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* Revise 2 Aavegnse = ol tivo W/digs 28 Proceso Guil . SR Pale HASP , 2085, WL 426. colaborag4o como norma fundamental do Novo Processo Civil brasileiro. Daniel Mitidiero Profesor de Deo PoceilChil os ces de graundo, especintyzo, mesrado € oar Facade de iia os Unie siags Fede 6 lo Grande do Sul UFRGS, Pes-touter em Dito pets Univers dea Sti Poa Doar em Dito pea UFRGS Memb da nsitute Bas de ito ro ecu RPL, co Insta Ieo-Aneriearo de Dirt Poeesua (IP ¢ da teats section of raced Law (APL, Avot Sumario 1. Introdugao 2. A colaboracio como modelo 3. A colaboraco como principio 4, Consideragies finais Bibliografia Ey introdugao Se olharmos para a ZPO alema, de 1877, € para o Codice di Procedura Civile italiano, de 1942, perceberemos que cm ambos os casos o | lador prineipia tratando da jurisdigio: a ZPO dedi tribunais (sachlicke Zustdndigkeit), ao passo que © Codice alude em seu art. 1° jurisdigao (giu- © seu § 1° A competéncia material dos risdizione dei giudici ordinari). Se, porém, saltar- ‘mos no tempo, veremos que o Nouveau Code de Procédure Civile francés, de 1975, nao inicia da ‘mesma maneira: ele comeca enunciando prinef- pios diretores do processo (principes direeteurs du proces, arts. !"a 24), Se dermos mais um passo, a fim de “fecharmos” (RHEE, 2007, p. 623) 0s Novecentos em termos de legislagdo processual civil, veremos que o legislador inglés de 1997 inicia declinando qual o seu objetivo principal (overriding objective", Rule 1.1) Nosso Novo Cédigo de Processo Civil (CPC) segue nesse particular esse tiltimo caminho: desde reve do Abogets & | Revista do Advogado. & | A colaboragdo como noua fundamest © inicio, © legislador entoma normas funda- ‘mentais que servem para densificar 0 direito 20 processo justo previsto na Constituigao (art. 5°, inciso LIV) ¢ dar as linhas-mestras que 0 estru- turam. Dentre essas normas, consta oart. 6: “to- dos 03 sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razodvel, de- cisio de mérito justa e efetiva’. Se adotada uma chave de leitura apropriada, trata-se de norma da mais alta importaneia que ao mesmo tempo visa a caracterizar 0 processo civil brasileiro a partic de ump modelo e favé-lo funcionara partir de um prineipio. A colaboracao como modelo Problema central do proceso esté na equilibra- da organizagio das tarefas daqueles que nele to- mam parte (OLIVEIRA, 2010, p. 28) —vale dizer, da “divisio do trabalho” entre os seus participan- tes (MOREIRA, 1989, p. 35-44). Nosso legislador procurou resolver esse problema com a adacao do ‘modelo cooperativo — pautado pela colaborago do juiz para com as partes." Trata-se de elemento estruturante do direito ao processo justo (MARI- NON MITIDIERO; SARLET, 2014, p. 711-715; LANES, 2014, p. 121-129). Gomo observa a dou- trina, “Ie procés équitable implique un principe de codperation efficiente des parties et du juge dans |“élaboration du jugement vers quoi est ten- due toute procédure” (CADIET, NORMAND; MEKKI, 2010, p. 385) A colaboragao € um modelo que visa a orga~ nigar 0 papel das partes ¢ do juiz:na conformacao do processo, estruturando-o como uma verdadei- racomunidade de trabalho (Arbeitsgemeinschaft) (RECHBERGER; SIMOTTA, 2010, p. 399-407), em que se privilegia o trabalho processual em conjunto do juiz e das partes (prozessualen Zusammenarbeit) (WASSERMANN, 1978, p. 97) Em outras palavras: visa a dar feig20 ao agpecto subjetivo do processo, dividindo de forma equili- bbrada o trabalho entre todos os seus participantes — com um aumento coneorrente dos poderes do juiz e das partes no processo civil (SICA, 2008, p. 324). Como modelo, a colaboragio rejeita a juris- digdo como pola metodolégico do processo civil, Angulo de visio evidentemente unilateral do fe- némeno processual, privilegiando em seu lugar a propria idcia de processo como centro da sua teoria (MITIDIERO, 2011, p. 48.50), concepgdo mais pluralista ¢ consentanea a feigao democritica fnsita 20 Estado Constitucional (CANOTILHO, 1999, p. 89), A colaboragio é um modelo que se estrutura a partir de pressupostos culturais que podem ser enfocados sob o angulo social, légico e éti- co? Do ponto de vista social, 0 Estado Consti- tucional de modo nenhum pode ser confundi- do com o Estado-Inimigo. Nessa quadra, assim ‘como a sociedade pode ser compreendida como tum empreendimento de cooperacao entre os seus ‘membros visando @ obten¢ao de proveito miituo (BOURSIER, 2003, p. 297), também o Estado deixa de ter um papel de pura abstencao e passa ater que prestar