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REFORMA DA PAC (2003)

INDICE
1) Antecedentes e contexto .............................................................................................2
2) Objectivos propostos para a reforma...........................................................................3
3) Principais medidas que integram a reforma ................................................................5
♦ Medidas horizontais.............................................................................................5
Regime de pagamento único ................................................................................5
Opções nacionais................................................................................................10
Modulação do valor das ajudas directas .............................................................12
Disciplina financeira imposta às despesas........................................................133
Condicionalidades a que os pagamentos directos irão estar sujeitos .................13
Novo “sistema de aconselhamento agrícola” ....................................................144
Reforço e diversificação do 2º pilar da PAC (desenvolvimento rural) .................15
♦ Medidas sectoriais.............................................................................................17
4) Perspectivas futuras ..................................................................................................18
♦ Abandono da produção e do território – medidas para o evitar..........................18
♦ Reconversão dos sistemas de produção agrícola – medidas para o incentivar .19
♦ Criação de um novo mercado de explorações e direitos....................................19
REFORMA DA PAC (2003)

1) Antecedentes e contexto
A reforma da PAC de 2003 insere-se numa linha de continuidade com as anteriores
reformas de 1992 e de 2000, apresentando no entanto características fortemente
inovadoras.
A PAC e os seus mecanismos proteccionistas, foram revelando ao longo do tempo uma
série de problemas: elevados custos, impopularidade junto aos consumidores,
distorção na alocação de recursos, efeitos ambientais negativos, conflitos a nível dos
parceiros comerciais da Comunidade, …
Estes problemas, de ordem interna e externa, tornaram a necessidade de reforma da
PAC consensual. A reforma de 1992 iniciou o processo de substituição gradual das
políticas de preços e mercados, em que se baseava a PAC, para uma política de apoio
directo aos rendimentos dos agricultores. O balanço desta primeira grande reforma da
PAC foi globalmente positivo, a nível do reequilíbrio dos mercados e da conclusão de
acordos no âmbito do GATT. No entanto, face a novas exigências como o alargamento
da União a novos países e um contexto internacional cada vez mais competitivo, a
Comissão Europeia apresentou, em Julho de 1997, a chamada «Agenda 2000»,
definindo as prioridades políticas para o início do século XXI, entre as quais se conta
nova reforma da PAC, à luz da avaliação das experiências anteriores.
As novas propostas, aplicadas a partir da campanha de comercialização 2000/2001,
prosseguem na via escolhida em 1992, orientando cada vez mais a PAC para o
mercado. Para além de preços competitivos é necessário oferecer produtos de alta
qualidade, que respeitem as normas de segurança.
A possibilidade de introdução de novas alterações na PAC antes do fim da
implementação da reforma da Agenda 2000 (2000-2006) ficou expressamente prevista.
A Comissão optou por apresentar em 2002 propostas para uma nova reforma mais
substancial do que a anterior e visando substitui-la. Estas propostas justificavam-se
pela necessidade de preparar o sector agrícola para novos desafios:
o Orientar as decisões de produção dos agricultores em função do mercado e não
do tipo de subsídio existente

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o Aumentar a capacidade de resposta da PAC para fornecer serviços públicos à
sociedade, legitimando-a assim mais perante os cidadãos
o Facilitar as negociações multilaterais de comércio no âmbito da OMC
o Resolver problemas decorrentes do alargamento da UE
O compromisso final da reforma de 2003 representa uma inflexão na lógica da PAC,
tendo como principais pontos inovadores a dissociação das ajudas directas, a
modulação, uma nova disciplina financeira, o princípio da eco-condicionalidade e a
flexibilidade de aplicação ao nível de cada Estado Membro. A dissociação das ajudas e
a modulação são, sem dúvida, os dois eixos principais desta reforma.

2) Objectivos propostos para a reforma

• Promover uma agricultura sustentável, mais orientada para o mercado.


As características actuais da PAC fomentam a existência de sistemas de produção
agrícola subsídio-dependentes, quando se torna cada vez mais importante que os
sistemas de produção sejam economicamente eficientes. A nova linha de orientação da
PAC pretende deixar aos agricultores a liberdade de se adaptarem às necessidades do
mercado, preservando assim os interesses dos consumidores e dos contribuintes.
A redução da ligação entre os subsídios e a produção permitirá que os agricultores se
tornem mais competitivos e se orientem mais para o mercado, beneficiando ao mesmo
tempo da necessária estabilidade de rendimento.

