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Jeanne Marie

Tatiana Roque
Caria Rodrigues
0 livro como imagem do mundo é de toda maneira
uma ideia insipida. Na verdade nâo basta dizer
Viva o mûltiplo, grito de resto diffcil de emitir.
Nenhuma habilidade tipografica, lexical ou mesmo
sintâtica sera suficiente para fazê-lo ouvir. É preciso
fazer o mûltiplo, nâo acrescentando sempre uma
dimensâo superior, mas, ao contrario, da maneira
mais simples, corn força de sobriedade, no mvel
das dimensôes de que se dispôe, sempre n-1
(é somente assim que o uno faz parte do mûltiplo,
estando sempre subtraido dele). Subtrair o ûnico
da multiplicidade a serconstituida; escrevera n-1.

Gilles Deleuze e Félix Guattari


FRAQUEJADA(S)
Jeanne Marie Gagnebin

A REVOLTA DA ZONA CINZA


Tatiana Roque

DO CAPITÂO AO CAPITAL
Caria Rodrigues
FRAQUEJADA(S)
Jeanne Marie Gagnebin

Ansiosos, meus amigos la fora, em Paris, Lausanne ou Berlim,


me perguntam o que acontece aqui. Muitos que vieram ao
Brasil lembram um pais exubérante, uma acolhida generosa,
frutas deliciosas. Nâo entendem como essa onda de vio-
lência aconteceu. E, naturalmente, perguntam se nâo séria
melhoreuvoltarparalâ.
Desolados, muitos amigos aqui, em Sâo Paulo ou no
Rio, em Belo Horizonte ou em Porto Alegre, dizem que nâo
conseguem entender como tanta gente se révéla “fascista”
ou, pelo menos, sem critica ao “Helenâo”, corn certo jûbilo
provocado porsuastiradas machistas, violentas, racistas,
homofôbicas etc.
Tento juntar alguns elementos nâo sô para alcançar uma
compreensâo minima, mas também para evitar cair no
desespero ou na resignaçâo. E corro um duplo risco: o de
sertaxada de feminista esquerdista sem vergonha pelos ini-
migos e o de ser chamada de estrangeira loira e imperialista
pelos amigos. Mas vamos la.
Deveriamos terficado alerta hâ mais tempo. Um depu-
tado desconhecido, que nunca propos algo relevante, ficou
de repente notâvel. Por que? Porque dedicou seu voto a
favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff à
memôria do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que a
tinha torturado. Ustra foi o comandante do Destacamento
de Operaçôes de Informaçâo - Centro de Operaçôes de
Defesa Interna (DOI-CODI) de Sâo Paulo entre 1970 e 1974.
Oficialmente, morreram 47 pessoas nesses quatro anos
nas dependências do DOI-CODI de Sâo Paulo - a Comissâo
Nacional da Verdade (CNV) chegou a um numéro muito maior.
Entre 1972 e 1973, Maria Amélia, César, Criméia Teles (grâ-
vida de quase oito meses) e as crianças de cinco e quatro
anos, Janaina e Edson Luis, filhos de Maria Amélia e de César,
foram sequestrados e torturados nesse centro. As crianças
nâo sofreram tortura fisica, mas psiquica, e sô reconheceram
sua mâe, desfigurada pela violência, quando perceberam
sua voz. Hoje, Janaina (historiadora) e Edson (professor de
filosofia) continuam lutando para lembraro que aconteceu
e conseguiram, pelo menos, o reconhecimento do coro­
nel Ustra como um dos maiores responsâveis pela tortura
durante a ditadura: em setembro de 2006, o juiz Gustavo
Santini Teodoro, da 23a Vara Civel de Sâo Paulo, acolheu
uma Açâo Declaratôria impetrada pela familia Almeida Teles
contra Carlos Alberto Brilhante Ustra por entender que a
ofensa aos direitos humanos nâo esta sujeita a prescriçâo,
apesar da famosa Lei da Anistia, invençâo que pretende
“reconciliar a famflia brasileira”. Ustra morreu em 2015 sem
tersido punido. Muitos outras torturadores ou responsâveis
pela tortura nâo foram nem reconhecidos como tais e perma-
necem anônimos, malgrado os esforços da CNV.
Que esse deputado possa dedicarseu voto ao coronel
Ustra - sem sofrer nenhum processo, nem mesmo uma
reprimenda pûblica - deveria nos ter alertado. Bolsonaro
começou ali uma carreira fulgurante baseada na desfaça-
tez que seus seguidores louvam como sendo sinceridade
ou minimizam como piada. Ele se apoia na desmemôria
da ditadura, desmemôria crassa e cultivada pelos meios
de comunicaçâo, pelos programas escolares, pelos suces-
sivos governos civis e pela nossa covardia também. E
agora, também por José Antonio DiasToffoli, présidente do
Supremo Tribunal Fédéral (STF), a maisalta corte jundica
do pais: numa palestra sobre os trinta anos da Constituiçâo
de 1988, afirmou nâo querer falar mais nem em “golpe”
nem em “revoluçâo” de 1964, mas, simplesmente, em
“movimento”. Tudo sempre em nome do “otimismo” tropical,
da cordialidade brasileira (jâ criticada porSérgio Buarque
de Holanda) e da necessidade de esquecer o passado

