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COMARCA DE SENGÉS
COMPETÊNCIA DELEGADA DE SENGÉS - PROJUDI
Rua Almirante Tamandaré, 162 - Sengés/PR - Fone: (43) 3567-1212
Processo: 0000053-35.2018.8.16.0161
Classe Processual: Procedimento Comum
Assunto Principal: Aposentadoria Especial (Art. 57/8)
Valor da Causa: R$20.000,00
Autor(s): ACIL DE OLIVEIRA BRIZOLA
Réu(s): INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
SENTENÇA
Vistos.
I – RELATÓRIO
O réu foi citado e apresentou sua contestação no movimento 13.1, aduzindo, em síntese,
que o autor não comprovou o preenchimento dos requisitos para a concessão do benefício pleiteado.
As partes especificaram as provas que pretendiam produzir aos movimentos 23.1 e 25.1.
É o relatório. Decido.
II – FUNDAMENTAÇÃO
No presente feito, o autor discute seu direito em receber benefício do INSS, consistente em
aposentadoria especial, vez que sempre trabalhou em atividade considerada perigosa e insalubre (ruído,
soda cáustica, enxofre, vapores de soda e hidróxido de sódio).
- Atividade especial:
5) no caso do agente físico ruído, firmou-se no STJ o entendimento de que devem ser
observados os seguintes limites: superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto n° 53.831/64 (atividades
desempenhadas até 04/03/1997), superior a 90 decibéis durante a vigência do Decreto n° 2.172/97 (De
05/03/1997 a 17/11/2003), e superior a 85 decibéis, por força da edição do Decreto n° 4.882/03 (A partir
de 18/11/2003).
Quanto aos demais agentes nocivos, entendimento do Superior Tribunal de Justiça (REsp
n.º 462.858/RS, Rel. Min. Paulo Medina, 6.ª T, DJU de 08/05/2003), no sentido de que a mera utilização
de equipamentos de proteção individual não é suficiente para descaracterizar a especialidade da atividade,
a não ser se comprovada a real efetividade por meio de perícia técnica especializada e desde que
devidamente demonstrado o correto uso permanente pelo empregado durante a jornada de trabalho.
- Do caso concreto:
Tem-se no presente caso que o autor exerceu atividade especial nos períodos abaixo
(levando-se em consideração o PPP apresentado ao movimento 1.7), o qual alega que esteve exposto aos
agentes nocivos indicados de forma habitual e permanente:
Por seu turno, a prova testemunhal colhida só veio a corroborar com as provas documentais
apresentadas. Confira-se:
O autor em seu depoimento pessoal afirmou que trabalha na Empresa Sengés Papel e
Celulose Ltda há 26 (vinte e seis) anos, trabalhando na parte de lavagem e celulose. Disse que tem contato
com produtos químicos de dispersante, soda, enxofre, dentre outros, todos os dias.Afirmou que o contato
é pela respiração e pela pele, por conta do vapor que é produzido. Disse que também é exposto a ruído
superior a 85 dB. Relatou que receberam o protetor pequeno de ouvido, o qual não protege a audição.
A testemunha Valtencir G. de Lima afirmou que trabalha no mesmo setor do autor, e que
possuem contato com soda cáustica, espumante, dispersante e névoa de licor negro. Disse que o contato é
direto com a pele e com a respiração. Além disso, o ruído que estão expostos é acima de 85 dB e utilizam
um pequeno protetor auricular. Disse que desde 1997, quando entrou no local, o autor já estava exercendo
essa função e que todo os dias estão expostos aos mesmos agentes.
No mesmo sentido, foi o testemunho de Dorneles B. de Almeida, o qual relatou que exerce
a mesma função do Sr. Acil e que usam produtos antiespumante e dispersante, mas possuem contato com
a névoa de produtos químicos, que contém soda, enxofre, dentre outros. Afirmou que também estão
expostos a um forte barulho.
Muito embora a autarquia ré, em sede de alegações finais, tenha alegado que não houve
prova testemunhal em virtude da ausência de compromisso das pessoas ouvidas perante este Juízo, tal
argumento não merece prosperar, uma vez que as testemunhas foram devidamente advertidas nos termos
da Lei, conforme consta nos termos de compromisso juntados ao termo de audiência (movimento 46.1).
Desta forma, resta prejudicada tal alegação, haja vista que a produção da prova
testemunhal foi devidamente realizada na presente demanda.
Nota-se, que a função do autor restou plenamente demonstrada pelos depoimentos das
testemunhas, em juízo, as quais evidenciaram a atividade especial do requerente, por isso o pedido de
reconhecimento do labor especial exercido merece acolhimento.
Assim, deve ser reconhecida a atividade especial pelo período de 25 anos, 02 meses e 28
dias (até a DER), de forma contínua e ininterrupta, ou seja, acima do limite de 25 (vinte e cinco) anos
exigido pela Lei (art. 57 da Lei n. 8.213/91).
III – DISPOSITIVO
CONDENAR o réu ao pagamento dos valores atrasados, aplicando-se, uma única vez, até
o efetivo pagamento, a incidência de juros a partir da citação (com base nos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta de poupança, em atenção ao entendimento firmado pelo
Superior Tribunal de Justiça no REsp nº 1270439/PR[1] em sede de recurso repetitivo) e correção
monetária (aplicando-se, em relação a ela, o IPCA-E, conforme modulação realizada pelo Supremo
Tribunal Federal nas decisões dadas nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 4357/DF e nº
4425/DF, as quais reconheceram a inconstitucionalidade por arrastamento do artigo 1º-F, da Lei nº
9.494/1997, no tocante ao índice anteriormente usado para a correção monetária).
Consequentemente, julgo extinto o presente feito, com resolução de mérito, nos termos do
artigo 487, I, do Código de Processo Civil.
Deixo de fixar, por hora, os honorários advocatícios, a serem pagos pelo INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, com fundamento no art. 85, § 4º, inciso II, do NCPC,
deixando para fixar o porcentual devido quando liquidada a sentença, sem prejuízo de eventual
condenação em sede de processo executivo.
Condeno, ainda, a autarquia ré ao pagamento integral das custas processuais, nos termos da
Súmula nº 178 do Superior Tribunal de Justiça e da Súmula nº 20 do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, sendo inaplicável a regra contida no art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289/1996, à espécie.
Marcelo Quentin
Juiz de Direito