• Promover a qualidade dos alimentos e o respeito das normas ambientais

Deve ser reconhecida a importância de algumas funções que podem também ser
desempenhadas pelos agricultores como a valorização e preservação dos recursos
naturais, paisagem e património rural, a segurança alimentar e outras funções não-
comercializáveis. Este reconhecimento legitima a transferência de rendimentos para os
agricultores, com o objectivo específico de remunerar essas funções. É no âmbito do
desenvolvimento rural que se encontram os principais instrumentos de apoio à
agricultura multifuncional, pretendendo-se o seu reforço financeiro.
A integração das componentes do ambiente, segurança alimentar e bem-estar animal
como condicionantes para os apoios financeiros permitirá ir ao encontro da opinião
pública europeia e das prioridades definidas para o sector.

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• Simplificar o sistema de ajudas directas
A simplificação visa essencialmente a redução da carga burocrática associada ao
controle das declarações de produção e das superfícies cultivadas dos agricultores.

• Aplicação mais descentralizada da política agrícola comum


Com a margem de manobra deixada aos Estados Membros, que pode ser exercida ou
não, a PAC evolui para um modelo de aplicação mais descentralizada, permitindo
aplicar políticas agrícolas diferenciadas consoante as regiões ou sistemas de produção.

• Estabilizar as despesas agrícolas na União alargada


O crescimento contínuo das despesas agrícolas levou à necessidade de uma disciplina
orçamental para a PAC. Em 1988 foi criada uma “linha directriz agrícola” que determina
o montante máximo que pode ser consagrado à agricultura e a evolução que as
despesas anuais podem registar. O Concelho Europeu de Bruxelas de Outubro de
2002 estabeleceu como nova linha directriz para as despesas agrícolas o nível da
despesa prevista para 2006, aumentada de 1% anualmente até 2013. Este
congelamento das despesas, num cenário de alargamento da UE, tornou obrigatória a
criação de um mecanismo de disciplina financeira.

• Reforçar a posição da UE nas negociações da OMC


A agricultura passou a integrar a lógica da globalização do comércio a partir da Ronda
Uruguay do GATT, concluída em 1994, continuando o processo de liberalização do
comércio agrícola com a actual ronda de negociações. O desligamento das ajudas
contribui para o reforço da posição da UE no contexto das negociações da OMC
porque, sendo as ajudas ligadas à produção consideradas um factor de distorção da
concorrência internacional, a sua prevista eliminação aliviou a pressão sobre a UE,
tendo já permitido chegar a um pré-acordo sobre alguns pontos do dossier agrícola
com os Estados Unidos. A redução das protecções tarifárias no âmbito dos acordos da
OMC vai também exigir aos produtores um maior nível de competitividade, o que já é
um dos objectivos propostos para a reforma.

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3) Principais medidas que integram a reforma

• Medidas horizontais

Regime de pagamento único

No sentido de completar a transição do apoio à produção para o apoio ao produtor é


introduzido um sistema de apoio ao rendimento, dissociado da produção, para cada
exploração agrícola. Os diversos pagamentos directos de que o agricultor beneficia
actualmente, baseados em superfícies e número de cabeças, são combinados num
pagamento único desligado da produção, a estabelecer com base em direitos
anteriores, num período de referência. O período de referência inclui os anos de 2000,
2001 e 2002. Para o sector do azeite esse período será compreendido entre 1999 e
2003 (4 campanhas de comercialização).

♦ Ajudas directas abrangidas


O regime irá abranger, a partir de 2005, todos os produtos incluídos no regime das
culturas arvenses (cereais, oleaginosas e proteaginosas), o arroz e ainda as
leguminosas para grão, as forragens secas, o lúpulo, a carne de bovino e os ovinos e
caprinos. Serão também integrados no regime os pagamentos para o azeite, algodão e
tabaco a partir de 2006 e os pagamentos no sector do leite a partir de 2007.

♦ Elegibilidade
Os agricultores têm acesso ao regime de pagamento único se:
a) Lhes tiver sido concedido um pagamento directo a título de pelo menos um dos
regimes atrás referidos, no período de referência
b) Tiverem recebido a exploração ou parte desta, por herança de um agricultor
elegível
c) Tiverem recebido direitos pela reserva nacional ou por transferência
No entanto, se os agricultores não se candidatarem ao regime de pagamento único
no primeiro ano de aplicação deste regime não lhes serão atribuídos quaisquer
direitos, para isso devem ter actividade agrícola nesse ano, sendo considerada
como actividade agrícola, para além da produção agrícola e pecuária, a
manutenção das terras em boas condições agrícolas e ambientais.