positivamente para cumprir com seus deveres constitucionais ~ especialmente, 0 de organizar um processo justo, capaz de prestar tuma tutela efetiva aos direitos. Do ponto de vista logico, o processo cooperative pressupde 0 reco- nhecimento do cardter problemético do Ditrcito, reabilitando-se a sua feigio argumentativa. Vale dizer: pressupée a distingo entre texto € norma ¢ © catiter reconstrutivo da interpretagao juridica (AVILA, 2014, p. 50-55). Finalmente, do ponto de Vista ético, o processo pautado pela colaboracio € ‘um processo orientado pela busea tanto quanto possivel da verdade (TARUFFO, 2002, p. 224) ¢ «que, para além de emprestar relevo & boa-fé subje- tiva, também exige de todos os seus participantes 1. Sabie esunto, Mier (201), Olina (200), Die inion 2410, p 46), Cabal (2009) © Thendor Janie (201 2. Com maior ag, Mier (op. cit p. THI). a observincia da boa-fé objetiva? sendo igual- mente seu destinatério o juiz (MITIDIERO, op. cit, p. 106) A colaboragao no processo nao implica colaboragao entre as partes. O modelo de processo pautado pela colabora- io visa a outorgar nova dimensio ao papel do juiz na conducio do processo. O juiz do proces- 80 cooperative € um juiz isondmico na sua con- dugio ¢ assimétrico apenas quando impée suas decisdes. Desempenha duplo papel: é paritario no ditilogo e assimétrico na decisio (MITIDIE- RO, op. cit.,p. 81; DIDIER JUNIOR, op cit,, p. 48). Nessa linha, 0 juiz tem um verdadeito “dever de engajamento” (CABAL, 2008, p. 234) no pro- cesso civil EB 4 colaboragio como principio A colaboraciio no processo é um principio juri- ico, Hla impde um estado de coisas que tem de ser promovido (AVILA, op. cit, p. 102-103). O fim da colaboragio est em servir de elemento para organizagao de processo justo idéneo a aleangar, “cm tempo razosvel, decisio de mérito justa e efe- tiva” (art. 6°), Isso significa: evitar 0 desperdicio da atividade processual, preferir decisoes de mé- 2. que implica reconhecer una série de comportamentos como ‘weados aos seus patlepante. A bse objtva revels no com portamento mereceor def, que a fie a confianga de out. Age com comportamento aequadoaguee que mio abisa de sas posites juries. A doutrina spents que slo manifesages da rtey30& boa no Direito except db, ene conta fetam, froprinon, 1 inalegabildade de walidades frm, «mspeso © srrecti, 0 quaguee 0 desequilbrio no exerci do Diet (na outina em geal Coren (2001) deta bia, Mating (2000) ma dowtina process cl rae, Didier Jinn (op. sit p. 794103} Cabral 2065), rito em detrimento de decisdes processuais para 0 conflito (DIDIER JUNIOR, 2013, p. 308), apurar a verdade das alegacdes das partes a fim de que se possa bem aplicar 0 diteito e empregar as tée- nicas executivas adequadas para a realizacio dos direitos. Para que 0 processo seja organizado de forma justa, os seus participantes tém de ter posigdes ju- ridicas equilibradas ao longo do procedimento. Portanto, é preciso perceber que a organizacio do processo cooperalivo envolve ~ antes de qualquer coisa ~ a necessidade de um novo dimensiona- mento de poderes no proceso, o que implica ne- cessidade de revisto da cota de participagao que se defere a cada um de seus participantes 20 longo do arco processual. Em outras palavras: a eolabo- racio visa a organizar a partieipagdo do juiz ¢ das partes no processo de forma equilibrada. F aqui importa desde logo deixar claro: a eo- laboragdo no processo nao implica colaboragio centre as partes. As partes nao querem colaborar. A colaboragdo no processo que & devida no Es- tado Constitucional é a colaboragio do juiz. para com as partes. Gize-se: nao se trata de colabora- ‘20 entre as partes. As partes nao colaboram e nao deve colaborar entre si simplesmente porque obedecem a diferentes interesses no que tange & sorte do litigio. B, € justamente a partir dat que surge observagio de fundamental importincia que deve ser feita em relagao ao texto do art. 6° do novo Codigo. A colaboragio nao implica de modo nenhuin cooperagao entre “todos os sujei- tos do processo”. Como € evidente, as partes nto querem € no devem colaborar entre si, Ni hii dlever de colaboragdo entre as partes. Portanto, a colaboraga0 nao deve ser vista como fonte de deveres reciprocos entre as partes nem como um incentivo ao juiz para impor sangGes as partes por falta de cooperacio reciproca (YARSHELL, 2014, p. IIL) A colaboragdo no plica, pois, revogagio dlo principio dispositive em sentido processual Revista do Advogads iB | A cotsboragso como norm

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