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UNIVERSIDADE PAULISTA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO

Pedro Antonio Britto de Oliveira – D09HAB-0

Análise: The Wailing (2016)

Trabalho bimestral apresentado à


Universidade Paulista – UNIP para obtenção
de nota e conclusão da disciplina Produção
Audiovisual em Jornalismo.

Prof. João Marcelo Brás

São Paulo

2018
The Wailing é um filme sul-coreano de 2016 dirigido e escrito por Na Hong-jin.
A história de The Wailing se desenrola em uma pequena aldeia sul-coreana onde uma
doença misteriosa começa a se espalhar e ceifar muitas vidas, após a chegada de um
estranho japonês nas montanhas próximas. Quem investiga o caso é um policial que se
torna ainda mais envolvido depois que sua própria filha começa a exibir sintomas
semelhantes. Ele pede a ajuda de um xamã para resolver o mistério antes que seja tarde
demais.

A direção de arte é detalhista e minuciosa. Cores frias dominam o filme – chuva


e névoa são constantes - enquanto figurino, maquiagem e mise-en-scène se conversam e
criam um ambiente rural completamente imersivo. O grande plano aéreo, imortalizado
por Kubrick em O Iluminado, é utilizado em diversos momentos do filme para mostrar a
imensidão da floresta que cerca a vila onde se passa a história e para lembrar o espectador
do isolamento que cerca o local. Em última instância, a sensação de isolamento trazida
pelo plano aérea dá margem, na cabeça daquele que assiste, para a aparição de todo tipo
de aparição sobrenatural.

Em uma das principais cenas do filme, o xamã e o japonês, que também é referido
como sendo um fantasma, realizam uma batalha mística. Em uma comprida sequência
pautada por uma infinidade de cortes paralelo, os dois, simultaneamente e em locais
diferentes realizam rituais que parecem ser opostos. Em um local aberto e iluminado,
trajando um kimono colorido, o xamã usa galinhas brancas, muita música e dança; o
fantasma, protegido em sua claustrofóbica cabana, permanece no escuro e silêncio da
floresta, enquanto utiliza galinhas pretas em seu ritual. Em um terceiro ambiente
encontra-se Hyo-jin, a garota atormentada pela doença/maldição. Enquanto xamã e
fantasma proferem suas palavras mágicas, a garota se contorce em dor. A edição de tal
sequência nos faz crer que uma batalha pelo corpo da menina acontece, e que, não
obstante, o xamã, que utiliza simbologias tidas como positivas, tenta protege-la enquanto
o fantasma, enclausurado no escuro, tenta atacá-la. O desfecho da história, contudo, revela
que ambos, xamã e fantasma, trabalhavam em conjunto, que um quarto momento se
desenrolava simultaneamente, sem ser mostrado. O filme engana os olhos e a concepção
normal que temos de corte paralelo como ferramenta que demonstra oposição entre
sequências.

Na outra principal cena, Jong-goo, pai de Hyo-jin, conversa com uma mulher cuja
identidade é ambígua: não se sabe se ela é a grande vilã ou aquela que salvará a vida da
garota. Uma negociação ocorre entre os dois, enquanto a mulher tenta convencer o pai a
deixar que ela cuide de sua filha. Mais uma vez há a utilização do corte paralelo como
ferramenta para enganar o espectador. Enquanto o pai conversa com a moça que não
sabemos se é boa ou má, um aprendiz de padre, personagem coadjuvante, conversa com
o homem japonês. Tanto a mulher como o japonês parecem se contradizer, cortes
paralelos constantemente alternam as duas conversas. As duas conversas, que ocorrem
paralelamente em locais distantes, influenciam uma à outra; aquilo que o velho japonês
fala faz crermos que a mulher que conversa com o pai é maléfica. Descobre-se,
posteriormente, que aquela que parecia estar enganando tenta na realidade fazer o bem.
A edição paralela aparece novamente como uma ferramenta de enganação, fazendo crer
que as duas sequências estão conectadas quando na verdade são se influenciam.

O trabalho de câmera é habilmente realizado, retratando cada momento em seus


mínimos detalhes. A edição é um destaque dada a natureza imprevisível de seu enredo. O
corte paralelo, maior arma do filme, confunde o espectador. Diante de uma sequência se
atos que parecem gerar consequência, nunca se sabe se estamos diante do vilão ou do
mocinho. Outro destaque são os sutis movimentos de câmera, típicos de filmes de
suspense e terror utilizados para criar tensão. Em planos médios ou primeiros planos, são
diversos os momentos em que movimentos de travelling ou dolly muito tênues e
constantes se fazem presentes por incontáveis segundos – a tensão no rosto das
personagens é transportada para o rosto daquele que assiste.

O filme não se contém em mostrar violência e gore e mantém o elemento da


dúvida vivo até o final. Também é admirável como ele consegue forçar seus espectadores
a mudar de lealdade de tempos em tempos e os mantém no escuro durante todo o tempo
de execução. Diferente de filmes de terror e suspense se Hollywood, The Wailing não
apela para personagens exageradamente heroicos e belos. Não há um herói-galã que
resolverá o problema de todos. Pelo contrário, os bem aprofundados personagens
apresentados pelo filme são medíocres. O humor é utilizado sempre que é necessário, mas
o tom é sombrio na maioria das vezes e só se intensifica à medida que o enredo se
aproxima da sua conclusão.

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