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POR LUIZ MAURÍCIO B. R.

MENEZES • COLUNA Professor de Filosofia


Política e Filosofia An-
tiga da UEAP

Cidade Filosófica
Prometeu e a aporía humana
Conta-nos o mito grego te nesse momento de aporía sobre o problema ou aquele
que Zeus teria encarregado os em que o homem estava meti- que se dedica a resolver o pro-
irmãos Epimeteu e Prometeu do pela má distribuição feita blema, pois a aporía pertence
de distribuir as capacidades por Epimeteu e precisa resol- ao próprio sentido do humano.
dos seres vivos antes de sua ver agora o impasse posto pelo O percurso de todo homem en-
gênese no mundo. Epimeteu irmão. Sem mais nenhuma ca- volve a aporía da vida, isto é, o
pediu a Prometeu que ele pacidade para dar ao homem, impasse sobre a perplexidade
próprio ficasse incumbido da Prometeu se vê obrigado a ir do mundo que nos cerca. So-
distribuição e que Prometeu até a morada dos deuses para mos uma existência (ou seriam
depois iria conferir o seu tra- roubar-lhes o fogo e as artes e existências?) ainda inexplora-
balho. E no procedimento de a entregá-los aos homens. Gra- da, presos a uma única realida-
distribuição, Epimeteu con- ças ao seu feito que o homem de temporal que nos faz indi-
feriu a algumas criaturas a pôde sair da aporía e ser capaz zíveis todas as outras possíveis
força, a outras, velocidade, a de sobreviver no mundo. Pro- realidades. A aporía se encon-
alguns, garras, a outros, asas meteu, portanto, é aquele que tra no escolher, no como viver,
e, assim por diante. Ele pare- deu o recurso ao homem aca- no que fazer da vida que nos
cia distribuir adequadamen- bando com a aporía posta por foi dada. Será através do fogo
te as capacidades entre os se- Epimeteu. Por esse feito, Pro- da razão e do uso das artes e
res existentes. meteu será, depois, condena- técnicas que o homem irá se
No entanto, não sendo mui- do e castigado por Zeus e será aprimorar e avançar dentro das
to sábio, acaba usando todas as acorrentado no Cáucaso por suas próprias capacidades e
capacidades antes que chegas- Hefesto. possibilidades na tentativa de
se no homem. Isso leva-o a um O que queremos atentar se descobrir como humano,
impasse, um momento de des- com o mito aqui exposto é para pois não há humano que possa
conforto em que ele não con- o sentido da aporía e sua im- se manter fora da dádiva que
segue resolver o problema que portância para o filosofar. A nos foi entregue.
lhe está posto. Tal momento de aporía é um elemento de per- Prometeu através da sua
impasse, que o próprio Epime- plexidade que impulsiona a fi- ação para com os homens, vem
teu se meteu, é o que chama- losofia a buscar soluções para aproximar a humanidade da
mos em filosofia de “aporía”. as suas questões, sendo um dádiva divina e nos permitir a
A palavra aporía pode ser me- desafio imposto ao filósofo. A abertura do caminho. Aberto o
lhor entendida se for dividida filosofia, já diziam os antigos, caminho, estamos livres para
no prefixo de negação “a” e a começa com o espanto, com o escolher nosso próprio percur-
palavra “póros” que significa questionar-se sobre o mundo. so perante a aporía da vida.
passagem, caminho ou recurso. Sem questão não há filosofia e se move na dificuldade de re- se encontrar uma resposta ade- Em minha próxima coluna
Aporía seria, portanto, “sem toda questão leva a um impas- solver uma questão, de pensar quada para o impasse. irei falar sobre o castigo de Pro-
passagem” ou “sem recurso”. se a ser resolvido. O homem sobre os caminhos possíveis a No entanto, o filósofo é so- meteu pelo roubo do fogo di-
Prometeu chega justamen- que filosofa é um homem que serem percorridos no intuito de mente aquele que se adianta vino.

