OU
ARMAZÉM LITERÁRIO.
VOL. XXV.
LONDRES:
1820.
CORREIO BRAZILIENSE
OU
ARMAZÉM LITERÁRIO
OU
ARMAZÉM LITERÁRIO.
VOL. X X V .
LONDRES:
1820.
CORREIO BRAZILIENSE
DE JULHO 1820.
POLÍTICA.
BUENOS-AYRES.
O Governo ao Povo.
Cidadãos!—Nada teríamos adiantado como glorioso
golpe, que se acaba de dar aos traidores assassinos do
paiz e de seus filhos, se o novo Governo marchasse pe-
las mesmas sanguinárias pizadas de sua tyrannia. Longe
de nós esses dias de sangue, e de lucto para tantas famí-
lias beneméritas, em que a vida, a honra e a segurança
dos mais recommendaveis cidadãos, se viram sugeitas á
mais espantosa espionagem de delatores assalariados, e
ao despejo e vingança de traidores e assassinos, que ti-
nham jurado, em seus conselhos secretos, inutilizar o
sangue derramado em dez annos de uma lucta tam glori-
osa á liberdade, sacrificando junctamente com seus de-
fenores todas as mais desgraçadas geraçoens, que tem
Política. U
compromettidas, aos pérfidos proveitos de sua baixa
ambição.
O Governo se vio desgraçadamente obrigado a descar-
regar sobre estes criminosos os primeiros inevitáveis
golpes de seu poder: e ainda que a magnitude e publici-
dade de seus crimes parece que o authorizávam a come-
çar por seu castigo e acabar pelo processo que o justifi-
casse, he necessário que o nosso comportamento para
com elles, se deve causar a amargura de suas infelizes
famílias, de que elles mesmos se esqueceram quando os
comettêram, possa pelo menos inspirar a todos os habi-
tantes uma absoluta segurança e confiança no império
das leys, que foi até agora desconhecido, e suífocado
pelo poder arbitrário destes desnaturalizados.
Para este fim, cidadãos, ordenou o Governo que os
accusados se puzessem ante a ley, para que respondam
por ella aos povos de suas confianças. Naõ se pôde o
mesmo Governo dispensar de prover á sua segurauça,
nem permittir que se illudisse a justiça, com descrédito
da authoridade. Brevemente se apresentará à vossa vista
o tribunal respeitável, que deve conhecer deste delicado
negocio. Mas entretanto está ja aberto o juizo publico,
sobre que deve recair sua decisaõ; e o Governo quer que
seja tam publico e conspicuo, como o foram os delictos,
que condiga com a magnitude dos crimes que se julgam,
com o character dos delinqüentes, com o interesse e dig-
nidade dos povos aggravados e com a justificada impar-
cialidade com que se propoz marcar seus procedimentos.
A justiça naõ necessita reserva alguma; e a sua pu-
blicidade naõ se consulta, publicando uma sentença, que
se desse sobre processos misteriosos einquisitoriaes, com
que tantas vezes se tem sacrificado a innocencia. Os
réos seraõ accusados publicamente, com os documentos
justificativos de seus crimes: estes teraõ toda a authenti-
12 Política.
cidade prescripta pela mais escrupulosa legislação: suas
excepçoens e defezas se copiarão com fidelidade; cada
cidadão será informado diariamente, pela imprensa, de
todos os passos da causa; e cada um, com o processo
na maõ, pronunciará em sua casa, com liberdade e co-
nhecimento, antes que os juizes dem sua sentença. En-
tretanto o Governo, com todos estes documentos, redu-
zirá a sua política a dizer ás naçoens do universo, que
nos observam—Vede e julgai.
Os amigos, os parentes, os subalternos, os honrados
partidistas da liberdade, que tantas vezes ouviram jurar
estes homens por uma honra que naõ tinham, e pelo
mais sagrado da terra, que naõ havia tractado existente
com a Corte do Brazil ^ Como éra fácil penetrar a cap-
ciosidade desta linguagem ? { como creria alguém, que
eram tam impudentes ? <; nem que complicidade se lhes
pôde arguir em tam pérfidos desígnios ? Deseancai, cida-
dãos, nestas justas consideraçoens de um Governo libe-
ral : e estai certos de que o rayo da justiça só ameaça e
só cairá sobre os authores de vossos males. Buenos-
Ayres 14 de Março de 1820.
M A N U E L DE SARHATEA.
Secretíssimo.
Soberano Senhor!—Ha alguns dias que se recebeo a
annexa communicaçaõ do Enviado Extraordinário em
França, D. José Varentin Gomez.
Chegou ao mesmo tempo o Americano D. Mariauo
Gutierrez Moreno, e se annunciou que conduzia offici-
os para o Governo de Chile de seu Duputado naquella
Corte, D José Yrisarri, com as mesmas proposiçoens,
e com especial encargo de manifestar a este Governo o
objecto de sua commissaõ. Suspendi por esta causa o
transmittir a Vossa Soberania a communicaçaõ do En-
viado Gomez, para o fazer com outros conhecimentos,
segundo o que resultasse da entrevista com Gutierrez Mo-
reno. Havida esta aos 23 do corrente, he com effeito
certa a sua commissaõ, e assegura outro sim, que os De-
putados Ribadavia e Gomez o encarregaram, com o maior
encarecimento,fazer presente a este Governo que naõ deixe
escapar occasiaõ tam favorável, e de tam conhecidas van-«
tagens ao paiz. Com estes dados remétto a Vossa Sobe-
rania a Nota, lembrando, para a resolução, o triste estado,
emque se acham as Provincias, e a sorte que se lhes depara,
supplicando ao mesmo tempo se sirva Vossa Soberania
tomar em consideração este assumpto, com preferencia
a qualquer outro; pelo grande interesse que envolve;
porque ha occasiaõ próxima de instruir sobre a maté-
ria o Enviado do Gomez; e, segundo a resolução que se
adoptar, poderá suspender de todo a expedição Hespa-
nhola, projectada contra esta parte da America; e por
que o commissionado Gutierrez Moreno, para continuar
em sua viagem para Chile, só espera a decisaõ de Vossa
Soberania. Deus guarde a V. Soberania muitos annos.
16 Política.
Buenos-Ayres, 26 de Outubrode 1819- Soberano Senhor.
—JOSÉ RONDEAU.—Soberano Congresso Nacional das
Provincias Unidas da America do Sul.
Secretíssimo.
COMMERCIO E ARTES,
Arroz
J Batido
Mascavado . .
Bra /.i 1
49>. a Ms.
318. a 38*. Livre de direitos po r
exportação.
Cacáo Pará 55s. 65s
CaHe Rio 118s. 126t.
Çebn Rio da Prata 3s. 2p. por 1121b.
Chifres. Rio (lande por 123 48*. 52s. 5s. por 1121b,
(A 8ip.
Rio da Preta, pilha < B 7p. 7|P-
'C 5p.
Í BA 10 p. por coaro
i Rio Grande -]
<C
Pernambnco, salgados
Rio Grande de cã vai Io
Ipecacuanha Brazil por lb. 14». Op. à 15s. 6p, 4s.
