Resumo
Tomando como proposito o estudo do folclore nas escolas de anos iniciais do ensino
fundamental, a pesquisa visa mostrar os olhares dos professores acerca do ensino das
características folclóricas que podem ser levadas à sala de aula como proposta metodológica,
prática, de conteúdo pedagógico e de possibilidade de trabalho para a aprendizagem.
Elencado o que é o folclore, sendo a cultura implícita e caracterizadora de um povo, utilizou-
se as respostas obtidas através de questionários entregues em duas escolas de uma cidade do
sul do Paraná para criar um elo entre a prática e a teoria, esta apresentada por bibliografias de
autores como Megale (2003), Brandão (1984), Cachambu et.al. (2005), entre outros, fazendo
uma ponte entre o que já encontramos com o que ainda precisamos reforçar para que o ensino
do folclore se consolide de maneira mais aprofundada. Assim, observou-se que os professores
sabem o que é a ciência do povo, mas de maneira superficial, ou seja, reconhecem algumas
manifestações, conteúdos, características e maneiras de utiliza-las na sala de aula, mas não se
ampliam para fazer os alunos se inserirem nos contextos culturais que abrangem a temática.
Por exemplo, percebeu-se uma falha no trabalho com obras de arte e suas ramificações, visto
que no Brasil é vasta a criação artística de cunho folclórico, tanto pela história, quanto pela
relação cultural de diversas regiões. E neste como em outros pontos vistos no estudo, precisa-
se que o reconhecimento do folclore seja levado à escola como algo pertinente no meio social
que a instituição, os alunos e a demais comunidade escolar está inserida e que todos
vivenciam estes processos, necessitando do entendimento destas características.
Palavras-chave: Folclore. Ensino. Prática docente. Anos Iniciais.
Introdução
1
Acadêmico de Pedagogia na Universidade Estadual do Paraná – Campus de União da Vitória. E-mail:
f.kravec@yahoo.com.br
2
Mestre em Educação: Educação e Ensino pela Universidade do contestado/UNC. Professora do curso de
Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná – Campus União da Vitória. E-mail: edihgrau@yahoo.com.br
ISSN 2176-1396
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Reconhecendo o folclore, é possível perceber que com o que lhe engloba há muitas
possibilidades de realização de práticas pedagógicas dentro de sala de aula. Se o professor
sabe sobre a temática, explora a mesma e faz das aulas mais vantajosas, tanto para suas
metodologias didáticas, quanto para o aluno e suas aprendizagens.
Neste sentido, pensou-se em buscar nos docentes seus olhares para o folclore, mas
não apenas o que eles reconhecem sobre este, e sim como o conteúdo se aplica na escola e se
é sabível a importância da mediação do mesmo, bem como de que maneira a comunidade
participa juntamente com a instituição.
Com a utilização de um questionário entregue em duas escolas de uma cidade da
região sul do estado do Paraná, obteve-se algumas respostas para as perguntas que
direcionaram os objetivos deste estudo, indo de encontro à bibliografia que conseguiu criar
um elo entre teoria e prática.
Objetivou-se, ainda, entender quais as dificuldades dos docentes para trabalhar o
folclore e tudo que lhe engloba, tentando preencher as lacunas com autores que trabalham a
temática, levando ao reconhecimento do realizado e do possível dentro do pátio escolar.
Assim, com este estudo, sabendo que a escola é parte da sociedade e importante para
debate e aprendizagem de conteúdos nela encontrados, chega-se a algumas conclusões sobre
qual caminho já temos e o que precisamos para melhorar o trabalho e o ensino do folclore nos
anos iniciais do ensino fundamental.
O folk-lore, termo designado por William John Thoms, tem como significância o
entender processos de cultura do conhecimento de um povo, levando em conta a perspectiva
de Megale (2003, p. 11), “[...] folk, significando povo, e lore, que quer dizer conhecimento ou
ciência. Portanto, o folclore pode ser definido como ciência que estuda todas as manifestações
do saber popular. ”
Contudo, o reconhecimento da ciência do povo como parte importante do saber
social não é algo novo. Quando se percebeu que estamos condicionados a determinados
costumes, iniciaram pesquisas sobre as diversas influências no ser humano. Gomes (2008,
p.48) diz que o “folclore já foi visto como uma ciência humana, um ramo autônomo da
Antropologia. Significava a pesquisa, a descrição, o registro e a sistematização dos costumes
populares, rurais, em geral. ”
Assim, como estudo de um povo, tornou-se ponto de análise de diversas áreas de
conhecimento, seguindo vários caminhos até chegar ao que se reconhece hoje, dando rumos
aos pensamentos culturais.
