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Resumos

Disciplina: Temas de História do Direito - “História da Cultura Jurídica a partir da


obra de António Manuel Hespanha
Doutorando: Vinícius Batelli de Souza Balestra

 Tema da Sessão: “História da Cultura Jurídica: balizas teórico-metodológicas [I]” -


29/08/2018

1.a “Cultura Jurídica Europeia: síntese de um milênio”

A História do Direito, como disciplina do curso de Direito, tem um papel


eminentemente crítico, e está estrategicamente posicionada para desempenhar esse papel
na formação dos jovens juristas. No entanto, é possível entrever, ao se debruçar sobre a
“história da história do direito”, que ela por muito desempenhou (e, de certa forma, ainda
desempenha) o papel de produtora de discursos legitimadores das categorias jurídicas. É
comum, assim, encontrar estudiosos que se valham da permanência de certas expressões
jurídicas - as “obrigações”, a “família”, a “propriedade” e até mesmo o “Estado” - para
arguir também da permanência dos sentidos e conteúdos axiológicos dessas expressões.
Assim, é possível destacar duas possíveis leituras sacralizadoras do direito atual, uma
naturalizadora, outra progressista. A primeira quer cristalizar os sentidos históricos das
categorias jurídicas; a outra quer justificar a ordem atual como produto mais bem acabado
de um Direito que apenas se aperfeiçoa, baseada na ideia de um progresso inescapável.
Neste caso, o direito é legitimador da ideia de que as formas jurídicas do presente são as
melhores possíveis. Apresentam-se exemplos tanto deste “velho discurso” dentro da
História do Direito como também formas de estudo mais recentes, surgidas em especial
por influência da Escola dos Annales, que balizam o estudo de uma História do Direito
crítica, consciente do conceito de “ruptura” dos tempos históricos, que não a concebe
numa linha do tempo homogênea e vazia. Isto implica num campo mais abrangente, porém
mais incerto de estudo para o historiador do direito.

1.b - “Particularidades de método de uma História Mundial do Direito”


Parte-se do livro “Empire”, de Negri e Hardt, que Hespanha assinala ter realizado
uma quebra não apenas na concepção de Império, mas também na concepção de uma
História Mundial. Essa quebra tem implicações que o autor pretende utilizar em sua própria
prospecção de uma nova abordagem da história mundial do direito. O método usado
pelos dois autores privilegia não apenas as formas “oficiais” de estudo do poder – o direito
e o Estado – mas também os modos não-convencionais pelas quais se pode exercer o
poder. Estudar o direito a partir desse ponto de vista implica, para o historiador, ter que
dar conta de universos mais incertos e mais abrangentes de coisas. Isto significa, por
exemplo, abandonar certas dicotomias construídas dentro do estudo tradicional da história
do direito, bem como concepções cristalizadas, a exemplo da dualidade “centro-periferia”.
Por muito tempo, a história mundial do direito foi feita a partir dessas concepções
centralistas e estatalistas. Negri e Hardt possibilitam um entendimento que não parta mais
do primado dos níveis econômico, político e jurídico nas relações entre metrópole e
colônia. Uma nova atitude histórica, tal como proposta por Hespanha, que se inspira em
Hardt e Negri, privilegia olhares para além das dicotomias centralistas, e que abordem a
história a partir de outros aspectos que também impactam na formação do direito local, e
que observem aspectos que a abordagem tradicional historicamente excluiu. Isto implica,
no entanto, num terreno menos firme, no entanto mais abrangente de pesquisa.

1.c - “A história das categorias no panorama da história intelectual que hoje se faz”
O texto busca, de modo sintético, estabelecer uma linha histórica dos estudos da
história das categorias. Primeiro, aponta o contexto da história tradicional das ideias, um
modo de estudo a que pretende se opor mais frontalmente. Paulatinamente, o texto
constrói as contribuições de diversas correntes de pensamento das ciênciais sociais e
humanas que contribuirão para uma história das categorias. Passa pelas contribuições da
filosofia analítica, que dá centralidade ao tema da linguagem, e chega a contribuições como
a de Foucault; em Foucault, encontramos um descentramento da linguagem no sujeito,
para um estudo da linguagem como discurso social, produto de um espaço-tempo.
Privilegia-se o discurso como produtor de sentidos. Essa contribuição de Foucault nos leva
a autores como Koselleck, principal autor da escola da “história dos conceitos”. A história
dos conceitos é história das palavras, não dos discursos dos autores ou mesmo da
sociedade. Em Koselleck, a história das categorias quer levar a sério o contexto e a
conjuntura, o espaço no qual as categorias efetivamente são produzidas. Por fim, são
apresentadas três frentes de combate para a qual uma história das categorias deve se
preparar. Deve combater uma mera história social, que despreza o estudo das categorias e
ideias, por entender que elas “se dobram” aos contextos sociais. Deve combater uma
história das ideias concebida como história biográfica de autores canônicos. E deve, por
fim, combater, uma história que aprisiona os conceitos do passado no olhar do presente,
que cristaliza os conceitos de modo anacrônico.

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