne-
ceu a ua mai · hella in piraçõ . Jo anno de 1 70,
baixou ao tumulo Montal mnb ·t (1 10-1 70), orador,
hi toria fo r tão convi to tão rente; -fôra pr cedido no
tumulo por um hri tão não meno ardente, não m no
erudito, Fr d r·ico Ozcind~n (1 13-1 53), e p lo illu tre
La.cordair (1 0,.,-1 61) , d qu ba ta lembrar o nome
;para r u citar todo o nthusia mo..~ da fé r eligiosa.
A. i ncia phy iologi.ca e medica ra dignamente
r pre entada por D11;pii,yfren (1777-1 35), Nélaton
(1 07-1 73 ), la11dio B rnard (1 13-1 7 ) , tod·o morto
na f' catholi a.
211. - II. A raça d A·te chri tãos não se
extin O'uiu: e ntinua hoj no hom n. que se con tituem
o defen or . la fé· chamam- de Lapparent, abio
geologo m mbro do In tituto; Alb 17'rto Ga11,d1·y, profe sor
de paleontologia no Mu Aum; de adaillac Maisonneuve,
a1J throp logista d fama; Branly sa bio physico do Ins-
tituto catbolico de Paris a cujas invençõe Marconi é
d vedor da de coberta da telegraphia sem fio, te. (1) .
Por cert ei nom que provam que a f é mais viva se
póde alliar , mesmo em no. o dias, om a .·ci ncia mais
l:tlta mais atrevida ! E o que proclamavam, na Ingla-
terra, no anno de 1 64, mai · de 200 sabi1os que assignaram
uma declara ·ão exprimindo a onvi ção que não póde
haver ontradi ções entr a r ev lações da natureza e as
da agrada E riptura, i to ' , entre a ciencia a fé.
(1) B nsta percorrer as listas dos membros d os Oongressos scient·i-
ficos inernacionacs dos Catholicos (Paris, 1887 e 1 891; Bruxellns, 1 89 4;
Fribu .1,go, 1 97), para verifi ca r que n sciencia niio é desprovida de
repr sentantes ch ri stiios.

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382 A P P E N D I C E B

Adolpho Thie1·s (1797-1877), historiador, homem de


E stado e primeiro presidente da terceira Republica fran-
ceza, dizia : <«Ü rnaterialis?no é uma tolice e ao mesmo
tempo um p erigo... Quanto a mim, sou espiritualista
apaixonado, e se tive se mai tempo e fôr ça quereria
confundir o materialismo em nome da sciência e do bom
senso ( 1 ) .»
O trabalho que Thier não poude emprehender, foi
pelo meno esboçado por um mode to autor. Durante
37 annos de e tudo e de ensino da sciencia , confrontou
diariamente, diz elle, os dados da ciiencia e da F é, e
reconheceu, com evidencia, que limitando- e ás certeza
de uma e outra, é facil o accordo entre os seus en inos,
e que proj ectam luzes r e""plandecentes uma sobre a outra.
E , em apoio da sua affirmaçã-0, traz no seu opusculo (2),
os tes temunhos dos mais dignos representantes da scien-
cia, dando successivamente a palavra aos- astronomos,
mathenwticos e observadores, aos principes da physica e
da chimica, aos maiores natiiraliSitas do seculo XIX; cortej o
soberbo em honra dá I greja e da fé catholica.
A' vi -ta deste r apido boço, mbora nos occupemo
quasi que exclusivamente de um paiz, e ainda só dando
por alto os nomes da celebridade chr i..stãs e catholicas,
concluamos que é absolutamente fal a a insinuação que
procura fazer acreditar que a sciencia moderna matou
a f é, e o Chri tianismo não ~e acha mais nos sabios da
nossa época.
Sem duvida, formou- uma corr ente hostil contr a
a Religião ; ma é o caso de r epetir com justiça e verdade
o que di semos na conclu ão do precedente artigo. Por
acaso, serão os verdadeiros abio que contradizem as
nossas crenças~ osso adver ario terão r ealmente a
(1) Proaateurs àu XIX• aiecle, por Tissot e Collas, p. 857.
(2) Guillemet, Témoigna.gea spirü:ualistes des plus grand.s savants
du X I X• s iêcle. Edição Hatier, 1 904.

