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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO CERRADO PATROCÍNIO

UNICERP
Graduação em Direito

JACIRA APARECIDA SILVA

O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E A PERSPECTIVA DA


CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA

PATROCÍNIO/ MG
2017
JACIRA APARECIDA SILVA

O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E A PERSPECTIVA DA


CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA

Trabalho Monográfico de Conclusão de Curso


apresentado como exigência parcial para
obtenção do grau de bacharel em Direito, pelo
Centro Universitário do Cerrado Patrocínio –
UNICERP.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Padovini Pleti


Ferreira

Patrocínio/MG
2017

2
Centro Universitário do Cerrado Patrocínio
Curso de Graduação em Direito

Trabalho de conclusão de curso intitulado “O Novo Código de Processo Civil e a perspectiva


da Constituição Simbólica”, de autoria da graduanda Jacira Aparecida Silva, aprovada pela
banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________
Orientador Prof. Dr. Ricardo Padovini Pleti Ferreira
Instituição: UFU/UNICERP

___________________________________________________________
Avaliador 1 - Prof. Me. Nery dos Santos de Assis
Instituição: UNICERP

___________________________________________________________
Avaliador 2 - Prof. Mª. Marilene Casagrande
Instituição: UNICERP

Data de aprovação: 10/12/2017

Patrocínio, 10 de Dezembro de 2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ser meu guia em todas as áreas da vida e oportunizar meus estudos.
À minha mãe por estar firme comigo em todos os momentos de minha vida, dando apoio
e incentivos.
Aos meus irmãos, familiares e amigos por compreenderem a necessidade dos estudos
em minha vida.
À instituição UNICERP, professores e colegas de pós-graduação que abriram um leque
de conhecimentos em um nível de excelência.
Enfim, agradeço a todos que de um modo ou de outro contribuíram por esse estágio de
minha vida acadêmica.

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RESUMO

Introdução: A necessidade da atualização no Direito é fundamental, o que tornou inevitável a


criação do Novo Código de Processo Civil, pois, o anterior datava 1973. Surgiram várias
alterações, instrumentos e valores com influência da Constituição Federal, pois esta comanda o
sistema infraconstitucional de leis brasileiras. Por isso, o trabalho trouxe como objetivo a
análise de alguns destes instrumentos que sofrem influência do simbolismo constitucional, a
tipologia simbólica, e efetividade daqueles. Materiais e Métodos: Para isso, foi utilizada a
pesquisa bibliográfica e os resultados em geral aplicam-se a qualquer sujeito. Destarte,
fundamentou-se doutrinariamente dentre outros autores, Humberto Theodoro Júnior (2015),
Leonardo Reis (2015), Sérgio Buarque de Holanda (1936) e Marcelo Naves (1994) que
contribuíram expressivamente para as análises ao longo do trabalho. Resultados: Com ênfase
ao pensamento deste último, que expõe criticamente a respeito da constituição simbólica que é
enfoque da presente pesquisa. Além disso, houve estudos de vídeos, artigos, e-books e sites
online considerados confiáveis tecnicamente e que muito contribuíram. Conclusão: Neste
sentido o trabalho demonstra ao final que, a análise mediante a teoria da constitucionalização
simbólica demonstra que embora exista certo potencial normativo para efetividade e celeridade
processual pelos instrumentos desenvolvido e positivados no NCPC, há uma forte tendência a
manutenção da legislação simbólica.

Palavras-chave: Constituição Simbólica, Código de Processo Civil, Prática.

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“O problema de Hegel [as diferenças percebidas entre o ‘conceito’ e a ‘realidade existente’
do Estado] retorna de outra maneira, quando consideramos aquelas sociedades em que a
letra imaculada do texto constitucional não é mais do que fachada simbólica de uma ordem
jurídica imposta de forma altamente seletiva.”

Jürgen Habermas

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Lista de siglas e abreviações

CF – Constituição Federal

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CPC – Código de Processo Civil

NCPC – Novo Código de Processo Civil

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TJMG - Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 12
2.1 Geral: ......................................................................................................................................................... 12
2.2 Específicos: ................................................................................................................................................ 12

3. DESENVOLVIMENTO..................................................................................................... 13
3.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 14
3.2 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................................... 16
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................................. 17
3.3.1 Institutos e valores inseridos pelo Código de Processo Civil de 2015 ................................................. 17
3.3.2 Aspectos da constituição simbólica e os valores e institutos do Código de Processo Civil ................. 19
3.3.3 A efetividade e celeridade dos valores e institutos normativos constituídos pelo Código de Processo
Civil de 2015 ................................................................................................................................................ 22
3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 26
3.5. REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 27

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS / CONCLUSÃO ................................................................ 28


5. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 29
5. ANEXOS ............................................................................................................................. 30
ANEXO I - ÍNDICES E TAXAS PROCESSUAIS DE 2008 1ª INSTÂNCIA ............................................ 30
ANEXO II - ÍNDICES E TAXAS PROCESSUAIS DE 2015 1ª INSTÂNCIA .......................................... 31
ANEXO III- ESTATÍSTICA PROCESSUAL UNIFICADA 2008 ............................................................. 34
ANEXO IV - TEMPO DE JULGAMENTO DOS PROCESSOS ANUAL 2ª INSTÂNCIA 2016 ............ 35

