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Políticas Pública

de Alimentação
Dos anos 1940 aos dias atuais:
pequeno resumo histórico
Fome:
Até os anos de 1930/40, a
concepção naturalista da
fome era predominante.
Apenas na Era Vargas, com a
definição de um piso salarial
dos trabalhadores começa a
surgir uma concepção social
da fome, atrelada ao
subdesenvolvimento
econômico.
Principais Políticas Públicas
de Alimentação anteriores
à ditadura militar:
1940 - Serviço de Alimentação da
Previdência social (SAPS),
administrado pelo Deptº de
Administração Pública (DASP);

1940 - Serviço Técnico de


Alimentação Social (STAS) que propõe
medidas para melhoria alimentar;
1945 - Comissão Nacional de
Alimentação (CNA) - propõe uma
política nacional de nutrição

1955 - O CNA propõe a criação do


Programa Nacional da Merenda
escolar;
Todas essas políticas são
caracterizadas por serem verticais e
centralizadas e por associarem o
flagelo social (fome e desnutrição)
ao subdesenvolvimento. Com a
ascensão dos militares ao poder
todas essas políticas, com exceção
do Programa Nacional da Merenda
escolar foram suspensos. Em 1967, o
restaurante calabouço foi fechado,
pois acusado de abrigar movimentos
opositores ao Regime Militar.
A ditadura não só extinguiu
algumas políticas, mas interrompeu
toda a discussão sobre o fenômeno
da fome como produto da
desigualdade econômica e que por
isso deveria ser enfrentada pelo
Estado com –Jaime
medidas
Silveira estruturais.
Políticas públicas
do período militar:
1972 - Instituto Nacional da
Alimentação e Nutrição (INAN): uma
autarquia federal ligada ao
Ministério da Saúde, cujo objetivo
era elaborar e coordenar uma
política nacional de alimentação e
nutrição, articulando subprogramas
ligados a distintos ministérios;
1976 - PRONAN II (Programa Nacional de Alimentação e
Nutrição) que atuava em 3 principais linhas de atuação:

1) A suplementação alimentar/
oferta de refeições para
grupos específicos, sendo:
o Programa de Nutrição em Saúde – PNS/Ministério da
Saúde (voltado para gestantes, nutrizes e crianças de
seis a sessenta meses, de famílias com renda mensal de
até dois salários-mínimos, com objetivo de distribuir
alimentos in natura;
Programa de Complementação Alimentar – PCA/
Ministério da Previdência e Assistência Social,
direcionado para gestantes, nutrizes e crianças de
seis a trinta e seis meses, com objetivo de
distribuir alimentos associados com ações de
saúde (Cohn, 1995);

Campanha Nacional de Merenda Escolar – CNME/


Ministério da Educação;

Programa de Alimentação do Trabalhador – PAT/


Ministério do Trabalho. O PAT, criado em 1976 e
operacionalizado a partir de 1977, consistia em
subsídio do Estado e das empresas privadas a
refeições, fossem elas destinadas por meio de
vales-refeições ou por cestas de alimentos;
2) A produção e
comercialização de
alimentos:
Destacou-se pelo Projeto de Aquisição de Alimentos
em Áreas de Baixa Renda (Procab): voltado à
viabilização da pequena produção a partir da
formação de canais particulares de
comercialização

pelo Programa de Abastecimento de Alimentos


Básicos em Áreas de Baixa Renda (Proab): que
visava proporcionar subsídios aos pequenos
varejistas de produtos alimentícios; surgiu em 1977
e vigorou até 1989.
3) A educação
alimentar:
O Pronan II perdurou até o ano de 1985. Durante a
Nova República (1984 – 1988), algumas políticas
permaneceram; continuaram o Proab, o PAT, o PNS e a
merenda escolar. As duas últimas apenas tiveram seus
nomes modificados por Programa de Suplementação
Alimentar (PSA) e Programa Nacional de Alimentação
Escolar (Pnae), consecutivamente;