Óleo de cupaiba I por 1121b.
l s . 2p. a l s . 4p, 2s.
Orucu 4s. Op.
Páo Amarelo. Brazil I20s, a 130s. i direitos pagoa pelo
Páo Brazil . . . . Pernambuco 5 comprador.
Salsa Parrilba. Pará . . . l s . 9p, 2s. , direitos pagos pelo
( em rolo.. > comprador,livre por
Tabaco I em folha. * exportação
Tapioca.......Brazil.. 18p. 6£ porlb.
Espécie Seguros.
Ouro cm barra £ 3 17 10J Brazil. Ilida 25s. Volta 3Us
Peças de 6400 reis Lisboa 15s. 9 . 20a
Dobroens Hespa- Porto 20s
nhoes por Madeira 15s. 9 20s
P e z o s . . . . dictos onça. Açores 20s.
Prata em barra 0 $ Rio da Prata 42». 42»
Bengala tio» 62»
LITERATURA E SCIENCIAS
PORTUGAL.
CAPITULO VII.
Das Colônias.
(Continuado de Vol. XXIV. p. 852)
Desde 1625, epocha da primeira fundação das colônias
nas Antilhas, até 1664, os colonos Francezes foram qua-
si abandonados pela Metrópole; e he talvez em parte a
este abandono, e á absoluta liberdade de commercio,
conseqüência desse abandono, que elles deveram a sua
primeira prosperidade. Os Hollandezes faziam entaõ
quâsi todo o commercio das ilhas Francezas, as cidades
de Flessinguen e de Middlebourg enviavam ali naquella
epocha mais de cem vasos.
Porém o mesmo ciúme, que tem constantemente dic-
tado todos os monopólios, levou Luiz XIV a crear, em
1664, para expulsar os Hollandezes daquellas paiagens,
uma Companhia Real nas índias Occidentaes, á qual
concedeo, em toda propriedade, o Canada; as Antilhas,
a Acadia, as ilhas de Terra Nova, a ilha de Cayenna, a
Terra Firme da America Meredional, desde o Marignon
até o Orinoco; e as costas do Senegal e de Guiné, com
o privilegio exclusivo de negociar em todas estas para-
gens, tanto directamente da Europa para a America,
46 Literatura e Sciencias.
MISCELLANEA.
G U E R R A DO R I O - D A - P K A T A .
AMERICA HESPANHOLA.
ALEMANHA.
ARGEL.
ESTADOS-UNIDOS.
FRANÇA.
HESPANHA,
NÁPOLES.
Proclamaçaõ.
Decreto.
Fernando, &
Temos resolvido decretar e decretamos o seguinte :—
Art. I o . Nomeamos Secretario de Estado Ministro dos Ne-
gócios Estrangeiros, o Duque de Campo Chiaro.
2. Nomeamos Secretario de Estado, Ministro de Graça e Jus-
96 Miscellanea.
Fernando &c.
Nós Francisco, Duque de Calábria Tenente-General do Rey-
no, com Alter Ego.
Em virtude do acto, datado de hontem, por que Sua Majes-
tade, nosso Augusto Pay, nos transmittio com a clausura illimi-
tada de Alter Ego, o exercício de todos os direitos, perogativas,
preeminencias e faculdades, da mesma maneira, que podem ser
exercitadas por Sua Majestade.
Em conseqüência da decisaõ de S. M. de dar uma Constitui-
ção ao Estado, desejando manifestar os nossos sentimentos a
todos os seus subditos, e seguir ao mesmo tempo seus ananimes
Miscellanea. oo
desejos; temos resolvido decretar e decretamos o seguin-
te:—
Art. 1." A constituição do Reyno das Duas Sicilas será a
mesma, que foi adoptada para o Reyno da Hespanha em 1812,
e sanccionada por S. M. Catholica, em Março de 1820, salvas
as modificacoens, que a representação nacional, convocada con-
stitucionalmente, considerar conveniente e próprio propor, a
fim de a adaptar ás circumstancias particulares dos Estados de
S. M.
2. Reser-va-mos para nós adoptar e fazer saber todos os ar-
ranjamentos, que forem necessários, para facilitar e accelerar
a execução do presente decreto.
3. Todos os nossos Ministros Secretários de Estado saõ en-
carregados da execução do presente decreto. Nápoles 7 de Ju-
lho de 1820.
(Assignado) FRANCISCO.
RÚSSIA.
TURQUIA.
SUÉCIA.
CORRESPONDÊNCIA.
Carta de Um Portuguez Velho ao Redactor, sobre os
Negócios de Portugal.
Senhor Redactor do Correio Braziliense!
Naõ ha desgraça maior para um Soberano, e para uma Naçaõ,
do que entregar os seus interesses e destinos a uma roda falta de
senso commum. Apparecêo, como sabe, um certo opusculo,
com o titulo de Piéces Politiques, em que vinha uma carta,
em extracto, datada de Lisboa 20 de Abril passado. Esta carta
continha absurdos, e inconsequencias, que ja mais homem pu-
blico se deveria metter a decifrar; por quanto, ou tinham fun-
damento as asserçoens avançadas ou naõ : Se tinhaõ; seria mais
prudente ao supposto cúmplice naõ mexer em tal, antes comprar
toda a ediçaõ, como ja se diz fizera a outra, para se naõ desen-
volverem mais cousas ; e no segundo caso, seria melhor deixar o
absurdo a si mesmo, e naõ o querer fazer recommendavel. Poi-
quanto havia e ha muita gente, que naõ sabia nem sonhava, que
em Portugal houvesse uma familia tam gigantesca e voraz, que
pudesse engulir e fazer desapparecer os direitos indisputáveis de
unia Familia Real tam numerosa, como he a que hoje reyna em
Portugal.
Porém o que he mais extraordinário he, que éra preciso que
ainda um Braziliano estabelecido ein Londres se naô tivesse
desgrudado do seu estabelicimento, para se metter nesta transac-
çaõ, do modo como sempre custuma fazer em tudo aonde entra,
e sair como sala o cavalleiro da triste figura. Apparecêo a dieta
carta a 16 de Maio; e o Braziliano estabelecido cuidou em des-
perdiçar naõ menos de algumas 30 moedas, com uma carta, que
dirigio ao seu favorito jornal Inglez, Times, em que se mette
logo a dizer ao povo Inglez (que nem de tal sabia, nem tal lhe
importava) que se ia por uma acçaõ em Paris ao author da carta
publicada nas Pieces Politiques. Isto ou porque
ou porque queria ser um campeão obrigado. O certo he que
expedio conselhos ou ordens para a Legaçaõ de Paris. E que
taes se poderão esperar quando estiver senhor do protocóllo:
Conrespondencia. 103
Começando em fazer expor o M. a transacçoens risonhas ; e a
mais algumas cousas. Chegaram as ordens de Londres ; e co-
meçou-se a fazer um espalha lato nos jomaes, dizendo-se que o
Embaixador tinha denunciado o tal opusculo das Pieces Politi-
ques, em conseqüência das calumnias, que continha contra seu
Soberano, e contra elle mesmo Embaixador! No meu ver, naõ
acho calumnias contra o Soberano, acho sim falta de considera-
ção, e delicadeza. O author da carta, quanto a mim, agente
embuçado do Rocio, dá como unia grande noticia, que os legí-
timos e immediatos herdeiros do throno Portuguez, na falta dos
descendentes da Casa de Bragança, saõ a Família do Cadaval;
que o mesmo que dizer, que segundo as Cortes de Lamégo,* o
Duque de Cadaval succederá na falta de successaõ da Família
Reynante, assim como um Senhor Portuguez succederá na falta
de successaõ deste, ou mesmo o Juiz da Vintena,f na falta de
Senhor Portuguez (no caso que se verificasse outra invazaõ.de
Portugal, e que todos os Senhores fossem para a França com o
Exercito, ou na Deputaçaõ) conforme as leys fundameutaes do
Reyno. Vindo a estar assim o Duque de Cadaval hoje na mesma
probabilidade de reynar, em que estaria iToulro tempo á falta de
fidalgos o Juiz da Vintena ! Portanto, depois do que o Author
aqui confessa, o resto saõ inconsequencias e naõ libellos: libel-
lo se poderia sim chamar contra o Secretario do Governo de Por-
tugal, e os suppostos sócios. Porém assim he tudo ! Principi-
am por tirar a carpuça, e querer pólla aonde naõ cabe, nem
para onde foi feita.