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GRAN DES VUIII'OS DO CHRISTIANJSMO 383

convicção do eu.s systema L. Terão a seu favor o


numero e particularmente o prestigio de uma vida
hon esta e de um procedimento irreprehensivel? Eis outras
·tantas que tões que preci ariam ser r e olvidas antes de
se falar ser iamente do antagonismo d a ciencia contem-
poranea contra a antiga Religião (1 ) .
Afinal, o chr istão que permanece cr ente e fi el acha-se
com t antos e tão illu tre ompanheiro que tem sobejos
motivo para se orgulhar da ua f' . Rari simas vezes
presenceia d fecçõ n a· fil eira do crentes instruídos ;
póde-s até as verar que ' um facto qua i inaudito ;
mtútas v ze , p elo ont rario é consolado por voltas
sincera á f' da p ar do qu e s diziam incr edulos, ou
combatiam a verdade hri tã. Dis o ·ão testemunhas
liittr' (1 01-1 1 ), conv r ticlo da ul tima hora ; J1dio
imon (1 14-1 96 ), o c lebr philo oph a qu em Deu.s
concedeu a graça l r conh c r e ab raça r a f é r evelada
no tw mo ela ua longa carr ira.
um bello livTo intitulado E p 'rance (2.ª edição,
P on i lO'u P ar· ) Monsenhor B awnard o abio r eitor
da faculdades atholi a d Lill de reve o movim nto
de volta para a idéa r liO'io • que actualm nte e nota
E t livro, f ito m O'rancl par te com
ont mp ranco coll oca m evid ncia ,.
alma. p Ia aus n ia ela fé e a u e i-
x rim ntacla p 'lo int llectnai c1 um fun do
rença l moral r licri a . « ahi até na literatura
h t r •doxa, app 11 ine p rad para D u a fé o Evan-
O'dho o 'hri. tiani m a pr pria Icrr ja atholi a.»

(1 J rnn demon straçiio mu ito compl ta da the gera l q u e a cabam os


do stl>bolec r ! oi ompr hendid e conti nuad.n na' publicação da int.er eesanto
coll cção citn<"e et R eliqion da qual muitos numaros s o traduzid os em
portugu z, o coo hoje parn mai d 1 .000 opusculos com t itu los d iveraos.
Livraria Bloud i ie., Pari•.

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3 4 APPE NDICE B

Lembr mo , com o me mo auctor a p eroração de um


eloquent di cur o do onde d Mun (fall ecido em 1914) :
«Realiza- um trabalho profundo nas nova ger ações.
Ha joven lan ado na in r duli<lade pelos tempos cala-
mito>: que a tr av amo ; e i que lle m mos parecem
de ' per ta r a udir com nojo o manto de um materia-
lismo gr os eiro. ma p rturbação my t erio a os impelle
á pro ura d um d onhe ido uperior para o qual
ua almas. D o eio do eus tudo scienti-
ur o·e egundo a expre ão de um dos
no talgia do divino;» t êm êde de fé

inimiao ma im
verdade (1) ... »
P rmaneçamo obre a impr ão deixada por esta
nota já r ealizada da E spérance. o verdade p óde-se
auO'urar bem do f uturo quando se vê a mocidade das
grand e ola da Capital, depoi de ficar ubjugada
p lo a cend ente do grande philo opho christão Ollé-La-
prnne (l 39-1 9 ) , encher -·' e de admiração e confiança
para homen.,. de talent o e convicção como Melchior de
Vo gii ' F. Bnmetiere, Fmnâsc,o Copp ée, J. L emaítre,
Paitlo Bonrg t, R mé Bazin, todo membros da Academia
franceza.
Po am todas a intelligencias r ectas e generosas, -
grande é o numero dellas - abrir como elles os olhos á
luz e não re i tir ao impulsos ·da gr aça !
Em r e umo a ciencia é pa1'a alguns a fonte das
obj ecçõ s, e para o outro a font e da luz. Os seu.
fruct os dep nd em da dir ecção que a consciencia lhe dá,
(1 ) :hlQnsenhor B au n a r d., Espéra nce , p. 220 .