CD
para poderirem trente. Masesquecersem elaborar, todos
nos sabemos, significa ficar preso na violência latente e
ameaçado pelo retorno do recalcado - 63 mil mortos por
morte violenta porano, a grande maioria dejovens negros
ou pardos (cor esquisita, nâo a conhecia antes de chegar
ao Brasil) e inûmeras mulheres, muitas também negras. O
racismo e o machismo ficam évidentes. Sempre existiram,
mas agora existem sem vergonha.
Como pudemos acreditar que um governo de “esquerda”
podia realmente existir sem que essa falta de memôria
fosse elaborada? Elaborada por todos brasileiros, nâo
confinada ao relatôrio corajoso, mas pouco difundido e
pouquissimo discutido da CNV, formada porsete membros
que trabalharam até à exaustâo. Entregaram o relato em
dezembro de 2014. Parece que nâo se pode fazer nada
de relevante antes do Natal e do Carnaval. Depois das
férias vieram as denuncias do “Petrolâo” e o impeachment,
esquecemos do relatôrio e da CNV, também dos mortos e
dos desaparecidos, da tortura passada e permanente?
Hoje conversei corn uma senhora de 78 anos na minha
aula de ginâstica. Ela quer votar em Bolsonaro porque
desconfia de todos outros politicos. Eu disse que nunca
votaria em alguém que defende a tortura e começamos a
conversar. Ela nem sabia quem era o coronel Ustra. Contei
para ela. Como é que nâo sabia? Por que nâo lembramos
(nos de esquerda) a todos, nâo gritamos por justiça e
memôria na praça pûblica, nas ruas, nas escolas, antes
de querer defender qualquer candidato(a)?
Na mesma aula de “musculaçâo”, na quai luto contra
ostéoporose e câimbra, nâo converso com os homens,
todos eleitores de Bolsonaro. Sei que nenhum argumento
vai convencê-los. Durante muito tempo, acreditamos que
argumentos racionais sâo capazes de convencer. Talvez
convençam uns poucos privilegiados que estudaram bas-
tante, como jâ sabiam tanto Platâo quanto Spinoza. E os
poucos sâo pouquissimos no Brasil, mesmo entre os mais
ricos e estudados, a tal da “elite” (essa palavra, para
mim, somente poderia designar uma marca de sapatos
feitos à mâo). Somos movidos por paixôes nada nobres,
ôdio, inveja, ressentimento, às vezes também compai-
xâo, ternura. Por que acreditar que nos, intelectuais de
esquerda, que tiveram tempo para viajar, pensar, refletir,
aprender outra lingua, tomar um bom vinho, portanto, ter
uma “consciência critica”, seremos capazes de convencer
aqueles que, muitas vezes, nâo tiveram tantos privilégios
nem tanto tempo, ou, entâo, têm dinheiro demais? Adorno

oo
e Horkheimer, os velhos antifascistas judeus, jâ falaram
dos limites da “Aufklârung” quando se debruçaram sobre
os elementos do antissemitismo. Nâo precisamos desistir
da razâo, da emancipaçâo, da solidariedade e da liberdade,
da ternura e do amor, mas perceber melhor o quanto nos-
sas palavras podem soar como afrontas, que nos fortale-
cem em nossa posiçâo e desprezam o interlocutor. Nâo
precisamos dar razâo a ele ou concordar, mas escutar o
que o move para tentar iniciar um deslocamento.
Volto à senhora da minha aula de musculaçâo. Corn
efeito, ali conversei corn muitas mulheres, indecisas ou
contra o PT, portanto (????), a favor de Bolsonaro. Talvez
porque ouso mais conversar corn mulheres, jâ que, geral-
mente, sabem mais da força dos afetos e das pulsôes, sem
necessariamente serem irracionais! Conversamos antes
e depois das grandes passeatas das mulheres contra o
Bolsonaro. Estranho que ninguém sabe quantas eram,
como apontou Eliane Brum. Parece que a policia desistiu
de contar ou, mais simplesmente, nâo quis. Eram mui­
tas. Desde sâbado, fotografias ( “fakes”) foram enviadas
por WhatsApp, sobretudo a grupos de igrejas evangélicas
ou/e de partidârios de Bolsonaro, mostrando mulheres se
beijando ou corn seios para fora. Séria o suficiente para

