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ge 0 espaco de mil ou trés mil anos! Pois, na yerdade, pode-se dizer que um homem vivew tantos miléaios {quantos 0s abarcados pelo alcance de seu conhecimento de historia” ® 2, ee Pi “op Gop Bape te ste Sit Sea, PSE Ber rte urea ab hitters conten, 25) storum ob Inerims rerem exgerectiam prucene babel Soe Se eee Sah Gal ALP Sa i RS 46 ICONOGRAFIA E ICONOLOGIA: UMA INTRODUCAO AO ESTUDO DA ARTE DA RENASCENCA Tconografia € o ramo da histéria da arte que trata do tema on mensagem das obras de arte em contra posicdo @ sua forma. Tentemos, portanto, definir a distinedo entre tema ou significado, de um lado, e for- ma, de outro. Quandis, n¢ rua, um conhecido me cumprimenta tirando o ehapéu, 0 que vejo, de um ponto de vista formal, é apenas a mudanga de alguns detalhes dentro da configuragao que faz parte do padcio geral de a cores, linhas ¢ volumes que constitui o mundo da minha visio. Ao identificar, 0 que faco automaticamente, essa configuracdo como um objeio (cavalheiro) € 4 mudanga de detalhe como um acontecimento (tirar 0 Chapéu, ultrapasso os limites da percepeio puramente formal e penetto na primeira esfera do tema ou men- sagem. O significado assim percebido € de natureza clementar e facilmente compreensivel e pastaremos @ chamé-lo de significado fatual; 6 apreendido pela sim- ples identificagio de cortas formas visiveis com cestos bjetos que j4 conhego por experiéneia prética © pela Senicagdo da mudanga de suas reais com cers Ora, 0$ objetos e fatos assim identifieados produ- Zirfio, naturaimente, uma rea¢ao em mim. Pelo modo do meu conhecido executar sua acio, poderel saher se est de bom ow mau humor, ou se’ seus sentimentos a meu respeito so de amizade, indiferenga ou hostl- dade, Esses nuancas psivolézicas dardo ao gesto de ‘meu amigo um significado uiterior que chamaremos de ‘expresional.Difere do fatual por ser apreendido, nio por simples identificago, mas por “empatia”. Para compreendé-lo preciso de uma certa sensibilidade, mas essa € ainda parte de minha experiéncia prética, isto 6 de minha femiliasidade cotidiana com objcios & fatos. Assim, tanto o significado expressional como o fatual dem classificar-se juntos: constituem a classe dos significados primarios ou naturas. Entretanto, minha compreenso de que o aio de tirar © chapéu representa um camprimento pertence 2 lum eampo totalmente diverse de interpretagao. Esse forma de saudagio é peculiar ao mundo osidental ¢ tum resquicio do cavalheirismo medieval: 0s homens armados costumavam retirar os elmes para deixarem claras suas intengdes pacticas € sua confianca nas in- iengbes pacificas dos outros. Nao se podetla esperar que um bosquimano australiano ow um grego antigo compreendestem que o ato de tirar o chapéu fosse, nZo 56 um acontecimento pritico com algumas conctagses expressivas, como também um signo de polidez. Para ‘entender © que © gesto do cavalheiro significa, preciso ado somente estar familiarizado com 0 mundo pritico ra dos objeios © fatos. mes, além disso, com o mundo mais do que prético dos costumes e tradigdes culturais peculiares. a uma dada civilizacio. De modo iaverso, meu conhecido no se sentria impelido a me cumpri- mentar tirando 0 chapSu se nao estivesse cénscio do significado deste aio. Quanto is conotagées expressio- nais que acompanham sua aco, pode ou nio ter cons- jéacia delas. Portanto, quando interprcto 0 fato de tirer 0 chapéu como uma saudaco polida, reconheco nele um significado que pode ser chamado de secun- ério ou convencional; difere do. primario om natural ppor duas razoes: em primeiro lugar, por ser inteligivel em vez de sensivel e, em segundo, por ter sido con ciontemente conferido & ago prética pela qual & v culado. E finalmente: além de consttie um acoatesimen- to natural no tempo c espago, além de indicar, natural- meate, disposigdes de énimo e sentinentos, algm de Conanicar uma suudagio corvencional, 1 apio do mea onhecido pod revelar a um abse-vador experimentado tudo aquilo que entra ne composigao de sia "perso naldade’.| Essa personsldade © condicionada por set clo um homem do século XX, por suas bases mations, Socisis c de educacéo, pela hiséria de sua vide passada € pelos cicunstincias atvais que o rodeiamm; mas ela também se-distingue pelo modo individual de encarar as cosas e de reagir ao mundo que, se raconalizado, deveria chamar-e de filesofa.