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A Oricem pas Linauas RoMANICAS I. A Romanizacaio com a fundagao do Império Romano e, conseqiientemente, com a intro dugao do latim nos territérios conquistados, foi posto o fundamento para as linguas roménicas. Por volta de 272 antes de Cristo, toda a Peninsula Itélica ao sul dos tios Macra e Rubicio cai sob o dominio de Roma; em 241 a Sicilia, entre a primeira c a segunda guerra ptinica, em 238 a Sardenha e a Cérsega, em 215 a Venécia; a partir de 197, a Hispania; em 191, a Galia Cisalpina; por volta de 167, a Dalmacia; em 146, a Africa ap6s a queda de Cartago; em 120, a Galia Meridional; no ano 50, a Glia Setentri- onal; no ano 15, a Réciae, finalmente, em 107 depois de Cristo, no governo de Trajano, a Dacia." Estas datas, normalmente aceitas, no indicam 0 tempo em que o dominio de Roma comegou ¢ se completou nos territérios nomeados. Na Sardenha, por exemplo, onde a conquista comegou em 238 antes de Cristo, a romanizagio sé ficou completa por volta de meados do século I depois de Cristo.? A ocupagao da Hispania foi uma empresa dificil e durou uns duzentos anos. Primeiramente foram ocupadas as localidades do Nordeste, na costa catala. Depois do primeiro desembarque nas Ampirias (218), no Angulo norte-oriental da Espanha, os romanos haviam ocupado Tarragona. Seguiu de- pois a ocupagao de Sagunto (215) e de Cartagena (208), mais tarde a de Andaluzia no Sul. Ao Norte, Jaca foi ocupada em 197 € 0 territ6rio lusitano entre os anos 191 € 185. S6 em 19 antes de Cristo ¢ depois de submetidos os cAntabros, Asturias e Galiza, ficaram estabelecidas as bases iniciais para uma definitiva romanizacio.> Também se sabe que a romanizagao nfo foi igualmente profunda nos diversos territ6rios, e que enquanto alguns deles, por exemplo, o dos Alpes desde Sao Gotardo até o.oeste do Breneiro eram romanizados superficialmente, outros, como a Galia ¢ a Hispania, forneceram a Roma a nata intelectual e podem gloriar-se de homens como P. Teréncio Varro Aticino, Cornélio Galo, os dois Sénecas, Lucano, Quintiliano, etc.* Como foi possfvel que no tempo relativamente breve de trés séculos a lingua ¢ a civilizagao de Roma se fizeram e continuaram sendo a civilizacio e a lingua de povos tao diversos num territ6rio to extenso? A esta pergunta s6 se pode responder que se trata de um fen6émeno tinico de expansio, que nao pode ter outro nome seno “romanizagao”. As vitorias de Roma eram de caréter puramente politico ¢ econ6mico. A-conseqiiéncia das vit6rias politicas era o exercfcio do direito romano, ao qual Roma estava muito ape- D ispensa comentérios 0 fato de que com a expansio do poder de Roma, gada. Roma nfo teve nunca o propésito de assimilar os povos vencidos pela forga no que se refere & lingua ¢ & religido; portanto, nao procurou nunca impor-lhes a propria Iingua, mas, pelo contrario, considerava ali 0 uso do Jatim por si mesmo como uma honra.’- Pode-se compreender que 0 exército romano, no que se refere ao latim, tenha exercido uma poderosa pressao sobre a populagao dos territérios conquistados; mas esta pressiio nao pode ser considerada como um constrangimento, porque nao estava regula- da oficialmente nem imposta de cima para baixo.* Mesmo se mantendo numa atitude sem hostilidade a lingua galica, por exemplo, naturalmente era necess4rio que o trato m as autoridades se fizesse em latim. A aristocracia galica, para poder conservar seus privilégios no Império, adotou o latim por interesse préprio e enviou com prazer os seus filhos a Itélia, de onde regressavam ainda mais romanizados.” Com esta conduta dos romanos no trato com os povos submetidos esté de acordo a denominagao romanus, Romania, a qual, originariamente um termo de valor puramen- te politico-jurfdico, gragas @ romanizagao, isto €, gragas @ tolerante penetragao cultural € lingiifstica de Roma, depois do desaparecimento como entidade politica, se tornou & permaneceu sendo um conccito cultural € lingiifstico para designar a civilizagao romana (p. 155. ss.). Um dos fatores mais notaveis da romanizagao foi 0 exército romano." Na Iliriae na Dacia, o latim seguiu as pegadas das legides romanas; os elementos latinos no Orien- te, por exemplo no grego, se devem ao exército romano.” As zonas militares, as colonias de veteranos, os matriménios de soldados romanos com as mulheres indigenas eram os vinculos mais poderosos para a difusao do latim.'? As colénias de veteranos, a partir do ano 206 antes de Cristo, exercem na Espanha, por exemplo, forte influéncia sobre a a zona militar na regiao do Reno, outra zona marginal, promoveu com veeméncia a expansdo do latim.'' Ao lado do exército, comerciantes e€ agricultores, funcionérios © empregados da administragao romana tiveram uma participacao impor- tante na romanizacao, ¢ houve, naturalmente, uma forte imigragao romana também de outras diversas categorias de homens.'