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Arttigo Fordismo Toytismo Volvismo PDF
Arttigo Fordismo Toytismo Volvismo PDF
A nous la liberté é o título de um filme do Este trabalho abordará este tema a par-
diretor francês René (Jair. tir de três metáforas desenvolvidas por
A estória mostra dois companheiros de Garet Morgan no livro Images of Organ-
fuga da prisão; um só deles bem-sucedido, izatíon.' Para criar um campo analítico,
assinale-se que em detrimento do outro. estas metáforas serão contrapostas a três
Eles são os protagonistas de uma sátira à diferentes sistemas gerenciais.
indústria - sociedade - que reduz o ho- Assim, na primeira parte, será descrita a
mem a uma máquina. imagem da organização como máquina e,
O bem-sucedido na fuga, interpretado em seguida, abordado o tema da produção
por Raymond Cordy, sobe rápida e habil- em massa a partir do caso da Ford.
mente no mundo industrial, tornando-se Na segunda parte a empresa analisada
um importante empresário. O outro, Henri será a Toyota e a imagem escolhida, a da
Marchand, após cumprir sua pena, organização como organismo.
perambula inocentemente pela narrativa, Na terceira parte, finalmente, será to-
conservando o ar alegre e um desapego mada a metáfora do cérebro e abordado o
sincero, tentando sempre aceitar o inespe- caso da Volvo.
rado.
O reencontro dos dois amigos, agora ORGANIZAÇÕES COMO MÁQUINAS:
habitando mundos diametralmente opos- FORO E A PRODUÇÃO EM MASSA
tos, dá início a uma reviravolta na estória.
Henri vai trabalhar na fábrica de Raymond As origens da organização mecânica 2
e suas ações vão potencializar a recon-
versão do amigo. A palavra organização vem do grego
Na seqüência final, a fábrica - um organon, que significa instrumento. Orga-
quase personagem - é entregue por Ray- nizações são, portanto, uma forma de as-
mond aos operários, que não têm outras sociação humana destinada a viabilizar a
atividades que não sejam pescar ou dis- consecução de objetivos predeterminados.
trair-se em jogos. Enquanto isso, a produ- Mas este conceito perdeu força prática
ção é feita por autômatos. em algum ponto do desenvolvimento ca-
Os dois amigos seguem seu caminho, pitalista, quando as organizações passaram
pela estrada, com uma trouxa de roupas a ser fins em si mesmas. Pode-se afirmar
nas costas e cantarolando a canção que dá que esta transformação está de alguma
título ao filme. forma ligada à mecanização do trabalho e
O diretor usa o vasto complexo indus- suas conseqüências.
trial como moldura para uma crítica bem Passamos, a partir de um certo estágio
humorada aos processos desumaniza- do processo de industrialização, a usar 1. MORGAN, Gareth. Images of
dores. Em essência, defendem-se, de ma- máquinas como metáforas para nós mes- Organization. Beverly Hills, Sage,
neira por vezes ingênua, mas sempre poé- mos e a moldar o mundo de acordo com 1986. Além das imagens utilizadas
tica, os valores básicos do ser humano. princípios mecânicos. O trabalho nas fá- no presente trabalho, Morgan tam-
O filme é de 1931. bricas passou a exigir horários rígidos, bém desenvolve as seguintes ima-
rotinas predefinidas, tarefas repetitivas e gens para organizações: culturas,
INTRODUÇÃO: OS SISTEMAS GERENCIAIS estreito controle. sistemaspolíticos,prisõespsíquicas,
E SUAS IMAGENS fluxo e transformação e instrumen-
A vida humana sofreu profunda trans-
tos de dominação.
formação. A produção manual deu lugar à
A partir da década de setenta, a lide- produção em massa; a sociedade rural deu 2. Idem, ibidem, capo2, pp. 19-37.