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♦ Montante de referência
O montante de referência é a média dos montantes totais dos pagamentos concedidos
a um agricultor a título dos regimes de apoio incluídos no pagamento único, no período
de referência. Os montantes considerados são os montantes calculados sem aplicação
de eventuais sanções do Sistema Integrado de Gestão e Controlo.
Sempre que um agricultor inicie a sua actividade agrícola durante o período de
referência a média será a dos pagamentos concedidos no ano ou anos em que exerceu
a actividade agrícola.

Estes montantes são ajustados de acordo com a seguinte tabela:

Produtos Montante actual da ajuda Montante referência


2003/2004
Cereais 63
Oleaginosas 63
Silagem de forragem 63 euros/ton x rendimento 63 euros/ton x rendimento
Retirada de terras da produção 63 definido no plano de definido no plano de
Proteaginosas 72,5 regionalização regionalização
Arroz 318,53 euros/ha 617,1 euros/ha
Lentilhas e grão de bico 181 euros/ha 181 euros/ha
Ervilhaca 181 euros/ha 175,02 euros/ha em 2000,
176,6 euros/ha em 2001 e
150,52 euros/ha em 2002
Prémios e suplementos para o Montante por cabeça fixado
gado para o ano de 2002

♦ Determinação dos direitos


O número total de direitos atribuído a cada agricultor é igual ao número médio de
hectares que, no período de referência, tenha dado direito aos pagamentos directos,
incluindo a totalidade da superfície forrageira e as áreas em pousio voluntário. As áreas
são consideradas sem eventuais sanções do SIGC.

Direito por hectare = Montante de referência


Nº total de direitos

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Quando, no período de referência, um agricultor tenha estado sujeito à obrigação de
retirar da produção parte das terras da sua exploração, o agricultor recebe direitos por
retirada de terras. O número total desses direitos será igual ao número médio de
hectares sujeitos à retirada de terras obrigatória.

Direito por retirada de terras= Montante médio da retirada de terras


Nº total de direitos por retirada de terras

Está ainda prevista a atribuição de direitos sujeitos a condições especiais para os


agricultores que beneficiaram no período de referência de determinados pagamentos,
como prémios ao abate, que não estavam associados a uma superfície e por isso não
dispunham de hectares no período de referência ou cujo direito por hectare
corresponda a um montante superior a 5000 euros. Nestes casos, o montante de
referência é dividido em fracções de 5000 euros e cada fracção corresponde a um
direito. Estes direitos podem ser utilizados sem hectares elegíveis na condição de
manterem pelo menos 50% da actividade pecuária exercida no período de referência e
que deu origem aos direitos, expressa em cabeças normais.

♦ Utilização dos direitos


A fim de evitar a acumulação de direitos que não correspondam a uma realidade
agrícola, a concessão da ajuda depende da ligação entre os direitos e um determinado
número de hectares elegíveis.
Por “hectare elegível” entende-se a superfície agrícola da exploração ocupada por
terras aráveis e pastagens permanentes, com excepção das superfícies ocupadas por
culturas permanentes ou florestas, ou afectas a actividades não agrícolas. O olival vai
passar a ser elegível para o “hectare elegível” quando o azeite for integrado no
pagamento único, ou seja em 2006.
O agricultor declara as parcelas que correspondem a um hectare de superfície elegível
e activa assim um direito ou seja será efectuado o pagamento do montante fixado pelo
direito. Estas parcelas devem estar à disposição do agricultor durante um período de
pelo menos 10 meses, contados a partir de 15 de Janeiro de 2005, no primeiro ano de
aplicação.

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Os agricultores podem utilizar as parcelas declaradas para qualquer actividade
agrícola, excepto para culturas permanentes e para a produção de frutas, hortícolas e
batatas (não destinadas ao fabrico de fécula). Esta restrição destina-se a evitar
distorções de concorrência com produtores destas culturas já estabelecidos.
A partir de 2006, os agricultores vão poder cultivar hortícolas e batatas durante 3
meses do ano, após 15 de Agosto.
Do mesmo modo para a activação de direitos por retirada de terras é necessário
declarar parcelas elegíveis para esse efeito, sendo que a definição de “hectare
elegível” para este efeito é a de superfície agrícola da exploração ocupada por terras
aráveis, com excepção das superfícies ocupadas por culturas permanentes ou
florestas, ou afectas a actividades não agrícolas ou a pastagens permanentes.
Os agricultores devem retirar da produção os hectares elegíveis para os direitos por
retirada de terras, com excepção das explorações em modo de produção biológico ou
para a produção de matérias-primas não-alimentares.
Os direitos à retirada de terras também podem ser transferidos para outro agricultor,
por venda, com ou sem terras. No entanto, a obrigação de retirada de terras continuará
a aplicar-se aos direitos à retirada de terras que sejam transferidos.
Os direitos por retirada de terras são reclamados antes de qualquer outro direito.
Estão a ser definidas questões particulares como:
- atribuição de direitos nos casos de compromissos agro-ambientais
- definição de “actividade agrícola”
- fixação de datas para efeitos de elegibilidade e tramitação processual
- elegibilidade de áreas sob coberto de arvóres
- situação das pastagens permanentes