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto a analise alguns dos novos institutos do Código de
Processo Civil de 2015 que pretendem efetividade e celeridade processual sob a perspectiva
teórica da teoria da Constitucionalização Simbólica de Marcelo Neves (1994).
O NCPC/15 surge no ambiente jurídico brasileiro no início do século XXI trazendo uma
série de propostas de modernização do processo e da própria atividade jurisdicional para a
“Justiça brasileira” a esteira das reformas iniciadas ainda nos anos noventa do século passado.
Duas das principais preocupações dos juristas da comissão do Projeto, conduzido pelo Ministro
Luiz Fux do STF, foram a celeridade e a efetividade do processo. Não sem razões uma vez que,
uma das principais críticas ao sistema jurisdicional brasileiro regido unicamente pelo CPC
Buzaid era sobre sua morosidade e ineficácia para tutela o direito do titular de direito lesado.
Neste sentido, uma série de mecanismos foram introduzidos no NCPC/2015, alguns já
conhecidos e maturados pela prática processual e jurisprudência, outros inaugurados no atual
diploma processual civil, com efeito, este trabalho objetiva de forma geral, analisar sob a
perspectiva teórica da teoria da Constitucionalização Simbólica (NEVES, 1994) alguns destes
novos institutos do Código de Processo Civil de 2015 que pretendem efetividade e celeridade
processual.
Para isso, o texto obedece ao seguinte parâmetro de discussão, num primeiro momento,
pretende-se apresentar o estado da técnica, ou melhor, a revisão da literatura sobre os
instrumentos de celeridade e efetividade (análise de mérito) trazidas pelo CPC de 2015 ao
sistema jurídico brasileiro. Neste item, pretende-se expor a discussão da doutrina nacional sobre
os principias institutos que, no NCPC, propõem a garantia de efetividade e de celeridade da
prestação jurisdicional, tais como, a primazia na decisão de método sobre a forma, a teoria das
tutelas de urgência e evidência, nova compreensão do contraditório e ampla defesa, entre outros.
Em seguida, pretende-se apresentar o conceito e sentido de Constitucionalização
Simbólica a partir da obra do professor Marcelo Neves, que formula a teoria e desenvolve o
conceito de Constitucionalização Simbólica a partir da análise semiológica do texto
constitucional frente a sua concreção ou não realização, observando os efeitos sociais, políticos,
econômicos e jurídicos destes movimentos de aparência (legislação álibi) e outros tipos
observáveis nestes tensão dinâmica entre texto e realidade, entre o ser e o dever ser do próprio
Estado.
Por fim, pretende-se analisar sob esta perspectiva, da teoria da Constitucionalização
Simbólica, o significado e extensão práticos das inovações jurídicas do NCPC, mediante a

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técnica de pesquisa de dados indireta realizada desde os levantamentos e análises realizados
pelo próprio CNJ, STJ e Tribula de Justiça de Minas Gerais, notadamente este último.
Desta forma, este trabalho tem sua justifica do posto de vista científico, no
desenvolvimento exploratório da problemática da celeridade e da efetividade dos instrumentos
processuais que, podem interessar não somente aos jurisdicionados, que poderão de fato ter
acesso a uma prestação jurisdicional mais adequada e precisa, mas também, do ponto de vista
político-econômico, que podem continuar a traduzir apenas intenções, não realizadas, mas que
na aparência de eficácia podem surtir os efeitos de legislação álibi, assim, servindo de
plataforma para discursos políticos ou econômicos, em clara interferência dos elementos de
microssistemas descrito por Neves (1994) ‘Poder’ e ‘Dinheiro’ na condução e concreção de
direitos aos jurisdicionados, sem que de fato, estes sejam operados de forma igualitária e justa
para todos sem distinção com relação aos binômios de ter ‘Poder/Não Poder’ e ter
‘Dinheiro/Não Dinheiro’. Sendo a contribuição da presente pesquisa, ao estado atual da
discussão, a apresentação de uma pesquisa descritiva enumeradora dos institutos que podem ou
não ser instrumentos meramente simbólicos no âmbito do judiciário brasileiro, notadamente
pala análise dos dados de caso do TJMG.
Ainda do ponto de vista social, pretende-se contribuir com a popularização deste
conhecimento, que deverá ser traduzido no presente trabalho de forma acessível a leitura mesmo
dos não iniciados no conhecimento jurídico, e assim, a pesquisa poderá contribuir para uma
melhor compreensão deste fenômeno da Legislação Simbólica, como explicação possível do
grande distanciamento que há entre as normas, as políticas públicas e a efetivação dos direitos
das pessoas no âmbito da atuação jurisdicional.
Para atingir estes resultados o trabalho foi elaborado mediante pesquisa bibliográfica e
documental de natureza exploratória, o método utilizado para organização da pesquisa foi o
método dedutivo. Como técnica de pesquisa utilizou-se da análise de dados obtidos mediante
pesquisas indiretas dos Tribunais (TJMG) e CNJ que serviram para fundamentar a análise
exploratória sobre o objeto. (GIL, 2002)
O objeto analisado na pesquisa foram as relações entre os conceitos da Constituição
Federal e do novo Código de Processo Civil no que se referem a efetividade e celeridade
processual a partir da teoria da constitucionalização simbólica de Marcelo Neves (1994).
A pesquisa se desenvolveu a partir de fundamentação doutrinaria, cujos principais
autores utilizados foram, entre outros, Humberto Theodoro Júnior (2015) e Leonardo Reis
(2011), com substrato teórico para crítica e análise em Sérgio Buarque de Holanda (1936) e
Marcelo Naves (1994), autores cujos trabalhos contribuíram de forma decisiva para as análises