O certo he, que se começaram a dar passos bem infelizes, e
em mal calculados. Fez-se dar busca á Casa de um Portuguez,
em todos os seus papeis: estabeleceo o Embaixador ; naõ sei
POLÍTICA.
HESPANHA.
Falia de S. M. ás Cortes.
Senhores Deputados!
Chegou por fim o dia, objecto de meus ardentes dese-
jos, em que me vejo rodeado, pelos representantes da
heróica e generosa naçaõ Hespanhola, e em que um jura-
mento solemne tem completamente identificado os meus
interesses e os de minha familia, com os interesses de
meu povo.
Quando o excesso dos males produzto a clara manifes-
tação da vóz da naçaõ, antes disso obscurecida por la-
mentáveis circumstancias, que devem ser riscadas de
nossa lembrança, determinei immediatamente abraçar o
desejado systema, e prestar o juramento â constituição
política da monarchia. sanccionada pelas Cortes geraes
e extraordinárias no anno de 1812. Entaõ recebeo a
coroa, assim como a naçaõ, seus legítimos direitos,
sendo a minha resolução naõ menos espontânea e livre do
que conforme aos meus interesses e aos do povo Hespa-
nhol, cuja felicidade nunca cessou de ser objecto de
Política. 111
meus sinceros desejos. Unido assim indissoluvelmente
o meu coração, com os coraçoens de meus subditos, que
saõ também meus filhos, o futuro somente me apresenta
imagens agradáveis de confiança, amor e prosperidade.
Com que satisfacçaõ se contemplará o grande especta-
culo, até aqui sem exemplo na historia de uma naçaõ
magnânima, que tem passado de um estado politico para
outro, sem convulsão nem violência, sugeitando seu in-
thusiasmo á guia da razaõ, em circumstancias, que tem
cuberto de lucto, e inundado de lagrimss outros paizes
menos afortunados.
Dirige-se agora a attençaõ geral da Europa para os
procedimentos do Congresso, que representa esta tam
favorecida naçaõ. Delle se espera prudente indulgência
pelo passado, e illuminada firmeza para o futuro, e que
ao momento, que confirma a felicidade da presente gera-
ção e das futuras, sepultarão no esquecimento os erros
da epocha precedente. Espêra-se também, que se ex-
hibiraõ exemplos de justiça, beneficência e generosidade,
virtudes estas, que sempre distinguiram os Hespanhoes,
que a constituição recommenda, e que tendo sido religio-
samente observadas durante a aífervescencia do povo,
devem ser ainda mais estrictamente practicadas no Con-
gresso de seus representantes, revestidos com o carac-
ter circumspecto e tranquillo de Legisladores.
He tempo agora de emprehender o exame do estado
da naçaõ; e de começar aquelles trabalhos, indispensáveis
para a applicaçaõ dos remédios convenientes aos males,
produzidos por antigas causas, e augmentados tanto pela
invasão do inimigo como pelo errôneo systema do perío-
do seguinte
As contas das rendas publicas, que o Secretario de
Estado, a quem pertence esta repartição, vôs ha de apre-
sentar, excitarão o zelo das Cortes, em procurar e esco-
112 Política.
lher, entre os recursos, que a naçaõ ainda possue, os que
forem mais adaptados para occurrer ás obrigaçoens e in-
dispensáveis encargos do Estado. Esta indagação servi-
rá para confirmar cada vez mais a opinião, de que he es-
sencial e urgente estabelecer o credito publico, sobre as
immutaveis bazes da justiça e da bôa fé, e a escrupulosa
observância do preenchimento de todas as obrigaçoens, o
que dará satisfacçaõ e socego aos credores e capitalistas,
nacionaes e estrangeiros, e ao mesmo tempo alivio ao the-
souro. Eu cumpro com um dos mais sagrados deveres,
que me impõem a dignidade Real, e o amor do meu po-
vo, recommendandoencarecidamente este importante ob-
jecto á séria consideração das Cortes.
A administração da justiça, sem o que nenhuma so-
ciedade pôde existir, tem até aqui dependido quasi ex-
clusivamente da honra e probidade dos juizes: porém,
sendo agora sugeita a princípios conhecidos e estabe-
lecidos, presta aos cidadãos novos e mais fortes funda-
mentos de segurança; e he de esperar ainda maiores
melhoramentos, quando nossos códigos, cuidadosamente
corrigidos, obtiverem aquella simplicidade e perfeição,
que os conhecimentos e experiência do século, em que
vivemos, saõ capazes de dar-lhe.
Na administração interior se experimentam difficul-
dades, que procedem de abusos velhos, aggravados du-
rante estes últimos tempos. A constante applicaçaõ do
Governo, e o zelo com que seus agentes, e as authorida-
des provinciaes trabalham, para estabelecer o simples e
benéfico systema adoptado pela Constituição, vam dimi-
nuindo os obstáculos, e com o tempo aperfeiçoarão uma
repartição do Estado, que tem tam essencial influencia no
bem e prosperidade publica.
O exercito e a marinha pedem mais particularmente a
minha attençaõ e solicitude. Será um de meus primeiros
Política. 113
cuidados, promover a sua organização e estabelecêlla da
maneira mais conveniente para a naçaõ, combinando,
quanto possivel for, as vantagens de forças tam impor-
tantes, com aquella economia, que he indispensável, e
descançando no patriotismo c boa vontade do povo, e na
sabedoria de seus representantes, a quem sempre recor-
rerei com inteira confiança.
