CUNHÂ, Helena Pqpente da. Os gêneros literários. In,: Teoria Literária. Rio de
Janeiro: Tempo Biasileiro, L979.3a ed. Col. Biblioteca Tempo Universitário
42. (p.97-106)
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O gênero lírico
A essência lírica
A essência lírica se manifesta nos fenômenos estilísticos próprios. Quando a
obra apresenta predomínio desses traços sobre os demais, se situa no ramo da Lírica.
Assim se pronuncia Rosenfeld:
Pertencerá à LÍrica todo poerna de extensão mênor, na medida em que nele não
sê cristalizarem pêrsonagens nítidos e êm quê, ao contrário, uma voz central - quase
sêmprê um "Eu" - nele exprimir sêu próprio estado de alma. '+ . Udlll comentário: RoSENFELD. :
A insistência dos fonemas fricativos /v/ e /f/ induz a uma aproximação do som
dos versos ao sentido de voragem do vento varrendo as coisas num ímpeto
destruidor. O significado metafórico do vento na imagem da devastação desencadeada
pelo tempo, amplia-se na recorência aliterativa dos fonemas congêneres.
Diversa é a impressão do vento na t'Cantiga outonal" de Cecília Meireles:
O acúmulo do fonema fricativo sibilante /s/ imprime âos versos, graças à sua
fluidez, a suavidade de um vento brandô, na melancolia da paisagem outonal que a
rede de fonemas nasais sombreia. A sensação difere do outro poema, onde os
fonemas labiais são as próprias chicotadas violentas do vento, que agora se faz
apenâs um sussurro de brisa.
O ritmo martelado dos primeiros versos de Bandeira reforça a impetuosidade da
destruição, enquanto em Cecília a lentidão rítmica se adapta ao estado de alma diluído
molemente numa tristeza cansada.
Esta aproximação dos elementos sonoros e significativos provém da disposição
afetiva lírica que envolve tudo na ausência de distanciamento da recordação.
elementos intensÍficadores
farmas verbais substantivos adj. e pron. adj. advérb. e loc. adv-
custa dor tamanha quanto
suportar mal (3 vezes) todo (3 vezes) só
penei pesar (2 vezes) profundo senão
sofri (3 vezes) tristezas mais cada dia
padeci dó cada hora
amar (3 vezes) mágoa sem par muito
Canán. Cantan.
c Dónde cantan tos pájaras que canân?
Ha llovido. Aún las ramas
están sin hojas nuevas. Canbn- Canhn
los pájaros. c En dónde canf:,n
tos pájaras que cantan?
No tengo pájaros en jaulas.
Na hay nifros que los vendan' Cantan'
El vatle está muY lejos- Nada"'
Yo no sé dónde antan
los Páiaros - cantan, cantan -,
los Pájaras que cantan'
Arepetiçãodecantan13vezesepájaros6yezescomprovaqueodiscurso,ao
invés de se desenvolver linearmente, retorna sempre ao é mesmo ponto' Na
p"..p"Aiuu- tógi.r, * u ."p"tição esclarece a mensagem ou redundante, sem
poético, dá-se um aumento de
acrescentar informação nem originalidade. No contexto
informação porque o discurso*não prossegue: recua e se obscurece, resultando
imprevisível, original e ambíguo.
discursividade a propriedade de
- Susana Langer denomina
Antidiscursividade
o qrlal as idéia se enfileiram, como
u*u .rfé.ie de simbãlismo, o verbal, segundoque não se qdl.Rtam à linearidade da
ocorre nas seqüências frasais. Existem .oí.us
f";; gràmatiàal discursiva, havendoeoutra espécie de simbolismo, o apresentativo'
quá iuiciona ae modo simultâneo integrai. O poema pe.rtence ao simbolismo
globalizante.
apresentativo, porquanto sua significação não é linear e sim
Embora a poesia utilize o disvursivo, devido ao seu material
verbal, sempre
suas imposições' Desde o
reagiu contra a sintaie fãgi*-giuÀatical, têntando romper procedimentos
pã.áao do Simbolis*o, o. poufus se.rebelâram abeÊamente côntra os
pelos Ismos dos movimentos
sintáticos, numa anteãpuçáo à revolução empreendida
que rúããã ã"ita ques[ão u-à da. plataiormas de suas reivindicação'
"ã"ãrãiãí.tai, das amarras tradicionais' A poética atual se
em favor de uma literatura desatrelada
empenha cada vez mais em abolir o discursivo ao suprirnir os
elos conectivos
iiniati.o=, chegando mesmo, em muitos casos, a eliminar a ft?:"1-::nlIT:-,:"
procedimento em vanas
verifica na poesia concreta. iassiano Ricardo empregou este
composições, entre as quais Posições da corpo:
Sob o azul
sobre o azul
subazul
subsol
subsolo
ooxímoroeoparadoxoconstituemumdostraçosestilísticosmaisnotóriosdo
p".rou, perfeitaÃãnte Ae aiorOo com o tema do conflito
Cancianeiro Ae rernaãão
do não ser quê, para Pessoa, é I o^:'
entre o ser e o não ser, eixo da obra. No r"ünáo afirmações, que veremos êm
aoarências vãs, se iÀiinrã* as mais desconcertantes
ãiqrnt versos, colhidos da coletânea:
Porque me destes o sentimento de um rumo'
Se o rumo que busco não busco
TodasessasContradiçõescorroboramaimpossibilidadedeseCaptaropoêma
de sentimento ultrapassa a
lírico atravé. ao ,ãiiocínio, pois o transbordamento ao regulamento codificado'
jurisdição da lógica, aprofundando outrai camadas alheias
Constuçãopantática_Nascomposiçõesmaislíricas,predominaouso.da
-p"riooo-ioÀpoáto
pot subordinação requer m-aior
subordinada.). U;;';, õuã'o
elaboração mentar. as iãfúããs causais,
condiiionais, finais, concessivas prêssupoem
onde cornparecem tais conjunções' o
o raciocínio lógico À coneáante. Justamente a Ym.â ?f-çã-o^!:ll.pul
clima tírico .e o"riJncir:".-i,ii nipãt;;;, ;suuorOinaçâg
ã*ãpotição à liberdade da expansão das
estabelece u* nu*ãiãgilá-à.0.p*àanàii,
emoções.
Asoraçõesindependenteseascoordenadasdaparataxecorrespondemmelhor
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