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GRANDES VUI/l'OS DO HRISTIANI SMO 385

ter - e-ia r · olvido o pr bl ma da pr t nsa in r dulidad


scientifi a ontemporanea i f po ·iv 1 vide11 iar a
profunda ignorancia r eliO'io a que r eina m tanto pi-
rito r eputado abio ou a p rversidade moral que lhe
rói coração tran via a intelliO'Ancia.

INDICE DAS MA TERIAS


CURSO DE RELIGIÃO

TERCEIBA PARTE
DA RELIGIÃO EM GERAL
OU PRIN C I PI O $ DE RELIGIÃ O • N'.A. T U'RAL

Pag ina
oçõ s preliminares . 3
OAPIT LO I. - De Deus 7
ARTIGO I. - D a ex i tencia de Deus 7
ARTIGO n. - Natureza de Deus; ns suas per! ições 16
CAPITULO II . - Do homem 27
ART IGO I. - Existencia da alma . 28
Al~TIG-0 u. - irnplicidade e espiritualidade da alma 30
ARTIGO ur. - Liberdade da alma . 36
ARTIGO rv. - Immortalidade da alma . 41
APIT LO III. - Neces idade da religião . . . . . . . 47
ARTIGO 1 : - A nature-la el e Deus e a natureza do homem exigem
uma r eligião . . . 48
ARTIGO n. - O interesse e a f elicidade do homem exigem uma
r eligião 51
ARTIGO III. - A sociedade precisa de u ma r eligião para se manter
na ordem e na estabili dade . 55
CAPITULO IV. - Fundo de todas as r eligiões . 62
OAPI'l'ULO V . - Da ind ifíer ença em materia de r eligião 69

DA RE ELAÇÃO
Joções preliminares 76
CAPITULO I. - Poosibilidade da Revelação . 79
CAPIT LO II . - Utilidade e necessidad e moral da R evelação 84
OAPIT ULO III. - Existencia da R evelação . 90
ARTIGO I . - Da R evelação primitiva . . . 91
ARTIGO u . - Da Revelação mosaica ou judaica 95
§ I. - .úivros do A.ntiuo e No vo Testamento . 96

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386 I ND I CE

§ II. - Ob jeclo d,a R evelação mosaiica e judaica 100


ARTIGO III . - Da Relevação chri stã . 103
§ I. - Livros <Lo Novo T estwmento . 104
§ II. - Ob jecto da R evelação christã 107
CAPITULO IY. - Meios d e d emon stra ção propri os pa.ra d istinguir
uma R elevação divina 110
.ARTIGO I . - D a prophecia 111
AllTIGO II. - Do milagre 118

DIVINDADE
DA

REVELAÇÃO MOSAICA OU JUDAICA


P agina
Lição pr&limiua r 130
CAPITULO I. - Auctoridad e historica do P entateuco 131
CAPITULO II. - Divindade da r eli gião judaica d&monstrada
pelas prophecias . 139
CAPITULO III. - Divindade da R ovel a~ã o judaica demon stra da
p elos mil agres . . . 147
CAPITULO IV. - DivindadA da Revelação judaica demon str a da
pela p erfeição da lei mosa ica . 155

