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trabalho propõe uma revisão de literatura a respeito da análise de crescimento em espécies arbóreas
a partir da avaliação da variação dimensional de seu diâmetro. Esse tipo de avaliação é realizado
por uma diversidade de métodos que buscam a determinação do tempo de vida das espécies através
de medidas repetidas de diâmetro e de previsões na sua variação. O uso das medidas de diâmetro
uma importante ferramenta na inferência de idades das espécies de florestas tropicais, as quais
apresentam um crescimento irregular de seus anéis. Alguns estudos de caso foram apresentados,
populações em função de inúmeros fatores ambientais (clima, luz, solo, etc) e antrópicos
plantas.
Introdução
como o ingresso de indivíduos, que consiste no processo de entrada das árvores em uma nova etapa
Parte da estrutura de uma floresta pode ser explicada através da avaliação de sua distribuição
diamétrica, a qual é definida pela caracterização do número de árvores por unidade de área e por
intervalo de classe de diâmetro (Pires O’Brien & O’Brien 1995). Esse tipo de avaliação consiste,
portanto, na medição dos diâmetros dos troncos (Daubenmire 1968), que, no caso dos ecossistemas
imprescindível, uma vez que suas espécies na sua grande maioria não apresentam anéis de
Entretanto, cabe ressaltar que as estimativas da idade a partir da avaliação das taxas de
estas medidas para o diâmetro total (Worbes 1989, 1995, Worbes & Junk 1999) podem constituir
uma fonte de erros, uma vez que estas estimativas não levam em consideração que o ritmo de
crescimento não é constante durante o ciclo de vida de uma planta (Roig 2000).
ou inequiâneas é importante, uma vez que a variável idade é de difícil obtenção e mostra um valor
relativo (Cabalero & Malleux Orjeda 1976) em virtude da elevada biodiversidade das formações
florestais neotropicais, da variação nas classes de diâmetro e condições ecofisiológicas diversas das
comunidades vegetais. Sob o ponto de vista de produção, a estrutura diamétrica de uma floresta
permite caracterizar o estoque de madeira disponível antes de uma exploração, além de fornecer
planejamento florestal são os modelos de produção que, embora impliquem em uma simplificação
da realidade, permitem obter um diagnóstico da distribuição diamétrica das árvores que compõem a
floresta (Pulz et al. 1999). Esses modelos permitem variações diamétricas a partir da definição do
quantos indivíduos de uma espécie poderão ser removidos, de tal forma a afetar o mínimo possível
Matrizes de transição podem ser usadas para elaboração de modelos de produção florestal e
partem do pressuposto de que uma árvore em uma determinada classe de diâmetro tem a
O uso dessa matriz pode ser um importante instrumento para viabilizar a predição da
distribuição diamétrica. Leslie (1945, 1948) foi pioneiro no uso da matriz de transição, realizando
estudos sobre mortalidade e fertilidade em populações animais, considerando para tanto as classes
de idade. Usher (1966) utilizou matriz de transição em populações de Pinus sylvestris, medidos em
Dentre os modelos usados com classes de diâmetro, a cadeia de Markov também pode ser
utilizada para predição da produção de florestas nativas. As probabilidades de transição nesse tipo
de matriz, em um determinado período de medição, são obtidas a partir da mudança nas classes
diamétricas, como árvores que migraram de uma classe para a seguinte, que morreram e que
permaneceram na classe em função do estado absorvente da floresta (Pulz et al. 1999). Essa
probabilidade de movimentação pode ser expressa através de uma matriz de transição (M) e a
previsão de mudanças corresponde ao intervalo de tempo (V1), podendo ser entendida como: V1 =
M.V0, onde V0 pode ser o número inicial de árvores em cada classe diamétrica, M representa a
Essas duas matrizes citadas anteriormente não são recomendadas para períodos de tempo
muito longos em virtude desses modelos serem condicionados pela previsão do incremento
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periódico do diâmetro, avaliado muitas vezes através de parcelas permanentes, que, de certa forma,
parcela permanente, caracterizando uma transição estacionária (Scolforo et al. 1998). Um segundo
condicionante, é que quando medida a projeção da estrutura da floresta, essa não sofre efeito de
qualquer característica passada e está a mercê apenas de seu estado no momento da medição.
classes (Figura 1) pode mostrar a situação atual da vegetação e indicar possíveis perturbações
eventos aparecem como interrupções nesses histogramas, indicando que o ciclo de vida das espécies
não estaria se completando (Felfili & Silva Júnior 1988). Em uma comunidade em equilíbrio, com
grande produção de sementes, germinação satisfatória e com taxa de mortalidade decrescente nas
idades mais avançadas (Daubenmire 1968), ao contrário, é observado uma série completa de classes
de diâmetro para cada uma das espécies (Silva Júnior & Silva 1988).
Figura 1. Número de árvores por classe de diâmetro (cm) por hectare para o cerrado da FAL.
