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PSEUDOSONETO SOBRE UMA ESPERANÇA MORTA

É o demérito de um olho só.

Dês que, para um, é didático enigma.

O envergonhar da pupila com dó.

Diante do tempo, meu paradigma.

Mas é porque um amargo me tange.

Quando me vejo no espelho que fui.

Violentas memórias, suja falange!

Eis, pecha efígie, nuvem que me anui.

Esperança de antes, estranho gosto.

Mostra, de hoje, o anátema que sou.

Um desespero que vai à demência.

E a luz da saudade clareia meu rosto.

Prostrado no vulgar presente estou.

Quando a nostalgia guarda a decência.


PSEUDOSONETO SOBRE O DOGMA DO PASSADO

É que em dois tempos nos irritamos.

Um é tempo de ontem, temperado.

Sonhos juvenis salgam autônomos.

Já, no limbo, eu, agora, plasmado.

Sou eu quem jaz em incerto acaso.

Eu que deixo o pretérito irado.

Lavrando-me, autor de meu ocaso.

Desesperança é o meu arado.

Porque arrasto firme a lembrança.

Semeio saudade com um suspiro.

Rego o campo com úmido desgosto.

Pois futuro, carrasco da cobrança.

Passado, insciente do que aspiro.

Presente, um muro a ser transposto.


Uma pequena dose obtusa de sossego.

Quiçá, um gosto malsã, um trevo de duas folhas

Que é o erro escusável de um criador.

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