DIVINDADE
DA

REVELAÇÃO CHRISTÃ
Pagina
Lição prelimin a r 161
CAPITULO I. - Au cto ridnde hi stori ca dos Evangelhos 162
CAPITULO II. - J esu s Christo verd ad ei ro Messias . 172
OAPITULO III. - Divindade da missão de J esus Christo provad a
por suas prophecias 182
CAPITULO IV. - Divindad e da missão de J esus Christo prova da
por seus milagres . 185
CAPITULO V. - A di vindade do Christian.ismo provada p&lo
milagre da R esurreição de Jesu s Ohristo . 195
CAPITULO VI. - Divindade d a R evelaçã o chri stã provada pela
sublimidade da sua doutrina . . . 202
CAPITULO VII . - Divindade da r eligiií.o chri stã provada pela
maravilh a do seu estabelecimen to 208
CAPITULO VUI. - Divindad e da r eligião christã provada pelo
heroísmo dos martyres . 214
CAPITULO IX . - Divindade d a r eligião christã provada pElla
maravilha da sua conservação e da sua p erpetuidade . 220

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I N D C E 387

DA IGREJA
Pagina
Noçõ es preliminar s . 231
APITULO I. - Noção geral d a verd adei ra Igreja de Jesus
Christo 234
ARTIGO I . - A I gr eja consider ada em si mesma ou na sua natureria 235
ARTIGO II. - Dos caracter es ou notas da verdadeira Igreja . 240
OAPITOLO II. - A Igreja Catholica Romana é a ver dadeira
I gr eja d e J esus Christo 250
ARTIGO I . - Noção da I greja Oatholica 251
A&TIGO II. - A Igreja CathQli ca R omana possue t-0dos os caracteres
d{\ verdadeira Igreja 255
CAPITULO III. - A Igreja Scismatica, embora se pretenda
Orthodoxa, não é a verdadeira Igreja de J esu s Christo . 270
ARTIGO I . - Noção geral da Igreja scismatica que se pretende
orthodoxa 270
A&T IGO II . - A Igreja scismat.ica não tem os caracter es d a verda-
deira Igreja de J esu s Chri sto 274
CA PITULO IV. - A I greja Protestante n ão é a verdadeira Igreja
de J esus C'hristo 279
ARTI GO I. - Noção das principaes Igreja s Protestantes, Lutherana,
Calvinista e Anglicana . 280
.ARTIGO u . - As Igrejas Protestantes não têm os caracteres ou
ma rcas da verd ade . 286
CAPITULO V . - As p r eroga tivas da I greja em ger al . 298
ABTIGO I . - Da auctoridade da I greja no governo dos fieis 299
ARTIGO rr. - Iníallibilidad el a Igreja no ensino da doutrina
r elig io a 309
CAPIT LO VI. - Das prer ogativa especiaes Sober ano Pontiíice 314
ARTIGO I . - Prim azia do Papa 315
ARTIGO n . - Tnfall ibilidad e do Sober a no Pontifi ce . 318

A PPENDI CE A
Estudo sobr e o racionali smo e os er r os modernos d elle oriu nd os 334
ARTIGO r. - Exposição geral do racionalismo contemporaneo . 335
ARTIGO II. - Refutação summaria do racionalismo 340
I. - Pal.siàcule do principio racionalista que não passa do
P antheismo . . . 341
§ rt. - Doutrinas erroneas do RaeionaJ:ism-0 345
§ III. - Gonseqtumcias do Racionalismo 356

APPE TDICE B
Os grandes homens do Christi anismo . 369
ARTIGO I. - Ohri stãos dos primei ros seculos . 370
ARTIGO II . - Doutores e padres da Igreja . 3;4
ARTIGO U:I. Homens illustres dos tres ulti mos seculos 374
AI<TIGO rv. A sciencia no seculo XIX 379