DOM PEDRO JOSÉ CONTI • COLUNA Bispo de Macapá

O caroço de milho
Dois amigos voltavam do tra- nhas ideias? Eu também desisto de O tempo do Advento, que nos no meio de tantas propostas e pos- falar novamente ao nosso coração,
balho e caminhavam por uma es- ser seu amigo. Não confio mais em prepara ao Natal, começa com um sibilidades, o caminho certo. Nas também quando está sufocado por
trada de chão, quando viram um você. Enquanto os dois conversa- forte convite à vigilância. A nossa escolhas, todos procuramos, cons- tantas distrações, fúteis e superfici-
grão de milho à sua frente. Um de- vam, uma galinha passou por eles existência se desenvolve no tem- cientes ou não, aquela que chama- ais. Muitas vezes trocamos o Senhor
les comentou: e engoliu o caroço de milho. Assim po que passa e todos aguardamos mos de felicidade, algo muito bom, da Vida por coisas materiais, emo-
- Veja, encontramos a nossa se foram todos os sonhos deles. os acontecimentos que virão. Al- que satisfaça todos os nossos so- ções passageiras, ambições alienan-
mina do ouro! Se plantarmos este Com o primeiro domingo de guns são, em parte, previsíveis, nhos e anseios. Mas será mesmo tes e egoístas. Estamos demorando
grão, nascerá um pé de milho; de- Advento retomamos, mais uma porque são o resultado das nossas possível encontrar essa felicidade? demais para descobrir o engano.
bulhando as espigas e voltando a vez, a caminhada de fé do Ano Li- ações anteriores; outros nos pegam É neste ponto que acontecem os De muitas maneiras, todos en-
plantar, teremos uma roça de mi- túrgico. Desta vez nos acompa- de surpresa. Alguns desses mo- maiores enganos e as maiores frus contramos o nosso caroço de mi-
lho; depois, debulhando nova- nhará o Evangelho de Marcos. No- mentos são bons, alegram-nos e trações. Tudo o que for simplesmen- lho, que nos ilude com um futuro
mente todas as espigas e plantan- vamente, lembraremos os grandes nos animam. Outros, aparente- te humano, também se importante talvez mais fácil, mas, certamen-
do novamente, teremos uma la- momentos da vida de Jesus e dos mente, são indiferentes: uma roti- e valioso, irá passar. Para os cristãos, te, temporário. Melhor tirá-lo logo
voura de milho e, assim, continu- seus seguidores, os discípulos da- na de dias que se seguem, mais ou porém, o horizonte da vida, não está da nossa frente, para ver se apren-
ando, nos tornaremos grandes quele tempo e os de hoje, que so- menos, iguais e cansativos. Enfim, somente nas coisas, nos bens e nas demos a construir uma vida mais
produtores. Seremos ricos! mos nós. Somente quem pensa temos as horas tristes, de sofri- pessoas deste mundo. A meta é o real, concreta e, possivelmente,
- Nossa, como você é inteligen- que reavivar e refletir sobre a pró- mento e provação. Esses são os nosso encontro com o próprio Deus útil no alcance da meta certa para
te! – respondeu o outro – mas eu pria fé seja inútil, deixa de se ale- dias nos quais experimentamos o Pai, aquele que sempre é e sempre nós e para tantos irmãos e irmãs
não quero ser seu sócio. Você é grar com o novo começo. Na reali- vazio, a solidão, as dúvidas e per- será. “Vigiar” para os cristãos é, por- comprometidos com a mesma
muito ganancioso. Assim que cres- dade, a vida cristã é sempre algo guntamos a nós mesmos o senti- tanto, dispor-se a este encontro que busca de um sentido para tudo o
cer o primeiro pé de milho, eu pe- que está acontecendo, e a Igreja, do das coisas. o próprio Deus sempre nos oferece que acontece. Um sentido gran-
garei as minhas espigas e as plan- como mãe e educadora dos seus “Vigiar” para o evangelho, não é de novo. Ele nunca desiste de nos de, verdadeiro e luminoso. Hoje,
tarei na minha roça. Nada de ser filhos, toma-nos mais uma vez simplesmente não dormir é, sobre- procurar. Por isso, veio no seu Filho mais do que nunca, devemos “vi-
seu parceiro. pela mão e nos conduz ao encon- tudo,prestaratenção,buscarrespos- Jesus, no meio de nós, igual a nós, giar”, para não sair do caminho
- Esta é a sua gratidão pelas mi- tro com o Senhor. tas às perguntas da vida, discernir, pequeno, pobre e sofredor. Ele quer que, afinal, é Jesus.

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azeta-a Macapá (AP), Domingo e Segunda-feira, 3 e 4 de dezembro de 2017 31

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