en
explicar por que o “capitâo reformado” tinha subido quatro
pontos e continuava subindo? Séria de novo a culpa das
mulheres? Nâo séria mais a de Edir Macedo?
Mas para um pouco e me pergunto por que esse levante
das mulheres assusta tanto e desperta tanto ôdio ou tanto
medo, até em muitas mulheres. Numa passagem hila-
riante de >4 Room ofOne’s Own, Viginia Woolf conta como
foi à biblioteca do British Muséum para procurar textos
que a ajudassem a redigir uma palestra sobre mulheres
e romance, mulheres e literatura (jâ que esse assunto
pede explicitaçâo). Pede, entâo, a lista das obras que
tratam da(s) mulher(es) e de sua enigmâtica natureza e
recebe uma lista ENORME de tftulos diversos (cito alguns:
Costumes femininos nas ilhas Fidji, Fraqueza do sentido
moral nas mulheres, O charme das mulheres, O pequeno
volume do cérebro feminino, 0 menor desenvolvimento do
sistema de pelos nas mulheres, etc.). Virginia Woolf con-
clui que “a mulher” talvez seja o bicho mais estudado da
criaçâo. Em oposiçâo, quando ela procura livras sobre o
homem, isto é, o varâo, nâo encontra nenhum. A identi-
dade e a natureza masculinas parecem claras e évidentes,
pelo menos nessa biblioteca e na época. Essa clareza per-
mite définir a partir de si mesma o que seriam mulher, gay,
travesti e mesmo... quilombolas. Nâo haveria questiona-
mento sobre ela - e por isso, hoje, essas mulheres, esses
gays, esses militantes LGBTTQI, essas pessoas queer sâo,
realmente, uma ameaça para homens acostumados a
mandar e falar (matar e estuprar) e mesmo para muitas
mulheres acostumadas a cuidar de sua beleza e seduzir
(obedecer e sofrer). É dificil deixar de ser princesa/vitima,
bêla, recatada e do lar - e também, de ser o comandante/
carrasco, aquele que ainda tem uma parcela de poder,
pelo menosem casa.
Ligadas ao nascimento e, muitas vezes, à morte, as
mulheres cuidam dessa finitude animal nossa, sâo sinal
de nosso ser bicho que, muitas vezes, nâo cheira bem;
também despertam o desejo, sâo bêlas e vivas. E tam­
bém desejam, mesmo que até Freud nâo ouse dizer o que.
Se nos mulheres, diferentes e de todas as cores e idades,
ousarmos nos levantar contra a imposiçâo do capitâo
branco, machista, violento, entâo, realmente, poderemos
inventar outro mundo, ainda que nâo saibamos quai - e
isso assusta. Mas também nos enche de coragem e alegria.
A REVOLTA DA ZONA CINZA
Tatiana Roque

Precisamos, com urgência, entender melhor os eleitores de


Bolsonaro. E um primeiro passo é dividi-los em segmentos.
Hâ os ricos e empresârios que querem ganhar dinheiro com
o ultraliberalismo de um possivel governo sob comando de
Paulo Guedes na economia. Hâ os que reagem à ascen-
sâo de pobres, nordestinos, mulheres e pretos durante os
governos do PT (minorias que, por isso mesmo, tendem a
votar mais no PT). O antipetismo é contra eles. Hâ os que
reagem à saida generalizada do armârio: LGBTTQI, femi-
nistas, coletivos negros e trans. A truculência e o fascismo
germinam nessa reaçâo, como se fosse possivel mandar
todo mundo de volta para o armârio. Nâo é. Vamos nos for-
talecer coletivamente, vamos estar cada vez maisjuntos e
lutar contra a violência que quer nos aniquilar.
Mas hâ outro grupo de eleitores, bastante significativo,
que estâ fazendo a balança pender a favor de Bolsonaro
e ainda pode ser disputado: sâo as pessoas que ganham
aproximadamente entre 1,8 mil e 4,5 mil reais (entre dois
e cinco salârios mmirnos). Mais homens do que mulheres,
em sua maioria brancos e pardos. Considero um engano

CM
perfilar esse contingente de pessoas ao lado dos mais
ricos. Quem ganha esse valor esta longe de ser rico. Pelo
seu peso e sua especificidade nesta eleiçâo, vou focar a
anâlisenesse grupo.
Da pesquisa do Datafolha divulgada em 10 de outubro,
sabemos que Bolsonaro ganha entre os homens. Ganha,
mas quase empata, entre as mulheres. Ganha entre quem
tem renda acima de dois salârios mmimos. Ganha de pouco
entre os pardos, de muito entre os brancos e perde entre
os pretos. Sô perde de muito no Nordeste e entre quem
tem renda menorque 1,9 mil reais. No restante, a disputa
tende a ser equilibrada e nâo afeta tanto o quadro gérai. As
pessoas corn renda entre 1,9 mil e 4,5 mil reais podem ter
um peso especial no resultado. Além disso, merecem uma
anâlise especial por serem pessoas que agem contra seus
prôprios interesses - considerando que Bolsonaro gover-
narâ para os mais ricos e que o PT governou para os mais
pobres, mastambém para a classe média. Pode ser esse
grupo a explicar o crescimento espantoso de Bolsonaro
nas regiôes metropolitanas do Rio de Janeiro, Sâo Paulo
e Minas Gérais. Ele pode explicar também a centralidade
do tema da segurança püblica: essas pessoas tem algo
a perder (diferente dos muito pobres) e nâo tem como se

