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Isabela Murad1
Resumo
As transformações econômicas, políticas e sociais ocorridas nos últimos anos geraram
impactos consideráveis no mercado de trabalho, aumentando a exigência por profissionais
mais qualificados e com habilidades variadas, incluindo competências técnicas e humanas.
Nesse contexto, este trabalho objetiva analisar o que foi estudado sobre o mercado de trabalho
na área de Administração nos últimos vinte anos, focando a formação para a atuação
profissional. Para atender a esse objetivo realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa por
meio do método de revisão de literatura, delimitando o período de 1995 a 2015. A partir dos
estudos encontrados foi possível concluir que existe uma discussão acerca da tentativa e
necessidade de se adequar os métodos de ensino e a preparação profissional para o mercado
de trabalho. Com relação especificamente ao administrador, existem muitas críticas quando o
assunto é a maneira como se dá sua formação diante da exigência e pressão por qualificação
constante, bem como pelo aperfeiçoamento e desenvolvimento de habilidades variadas.
Abstract
The economic, political and social transformations that have occurred in recent years have
generated considerable impacts on the labor market, increasing the demand for more qualified
professionals with varied skills, including technical and human skills. In this context, this
paper aims to analyze what has been studied about the labor market in the Administration area
in the last twenty years, focusing on training for professional performance. In order to meet
this objective, a qualitative research was carried out by means of the literature review method,
delimiting the period from 1995 to 2015. From the studies found it was possible to conclude
that there is a discussion about the attempt and need to adapt Teaching methods and
professional preparation for the labor market. With regard to the administrator specifically,
1
Mestre em Administração pela Universidade Federal de Lavras (UFLA)
there is a lot of criticism when it comes to the way in which training takes place in the face of
the demand and pressure for constant qualification, as well as for the improvement and
development of varied skills.
INTRODUÇÃO
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trabalho, pois o aumento do número de matrículas pode indicar uma maior concorrência nesta
área.
Sendo assim, este estudo objetiva analisar o que foi estudado sobre o mercado de
trabalho na área de Administração nos últimos vinte anos, focando a formação para a atuação
profissional. Com o intuito de atender ao objetivo proposto, tem-se a seguinte questão
norteadora: O que foi estudado sobre o mercado de trabalho para os administradores no
período de 1995 a 2015? Para responder a esse questionamento realizou-se um estudo
qualitativo por meio do método de revisão de literatura com a delimitação do período de 1995
a 2015. Foram analisados artigos de quatro bases de dados específicas, sendo elas: SciELO,
Spell (Scholar), ScienceDirect (Elsevier) e Web Of Science.
A importância desta pesquisa justifica-se pela necessidade de se estudar as questões
relacionadas ao trabalho, principalmente na área de Administração, como o ensino e a
formação profissional, a fim de contribuir para o desenvolvimento deste debate e pesquisas
futuras neste cenário.
1 METODOLOGIA
Para atender ao objetivo proposto na pesquisa, foi realizada uma pesquisa de natureza
qualitativa, por meio de uma revisão de literatura, delimitando o período de 1995 a 2015 para
a obtenção dos dados. Bento (2012) considera a revisão de literatura como parte essencial do
processo de investigação, envolvendo as ações de localizar, analisar, sintetizar e interpretar o
tema de estudo, ou seja, é uma análise bibliográfica pormenorizada, referente aos trabalhos já
publicados sobre o tema.
A coleta dos artigos foi realizada em quatro bases de dados, sendo elas: SciELO, Spell
(Scholar), ScienceDirect (Elsevier) e Web Of Science. Para fazer a busca dos artigos nas bases
escolhidas, optou-se por utilizar duas palavras-chave: Administração e mercado de trabalho,
haja vista que estas englobam de forma geral o tema a ser estudado, aumentando as
possibilidades de artigos a serem encontrados. No caso de se utilizar mais palavras-chave, as
opções são muito reduzidas pois há uma grande especificação de tema.