He de esperar, que o restabelicimento do systema con-
stitucional, e a lisongeira perspectiva, que este aconteci-
mento offerece para o futuro, removendo os pretextos de
que a maligninidade tem podido tirar vantagem nas pro-
vincias ultramarinas, alhane o caminho para a pacifica-
ção daquellas, que estaõ em estado de agitação ou dis-
túrbio, e faça desnecessário o emprego de outros quaes-
quer meios. Os exemplos de moderação, e o amor da
ordem, que mostra a Hespanha Peninsular, o justo orgu-
lho, que pertence a tam digna e generosa naçaõ, e as sa-
bias leys, que se promulgam conforme a Constituição,
contribuirão pera este fim, e para o esquecimento de ma-
les passados, e uniraõ mais todos os Hespanhoes ao re-
dor de meu throno, sacrificando ao amor de sua pátria
commum todas as lembranças, que possam romper ou en-
fraquecer aquelles laços fraternaes, por que devem estar
unidos.
Nas nossas relaçoens com as naçoens estrangeiras pre-
valece, em geral, a mais perfeita harmonia, á excepçaõ
de algumas poucas diíferenças, que, ainda que naõ te-
nham perturbado actualmente a paz, tem dado occasiaõ a
discussoens, que se naõ podem terminar, sem a concur-
rencia e intervenção das Cortes do Reyno. Taes saõ as
difíerenças pendentes com os Estados-Unidos da Ameri-
ca, a respeito das Floridas, e a designação dos limites
da Louisiana. Existem também disputas, occasionadas
V O L . XXV. N« 147. P
114 Política.
pela occupaçaõ de Monte-Vedio, e outras possessoens
Hespanholas. na margem esquerda do Rio-da-Prata;
porém, ainda que uma complicação de varias circum-
stancias tem atê aqui prevenido o ajuste destas differen-
ças, espero que a moderação e justiça dos principios,
que dirigem nossas operaçoens diplomáticas, produzirão
um resultado conveniente á naçaõ, e conforme ao syste-
ma pacifico, cuja conservação he agora a geral e decidida
máxima da política Europea. A Regência de Argel tem
indicado o desejo de renovar seu antigo systema inquieto
de aggressoens. Para evitar as conseqüências, que po-
dem resultar desta falta de respeito ás estipulaçoens ex-
istentes, o tractado defensivo negociado em 1616 com o
Rey dos Paizes Baixos providenciou a uniaõ das respec-
tivas forças marítimas no Mediterrâneo, destinadas a
manter e segurar a liberdade da navegação e commercio.
Portanto, como he do dever das Cortes consolidar a
felicidade geral, por meio de sabias e justas leys, e com
isso proteger a religião, os direitos da coroa, e os dos
cidadãos; assim também pertence a meu officio vigiar
na execução e cumprimento dessas leys, e especialmente
das leys fundamentaes da Monarchia, em que se concen-
tram as esperanças e desejos do povo Hespanhol. Este
será meu mais grato e constante dever. O poder que a
Constituição outorga a authoridade Real, será empregado
no estabelicimento e inviolável preservação dessa Consti-
tuição, e nisso consistirá o meu dever, o meu deleite, e
a minha gloria. Para acabar e aperfeiçoar esta grande e
saudável empreza, depois de implorar humildemente o
auxilio e guia do Author de todo o bem, requeiro a ac-
tiva cooperação das Cortes, cujo zelo, intelligencia, pa-
triotismo e amor à minha Real pessoa, me levam a espe-
rar, que concurreraõ em todas as medidas necessárias,
Política. 115
para alcançar tam importantes fins, justificando assim a
confiança da heróica naçaõ, por quem foram eleitos.
Replica do Presidente.
As Cortes ouviram com singular satísfacçaõ a sabia
falia, em que Vossa Majestade expressou seus nobres e
generosos sentimentos, e descreveo o estado da naçaõ.
As Cortes apresentam a Vossa Majestade seus mais res-
peituosos agradecimentos, pelo ardente zelo com que V.
M. promove a prosperidade geral, e promettem cooperar
com a intelligencia de V. M., e contribuir, por todos os
meios possíveis, para o alcance dos importantes objectos
para que foram convocadas.
BUENOS-AYRES.
Segunda.
NÁPOLES.
RÚSSIA.
COMMERCIO E ARTES,
PORTUGAL.
Qualidade Direitos.
Gêneros.
.Bahia por lb
í Capitania
I ceara . . . . . . 8s. 7p. por 100 l b .
Algodam . . < Maranham . . . em navio Portuguez
1 Minas novas . ou Inglez.
f Para
^" Pernambuco •
Anil.... . . . . R i o 5 por lb.
Redondo . . .
Assucar .
Í Batido
Mascavado . Livre de direitos por
exportação.
Arroz Brazil
Cac&o Pará
Caffe Rio
Cebo Rio da Prata 3s. 2p. por 1121b.
Chifres. Rio Gande por 123 5s. por 1121b.
,A
Rio da Prata, pilha < B
t c
10 p. por couro
9 i Rio Grande ] B
O
O
Pernambuco, salgados
• Rio Grande de cavallo
Ipecacuanba Brazil por lb. 4B.
2s.
I por 1121b.
Óleo de cupaiba
Orucu
P&o Amarelo. Brazil-. } direitos pagos pelo
Pão Brazil . . . . Pernambuco J comprador.
Salsa Parrilha. Pará } direitos pagos pelo
_ (em rolo.... f comprador,livre por
Ta co
l em folha... ' exportação
apioca . . . . . . . B r a z i l . . . . 6* porlb.
LITERATURA E SCÍENCIAS.
PORTUGAL.
Lisboa 2 de Julho.
No dia 24 de Junho celebrou a Academia Real das Sci-
encias uma sessaõ publica, a que assistio um grande e lu-
zido concurso. Abrio a sesssaõ o Illustrissimo e Excel-
lentissimo Marquez de Borba,- Vice-Presidente, com um
breve discurso, a que se seguio outro do Secretario, Sebas-
tião Francisco de Mendo Trigozo, dando conta das trans-
acçoens e trabalhos acadêmicos no anno decorrido. Se-
guiram-se as leituras das seguintes memórias:—" sobre o
encanamento do Rio Vouga e suas utilidades," pelo cor-
respondente Joaquim Baptista;—" sobre a mina de fer-
ro novamente descoberta em Ytaubira do Campo na Ca-
pitania de Minas-Geraes," pelo correspondente Roque
Schuch;—" sobre a resolução das equaçoens de grãos
superiores ao quarto," pelo sócio Francisco Simõens
Margiocho ;—*« sobre a vida e escriptos de Fr. Bernardo
de Britto," pelo correspondente Fr. Fortunato de S. Boa-
ventura: " memórias acerca da vida do Cardeal D. Jorge
da Costa, pelo sócio Francisco Nunes Franklin.—Seguio-
se um discurso histórico, em que o actual Secretario da
Instituição Vaccinica, Jozé Maria Soares, deo conta dos
Literatura e Sciencias. 157
trabalhos da mesma Instituição no anno próximo passa-
do; e rematou a sessaõ com a abertura do bilhete, que
acompanhava a memória premiada, sobre os Apparelhos
distilatorios, que se achou ser do sócio Antônio de Araú-
jo Travassos, e com a leitura e distribuição do novo pro-
gramma para 1822.
