INTRODUÇÃO
Apesar de estar muito bem definida a importância dos recursos hídricos subterrâneos para a
sobrevivência e o desenvolvimento do homem, os estudos dos mananciais subterrâneos
constituem um desafio técnico que estamos tentando ainda superar com certa dificuldade.
Dentre os obstáculos normalmente encontrados, destacam-se o desconhecimento da
distribuição espacial em subsuperfície e a carência de dados hidrodinâmicos das formações
geológicas que contenha água de boa qualidade e que permita que quantidades significativas
dessa água se movimentem no seu interior em condições naturais. Essas rochas ou sedimentos
são conhecidos como aquíferos (Feitosa, 1997).
Assim, o presente trabalho visou basicamente estabelecer um ranking dos aquíferos que
afloram em Sergipe, em relação ao volume hídrico acumulado em suas reservas renováveis, e
quantificar o total destas reservas de águas subterrâneas no Estado.
Espera-se contribuir para o conhecimento, já de certa forma consolidado entre os
hidrogeólogos sergipanos, sobre a ocorrência de unidades geológicas com potencial quantitativo e
qualitativo para exploração das águas subterrâneas acumuladas em seus espaços vazios. Apesar
desse conhecimento intuitivo, ainda hoje grandes somas de recursos financeiros são
desperdiçadas na construção de poços tubulares profundos em regiões de baixo ou nenhum
potencial hidrogeológico para abastecimento de pequenas comunidades rurais, mesmo com a
utilização dos onerosos processos de dessalinização por osmose reversa.
As informações serão consolidadas em um Sistema de Informações Geográficas – SIG, com
disponibilização em breve pela Internet, para possibilitar o cruzamento com outros temas já
disponíveis (cadastro de poços tubulares, mapa de qualidade das águas subterrâneas, dentre
outros) e para facilitar aos tomadores de decisão a gestão desse bem público.
1
Geólogo. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – SEMARH / Superintendência de
Recursos Hídricos - SRH, Avenida Gonçalo Prado Rollemberg, 53, bairro São José, Aracaju, SE, CEP 49010-410,
joaocarlos.rocha@semarh.se.gov.br
2
Engenheiro Agrônomo. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – SEMARH /
Superintendência de Recursos Hídricos - SRH, Avenida Gonçalo Prado Rollemberg, 53, bairro São José, Aracaju, SE,
CEP 49010-410, pedro.lessa@semarh.se.gov.br
MATERIAIS E MÉTODO
Foi utilizado o mapa geológico digital disponível em formato shapefile do Atlas Digital sobre
Recursos Hídricos de Sergipe (SERGIPE, 2004) onde, através do software ArcGIS 9.1, foi
calculada a área de cada polígono – Área de Ocorrência (A), neste caso representando um
afloramento de rocha ou sedimento. Salienta-se que o emprego do termo afloramento não
significa a ausência de solo, também não foram consideradas ocorrências de aquíferos não
representados no mapa geológico, como, por exemplo, o importante aqüífero granular da
Formação Marituba, que não ocorre em superfície.
O menor polígono considerado para o cálculo da Área de Ocorrência foi de 1,66 km² e a
maior de 4.149,88 km².
A Precipitação média (P) em cada um desse polígono foi estimada, tendo como base o
mapa de isoietas do Atlas Digital, variando de 600 a 1.800 mm. Por sua vez, a Taxa de Infiltração
média (I) foi avaliada em função dos diferentes tipos de rochas e sedimentos encontrados,
conforme a Tabela 1.
Rr = A.P.I
Sendo:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A estimativa preliminar das Reservas Renováveis (Rr) de águas subterrâneas em Sergipe
resultou em um valor de 1.223 m³/ano, equivalente a 38,77 m³/s, sendo composto por 0,37 m³/s
representado pelas rochas ígneas, 4,37 m³/s pelas rochas metamórficas e 34,03 m³/s pelas
rochas sedimentares e sedimentos.
Dessa forma, pode-se inferir que mais de 80% da reserva renovável de Sergipe seja
formada por águas subterrâneas de média a boa qualidade para consumo humano, tratando-se de
aquíferos granulares e cársticos.