foram criados o Programa de Alimentação Popular


(PAP), que deveria comercializar os alimentos básicos
a preços reduzidos em áreas geográficas onde não
existia o PROAB, e o Programa Nacional do Leite (PNL).
Os primeiros anos da
década de 1990 foram
marcados pelo desmonte
das principais políticas de
combate à fome, sendo
extintas todas as políticas
de âmbito nacional, com
exceção do PNAE, do PAT
políticas pós-
democratização:
1990 - criação da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab); originou-se da fusão da
Cobal, da Companhia de Financiamento da Produção
(CFP) e da Companhia Brasileira de Armazenamento
(Cibrazem) - seu objetivo era gerir as políticas
agrícolas e de abastecimento, tendo em vista a
preservação e estímulo dos mecanismos de mercado.
A Conab existe até hoje e, assim como outras
políticas que perpassaram o contexto, sofreu redução
de recursos, gerando grandes dificuldades
operacionais;
Ação para a Cidadania
(Betinho): movimentos sociais e
políticas públicas contra à fome
após o impeachment de 1992, aumentaram
movimentos pela ética na política que
lançou as primeiras iniciativas da Ação da
Cidadania contra à Fome e à Miséria e pela
Vida. Seu objetivo era despertar a
consciência do direito à cidadania através
da criação de comitês locais e da
elaboração e implementação de projetos de
combate à fome e à miséria.
A omissão do Estado perante o problema
da fome levou à sociedade civil a se
organizar em torno da problemática, o
que foi notado não só nesta área, mas em
outras. A criação de ONGs e a ampliação
do terceiro setor nasce desse Estado
Neoliberal que assume sua não
responsabilidade perante a fome enquanto
um problema não apenas nutricional ou
social, mas da ordem da cidadania.
Em 1993, o IPEA divulgou o mapa
da fome no Brasil: o país tinha
trinta e dois milhões de pessoas
vivendo em condições de
indigência.
1993 - criação do Consea: órgão de
aconselhamento da Presidência.
Composto por 8 ministros e 21
representantes da sociedade civil. O
intuito era coordenar a elaboração e
implantação do Plano Nacional de
Combate à Fome e à Miséria, que
deveria ser norteado pelos princípios
da solidariedade, da parceria entre
Estado e sociedade civil e da
descentralização;
As prioridades centrais do Consea pautavam-se na
geração de emprego e renda;

na democratização da terra e no assentamento de


produtores rurais;

no combate à desnutrição materno-infantil, através


do Programa Leite é Saúde, que previa a distribuição
de leite em pó e óleo de soja a gestantes e crianças;

no fortalecimento, ampliação e descentralização do


Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), do
PAT e da criação de mecanismos de aproveitamento
de estoques públicos de alimentos para o Programa
de Distribuição Emergencial de Alimentos (Prodea).
Governos FHC
1995 - o Consea foi extinto e, em substituição, foi criado o
Conselho Consultivo do Comunidade Solidária, vinculado à
4

Casa Civil da Presidência da República. Composto por 10


ministros de Estado, pela Secretaria Executiva do
Comunidade Solidária e por 21 membros da sociedade civil;

as políticas públicas de Alimentação começam a se


relacionar, não apenas com a fome, mas a problemas
nutricionais ligados à pobreza e desigualdade; Os principais
princípios que as norteiam passam a ser a: descentralização,
a parceria entre governo e sociedade civil e da
solidariedade.
O Comunidade Solidária selecionou 16 programas
“interministeriais” que visavam a erradicação da
pobreza, sendo os seguintes relacionados à alimentação:

o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE);

o Programa Leite é Saúde, que foi substituído pelo


Incentivo de Combate às Carências Nutricionais (ICCN),
mais tarde substituído pelo Programa Bolsa
Alimentação;

