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A TEORIA DO BRANQUEAMENTO E SEU IMPACTO SOBRE A SOCIEDADE

NEGRA

RESUMO: Este artigo observa o fenômeno do branqueamento, tanto no seu aspecto populacional quanto
ideológico. Analisa de que maneira a denominada “ideologia do branqueamento” penetrou no meio negro
no período pós-abolição. O argumento central é de que esta ideologia apesar de seu caráter racista foi
legitimada ou assimilada, cotidianamente, por setores da população negra. Com efeito, a assimilação desta
ideologia converteu-se num mecanismo de inserção psicossocial dos negros em um mundo dominado pelos
brancos.
Palavras-chave: Negro, racismo, branqueamento, marginalização.

Introdução

Desde o período colonial brasileiro, até os dias atuais, podemos constatar a


presença do racismo em relação à população negra. Este racismo se expressa de diversas
formas e em variadas esferas, seja na esfera pública ou privada, seja nas relações sociais,
econômicas, jurídica, política, afetivas e etc.
O racismo é um mecanismo utilizado para diferenciar povos por suas
características físicas e fenotípicas (em princípio), mas também pode fazê-lo por
diferenças culturais (costumes e práticas religiosas, por exemplo). Essa diferenciação
pretende hierarquizar racialmente esses povos, visando inferiorizar um deles para fins de
dominação e colonização (política, cultural, territorial e etc.)
No Brasil, o racismo contra o negro é palpável, atual e cotidiano e ele não se limita
até o ano de 1888 (ano da abolição da escravatura através da lei Áurea). Logo, a
ocorrência deste fenômeno (que não é apenas brasileiro) construiu e constrói, ainda hoje,
uma desigualdade abissal entre brancos e afrodescendentes.

Metodologia

O artigo foi desenvolvido com base na análise de textos, artigos e livros,


publicados na área a ser trabalhada. Inicialmente, foi feito o reconhecimento do tema, no
qual foram coletadas informações e documentos importantes para o desenvolvimento do
projeto. A leitura dos mesmos trouxe uma base teórica essencial para dar continuidade ao
problema de pesquisa. A partir dos procedimentos metodológicos descritos, foi formulado
o presente artigo.

O processo de Branqueamento do território no Brasil

No final do século XIX, a formação da população brasileira era um dos temas


mais debatidos pela elite de intelectuais e políticos brasileiros, uma vez que se viu
necessário o “branqueamento” da população brasileira, visto que as teorias raciais
clássicas, como o evolucionismo e o darwinismo social, exaltavam a pureza racial e
disseminavam a ideia de que a mistura racial provocaria a degeneração da nação. Nesse
período, o Brasil caminhava para o “fim” da escravidão, fato que preocupava as elites
sobre o futuro do Brasil, pois havia a presença de um grande numero de africanos e
afrodescendentes, os quais eles consideravam uma raça inferior.
A teoria do branqueamento surge como uma possível solução para essa
problemática, uma vez que essa teoria traz a possibilidade de transformar uma raça
inferior em uma raça superior. Porém, os pensadores da época acreditavam que esse feito
de enobrecimento só poderia ser alcançado com a predominância numérica de brancos
em casamentos interraciais. Essa linha de pensamento justificou uma política de estado
que objetivava trazer mão-de-obra branca (europeia) para o Brasil.

Chama a atenção o fato de que a reflexão e o projeto da inteligência brasileira,


desde que começou a pensar num possível fim da escravidão, estiveram
vinculados à proposta de importar mão-de-obra europeia. Sabemos que num
período de menos de 25 anos (de 1890 a 1914) chegaram 2,5 milhões de
europeus ao Brasil; quase um milhão deles (987.000) tinha suas viagens de
navio financiadas pelo Estado. Um documento, publicado pela Diretoria Geral
de Estatística e assinado por Oliveira Vianna (apud ANDREWS, 1997, p. 97;
ênfase no original),3 avalia o resultado do censo de 1920 da seguinte maneira:
[constata-se] ―uma tendência que está se tornando mais visível e definida:
[…] (a) progressiva arianização de nossos grupos regionais. Ou seja, o
coeficiente da raça branca está se tornando cada vez maior em nossa
população. (HOFBAUER, 2011, p.2)