? Poderemos ilustrar melhor esta romanizagao se a observarmos a luz de outra “romanizagao”, a da conquista da América Central e Meridional, que se desenvolveu uns quinze séculos mais tarde ¢ a cujo respeito estamos, naturalmente, mais bem informados. O império colonial espanhol na América foi fundado sobre uma base militar. Os milita~ res tiverain uma parte importante na difuséo do espanhol. Os conquistadores Hernan Cortés (1485-1547) € Francisco Pizarro (1475-1541) fundaram em todas as partes da América Central ¢ Meridional os chamados presidios, estabelecimentos militares, ¢ de- ram terras aos colonizadores com a condigéo de que estes se casassem com mulheres indfgenas. Desta mancira surgiram colénias militares constitufdas por casas residenciais € ediffcios pGblicos aos quais, as vezes, se acrescentaram fortalezas. A terra foi repartida entre os colonos ¢ por certo némero de {ndios escravizados. A medida que estas primit vas col6nias militares se difundiam, convertiam-se em centros de agricultura € de comér- cio, assegurando a necesséria trangiiilidade do territ6rio circundante. Também os missi- onérios tiveram uma parte importante na difuséo do espanhol. Toda a colonizagao da ‘América Central e Meridional est4 construfda sobre fundamentos militares ¢ teocraticos. 08 oficiais, os funcionérios, os eclesiasticos, os bis- Da Espanha procediam os soldados, i B pos, as instituigdes, as leis, os livros € as idéias. : Resumindo, podemos dizer, portanto, que o Império Romano, abstraindo e cues to teocrético,"* foi colonizado do mesmo modo que a América Espanhola, isto € jas legides romanas ¢ pelos Jamen originariamente romanizado pelos soldados d : explicar que estes dois processos de romanizagio, apoiados em fu tenham levado a resultados diversos, na Europa surgiram varias lingw: renciou em distintas linguas, ef. p. 208 as roma ‘América 0 espanhol nao se difei Vale a pena advertir que hé uma tentativa de explicar com ba romanizago" as diferengas entre as linguas romanicas ¢ sua origem de Gréber, com efeito, o latim que foi levado as varias provincias durante um proces de romanizagao que durou de 300 a 400 anos, era diversificado. Assim, por exemplo, latim do ano 238 antes de Cristo que foi levado a Sardenha, era diferente do que no 50 antes de Cristo foi levado & Galia Setentrional, ¢ mais diferente ainda do que no ano 107 de nossa era foi levado & Dacia. Segundo esta mancira de ver, os colonizadores da Sardenha e da Espanha falavam um tipo de latim mais arcaico do que os colonizadores da Franga e da Roménia, ¢ em certo modo o sardo deveria ser a lingua romanica mais antiga e 0 italiano a mais recente, o que naturalmente s6 poderia ser exato se no tivesse havido contatos entre as provincias e Roma depois das indicadas datas de romaniza¢ Segundo esta teoria, as inovagGes do latim puderam chegar sempre, em tal caso, & Itilia, mas nao & Sardenha, Espanha. etc. Esta opiniao ja foi refutada, entre outras coisas, pelo fato indicado (p. 161) de que a romanizacao da Espanha durou uns dois séculos ¢ a da Sardenha mais ainda. O ponto mais fraco desta opinio € que ela no leva em conta que as provincias romanizadas ficaram ainda durante séculos em contato com Roma depois de sua ocupagao, ¢ que seu latim continuou recebendo seguidamente novo alimento da Iingua-m&e. O tnsito entre a Sardenha, ¢ sobretudo entre o centro da ilha, ¢ a pitria-mie foi interrompido logo depois da completa romanizagao, mas isto nao pode impedir inteiramente que por volta de meados do século V estivesse a Sardenha ainda em contato com Roma."* Finalmente, esta teoria € insuficiente também porque 0 desenvolvimento do latim durante a romanizacao num periodo de 300 a 400 anos no foi consideravel ¢ se relacionou quase exclusivamente com os setores da morfologia ¢ do léxico. Apesar disto, esta teoria pode ainda estar correta em alguns casos. Assim, por exemplo, os genitivos illuius, ipsuius e 0 dativo illui dos pronomes ille, ipse, em vez de illius, ipsius ¢ illi, s6 se encontram nas inscrigdes da época imperial. O Jui do italiano, do _ francés e do romeno pressupdem, com efeito, um latim illui, que € desconhecido no ‘sardo e no espanhol, porque esta inovagio nao chegou & Sardenha nem a Espanha. As- sim também a conservagao das vogais latinas @, i, 2, ¢ no sardo (p. 166 € ss.) e das formas mais antigas em a nas duplas latinas janua, jenua; januarius, jenuarius; jajunus, jejunus, nos dialetos centrais da ilha (logudorés janna ‘porta’ < latim janua), enquanto ‘as zonas marginais mais facilmente acessfveis as influéncias mais tardias e a grande planicie que circunda a capital, Cagliari, mostram as formas mais recentes com ¢ sr demonstram que a Sardenha recebeu na cronologia da Segundo a teori: (campidanés génna, énna ‘porta’ < latim jenua), um tipo de nais arcaico gracas & precoce, mas por ter permanecido “emcontato com Roma até o século V 1 também um tipo latino mais recente, que j4 ‘nao pode o mais anti 5 ‘que a teoria de Griber nao esté totalmente esprovida de valor, pois € cap: ‘com a cronologia do latim certas diferen- Ainguas rominicas."” Ao mesmo tempo jf nos xem destas devem estar em relagao, 4 yu a interrupgao das comunicagocs

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