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♦ Limite máximo nacional
A soma dos montantes de referência não pode exceder, em relação a cada Estado-
Membro, um limite máximo nacional cujo valor para Portugal será:
2005 e 2006: 452 milhões de euros
2007 e seguintes: 518 milhões de euros
Deste modo, Portugal procederá, sempre que necessário, a uma redução percentual
linear dos montantes de referência, que garanta o respeito por estes limites. O
montante de referência para Portugal não é, em princípio, restritivo para o pagamento
na íntegra do histórico de ajudas de cada agricultor.

♦ Reserva nacional
É estabelecida uma reserva nacional de direitos, a fim de atender a situações
específicas e de facilitar a participação de novos agricultores no regime. A reserva
nacional será inicialmente constituída por uma redução percentual dos montantes de
referência, não superior a 3% e incluirá ainda a diferença entre o limite máximo
nacional e a soma dos montantes de referência.
A reserva nacional será alimentada pela inclusão de todos os direitos que não forem
utilizados durante 3 anos seguidos e dos direitos resultantes de eventuais penalizações
sobre transferências sem terra.
Os direitos por retirada de terras ao reverterem para a reserva nacional passam a ser
direitos iguais aos outros, uma vez que o que entra na reserva são montantes.
A reserva nacional pode ser utilizada para conceder montantes de referência a:
− Agricultores que iniciem a sua actividade depois de 31/12/2002 ou em 2002
mas sem receberem nesse ano qualquer pagamento directo
− Agricultores que se encontrem numa situação especial (a definir). Podem ser
enquadrados alguns tipos de investimentos, reconversão da produção e
programas de reestruturação.
− Agricultores em zonas sujeitas a programas de reestruturação e/ou
desenvolvimento relacionados com intervenções públicas
Serão definidos critérios de acesso à reserva e de atribuição de montantes.
Se a reserva nacional não for suficiente para cobrir os dois primeiros casos, o Estado
Membro deverá proceder a novas reduções lineares dos direitos.

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A redução aplicada no primeiro ano será de igual forma aplicada aos sectores que
forem mais tarde incluídos no pagamento único, como o azeite em 2006 e o leite em
2007.
Os direitos estabelecidos por utilização da reserva nacional não podem ser transferidos
durante um período de 5 anos a contar da sua atribuição. Se não forem utilizados em
todos os anos desse período reverterão de novo para a reserva nacional. Estão ainda
sujeitos à completa utilização durante 5 anos todos os direitos que forem estabelecidos
como de início de actividade durante o período de referência.

♦ Transferência de direitos
Os direitos podem ser transferidos por venda ou por qualquer outra transferência
definitiva, com ou sem terras, para outro agricultor do mesmo Estado-Membro. O
arrendamento ou a cedência de direitos só é permitida se os direitos transferidos forem
acompanhados da transferência de um número equivalente de hectares elegíveis.
A transferência sem terras só é permitida se o agricultor tiver utilizado pelo menos 80%
dos seus direitos durante o mínimo de um ano ou se tiver cedido à reserva nacional os
direitos não utilizados no primeiro ano de aplicação do regime.

Opções nacionais

O princípio da flexibilidade foi criado na reforma da Agenda 2000 ao consagrar os


“envelopes nacionais”. Nesta reforma o princípio foi levado mais longe atribuindo aos
E.M. uma considerável liberdade de escolha entre opções de dissociação.

− Implementação regional
Os Estados-Membros podem decidir, até 1/8/2004, aplicar o regime de pagamento
único a nível regional. Optando pela implementação regional o limite máximo nacional
será subdividido pelas regiões e os limites máximos regionais ou parte destes podem
ser repartidos por todos os agricultores da região, incluindo os que não preencham os
critérios de elegibilidade. Esta opção permite ainda que as terras declaradas sejam
utilizadas na produção de hortícolas e de batatas e que os valores unitários dos direitos
sejam diferenciados para terras ocupadas com prados ou pastagens permanentes
aquando do pedido de ajuda para 2003.