Publicou a Academia no decurso deste anno as obras se-
guintes :—Elementos de Geometria^ por Francisco Ville-
la Barbosa, 2." ediçaõ 1. V. em 8.°—Elementos de Hygi-
ene, por Francisco de Mello Franco; 2." ediçaõ, 1. V. em
4.°—Dissertaçoens Chronologicas e criticas sobre a Histo-
ria e Jurisprudência de Portugal, por Joaõ Pedro Ribeiro,
tomo IV., parte l.a em 4.°—Indece Chronologico remis-
sivo da Legislação Portugueza, pelo mesmo; tomo VI.
parte 1.*, em 4.°—Tractado de Trignometria rectilinea e
esférica, por Mattheus Valente do Couto, em 4.°—Efe-
mérides Náuticas para 1821, calculadas por Antônio Di-
niz do Couto Valente, 1. V. em 4.°—Princípios de Musi-
ca, por Rodrigo Ferreira da Costa; parte 1.*, 1. V. em
4.°—Historia e Memórias da Academia Real das Scien-
cias, Volume 6.", parte 2.*, em folio.
(Continuada de p. 57)
CAPITULO XIII
Dos tractados de commercio.
MISCELLANEA.
Guerra do Rio-da-Prata.
mos, mas sim porque a justiça do caso isso pede. como provam
as consideraçoens apontadas, e que por mais de uma vez lemos
expendido neste Periódico.
Ex-Conde de S. Miguel.
AMERICA HESPANHOLA.
ALEMANHA.
FRANÇA.
HESPANHA.
Déficit . . 466:891.590-
NÁPOLES.
ROMA.
RÚSSIA.
POLÍTICA.
AMERICA HESPANHOLA.
ALIiMANHA.
«ESPANHA.
Memorial a El Rey.
COMMERCIO E ARTES.
Avizo.
Illustrissimo e Excellentissimo Senhor.—Havendo o
Ministro de Sua Majestade na Corte de Londres partici-
pado, que a Commissaõ Mixta estabelecida naquella ci-
dade, em virtude do artigo nono da Convenção addicio*
nal ao Tractado de 22 de Janeiro de 1815, havia recente-
mente dado uma sentença a favor da galera Dido, de que
fora Capitão Caetano Alberto da Silva, adjudicando
aos proprietários a indemnizaçaõ de Libras esterlinas
11.649-14-2; he o mesmo Senhor servido mandar fazer esta
communicaçaõ à Real Juncta do Commercio, Agricultu-
ra, Fabricas e Navegação, para que lhe dê a conveniente
publicidade, para conhecimento das pessoas a quem pos-
sa interessar. O que participo a Vossa Excellencia, para
o fazer presente no Tribunal, e assim se cumprir. Deus
guarde a Vosa Excellencia Palácio do Governo, em 20
de Julho, da 1820. D. Miguel Pereira Forjaz.—Sflr. Cy
priano Ribeiro Freire.
Commercio c Artes. 267
Estrangeiras.
Entraram. Sahii
AllemaSs 3 3
Americanas 61 70
de guerra 2 2
Cidades Anseaticas
is 4 2
Dinamarquezas 2 2
Hespanhoes 0 1
Francezas 32 27
de guerra 3 2
Hanoverianas 1 0
Hollandezas 14 13
de guerra 2 2
lnglezas 159 175
de guerra 15 16
Paquetes 13 13
Prussianas 2 0
Russas 6 5
de guerra 4 4
Sardas 1 1
Suecas 16 11
340 349
268 Commercio c Artes.
Portuguezas de gnerra.
Fragatas 2 3
Brigues 19 . 20
Escorias 22 . 22
Corvetas 5 6
Charruas 3 5
Total 51 56
Mercantes.
Portos da Europa
Navios 33 . . 21
Bergantins 22 . 16
Escunas 2 . .
Dictos d'Africa
Navios 19 . . 15
Bergantins 30 . . 37
Escunas 2 . 1
Corvetas 3 . 2
Dictos d'Ásia
Navios 7 , 6
Bergantins 2 . I
America do Sul, excepto do Brazil
Navios 3 • 4
Bergantins 19 • . 16
Escunas 4 • 4
Sumacas 27 • . 26
Total 173 149
Rio de Ostras 14 14
Rio de S. Francisco 10 8
Rio de S. Joaõ 87 90
Santa Catharina. 24 26
Santos 64 61
S. Matheus 9 4
Sepitiba 13 12
Tagoahi 35 43
Taipú 3 O
Ubatuba 19 5
Somma 1092 1043
Espécie Seguros.
Ouro em barra £ 3 17 1 0 | Brazil. Hida 30s. Volta 30B
Decai de 6400 reis 3 14 6 Lisboa 25s.
/ por 30s
Pobroeni Hespa- Porto
nhoes \ onça. 30s
Madeira 20i
PPZO» dicloi
Açores 20a,
Prata em barra Rio da Prata 42i. 42»
Bengala 60i «2i
I 272 )
LITERATURA E SCIENCIAS.
N O V A S P U B L I C A Ç O E N S EM INGLATERRA.
PORTUGAL.
ECONOMIA, P O L Í T I C A D E SIMONDE.
CAPITULO VIU.
Dos tractados de Commercio.
(Continuado de p. 167)
O commercio das matérias finas naõ merece, mais do
que os outros, os favores do Governo; por que elle naõ
procura á naçaõ mais vantagens que os outros, nem aug-
menta mais as suas rendas. Pelo contrario, como naõ
he senaõ um commercio de transporte, que consiste em
tirar os metaes d'um paiz, para os reexportar para outro,
sem nunca os applicar ao uso próprio do paiz commerci-
ante, fica na classe daquelles, que contribuem menos â
prosperidade do Estado; porque os dous capitães, que
substitue alternadamente, saõ ambos estrangeiros, e põ-
em em movimento menos industria nacional do que ne-
nhum outro.
O Governo Francez será talvez convidado a negociar
Literatura e Sciencias. 275
(Continuado de p. 174)
O Capitulo quinze desenvolve a matéria importante
do Ministério publico. Os Reys e os Senhores, com-
mettiam a Presidência das Cortes judiciaes a commis-
sarios seus delegados. Quando se instituíram os Par-
lamentos, além do Presidente do Parlamento, havia Pre-
sidentes para as suas differentes secçoens; e outro sim
se nomearam Procuradores d' El Rey, que olhassem por
seus direitos; o que éra tanto mais necessário, quanto os
presidentes eram pela maior parte nobres de alta gradua-
ção, totalmente ignorantes das leys; como se vê ordina-
riamente em Portugal hoje em dia, aonde os fidalgos
que presidem nos tribuuaes, possuem conhecimentos na
razaõ inversa de sua extensa genealogica.
Por esta maneira se instituio o Ministério publico, ou
uma espécie de funeçaõ media entre os juizes e o inte-
resse publico, que éra advogado pelos procuradores d' El
Rey. Estes, além do que se podia propriamente chamar
interesse publico, tinham também o cuidado do que im-
portava individualmente ao Rey ou ao Senhor Suzerano,
e por isso se chamaram Procuradores Fiscaes. Vejamos
as mudanças, que desta circumstancia resultaram á or-
dem judicial; segundo as palavras do A. a p. 265.
MISCELLANEA.
REVOLUÇÃO EM PORTUGAL.
