Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
São Paulo
2018
The Wailing é um filme sul-coreano de 2016 dirigido e escrito por Na Hong-jin.
A história de The Wailing se desenrola em uma pequena aldeia sul-coreana onde uma
doença misteriosa começa a se espalhar e ceifar muitas vidas, após a chegada de um
estranho japonês nas montanhas próximas. Quem investiga o caso é um policial que se
torna ainda mais envolvido depois que sua própria filha começa a exibir sintomas
semelhantes. Ele pede a ajuda de um xamã para resolver o mistério antes que seja tarde
demais.
Em uma das principais cenas do filme, o xamã e o japonês, que também é referido
como sendo um fantasma, realizam uma batalha mística. Em uma comprida sequência
pautada por uma infinidade de cortes paralelo, os dois, simultaneamente e em locais
diferentes realizam rituais que parecem ser opostos. Em um local aberto e iluminado,
trajando um kimono colorido, o xamã usa galinhas brancas, muita música e dança; o
fantasma, protegido em sua claustrofóbica cabana, permanece no escuro e silêncio da
floresta, enquanto utiliza galinhas pretas em seu ritual. Em um terceiro ambiente
encontra-se Hyo-jin, a garota atormentada pela doença/maldição. Enquanto xamã e
fantasma proferem suas palavras mágicas, a garota se contorce em dor. A edição de tal
sequência nos faz crer que uma batalha pelo corpo da menina acontece, e que, não
obstante, o xamã, que utiliza simbologias tidas como positivas, tenta protege-la enquanto
o fantasma, enclausurado no escuro, tenta atacá-la. O desfecho da história, contudo, revela
que ambos, xamã e fantasma, trabalhavam em conjunto, que um quarto momento se
desenrolava simultaneamente, sem ser mostrado. O filme engana os olhos e a concepção
normal que temos de corte paralelo como ferramenta que demonstra oposição entre
sequências.
Na outra principal cena, Jong-goo, pai de Hyo-jin, conversa com uma mulher cuja
identidade é ambígua: não se sabe se ela é a grande vilã ou aquela que salvará a vida da
garota. Uma negociação ocorre entre os dois, enquanto a mulher tenta convencer o pai a
deixar que ela cuide de sua filha. Mais uma vez há a utilização do corte paralelo como
ferramenta para enganar o espectador. Enquanto o pai conversa com a moça que não
sabemos se é boa ou má, um aprendiz de padre, personagem coadjuvante, conversa com
o homem japonês. Tanto a mulher como o japonês parecem se contradizer, cortes
paralelos constantemente alternam as duas conversas. As duas conversas, que ocorrem
paralelamente em locais distantes, influenciam uma à outra; aquilo que o velho japonês
fala faz crermos que a mulher que conversa com o pai é maléfica. Descobre-se,
posteriormente, que aquela que parecia estar enganando tenta na realidade fazer o bem.
A edição paralela aparece novamente como uma ferramenta de enganação, fazendo crer
que as duas sequências estão conectadas quando na verdade são se influenciam.