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feitas ao longo do texto. O marco teórico fundamental foi o pensamento deste último autor, que
desenvolve conceito e teoria da Constitucionalização Simbólica, que é o recorte específico que
se pretende dar à análise dos institutos do NCP, além de escopo para aferição dos resultados
analisados na presente pesquisa.
O trabalho está organizado em três sessões, que se apresentam sequencialmente na
seguinte estrutura: primeiramente se realiza um estudo sobre o estado da arte ou a revisão de
literatura sobre os principais instrumentos processuais que garantem efetividade e celeridade
ao processo civil brasileiro após o NCPC. Num segundo momento, o trabalho se concentra em
apresentar uma breve explicação do sentido e extensão de constituição simbólica na perspectiva
teórica de Marcelo Neves (1994), e por fim, o trabalho realiza mediante análise de dados obtidos
por meio de pesquisa indireta ao site dos Tribunais – TJMG, STJ – e CNJ, para análise dos
resultados e verificação dos objetivos frente à perspectiva teórica adotada no presente trabalho.

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2. OBJETIVOS

2.1 Geral:

Analisar sob a perspectiva teórica da teoria da Constitucionalização Simbólica de


Marcelo Neves alguns dos novos institutos do Código de Processo Civil de 2015 que pretendem
efetividade e celeridade processual.

2.2 Específicos:

 Apresentar o estado da técnica ou a revisão da literatura sobre os instrumentos de


celeridade e efetividade (análise de mérito) trazidas pelo CPC de 2015 ao sistema
jurídico brasileiro.

 Apresentar o conceito e sentido de Constitucionalização Simbólica a partir da obra de


Marcelo Neves.

 Analisar sob a perspectiva teórica da Constitucionalização Simbólica o significado e


extensão práticos das inovações jurídicas do NCPC mediante a técnica de pesquisa de
dados indireta.

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3. DESENVOLVIMENTO

O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E A PERSPECTIVA DA


CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA

JACIRA APARECIDA SILVA1


DR. RICARDO PADOVINI PLETI FERREIRA2

RESUMO

Introdução: A necessidade da atualização no Direito é fundamental, o que tornou inevitável a


criação do Novo Código de Processo Civil, pois, o anterior datava 1973. Surgiram várias
alterações, instrumentos e valores com influência da Constituição Federal, pois esta comanda o
sistema infraconstitucional de leis brasileiras. Por isso, o trabalho trouxe como objetivo a
análise de alguns destes instrumentos que sofrem influência do simbolismo constitucional, a
tipologia simbólica, e efetividade daqueles. Materiais e Métodos: Para isso, foi utilizada a
pesquisa bibliográfica e os resultados em geral aplicam-se a qualquer sujeito. Destarte,
fundamentou-se doutrinariamente dentre outros autores, Humberto Theodoro Júnior (2015),
Leonardo Reis (2015), Sérgio Buarque de Holanda (1936) e Marcelo Naves (1994) que
contribuíram expressivamente para as análises ao longo do trabalho. Resultados: Com ênfase
ao pensamento deste último, que expõe criticamente a respeito da constituição simbólica que é
enfoque da presente pesquisa. Além disso, houve estudos de vídeos, artigos, e-books e sites
online considerados confiáveis tecnicamente e que muito contribuíram. Conclusão: Neste
sentido o trabalho demonstra ao final que, a análise mediante a teoria da constitucionalização
simbólica demonstra que embora exista certo potencial normativo para efetividade e celeridade
processual pelos instrumentos desenvolvido e positivados no NCPC, há uma forte tendência a
manutenção da legislação simbólica.

Palavras-chave: Constituição Simbólica, Código de Processo Civil, prática.

ABSTRACT

Introduction: The need to update the law is fundamental, which made inevitable the creation
of the New Code of Civil Procedure, since the former dates to 1973. There have been several
changes, instruments and values influenced by the Federal Constitution, as it governs the
infraconstitutional system of laws Brazilians. Therefore, the objective of this work is the
analysis of some of these instruments that are influenced by the constitutional symbolism, along
with the symbolic typology, and their effectiveness. Materials and Methods: For this, the
bibliographic research was used and the results generally apply to any subject. Therefore, it was
based doctrinally among other authors, Humberto Theodoro Júnior (2015), Leonardo Reis
(2015), Sérgio Buarque de Holanda (1936) and Marcelo Neves (1994) who contributed
significantly to the analyzes throughout the work. Results: With emphasis on the latter's

1 Autora, Graduanda em Direito pelo UNICERP.


2 Orientador, Professor da Universidade Federal de Uberlândia e da Pós-graduação Lato Sensu do UNICERP,
Doutor em Direito.

