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Psicologia Ambiental: o Ambiente

Construído e sua relação com a Saúde


Mental

Ambiente Urbano, Desenvolvimento e saúde

10 de Dezembro de 2018

Docente: Helena Guilhermina da Silva Marques Nogueira

Discente: Cássia Zefa Ruas Dieguez 2015101642


Introdução

O presente estudo tem como objetivo demonstrar algumas maneiras em que o Ambiente
Construído pode influenciar a saúde mental de uma população ou de um indivíduo, tendo como
base conceitos multidisciplinares que englobam a Psicologia Ambiental, Geografia,
Antropologia, Arquitetura e Design. Em relação especificamente a Psicologia Ambiental, esta
pode ser definida como a mútua influência de fatores ambientais e comportamentais na
resolução de problemas envolvendo o ambiente físico, o comportamento ambiental e os
aspectos socioculturais dos entornos e como esses influenciam as visões do indivíduo sobre o
mundo. (Corral-Verdugo, 2005).
Embora a Psicologia Ambiental seja um ramo relativamente novo da ciência que apenas
foi reconhecida como um campo desde o final da década de 1960, algumas de suas ideias têm
sido parte de pesquisa psicológica quase desde o início da psicologia. Suas raízes modernas
podem ser remetidas ao começo do século XX, com idéias de pesquisadores como Egon
Brunswik e Kurt Lewin (Day, Calkins 2002).
Para Corraliza (1997), os problemas ambientais oferecem uma dupla oportunidade:
desenvolver teórica e cientificamente os conhecimentos sobre a forma de agir dos indivíduos,
e influir nos rumos da sociedade em um de seus aspectos mais fundamentais.
O Ambiente Construído quando pensado em um enfoque sobre a saúde deve ter em
conta parâmetros que podem ser prejudiciais à saúde física e mental, ou seja, o ambiente deve
ser projetado visando a saúde humana em todos os seus aspectos não deixando de lado também
os aspectos ecológicos e ambientais naturais. Caso esse planejamento for mal elaborado será
necessário investir gastos futuros em reabilitação do ambiente e também em saúde pública que
poderiam ter sido evitados. (Michalka, 2000).