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A menor classe diamétrica apresentada nos histogramas de distribuição geralmente apresenta a
maior freqüência de indivíduos (Carvalho 1982), o que indica que a maioria das populações pode
A maior concentração de indivíduos nas primeiras classes de diâmetro pode caracterizar uma
comunidade estoque, o que é um padrão em florestas tropicais estáveis com idade e composição de
espécies variadas (Scolforo et al. 1998). Cada classe diamétrica representa uma etapa da
regeneração da fração do povoamento de uma mesma espécie ou de uma comunidade com diâmetro
superior a essa classe (Rollet 1978). Na medida em que aumenta o tamanho da classe, a freqüência
diminui até atingir o seu menor índice na maior classe diamétrica, caracterizando uma curva do tipo
compõem uma comunidade são estáveis e autoregenerativas e que existe um balanço entre
mortalidade e o recrutamento dos indivíduos. Esse tipo de modelo seria ideal em situações de
exploração de populações arbóreas que têm sua distribuição diamétrica ajustada de acordo com esse
modelo.
Entretanto, o modelo “J” invertido apresenta algumas limitações, uma vez que existe uma
variação no tamanho dos indivíduos, podendo haver uma rápida transição de uma classe diamétrica
para a classe seguinte ou podendo ainda não existir essa transição, caracterizando um estado
absorvente, em que a probabilidade de transição é nula e ocorre acréscimo de plantas em uma única
classe diamétrica (Scolforo et al. 1998). Webb et al. (1972) verificaram que padrões de crescimento
inicial lento resultam em distribuições na forma de J invertido, uma vez que os indivíduos
descontínua, não seguindo realmente uma forma “J” invertido e muito menos sendo balanceada.
Entretanto, do ponto de vista ecológico, a distribuição diamétrica deveria ser balanceada e o estoque
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em crescimento deveria conservar a biodiversidade da floresta mutiânea, decrescendo segundo uma
A avaliação da distribuição de diâmetros pode ser feita com base na razão ou quociente “q” de
Liocourt (Liocourt 1898 apud Meyer 1952), o qual é obtido pela divisão do número de indivíduos
de uma classe de diâmetro pelo número de indivíduos da classe anterior. Em populações que
de diâmetro para outra seria uma razão constante, ao contrário, quando a distribuição fosse não
balanceada, essa redução seria diretamente proporcional ao diâmetro (Leak 1964). Alguns estudos
Floresta Nacional de Tapajós (Silva 1989), baseados no tempo de passagem e no coeficiente “q”
para analisar o movimento das árvores por meio de classes diamétricas (Vaccaro et al. 2003).
Em florestas nativas, quando a razão do coeficiente “q” é constante, significa que existe
equilíbrio entre mortalidade e crescimento, ou seja, um balanceamento. Quando isso ocorre por um
longo período pode-se dizer que a estrutura da floresta está balanceada ou estabilizada e nesse caso
ocorre um número proporcional de árvores em cada classe diamétrica (Osmaston 1968). Entretanto,
Harper (1977) atenta que, na prática, a maioria das florestas irregulares não apresenta distribuição
balanceada, mas tem uma tendência à convergir para esse padrão. Felfili & Silva Júnior (1988)
verificaram que o cerrado sensu stricto apresenta tal comportamento, não apresentando uma razão
Em áreas de Cerrado, a maior concentração dos indivíduos nas primeiras classes diâmetro
pode ser explicada pela própria potencialidade genética da maioria das espécies em apresentarem
pequeno porte, ou ainda, diante da possibilidade de abate seletivo em um passado recente, pelo fato
Nesse bioma, a distribuição diamétrica não apresenta distribuição balanceada, mas converge
para tal padrão (Harper 1977), o que pode ser comprovado através dos valores não constantes da
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razão “q”. Assim, o modelo baseado na movimentação dos diâmetros, ou seja, no crescimento
diamétrico, pode ser utilizado como uma forma de avaliação da estrutura de tamanho da
Resultados
Balanceamento diamétrico
Silva Júnior & Silva (1988) apresentaram resultados de uma distribuição diamétrica das
espécies mais importantes em uma área do cerrado mineiro. Os valores do coeficiente “q” foram de
2,88, 3,25, 3,88, 3,5, 2,0 e 2,0 (Figura 1) e esses resultados indicam uma distribuição não-
Houve ausência de indivíduos em duas das maiores classes de diâmetro, o que evidencia que
o ciclo de vida das espécies que alcançariam diâmetros maiores não estaria se completando. Outras
hipóteses seriam conseqüência de um abate seletivo dos indivíduos maiores e incêndios ocorridos
em 1960 e 1968, o que teria eliminado os indivíduos de algumas espécies que preencheriam essas
Felfili & Silva Júnior (1988) verificaram para uma área de cerrado no Distrito Federal uma
distribuição diamétrica do tipo “J” invertido com estrutura irregular equilibrada e distribuição
tendendo a balanceada (q = 0,4) (Figura 2). Os autores afirmam que em florestas nativas, quando a
Quando isso ocorre por um longo período de tempo, a estrutura da comunidade ou da população se
Figura 2. Distribuição de freqüência nas classes de diâmetro para todos os indivíduos amostrados.
indivíduos nas maiores classes, como foi o caso de Pterodon pubescens (Figura 3). Os resultados
para essa e outras espécies da área de estudo indicam que algum distúrbio levou essas populações à
Figura 3. Número de árvores por classe de diâmetro por hectare de Petrodun pubescens no cerrado
da FAL.