co
protéger (diferente dos mais ricos). Sâo pessoas que se
sentem completamente abandonadas. Como diz a antro-
pôloga Rosana Pinheiro-Machado, que pesquisou a fundo
o perfil dos eleitores de Bolsonaro, “precisamos confrontar
sujeitos contraditôrios e complexos que hoje sâo seduzidos
pela narrativa fâcil do autoritarismo. Sâo sujeitos muitas
vezes pobres ou empobrecidos, mas nâo paupérrimos”. Em
sua coluna no The Intercept, ela acrescenta ainda que eles
se sentem injustiçados por “ralar”, vivem na insegurança
das grandes cidades e percebem o governo como uma
grande farsa que atua para seu prôprio enriquecimento ou
apenas para o beneficio de “minorias”.
Durante o segundo governo Lula, o crescimento do pais
foi impulsionado pela inclusâo de um grande contingente
de pessoas no consumo e nas politicas publicas. Corn o
aumento do consumo interno, corn os programas de trans-
ferência de renda e de valorizaçâo do salârio minimo, houve
um crescimento expressivo do setor de serviços. Isso gerou
crescimento econômico, aumentou os empregos em servi­
ços e aumentou a arrecadaçâo. Laura Carvalho, em Valsa
brasileira, chega a chamar de “milagrinho” econômico o
que aconteceu no Brasil nesse perïodo. Nâo à toa, Lula aca-
bou seu segundo governo corn quase 90% de aprovaçâo.
Pois entâo: essas pessoas que ganharam algo provavel-
mente estâo perdendo tudo nos ûltimos anos. Devem estar
justamente entre as 11 milhôes de pessoas que votaram na
Dilma em 2014 e agora declaram a intençâo de votar em
Bolsonaro. Perdemos essas pessoas e sâo elas que precisa-
mos ganhar de volta nesses ûltimos dias de campanha antes
do segundo turno. É para elas que a esquerda deve ter pro-
jeto. Causa perplexidade que a esquerda nâo de a minima
para essas pessoas. E nâo se trata de uma limitaçâo de um
ou outro partido. O PT criou as condiçôes para que melho-
rassem de vida, mas nâo para que fossem incorporadas à
politica, nâo para que fossem ouvidas. Corn raras exceçôes,
o PSOLé visto como um partido excessivamente voltado para
as pautas identitârias e corn soluçôes pouco convincentes
para a economia. Sô quem conversa e acolhe essas pessoas
é a igreja evangélica. O que sô confirma nossa hipôtese: entre
os evangélicos, a intençâo de votos em Bolsonaro dispara.
Dificil categorizar essas pessoas ao lado dos opresso-
res, ainda que também nâo sejam tâo oprimidas quanto
os muito pobres, nem tâo oprimidas quanto aqueles que
fogem do padrâo de dominaçâo macho e branco. Sâo
pessoas que pertencem a uma zona cinza: uma zona
corn contornos mal definidos que ligam e separam, ao

LO
mesmo tempo, opressores e oprimidos. Zona cinza é um
conceito que Primo Levi cunhou para designar uma zona
nebulosa de compromisso entre opressores e oprimidos,
na quai alguns privilégios podem ser obtidos ao preço da
colaboraçâo corn o que hâ de mais abjeto. Inicialmente, a
expressâo é usada para designar brigadas especiais, com­
postas pelos prôprios judeus, quetrabalhavam nosfornos
crematôrios. Mas Levi estende a noçâo, no livra Os afoga-
dos e os sobreviventes, para pensar a prôpria incitaçâo
à colaboraçâo, relacionando-a à pressâo exercida sobre
os deportados. Este é o pano de fundo a partir do quai
se forma uma classe hibrida de prisioneiros que ocupam
funçôes na administraçâo dos campos. Sâo vitimas que
esperam ser favorecidas e continuam, por isso, a execu-
tar funçôes que oprimem outras vitimas. Levi admite ser
possivel o surgimento de zonas cinzas em outras espaços,
como nas indûstrias, dependendo das condiçôes. Uma
zona cinza pode surgir sempre que um poder opressor é
exercido sobre muitos sujeitos, havendo um grupo restrito
que detém mais poder do que outras em uma estrutura
complexa e vasta. Nesse quadro, um grupo de pessoas
pode ter a impressâo de que, colaborando corn o poder,
poderâ obter privilégios para si mesmos. Nâo se trata de