Desenvolvimento

De acordo com Evans (2003), o ambiente construído pode afetar a saúde mental de dois
modos, o primeiro, de maneira direta, tendo em vista características do próprio ambiente como
moradia, barulho, qualidade do ar, luz. E por fim, indiretamente, alterando processos
psicossociais do ser humano que influenciam na saúde mental e física dos indivíduos. O
ambiente doméstico é de tremendo significado para os seres humanos. o ambiente residencial
é onde as pessoas costumam passar a maior parte do tempo (Citado em Evans, Wells, Moch,
2003). Portanto surge uma necessidade em se investigar as mais diversas características e
influências do ambiente construído na vida de uma população ou dos indivíduos que nela
consistem.
Diversos estudos concluíram que o tipo de moradia em que uma pessoa vive tem uma
relação com a sua saúde mental, chegando a conclusões como por exemplo a de que unidades
múltiplas de habitações de arranha-céus podem ser prejudiciais ao bem-estar psicológico de
mães com filhos pequenos e, possivelmente, das próprias crianças. (Evans, Wells, Moch, 2003;
Gifford , 2007). De acordo com alguns estudos citados por Evans (2003), algumas razões para
essa relação podem ser o isolamento social das mães e as oportunidades restritas de diversão
para as crianças, que acabam por passar mais tempo isoladas dentro do próprio apartamento
sem ao menos conhecer os seus vizinhos. Os estudos analisados constataram que em muitos
arranha-céus, especialmente para famílias de baixa renda, poucos são os espaços que permitem
uma interação entre os moradores e que geralmente, mulheres em grandes conjuntos
residenciais de edifícios altos relatam mais solidão e menor controle territorial em comparação
com mulheres de background similar que moram em outros tipos de residência. Tais restrições
aumentam o conflito intra-familiar prejudicando a saúde mental do todo (Citado em Evans,
2003).
Em relação a características como quantidade de luz solar, ruídos e poluição do ar, um
assunto comumente discutido é o Transtorno afetivo sazonal que pode ser descrito como forma
de depressão que geralmente ocorre em relação a quantidade de exposição de luz e níveis de
iluminação, indivíduos expostos de maneira crónica a poucas horas de luz durante o dia sofrem
de mais tristeza, cansaço, e para alguns depressão clínica. Pacientes institucionalizados com
diagnóstico de depressão severa recuperam mais rapidamente em ambientes ensolarados
quando comparado a tratamentos realizados em ambientes escuros . Além disso, poluição do
ar, altos níveis de contaminação por monóxido de carbono e poluentes tóxicos para o
organismo, poluição sonora em moradias localizadas em autoviase em áreas de intenso tráfego
de carros ou aeroportos também são fatores diretamente relacionados com a saúde mental e
muito discutidos nos artigos apresentando por Evans (2003).
Além destes fatores externos, a qualidade da habitação internamente também está
relacionada com a saúde mental, facilidades como banheiros privados ou rede de aquecimento
central teriam uma relação positiva com o bem-estar do indivíduo. Algumas explicações para
essa relação positiva são oferecidas em citações no artigo de Evans (2003), por exemplo baixa
qualidade de moradia geralmente está associada a um maior nível de insegurança, dificuldades
em manutenção da casa, relocações, proteção de segurança insuficiente como detectores de
fumaça, maior proximidade de fatores estressantes como poluentes, vias de tráfego intensa que
podem contribuir para o aumento de acidentes principalmente de crianças. Preocupações com
segurança e higiene (quedas, queimaduras, infestação, lixo, saneamento), especialmente em
famílias com crianças, poderia gerar ansiedade considerável preocupações. ( Citado em Evans,
Wells, Moch, 2003)
Por fim, verifica-se que em uma análise mais geral, se torna difícil separar o contexto
da moradia individual e da vizinhaça em que ela se localiza, tendo em vista que é mais provável
que moradias de baixa qualidade estejam localizadas em bairros com múltiplos indicadores de
decadência urbana e esses indicadores devem ser avaliados em conjunto ao se avaliar um tipo
de moradia.
Já com um enfoque voltado para os ambientes institucionais, verificou-se que elementos
do design podem ter grande influência na saúde mental de pacientes em unidades de psiquiatria:
quando a mobília está organizada de maneira a promover a interação social foi comprovado que
as relações sociais destes pacientes melhoraram enquanto o comportamento de isoladamente e
de agressão diminuíram (Citado em Evans, 2003).
Além disso, também foi constatado nestes estudos que instituições menores (9-20
residentes), ao reduzir os níveis de ruído, utilizar plantas geométricas simples, fazer uso de
marcos e boa sinalização e criar um ambiente mais caseiro podem ser fatores que vão influenciar
de maneira a reduzir os níveis de depressão, alterações comportamentais e de desorientações de
pacientes institucionalizados com doença de Alzheimer. Pacientes com demência enfrentam
dificuldades com a superestimulação bem como aprivação sensorial (Cohen & Weisman, 1991).
O desafio é, portanto, manter um equilíbrio no ambiente institucionalizado, contexto onde a
psicologia ambiental pode intervir (Day, Calkins 2002)
Já em relação aos métodos indiretos, de acordo com estudos demonstrados no artigo de
Evans (2003) , as pessoas possuem uma melhor saúde melhor quando sentem que possuem um
controle do seu entorno , ou seja, quando sentem que podem modificar ou alterar o ambiente de
acordo com suas necessidades. Uma vez que existem situações em que os individuos sentem
que não possuem controle do seu ambiente e de estímulos aversivos como ruído ou poluição,
elas se sentem desamparadas e mais propensas a desistirem de tarefas habituais, ou seja,
desmontram baixa motivação o que pode prejudicar a sua saúde mental. Foi verificado em
estudos que o tamanho e qualidade do espaço podem restringir a flexibilidade, impedindo
múltiplos usos do espaço, o que criaria dificuldades na regulação da interação social,
incapacidade de controlar e regular o acesso ao espaço, e falta de jurisdição sobre o ambiente
público imediato, contribuindo para sentimentos de baixa autoeficácia e controle pessoal.
(Citado em Evans, Wells, Moch, 2003)
Em relação ao fator de apoio social , múltiplos estudos que suportam a relação positiva
entre esse indicador e a saúde mental são apresentados por (Evans, 2003). Estes estudos dizem
que a probabilidade de interação social pode ser maior se as entradas dos prédios residenciais
forem mais próximas ou conectadas por áreas de encontro e a inclusão de atividades culturais
nas vizinhanças podem promover a socialização. De acordo com estudos apresentados por
Evans (2003), dados laboratoriais e de campo revelam que a alta densidade das cidades
provacam um maior isolamento social e a deterioração de relações socialmente favoráveis e do
apoio mútuo entre indivíduos.
Por fim, uma terceira maneira indireta de influência do ambiente construído na saúde
de um indivíduo esta relacionada com a capacidade de se recuperar psicologicamente da fatiga
e do estresse causado pelo ambiente, pesquisas de campo e laboratoriais reportaram que vistas
de paisagens naturais podem recuperar a energia cognitiva de um indivíduo como citado no
artigo de Evans (2003), fatores como estes devem ser avaliados no planejamento das moradias
e espaços públicos.