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~ NA MESMA COLLECÇAO •
CATECISMOS, BROCHURA PARA RETIROS

!\faria e nsina d a á moc idade; catecismo de envolvido sô bre Nossa


Senhora; fala d a suas prom essas, da sua vida, d evoção e c ul to.
O a.g rado Cora~ão e ns inado á mo c idade ; catecismo sô bre o amoroso
Cor ação d e J e us .
O Mínimo de Catecismo , para. a Prin1 eira ommunhão precoce.
O Anjo lntru c tor da Prime ira Comntunhão. - E ' u1na broch.u ra Hlu s·
trada, parn os que s prepara m a receber Nosso S enhor pela primeira vez;
contém uma séri e de in tru cçóe , ex emplos, conselhos práti cos e vem pre-
cedida do D ecre to d e Pio X sôbr e a commuuhão precoce d a c rian ças.
Os Novíss imos; - brochura iUu strada ; f a la d as verdad es eternas: a
morte, o juízo parti cul a r e unh•ersa l, o inferno e céu; combate a
leviandad e do espírito e frivolidad e do coração.
Prec iso e •·itar o infern o. - Outra brochura que d á excellentes p en ·
sarnentos sôbre o ponto im po r ta ntíss imo d e salvar a alma e ev itar a
d esgraça irremediável de perd ê-la para sempre.
R e fl e xões sôbre a e t e rnidade. - Trata d e mostrar a duraçã o illimitad a
da e•ernidade po r meio d e engenhosas comparaçõ e e ti r a a conclusã o que
d e vemo arranjar uma et ernid ad e bôa e ev ita r , custe o qu cu star, de
perd er a alma por toda a ete rnid ade.
Arse nal d e Con vic ç ões ca th ólicas. - E ' um opúsculo do saudoso Padre
D es urmont ; d e modo conciso, ap r esenta a maior parte dos artigos d a f é
cathólica, sobret udo os qu e são m ais práticos p a ra guia r nossa vida diaria .
A- :M edita ção fa c ilitada, o u Ca teci s mo da oração m e nt al , p e lo P . A chilles
D esurmont. - ão páginas d e dou trina seg ura, cheias d e clareza e d e
simplicidade, qu e enca ntam as almas ávi d as de amar a D eus. E' d iificil
expôr d e modo m a is cla ro e ameno o méthod o de m edita r com íru cto sôbr e
qualqu er a sumpto .
1\I é thodo p ara co nve rsar con1 De us. - E' uma nova e di ção d e um
opúsculo muito estim ado do P .e B outa ult, que se poderia intitul ar:
Collóquios Int im as com D eus . Guia e facilita a oração m ental ; a presenta
num e rosos conselh os prá ti cos a êste r espeito.
Culto aos San tíss imo s Nomes de Jesu s, 'M aria , José. - São p o u cas
página com o fim d e d es perta r o amor d esta trindade terrestre: J esus,
Maria e J o é, e suscitar freq ue ntes e amorosas invocaç ões a estes be mditos
nomes.

MEZES DE DEVO ÇÃ O

J\fe z d e Maria , po1· C. L aurent, 232 pagmas; serve para escolas,


ca tecismos, igreja , família s ; p a r a ca d a dia , a pre enta um a leitura, um
ex emplo e uma ora çã.o.
~taio nos Co ll égios e n as Esco las, 175 pág in as; é f e ito especialm e nte
para a mocidad e escola r; os exemplo ; as leitura s e as práti cas d e cad a
dia são d e jovens santos e d estinam -se á juve ntude.
A' Grut a d e J\lassabie ll c, com a V irgem de L ourdes dw·anle o mez de
Maio ; 203 páginas; é tod a a história d e Lourd es, narrad a d e modo
captiv a nte, durante os 31 d ias do m ez d e No sa enhora .
Me z do Sagrado Cora~ã o d e J es u s. - 32 págin as. Curtas lei turas p ara
ca da dia do mez d e Junho .
Me z d e Sã o J osé, pol" Ma.sson; illustrado, 44 páginas; UIIl<\ leitura e
um ex emplo edifi ca nte para ca da dia do mez d e março .
P ~rn outros livros, p e dir o catálog o, - 2 .ª - XI-35.

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COMl'09TO • IMPRESSO NA
TYP. SIQUEIRA
SALLliS OLIVEIRA & CIA . LTDA .
RUA LIBERO BADARÓ, 14•C
SÃO PAULO • BRASIL

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