rança industrial até então incontestável dos lugar à urbana e o humanismo cedeu ao
Estados Unidos e da Europa Ocidental racionalismo. Todo o sistema de valores e 3. A frase original é de Karl Marx:
passou a ser desafiada pelo Japão. crenças foi afetado. "...Tudo que era sólido "Tudo que é sólido desmancha no ar,
Advoga-se que este fato está estreita- desmanchou no ar... "3 tudo que é sagrado éprofanado, e os
mente ligado ao declínio da forma de or- Max Weber observou o paralelo entre a homens são finalmente forçados a
ganização do trabalho dominante nas em- mecanização da indústria e a proliferação enfrentar com sentidos mais sóbrios
presas ocidentais. suas reais condições de vida e sua
das formas burocráticas de organização.
relação com outros homens". Citado
O modelo de produção fordista estaria, Segundo ele, a burocracia rotiniza a ad- em BERMAN, Marshal. Tudo que é
por isso, sendo substituído na indústria ministração como as máquinas rotinizam a sólido desmancha no ar -a aventura
manufatureira em todo o mundo por no- produção. da modernidade. São Paulo,
vos conceitos e princípios. Weber definiu a organização burocráti- Schwarcs, 1990, p. 93.
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FORDlSMO, TOYOTlSMO E VOL VISMo. ..
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1}!1f] ARTIGO
Ford também conseguiu reduzir drasti- tudo de que necessitava. Mas ele mesmo
camente o tempo de preparação das má- não tinha idéia de como gerenciar global-
quinas fazendo com que elas executassem mente a empresa sem ser centralizando
apenas uma tarefa por vez. Além disso, todas as decisões. Esta é uma das princi-
elas eram colocadas em seqüência lógica. O pais raízes do declínio da empresa nos
único problema era a falta de flexibilidade. anos 30.
Esta combinação de vantagens compe- Foi Alfred Sloan, da General Motors/,
titivas elevou a Ford à condição de maior que resolveu o impasse que vitimou Ford.
indústria automobilística do mundo e vir- Sloan divisionalizou a empresa implan-
tualmente sepultou a produção manual. tando um rígido sistema de controle. Além
Em contraste com o que ocorria no sis- disso, criou uma linha de cinco modelos
tema de produção manual, o trabalhador básicos de veículos para atender melhor o
da linha de montagem tinha apenas uma mercado (a Ford tinha apenas o modelo T)
tarefa. Ele não comandava componentes, e criou funções na área de finanças e
não preparava ou reparava equipamentos, marketing. Desta maneira, ele conseguiu
nem inspecionava a qualidade. Ele nem estabelecer uma forma de convivência do
mesmo entendia o que o seu vizinho fazia. sistema de produção em massa com a ne-
Para pensar em tudo isto, planejar e con- cessidade de gerenciar uma organização
trolar as tarefas, surgiu a figura do enge- gigantesca e multifacetada.
nheiro industrial. Por décadas, o sistema criado por Ford
e aperfeiçoado por Sloan funcionou per-
.n •••••••••••••••••••••
feitamente e as empresas americanas
Um aspecto complicador do uso da dominaram o mercado de automóveis.
Mas, a partir de 1955,a tendência começou
imagem de organizações como a se inverter. O modelo começava a dar
organismos é o pressuposto implícito sinais de esgotamento.
da utilização de um modelo Na Europa, grandes fabricantes surgi-
discreto, no qual as espécies e suas ram aplicando os mesmos princípios, mas
características são bem definidas. desenvolvendo veículos mais adaptados às
condições do continente. Paralelamente, a
As organizações, por sua vez, força de trabalho tornou-se cada vez mais
tendem a ter características com reivindicativa em torno de questões como
variação contínua. salários e jornadas de trabalho.
A crise do petróleo dos anos 70 encon-
••••••••••••••••••••••• trou as indústrias européias e americana
Neste novo sistema, o operário não tinha num patamar de estagnação. A ascensão
perspectivas de carreira e tendia a uma de novos concorrentes, vindos do Japão,
desabilitação total. Além disso, com o colocou definitivamente em cheque o mo-
tempo, a tendência de superespecialização delo de produção em massa.
e perda das habilidades genéricas passou Estaria o declínio da indústria em geral,
a atingir também os demais níveis hierár- e da americana em particular, ligado ao
quicos. paradigma taylorista-fordista?