Conclusão

A área de psicologia ambiental ainda é uma área em crescimento e que engloba muitas
controvérsias de conteúdo e metodológicas, tendo em vista assim, a necessidade de promover
mais estudos e estimular o conhecimento e troca de informações entre as diversas áreas que
atuam em sentidos diferentes no ambiente e na saúde mental. Como verificado nos diversos
estudos aqui citados, o Ambiente Construído é um fator que está extremamente ligado á saude
mental e física da população, porém apenas a visão da psicologia ambiental sobre ele não é
capaz de proporcionar um desenvolvimento sustentável de políticas que visam alterar este
ambiente a fim de promover uma melhor saúde mental.
O ambiente construído é um elemento que deve ser pensado de maneira interativa e
principalmente integrativa entre os diversos profissionais que atuam em seu entorno. A
psicologia Ambiental abre caminhos para se entender e averiguar as principais causas e relações
entre tipos de moradias, fatores externos como ruídos, luz, aglomeração populacional; ofertas
de serviços, cultura, ambiente natural e construído e características comportamentais e
psicopatológicas de uma população, facilitando uma futura intervenção por partes
governamentais e privadas em prol da diáde indivíduo-ambiente.
Referências
Corral-Verdugo, V. (2005). Psicologia Ambiental: objeto," realidades" sócio-físicas e
visões culturais de interações ambiente-comportamento. Psicologia Usp, 16(1-2), 71-
87.

Corraliza, J. A. (1997). La Psicología Ambiental y los problemas medioambientales.


Papeles del psicólogo (Revista del Colegio Oficial de Psicólogos, España), (67), 26-30

Day K, Calkins MP. Design and dementia. In: Bechtel RB, Churchman A, eds.
Handbook of Environmental Psychology. 2nd ed. New York, NY: Wiley; 2002:374–
393.

Evans, G. W. (2003). The built environment and mental health. Journal of urban
health, 80(4), 536-555.

Evans GW, Wells NM, Moch A. Housing and mental health: a review of the evidence
and a methodological and conceptual critique. J Soc Issues. 2003;59:475–500.

Michalka Jr, C. (2000). Ambiente construído a busca pela integração total. VIII
Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, ENTAC.

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