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thought, which critically expounds on the symbolic constitution that is the focus of this research.
In addition, there have been studies of videos, articles, e-books and online sites considered
technically reliable and have contributed a lot. Conclusion: In this sense, the paper
demonstrates at the end that the analysis through the theory of symbolic constitutionalization
demonstrates that although there is a certain normative potential for effectiveness and
procedural celerity for the instruments developed and positivized in the NCPC, there is a strong
tendency to maintain the symbolic legislation.

Keywords: Symbolic Constitution, Code of Civil Procedure, practice.

3.1 INTRODUÇÃO

Depois de um longo processo de discussões, análises e revisões tanto no Senado Federal


quanto na Câmara dos Deputados, em março de 2016 entrou em vigor a Lei n° 13.105/2015, o
novo Código de Processo Civil (CPC/2015). Sendo que a expectativa da sociedade em geral foi
imensa, mas se intensificou entre juristas, professores universitários da área, advogados, juízes,
promotores, defensores e servidores do Judiciário, uma vez que o último Código de Processo
Civil se encontrava na iminência de completar meio século de vigência e havia necessidade de
mudanças. Essas questões podem ser observadas no anteprojeto do Senado Federal (2010, p.
03):
O Senado Federal, sempre atuando junto com o Judiciário, achou que chegara o
momento de reformas mais profundas no processo judiciário, há muito reclamadas
pela sociedade e especialmente pelos agentes do Direito, magistrados e advogados.
(...) São passos fundamentais para a celeridade do Poder Judiciário, que atingem o
cerne dos problemas processuais, e que possibilitarão uma Justiça mais rápida e,
naturalmente, mais efetiva.
Desse modo, as novidades vieram seja com acréscimo, manutenção, substituição ou
retirada de dispositivos e agregando aspectos como garantia ao contraditório, inovações no
campo de prazos processuais, quanto a tutelas de urgência e evidência.
Além disso, os institutos da conciliação, celeridade, previsibilidade, segurança jurídica
e efetividade.
Esses valores assumidos pela letra da norma infraconstitucional, sem dúvida, uma
conquista em que o legislador fez sua parte e tentou transpor o que há de melhor da Constituição
Federal de 1988 – CF/1988, para a lei.
Sendo que o presente trabalho apresenta como marco teórico o princípio da efetividade
nesses institutos e valores do Código de Processo Civil de 2015 com relação à simbologia e
reflexos da Constituição Federal da República.

14
Sendo a previsibilidade fundamental, o CPC/2015, baseia-se no artigo 103-A, §1° da
CF/1988 para preservar as normas quanto sua fiel interpretação e afastar a insegurança jurídica.
Ligado às questões de previsibilidade, Leonardo Reis (2011) refere-se à efetividade em que
desenvolve o pensamento relativo a sua amplitude, uma vez que, pois ao atingir o objetivo
(eficácia), favorece seus destinatários.
Junto a estes valores, o contraditório é um ponto do código que vale salientar porque é
a possibilidade dada ao sujeito para que quando houver em seu nome demanda, possa apresentar
uma resposta em defesa de seus direitos. Nesse sentido, a Constituição no artigo 5° dispõe: “LV
- aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”
Todavia, quando pensa-se em um novo Código de Processo Civil, lembra-se também da
efetividade de seus instrumentos e a obediência que essa lei infraconstitucional possui diante
da Constituição. Pois esta é guia para as demais normas, que, no entanto apresenta muito
simbolismo, ou seja, normas mais gerais e distanciadas de sua prática.
Tendo isso em vista, considera-se simbólico tudo aquilo que vem a entrepor a pessoa e
seu contexto. “Num sentido filosófico muito abrangente, o termo “simbólico” é utilizado para
indicar todos os mecanismos de ‘intermediação’ entre sujeito e realidade.” (NEVES, 1994, p.
12)
Destarte, tendo em vista que todo esse agregado jurídico do CPC/2015 revelou-se à luz
dos ensinamentos da CF/1988 apresenta-se a seguinte reflexão: os instrumentos inclusos pelo
novo Código de Processo Civil realmente transportam efetividade à prática jurídica,
conseguindo, assim, afastar a carga simbólica advindas da Constituição Federal de 1988?
Nesse viés e nas palavras de Sérgio Buarque de Holanda (1988, p.182) e com
característica de questionamento por parte do presente trabalho: “As constituições são feitas
para não serem cumpridas e as leis existentes para serem violadas [...]”?
Nesse sentido, o trabalho objetiva analisar criticamente a efetividade dos institutos e
valores do novo Código de Processo Civil que tem por base normativa a constituição simbólica,
destacando-os e investigando sua efetividade jurídica.
Desse modo, o mesmo se faz relevante uma vez que as normas brasileiras, e em especial
o Código de Processo Civil e a Constituição Federal da República do Brasil trazem organização
para a sociedade e interferem direta e indiretamente na vida dos sujeitos que dela participam
ativa ou passivamente.