A Ford procurou verticalizar-se total- Taylor publicou o seu livro Principies of
mente, produzindo todos os componentes Scientific Management em 1911. Seus prin-
dentro da própria empresa. Isto se deu pela cípios influenciaram rapidamente fábricas,
necessidade de peças com tolerâncias mais escolas, lares e até mesmo igrejas.
estreitas e prazos de entrega mais rígidos, Quinze anos mais tarde, em 1926, Ford
que os fornecedores, ainda num estágio publicou o artigo "Mass Production". O
pré-produção em massa, não conseguiam impacto dos conceitos relatados moldou as .
atender. organizações ao longo de décadas e a sua
A conseqüência direta foi a introdução influência atravessou fronteiras geográfi-
em larga escala de um sistema de controle cas e ideológicas.
altamente burocratizado, com seus pro- Vários pesquisadores agora se detêm no
blemas próprios e sem soluções óbvias. estudo da mensuração do grau em que a
Depois de algum tempo, Ford estava permanência deste paradigma impediu, ou
7. Idem, ibidem, p. 39. apto a produzir em massa praticamente dificultou, a evolução da indústria oci-
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1J!1D ARTIGO
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FORDISMO, TOYOTISMO E VOLVISMo. ..
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l1~DARTIGO
o fluxo de componentes era coordena- adotar os mesmos princípios, embora não
do com base num sistema que ficou co- se possa falar que isso tenha ocorrido, ou
nhecido como Just-in- Time. Esse sistema, ocorra, de forma completa.
que opera com a redução dos estoques in- O mesmo fenômeno ocorrido com os
termediários, remove, por isso, as segu- princípios fordistas-tayloristas está agora
ranças, e obriga cada membro do processo ocorrendo com os princípios toyotistas.
produtivo a antecipar os problemas e evi- Nos anos 80, o mundo estava no mesmo
tar que ocorram. ponto de difusão da idéia de produção
Outros aspectos da organização, a en- flexível.dos anos 20, em relação à idéia de
genharia e o desenvolvimento de produ- produção em massa.
tos, também foram influenciados pelos Mas criar uma analogia desse tipo e
princípios adotados na produção. En- concluir que a influência dos dois concei-
quanto nas companhias de produção em tos sobre as organizações terá grau seme-
massa o problema da complexidade téc- lhante pode ser perigosamente simples. O
nica teve como resposta uma divisão mi- próprio toyotismo talvez não se reconheça
nuciosa de especialidades, na Toyota op- quando aplicado fora das suas fronteiras
tou-se pela formação de grupos sob uma originais. Ao contrário, os transplantes
liderança forte, integrando as áreas de geográficos parecem levar a caminhos di-
processo, produto e engenharia industrial. ferentes, ainda que mantenham alguns
Toyoda e Ohno levaram mais de 20 anos princípios originais intactos.
para implementar completamente essas Ainda que não se possa duvidar da
idéias, mas o impacto foi enorme, com evolução e do impacto causado pelas mu-
conseqüências positivas para a produtivi- danças implantadas por Toyoda e Ohno,
dade, qualidade e velocidade de resposta também não é possível dissociá-las do
às demandas do mercado. quadro mais amplo que as gerou e as sus-
O sistema flexível da Toyota foi espe- tenta.
cialmente bem-sucedido em capitalizar as Por outro lado, um olhar mais crítico
necessidades do mercado consumidor e se para este quadro talvez revele algumas
adaptar às mudanças tecnológicas. sutilezas e fraquezas corriqueiramente
Ao mesmo tempo que os veículos foram ignoradas.
adquirindo maior complexidade, o mer- Kuniyasu Sakai ", um empresário
cado foi exigindo maior confiabilidade e nipônico, advoga que a organização pira-
maior oferta de modelos. midal, base dos grandes grupos japoneses,
A Toyota necessita hoje de quase me- guarda estreita semelhança com o mundo
tade do tempo e investimento de um pro- feudal. Para ele, a base da pirâmide, cons-
dutor convencional para lançar um novo tituída por milhares de pequenas empresas
veículo. Por outro lado, enquanto as fábri- e empregando a maior parte da mão-de-
cas da Ford e General Motors procuram obra existente, faz o papel do servo, conti-
produzir um modelo por planta, as da nuamente submetido a pressões para re-
Toyota fazem dois ou três. dução de custos, trabalhando com margens
O tempo médio de permanência dos de lucro insuficientes e praticamente im-
modelos no mercado também é diferente: pedido de abandonar o seu clã.
