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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

COMARCA DE SENGÉS
COMPETÊNCIA DELEGADA DE SENGÉS - PROJUDI
Rua Almirante Tamandaré, 162 - Sengés/PR - Fone: (43) 3567-1212

Autos nº. 0000053-35.2018.8.16.0161

Processo: 0000053-35.2018.8.16.0161
Classe Processual: Procedimento Comum
Assunto Principal: Aposentadoria Especial (Art. 57/8)
Valor da Causa: R$20.000,00
Autor(s): ACIL DE OLIVEIRA BRIZOLA
Réu(s): INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

SENTENÇA

Vistos.

I – RELATÓRIO

ACIL OLIVEIRA BRIZOLA ajuizou o presente pedido em face de INSTITUTO


NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, alegando em síntese, que exerceu atividades sujeitas a
agentes prejudiciais à saúde e a integridade física, requerendo, assim, a concessão de aposentadoria
especial, e; a condenação do réu ao pagamento das prestações vencidas e vincendas, acrescidas dos
respectivos juros legais e atualização monetária, a partir da data do requerimento administrativo.

O réu foi citado e apresentou sua contestação no movimento 13.1, aduzindo, em síntese,
que o autor não comprovou o preenchimento dos requisitos para a concessão do benefício pleiteado.

Impugnação à contestação ao movimento 14.1, oportunidade em que foram rebatidos todos


os pontos contestados.

As partes especificaram as provas que pretendiam produzir aos movimentos 23.1 e 25.1.

Foi proferido o despacho saneador ao movimento 27.1, deferindo-se a realização de prova


oral e documental.

Durante a audiência de instrução e julgamento, foram ouvidas 02 (duas) testemunhas


arroladas pelo autor e tomado o seu depoimento pessoal (movimento 46.1).

A parte autora apresentou alegações finais na forma remissiva, ao mov. 46.1.

A autarquia ré apresentou suas alegações finais aos movimentos 49.1.

É o relatório. Decido.

II – FUNDAMENTAÇÃO

No presente feito, o autor discute seu direito em receber benefício do INSS, consistente em
aposentadoria especial, vez que sempre trabalhou em atividade considerada perigosa e insalubre (ruído,
soda cáustica, enxofre, vapores de soda e hidróxido de sódio).

- Atividade especial:

O tempo de serviço especial é aquele decorrente de serviços prestados sob condições


prejudiciais à saúde ou em atividades com riscos superiores aos normais para o segurado.

O reconhecimento da especialidade de determinada atividade é disciplinado pela lei em


vigor à época em que efetivamente exercida, passando a integrar, como direito adquirido, o patrimônio
jurídico do trabalhador. Desse modo, uma vez prestado o serviço sob a égide de legislação que o ampara,
o segurado adquire o direito à contagem como tal, bem como à comprovação das condições de trabalho na
forma então exigida, não se aplicando retroativamente uma lei nova que venha estabelecer restrições à
admissão do tempo de serviço especial.

Tem-se então, a seguinte evolução legislativa quanto ao tema:

1) até o advento da Lei n° 9.032, de 28/04/1995, é possível o reconhecimento da


especialidade pela categoria ou grupo profissional do trabalhador, tendo-se como parâmetros os anexos
dos Decretos n. 53.831/64 e 83.080/79. A partir da edição da lei, o reconhecimento da especialidade das
atividades passou a demandar a comprovação da exposição a agentes nocivos de modo habitual e
permanente, não ocasional nem intermitente.

2) até o advento do Decreto n° 2.172, de 05/03/1997, o qual regulamentou a MP 1.523/96,


de 11/10/1996, posteriormente convertida na Lei n° 9.528/97, é possível o reconhecimento da
especialidade pelo agente nocivo à saúde ou perigoso, desde que apresentado formulário próprio
descritivo da atividade do segurado e do agente nocivo. Para reconhecimento de condição especial de
trabalho antes de 29/04/1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física não precisa
ocorrer de forma permanente.