o Programa de Distribuição de Estoques de Alimentos


(Prodea) e o Programa de Alimentação do Trabalhador
(PAT). Estes programas mostram essencialmente o
caráter fragmentado e compensatório que o presidente
FHC utilizou para combater a fome nos seus dois
mandatos.
Governos Lula: a fome como
problema de insegurança
alimentar e cidadania
2003 - Programa de Segurança Alimentar Fome Zero (PFZ).
Criado pelo Instituto Cidadania que tinha o objetivo de
apresentar uma política nacional participativa de segurança
alimentar e combate à fome, que contemplasse 44,043
milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. Sua
elaboração envolveu alguns dos principais especialistas no
tema, além de representantes de distintos segmentos da
sociedade civil. Este Programa possui a inédita conformação
de uma proposta que envolve todos os níveis governamentais,
o engajamento da sociedade organizada e a conjunção de
políticas estruturais, específicas e locais, tendo em vista a
melhoria da qualidade de vida da população;
Fome Zero
2003 - criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a
Fome;

criação do Programa Fome Zero, tendo como plano inicial substituir o


Programa Comunidade Solidária do governo FHC;

O programa motivou a criação do Ministério Extraordinário de Segurança


Alimentar e Combate à Fome (MESA);

promoveu a implantação do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza


e o estabelecimento do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (CONSEA). As recém criadas e acionadas instituições
estabeleceram os centros de distribuição de alimentos e centros de
voluntariado equivalentes aos Comitês do Betinho (os chamados COPO).

Siglas como PRATO, TALHER e SAL representavam os mais variados agentes


envolvidos na burocracia dos chamados Mutirões Contra a Fome.
Sob a bandeira do Fome Zero funcionavam mais
de 30 subprogramas, a maioria sem comunicação,
devido à confusão interministerial;

no todo, planejava-se desde a construção de


cisternas familiares no semi-árido até
restaurantes comunitários, bancos de sementes,
creches comunitárias, cestas básicas
emergenciais, palestras sobre educação alimentar
em comunidades pobres e abertura de linhas de
crédito para financiar merendas;

Era um programa ousado e burocraticamente


inchado.
O Bolsa Família

Programa de Aquisição de Alimentos


da Agricultura Familiar (PAA);

programa de transferência de renda


e o mais eficaz no combate à fome
e à pobreza, sendo referência
mundial;
Situação de insegurança alimentar

A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia)


é uma versão adaptada da produzida pelo
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
durante a década de 90. Ela vem sido aplicada
pelo IBGE desde 2004 - a pesquisa mais recente
diz respeito a 2013 - e, em 2019, serão divulgados
os dados referentes a 2017 e 2018. Ao aplicar a
Ebia, é possível classificar os lares de acordo com
–Jaime Silveira ou seja, se existe
o grau de segurança alimentar,
uma situação de conforto ou de medo e risco de
ficar sem comer.
Os níveis de
(in)segurança alimentar:
Segurança Alimentar: Acesso regular e permanente
a alimentos de qualidade, em quantidade
suficiente, sem comprometer o acesso a outras
necessidades especiais. Não há preocupação
quanto ao acesso de alimentos no futuro;

Insegurança alimentar leve: Preocupação ou


incerteza quanto ao acesso a alimentos no futuro;
qualidade inadequada dos alimentos devido a
trocas de produtos para não comprometer a
quantidade de alimentos que será ingerida;
Insegurança alimentar moderada: redução
da quantidade de alimentos entre os
adultos ou ruptura nos padrões de
alimentação devido a falta de alimentos,
mas a alimentação de crianças é
preservada;