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As normas são tão importantes que a própria população escolhe entre seus pares aqueles
que a representará nas câmaras municipais, estaduais e federais para criarem e modificarem leis
em busca de desenvolvimento de suas cidades, estados e país.
Portanto, interessante e oportuno a análise feita a respeito do Código de Processo Civil,
uma vez que ele orienta todos os trâmites do judiciário em busca da aplicação das demais
normas criadas pelos legisladores.
Nesse sentido, mais adequado e relevante ainda se fez, ao verificar na pesquisa que os
novos valores e instrumentos do novo Código de Processo Civil foram redigidos em submissão
de todo o conteúdo da Constituição Federal, conforme hierarquia entre normas. O que implica
na dificuldade de efetividade da norma infraconstitucional supracitada, uma vez que tem como
parâmetro uma constituição simbólica.
Destarte, verifica-se que a pesquisa é justificada por abordar pontos teóricos de uma
constituição e legislação simbólica em busca de uma prática necessária para que os direitos
fundamentais do cidadão possam ser realmente respeitados saindo da esfera do pensar para a
ação e assim as normas possam realmente cumprir a sua função.

3.2 MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho se desenvolve mediante pesquisa bibliográfica e documental de natureza


exploratória, o método utilizado para organização da pesquisa foi o método dedutivo, como
técnica de pesquisa utilizou-se da análise de dados obtidos mediante pesquisas indiretas dos
Tribunais e CNJ que serviram para fundamentar a análise exploratória sobre o objeto.
O objeto analisado na pesquisa foram as relações entre os conceitos da Constituição
Federal e do novo Código de Processo Civil no que se referem a efetividade e celeridade
processual a partir da teoria da constitucionalização simbólica de Marcelo Neves (1994).
A pesquisa se desenvolveu a partir de fundamentação doutrinaria, cujos principais
autores utilizados foram, entre outros, Humberto Theodoro Júnior (2015) e Leonardo Reis
(2011), com substrato teórico para crítica e análise em Sérgio Buarque de Holanda (1936) e
Marcelo Naves (1994), autores cujos trabalhos contribuíram de forma decisiva para as análises
feitas ao longo do texto. O marco teórico fundamental foi o pensamento deste último autor, que
desenvolve conceito e teoria da Constitucionalização Simbólica, que é o recorte específico que
se pretende dar à análise dos institutos do NCP, além de escopo para aferição dos resultados
analisados na presente pesquisa.

16
O trabalho está organizado em três sessões, que se apresentam sequencialmente na
seguinte estrutura: primeiramente se realiza um estudo sobre o estado da arte ou a revisão de
literatura sobre os principais instrumentos processuais que garantem efetividade e celeridade
ao processo civil brasileiro após o NCPC. Num segundo momento, o trabalho se concentra em
apresentar uma breve explicação do sentido e extensão de constituição simbólica na perspectiva
teórica de Marcelo Neves (1994), e por fim, o trabalho realiza mediante analise de dados obtidos
por meio de pesquisa indireta ao site dos Tribunais – TJMG, STJ – e CNJ, para análise dos
resultados e verificação dos objetivos frente à perspectiva teórica adotada no presente trabalho.

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.3.1 Institutos e valores inseridos pelo Código de Processo Civil de 2015

Segundo Sérgio Murilo Diniz Braga (2015) o Processo Civil é considerado aquele que
objetiva a busca da resolução do conflito, sendo que para isso, a Comissão de Juristas
Responsável pelo Projeto deu corpo ao novo Código de Processo Civil, com ênfase na
conciliação, celeridade e previsibilidade, esta com seu desdobramento na segurança jurídica e
efetividade.
Como uma das propostas que o Código de Processo Civil trouxe foi a celeridade e
efetividade, é necessário atentar-se à previsibilidade, sendo que o respeito ao contraditório é
uma forma para se chegar nessa situação do que seja previsto.
Sendo assim, o contraditório era referido no Código de Processo Civil de 1973 desta
forma: “Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem
o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por
lei. Parágrafo único. A alteração do pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será
permitida após a prolação do despacho saneador.”
Enquanto que o Código de Processo Civil de 2015 amplia o contraditório na expressão
do artigo 329 : “II – até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir,
com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de
manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova
suplementar.” Tendo o réu assim, mais uma faculdade em relação ao contraditório.
Além disso, outro ponto importante que o código trouxe, foi em relação aos prazos
processuais. Como por exemplo, no dispositivo 213 traz para a prática eletrônica o prazo de