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Portugal optou pela não adopção deste modelo regional, preferindo implementar o
regime de pagamento único segundo um modelo de histórico individual.

− Implementação parcial
Os Estados-Membros podem decidir, até 1/8/2004, aplicar o regime de pagamento
único de forma parcial, mantendo parte das ajudas ligadas à produção. Nesse caso a
componente do montante de referência resultante de cada um dos pagamentos
directos é reduzida numa certa percentagem e o Estado-Membro efectua pagamentos
complementares por hectare ou por animal.
Culturas arvenses – Retenção até 25% dos pagamentos por superfície para as culturas
arvenses, com excepção dos pagamentos pela retirada de terras obrigatória ou
retenção até 40% do pagamento do complemento para o trigo duro.
Ovinos e caprinos – Retenção até 50% dos pagamentos para os ovinos e caprinos
(prémio base e prémio suplementar para as regiões desfavorecidas)
Carne de bovino – 1) Retenção até 100% do prémio ao abate para os vitelos
2) a) Retenção até 100% do prémio por vaca em aleitamento e
respectivo prémio nacional suplementar e retenção até 40% do prémio ao
abate para os bovinos que não os vitelos
ou
b) Retenção até 100% do prémio ao abate para os bovinos que não os
vitelos ou retenção até 75% do prémio especial por bovino macho
O arroz e a retirada de terras obrigatória não têm opção de implementação parcial.
Portugal optou pelo desligamento total nas culturas arvenses, pela retenção máxima
nos ovinos e caprinos (fica desligado o envelope nacional) e pelas opções 1) e 2)a)
com retenção máxima na carne de bovino. No sector da carne de bovino ficam portanto
desligados o prémio especial para bovinos machos, o pagamento por extensificação e
os pagamentos complementares.

− Implementação facultativa para produtos de qualidade e agricultura específica


Os Estados-Membros podem reter até 10% dos montantes dentro de cada sector para
efectuar pagamentos complementares aos agricultores desse sector que pratiquem
tipos específicos de agricultura importantes para a protecção ou a valorização do
ambiente ou para melhorar a qualidade e a comercialização de produtos agrícolas.

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Em Portugal irá proceder-se a uma pequena retenção nos sectores das arvenses,
arroz, bovinos e ovinos e caprinos para apoio à agricultura biológica (1%), em
articulação com o PNDAB.

− Período transitório
Os Estados-Membros podem decidir, até 1/8/2004, aplicar o regime de pagamento
único nos anos civis de 2005, ou 2006 ou 2007.
Portugal optou por aplicar o regime no ano civil de 2005

− Outras opções
Os Estados-Membros podem decidir que os direitos só possam ser transferidos ou
utilizados dentro de uma mesma região. Em Portugal deverá ser tomada uma decisão
quanto ao estabelecimento de zonas de rendimento homogéneo, para eventual
limitação à utilização de direitos e transferências.
Os Estados-Membros podem decidir que em caso de venda de direitos, com ou sem
terras, uma parte desses direitos reverta para a reserva nacional ou que o seu valor
unitário seja reduzido a favor dessa reserva.

Modulação do valor das ajudas directas


Todos os pagamentos directos acima de 5000 Euros/agricultor serão reduzidos
anualmente na seguinte percentagem:
2005 – 3%
2006 – 4%
2007 a 2012 – 5%
Esta franquia permite isentar da redução 96% dos agricultores portugueses.
Na prática a retenção é feita a todos os agricultores, quando recebem o pagamento
único, entre 1 de Dezembro e 30 de Junho. O montante retido aos agricultores com
montante de referência inferior a 5000 Euros é-lhes redistribuído mais tarde, a partir de
30 de Setembro, sob a forma de um montante suplementar de ajuda.
As poupanças daí resultantes serão utilizadas para financiar medidas de
desenvolvimento rural e repartidas pelos E.M. Um ponto percentual dos fundos gerados
pela modulação permanecerá nos Estados-Membros em que foram gerados. Os
montantes correspondentes aos restantes pontos percentuais serão atribuídos aos
Estados-Membros, em função dos seguintes elementos:
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o Superfície agrícola
o Emprego agrícola
o PIB por habitante em poder de compra
Esta redistribuição seria uma forma de compensar os países mais prejudicados pela
distribuição dos apoios do FEOGA-Garantia, mas esta compensação foi muito
atenuada pela introdução da obrigatoriedade de cada E.M. receber pelo menos 80%
dos seus fundos de modulação. Para Portugal o reforço estimado do orçamento para o
Desenvolvimento Rural será de 32,8 Meuros. B
Nos Estados-Membros cuja produção de centeio seja superior a 5% da sua produção
total de cereais e a 50% da produção comunitária total de centeio, 90% do montante
resultante da modulação permanecerá no país. Pelo menos 10% desse montante será
gasto nas regiões produtoras de centeio.