co
um simples desejo individual momentâneo de melhorar
de vida, e sim de uma reaçâo a uma pressâo duradoura e
generalizada sobre um grupo amplo de pessoas.
Algo assim pode estarsurgindo entre nos. Um numéro
expressivo de pessoas vêm habitando uma zona cinza na
sociedade brasileira e déséquilibra a balança em favor da
direita. Ao focar nos mais pobres, nos mais oprimidos, a
esquerda tem tido dificuldade em enxergâ-las. A dicotomia
entre classe trabalhadora e classe burguesa nâo ajuda.
Pode até estar impedindo que enxerguemos pessoas que,
precisamente, habitam uma zona intermediaria. Acusa-los
de burgueses nâo vai ajudar em nada. Além disso, essas
pessoas também nâo se reconhecem como trabalhadores
- inclusive porque nâo têm emprego formai assalariado
e estâvel. No Brasil, além de tudo, essas pessoas estâo
empobrecendo demais. Mesmo que sejam menos pobres
do que os muito pobres, elas precisam ser incluidas urgen-
temente nos projetos da esquerda. Continuar dizendo que
sâo burgueses que se incomodam porque os pobres passa-
ram a andar de aviâo nâo vai ajudar. Até porque nâo é ver-
dade: essas pessoas também passaram a andar de aviâo,
sô que nâo podem mais. Mas elas nâo acreditam, como
os mais pobres, que o PT vai ser capaz de devolver-lhes
a condiçâo que tinham. As razôes da descrença sâo mui-
tas. Sim, grande parte pode ter comprado o discurso da
midia e da Lava-Jato de que toda a culpa é da corrupçâo
e, portanto, do PT (partido que, segundo eles, inventou a
corrupçâo no Brasil). Hâ tempo ainda de desconstruir essa
crença? Como fazer isso? O que temos diante de nos é um
grito, uma tentativa de chamar atençâo por parte precisa-
mente desse grupo de pessoas. Elas estâo tentando nos
dizer: estamos aqui e vamos assombrar vocês.
Elas nâo sâo fascistas - ainda. Mas podem, sim, colabo-
rar corn o fascismo, fazendo vista grossa. Podem ser desig-
nadas como colaboracionistas. Meu ponto aqui é um pouco
dificil, pois estou dizendo que pode ser pior designâ-las de
imediato como fascistas. Essa precipitaçâo pode, inclusive,
jogar mesmo essas pessoas no colo do fascismo. Para inter-
romper essa tendência, precisamos entender sua psicologia.
Ninguém melhor do que Wilhelm Reich traçou caminhos
para entender a psicologia das massas que aderiram ao
nazismo. Quando usa a palavra “massa”, Reich esta falando
justamente de parcela da populaçâo que ainda nâo compre-
endeu como o capitalismo a oprime. Essa parte da popu­
laçâo nâo possui “consciência de classe”, mas tem muita
energia de vida represada pela opressâo capitalista. No

oo
belo texto “O que é a consciência de classe?”, escrito em
1934, Reich tenta entender a ascensâo do nazismo a partir
do abandono dessas pessoas que deveriam serfoco do tra-
balho revolucionârio, mas foram deixadas à prôpria sorte. A
derrota da socialdemocracia para o nazismo teria sido fruto
do distanciamento da direçâo revolucionâria do cotidiano da
vida das massas. Ou seja, o sectarismo politico dos revolu-
cionârios e sua incapacidade de conquistar as massas abriu
terreno para os nazistas manipularem a seu favor os anseios
e as necessidades de boa parte da populaçâo alemâ.
Aquelas pessoas nâo foram enganadas, elas desejaram
o nazismo. Hâ uma questâo diffcil a partir dai que é a de
compreender como as massas podem agir contra o seu
prôprio interesse. Porexemplo, compreender que mulhe-
res defendam o machismo, que trabalhadores queiram
ser explorados, que jovens defendam a repressâo sexual.
No caso do Brasil de hoje, mulheres e pretos conseguiram
desenvolver uma certa “consciência de classe”, ou seja,
uma consciência de seu lugar de opressâo e de que ficam
mais fortes junto corn outras pessoas que ocupam esse
mesmo lugar. Por isso, as mulheres feministas e os pretos
votam realmente contra o candidato machista e racista.
As classes médias empobrecidas nâo encontraram