17
até 24 horas do último dia do prazo para que ocorra o ato processual, sendo a contagem em
dias úteis estabelecidos pela lei ou pelo juiz. Considera-se como úteis os dias declarados em
leia, feriados, para fórum, o fim de semana e os dias de não expediente do fórum conforme
artigo 216 e 219.
São contados prazos em dobro para suas manifestações em casos de litisconsórcio e
que não seja processo eletrônico, e que possuam advogados de escritórios distintos, o que
não depende de requerimento nos termos do artigo 229.
Conforme artigo 335 e 231, o réu fará defesa em até 15 dias a contar da audiência de
conciliação ou mediação, do protocolo requeridos pelo réu, a contar do pedido de
cancelamento das mesmas audiências. Os embargos a terceiros, a contestação deve ser
apresentada no prazo de 15 dias conforme artigo 679.
O rol de testemunhas deferido será apresentado em até 15 dias fixados pelo juiz e
comum as duas partes de acordo com artigo 357. Já no caso de perícia, conforme artigo 465,
§ 1°, o prazo será de 15 dias contando do despacho da nomeação do perito.
Quanto aos depósitos nas ações de consignação em pagamento serão efetivados em
até 5 dias e se insuficiente o depósito, poderá completá-lo em 10 dias conforme dispositivo
545. Serão 15 dias para os embargos à execução e não haverá prazo em dobro nos outros
casos que não do artigo 231 e 915.
São 15 dias para o agravo, conforme artigo 1.070. Os recursos são interpostos em até
15 dias, exceto para embargos de declaração (5 dias), conforme artigo 1.003.
De acordo com o artigo 220, há suspensão do prazo processual de 20 de dezembro a
20 de janeiro. Os feriados locais devem ser comprovados. Com exceção aos procedimentos
de jurisdição voluntária e os necessários a conservar os direitos, caso venham a ser
prejudicados. Ação de alimentos e processos de nomeação ou remoção de tutor, curador e
ainda, processos que a lei determinar.
Há ainda os institutos das tutelas dos dispositivos 294 e 311 do Novo Código de
Processo Civil. As tutelas jurisdicionais são concedidas pelo Poder Judiciário e precisam de
uma sentença posteriormente que se dividem em urgência (subdividia em antecipada- direito
material ou satisfativa e urgência cautelar- direito processual) e evidência (311), sendo que a
primeira ocorre quando se precisa considerar o tempo e a segunda quando seja provável o
direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo conforme artigo 300.
Além destes, há o instituto da conciliação que apresenta como objetivo principalmente,
a celeridade e a resolução do conflito que no antigo Código de Processo Civil foi tratado da
seguinte forma:

18
Art. 277. O juiz designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de trinta
dias, citando-se o réu com a antecedência mínima de dez dias e sob advertência
prevista no (...) § 1º A conciliação será reduzida a termo e homologada por sentença,
podendo o juiz ser auxiliado por conciliador. § 2º Deixando injustificadamente o réu
de comparecer à audiência, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados na petição
inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da prova dos autos, proferindo o juiz,
desde logo, a sentença. § 3º As partes comparecerão pessoalmente à audiência,
podendo fazer-se representar por preposto com poderes para transigir. § 4º O juiz, na
audiência, decidirá de plano a impugnação ao valor da causa ou a controvérsia sobre
a natureza da demanda, determinando, se for o caso, a conversão do procedimento
sumário em ordinário. § 5º A conversão também ocorrerá quando houver necessidade
de prova técnica de maior complexidade.
Desse modo, a conciliação era reduzida a termo, caso o réu faltasse injustificadamente
os fatos constantes na petição eram considerados verdadeiros. Sendo que no Novo Código de
Processo Civil, a conciliação passa a ser tratada da seguinte maneira:
Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de
improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de
mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com
pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. (...)§ 3º A intimação do autor para a
audiência será feita na pessoa de seu advogado. § 4º A audiência não será realizada: I
– se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição
consensual; II – quando não se admitir a autocomposição. § 5º O autor deverá indicar,
na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por
petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da
audiência. (...) § 7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por
meio eletrônico, nos termos da lei. § 8º O não comparecimento injustificado do autor
ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da
justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica
pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado. § 9º As
partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos. § 10.
A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica, com
poderes para negociar e transigir. § 11. A autocomposição obtida será reduzida a
termo e homologada por sentença.
A partir do Código de Processo Civil de 2015 a conciliação recebe uma nova
“roupagem” que lida diferentemente com o fato de não se querer uma audiência de conciliação
e com a falta considerada injustificada.

3.3.2 Aspectos da constituição simbólica e os valores e institutos do Código de Processo


Civil

Em relação à questão simbólica da Constituição, a princípio vale salientar a


conceituação referente ao simbolismo, mesmo porque ela é um tanto quanto ambígua. Segundo
Marcelo Neves (1994), o sentido manifesto do termo não seria a parte mais importante e sim
seu significado latente em que o sentido conotativo possui prioridade sobre o sentido
denotativo.