os carros japoneses têm um ciclo de vida Sakai considera que começam a aparecer
inferior à metade do ciclo de vida dos rachaduras ameaçadoras para a sobrevi-
carros americanos. vência desse sistema. As mais importantes
Sob o aspecto distribuição, os japoneses estariam ligadas à queda relativa do pa-
também inovaram, transferindo para a drão de devoção dos empregados às em-
rede de vendas o conceito de parceria uti- presas. Uma mudança sensível dos pa-
lizado com os fornecedores e construindo, drões comportamentais e culturais, o
com isso, uma relação de longo termo. surgimento de novas atitudes e expectati-
Conseguiu-se, assim, integrar toda a cadeia vas em relação à vida e ao trabalho com-
produtiva, num sistema funcional e ágil. plementariam um quadro potencialmente
13. SAKAI, Kuniyasu. The leudal No fim dos anos 60, a Toyota já traba- perigoso.
world 01 japanese manufacturing. lhava totalmente dentro do conceito de Talvez isso seja insuficiente para abalar
HaNard Business Review, Boston, produção flexível.Os outros fabricantes de o sistema inaugurado pela Toyota, princi-
68(6):38-42+,nov./dez. 1990. veículos japoneses também passaram a palmente se contraposto aos sucessos já
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FORDISMO, TOYOT/SMO E VOLVISMO ...
alcançados e amplamente estudados e di- Existe, além disso, uma ligação entre a
vulgados." capacidade de processamento e análise de
. Segundo uma visão mais ampla, o informações, e o modelo organizacional
toyotismo, em essência, não seria mais que adotado.
uma evolução do fordismo." Este ponto de Uma questão pertinente é a avaliação do
vista encontra respaldo na análise do seu impacto da informatização sobre a socie-
surgimento e equivale a dizer que o siste- dade em geral e sobre as organizações em
ma estaria exposto às mesmas contradições particular. Tornar-se-ão as organizações
básicas do seu antecessor. Sua vantagem mais inteligentes? Tudo dependerá da sua
competitiva, na comparação com o fordis- capacidade de aprender.
mo, seria uma maior adaptabilidade às
condições ambientais. Mas mesmo esta •••••••••••••••••••••••
adaptabilidade talvez esteja se aproxi-
No projeto da planta de Uddevalla, a
mando de um limite de ruptura.
O conjunto de fatores da dinâmica social Volvo combinou aspectos de produção
acabaria por catalisar as contradições in- manual com o auto grau de
ternas da pirâmide, minando-a por dentro. automação. Isto permitiu imensa
Simultaneamente, este mesmo conjunto de flexibilidade tanto de produto como de
fatores atuaria sobre o meio, enfraquecen-
processo, além de possibilitar uma
do a capacidade adaptativa e a flexibilida-
de do sistema." redução da intensidade de capital.
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ORGANIZAÇÕES COMO CÉREBROS - VOLVO:
O CAMINHO DA FLEXIBILIDADE CRIATIVA Então, a questão a ser colocada é: como
um sistema pode ser projetado para
O rumo da auto-organizaçãol7 aprender como o cérebro? A cibernética
enfoca esta questão através do estudo da
O modelo mecanicista enfocava a orga- informação, comunicação e controle. O
nização como um conjunto de partes liga- ponto central é a capacidade de auto-
das por uma rede de comando e controle. regulação.