[...] elementos folclóricos [...] passam a agir [...] como um dos veículos de
uniformização dos padrões de comportamento, contribuindo para tornar possível a
vida em sociedade, criar uma mentalidade característica dessa sociedade tomada
como um todo, pelo menos quanto aos seus valores essenciais, e perpetuar a
configuração sociocultural em que esses valores são integrados.
Neste sentido, o ser folclórico é o ser que vive em sociedade e que segue mediações
do próprio meio, que se insere nas características que o social lhe impõe e que o acompanha
do seu nascimento até o fim da vida, enfatizado por Megale (2003, p. 12) que diz que “o
folclore, apesar de não percebermos, acompanha a nossa existência e tem grande influência na
nossa maneira de pensar e agir. ” Assim, os indivíduos são guiados pela sociedade, fazendo
dos mesmos inseridos no seu meio.
A participação do indivíduo no meio folclórico que vive e o reconhecimento das
manifestações pertinentes nestes contextos é garantido como direito pela Constituição Federal
que expressa em seus artigos 215 e 216 o seguinte:
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Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso
às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais. Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens
de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem:
I - As formas de expressão;
Folclore e a escola
Sabendo das várias possibilidades para trabalhar qualquer conteúdo em sala de aula,
planejar de maneiras diversificadas atividades que levem os alunos a entender processos
culturais é papel do professor. O folclore, por si só, compreende um amplo campo de
manifestações. Ora, como dito, as festas, músicas, danças, textos, e quaisquer outras
características que possam mesclar história com o contemporâneo e surgir efeito implícito no
povo, pode ser considerado folclore.
Cachambu et.al. (2005, p. 56) coloca que:
ciência para entender e explicar de forma elaborada o que se vivencia, mas as respostas para
possíveis perguntas sobre o conhecimento cultural folclórico são embasadas no que já foi
descrito, ou seja, são peças de formação social humana.
Partindo desses conceitos, agora direcionando olhares para as instituições de ensino,
percebemos algumas quebras entre o entendimento do que é o folclore e o que se estuda na
sala de aula sobre este assunto. Cachambu et.al. (2005, p. 55) diz que “há uma falta de
conhecimento por parte dos professores, diretores e corpo docente sobre a especificidade do
tema” e o que não é de conhecimento da comunidade escolar dificilmente será aplicado
corretamente no mesmo âmbito. E é preciso reconhecer as dificuldades para sana-las,
trazendo novas expectativas e mudanças para o campo educacional.
Tendo como base a descrição do significado a respeito do folclore, se ficar
compreendido que todos os costumes, até mesmo os vistos na escola, são de origem cultural,
haverá melhor presença de trabalho sobre os temas que competem.
Na cabeça de alguns, folclore é tudo o que o homem do povo faz e reproduz como
tradição. Na de outros, é só uma pequena parte das tradições populares. Na cabeça
de uns, o domínio do que é folclore é tão grande quanto o do que é cultura. Na de
outros, por isso mesmo folclore não existe e é melhor chamar cultura, cultura
popular o que alguns chamam folclore.
A pedagogia tem como objetivo principal o de fazer com que a criança siga o ritmo
espiritual de seu povo e alcance uma compreensão melhor da comunidade em que
vive. O estudo do folclore em si contém preciosos ensinamentos que devidamente
selecionados e aproveitados serão de valor inestimável na educação do povo.
da cultura, que é fazer cada vez mais os alunos entenderem o seu meio para fazer que então
descubram as formações sociais que caracterizam seu povo.
E como o folclore é trabalhado? A pergunta teve respostas fechadas com
possibilidade de complementação discursiva. Textos, Dobraduras, Obras de arte, Jogos e
brincadeiras, músicas, filmes e vídeos, festas dentro e fora do ambiente escolar
proporcionadas pelas instituições foram as respostas que poderiam ser assinaladas.
A opção obras de arte foi a menos marcada, tanto porque não se reconhece o grande
valor artístico que representa o folclore quanto falta o acesso para que este meio de conteúdo
de ensino seja explorado.
As obras de arte podem ser trazidas de grandes artistas para a sala, mas também
produzidas com as crianças como prática metodológica na classe. Ora, se na resposta anterior
as professoras responderam nomes de vários mitos folcloricamente conhecidos, por que não
os explorar e estimular a criatividade com obras artísticas?