Para a restrição e seleção dos artigos, embora não tenha sido feita a delimitação de
período, foram feitos refinamentos para as áreas de interesse e também por tipo de
documento. No total, foram encontrados 55 artigos na base SciELO, 4 artigos na Spell, 158
artigos na ScienceDirect e 47 artigos na Web Of Science.
Deste total de 264 artigos, a partir da leitura do resumo, introdução e considerações
finais de cada artigo, foram eliminados 216 destes pelos seguintes motivos: artigos duplicados
nas bases; tratavam de assuntos muito específicos de outras áreas como economia, finanças;
enfermagem, dentre outras; e, por fim, não se encaixavam no tema desta pesquisa. Assim,
foram selecionados 48 artigos para serem analisados neste estudo. Estes 48 artigos foram
transportados e gerenciados por meio do software MyEndNote Web.
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produção caracterizado pelo trabalho repetitivo e do processo de produção em massa para a
flexibilidade, na qual o empregado executa várias funções na empresa e o ritmo de produção
obedece à demanda do mercado (PENA, 2016).
Segundo esse autor, a consolidação desse modelo foi o principal motor para a
hegemonia do neoliberalismo no mundo atual. Como consequência, teve-se como principais
fatores a elevação do emprego temporário, o processo de desregulamentação do trabalho e a
redução média dos ganhos financeiros dos trabalhadores. No Brasil, esse sistema consolidou-
se na década de 1980. Doeringer (1988) evidencia que os mercados de trabalho nos países em
desenvolvimento são altamente complexos.
O mercado de trabalho pode ser definido como o elo que organiza a relação de troca,
aproximando aqueles que ofertam a força de trabalho e aqueles que a demandam, podendo
também ser entendido como a principal forma por meio da qual acontece a solução
institucional para um duplo problema de alocação. De um lado, o sistema produtivo precisa
ser provido com o trabalho necessário para a geração de riqueza; do outro, os indivíduos
detentores da força de trabalho necessitam dos meios monetários (salário e benefícios) e
sociais (status) para assegurar sua sobrevivência (AMARAL et al., 2012)
Cappeli (1999) citada por Oliveira (2006) argumenta que o sistema tradicional de
trabalho, caracterizado por empregos de longo prazo e estáveis não existe mais, dando lugar
ao “novo acordo de trabalho”. Tal acordo defende o fato de que a empresa não pode mais
oferecer estabilidade ou perspectivas de crescimento, além disso, o trabalhador passa a ser o
responsável pela sua própria qualificação (OLIVEIRA, 2006). Ou seja, em um mercado de
trabalho cada vez mais competitivo, onde há a necessidade da busca incessante pela
qualificação e desenvolvimento de competências, é dever do profissional que deseja se inserir
neste meio desenvolver suas habilidades.
No atual cenário que combina competividade e necessidade de recursos humanos
altamente qualificados nas organizações, bem como a instabilidade das relações de trabalho, a
preocupação com os aspectos do trabalho ganham destaque (CAVAZOTTE et al. 2012).
Lemos et al. (2009), afirma que a qualificação profissional tem sido considerada como um
diferencial para a inserção no mercado de trabalho, sendo entendida como um requisito da
empregabilidade e até mesmo como um desafio a ser enfrentado pelos profissionais que
pretendem se inserir no mercado de trabalho.
Segundo Oliveira (2006) o conceito de empregabilidade não é novo e está cada vez
mais presente no discurso empresarial. Este mesmo autor define a empregabilidade como
sendo a capacidade de uma pessoa conseguir emprego, se manter nesse emprego e de, se
necessário, conseguir uma nova colocação, ou seja, é ter e manter seu valor para as empresas
pois, conforme tal definição, as tecnologias e a demanda das empresas mudam, recaindo
unicamente sobre o trabalhador a responsabilidade por atualizar os seus conhecimentos e
habilidades.
A transição da economia industrial para a economia da informação fez com que a
informação e seus respectivos sistemas desempenhem funções fundamentais e estratégicas nas
organizações em sua totalidade, passando a informação a ser um recurso estratégico que deve
ser utilizado como vantagem competitiva (SILVEIRA et al., 2009).
