Dia após dia, episódio após episódio, vem se confirmando o cenário que traçamos aqui
desde meados do ano passado: o suicídio do PSDB apostando as fichas em José Serra; a
reestruturação partidária pós-eleições; o novo papel de Aécio Neves no cenário político;
o pacto espúrio de Serra com a velha mídia, destruindo a oposição e a reputação dos
jornais; os riscos para a liberdade de opinião, caso ele fosse eleito; a perda gradativa de
influência da velha mídia.
Daqui para frente, o outrora glorioso PSDB, que em outros tempos encarnou a
esperança de racionalidade administrativa, de não-sectarismo, será reduzido a uma
reedição do velho PRP (Partido Republicano Paulista), encastelado em São Paulo e
comandado por um político ± Geraldo Alckmin ± sem expressão nacional.
Levará anos para que o rancor seja extirpado da comunidade dos jornalistas, diluindo o
envenenamento geral que tomou conta da classe.
A verdadeira história desse desastre ainda levará algum tempo para ser contada, o pacto
com diretores da velha mídia, a noite de São Bartolomeu, para afastar os dissidentes, os
assassinatos de reputação de jornalistas e políticos, adversários e até aliados, bancados
diretamente por Serra, a tentativa de criar dossiês contra Aécio, da mesma maneira que
utilizou contra Roseana, Tasso e Paulo Renato.
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Em todo esse período, Serra pensou apenas nele. Sua campanha foi montada para
blindá-lo e à família das informações que virão à tona com o livro do jornalista Amaury
Ribeiro Jr e da exposição de suas ligações com Daniel Dantas.
A interrupção da entrevista à CNT expôs de maneira didática essa estratégia que vinha
sendo cantada há tempos aqui, para explicar uma campanha eleitoral sem pé nem
cabeça. Seu argumento para Márcia Peltier foi: ocorreu um desrespeito aos direitos
individuais da minha filha; o resto é desculpa para esconder o crime principal.
Para salvar a pele, não vacilou em destruir a oposição, em tentar destruir a estabilidade
política, em liquidar com a carreira de seus seguidores mais fiéis.
Mesmo depois que todas as pesquisas qualitativas falavam na perda de votos com o
denuncismo exacerbado, mesmo com o clima político tornando-se irrespirável,
prosseguiu nessa aventura insana, afundando os aliados a cada nova pesquisa e a cada
nova denúncia.
Com isso, expôs de tal maneira a filha, que não será mais possível varrer suas estripulias
para debaixo do tapete.
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Dia após dia, mês após mês, quem tem sensibilidade analítica percebia movimentos
tectônicos irresistíveis da história.
E o gauchão, dando de ombros: meus eleitores não ligam para essa imprensa. Nem me
lembro do seu nome. Mas seu desprezo pela força da velha mídia, sem nenhuma
presunção de heroísmo, de fazer história, ainda será reconhecido como o momento mais
simbólico dessa nova era.
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De jornal nacional, com tiragem e influência distribuídas por todos os estados, a Folha
foi se tornando mais e mais um jornal paulista, assim como o Estadão. A influência da
velha mídia se viu reduzida à rede Globo e à CBN. A Abril se debate, faz das tripas
coração para esconder a queda de tiragem da Veja.
Em breve, mudanças na Lei Geral das Comunicações abrirão espaço para novos grupos
entrarem, impondo finalmente a modernização e o arejamento ao derradeiro setor
anacrônico de um país que clama pela modernização.
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Dia desses, me perguntaram no Twitter qual a probabilidade da imprensa ser calada pelo
próximo governo. Disse que era de 25% - o percentual de votos de Serra. Espero, agora,
que caia abaixo dos 20% e que seja ultrapassado pela umidade relativa do ar, para que
um vento refrescante e revitalizador venha aliviar a política brasileira e o clima de São
Paulo.