| Na ag isolada de uma Saudagao corés,toros esses Fatox no se maafestam Gliramente, porém sintomaticamente, | Néo.podemes Construir 0 reirato mental de wm home com base nesta_agéo isoladn, c's coordenando 1m grance ni mero de obssrvagtes similares e interpretando-as 0 contexto de novas informagtes gerais quanto sua fpoca, nacionalidade, classe sora, tradighes. intelec- fais ¢ assim por diante, No emanto, todas esas qua- Tidades que ¢ retrato mental expicitemente mostrar. so implicitamente inerentes a sada agho fsolada; de modo que, inversaments, cada acdo pode set inter pretada ius dessa qualidades. O significado asim deseoberto pode denominar-se imrineco ov comeddo; € essencial, enquanto que 0s 0 ‘outros dois tipos de significado, o primério ou natural © 0 secundéno ov corvenciom, si0 fenomenais. 2 possivel definilo como um principio unifieador que sublinka © explica os acontecimentos visiveis e sua significagio inteligivel ¢ que determina até a forma sob 4 qual o acontecimento visivel se manifesta.) Normal- ieate, ess significado intrinseco ou conteido est tho acima’da esfera da vontade consciente quanto o sigai- ficado expressional esté sbaixo dela. Transportando os resultados desta anilise da vida cotidiana para uma obra de arte, cabe distinguir os mesmos trés nfyeis no seu tema ou significado: L. Tema primdrio ow natural, subside. era Jatual'e expressional. & apreendida pela identiticagio das formes puras, ou seja: certas configuragées de linha ¢ cor, ou determinades pedagos de broxze ou pedra de forma peculiar, como represeatativos de obje- {os naturais tals que seres fumanos, animais, plantas, casas, ferramentas e assim por diante; pela identifza- ‘lo de suas relagGes mituas como acontecimentos; © pela percopeio de algumas qualidades expressonais, como o caréter pesaroso de uma pose ou gesio, ou a atmosfera cascira © paciica de um interior. O mundo as formas puras assim reconhecidas como portadorae e significados primérios ou naturais pode ser chamado e mundo dos motivos artistices. Uma caumeracio esses motives constituiria uma descrigéo.pré-icono- arafica de uma obra de arte. IL. Tema secundério ou convencional: § apreen- dido pela pereepgao de que uma figura masculina com uma faca representa Sko Bartolomeu, que uma figura feminina com um péssego na mo € a personificacao da veracidade, que um grupo de figuras, sentadas 2 vuma mesa de jantar numa certa disposicio © pose, re- presenta a Clima Cela, ou que duas figuras comba- tendo enire si, numa dada posicao, representam a Luta entre o Vicio © a Vireude. Assim fazendo, ligames os ‘motivos artistices © as combinagdes de motivos artis- ticos (composigoes) com assuntos e conceitos. Moti ‘vos reconhecidos como portadores de um significado 50. secundério ou convencional podem chamar-se imagens, sendo que combinagées de imagens so 0 que os antic {08 te6ricos de arte chamavam de invenzioni: nds cos- tumamos dar-hes o nome de estérias e alegorias!, A. identficagio de tais imagens, est6rias ¢ alegorias & 0 dominio daquilo que € normalmenie conhecido por iconografia”. De fato, ao felarmos do “tema em opo- si¢io & forma’, referimo-nos, principalmente, & esfera ddos temas secundérios ou convencionais, ou seja, 40 ‘mundo dos assuntos especificos ou concsitos manifes- tados em imagens, estorias e alegorias, em opoticdo 0 campo dos tomas primérios ou naturais manifestados, nos motivos astisticos. “Anélise formal", segundo Wilfin, ¢ uma anilise de motivos ¢ combinagdes de rotivos (composicies), pots, no sentido cxato da par lavra, uma andlise formal deveria evitar expresses co- mo “homem”, “cavalo” ou “coluna”, sem falarmos em frases como “o feio tridngulo entre as pernas de Da de Michelangelo” ou “a admirével iluminagéo das jan- tas do corpo humeno”. B ébvio que uma anélise ico- nogréfica correta pressupte uma identficego cxata dos motives. Se a faca que nos permite identificar Sto Bartolomeu no for uma faca, mas um abridor de garrafas, a figura no seré Sio Bartolomev. Além disio, € importante notar que a afirmagdo “essa figura Sr snboin no ne Fenlugo.lanitesiae, ms, hoc, Spr ou simone in feds" city” “Asin lepine Eooesee B qocien Devin Wt Brain come. Meaney aces ‘Seta. fat hurnias con mitologich. podem eombinaf-re co Serontinsbn carne enue es incall tpresenigher Si" catsiereuiogiatica, Una eatéri, pede comunicar, ambi Te "Giniedde 2a obra como 0 caroceae hatiogier do, Onde me

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