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E SUBJETIVIDADES
1
X SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA POLÍTICA
Psicologia política no Brasil e enfrentamentos a processos antidemocráticos
Eixo Temático 2
Mobilizações Coletivas: Estratégias Políticas e Demandas Democráticas
Coordenadores(as)
João Batista de Menezes Bittencourt (UFAL)
Fábio Giorgio Santos Azevedo (EBMSP)
O presente grupo de trabalho busca acolher propostas que versem sobre as estratégias de resistên-
cias e recrudescimentos construídas pelos agentes jovens no que diz respeito a ruptura e manuten-
ção de discursos e práticas de poder. O grupo de trabalho se afina a proposta do evento cujo tema
trata dos enfrentamentos a processos antidemocráticos e está situado no eixo temático
“Mobilizações coletivas: estratégias políticas e demandas democráticas. Serão aceitas propostas de
pesquisas que se voltem para a compreensão das múltiplas expressões políticas das subjetividades
juvenis. Formas de atuação em partidos políticos, movimentos sociais, coletivos e grupos culturais;
Cibermilitância; fascismos e neofascismos juvenis serão alguns dos temas debatidos nesse GT.
A p r e s e n ta ç ã o
"O Dia em Que o CFH virou de Cabeça para Baixo...”: Notas Sobre a Ocupa CFH/UFSC
Marcela de Andrade Gomes (UFSC)
Comunicação Oral
Diante da heterogeneidade de estratégias políticas inventadas para lutar contra as formas de dominação na
sociedade, este trabalho objetiva tecer algumas análises sobre as ocupações que ocorreram de forma maciça
nos espaços educacionais, no ano de 2015, em resposta aos ataques de direitos e reformas legislativas pre-
vistas para aquele ano que foi palco de mais um desmonte sofrido pela democracia brasileira. Especificamen-
te, abordaremos o episódio ocorrido no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de
Tr a b a l h o s
Santa Catarina (UFSC), conhecido como “OCUPACFH”, o qual foi liderado por estudantes do curso de psicolo-
gia e tornou-se um sujeito coletivo potente, feroz, complexo, ambivalente e polêmico. Com o intuito de escu-
tarmos as narrativas das experiências, singulares e coletivas, que estes militantes vivenciaram nesta ocupa-
ção que durou 30 dias, realizamos um grupo focal que foi composto por questões desencadeadoras acerca
da noção de política, militância e sociedade. A partir das contribuições do filósofo Rancière e da análise de
conteúdo, construímos 4 eixos temáticos de análise: os impactos afetivos desta ocupação na constituição
destes sujeitos os quais foram marcados por muita intensidade e variações nos sentimentos que foram desde
“poder” ao “medo”; a noção de política e de sociedade que sustentava este coletivo, fazendo-os significar a
OCUPACFH como um movimento que “fracassou”; as ambivalências presentes neste movimento que denun-
ciava e reproduzia as formas de dominação, especialmente no que diz respeito às relações de gênero; por
fim, os conflitos inerentes aos processos grupais que variavam entre a coletivização de um projeto comum e o en-
gessamento das funções desempenhadas no movimento, ameaçando a própria existência deste coletivo. A título de
conclusões, apostamos na ideia de que os movimentos das ocupações são mostras de práticas subversivas às formas
tradicionais de política que atuam no paradoxo entre a política e a polícia no sentido atribuído por Rancière.