Ydyrys et al. (2014) salienta que com o desenvolvimento da economia, tecnologia e
ciência há uma demanda aumentada por mão de obra qualificada e melhoria da qualidade da
população em idade de trabalho através da promoção de competências profissionais e que sem
uma força de trabalho qualificada, qualquer modelo de desenvolvimento econômico
estratégico está fadado ao fracasso. Por esse motivo, a demanda das organizações por
profissionais cada vez mais qualificados é crescente, haja vista que esta é uma forma que a
empresa tem para se manter competitiva no mercado.
De acordo com os Comunicados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2013),
não há escassez de mão de obra qualificada no Brasil. Ao contrário, as evidências mostram
que a oferta de mão de obra qualificada tem aumentado de forma substancial e contínua nos
últimos 15 anos, o que é coerente com a redução observada nos retornos da escolaridade no
mercado de trabalho brasileiro. Dessa forma, é notório o esforço dos indivíduos na busca pela
qualificação e adequação às demandas do mercado. Sokolova e Mohelska (2014) destacam
que a educação e o desenvolvimento de competências é uma das condições chave para o
desenvolvimento da sociedade em geral, além disso, pessoas qualificadas têm melhores
empregos e oportunidades no mercado de trabalho.
Mainardes e Domingues (2009) destacam a importância dos profissionais estarem em
constante aperfeiçoamento e capacitação e afirmam que, muitas vezes, se busca a qualificação
profissional em instituições de ensino. Oliveira e Piccinini (2012) afirmam que entre a
universidade e o mercado de trabalho, há os estágios, criados pelas instituições de ensino
como forma de complementar a formação e facilitar o acesso ao mercado, sendo reconhecido
por organizações e estudantes como uma forma legítima (e às vezes necessária) para ingresso
na esfera laboral. Com isso, pode-se notar que os estágios possuem uma boa contribuição para
o processo de formação e qualificação profissional, pois possibilita um contato inicial com o
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campo em que o indivíduo irá atuar e aumenta a possibilidade de ingresso no mercado de
trabalho.
As normas de instituições de ensino, os agentes integradores e as políticas de recursos
humanos das empresas organizam o processo de entrada e de reconhecimento do mercado de
trabalho. No entanto, depois de reconhecidas a estrutura do mercado e as possibilidades que
este oferece, os aspectos individuais, como a trajetória particular e as expectativas com
relação ao trabalho, passam a direcionar o percurso de inserção (OLIVEIRA; PICCININI,
2012).
Dragut (2011), enfatiza que a qualidade da educação universitária se tornou um tema
de grande importância relacionado pelo mercado de trabalho, pois o intuito de um indivíduo
que adquire seu diploma é, na maioria das vezes, ingressar no mercado. Por meio do estudo
realizado por Pellicer et al. (2014), pode-se perceber que há um esforço de algumas
universidades em fornecer uma formação acadêmica voltada para o mercado de trabalho. Em
sua pesquisa, foi estudado o programa de orientação profissional desenvolvido pelo Serviço
Orientação e Emprego (SIOC) da Universidade de Murcia, na Espanha. Segundo esse autores,
tem ocorrido uma reestruturação na forma de ensinar da universidade, direcionando para uma
abordagem profissional para o desenvolvimento de competências e que possam garantir o
ingresso dos indivíduos no mercado de trabalho. Em outro estudo realizado por Mocanu et al.
(2014) também é evidente a preocupação em se adequar o sistema de ensino superior ao
mercado de trabalho.
Gallego et al. (2014), afirma que há uma necessidade de adequação entre a oferta do
mercado de trabalho e demandas educacionais em termos de número de programas oferecidos,
no entanto, considerado essencial aprofundar e atualizar o conteúdo, práticas e metodologias,
haja vista que às vezes as instituições de ensino, principalmente universidades, são percebidas
como distantes da realidade e incapazes de lidar com as demandas do mundo empresarial.