O modelo organicista/ contingencialista Quatro princípios foram desenvolvidos
a partir dos conceitos de single-loop 14. Um panorama relativamente atu-
trouxe os conceitos de integração ao am-
alizado da indústria automobilística
biente, estrutura matricial, flexibilidade e (aprendizado) e double-loop (aprendizado
no mundo e o avanço dosfabrican-
motivação. Mas nenhum modelo ou siste- do aprendizado). São os seguintes:
tes japoneses podem ser vistos na
ma supera o cérebro como vetor de ação série de reportagens publicadas em
inteligente. • capacidade de sentir ou monitorar o Business Week, 3147(477), abr.
A seguir serão abordadas duas imagens ambiente; 1990.
do cérebro como forma de estabelecer uma • relacionamento das informações colhidas
ponte entre suas características e a aplica- com normas predefinidas; 15. Para uma descrição instrumental
ção dos princípios decorrentes ao mundo • detecção das variações; detalhada do sistema de controle e
organizacional. • início da correção. comando "à japonesa', ver KING,
Bob. Hoshin Planning: the
A primeira é a imagem da organização
development approach. EUA, Goal/
como sistema de processamento de infor- Numa organização mecanicista, ou bu-
QPC, 1989.
mações. A segunda é a da organização rocrática, a fragmentação do trabalho e da
como sistema holográfico. estrutura desencoraja a autonomia. Adicio- 16. Ver POLLERT, Anna. The
Segundo Simon, as organizações não são nalmente, os sistemas de avaliação, re- "flexible firm': fixation or fact? Work,
totalmente racionais, pois seus membros compensa e punição representam um em- Employementand Society, Durham,
têm acesso a redes limitadas de informa- pecilho ao double-loop, ou ciclo de 2(3):281-316, seI. 1988. A autora
ção. Esta limitação é contornada pela cria- melhoria. discute o conceito de flexibilidade no
ção de planos, normas e procedimentos, Certas ações podem, entretanto, levar ao contexto mais amplo da economia,
como interação entre '1Iexibilidades'
que visam a simplificar a realidade desenvolvimento dessas características.
na legislação, política, economia,
organizacional. Enquanto que as organi- Por exemplo: encorajar posturas abertas, estratégia, produção e estrutura do
zações de caráter mecanicista possuem novas visões e riscos; evitar estruturas rí- mercado de trabalho.
sistemas decisórios rígidos, as organiza- gidas; descentralizar a tomada de decisão
ções de caráter organicista utilizam pro- e dar autonomia aos grupos ou departa- 17. MORGAN, Gareth. Op cil., capo
cessos mais flexíveis. mentos. 4, pp. 77-109.
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A visão da organização corno sistema O desafio de projetar sistemas que te-
holográfico pode ser descrita da seguinte nham a capacidade de inovar é o desafio de
forma: no cérebro, cada neurônio é projetar sistemas capazes de auto-organi-
conectado a milhares de outros, num sis- zação.
tema ao mesmo tempo especialista - cada Visualizar a organização corno cérebro,
componente tem funções específicas - e ou holograma, permite estabelecer urna
generalista - com grande possibilidade de nova fronteira além da racionalidade ins-
intercambiabilidade. O controle e execução trumental que permeia as análises mais
não são centralizados. O córtex, o cerebelo comuns hoje praticadas e redirecionar a
e o mesencéfalo são simultaneamente in- ação gerencial."
dependentes e intersubstituíveis em ter-
mos de função. O grau de conectividade é
Volvo: O caminho da flexibilidade criativa19
alto, geralmente maior que o necessário,
mais fundamental em momentos específi-
cos. É esta redundância o vetor de flexibi- Mais urna vez será tornado um exemplo
lidade que possibilita ações probabilísticas da indústria automobilística. Desta vez
e a capacidadede inovação. será utilizado o produtor sueco Volvo.
Um projeto organizacional com essas Apesar do seu grande porte - respon-
características, que poderíamos chamar de de por 15% do produto nacional bruto e
holográfico, deve adotar quatro princípios: 12.5%das exportações suecas" - a Volvo
tem-se caracterizado por um alto grau de
• fazer o todo em cada parte; experimentalismo.
Seus experimentos, se assim os podemos
• criar conectividade e redundância;
denominar, chamam a atenção por desafia-
• criar simultaneamente especialização e rem os princípios fordistas e toyotistas,
generalização; e embora muitas vezes sejam confundidos
com um simples retorno à produção ma-
• criar capacidade de auto organização.
nual.