Proclamaçaõ.
Os Governadores do Reyno de Portugal e Algarves, aos
Corpos de Exercito extraviados.
Proclamaçaõ.
Portaria.
Portaria
>
El Rey Nosso Senhor, por puros effeitos da Sua Real
compaixão, he servido perdoar o crime de primeira, e
segunda deserção simples a todos os Indivíduos do seu
exercito, que se acharem sentenciados ou ainda por sen-
tenciar, e aquelles, que, por igual motivo, estiverem
jà cumprindo as suas sentenças: E ordena que postos
em liberdade, sejam logo restituidos aos seus respectivos
corpos ou a qualquer outro em que o tenente General
Commandante Interino do exercito julgar conveniente
empregallos, durante as actuaes circumstancias, a fim
de continuarem no seu Real serviço. O conde da Feira
do Conselho de Sua Majestade, Secretario dos Negócios
Estrangeiros, e da Guerra e Marinha, assim o tenha en-
tendido e faça executar, expedindo as Ordens necessá-
rias. Palácio do Governo, em quatro de Septembro de
mil oitocentos e vinte.
Com as Ruhricas dos Senhores Governadores do
Reyno.
Miscellanea. 307
Proclamaçaõ
Os Governadoves do Reyno ao Leal e Valoroso Exer-
cito Portuguez.
Chefes, Officiaes, e Soldados do heróico Exercito Por-
tnguez, que fostes o assombro da Europa, terror dos ini-
migos, e o firme esteio da Independência da nossa Pátria,
escutai agora a voz dessa mesma Pátria, que vos clama,
que depois de ha verdes salvado pelo vosso valor, na porfio-
sa luta da guerra, a salveis pela vossa lealdade inabalá-
vel dos horrores da guerra civil e da anarchia.
Sim, generosos Soldados Portuguezes, he em nome da
nossa Pátria, em nome do nosso Rey: que os Governado-
res do Reyno hoje vos faliam.—Elles confiam da grande
maioridade do Exercito Portuguez a conservação da
tranquillidade publica, da unidade da Monarchia, e da
obediência ao legitimo Governo; e deplorando a ceguei-
ra momentânea de uma parle desse mesmo Exercito,
que desgraçadamente se deixou hallucinar, lhe offerecem
uma completa amnistia, persuadidos de que o vosso
brioso exemplo lhe abrirá os olhos, e a reunirá ao único
centro legitimo, donde podem emanar a felicidade e a
liberdade da naçaõ Portugueza.
Soldados, os Governadores do Reyno, interpretando
os sentimentos do nossso Augusto Soberano, acabam de
convocar Cortes, e trabalham com a maior actividade em
accelerar o seu ajunctamento: brevemente vereis reuni-
dos os três Estados do Reyno, conforme as Leis Funda-
mentaes da nossa Monarchia; he esse o único meio legal
de consultar os votos da naçaõ, de attenderás suas quei-
xas, e de adoptar as medidas permanentes e necessárias
para restabelecer o antigo edifício da nossa Constituição,
deteriorado pelo decurso do tempo; El Rey, e os Três
308 Miscellanea.
Estados do Reyno, Clero, Nobreza, e Povo, saõ as ma-
gestosas columnas que o devem sustenlar.
Naõ nos deixemos pois illudir pela ambição, que se
disfarça debaixo dos especiosos pretextos: todos quere-
mos os melhoramentos necessários para a prosperidade
da Monarchia; mas queremos uma reforma, e naõ uma
revolução, cujos effeitos seriam a subversão dessa mesma
Monarchia, a dissolução das differentes partes, que a
compõem, e por fim a sua sujeição a um jugo estranho
ficando assim baldados os esforços com que no campo
de batalha defendestes a sua independência.
Soldados, naõ presteis ouvidos às suggestoens dos ma-
lévolos, que por todos os meios procuram inspirar-vos
uma injusta desconfiança do Governo, e excitar o Exer-
cito, a quem só compete defender El Rey, e a naçaõ, a
dictar pela força Leis, que só devem emanar, para serem
providas e permanentes dos deputados dessa mesma na-
çaõ e do throno. Os Governadores do Reyno vos alfian-
çam, e o tempo brevemente vos provará, que elles estaõ
firmemente determinados a effectuar a solemne promessa
que fizeram : naõ acrediteis os que insidiosamente vos in-
sinuam, que o Governo intenta ganhar tempo com o anun-
cio da convocação de Cortes, e chama para impor silen-
cio á voz dos Portuguezes, o auxilio de tropas estran-
geiras : os Governadores do Reyno vos asseguram, que
elles, nem esperam, nem pedirão, nem estaõ dispostos a
receber um tal auxilio: elles detestam a idéa de ver o
sangue dos seus Concidadãos derramado n'uma guerra
civil, e só confiam que os ajudareis a cumprir o seu mais
sagrado dever de manter illesa a unidade do Governo,
que lhes está ligitimamente commettido. Continuai a ser
pela vossa lealdade, como pelo vosso valor, o exemplo, ea
inveja das naçoens Estrangeiras : a maior felicidade vos
espera; oSoberanoea naçaõ vos deverão a sua seguran-
Miscellanea. 309
Portaria.
Manda El Rey Nosso Senhor, que o perdaõ de primei-
ra e segunda deserção simples, que por Portaria expedi-
da em data de quatro do corrente mez, houve por bem
concedera favor dos indivíduos do seu exercito, seja am-
pliado aos da Brigada Real da Marinha em Lisboa, que
se acharem em idênticas circumstancias. O Conde da
Feira, do Conselho de Sua Majestade, Secretario doGo-
Governo encarregado das repartiçoens dos Negócios da
Marinha, Estrangeiros, e da Guerra o tenha assim enten-
tendido, e expessa as ordens necessárias. Palácio do
Governo em 6 de Septembro de 1820.
Com três Rubricas dos Governadores do Reyno.
CONDE DE P A L M E L L A .
316 Miscellanea.
Proclamaçaõ.
1.* Proclamaçaõ
Publicada na revolta da cidade do Porto.
Soldados!—Uma só vontade nos uma: caminhemos á
salvação da pátria. Naõ ha males que Portugal naõ
sotfra; Naõ ha soffrimento, que nos Portuguezes naõ es-
teja apurado. Os Portuguezes, sem segurança em suas
pessoas e bens, pedem o nosso auxilio, elles querem li-
berdade regrada pela ley. Vós mesmos,- victimas dos
males conimuns, tendes perdido a consideração, que o
vosso brio e vossas virtudes tem merecido. He necessá-
ria uma reforma, mas esta reforma deve guiar-se pela
razaõ e pela justiça, naõ pela licenciosidade. Coadjuvai
a ordem, cohibi os tumultos; abafai a anarchia, e crie-
mos um Governo Provisório, em que confiemos; elle
chame as Cortes, que sejam o orgaõ da Naçaõ, e ellas
preparem umaConstituiçaõ, que assegure os nossos di-
reitos. O nosso Rey D. Joaõ VI., como bom, como be-
nigno, ha de abençoar nossas fadigas, como amante de
um povo, que o idolatra. Viva o nosso bom Re).
VOL. XXV. N \ 148.