<T>
esse lugar. Passaram, portanto, a desacreditarda politica.
Foram vitimas do que Reich denomina “fetichismo da poli-
tica” e que favorece o reacionarismo ao realizartrês restri-
çôes: limitar a politica às açôes dos politicos profissionais
que podem decidir o destino de todo mundo; limitar a poli-
tica à construçâo de pactos entre amigos e inimigos; limitar
a politica ao engodo, à enganaçâo ou à manipulaçâo.
Parece ter bastante a ver corn o momento atual. Sô
que o que Reich chama de “consciência de classe”, eu
chamaria de “subjetivaçâo politica”. A esquerda nâo tem
tido iniciativas que permitam a subjetivaçâo politica das
camadas da populaçâo de que trato neste texto. A resis-
têneia das mulheres e dos negros a Bolsonaro mostra - na
verdade, escancara - o quanto projetos de subjetivaçâo
politica podem fazer a diferença. As mulheres consegui-
ram reunir pessoas de tendências politicas distintas para
dizer#EleNâo. A permanência da ascensâo de Bolsonaro
depois da grande passeata mostra apenas que esse movi-
mento nâo atinge toda a sociedade. Ao invés de insinuar
que as mulheres foram responsâveis, a esquerda organi-
zada dévia tomar a iniciativa das mulheres como exemplo
do que um movimento mais amplo deve conter para ter
sucesso: movimentos politicos hoje precisam construiro

o
CM
sentido de pertencimento, precisam dar atençâo às ques-
tôes mais intimas da vida e aos modos de existência. Sâo
os problemas dessa ordem que decidem para onde irâo
nossas crenças e nossos desejos.
Que sentido de vida podem ter essas pessoas que estâo
empobrecendo em velocidade vertiginosa? Que perderam
o emprego sem perspectiva de encontrar outro? Que se cul-
pam por nâo garantir um futuro para os filhos? A esquerda
précisa ter respostas e projetos para essas pessoas. Por
isso, tenho insistido tanto sobre as mudanças no mundo do
trabalho e tentado entender a crise da esquerda a partir dai.
É enorme a impotência da esquerda organizada para criar
politicas que impliquem processos de subjetivaçâo e que tra-
gam um sentido de pertencimento ao enorme contingente de
pessoas que abordei aqui. O trabalho jâ foi um modo de dar
sentido à vida, mas nâo tem sido assim nos ultimos tempos.
Hâ questôes estruturais e conjunturais para isso. Mas é pre-
ciso tomar a sério os modos de existência como sendo parte
essencial da politica. É extremamente libertador e tranquili-
zante perceber que nossas angüstias nâo sâo so nossas, que
as dificuldades que experimentamos socialmente nâo sâo por
nossa culpa. Nos, mulheres, estamos conseguindo isso. Se o
conjunto da esquerda quiser, podemos ajudar.

cnj
DO CAPITÂO AO CAPITAL
Caria Rodrigues

Todas as tentativas de compreensâo da expansâo de uma


candidatura de extrema direita no Brasil fracassaram. É
insuficiente falarda crescente influência do pensamento
de extrema-direita no Brasil; da pauta moral que avança na
sociedade brasileira; do rastro dos tentâculos politicos das
denominaçôes religiosas neopentecostais; assim como
me parece fraco o argumento de que sâo eleiçôes mani-
puladas por algoritmos, movidas por um forte sentimento
antipetista ou pelos interesses do mercado. Gostaria de
defender a hipôtese de que a candidatura do capitâo refor-
mado Jair Messias Bolsonaro esta movida por um ponto
fundamental e ainda intocado no inconcluso processo de
redemocratizaçâo do pais: evitara puniçâo dostorturado-
res do régime militar, cujos 377 nomesforam elencados no
relatôrio final da Comissâo Nacional da Verdade (CNV), a
fim de recuperar o carâter heroico que os militares se atri-
buem no combate às forças de esquerda e na salvaçâo do
pais. Todo o resto ele foi absorvendo como uma esponja,
onde estâo depositados o ôdio e ressentimento de classe,
de raça e de gênero da sociedade brasileira.

CM
CM
Os crimes hediondos da ditadura civil-militar de 1964
estâo representados pela demonstraçâo pûblica de
imenso apreço do capitâo Jair Messias Bolsonaro pelo
torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante
do Destacamento de Operaçôes de Informaçâo - Centro
de Operaçôes de Defesa Interna (DOI-CODI), cuja grande
contribuiçâo para o Exército foi criar novos métodos de
violência, incluindo a tortura de pais diante de seus filhos.
O elogio de Bolsonaro ao torturador, pronunciando seu
nome no plenârio da Câmara na votaçâo do impeachment
da Dilma como se fosse um herôi, é prova de que ainda
precisamos falar do passado e de tudo aquilo que ainda
nâo foi dito nem enlutado na histôria recente.
É dificil elaborar o que resta da ditadura1 - se desde
a promulgaçâo da Lei da Anistia, em 1979, vivemos sob
um silêncio forçado, que nos obriga a calar sobre o pas­
sado e nos impede de combater a violência do présente.
Caminhar em direçâo a uma sociedade mais igualitâria
passa por concluir o luto politico pelas perdas da ditadura
e pelas chacinas, pelos assassinatos e pelos exterminios
que continuam a ocorrer no régime democrâtico brasileiro,

1. TELES, E.; SAFATLE, V. (orgs.). O que resta da ditadura. Sâo Paulo:


Boitempo Editorial, 2010.