A introdução gradativa de inovações
Sem a redundância, não há reflexão e tecnológicas e conceituais nas plantas de
evolução. Na prática, isto significa dotar de Kalmar, 1974, Torslanda, 1980/81, e
funções extras cada parte operacional, e Uddevalla, 1989, representam um valioso
implica numa ociosidade de capacidades campo empírico para a análise organi-
em dados momentos. O grau de redun- zacional.
dância é função da complexidade do meio Uddevalla, a mais nova planta, combina
ambiente. flexibilidade funcional na organização do
O gerenciamento deve se pautar por trabalho com um alto grau de automação
urna postura de maestro e criar condições e informatização. É também um excelente
para que o sistema se amolde. As especi- exemplo do conceito de produção diver-
18. GUERREIRO RAMOS, Alberto. ficações e procedimentos devem ser os sificada de qualidade.
Opcn. mínimos necessários para que urna ativi- Sua estratégia parece combinar os re-
dade ocorra. O objetivo é dotar a organi- quisitos e demandas do mercado, os as-
19.CLARK, TOM; MORRIS,J. et alii.
Imaginative flexibility in production
zação do máximo de flexibilidade e capa- pectos tecnológicos, os imperativos do di-
engineering: the volvo uddevalla cidade de inovação. nâmico processo de transformação da or-
plant. Apostila divulgada no curso O aprendizado do aprendizado é um ganização do trabalho e as instáveis con-
The reestructuring 01 industry and ponto fundamental, pois evita que um dições da reestruturação da indústria.
work organization in the 90's. São excesso de flexibilidade leve ao caos. Per- Operando num mercado de trabalho
Paulo, EAESP/FGV, jul. 1991. mite, igualmente, ao sistema, guiar-se em complexo, a Volvo adequou sua estratégia
relação às normas e valores existentes. a dois fatores fundamentais: a interna-
20. Os dados são relerentes a 1986/ Pode parecer que a organização holo- cionalização da produção e a democrati-
87. Ver JANNIC, Hervé. Peher
gráfica seja um sonho, mas as característi- zação da vida no trabalho.
Gylienhammar: un patron moraliste.
L'Expansion, 6/19Iev.1987, pp. 89-
cas descritas podem ser observadas em Uddevalla foi concebida e construída
93 e BOURDOIS, Jacques-Henri. muitas áreas, departamentos e até empre- levando em consideração a presença hu-
Peher Gylienhammar: vice-roi el sas inteiras, especialmente quando estas mana. O nível de ruído é baixo, a ergo-
employé. Dynasteur, 1987, pp.4-9, operam num ambiente altamente compe- nomia está presente em todos os detalhes
1987. titivo e onde a inovação é um fator-chave. e o ar é respirável.
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tome os operários mais saudáveis. Finalmente, tratou-se do que parece ser
Além desses aspectos, existe toda uma a mais avançada tentativa de superar al-
infra-estrutura de apoio. Cada grupo de gumas contradições básicas da adaptação
trabalho possui salas espaçosas equipadas do homem ao ambiente de trabalho in-
com cozinha, banheiro, chuveiros e até um dustrial. Para contraponto do caso da Vol-
computador. A planta é iluminada com luz vo utilizou-se a imagem do cérebro.
natural e os ambientes são extremamente A intenção foi tentar encontrar uma li-
limpos. nha evolutiva que cruzasse os três "ismos"
Antes de iniciar o trabalho, cada novo - Fordismo, Toyotismo e Volvismo - e
operário passa por um período de treina- fornecesse uma visão do processo de
mento de quatro meses seguidos posterior- transformação da indústria neste século,
mente de mais três períodos de aperfeiço- apontando para a organização do futuro."
amento. Espera-se que, ao final de dezes- Este tema, de como seria a organização
seis meses, ele seja capaz de montar total- do futuro, tem estado presente no mercado
mente um automóvel. editorial especializado em literatura em-
Uma característica interessante é que presarial há pelo menos duas décadas. Os
45% da mão-de-obra é feminina, o que é lançamentos têm se sucedido com razoável
causa e conseqüência de várias alterações sucesso, de onde se conclui ser, com cer-
no sistema de produção. teza, um negócio rentável.
