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Quarto suspiro de um amor

Capítulo I

“Dê-me apenas um dia... Um dia que possa valer por todos... Um dia para que possamos nos
amar. Apenas um dia...”

Um mês... Um mês desde que vi pela última vez meus olhos refletidos nos dela.
Separados pelas estações, destinados a um único encontro restrito ao final de cada ciclo.
Verão, outono, inverno, primavera. E assim sucessivamente. Um amor dividido em quatro. Um
amor despedaçado. Um amor quase sem esperanças, mas ainda assim, um amor.

A última vez que pude ver os olhos de Erica foi dia 20 de Março. Início de outono.
Optamos por nos encontrar ao início de cada estação pois soava mais... Romântico? Não sei
ao certo. Mas também por questões de distância. São seis horas de viagem entre nós, nunca
poderíamos nos dar ao luxo de gastar tanto dinheiro ou tempo todo mês. Seria desgastante
para os dois lados. Optamos por não assumir um relacionamento sério, afinal, significaria ainda
mais desgaste e expectativas que jamais poderíamos cumprir. Estávamos livres um do outro
durante um período de três meses. Vantagens da internet? Tentamos nos primeiros anos, mas
era doloroso demais. Não usufruíamos dos mensageiros instantâneos, os principais
encurtadores de distância dos tempos atuais pois o ato de ver e não tocar, ouvir e não sentir
eram cruéis demais. Apenas mantínhamos contato por e-mail. Um por semana.

Podem usar qualquer nome pejorativo quando estiverem referindo-se a mim. Mesmo
com nomef povoando meus sonhos, não pude evitar viver pequenos amores. Amores de três
meses. Três meses menores que quatro dias. Pequenos relacionamentos que mascaravam a
falta de meu amor verdadeiro. Não que esses pequenos envolvimentos sentimentais fossem
falsos, mas não superavam toda a carga emocional daquele que aflorava ao final de cada ciclo
de três meses. E Erica fazia o mesmo. Pequenas máscaras para esconder grande solidão.

Mas, se preferir, pode me chamar pelo nome. Chamo-me Arthur. Nome de origem
celta que significa “nobre, generoso”. Não que eu me considere algo assim, claro.

Erica tem origens norueguesas. Sempre poderosa.

Eis que sob os olhos do céu, o nobre encontrou a sempre poderosa. E nunca mais seus
corações estiveram separados desde então, com seu amor gravado no tronco de centenária
árvore na cidade natal daquela que ostentava inesquecível brilho em seus olhos. Gravação
acompanhada das seguintes palavras mencionadas anteriormente:

“Dê-me apenas um dia... Um dia que possa valer por todos... Um dia para que
possamos nos amar. Apenas um dia...”

Palavras gravadas profundamente em uma árvore que acompanhou tantos


apaixonados ao longo de sua existência. Palavras gravadas mais ainda em frágeis corações
tomados pelo nobre sentimento humano denominado amor.

Mesmo compartilhando de meu toque com outras, o que posso fazer se cada gota de
sangue derramada, cada suspiro de mim já ouvido, cada minuto já passado, cada segundo
corrido, cada lágrima escorrida é dedicada apenas a você? O que fazer se cada pedaço deste
frágil corpo e desta pequena alma vagando em vasto mar de solidão pertence unicamente a
você?

Apenas espero ansiosamente pelo próximo encontro.

Separados pelas estações, destinados a um único encontro restrito ao final de cada


ciclo. Destinados a um choro silencioso e profundo interrompido pelas lágrimas do reencontro
apenas quatro vezes por ano.

Que pequeno amor viveria durante o ciclo de espera que agora se passava? Suportaria
me entregar aos braços de outra que não você? Suportaria você entregar-se aos braços de
outro? Até quando agüentaríamos viver assim?

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