3) a partir de 05/03/1997 passou a ser necessária a comprovação da efetiva exposição do


segurado aos agentes nocivos mediante formulário emitido pela empresa com base em laudo técnico, o
que continuou a ser exigido com o advento do Decreto n° 3.048/99 (atualmente em vigor). A
comprovação da exposição a ruído e calor sempre demandou o embasamento em laudo técnico, por se
tratar de agentes que necessitam de medição técnica.

4) a partir de 01.01.2004 o PPP substituiu os antigos formulários e, desde que devidamente


preenchido, inclusive com a indicação dos profissionais responsáveis pelos registros ambientais e pela
monitoração biológica, exime a parte da apresentação do laudo técnico em juízo (TNU, PEDILEF
200651630001741, Relator Juiz Federal Otávio Henrique Martins Port, DJ15/09/2009).

5) no caso do agente físico ruído, firmou-se no STJ o entendimento de que devem ser
observados os seguintes limites: superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto n° 53.831/64 (atividades
desempenhadas até 04/03/1997), superior a 90 decibéis durante a vigência do Decreto n° 2.172/97 (De
05/03/1997 a 17/11/2003), e superior a 85 decibéis, por força da edição do Decreto n° 4.882/03 (A partir
de 18/11/2003).

6) no que concerne ao uso de equipamento de proteção individual ou coletiva pelo


segurado, o Supremo Tribunal Federal definiu que no caso específico de exposição ao agente físico ruído
a níveis acima dos limites de tolerância previstos na legislação, ainda que comprovada a utilização de EPI
(protetores auriculares), resta mantida a especialidade da atividade. Com efeito, a tese fixada pela Corte
Constitucional é no sentido de que “na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites
legais de tolerância, a declaração do empregador, no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário
(PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de Proteção Individual – EPI, não descaracteriza o tempo
de serviço especial para aposentadoria”, pois, ainda que os protetores auriculares reduzem o nível de ruído
aos limites de tolerância permitidos, a potência do som “causa danos ao organismo que vão muito além
daqueles relacionados à perda das funções auditivas”.

Quanto aos demais agentes nocivos, entendimento do Superior Tribunal de Justiça (REsp
n.º 462.858/RS, Rel. Min. Paulo Medina, 6.ª T, DJU de 08/05/2003), no sentido de que a mera utilização
de equipamentos de proteção individual não é suficiente para descaracterizar a especialidade da atividade,
a não ser se comprovada a real efetividade por meio de perícia técnica especializada e desde que
devidamente demonstrado o correto uso permanente pelo empregado durante a jornada de trabalho.

Também, é pacífico o entendimento quanto à desnecessidade de exposição permanente aos


agentes nocivos, sejam físicos, químicos, biológicos ou afins, para a caracterização de atividade especial.
É dizer, para configuração da especialidade, não se exige que o segurado trabalhe exposto a agentes
nocivos de forma contínua durante toda a jornada de trabalho, bastando que se sujeite a condições
insalubres em parte razoável de sua prática laboral, salvo quando sua ocorrência se der apenas de modo
eventual ou ocasional. Outro não poderia ser o entendimento, haja vista o caráter protetivo da norma,
voltado a preservar a saúde do trabalhador. Nesse sentido os seguintes precedentes – EINF
2004.71.00.028482-6/RS, Relator Desembargador Federal Luís Alberto D'Azevedo Aurvalle, D.E. de
8/1/2010 e EIAC 2000.04.01.088061-6/RS, Relator Desembargador Federal Fernando Quadros da Silva,
DJU 3/3/2004.

Em se tratando de eletricidade (atividade periculosa), é ínsito o risco potencial de acidente,


não se exigindo a exposição permanente (TRF4, EINF nº 2007.70.05.004151-1, 3ª Seção, Rel. Luís
Alberto D"Azevedo Aurvalle, D.E. 11/05/2011), vez que sujeita o segurado à ocorrência de acidentes que
poderiam causar danos à sua saúde ou à sua integridade física. A despeito da ausência de previsão
expressa pelos Decretos nº 2.172/97 e 3.048/99, é possível o reconhecimento da especialidade do labor
desenvolvido com exposição à eletricidade média superior a 250 volts após 05/03/1997, com fundamento
na Súmula n.º 198 do extinto Tribunal Federal de Recursos e na Lei n.º 7.369/85, regulamentada pelo
Decreto nº 93.412/96. (TRF4, EINF n.º 2007.70.00.023958-3, 3ª Seção, Rel. Luís Alberto D"Azevedo
Aurvalle, D.E. 15/12/2010; STJ, EDcl no AgRg no REsp 1119586/RS, Rel. Min. OG FERNANDES, DJe
21/11/2011).