Insegurança alimentar grave: é a redução


da quantidade de alimentos entre as
crianças ou quando alguém fica o dia
inteiro sem comer por falta de dinheiro
para comprar alimentos. A fome
propriamente dita.
Foi a perda do emprego com carteira que levou a insegurança
alimentar para o cotidiano da auxiliar de serviços gerais Andressa
Gonçalves de Oliveira, de 24 anos, mãe de um menino de 8.
Separada do marido, ela mora em uma casa inacabada em uma
comunidade de Madureira. A empresa terceirizada na qual
trabalhava começou a perder contratos, e ela foi demitida, há cerca
de um ano. Passou a vender cafezinho em filas de seleção de
emprego para aumentar a renda, restrita aos R$ 170 da pensão do
filho. Consegue tirar mais R$ 150 por mês.Quando meu ex-marido
atrasa a pensão ou quando não consigo atingir a meta do café,
bate o desespero. Já tive de deixar de comer para meu filho não
ficar sem comida — conta Andressa, que recebia R$ 390 de auxílio-
alimentação no antigo emprego, além do salário de quase R$ 1
mil.Lares chefiados por mulheres que, devido à perda do emprego
ou de benefícios como o Bolsa Família, têm renda zero ou inferior
a R$ 350 são recorrentes entre as famílias que passaram a ter
dificuldades para comprar comida. O custo de uma cesta básica no
Rio, com 13 tipos de alimentos em quantidades necessárias para
uma pessoa, por um mês, chega a R$ 420,35, segundo o Dieese.
No ano passado, o presidente Michel Temer determinou um pente-
fino para descobrir beneficiários que declaravam renda menor do
que a real para continuar recebendo o Bolsa Família. O resultado
foi a confirmação de um fenômeno de empobrecimento. Ao
cruzar dados, a fiscalização encontrou mais de 1,5 milhão de
famílias que tinham renda menor que a declarada — haviam
perdido o emprego, mas não atualizaram o cadastro — e, por isso,
teriam direito a benefícios maiores do que recebiam. Isso
corresponde a 46% dos 2,2 milhões de famílias que caíram na
malha fina por inconsistência nos dados. E o prometido reajuste
no benefício, que seria de 4,6%, foi suspenso no fim do mês
passado pelo governo, por falta de recursos.No Rio, a procura por
inscrição no Cadastro Único do município, única forma de
acessar o Bolsa Família, explodiu em 2016, ano em que a crise se
aprofundou. No primeiro quadrimestre do ano passado, o número
de novas famílias que entraram no sistema mais do que dobrou
em relação ao mesmo intervalo de tempo de 2013, período
anterior à recessão. Passou de 12,2 mil para 25 mil famílias. Nos
primeiros quatro meses deste ano, foram 19,4 mil famílias. Para a
secretária municipal de Assistência Social e Direitos Humanos,
Teresa Bergher, isso se explica pelo aumento do desemprego e
pela crise do governo estadual, que tem atrasado o salário dos
servidores, provocando um efeito dominó na economia local.
Quanto maior a dependência do programa de transferência, maior a
insegurança alimentar. Mas, com essa renda, as famílias conseguem ter
a segurança de poder comprar algo todos os meses. É claro que essa
quantidade de alimento não deve sustentar o mês todo, mas podem se
programar — argumenta a nutricionista Rosana Salles da Costa,
professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UFRJ, e
pesquisadora na área de segurança alimentar.Ela acredita que a
instabilidade financeira que atingiu essas famílias vai elevar, pela
primeira vez, o número de lares brasileiros que passam fome — ou seja,
que vivem em insegurança alimentar grave, segundo a Escala Brasileira
de Insegurança Alimentar. De acordo com o IBGE, a proporção de lares
que vivia nessa condição caiu à metade entre 2004, ano da primeira
pesquisa, e 2013, dado mais recente, de 6,5% para 3,2%. Os próximos
dados, referentes a 2017 e 2018, vão ser divulgados daqui a dois anos
pelo instituto, após a conclusão da Pesquisa de Orçamentos Familiares
para esses anos.Alan Bojanic, representante das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação no Brasil, reconhece que há uma relação
direta entre crises econômicas e o aumento da insegurança alimentar e
pobreza. No entanto, diz ser otimista quanto ao Brasil se manter fora
do mapa mundial da fome e avançar, melhorando a qualidade da
alimentação de suas famílias.

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