E falando de obras artísticas, não podemos prender-se a somente quadros ou
imagens, isto porque o vasto conteúdo do folclore brasileiro nos dá a oportunidade de
trabalhar com artesanatos, cerâmicas, bijuterias e outros objetos que fazem parte desse
movimento cultural. Para isto, podemos seguir a ideia de Megale (2003, p. 120), que coloca:
Tanto a arte como os artesanatos folclóricos nacionais são ricos em suas variedades,
visto que, além dos elementos formadores de nossa nacionalidade, fomos
colonizados por povos provenientes de todos os quadrantes da Terra e em vários
estados brasileiros eles constituem a técnica de subsistência de populações inteiras,
como no Nordeste. Muitas vezes a aparência dos objetos entra em conflito com os
nossos preconceitos artísticos, mas precisamos lembrar que eles são o retrato do
nosso povo, que coloca em sua confecção grande parte de sua vida e de suas
esperanças, demonstrando muitas vezes peculiaridades regionais.
Assim, a arte está inserida no folclore brasileiro historicamente, sendo necessário que
os professores compreendam esse grande número artístico e levem à sala de aula para estudo e
mediação. Já nos outros itens que podiam ser assinalados pode-se perceber que todos os
professores trabalham com produções textuais, jogos e brincadeiras e músicas de cunho
folclórico.
Para Brandão (1984, p. 35), “[...] são propriamente folclóricas as toadas, cantos,
lendas, mitos, saberes, processos tecnológicos [...]” e tudo se torna conteúdo de grande valia
aos alunos, possibilitando então se aproveite e aprenda mais conteúdos sobre o tema estudado.
A penúltima pergunta do questionário, depois de obter dos professores qual a
necessidade do trabalho com o folclore, o significado e como é trabalhado, foi a de citar uma
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manifestação folclórica mais pertinente no ambiente escolar e no meio social que a instituição
está inserida.
Um dos professores respondeu que as superstições e simpatias do povo são relações
folclóricas encontradas nesse contexto de escola e sociedade. Já outros lembraram que as
festas juninas com todas as suas características são comemoradas e muito trabalhadas em sala
de aula com música, dança, comidas típicas, entre outros. Outro docente não respondeu.
As festividades são sim um tipo de manifestação folclórica, incluindo aí a festa
junina. Ora, tem todo um pacote de costumes que é representado e fortificado nas
comemorações de São João. Para Megale (2003, p. 65), “as grandes festas populares estão
geralmente ligadas à religião e ao trabalho. ” E São João, Santo Antônio, Dia da padroeira,
são alguns exemplos a ser citados.
E as escolas devem trabalhar com estas festividades, que além da festa junina podem
ser o carnaval, a páscoa, o natal, o ano novo, dias do pai, da mãe e da criança etc. Porque tudo
faz parte da cultura e a cultura deve ser estudada como prática constante no meio social
reproduzido na instituição escolar.
Já a última questão entregue aos professores, que vai de encontro a todas as outras já
elencadas, foi totalmente aberta, possibilitando que os docentes contribuíssem com a pesquisa
de forma livre, abrindo espaço para sugestões e ideias, críticas e qualquer outra nota
construtiva.
Infelizmente nenhum professor se pronunciou. Os campos de preenchimento ficaram
vagos e é nesse ponto que precisamos focar: as respostas anteriores tiveram uma linha para
ser respondida, estas sendo sobre personagens, tipos de práticas pedagógicas, manifestações
folclóricas e até mesmo sobre o folclore. Já esta não.
Se contribuído com a pesquisa, seria possível perceber que eles sabem mais do que o
já esperado, abrindo caminhos para o estudo e mostrando que reconhecem o valor folclórico
por mais perspectivas. Entretanto, ficou falho, mostrando que se faz necessário sim levantar
apontamentos folclóricos com mais frequência com os docentes.
Em nenhuma das respostas foi citado o dia do folclore (22 de agosto) e como ele é
utilizado para dar mais forças a esta temática de ensino. Não que seja necessária a data, pois,
como visto, o tema pode ser trabalhado em qualquer dia do ano, dependendo da organização
docente acerca do seu planejamento, contudo, o dia existe para lembrar ainda mais que a
sociedade tem várias caracterizações culturais que devem ser lembradas como formação do
seu povo e estilo de vida.
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore. 4.ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
CACHAMBU, Adriane et al. O folclore e a Educação. Cadernos FAPA. Porto Alegre, v.1,
n.1, p.53-59, 2005. Disponível em: <http://www.portal.educacao.salvador.
ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-escola/apoio/Folclore-e-educacao.pdf>
Acesso em: 23 mar. 2017
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do homem: filosofia da cultura. 1.ed. São
Paulo: Contexto, 2008.