A Participação Política dos Jovens no Atual Contexto Educacional Brasileiro: Desafios para o Movimento Estu-
dantil
Conceição Firmina Seixas Silva (UERJ)
Comunicação Oral
Objetivo, neste trabalho, discutir a participação política dos jovens nos contextos educacionais, como a escola e a
universidade, analisando como estes sujeitos ressignificam a função que lhes é designada – a de estudante –, e os
sentidos que dão a sua ação no mundo comum. Parto do campo da educação para tecer essa reflexão por diversas
razões: a política e a educação são arenas potentes de encontros e disputas geracionais, questões importantes para
a participação dos jovens; a escola e a universidade são espaços importantes no seu processo de subjetivação; na
sociedade ocidental, essas instituições cumprem um papel importante na transmissão do legado educacional e cultu-
ral; ainda, no cenário social brasileiro atual, em que a propagação de propostas que põem em risco a educação críti-
ca, democrática e pública encontra terreno, a discussão desse tema torna-se imprescindível. Além de uma funda-
mentação teórica, tomo como referência, para elaboração deste trabalho, as pesquisas de campo que venho reali-
zando, ao longo do meu percurso acadêmico, junto aos jovens de diversas escolas e universidades do estado do Rio
de Janeiro. Observo que transformações significativas têm impactado o modo de funcionamento das instituições
educativas, do próprio movimento estudantil – que se vê confrontado com um aparente esvaziamento político do
seu papel na sociedade – e do significado de ser estudante atualmente. A despeito da ideia de que o movimento es-
tudantil já não assume a posição de ator político central nas mobilizações juvenis, percebo que a tentativa de ressig-
nificar o lugar de estudante, pelo jovem, vem acompanhada não apenas de importantes tensionamentos com este
movimento – por vezes, na tentativa de recriá-lo – como da reivindicação de um projeto de educação que abrigue
seus sonhos, suas angústias e incertezas, sua sexualidade, as questões raciais, a amizade, o afeto, ou seja, sua vida
no sentido mais pleno.
Este resumo surge de reverberações da prática realizada no projeto de extensão “Construindo um Processo de Esco-
lhas Mesmo Quando ‘Escolher’ não é um Verbo Disponível” do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). É realizado, dentre outros territórios, na Escola Municipal Roraima, localizada em Cordovil, na zo-
na norte do Rio de Janeiro. O projeto se propõe a realizar um grupo de análise do vocacional, com os alunos do 9° do
ensino fundamental e do Projeto Acelera, de forma a discutir os processos de escolha. Entendendo como importante
ocupar também esse espaço escolar para além dos grupos realizados, e que a nossa entrada afeta também esse
campo, acompanhamos outros atores dessa instituição como professores, diretoras e coordenadoras, participando
de reuniões e conversas. Assim, partindo dessa cartografia percebemos questões tangendo tanto o corpo docente
quanto discente e suas formas específicas de captura, adoecimento e resistências. Com os adolescentes podemos
perceber de que forma esse território escolar, marcado por essas políticas em que está inserido, afeta a construção
de um campo de possibilidades pelos alunos, definindo quais escolhas são de fato uma possibilidade de serem dese-
jadas ou não. Já com o corpo docente da escola, podemos acompanhar o modo como a falta de professores, de ver-
ba, além de sentimentos constantes de ter que dar conta de todas as questões e dificuldades que surgem nesse es-
paço, faz com que a sobrecarga desse trabalho gere um esgotamento e adoecimento desses corpos. Entretanto, en-
tendendo que esse espaço não é apenas passivo na relação com essas forças que o compõem, criam-se ali também
resistências, permitindo criações outras no/do espaço. Dessa forma, a nossa prática se insere nesse contexto buscan-
do a afirmação de (re)existências, agenciando formas singulares de ser/estar no mundo.
Construindo Intervenções Coletivas Mesmo Quando Intervir não é uma Prática Disponível
Camila Moreira e Crespo (UFRJ)
Laíza da Silva Sardinha (UFRJ)
Flávia de Abreu Lisboa (UFRJ)
Comunicação Oral
Este trabalho surge de uma pesquisa vinculada ao Instituto de Psicologia da UFRJ, junto a adolescentes em privação
de liberdade no Rio de Janeiro, com o objetivo de analisar as ferramentas utilizadas na pesquisa de campo. Historica-
mente o saber acadêmico distancia-se dos saberes produzidos fora da universidade, reproduzindo práticas de pes-
quisas que reforçam uma relação hierárquica com espaços, instituições e atores invisibilizados. Reforçam um modelo
extrativista de pesquisa, de extração de informação dos “pesquisados” e um modelo epistemicida (Carneiro, 2005),
de invisibilização de outros saberes, a partir do qual o saber acadêmico se mantém como hegemônico. Em contrapo-
sição, as ferramentas utilizadas nessa pesquisa foram ferramentas políticas de intervenção, apostando na construção
coletiva junto aos atores do campo, afirmando a produção de vínculos e a não hierarquização de saberes. Nas unida-
des, realizamos conversas com funcionários da instituição, seguido de entrevistas semiestruturadas com os jovens,
além dos dispositivos grupais também com os adolescentes. Com a instituição, o coletivo se deu na escuta da equipe
sobre seus conhecimentos da dinâmica de trabalho e das possibilidades de intervenção, além da construção conjun-
ta do próprio planejamento da pesquisa. Com os adolescentes, propunha-se, nas entrevistas e grupos, dispositivos
de construção coletiva, estabelecendo vínculos e criando uma escuta diferenciada, pautada não no ato infracional,
mas em suas trajetórias de vida, assim como produzir mudanças na rotina corporal engessada que a instituição soci-
oeducativa produz. Os dispositivos utilizados afirmam-se como transmissão/troca de conhecimento entre atores do
campo, onde não há sujeito e objeto de pesquisa, mas sujeitos que aprendem juntos. Na contramão do lugar distan-
ciado e hierarquizado que historicamente a universidade ocupa em relação sujeitos e espaços invisibilizados, foi pro-
duzida uma prática política de intervenção de visibilidade aos saberes construídos por diferentes atores da pesquisa,
ressignificando e abrindo novas possibilidades de práticas de pesquisa.