Toledo Filho (1984) comenta que a utilização das classes de diâmetro como parâmetro
indicativo da idade dos indivíduos seria ideal para o acompanhamento de acréscimos anuais,
relacionadas com a exploração relatada por Corsini (1963) em uma área de cerradão do Estado de
São Paulo não estão balanceados e que isso se deve a algum problema ocorrido no passado, como
abate seletivo, fogo, pisoteio, o que ocasionou uma defasagem na população adulta, já que algumas
O autor reforça essa hipótese a partir de coincidências com o histórico da área de estudo,
como vestígios de fogo nas cascas das árvores, informações de que a área servia às pastagens de
gado de recria e onde houve corte de madeira para exploração de dormentes ferroviários há 70 anos
atrás.
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Distribuição diamétrica com forma de “J” invertido
Fidelis & Godoy (2003) observaram em uma área de cerrado de São Paulo que a distribuição
de classes de diâmetro apresentou curva “J” invertido (Figura 4), ocorrendo maior concentração de
indivíduos na primeira classe. Essa maior concentração pode ser explicada pela própria
potencialidade genética da maioria das espécies de cerrado, as quais podem apresentar pequeno
porte.
Figura 4. Classes de diâmetro (cm) dos indivíduos da área de cerrado stricto sensu na Gleba
Cerrado Pé-de-Gigante. Classes fixas de 4,5cm. 1) 1 a 5,5; 2) 5,6 a 10; 3) 10,1 a 14,5; 4) 14,6 a 19;
5) 19,1 a 23,5; 6) 23,6 a 28; 7) 28,1 a 32,5; 8) 32,6 a 37; 9) 37,1 a 41,5; 10) 41,6 a 46.
cerrado sensu stricto em Goiás. O padrão de distribuição diamétrica das espécies seguiu a tendência
“J” invertido (R2 = 0,99), ocorrendo 54,16% dos indivíduos na classe inicial de 5,0 a 10cm.
Espécies importantes como Qualea parviflora (R2 = 0,99), Kielmeyera coriacea (R2 = 0,97),
Qualea grandiflora (R2 = 0,96), Caryocar brasiliense (R2 = 0,95), Pouteria ramiflora (R2 = 0,84) e
Buchenavia tomentosa (R2 = 0,77) se ajustaram melhor ao padrão de “J” invertido, sendo
Meira Neto & Martins (2003) verificaram que as espécies de um sub-bosque apresentam
distribuições diamétricas com forma de “J” invertido. Essas espécies estão adaptadas às condições
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encontradas abaixo do dossel e a passagem de indivíduos de uma classe diamétrica para outra de
diâmetros maiores é contínua, uma vez que nas condições do sub-bosque o crescimento dos
indivíduos permanece constante. O formato de “J” invertido pode ser atribuído ao constante
Matriz de transição
Pulz et al. (1999) avaliaram a estrutura diamétrica de uma floresta utilizando a matriz de
Os autores também fizeram uma análise com prognoses geradas através do método da matriz
com o método da razão de movimentação dos diâmetros (Tabelas 1 e 2). O método da matriz de
transição foi eficiente para fins de prognose da estrutura diamétrica, independente do período de
medição, apesar de ter sido detectada mudança na estrutura da floresta, particularmente da taxa de
recrutamento e de mortalidade.
A partir da matriz de transição, foi identificada a existência do estado absorvente nos dados
obtidos, ou seja, a probabilidade das árvores migrarem para as classes de diâmetros seguintes foi
igual a zero (Tabela 2). Assim, não se pode realizar prognose a longo prazo para a área em questão,
diferenciado. O mesmo fato foi constatado para os diferentes períodos de avaliação. Neste caso,
92.
Tabela 2. Matriz inicial (G) de probabilidade de transição por classe diamétrica, período de 1987-
92.
sensu stricto em dois períodos de medições (1985 e 2000). A comunidade apresentou distribuição
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com tendência a “J” invertido e a maioria dos indivíduos permaneceu na primeira classe de
Para o ano de 2000, foi observado que a partir da segunda classe de diâmetro, ocorreu um
1985, ou seja, os indivíduos originalmente medidos estão crescendo e os novos ingressos são
Conclusão
dessas populações.
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