Disciplina financeira imposta às despesas


As dotações para o financiamento da PAC devem respeitar os limites máximos anuais
fixados nas Perspectivas Financeiras. Sempre que as previsões apontem para um
excesso, tendo em conta uma margem de 300 milhões de euros abaixo dos montantes
previstos e antes de aplicada a modulação, será determinado um ajustamento do apoio
directo. A novidade deste conceito é esta modulação adicional ser automaticamente
aplicada, sempre que se verifiquem as condições definidas.

Condicionalidades a que os pagamentos directos irão estar sujeitos


Qualquer agricultor que beneficie de pagamentos directos deve respeitar os requisitos
legais de gestão nos domínios da saúde pública, saúde animal e fitossanidade,
ambiente e bem-estar dos animais e os requisitos mínimos para as boas condições
agrícolas e ambientais, sob pena de redução ou exclusão dos pagamentos.
Os requisitos legais de gestão são estabelecidos pela legislação comunitária ( 18
directivas e regulamentos). Os requisitos mínimos para as boas condições agrícolas e
ambientais são definidos por cada Estado-Membro, a nível nacional ou regional., e
devem visar a protecção do solo, a manutenção do seu teor de matéria orgânica e da
sua estrutura e assegurar um nível mínimo de manutenção. O controle do respeito
destas condições implica o estabelecimento de indicadores precisos e quantificáveis

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que possam ser imputáveis aos agricultores. Estas condições devem ser asseguradas
por todos os agricultores, incluindo os que optarem por não produzir.
Se os controlos relativos à condicionalidade não puderem ser concluídos antes do
pagamento, quaisquer pagamentos indevidos serão recuperados.
Os Estados-Membros devem assegurar também que seja mantida a relação entre as
terras ocupadas com pastagens permanentes e a totalidade da superfície agrícola, não
podendo esta relação diminuir em mais de 10% relativamente à relação de referência
para 2003. Caso se verifique que a relação está a diminuir, o Estado-Membro
determinará a obrigação dos agricultores não reafectarem a outras utilizações terras
ocupadas com pastagens permanentes e poderá ainda determinar a obrigação dos
agricultores de reconverter terras em pastagens permanentes.
Os montantes resultantes da aplicação da condicionalidade são creditados ao FEOGA,
secção “Garantia”, podendo os Estados-Membros reter 25% desses montantes.

Novo “sistema de aconselhamento agrícola”


Até 1 de Janeiro de 2007, os Estados-Membros devem criar um sistema de
aconselhamento aos agricultores em matéria de gestão das terras e das explorações,
no que diz respeito, pelo menos, aos requisitos legais de gestão e às boas condições
agrícolas e ambientais.
Os agricultores podem participar voluntariamente no sistema de aconselhamento
agrícola, o qual será um auxílio aos agricultores no cumprimento das regras associadas
à condicionalidade. Serão efectuadas auditorias às explorações através de balanços e
contabilizações dos fluxos físicos e dos processos relevantes
Será concedido um apoio aos agricultores para ajudá-los a suportar os custos da
utilização de serviços de aconselhamento agrícola, com o máximo de 80% dos custos
elegíveis e um limite de 1500 euros/serviço.

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Reforço e diversificação do 2º pilar da PAC (desenvolvimento rural)
Haverá um aumento significativo dos fundos da União Europeia disponíveis para o
desenvolvimento rural, bem como a introdução de novas medidas. Os Estados-
Membros deverão decidir da integração dessas medidas nos seus programas de
desenvolvimento rural. O aumento de fundos é obtido por transferência das ajudas do
1º pilar (ajudas directas) para as ajudas ao investimento e agroambientais. Houve no
entanto uma redução substancial das transferências inicialmente previstas pelo que o
desejado reequilíbrio entre o 1º e o 2º pilar da PAC não foi ainda atingido.