Observa-se que, para alguns estudiosos como Almeida (2012) há uma lacuna entre a
formação e o mercado de trabalho. Segundo ele, os profissionais recém-formados apresentam
formação diferenciada e distanciada das demandas da realidade e, por esse motivo, enfrentam
sérias dificuldades para atuar no mercado de trabalho, que uma contínua evolução, obrigatória
pela competitividade, e que não está sendo acompanhada em tempo real no decorrer da
aprendizagem oferecida ao profissional pelas instituições de ensino superior.
Como dito anteriormente, o mercado de trabalho nos dias de hoje é caracterizado pela
aleatoriedade, o que requer uma maior flexibilidade por parte dos profissionais, sendo
necessário que os indivíduos, cada vez mais, tenham capacidades e motivações para uma
aprendizagem contínua, entretanto, há de se ressaltar que possuir a qualificação não
representa a garantia de ingresso no mercado de trabalho (SOARES, 2014). Gondim (2002)
analisa a situação sob a ótica do mercado, na qual há uma crescente dificuldade enfrentada
pelos responsáveis por recrutamento de pessoas em conseguir profissionais habilitados a
ocuparem as vagas disponíveis, colocando em discussão a eficiência no processo de formação
e qualificação.
Sob outra visão, Colenci e Berti (2012) afirmam que quando o profissional se insere
no mercado, deverá ter uma nova formação, ou uma nova construção e estruturação de
conhecimentos, a partir de conceitos criados por sua experiência isolada, a formação proposta
pela instituição de ensino e as experiências vividas durante o curso, além da cultura e da
filosofia da nova instituição que esse profissional se insere. Ou seja, fica claro que todo o
processo de formação e qualificação para se inserir e manter-se no mercado de trabalho é
contínuo e exige melhorias e atualização constante dos indivíduos.
Portanto, em meio a essas inúmeras mudanças no cenário social, econômico e político,
gerando impactos diretos no mercado de trabalho, o qual demanda profissionais qualificados e
flexíveis para que se mantenha neste atual contexto de alta competitividade, fica evidente a
necessidade de adequação ao mesmo. A seguir, será discutida a formação do administrador,
que passa por reformulações e é alvo de muitas exigências, bem como a inserção deste
profissional no mercado.
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No Brasil, devido às transformações ocorridas e novas necessidades socioeconômicas
que surgiram, foi preciso investir em mão-de-obra qualificada para acompanhar o processo de
industrialização, como consequência disso, houve o desenvolvimento do ensino superior de
Administração a partir da década de sessenta, juntamente com o surgimento de grandes
empresas e indústrias (MOREIRA et al., 2014). Pode-se notar que com o desenvolvimento e
crescimento do país, houve a demanda por administradores, resultando no aumento de cursos
da área.
Coelho e Nicolini (2013) enfatizam que o ensino de graduação em Administração no
Brasil tem sua origem e trajetória fortemente influenciadas pela área congênere nos Estados
Unidos, ligada aos convênios de cooperação técnica firmados com esse país no final da
década de 40, que vai dar origem à Fundação Getúlio Vargas e consequentemente à Escola
Brasileira de Administração Pública e de Empresas e a Escola de Administração de Empresas
de São Paulo. Já os programas de pós-graduação no Brasil iniciaram-se a partir da
regulamentação dos mestrados e doutorados no ano de 1965, impulsionando o surgimento de
grande parte dos programas de Administração existentes atualmente (FESTINALLI 2005).
No entanto, Demajorovic e Silva (2012) argumentam que devido a sua origem como
administração de empresas no Brasil, os cursos privilegiam a formação de administradores
com o principal objetivo de utilizar os recursos da melhor maneira a fim de obter maior
produtividade e lucratividade, acompanhando a reformulação do discurso empresarial. Neste
mesmo raciocínio, Lopes (2001) comenta que a formação dos administradores se tornou
basicamente técnica e fragmentada em grupos de disciplinas. O autor considera que os
administradores são formados para enxergar os fenômenos organizacionais como de forma
independente e isolada, não sendo capazes de perceber a dinâmica sistêmica de
funcionamento da sociedade como um todo.
Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Administração,
Resolução nº 04 de 13 de Julho de 2005 - Art. 3º, o perfil de um formando do curso de
graduação em Administração pode ser representado da seguinte maneira:
Pode-se perceber que este perfil abrange diversas características pertinentes à atuação
profissional. No entanto, Silveira et al. (2009) afirmam que o impacto causado pelo uso de
novas tecnologias nos diversos setores da atividade econômica requer profundas
transformações no processo pedagógico dos cursos superiores de Ciências Humanas e
Ciências Sociais Aplicadas. Isto pode ser considerado como dificuldade e insegurança para os
educadores e coordenadores de instituições de ensino superior, principalmente quando se trata
da complexa formação de que necessita um futuro administrador para atender ao atual
mercado altamente competitivo.
As novas experiências na área de educação reforçaram a importância de uma
reavaliação do processo de ensino-aprendizagem nos cursos de graduação. Essa necessidade
de reavaliação está intensamente presente em cursos que necessitam de uma forte vinculação
com o mercado, o que ocorre na área de administração, que precisa de habilidades
desenvolvidas ao longo da formação do administrador e são valorizadas pelas organizações
(BORBA, et al., 2005).
Nos estudos de Fontenelle (2007), são apresentados os dados de uma pesquisa
exploratória sobre a reformulação de um curso para graduados em Administração, na cidade
de São Paulo, passando a incluir em seu plano de curso a disciplina “orientação de carreira”,
tendo em vista a nova demanda do mercado por profissionais “empreendedores”, aptos a
gerirem a sua própria carreira. Segundo esse autor, há um novo modelo econômico em curso
que promove mudanças reais nas relações de trabalho e que tem deixado o indivíduo só e
responsável pelo seu destino. Praliyev et al. (2013) também analisa o auto aprendizado como
um ponto positivo, considerando importante a criação de programas baseados no auto
desenvolvimento por meio da análise das necessidades do mercado e tendências do ambiente
cultural.
Segundo Chanltat (1996) o desenvolvimento da carreira encontra-se diante de diversos
paradoxos, como a falta de formação dos estudantes de administração, as dificuldades de
mercado e o avanço dos trabalhos temporários. Conforme este autor, para que hajam
mudanças no cenário futuro é necessário pensar sobre transformações substantivas na ética do
trabalho, na formação dos jovens e na preocupação exclusivamente financeira que limita cada
vez mais o horizonte profissional.
Borba et al. (2005) enfatiza que o descompasso entre as expectativas quanto à
formação do aluno no momento do ingresso no curso e a avaliação da formação quando o
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aluno ingressa no mercado de trabalho é de conhecimento do mercado profissional, dos
formandos em cursos de graduação em Administração e dos docentes que lecionam o mesmo.
No entanto, há um desafio em efetuar mudanças nos cursos.
Conforme Mach et al. (2013), a formação não cabe somente a universidade e seu
corpo docente, mas também aos próprios alunos, a vontade e capacidade em aprender passa a
ser essencial. Assim, torna-se pertinente analisar também o que os próprios futuros
administradores consideram importante ao longo de sua formação. Nos estudos realizados por
Mainardes e Domingues (2010), o qual objetiva identificar a satisfação dos formandos em
Administração em uma instituição de ensino superior, tais autores analisam alguns destes
fatores. Segundo eles, os alunos consideram como atributos-chave para sua satisfação com o
curso a imagem do mesmo e da instituição, a empregabilidade dos egressos e o atendimento
das necessidades tanto dos alunos quanto do mercado.
Em outra pesquisa, realizada por Moreira et al. (2014), que analisa a qualidade do
curso de Administração de uma instituição de ensino superior para o mercado, trouxe como
atributos-chave os seguintes itens: qualidade do diploma do curso para o mercado de trabalho
e qualidade do curso que venha a beneficiar a sociedade; como atributos básicos tem-se: a
reputação do curso e da IES; o conteúdo aprendido para empregabilidade e a qualidade do
curso na formação para trabalho em equipe. Com isso, fica claro que os indivíduos também
possuem uma demanda própria com base no que o mercado necessita.