- Do caso concreto:

Tem-se no presente caso que o autor exerceu atividade especial nos períodos abaixo
(levando-se em consideração o PPP apresentado ao movimento 1.7), o qual alega que esteve exposto aos
agentes nocivos indicados de forma habitual e permanente:

a) 13/05/1992 a 30/06/1993 – ruído de 90 dB;

b) 01/07/1993 a 28/02/1994 – ruído 89 dB;

c) 01/03/1994 a 31/08/1995 – ruído 73 dB e agente químico (soda cáustica);

d) 01/09/1995 a 30/06/1998 – ruído 85 dB e agente químico (soda cáustica, enxofre e


vapores de soda);

e) 01/07/1998 a 30/06/2001 – ruído 90 dB e agente químico (vapores de soda);

f) 01/07/2001 a 31/12/2002 – ruído 82,20 dB e agente químico (hidróxido de sódio e


enxofre);
g) 01/01/2003 a 31/12/2009 – agente químico (hidróxido de sódio e enxofre);

h) 01/01/2003 a 31/12/2005 – ruído 82,2 dB;

i) 01/01/2006 a 31/12/2008 – ruído 86,03 dB;

j) 01/01/2009 até os dias atuais – ruído 85,49 dB;

Por seu turno, a prova testemunhal colhida só veio a corroborar com as provas documentais
apresentadas. Confira-se:

O autor em seu depoimento pessoal afirmou que trabalha na Empresa Sengés Papel e
Celulose Ltda há 26 (vinte e seis) anos, trabalhando na parte de lavagem e celulose. Disse que tem contato
com produtos químicos de dispersante, soda, enxofre, dentre outros, todos os dias.Afirmou que o contato
é pela respiração e pela pele, por conta do vapor que é produzido. Disse que também é exposto a ruído
superior a 85 dB. Relatou que receberam o protetor pequeno de ouvido, o qual não protege a audição.

A testemunha Valtencir G. de Lima afirmou que trabalha no mesmo setor do autor, e que
possuem contato com soda cáustica, espumante, dispersante e névoa de licor negro. Disse que o contato é
direto com a pele e com a respiração. Além disso, o ruído que estão expostos é acima de 85 dB e utilizam
um pequeno protetor auricular. Disse que desde 1997, quando entrou no local, o autor já estava exercendo
essa função e que todo os dias estão expostos aos mesmos agentes.

No mesmo sentido, foi o testemunho de Dorneles B. de Almeida, o qual relatou que exerce
a mesma função do Sr. Acil e que usam produtos antiespumante e dispersante, mas possuem contato com
a névoa de produtos químicos, que contém soda, enxofre, dentre outros. Afirmou que também estão
expostos a um forte barulho.

Muito embora a autarquia ré, em sede de alegações finais, tenha alegado que não houve
prova testemunhal em virtude da ausência de compromisso das pessoas ouvidas perante este Juízo, tal
argumento não merece prosperar, uma vez que as testemunhas foram devidamente advertidas nos termos
da Lei, conforme consta nos termos de compromisso juntados ao termo de audiência (movimento 46.1).

Desta forma, resta prejudicada tal alegação, haja vista que a produção da prova
testemunhal foi devidamente realizada na presente demanda.

Nota-se, que a função do autor restou plenamente demonstrada pelos depoimentos das
testemunhas, em juízo, as quais evidenciaram a atividade especial do requerente, por isso o pedido de
reconhecimento do labor especial exercido merece acolhimento.