19
Para ele, o termo mãe possui significado manifesto, como por exemplo, mãe tal, dona
tal. No entanto seu sentido latente, simbólico, conotativo é muito mais forte, pois aponta para
emoções, de modo que somente mediante ao pensamento simbólico haveria a possibilidade de
isolar as relações de forma a considerá-las como abstratas.
Assim, gira em torno do simbolismo questões muito mais importantes e menos inocentes
do que se imagina, pois, pode ser utilizado como meio de atingir paliativamente e
genericamente, a “massa” populacional de modo que haja domínio e tranquilidade ao animus.
Desse modo, em consonância com Bourdieu e Passeron (1975, apud NEVES, 1994,
p.13), o sistema simbólico pode ser considerado estrutura de significantes em relações de
oposição, que de acordo com o modelo da linguística de Saussure, o sistema simbólico é posto
mais estreitamente em conexão com o tema poder, apresentando-se como meio idelológico-
legitimador do sistema político.
Quando a legislação simbólica se apresenta para esse fim de ideologias e legitimidade,
ocultando as reais intenções, é justamente o momento que agrava a efetividade da norma. Em
vista disso, Marcelo Neves (1994) expõe que a maior parte das normas jurídicas, quase todas
na esfera constitucional, apresentam força simbólica latente cuja natureza político-simbólica é
mais forte que a função de natureza manifesto jurídico normativa que regula relações sociais
ou força coercitiva.
Dessa maneira, Kindermann (1988, p. 33ss apud NEVES,1994, p. 41s) aponta três casos
de tipologia da legislação simbólica. Sendo o primeiro ligado a forma de compromisso dilatório
baseado nos estudos do norueguês Aubert (1965), em que havia a proposta do partido socialista
norueguês para estabelecer às empregadas domésticas as normas comuns aos demais
trabalhadores e de outro lado havia o partido liberal contra. Tinham que dar uma resposta ao
eleitorado, então aprovaram as normas, mas com cláusula em que se tornaria impossível na
prática.
O segundo caso de tipologia é o de confirmação de valores sociais advindos das
pesquisas do americano Gusfield (1986) a respeito da lei seca que se revelou ineficaz, pois,
serviu apenas para enobrecer um grupo nativo protestante contra outro grupo imigrante que era
novo e tinha o hábito da bebida.
Por fim, o terceiro caso é o da legislação álibi, cujo estudo realizado por Kindermann
apud Neves (1994), conta como exemplo o caso dos idosos que estavam hospedados nos hotéis
turísticos para esse público. No entanto, os peixes do mar do norte foram contaminados e
morreram alguns idosos. Houve uma comoção e os hotéis perderam seus clientes, as empresas
de pesca tiveram perdas e o Estado parou de arrecadar. Criaram um regulamento que a partir

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daquele instante haveria um controle dos barcos de pescas, e assim, com o animus tranquilizado,
os clientes voltaram. O decreto continuou, mas ineficaz, porque jamais criou-se a estrutura.
Desse modo, dentre os três tipos de legislação a álibi é mais capciosa porque expõe uma
ação que realmente não tem efetividade, mas isso não quer dizer que sempre seja intencional,
de certa forma, quem ilude às vezes está sendo iludido.
Nesse viés Marcelo Neves (1994), ainda alude que a legislação álibi vem para responder
às exigências de um público sedentos por seus direitos, e criam textos contextualizados nos
Direitos Fundamentais, Estado de Direito e Processos Democráticos e por isso é a principal da
tipologia.
Assim, a legislação álibi ainda é mais específica, pois o problema maior se encontra
quando ocorre a constituição álibi que é abrangente e diversificada nos aspectos do direito,
pessoal, material e temporal, e ainda atinge, de um modo geral, as demais normas
infraconstitucionais, ou seja, todo os sistema é afetado.
Essa questão de simbolismo e álibi não são pontos absolutos, pois, de acordo com
Marcelo Neves (1994), a estrutura e organização do Estado funcionam tranquilamente. Como
por exemplo, na prática são 11 ministros no STF, eleições de 4 em 4 anos, mas o que traz uma
concretização jurídica desconstitucionalizante são problemas como Universalização dos
Direitos Fundamentais, relação dos três poderes, “simetria”, licitura das eleições, entre outros.
E no caso da legislação álibi, no Código de Processo Civil podem ocorrer problemas
práticos, por mais que na letra da norma, a intenção seja a melhor possível quanto a seus
instrumentos como a garantia ao contraditório, prazos processuais, tutelas de urgência e
evidência, defesa e o princípio da concentração e máximo proveito; honorários; improcedência
liminar do pedido; arguição de falsidade; ação monitória; desconsideração da personalidade
jurídica; lides repetitivas e recursos, conciliação, decisões parciais de questões incontroversas
e base na celeridade, segurança jurídica e efetividade.
Importante que a constituição álibi e a legislação álibi trazem consequências para o
Estado como corrupção sistêmica em que o próprio sistema não pode reagir porque, em
determinadas condições, agir ilegalmente se torna algo mais seguro que agir dentro da lei.
Essa situação pode ser ilustrada com toda corrupção que teve como desfecho a
“Operação Lava Jato” que teve início em março de 2014, também a Reforma Previdenciária
discutida em todo país em 2016 e 2017.
Então uma esfera social passa a dominar outra esfera social, dominar um campo de ação
e de comunicação. E essa corrupção sistêmica está ligada a não concretização constitucional
dos casos de Constituição Simbólica e por consequência dessa dominação de uma classe sobre

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a outra ocorre o problema da exclusão social quanto ao acesso ou dependência, segundo
Marcelo Neves (1994).
Assim sendo, o autor supracitado, explica que a constituição é o horizonte das ações e
reflexões jurídicas e políticas, no entanto, tem enfrentado o emendismo constitucional a cada
mandato, com a finalidade de ser esta o próprio programa de governo.
Com esse novo álibi tenta passar a impressão de que esteja resolvendo os problemas do
país. Porém, essa reforma na constituição se confunde com a reforma no Estado, sendo esta
última de cunho estrutural, o que tem gerado sérias dificuldades relativas à incapacidade de
enfrentar problemas. Essa confusão procria o simbolismo da norma e é causa de fracassos no
campo da efetividade, o que seria contrário, caso houvesse uma concretização normativa com
uma transformação profunda da realidade.
Por fim, como o Brasil apresenta uma constituição simbólica e mesmo a lei
infraconstitucional, como é o caso do CPC/2015 tendo assumido valores tão relevantes, os
mesmos não têm sido reassumidos pela própria sociedade que já tem a consciência de que esses
valores são muitas vezes formais, ou seja, simbólicos.