318 Miscellanea.
Vivam as Cortes, e por ellas a constituição. Porto em
Conselho Militar, 24 de Agosto de 1820.
(Assignados) S E P U L V E D A , Coronel do Reg. N.° 18
C A B R E I R A , Coronel d'Artilheira.
T t . Cor. do Reg. N, p 6
Major das Milícias de Maia
Major das Milícias do Porto
2.3 Proclamaçuõ
Acabou-se o soffrimento! A Pátria em feros: a vossa
consideração perdida: nossos sacrifícios baldados; um
soldado Portnguez próximo a mendigar uma esmola!—
Soldados o momento he este: viemos à salvação da
Pátria: voemos á nossa salvação própria.—Camaradas,
vinde comigo; vamos com nossos irmaõs organizar um
Governo Provisional, que chame as Cortes, a fazer uma
Constituição, cuja falta he a origem dos nossos males.
He necessário desenvoivêllo; porque cada qual de vôs
o sente. He em nome, e conservando o nosso Augusto
Soberano, o Senhor D. Joaõ VI., que ha de governar-se.
A nossa sancta líeligiaõ será guardada! Assim como
nossos esforços saõ puros, assim Deus ha deabençoàllos.
Os soldados, que compõem o bravo exercito Portuguez,
haõ de correr a abraçar a nossa; porque he a sua causa.
Soldados a força he nossa ; naõ devemos, portanto, con-
sentir tumultos : a cada um de nós deve a Naçaõ sua segu-
rança e tranquillidade. Tende confiança n'um Chefe,
que nunca soube ensinar-nos senaõ o caminho da honra
toldados! naõ deveis medir a grandeza da causa, pela
singeleza dos meus discursos: os homens sábios desenvol-
verão um dia este feito, maior que mil victorias. Santi-
fiquemos este dia ; seja de hoje em diante o grito do
nosso coração; Viva El Rey, o Senhor D. Joaõ VI:
Viva o Exercito Portuguez: Vivam as Cortes, e por ellas
a Constituição Nacional.
(Assignado J
Miscellanea. 319
Auto da Câmara Geral.
Elogo, estando reunidos todos os abaixo
assignados pelos Illustrissimos membros do Conselho Mi-
litar acima mencionados, foi representado, que, sendo
evidentes os soffrimentos de todas as classes, e tendo de
esperar-se a cada momento um rompimento anarchico,
que levasse a naçaõ a todos as males, que este monstro
semêa na sociedade; elles animados do mais vivo desejo
de prestar serviços á Naçaõ, de salválla, de fazêlla re-
ganharosseus verdadeiros direitos; e caminhando outro
sim sobre a baze firme, e inabalável de manter fidelidade
e vassalagem ao nosso Grande e Muito Poderoso Mo-
narcha, o Senhor D. Joaõ VI., se deliberaram a propor,
como tem proposto, o seguinte:—
Que se formará uma Juncta Provisória, depositaria do
Supremo Governo do Reyno, composta das seguintes
pessoas, e do Vice-presidente, que essa mesma Juncta ele-
ger; a saber:—
Juncta Provisional do Governo Supremo do Reyno.
Presidente.—Antônio da Silveira Pinto.
Vogaes. Pelo Clero. O Deaõ Luiz Pedro de Andrade
Brederode.
Pela Nobreza.—Pedro Leite Pereira Mello.
Francisco de Souza Cirne de Madureira.
Pela Magistratura.— O Desembargador Manuel Fer-
nandez Thomas.
Pela Universidade.— O Dr. Fr. Francisco de S. Luiz-
Pela Provincia do Minho.—O Desembargador, Joaõ da
Cunha Soutomaior. Jozé Maria Xavier de Araújo.
Pela Provincia da Beira.—Jozé de Mello Castro e Ab-
reo. Roque Ribeiro de Abranches Castello Branco.
Pela Provincia de Traz-os-montes.—José Joaquim de
Moura. Jozê Manuel de Souza Ferreira e Castro.
Pelo Commercio Francisco Jozé de Barros Lima.
Secretários com voto.—Jozé Ferreira Borges. Jozé da
Silva Carvalho. Francisco Gomes da Silva.
320 Miscellanea.
Proclamaçaõ.
AMERICA HESPANHOLA.
(Assignado) BRION
Revolução do Porto.
za, senaõ da concessão dos Reys ? E que mais direito tem ne-
nhum membro dessas famílias, desfiguradas por vergonhosas
bastardlas, de que tiram sua origem, a serem titulares, do que
Pedro, Paulo, Sancho, ou Martinho, a quem El Rey por sua
affeiçaõ particular, ou por serviços feitos á sua pessoa ou ásua
familia, faz entrar na classe da Nobreza ?
Daqui fica manifesto, que o partido que nos tem quebrado os
ouvidos com a necessidade de mudar as bazes do edifício social,
com a prostituição dos títulos a guarda roupas e pessoas insig-
nificantes, com os empregos diplomáticos em pessoas de classes
differentes desses fidalgos, naõ aspira amais do que a metter-nos
pelos olhos essa aristocracia rançosa, que de nada serve, e que
nas oceasioens dos apertos, ou tem tomado o partido dos inimi-
gos, porque lhe parecèo o mais forte, ou se tem mettido no es-
curo fugindo ás difficuldades.
Se esses que assim faltam, tem realmente em vista o desappro-
var, que pessoas naõ nobres sêjain elevadas a empregos impor-
tantes, principalmente na diplomacia ; para que estaõ tam car-
iados a respeito de pessoas taes como um Guerreiro, a quem dam
o tractamento de Excellencia ? < Que serviços, que estudos,
que talentos saõ os desse diplomático nascido das ervas, senaõ
o de ser um humilde instrumento do partido Roevidico ? Entre-
tanto, note-se, os mesmos que lhe dam Excellencia, saõ os que
nos ímpurram a necessidade de mudar as bazes do edifício so-
cial em Portugal; os que louvam os traidores da pátria, e os que
acham culpa em El Rey por elevar pessoas, que naõ saõ da
classe da grandeza.
He assim que, correndo em Londres a noticia, de que o Ab-
bade Corrêa éra ehamado ao Rio-de-Janeiro, para Ministro de
Estado, tiveram alguns biltres addictos á Embaixada Portugue-
za a iinpiickncia de d:/.«-r, que o Abbade sóiiía para dizer missa
a EI Rey. Porque se levantou esta antiphona, seguiram logo
outros a psalmodia, insinuando que o Abbade só sabia de sua
botânica.
Comparando, pois, todos estes factos, naõ nos resta a menor
duvida, de q»ie o? principaes motores da revolução, se devem
Miscelluttf* 34^
Segundo Exercito.
Commandante em chefe, Gaspar Teixeira
D.° em Segundo, Lacerda.
Infanteria, N . o s 3 : 9 ; 1 2 ; 21 ; 23 ; 24
Cavallaria, parte de 2 ; 6 ; e 12.
Caçadores, 7 : 8 ; 12.
Artilheria, parte de N." 4.
Milícias da Beira.
