pecado imperdoável
Sem tentar examinar tudo o que foi dito, e sem pretender dizer tudo
o que precisa ser dito acerca de um assunto tão difícil, pensei que
poderia ser útil tentar dissipar um pouco a fumaça e apontar quatro
breves afirmações. Talvez elas possam nos ajudar a pensar
teologicamente e pastoralmente sobre o suicídio.
3. Suicídio é um pecado.
Certamente, não seria com isso que eu começaria no
aconselhamento pastoral, no cuidado pastoral ou ao conduzir um
funeral, mas é um aspecto deste assunto difícil que não podemos
evitar. Enquanto pode haver situações extremas em que um suicida
claramente perdeu o controle de todas as suas faculdades (isto é,
demência, traumatismo craniano), na grande maioria dos casos
estamos certos em ver o suicídio como uma escolha moralmente
culpável e moralmente condenável. Por séculos, a igreja tem
consistemente visto o suicídio como uma violação do sexto
mandamento. Assassinato de si mesmo ainda é assassinato. Como
John Frame observa no livro “A Doutrina da vida cristã”, há cinco
exemplos de suicídio na Escritura (Juízes 9.52-54; 1Samuel 31.3-5;
2 Samuel 17.23; 1Reis 16.18-19; Mateus 27.3-5) e todos eles estão
em um contexto de vergonha e derrota. Do mesmo modo, quando
personagens mais nobres pedem a Deus para tirar suas vidas,
Deus nunca lhes atende (Números 11.12-15; 1Reis 19.4; Jonas 4.1-
11). Nos casos de Jonas e Jó, Deus claramente vê suas petições
autodestrutivas de modo desfavorável.
Embora nós desejemos ter empatia por aqueles que sofrem – seja
pelo arrependimento, depressão, doença ou qualquer outra
enfermidade persistente –, certamente é um raciocínio ético pobre
pensar o sofrimento como um meio que justifica qualquer fim.
Nossas escolhas devem ser consideradas “livres” contanto que não
estejam sujeitas à coerção ou compulsão exteriores. Julie Gossack
– uma esposa e mãe que, por cinco vezes, teve de enfrentar o
sofrimento do suicídio de familiares – resume bem a questão:
“Suicídio não é uma herança genética nem uma maldição familiar.
Suicídio é uma escolha pecaminosa feita por um indivíduo. Essa
afirmação não é desprovida de amor ou respeito. É a verdade. Eu
amava ternamente meus familiares que cometeram suicídio, mas as
escolhas deles foram pecaminosas, e não justas” (JBC Winter:
2006). O suicídio pode parecer a única saída, mas a Escritura nos
afirma que Deus nunca nos conduzirá a uma situação em que violar
seus mandamentos seja a única opção (1Coríntios 10.13). Nós não
ajudamos os santos que estão lutando se nos recusamos a dizer-
lhes que o suicídio desagrada a Deus; falar-lhes isso, em amor,
pode ser um dos meios pelos quais Deus sacode a alma suicida e
lhe traz de volta a um pensamento melhor, mais piedoso.
4. Suicídio não é o pecado imperdoável.
Nós não temos um sistema de penitência e de “extrema unção”.
Embora seja particularmente triste para um cristão morrer dessa
maneira – confuso e sem esperança –, essa perda de perspectiva
não necessariamente significa que o indivíduo não era um cristão
nascido de novo e justificado. John Frame, o qual sustenta que o
suicídio é pecado, também conta a história de um amigo
missionário que foi conduzido para mais perto de Jesus à medida
que lutava contra a depressão, mas terminou por matar-se. Frame
não hesita em dizer, com confiança, que aquele homem era um
cristão genuíno. Nós somos salvos pelo sangue de Cristo, não pelo
fato de o nosso momento final ter sido triunfante ou trágico. O
suicídio não deve ser tratado com leviandade. Ele é
inimaginavelmente doloroso e desagradável a Deus. Porém, para o
filho de Deus, verdadeiramente arrependido, verdadeiramente
crente e verdadeiramente justificado, Deus é maior do que os
nossos pecados, mesmo aqueles que nos apanham em nosso
último suspiro.
Nota do Editor: Se não vou perder
a salvação, posso me suicidar?
Diversas pessoas têm questionado se este artigo não incentivaria o
suicídio. Se você é alguém que tem considerado esse terrível mal,
considere antes o seguinte: o suicídio é um pecado gravíssimo
que deve levantar a questão se a pessoa é realmente salva.
Se por um lado não se tem como afirmar biblicamente que o suicida
perde a salvação, por outro pode-se levantar a questão se essa
pessoa foi sequer um dia verdadeiramente salva. Gostaríamos de
enfatizar que, se alguém que vive uma vida consistente com a fé
cristã comete suicídio, teríamos que nos perguntar antes de ir mais
além, se realmente essa pessoa evidenciava frutos de salvação, ou
se sua vida era mais uma religiosidade do que qualquer outra coisa.