00
CNJ
incapaz de fazer cessar a brutalidade da policia militar
na vida cotidiana. Se antes os alvos eram pessoas orga-
nizadas em movimentos contrârios à ditadura, o que se
vê desde os anos 1980 é a criaçâo de novos alvos - os
negros, os pobres, as mulheres, os indigenas, as pessoas
LGBTTQI - , em uma guerra contra o povo em nome de um
régime democrâtico paradoxal, onde as regras do jogo
estâo sempre sendo modificadas para que nunca haja
lugar justamente para o povo, aquele em nome de quem a
democracia deveria existir.
Por acreditar que é da elaboraçâo do passado que pode
emergir nosso caminho para a mudança, acredito também
que a maior realizaçâo do governo Dilma foi seu depoi-
mento na CNV. Da grandeza daquela narrativa, começou
a brotar a maior e mais silenciosa oposiçâo à sua per-
manência na presidência. Como uma mulherque resistiu
a seus torturadores e esta viva para denunciâ-los pode
nos governar? Para que tipo de experiência de passado
isso nos levaria? Sâo perguntasfantasmâticas, operando
como pano de fundo no discurso do candidato Jair Messias
Bolsonaro, que herdou na sua estratégia de midia todos os
grupos criados em redes sociais a favor da queda da Dilma.
Sua retirada do poderfoi uma renovaçâo da tortura, uma

Csl
nova forma de matar a força politica de resistência que ela
representava desde a chegada à presidência, prova de que
nunca as Forças Armadas aceitaram uma mulher, ex-guer-
rilheira, torturada, como chefe.
Protéger o passado, mais do que projetar o futuro,
parece ser a ünica pauta prôpria do candidato. Atuar contra
as poucas iniciativas de retomada do passado que estâo
frutificando em politicas de memôria que nos permitiriam,
enfim, confrontar a histôria, como a criaçâo da CNV no
âmbito nacional e também das inumeras comissôes esta-
duais. Politicas de memôria sâo inseparâveis de politicas
de luto, como sugere a filosofia de Nietzsche: da histôria, é
preciso saber separar o que lembrar do que esquecer.
Foi durante o processo de derrubada da présidente
Dilma que o candidato se autobatizou como Messias. Foi
contra uma mulher, contra uma mulher ocupando um cargo
de poder, uma mulher que enfrentou a violência da dita-
dura, que foi torturada e resistiu às torturas e continuou
lutando por um pais mais livre e democrâtico, foi contra
essa mulher que Jair Bolsonaro se banhou nas âguas do
neopentecostalismo e ganhou o apoio de certos grupos
evangélicos. É contra todas as mulheres brasileiras firmes,
fortes, batalhadoras, capazes de trabalhar, cuidar de seus

LO
CN
filhos, lutando todos os dias contra a violência e a discrimi-
naçâo, que sua candidatura quer vencer.
Cada item do fenômeno do neoconservadorismo moral,
tal quai pensado pela cientista politica Wendy Brown no
seu artigo “Pesadelo americano: neoliberalismo, neocon­
servadorismo e desdemocratizaçâo”,2 se articula corn um
item econômico na sua radicalidade contemporânea, no
estado atual do neoliberalismo e na sua produçâo de pre-
carizaçâo e na sua necessidade de circulaçâo de capital.
Os temas econômicos chegaram mais tarde à campanha
de Jair Messias Bolsonaro, quando ele se tornou porta-
-voz de um economista neoliberal e, corn isso, expandiu
a junçâo entre o neoconservadorismo fundamentalista e
religioso e o neoliberalismo econômico, entendido como
uma forma politica e racional de articular o significado da
vida social. O neoliberalismo jâ nâo é mais, como nos anos
1970, uma mera concepçâo de projeto econômico, mas “o
desenvolvimento da lôgica do mercado como lôgica nor-
mativa generalizada, desde o Estado até o mais mtimo da

2. BROWN, W. American Nightmare: neoliberalism, neoconservatism


and de-democratization. Political Theory, v. 34, n. 6,2006.

