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GENÉTICA E CRIMINALIDADE

A influência dos genes na vida psíquica do indivíduo poderá ser equacionada de relevante (ou
não), não apenas enquanto determinante directa de uma maior propensão agressiva, mas também
enquanto determinante indirecta; ao atribuir ao sujeito determinadas características (herdadas
genéticamente) como a debilidade intelectual ou a impulsividade, as quais, particularmente se
conjugadas no mesmo indivíduo, não deixarão de se repercutir na inserção vivencial do sujeito e
potenciar um comportamento homicida. E, se adicionarmos a estas características do indivíduo uma
educação propiciada por pais igualmente limitados, eventualmente alcoólicos, e vivendo num meio
degradado, percebemos como certas características biológicas se podem associar a factores culturais,
educativos ou sociais, no sentido de potenciarem circunstâncias que levem o sujeito a cometer um
homicídio.
Alvo do maior interesse e estudo têm sido as mutações genéticas. As relativas ao cromossoma 47
foram, desde há muito apontadas como um dos factores causais deste aumento de agressividade e
criminalidade.
Contribuiu para isso o facto de os indivíduos com um cariótipo 47xyy (síndrome da
supermasculinidade), ou seja, com um cromossoma y suplementar, terem, além da frequente debilidade
mental, propensão à violência e serem, frequentemente encontrados entre a população prisional numa
percentagem maior do que seria de esperar.
A hipótese de o cromossoma X propiciar um ser menos agressivo não parece convincente porque
as mulheres com síndroma de Turner (XO) não são mais agressivas que as mulheres normais (XX)
enquanto as mulheres com triplo XXX evidenciam mais problemas comportamentais que as mulheres
normais.
A importância da hereditariedade é demonstrada em traços de carácter como a agressividade, a
impulsividade ou a maior instabilidade emocional.
Lagerspetz, na Finlândia, separou, a partir de uma adopção cruzada, os ratos mais agressivos dos
não agressivos. Após cruzar algumas gerações de ratos (machos e fêmeas) obteve uma espécie altamente
agressiva. Similarmente, quando se cruzavam ratos de diferente género não agressivos obtinha-se uma
espécie de ratos não agressivos que dificilmente reagia às provocações de que era vítima. O investigador
demonstrou que as diferenças entre a agressividade dos ratos não só se deviam a factores do meio, mas
também a factores genéticos.
Poder-se-ia deduzir que nos humanos tudo se passaria de modo semelhante. No entanto, o facto
de estes terem uma enorme capacidade de aprendizagem, não permite extrapolar que as conclusões
obtidas a partir de investigações com animais sejam sobrepostas e extensíveis aos seres humanos. Por
isso, estudos de gémeos e estudos de adopção passaram a ter uma grande importância.
A agressão não se trata de um traço de personalidade herdado, mas os factores que influenciam a
agressão podem ser transmitidos geneticamente. Esses factores incluem o perfil de actividade hormonal,
os limiares de activação das estruturas cerebrais e, evidentemente, as epilepsias geneticamente
transmitidas.

Teresa F. Deus

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