O objetivo de tudo isto é, obviamente, Alguns autores, entretanto, têm se des-
aumentar a produtividade, reduzir custos tacado em meio ao turbilhão de títulos por
e produzir com a mais alta qualidade. apresentar visões consistentes e sensíveis.
A Volvo, especialmente na planta de Num artigo publicado pela Harvard
Uddevalla, combinou aspectos da produ- Business Reuieio"; por exemplo, Peter
ção manual com alto grau de automação. Drucker fala da "vinda da nova organiza-
Isto permitiu imensa flexibilidade tanto de ção". Ele prevê estruturas mais simples,
produto quanto de processo. Comple- menor número de níveis hierárquicos,
mentarmente, a reprofissionalização dos utilização em larga escala da informática,
operários ajustou-se à necessidade de en- alta flexibilidade e uma nova organização
22. Ver GUERREIRO RAMOS, frentar a demanda por produtos variados, do trabalho.
Alberto. A nova ciência das organi· competitivos e de alta qualidade. Como modelo organizacional, ele cita,
zações, capo 4, FGV, 1989, p.71. A combinação de alta tecnologia com entre outros, o da orquestra sinfônica. Uma
Investigandoa questão da colocação um Criativo projeto sociotécnico também combinação de alta especialização indivi-
inapropriada de conceitos na Teoria
possibilitou uma redução da intensidade dual com coordenação e sincronismo
das Organizações, o autor menciona
o seguinte: "Emboraa deslocaçãode de capital. temperados por um caráter artístico.
conceitos possa constituir um meio Além de provar-se uma alternativa Em realidade, Drucker apenas capta al-
valioso ... e legítimo de formulação economicamente viável, Uddevalla provou gumas tendências já observáveis em em-
teórica, pode muito facilmente de· que isto é possível de se atingir através de presas do presente. Utilizando os casos
generar numa colocação inapro· uma organização flexível e criativa. analisados no decorrer deste trabalho,
priada ... Assim, na tentativa de poder-se-ia dizer que o futuro de Drucker
deslocarum conceito,pode·se estar está a 70 anos do Fordismo, a 30 do
incorrendo numa cilada intelec·
CONCLUSÃO
Toyotismo e a alguns meses do Volvismo.
tual ...'. Ao se utilizar as imagens de
Na primeira parte do trabalho investi- Mas talvez o modelo de organização do
máquina, organismo ou cérebro para
as organizaçõesse está, simultanea· gou-se o que seriam organizações tipo futuro esteja ainda mais próximo de uma
mente, criando uma forma de ver e máquina. O exemplo da Ford foi abordado banda de jazz. Uma forma musical surgida
de distorcer a realidade. Vale o aler· para ilustrar as razões da ascensão e que- no nosso século, caracterizada pela utili-
ta. da deste modelo administrativo. zação de escalas africanas com harmonias
Em seguida, foi visto o modelo que tem européias, pela pequena ou quase nenhu-
23. DRUCKER, Peter. The coming of atraído as maiores atenções no momento: ma importância do maestro - substituído
the new organization. Harvard o chamado sistema japonês de geren- pela primazia do senso comum, pelo pe-
Business Review, Boston, 68(6):45· ciamento, representado pela Toyota. A queno porte, pela produção de uma músi-
53, jan./fev. 1988.
imagem da organização como organismo ca marcada pela existência de padrões mas
24. HOBSBAWM, Eric J. História foi utilizada para ressaltar o grande trun- com enorme espaço para a improvisação
social do jazz. São Paulo, Paz e fo do modelo, a adaptabilidade ao meio. individual e coletiva, pela valorização dos
Terra, 1989. Ver especialmente Ao final, algumas nuvens negras foram músicos e, principalmente, pelo prazer da
pp.41·48: como reconhecer o jazz. lançadas sobre o futuro do sistema. execução." Q
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