Os aquíferos fissurais, apesar de possuírem um elevado conteúdo de sais, representam
uma pequena parcela do volume das reservas renováveis por estarem localizados na região
Semi-árida de Sergipe, onde a precipitação é baixa.
A região de Itabaiana e Simão Dias, áreas de ocorrência do Complexo Gnáissico-
migmatítico dos Domos de Itabaiana e de Simão Dias, apresenta-se bastante fraturada,
ocasionando uma boa reserva hídrica subterrânea com um montante de 1,14 m³/s,
correspondendo a 1,81 L/s/km².
Sob condições naturais, apenas uma parcela das reservas renováveis é passível de
explotação, sendo que este valor oscila entre 25 a 50% das reservas calculadas, correspondendo
a 9,7 a 19,4 m³/s.
O valor total das reservas renováveis encontrado está dentro do intervalo de 34,8 a 107,0
m³/s, limites determinados pelo The Study on Water Resorces Development in the State of
Sergipe (SERGIPE, 2000), elaborado em parceria com a Agência de Cooperação Internacional do
Japão - JICA, onde a recarga foi estimada a partir de medições sazonais do nível estático de
poços distribuídos no Estado.
Dentre os principais aquíferos aflorantes no estado de Sergipe (Tabela 2), merecem
destaque os sedimentos arenosos dos Depósitos recentes, os carbonatos das formações
Cotinguiba e Riachuelo e os sedimentos terrígenos do Grupo Barreiras, que juntos representam
81,9% da reserva renovável de água subterrânea do Estado.
Figura 1. Mapa dos aquíferos (a) e da qualidade das águas subterrâneas em termos dos Sólidos
Totais Dissolvidos – STD (b)
Os clásticos médios a grossos e os carbonatos da Formação Marituba, apesar de
representarem talvez a maior reserva de águas subterrâneas em Sergipe, com poços tubulares
apresentando vazões superiores a 100 m³/s, não foram considerados no presente estudo por só
ocorrerem em subsuperfície.
Estudos detalhados deverão ser empreendidos para uma completa avaliação deste
importante manancial subterrâneo. Necessariamente, incluirão a avaliação da sua geometria,
hidráulica e dinâmica, buscando inclusive compreender os mecanismos de recarga e descarga
para o estabelecimento de zonas para sua proteção, além de determinar com segurança a
descarga passível de ser explotada sem provocar risco ambiental ao ecossistema lacustre na
Zona Costeira.
CONCLUSÕES
1. Este estudo, apesar de preliminar, possibilitou hierarquizar os principais mananciais
subterrâneos de Sergipe.
2. Utilizando a metodologia anteriormente descrita, a reserva renovável ou reguladora dos
mananciais subterrâneos no estado de Sergipe foi calculada em significativos 38,77 m³/s,
que representa quase 22 vezes o potencial de águas superficiais das bacias hidrográficas
dos rios Japaratuba, Sergipe, Vaza Barris, Piauí e Real, considerando a vazão de
restrição Q7,10 determinada pelo estudo realizado em 2000 em cooperação com o
governo do Japão.
3. A conclusão, ainda este ano, dos Planos Estadual e das Bacias Hidrográficas dos rios
Sergipe, Japaratuba e Piauí deverá trazer grandes contribuições para a determinação do
potencial de recursos hídricos subterrâneos de Sergipe.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FEITOSA, E. C. Avaliação dos aquíferos da bacia Sergipe/Alagoas entre Aracaju e Capela.
Aracaju, PETROBRÁS, 1998. 178p.
FEITOSA, F. Hidrogeologia Básica – Conceitos e aplicações. 2.ed. Rio de Janeiro, CPRM, 1997.
270p.
SERGIPE. THE Study on Water Resorces Development in the State of Sergipe. Secretaria de
Estado do Planejamento – SEPLAN / Japan International Cooperation Agency - JICA, 2000.
SERGIPE. Atlas digital sobre os recursos hídricos de Sergipe. Secretaria de Estado do
Planejamento – SEPLAN, 2004. CD-ROM
SERGIPE. Estudo hidrogeológico e hidroquímico das microrregiões de Boquim, estância e Agreste
de Lagarto. Secretaria de Estado do Planejamento – SEPLAN, 2005.