Salinas de Setúbal.
caõ dos direitos; pois ali confessam, que foi necessário a ex-
periência dos factos, para se desenganarem do mais obvio prin-
cipio nesta parte da legislação ; naõ souberam, que um pezado
imposto na exportação do sal fazia com que este producto do
território de Portugal naõ pudesse competir nos mercados
estrangeiros com o sal de outros paizes, senaõ quando
viram que ninguém ia a Setúbal comprar o sal, que se
podia ter mais barato em outros portos. Parece que só
quando a verdade he palpável estes cegos a conhecem ; as
luzes do entendimento, se as tivessem, lhes fariam conhecer
taes verdades, antes que se tocassem com os dedos da expe-
riência. Mas assim vai tudo, com qi?em naõ tem os princípios
tlieoreticos necessários, sendo a desgraça muitas vezes tal, que
quando a liçaõ da experiência chega, ja naõ ha lugar para o re-
médio, restando somente, um arrependimento infruetifero. Nós
até nos envergonhamos de referir o Leitor par o lugar do Correio
Braziliense, em que tam estrenuamente reprovamos aquella im-
politica imposição sobre o sal; porque he matéria tam sabida,
que nenhnm merecimento tem o politico, que tal absurdo aponta.
Diremos porém aqui, que apontando certo sugeito a D. Miguel
Forjaz (hoje por esses e outros que taes serviços Conde da
Feira) o que o Correio Braziliense dizia a respeito do sal; a res-
posta, que deo, foi esta: esse tolo e perverso do Correio Brazi-
liense naõ sabe o que diz: o Estado precisa rendas, para oceurrer
ás despezas necessárias, e essas rendas naõ se obtém sem tri-
butos."
Muito bem, Senhor Conde da Feira; saõ necessários os impos-
tos, mas o Ministro, que entende do seu ofticio, naõ os lança de
maneira, que destrua o mesmo artigo sobre que recáe a imposi-
ção ; porque com isso annihila aquelle ramo de industria na na-
çaõ, e torna de nenhum proveito a imposição.
Mas, se o Correio Braziliense éra o tolo ; para que se abolio
agora a imposição na exportação do sal ?
Quanto ao epitheto perverso, naõ he tempo agora de ajustar-
mos contas.
348 Miscellanea.
Exportação da casca de Sobreiro.
Como appendice i imposição de um tributo no sal, que ope-
rava como prohibiçaõ para sua exportação ; achamos a seguinte
prohibiçaõ, para que se naõ exporte a casca do sobreiro, no se-
guinte :—
AMERICA HESPANHOLA.
"O estado politico deste paiz parece catarem tanta duvida co-
mo o de Hespanha. Alvear e Carrera estaõ juncto a Sancta Fé,
mas naõ se sabe exactamente as forças que tem com sigo, prova-
velmente naõ excedem 1.000 ou 1.200 homens. Se elles forem
auxiliados, como se diz, pelo chefe Ilamirez, Governador de
Entre-Rios ; e Lopez, Governodor de Sancta Fé, sem duvida te-
raõ ja começado a sua tentativa contra esta cidade, para pór
Alvear á testa do Governo ; porque Carrera deve ter neste lugar
pessoa, que lhe seja completamente fiel, antes que tente realizar
suas vistas em Chili. Mas todos estes planos saõ presentemente
frustrados por Aitigas, que atacou e derrotou uma partida de
400 homens das tropas de Ramirez, em Entre-Rios, e apossou-
se do Arroio de Ia China ; depois marchou para a jurisdicçaõ de
Comentes, para onde se diz que partira também Ramirez com
um corpo de tropas. Suppoem-se que se for bem suecedido
annihilará Artigas. Estas duas provincias estaõ no estado de
aoarchia e confusão. O porto de Baxada de Sancta Fé está fe-
chado, e naõ se permitte a nenhum vaso passar o rio dali para
baixo."
" Aqui estamos ainda quietos, mas todos esperam mudança.
Eu inclino-me a crer que Alvear virá a ser o Governador neste
lugar; porque tem grande partido a seu favor."
Aos 20 de Junho morreo o General D. Manuel Belgrano em
Buenos-Ayres. Aos 23 entrou o General Sole nas funcçoens de
Governador e Capitão Ceueral daquella provincia ; havendo sido
previamente proclamado ein Luxan, pelas tropas, que ali com-
mandava, e algumas milícias. Naõ houve nisto distúrbios.
Alvear, q ue he o seu competidor estava com suas tropas no inte-
rior.
Sentimos naõ poder dar a integra da convenção entre a Corte
Ri-de-Janeiro, e o Governo de Buenos-Ayres; deixamos
Porem copiados a p. 228 os artigos mais importantes, e na ordem
352 Miscellanea.
ALEMANHA.
FRANÇA.
HLSPAMIA.
V o i . X X V . N - . 148. ir.
358 Miscellanea.
de que o Governo seui demora pudesse ordenar o castigo daque-
les, que tomaram parte directa na destruição do Código Nacional.
2 a Que as Cortes fizessem arranjamentos, a fim de que o Com-
mitté encarregado dos procedimentos contra 69 Deputados, cha-
mados Persas, e que assignâram a representação ao Rey em
em 1814, apresente o seu relatório, dentro de um período espe-
cificado. 3 . a Que os Secretários do Governo apresentem sema-
nalmente ao Congresso uni relatório sobre os negócios de Cadiz.
C,aiagoça Burgos e Galliza.
Na sessaõ de 9 de Septembro, o Ministro de Justiça entregou
ás Cortes, três petiçoens, que achara nos archivos de suaSecre-
taria, e tinham sido apresentadas a El Rey por três dos Depu-
tados chamados Persas (os que apresentaram a El Rey o protes-
to contra as Cortes cm 1814) e nestas petiçoens cada um dos
taes Persas solicitava, como prêmio de seu zelo, um beneficio
ecciesiastico: observou-se, que os requerentes preferiam os
Cabidos de Toledo e outros mais pingues. Os documentos fo-
ram remettidos á commissaõ relativa aos Persas.
Naõ temos lugar de mencionar o grande numero de providen-
cias, que as Cortes tem adoptado; porém lembraremos as se-
guintes como as mais notáveis.
Expedio-se um decreto, restabelecendo varias providencias
das antigas Cortes, pelas quaes varias prebendas, e outros bene-
fícios simples ecclesiasticos se applicarara ás necessidades do
Estado; assim como a abolição da tortura, e outros muitos re-
gulamentos importantes.
Também se mandou uma circular a todos os Governadores das
Provincias Ultramarinas, ordenando-lhes, que remettessem im-
mediatamente relatórios das suas respectivas provincias, especi-
ficando o estado de cada uma, para que o Governo possa formar
idea exactadas opinioens, que ali existem.
A fira de abolir mais efficazmente a Inquisição, mandou-se
venderem hasta publica a propriedade daquelle estabelicimento,
começando pelo sumptuoso palauo do Inquisidor Geral em Ma-
drid ; e do outro em que se faziam as sessoens do Tribunal, «
Miscellanea. aoy
INGI.ATKRRA.
NÁPOLES.
RÚSSIA.
TURQUIA.
POLÍTICA.
Voi.xxv.flo < M 9 . 3B
372 Política.