CO
CM
subjetividade”.3
É esse meu ponto de partida para articular a violência,
a discriminaçâo e o machismo de Jair Messias Bolsonaro
como parte inseparâvel de um projeto de pais ainda mais
excludente. A grande novidade das lutas feministas é nos
levar em direçâo a mais liberdades, ameaçadoras para
aqueles cujo projeto de pais é a segregaçâo: as feministas
negras, que subvertem a lôgica da négritude como sinô-
nimo de subalternidade, corn o ingresso de jovens negras
nas universidades; os coletivos feministas, que questio-
nam a lôgica patriarcal e dominadora de fazer politica. As
mulheresjâ estâo em ocupaçôes mais vulnerâveis, corn
maior percentual de renda variâvel e maiorfragilidade nos
vinculos empregaticios. É sobre elas que deverâ incidir o
maior grau de perda de direitos. As mulheres negras, que
enfim começam a chegaràs universidades, serâo de novo
as que mais vâo perder, recuando muito rapidamente das
posiçôes recém-conquistadas.
O campo de combate aos direitos humanos traz à tona
a histôrica caracteristica violenta da sociedade brasileira,
onde vigora o maldito slogan “bandido bom é bandido

3. LAVAL, C.; DARDOT, P. A nova razâo do mundo. Sâo Paulo: Boitempo


Editorial, 2017.

h-
OJ
morto”, onde as prisôes sâo matadouros e a populaçâo
carcerâria é tida como um peso aos cofres püblicos. Por
trâs desse discurso, hâ uma oportunidade de negôcio, a
privatizaçâo das prisôes, apresentada como ampliaçâo da
capacidade de encarceramento. Hâ décadas, talvez sécu-
los, quem vai para a cadeia nesse pais sâo pobres, pretos e
moradores de periferia. Os crimes da Policia Militar contra
a populaçâo civil, as execuçôes politicas como o assassi-
nato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, o alto
indice de mortes de jovens negros, as torturas praticadas
no présente sô terâo alguma chance de serem eliminados
no futuro se pudermos fazer outra interpretaçâo do pas-
sado, de modo a se tornar possivel por um fim na parte da
histôria que ainda nâo acabou. Embora o mercado possa
estar interessado na liberaçâo do porte de armas, e essa
seja uma pauta de interesse dos fazendeiros suscetiveis
ao discurso armamentista, dispostos a matar indigenas
para conquistar mais terras para o agronegôcio, é pela for-
maçâo de milicias e contra a populaçâo pobre que essas
armas vâo ser disparadas ainda mais.
O racismo, o preconceito contra os beneficiados pelo
Boisa Familia, e mesmo contra os imigrantes, segue pelo
mesmo caminho da lôgica neoliberal, de acordo corn a

oo
CN
quai certas vidas sâo condenadas moralmente a nâo exis-
tir por supostamente serem incapazes de contribuir para
o crescimento econômico. Porfim, é necessârio dizerque
as forças politicas e religiosas de extrema-direita estâo
globalmente articuladas.4 É impossivel ignorarque essa
candidatura se apresenta como continuaçâo da pior parte
do governo Temer, tentando arrancar das urnas a legitimi-
dade que Temer nunca teve e garantindo o apoio militar
para esse projeto se as urnas sozinhas nâo forem suficien-
tes. A soberania do Estado-naçâo e a soberania popular
sâo o que resta de entrave ao projeto do neoliberalismo.
Messias e seu discurso carregado de valores morais inco-
erentes com sua trajetôria politica cria o ambiente perfeito
para a liberalizaçâo econômica total, a radical exploraçâo
das pessoas, o fechamento do acesso às universidades e
para uma experiência inédita de segregaçâo.
Somos um pais conectado, global, internacional e, ao
mesmo tempo, colonial, pobre, periférico. Carregamos,
nâo é de hoje, um imenso manancial de violência,

4. A relaçâo de Bolsonaro com a extrema direita internacional. Dispom-


vel em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/10/03/A-re-
la%C3%A7%C3%A3o-de-Bolsonaro-com-a-extrema-direita-internacio-
nal. Acesso em 13 de outubro de 2018.

CD
OJ
discriminaçâo, preconceito, ôdio, arbitrariedade. A aliança
entre o neoconservadorismo e o neoliberalismo é um pesa-
delo brasileiro que se soma à frustraçâo de uma democra-
cia que sequer chegou a ser experimentada por todas as
pessoas. No pesadelo brasileiro, a desdemocratizaçâo
da quai nos fala Wendy Brown tem outro nome hâ muito
tempo: ditadura militar armada e assassina.

o
co
Nascida na Suiça, Jeanne Marie Gagnebin vive hâ 40 anos no Brasil. Professora
de filosofia na PUC/SP e na Unicamp, trabalha sobre a questâo da memoria e
do esquecimento, especialista em Walter Benjamin. Duas filhas, uma neta.

Tatiana Roque é professora da UFRJ. Tem escrito e pensado sobre capitalismo e


subjetividade, questionando o modo usual de pensar o trabalho, aproximando-
se dos debatesfeministas e dos devires menores na politica. Foi candidata a
deputada fédéral pelo PSOL.

Caria Rodrigues é filôsofa, feminista, professora de Filosofia (IFCS/UFRJ) e


pesquisadora da FAPERJ.
O
s.

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