Corpos Pretos Vivos: O Brincar como Ferramenta para Afirmação da Vida e da Felicidade.
Raquel dos Santos Guimarães (UFRJ)
Guilherme Santos (UFF)
Comunicação Oral
Este trabalho surge da atuação com jovens, entre 13 e 17 anos, majoritariamente negros, no curso preparatório da
ONG CEASM – Morro do Timbau, Complexo da Maré, Rio de Janeiro – no projeto de extensão “Construído um pro-
cesso de escolhas, mesmo quando escolher não é um verbo disponível”, do Instituto de Psicologia DA UFRJ. Utilizan-
do como referencial metodológico-teórico a cartografia, buscou-se com a realização de grupos de análise do vocaci-
onal, trabalhar com esses jovens a questão da escolha profissional, usando-a como disparadora para pensar também
escolhas em outros âmbitos. Além disso, construiu-se nos encontros, formas de afirmação da vida com atividades de
brincadeiras, por compreender que a ludicidade desde o período escravocrata representa a alegria e a resistência do
povo preto, e uma estratégia de superação de adversidades e de promoção do direito ao brincar e ser feliz. Entende-
se que ser jovem, pobre e negro, num estado de inspiração racista (Flauzina, 2006), pautado numa lógica capitalista,
é por si só um ato de resistência. Contudo, afirmar-se vivo ultrapassa a postura de ser apenas sobrevivente, é a pos-
sibilidade de ser feliz. Assim, o objetivo desse trabalho é abordar a potência e resistência que há no brincar dos cor-
pos ditos “matáveis” e a sua relação com a felicidade. Propomos a ideia de brincar como uma forma política de exis-
tência, que do jongo a corrida de saco, até as ocupações urbanas promovidas pelo hip-hop, ocasiona inúmeros efei-
tos positivos que ressoam dessa utilização do corpo como ferramenta para promover felicidade, pois o corpo é po-
tência, é afirmação de um existir que se dá tanto a nível individual, como coletivamente. Portanto, o brincar, para
jovens que têm negado o seu direito a diversão, é subverter lógicas estabelecidas, favorecer o autocuidado, é se afir-
mar vivo, e mais que isso: Feliz.
Durante uma pesquisa de psicologia, vinculada a UFRJ, realizada em duas unidades de internação, somado ao traba-
lho da psicologia realizado na porta de entrada do sistema socioeducativo, ambos da capital do Rio de Janeiro, en-
contra-se, no encontro com adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, um grande número de relatos
e histórias de proximidade com a morte: de familiares, de amigos, de alguém na favela; de terem presenciado a mor-
te de alguém ou de quase terem morrido (experiências de tomar tiro, ficou ensanguentado, que quase morreu diver-
sas vezes). Relatos de sofrimento e preocupação, que não conseguem dormir sabendo que podem morrer a qual-
quer momento ou que pensam em seus enterros, ou em deixar filhos e mães. Partindo desses relatos, este trabalho
toma a relação com a morte como dispositivo de análise para pensar a relação com a vida. Propõe-se investigar, por
um lado, relações, práticas e discursos que sustentam o projeto político no brasil, que utiliza-se de diversas estraté-
gias de extermínio (subjetivo, de encarceramento, de mortes); e por outro (totalmente entrelaçado), pensar o modo
de subjetivação e socialização desses jovens como efeito dessa política. Jovens que vivem diversas relações de vio-
lências (físicas e de sujeição), e constroem suas relações com a vida atravessadas por essa proximidade com a morte.