− Novos incentivos de qualidade para os agricultores


Será concedido apoio aos agricultores que participem em regimes, comunitários ou
nacionais, destinados a melhorar a qualidade dos produtos agrícolas e o processo
produtivo e a dar garantias aos consumidores nesses domínios. O apoio será
concedido sob a forma de um pagamento anual, que não pode exceder o máximo
de 3000 euros por exploração ao longo de um período máximo de 5 anos.
Serão também concedidos apoios a agrupamentos de produtores para actividades
de informação, promoção e publicidade no âmbito dos sistemas de qualidade
apoiados, até um máximo de 70% dos custos elegíveis.

− Novos apoios para auxiliar os agricultores a cumprir as normas


Pode ser concedido um apoio aos agricultores que devam aplicar normas exigentes,
baseadas na legislação comunitária e recém-introduzidas na legislação nacional,
em matéria de ambiente, saúde pública e animal, fitossanidade, bem-estar dos
animais e segurança no trabalho. A ajuda ficará sujeita a um limite máximo de
10000 euros anuais por exploração e será degressiva ao longo de um máximo de 5
anos.

− Novos apoios para utilização dos serviços de aconselhamento agrícola


Pode ser concedido um apoio aos agricultores para ajudá-los a cobrir as despesas
decorrentes da utilização destes serviços. O montante total do apoio será limitado a
80% dos custos elegíveis, sem exceder o montante máximo elegível de 1500 Euros
por serviço de aconselhamento.

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− Cobertura dos custos dos agricultores no domínio do bem-estar animal
É concedido um apoio aos agricultores que assumam compromissos, durante pelo
menos 5 anos, relativos à melhoria do bem-estar dos seus animais que
transcendam as boas práticas pecuárias. O montante máximo elegível é de 500
euros/CN.

− Melhor apoio ao investimento para os jovens agricultores


A fim de facilitar a instalação de jovens agricultores e o ajustamento estrutural das
suas explorações é reforçado o apoio específico aos jovens agricultores, em
percentagem do investimento elegível, para um máximo de 50% e 60% nas zonas
desfavorecidas. A ajuda à primeira instalação de Jovens Agricultores poderá atingir
os 30 000 Euros caso estes recorram a serviços de aconselhamento agrícola para o
arranque da sua actividade.

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• Medidas sectoriais

Situação actual Reforma 2003

Cereais Majorações mensais para o preço de intervenção Mantiveram-se mas são reduzidas em 50%
Intervenção para o centeio ao nível geral dos Abolição da intervenção para o centeio
cereais
Proteaginosas Ajuda complementar específica de 9,5 €/t x Complemento único de 55,57 €/ha
produtividade de referência
Arroz Preço de intervenção: 298,35 €/t Preço de intervenção:150 €/t
Ajuda directa de 52,65 €/t x produtividade de Pagamento complementar de 177 €/t. Deste
referência valor, 102 €/t serão integrados no regime do
pagamento único. Os restantes 75 €/t serão
atribuídos sob a forma de uma ajuda
específica à produção.
Com a nossa produtividade média nacional
atribuída (6,05 t/ha), o montante da ajuda a
atribuir aos produtores de arroz, na próxima
campanha é de 1070,85 €/ha.
Superfície de base nacional: 34 000 ha Superfície de base nacional: 24 667 ha
Leite Regime de quotas em vigor até 2008 Manutenção do regime de quotas até
Agenda 2000 (a partir de 2005/2006) 2014/2015
Redução dos preços de intervenção de 15% em Antecipação em um ano da Agenda 2000
3 anos Reduções assimétricas dos preços: 15% em
3 anos para o leite em pó desnatado e 25%
em 4 anos para a manteiga (redução
Aumento global da quota de 2,39% adicional de 10% face à Agenda 2000)
Aumento da quota nacional em 1,5% em 3
Prémio às vacas leiteiras passando de 5,75 €/t anos a partir de 2006/07
de quota para 17,24 €/t em 3 anos + pagamento Prémio aos produtos lácteos + pagamento
complementar por t de quota ou por ha de complementar no total de:
pastagem permanente 2004 : 11,81 €/t
2005: 23,65 €/t
2006: 35,5 €/t
Ajuda dissociada para o leite só a partir de
2007, com base na quota detida a 31/3/2007
Frutos de Medidas específicas revogadas em 1996, mas Ajuda comunitária de base de 120,75 €/ha,
casca rija possibilidade de acabar os projectos existentes atribuído a uma superfície máxima garantida
(10 anos) nacional de 41 300 ha. Os Estados-
Membros podem completar este pagamento
com uma ajuda nacional de montante igual.
Carne de Limite máximo nacional para o nº de prémios Nº de prémios para vacas em aleitamento
bovino para vacas em aleitamento – 277539 + 48 000 para Portugal será aumentado para 445 000
Azeite Ajuda à produção de 132,25 euro/100 Kg de Nas explorações de superfície inferior a 0,3
azeite efectivamente laborado em lagar ha os pagamentos são totalmente
reconhecido dissociados a partir de 2006
Nas restantes 60% dos pagamentos são
convertidos em direitos no âmbito do regime
do pagamento único. Os E.M. podem reter
40% para pagamentos suplementares
Retenção de 1,4% da ajuda para acções Os E.M. podem dedicar 10% das QMN a
destinadas a melhorar a qualidade do azeite medidas de qualidade
Culturas Ajuda anual de 45 euros/ha para superfícies
energéticas destinadas a biocombustíveis e produção de
energia eléctrica e térmica a partir de
biomassa