Ao se tratar especificamente do profissional de Administração, pode-se afirmar que os
impactos sentidos pelos setores social, cultural, econômico e político determinaram uma
ampliação do escopo de atuação do executivo, apontando para a passagem da necessidade
básica da produção que visava ao atendimento da demanda, para um momento que determina
a necessidade de rapidez, qualidade, flexibilidade e capacidade de aprendizado contínuo para
a sobrevivência das organizações (FESTINALLI, 2005).
Portanto, os conhecimentos adquiridos ao longo do curso de graduação não são
suficientes pra a formação dos administradores, pelo fato de que eles devem estar sempre
desenvolvendo novas habilidades e aprimorando seus conhecimentos, haja vista que as
organizações buscam profissionais especializados que saibam como lidar e resolver
problemas neste ambiente de trabalho dinâmico e competitivo. Nesse contexto insere-se a
figura do administrador moderno que precisa aliar o conhecimento obtido na graduação ao
desenvolvimento e capacitação de suas competências para suprir as necessidades das
organizações (MOREIRA et al., 2014).
Mintzberg e Gosling (2003) citados por Festinalli (2005) afirmam que a ênfase do
ensino da Administração nas funções de marketing, finanças, recursos humanos estratégia, já
não é mais suficiente para atender as demandas da atualidade. Para eles, a formação do
profissional em Administração deve refletir a prática dos administradores nas organizações
flexíveis. Formar gerentes implica estender as atividades de sala de aula até a organização na
qual eles atuam, causando algum impacto sobre o seu comportamento. Sendo assim, o fato de
que há uma lacuna entre a formação do administrador e a demanda do mercado de trabalho
ainda permanece como um desafio a ser enfrentado por todos os atores envolvidos neste
cenário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo objetivou analisar o que foi estudado sobre o mercado de trabalho
para os administradores desde o ano de 1995 até o ano de 2015, focando na formação do
profissional para o mercado. A partir dos estudos encontrados foi possível concluir que existe
um grande debate acadêmico acerca da tentativa e necessidade de se adequar os métodos de
ensino e a formação profissional ao mercado de trabalho.
Com relação especificamente ao administrador, existem muitas críticas quando o
assunto é a maneira como se dá sua formação diante da exigência e pressão por qualificação
constante, bem como pelo aperfeiçoamento e desenvolvimento de competências variadas,
envolvendo habilidades técnicas e humanas. Nota-se que, no passado, a qualificação
profissional era vista como um diferencial, já nos dias de hoje, esta se tornou essencial, sendo
considerado um requisito para a inserção no mercado.
Pode-se perceber que há uma cobrança intensa sobre o ensino da Administração
proporcionado pelas instituições de ensino superior. Tal cobrança deve-se ao fato de que a
responsabilidade pela formação e preparação dos indivíduos recai essencialmente sobre as
instituições de ensino. No entanto, os indivíduos também são parte importante deste processo
de construção do conhecimento e qualificação para o mercado de trabalho.
A própria profissão do administrador exige mais do que somente o que é ensinado
pelas universidades. Este deve ser um indivíduo com uma visão crítica e que integre as
situações como um todo a fim de proporcionar respostas rápidas ao complexo ambiente
empresarial. Talvez seja por este motivo que haja a crítica de que as instituições de ensino
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estão distantes do mercado de trabalho e proporcionam uma formação deficiente aos
administradores. Entretanto, o desafio de preencher esta lacuna deve ser enfrentado
conjuntamente.
Em um mercado altamente competitivo, no qual a qualificação e a boa formação
profissional tornou-se um requisito essencial aos indivíduos e principalmente aos
administradores, devido à complexidade das situações e estrutura atual das organizações, é
preciso que estes estejam preparados para fazerem parte do novo mundo do trabalho, o qual é
flexível, dinâmico, competitivo e exigente. Além disso, para que as organizações se
mantenham no mercado, os administradores qualificados são considerados elemento
essencial.
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