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A Geração da Mensagem (1950-53)

Fonte: Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-07-03].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$geracao-da-mensagem>.

A Geração da Mensagem (1950-53) da literatura angolana de expressão portuguesa formou-


se na continuidade do movimento dos "Novos Intelectuais de Angola", cujo lema - "Vamos
Descobrir Angola!" - operaria uma revolução decisiva na sociedade colonial dos fins da
década de 40.

Mensagem apresenta-se, assim, como o órgão catalisador de um punhado de jovens


angolanos dispostos assumirem uma atitude de combate frontal ao sistema sociocultural
vigente na época. Foi, sem dúvida, o mais forte contributo para a verdadeira busca de uma
cultura, de uma literatura autêntica, social e, sobretudo, participada.
Segundo os próprios mentores desta Geração, Mensagem pretendia ser o marco iniciador de
uma cultura nova, de Angola e por Angola; fundamentalmente angolana. Cultura essa que
se desejava que fosse forte, verdadeira, pujante e humana. Por estes motivos, Mensagem
proclamava, bem alto, o slogan cultural e político de "redescobrir" Angola.

Se se pretender encontrar as motivações literárias que deram origem a esta fortíssima e


marcante geração, será essencial dizer que terá sido o Modernismo brasileiro um dos
movimentos literários estrangeiros que mais incentivou estes jovens (juntamente com outros
movimentos literários e culturais europeus vigentes na época) e que mais os fez avançar
com a vontade de produzirem uma literatura capaz de traduzir exactamente as
necessidades, sentimentos, inquietudes, problemas e ansiedades da terra angolana. O intuito
principal desta Geração era, sem margem para dúvida, dar vida ao eco das novas ideias,
vindas da Europa e da América do Sul, e de fazer passar uma tomada de consciência da
iminente necessidade colectiva de agir.

Quando na revista Mensagem aparece um convite explícito ao povo angolano para que se
construísse uma "língua angolana", a Geração - reivindicativa como era - passa a constituir-
se uma gritante força que impulsionará a cultura do país a afirmar-se num quadro social e
humano plenamente definido. Desta forma, Mensagem deve ser classificada como uma
revista literária de conteúdo declaradamente político.

Numa época em que o estatuto da voz pertencia em exclusivo aos "não naturais" de Angola,
foi significativo que os "filhos do país" tivessem assumido tal decisão, assumindo a fala que,
embora pertencesse à mesma linguagem codificada do dominador (a língua portuguesa), era
uma "fala outra", porque era germinada no terreno oposto - Mensagem nasce nos
musseques de Luanda, local onde vivia a maioria do povo colonizado, e daí "parte" para as
mãos dos intelectuais. Esta "fala outra" deveria corresponder a uma nova escrita que teria
que combater, sem tréguas, uma literatura colonial falseadora das realidades e do sentir das
gentes africanas. A nova poesia de Angola teria de encarar o ritmo-emoção característico do
homem africano; ritmo-emoção esse que lhe era transmitido pela própria natureza em que
ele se integrava e com quem vivia em contacto directo e em plena comunhão. A poesia
angolana tornava-se, pois, social, gritando a dor, a nostalgia, mas reivindicando com
coragem a transformação das relações sociais e políticas. Assim, esta nova poesia de Angola
devia denunciar sem medo , esmagar as covardias, as imposturas e as mentiras .
Mensagem acontece entre 1950 e 1953. Estes limites cronológicos correspondem,
respectivamente, à formação do "Movimento dos Novos Intelectuais de Angola", em Luanda,
e à publicação do Primeiro Caderno de Poesia Negra de Expressão Portuguesa , em Lisboa.

Na sua primeira fase, Mensagem caracteriza-se por uma poesia essencialmente evocacionista
- havia que evocar o passado (o momento da autenticidade da vida angolana, recuperar e
relembrar valores e costumes tradicionais já esquecidos, enfim, as verdadeiras raízes do
homem africano) para sobre ele erigir, erguer a tão pretendida angolanidade, o verdadeiro
cariz angolano. É uma fase essencialmente virada para o tema da terra, da mãe-terra - o
local privilegiado para reavivar o encontro com as próprias raízes. Moldando-se nesta forte
temática da terra, a poesia desta primeira fase da Mensagem começava, assim, a cumprir a
sua função social. Para que esta função fosse entendida pelo alvo pretendido - o povo
angolano na sua generalidade - a escrita é baseada num ritmo de evidente cariz popular: era
fundamental que a mensagem fosse plenamente captada pelo povo a quem se dirigia e que
circulasse pelos meios mais tradicionais, onde estes textos eram muitas vezes recitados.

A segunda fase poética de Mensagem é marcada pelo alerta contra uma apatia generalizada,
imposta por um sistema secular, e pela denúncia aberta contra esse sistema colonial que,
pela sua força e poder restritivo, negava, até então, uma possibilidade de futuro àquele povo
angolano. Desta forma, poder-se-á dizer que esta segunda fase de Mensagem é uma fase de
função puramente social, pois pretendia-se, concretamente, cumprir o objectivo de
angolanizar Angola e devolver a africanidade àquele povo, isto é, reencontrar o quase já
esquecido "estilo africano de vida".

Esta poesia foi, até determinado momento da sua evolução, o veículo de protesto popular, da
contestação à ocupação portuguesa, dela resultando um verdadeiro movimento
revolucionário de base e formação popular: o MPLA (Movimento Popular de Libertação de
Angola).
Mensagem foi o primeiro movimento cultural consciente que surgiu em Angola nos últimos
50 anos e assumiu uma grande responsabilidade perante a História de Angola.
Mensagem teve apenas dois números, uma vez que logo foi proibida e vetada pelo Governo-
Geral que, dentro da mentalidade e linha fascista vigente na época, aniquilava qualquer
forma autónoma de cultura.

Esta revista - e respectiva geração que nela se apoiava - desapareceu por razões em tudo
alheias à vontade destas, dos seus colaboradores e do seu público. O desaparecimento desta
revista, onde estavam concentrados os expoentes máximos do movimento intelectual
plenamente virado para as realidades de Angola, foi, efectivamente, uma lamentável perda e
um profundo golpe no brilhante percurso da intelectualidade angolana.

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