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4) Perspectivas futuras

♦ Abandono da produção e do território – medidas para o evitar


Uma das principais críticas ao sistema dissociado de ajudas directas é o risco de
abandono da produção, tendo em conta que o novo sistema permite que os
agricultores recebam as ajudas sem serem obrigados a produzir.
O risco de abandono é particularmente importante nas regiões mais desfavorecidas,
onde as produtividades são baixas e a competitividade menor. As regiões com níveis
mais baixos de rendimento agrícola são também as que beneficiam de um nível mais
baixo de apoio por parte da PAC, com a agravante desta assimetria ser perpetuada
pela referência histórica A desejada multifuncionalidade da agricultura nessas regiões,
associando a função produtiva a um conjunto de outras funções produtoras de bens
não transaccionáveis, pode estar em risco ao ser abandonada a actividade agrícola.
Assim para minorar este efeito foi introduzido o princípio da dissociação parcial com as
suas três variantes:
− Pagamento de ajudas suplementares ligadas à produção nalguns sectores como
proteaginosas e arroz
− Isenção de algumas ajudas, que continuam a ser atribuídas de forma ligada à
produção como é o caso de todas as ajudas atribuídas nos Açores e na Madeira
− Possibilidade de os Estados-Membros manterem uma certa % de ajudas ligadas à
produção em sectores cuja regra geral é a aplicação da dissociação.
Esta flexibilidade permite a cada Estado-Membro adoptar soluções diferenciadas em
função dos seus sistemas agrários
As regras de condicionalidade, o reforço das medidas agro-ambientais e o aumento do
número de prémios aos bovinos constituem também um contributo para a minimização
dos riscos de abandono e simultaneamente para a reconversão dos sistemas de
produção. De qualquer forma é sempre de esperar um período de adaptação às novas
regras, com algumas dificuldades e constrangimentos.

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• Reconversão dos sistemas de produção agrícola – medidas para o

incentivar
É dada aos agricultores a possibilidade de reconverterem as suas explorações para
esquemas de produção mais adequados à sua estrutura e condições edafo-climáticas,
tendo assegurada uma estabilidade de rendimentos no horizonte temporal abrangido
(2004-2013). As decisões de produção poderão passar a ser feitas em função da
remuneração do mercado, melhorando assim a racionalidade económica das
explorações. No entanto, foram introduzidas restrições à liberdade de produzir, nalguns
sectores, para evitar distorções de concorrência entre produções e produtores, pelo
que este tipo de reconversão pode ser dificultado.
A reconversão pode ser feita no sentido de passar a praticar actividades socialmente
sustentáveis ou seja a produção de produtos com uma função específica bem
determinada, como segurança alimentar ou segurança energética, e que originam
transferências de rendimento no contexto das novas medidas de política agrícola.
Estas produções podem, no entanto, sofrer a concorrência da importação de bens
alimentares não sujeitos a regras idênticas.
O incentivo a sistemas agrícolas específicos, importantes para a preservação do
ambiente e da qualidade dos produtos pode ser facilitado pela possibilidade dos
Estados-Membros reservarem até 10% das ajudas para esse efeito.

♦ Criação de um novo mercado de explorações e direitos

Os direitos passam a constituir um novo bem, que pode ser transaccionado. O seu
valor irá depender da perspectiva de duração do rendimento associado. Este novo
mercado que resulta do processo de desligamento poderá ter maior ou menor
mobilidade, consoante a forma como for regulamentado. Dependendo desta mobilidade
a reconversão para sistemas de produção economicamente mais eficientes poderá ser
mais ou menos facilitada.

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