A mão de obra europeia ocupou os trabalhos que eram realizados pelos negros em
situação de escravidão, porém de maneira assalariada. Os ex-escravos viram-se obrigados
a continuar submissos à escravidão, trabalhando em troca de moradia e alimentação,
conseguindo trabalhos com salários precários ou, em casos extremos, até mesmo praticar
atos ilegais.
No final do século XIX e início do século XX, houve uma redução significativa
da consciência de pertencimento a uma classe ou grupo social, que deveria lutar por
direitos e melhores condições de vida. Alimentado pela imprensa que propagava o padrão
de beleza europeu e toda a ideia de branquitude como raça superior, às vezes de forma
subliminar e, muitas vezes, de forma explícita e direta. Assim, o modelo ideal que era
representado pelo ser branco atuou nas mais diversas esferas do comportamento do negro
brasileiro, passando por hábitos, tradições, costumes e pela estética. (SANTOS, 2009).

O peculiar desta ideologia foi transformar o discriminado em agente reprodutor


do discurso discriminatório, colocando o negro a serviço de uma prática
racista. Pelo enfoque estritamente psicológico, o coroamento do racismo se
materializa quando a vítima assume o papel de seu próprio algoz. Em última
instância, estamos diante de um quadro favorável ao “raçacídio”, que
consistiria no suicídio coletivo de uma comunidade étnica, a médio e longo
prazos, com armas ideológicas impostas de fora para dentro e aceitas pelos
membros desta comunidade. (DOMINGUES, 2002 apud SANTOS, 2009,
p.177)

Esse discurso fez acreditar que, no Brasil, nunca houvera barreiras raciais (dada à
miscigenação). Desta maneira, a responsabilidade da não-ascensão social se dava pela
incapacidade do próprio indivíduo negro.
Comumente atribuído a Gilberto Freyre, o termo “democracia racial” representa
uma leitura da realidade brasileira, que visava provar, para o Brasil e para o mundo, que
a escravidão no Brasil foi mais branda e que o preconceito racial é quase inexistente por
causa da pluralidade das raças e das boas relações que se estabeleceram entre elas. A
visão de Freyre afirma que, devido à intensa miscigenação brasileira, não se estabeleceu
um critério racial para a mobilidade social.

Considerações Finais

Tomando como base a atual situação social e política do negro na sociedade


brasileira, constata-se que o legado dessa ideologia é gravíssimo, pois mantém inalteradas
as estruturas que privilegiam indivíduos brancos e marginaliza indivíduos negros; isenta
a população de uma real contestação acerca de desigualdade étnico-racial, já que
pressupõe que a hierarquização racial da população está ligada a fatores econômicos, visto
que a grande parcela da população negra também é pobre, não entendendo, por sua vez,
que a opressão racial e econômica não são separadas, mas se unem, formando um tipo
específico de opressão. Assim, o mito da democracia racial visa desconstruir todo
discurso que negue a não-existência do racismo. Qual o argumento utilizado? O racismo
é creditado a quem propõe medidas que alterem o status quo, ou seja, as pessoas que
apontam e questionam o racismo são, muitas vezes, erroneamente taxadas de serem, elas
próprias, racistas (SANTOS, 2009).
Referências Bibliográficas

CORRÊA, Gabriel Siqueira. O branqueamento do território como dispositivo de


poder da colonialidade: notas sobre o contexto brasileiro. In: Cruz, VC e Oliveira, DA
de. Geografia e Giro Descolonial: experiências, ideias e horizontes de renovação do
pensamento crítico. 1ª. Edição. Rio de Janeiro. Letra Capital, p. 117-130, 2017.

HOFBAUER, Andreas. Branqueamento e democracia racial: sobre as entranhas do


racismo no Brasil. 2011. Disponível
em: https://andreashofbauer.files.wordpress.com/2011/08/branqueamento-e-
democracia-racial_finalc3adssima_2011.pdf. Acesso em: 01 nov. 2018.

SANTOS, Natália Néris da Silva. Ideologia do branqueamento, ideologia da


democracia racial e as políticas públicas direcionadas ao negro brasileiro. Revista
Urutágua, n°19, set./out./nov./dez. 2009 – quadrimestral, Maringá (PR) – ISSN 1519-
6178. Disponível
em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Urutagua/article/view/6400. Acesso em 28
out. 2018.

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