Pensar não a privação de liberdade, mas a privação do direito à vida. Em suma, como pensar a produção de subjetivi-
dade juvenil sem pensar as políticas públicas brasileiras que engendram determinados modos de vida e de morte em
relação a esses jovens? E como pensar um trabalho de psicologia junto aos jovens negros, jovens de favela, jovens
em cumprimento de medida socioeducativa, sem pensar o quanto a proximidade com a morte é elemento constitu-
tivo do seu modo de se relacionar com a vida?
Comunicação Oral
O presente resumo é referente a um estudo sobre política e produção de subjetividade, realizada com jovens de um
assentamento do MST, no semiárido alagoano, desenvolvida com objetivo de analisar aspectos relacionados ao pro-
cesso de formação da militância política dos jovens assentados do movimento, buscando investigar desde os proces-
sos de subjetivação envolvidos na formação militante, até os seus efeitos diários na vida desses jovens. Para tanto,
foi necessário pesquisar as categorias, onde se percebeu que a juventude tem apresentado diversas concepções pa-
ra cada momento histórico, considerada, por exemplo, “O futuro da Nação” – responsável pela revolução – ou “O
Problema do Hoje” – causadora de crises e rupturas dos valores conservadores. Certas visões estabelecidas como
forma padrão de ser jovem desconsideram a produção de sentidos e inquieta pesquisadores para desconstruírem
essas naturalizações e fortalecerem noções de juventude vinculadas às produções de inúmeras e singulares formas
de subjetivação, desfazendo modelos determinantes e limitadores. Ressalta-se que essa múltipla forma de ser rever-
bera também no modo de vivenciar as relações políticas. Para basear as compreensões e possibilitar a capacidade de
perceber como acontecem os processos e como estes impactam na subjetividade do sujeito político, utilizou-se o
método cartográfico, referenciado principalmente nos autores Deleuze e Guattari e instrumentos como: grupo focal,
observação participante e diário de campo, resultando em investigações e análises que fossem ao mesmo tempo
descritivas, interventivas e produtoras de efeitos subjetivos. Percebeu-se que a formação militante relaciona-se for-
temente às afetações, sensibilizações, modos de existir e elaborar as vivências, tornando-se um processo que envol-
ve instancias diversas – subjetivas, sociais, políticas, culturais, regionais – que se reverberam nos modos de ser e agir,
fazendo, por fim, refletir sobre a necessidade de construção de saberes e fazeres psicológicos que dialoguem com a
realidade e fortaleçam as produções de subjetivas.
Relato de Experiência: Juventude, Participação Política e Espaços de Resistência no IFAL Campus Penedo
Daniel Vitor Feitoza (IFAL)
Comunicação Oral
O ano de 2016 foi um ano de protagonismo do movimento estudantil, em que houve grande participação da juven-
tude nas ações de decisão dos rumos que a educação como um todo tomaria nos próximos períodos. Fizemos parte
do movimento em que ficou conhecido nacionalmente como primavera secundarista, onde estudantes do brasil in-
teiro mobilizaram-se nas suas cidades contra as medidas impostas pelo atual governo, dentre elas a PEC dos gastos e
a mp 746, ambas impostas de forma totalmente antidemocrática e sem nenhum diálogo com a população. Após um
longo período de conscientização junto aos discentes sobre a conjuntura da época, os/as estudantes mobilizados/as
puxaram uma assembleia que foi aprovada a ocupação do prédio, sendo esta uma das maiores assembleias estudan-
tis já realizada na história do IFAL - Campus Penedo. Participar do processo de ocupação, pode-se afirmar que foi um
desafio gigante. Onde jovens em sua maioria com idade de 15 a 18 anos, que apesar de todos os problemas, sejam a
nível nacional ou da realidade que vivíamos no nosso instituto, foi preciso sonhar e ter esperança em um futuro me-
lhor. Tomar a frente da organização da escola durante 30 dias, e tê-la como lugar e espaço de não só aprendizado
mas também de resistência, foi sobretudo um dos maiores ganhos de todos/as aqueles/as que participaram do pro-
cesso. Hoje, mais amadurecidos/as, continuamos firmes e orgulhosos por termos participados de um dos maiores
movimentos estudantis do século XXI de toda a américa latina.