Diante do exposto, possível o reconhecimento da especialidade, uma vez que comprovada


a sujeição do autor a ruído superior ao limite legal de tolerância a época nos períodos de 13/05/1992 a
30/06/1993; 01/07/1993 a 28/02/1994; 01/09/1995 a 04/03/1997; 01/07/1998 a 30/06/2001; 01/01/2006 a
31/12/2008; 01/01/2009 até os dias atuais. Ainda, é possível o reconhecimento da especialidade no
intervalo de 01/03/1994 a 31/08/1995; 01/09/1995 a 30/06/1998; 01/07/1998 a 30/06/200; 01/07/2001 a
31/12/2002; 01/01/2003 a 31/12/2009, em razão da exposição a agentes químicos.

Assim, deve ser reconhecida a atividade especial pelo período de 25 anos, 02 meses e 28
dias (até a DER), de forma contínua e ininterrupta, ou seja, acima do limite de 25 (vinte e cinco) anos
exigido pela Lei (art. 57 da Lei n. 8.213/91).

III – DISPOSITIVO

Ante o exposto, com fulcro na Constituição Federal e na Lei 8.213/91, julgo


PROCEDENTE o pedido inicial formulado por ACIL OLIVEIRA BRIZOLA, em face do
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, para:

RECONHECER E DECLARAR, que durante os períodos de 13/05/1992 a 30/06/1993;


01/07/1993 a 28/02/1994; 01/09/1995 a 04/03/1997; 01/07/1998 a 30/06/2001; 01/01/2006 a 31/12/2008;
01/03/1994 a 31/08/1995; 01/09/1995 a 30/06/1998; 01/07/1998 a 30/06/200; 01/07/2001 a 31/12/2002;
01/01/2003 a 31/12/2009; 01/01/2009 até os dias atuais, o autor exerceu atividade especial;

RECONHECER E DECLARARo direito do autor de receber o benefício de


aposentadoria especial em face de já ter preenchido os requisitos de Lei, nos termos da fundamentação
retro, cujo benefício deverá ser pago pelo réu INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL –
INSS a partir da data do requerimento administrativo e calculado na forma da legislação vigente.

CONDENAR o réu ao pagamento dos valores atrasados, aplicando-se, uma única vez, até
o efetivo pagamento, a incidência de juros a partir da citação (com base nos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta de poupança, em atenção ao entendimento firmado pelo
Superior Tribunal de Justiça no REsp nº 1270439/PR[1] em sede de recurso repetitivo) e correção
monetária (aplicando-se, em relação a ela, o IPCA-E, conforme modulação realizada pelo Supremo
Tribunal Federal nas decisões dadas nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 4357/DF e nº
4425/DF, as quais reconheceram a inconstitucionalidade por arrastamento do artigo 1º-F, da Lei nº
9.494/1997, no tocante ao índice anteriormente usado para a correção monetária).

Consequentemente, julgo extinto o presente feito, com resolução de mérito, nos termos do
artigo 487, I, do Código de Processo Civil.
Deixo de fixar, por hora, os honorários advocatícios, a serem pagos pelo INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, com fundamento no art. 85, § 4º, inciso II, do NCPC,
deixando para fixar o porcentual devido quando liquidada a sentença, sem prejuízo de eventual
condenação em sede de processo executivo.

Condeno, ainda, a autarquia ré ao pagamento integral das custas processuais, nos termos da
Súmula nº 178 do Superior Tribunal de Justiça e da Súmula nº 20 do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, sendo inaplicável a regra contida no art. 4º, inciso I, da Lei nº 9.289/1996, à espécie.

Deixo de submeter a presente sentença ao duplo grau obrigatório, em face do disposto no §


3º, inciso I, do artigo 496, do Código de Processo Civil, visto que apesar de ilíquido o valor, é certo que
não ultrapassará 1.000 (mil) salários-mínimos.

Cumpra-se, no que couber, o disposto no Código de Normas da Corregedoria-Geral da


Justiça do Estado do Paraná.

Oportunamente, arquive-se o presente feito.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Sengés, datado e assinado eletronicamente.

Marcelo Quentin

Juiz de Direito

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