3.3.3 A efetividade e celeridade dos valores e institutos normativos constituídos pelo


Código de Processo Civil de 2015

O Código de Processo Civil tentou registrar em suas páginas, bons aspectos da


Constituição Federal. Angariando assim, por exemplo, a ênfase ao princípio da celeridade , que
possui tamanha relevância para as sobrecarregadas secretarias dos fóruns e tribunais brasileiros,
como assim manifesta o inciso LXXVIII do artigo 5º da CF/1988: “a todos, no âmbito judicial
e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.”
Outrossim, quanto à previsibilidade e seu desdobramento referente ao princípio da
segurança jurídica, diga-se por sinal muito conveniente sua interação proposta pelo CPC/2015,
mesmo porque a CF/1988 demonstra esse relevo a partir do momento em que no artigo 103-A,
§1°, explicita a criação de súmulas vinculantes pelo Supremo Tribunal Federal com o intuito
de validar, interpretar e dar eficácia as normas controversas determinadas. Sendo o propósito
maior, o afastamento à insegurança jurídica normativa em questões constitucionais relevantes
e idênticas.

22
Ainda no campo da previsibilidade há o princípio da efetividade que segundo Leonardo
Reis (2011) se difere do termo eficiência e eficácia. Sendo eficiência o que está relacionado ao
investimento e seu retorno em busca de resultados conforme disponibilidade de recursos, ou
seja, custo-benefício. Já a eficácia está ligada semanticamente à finalidade de alcançar o
resultado pretendido utilizando os meio adequados.
Por fim, considera-se a efetividade mais ampla, uma vez que, além de atingir o objetivo
(eficácia), o mesmo deve favorecer à comunidade, à sociedade, enfim, aos seus destinatários.
Ligada aos termos supracitados está a obediência da administração pública direta e indireta nas
esferas da União, Estados, Distrito Federal e Município aos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência expressos no caput do dispositivo 37 do
texto constitucional.
Quanto à celeridade no caso dos negócios jurídicos, houve abertura para que os meios
de comunicação da internet passassem a ser utilizados com maior frequência nas citações e
intimações, como forma de garantir o princípio do devido processo legal. Nessa mesma
vertente, o CPC/2015 em seu dispositivo 246 também explicita que a citação será feita por meio
eletrônico de acordo com o regulado pela norma, intimação esta que já era prevista na lei n°
11.419/2006 em seu artigo 5°: “As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal
próprio aos que se cadastrarem na forma do art. 2°desta Lei, dispensando-se a publicação no
órgão oficial, inclusive eletrônico.”
Além disso, o princípio do autorregramento da vontade das partes na ação tendo como
consequência o auxilio na formação das decisões judiciais tendendo ao afastamento da visão de
superioridade do Estado-juiz, também vem com seus pontos positivos. Nessa linha, o Código
de Processo Civil de 2015 traz esse valor Democrático em busca de uma celeridade e satisfação
da resolução da lide, mediante seu artigo 190:
Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes
plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais, antes ou durante o processo.
Todavia, a ideia de celeridade inclusa pelo CPC/2015 se dissipa quando em outros
dispositivos encontra-se situações que em desproporção oferecem uma demora muito maior
para os atos processuais, como por exemplo, no artigo 212, considerando que os atos passarão
a ser realizados em dias úteis, como também no artigo 220, que prevê férias forense de 20 de
dezembro a 20 de janeiro, sendo que em 12 meses, um mês todo fica sem audiências e sessões
de julgamento.

23
Obviamente, que observando esses dois momentos no viés de celeridade, ou seja, no
sentido do processo ficar suspenso, há certo distanciamento da rapidez quanto aos atos
processuais. Porém, deve-se verificar o lado bom tanto dos atos serem em dias úteis e haver
férias forenses, pois os operadores do direito poderão ter mais possibilidade produtiva em dar
qualidade ao trabalho e consequentemente aumentar a probabilidade de acertar, de obter uma
maior justiça nas lides.
Além disso, outras inovações procedimentais que podem ser especificadas pelas partes
antes de iniciar o processo, tais como o ônus da prova, fixação de calendário pelo juiz e partes,
inversão cronológica de atos processuais, deveres, poderes e faculdades e no caso de nulidades
ou abuso quando se tratar de contrato de adesão, o juiz pode recusar sua aplicação conforme
dispositivo 191 do CPC:
De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos
atos processuais, quando for o caso.
§ 1o O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente
serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados.
Para Humberto Theodoro Júnior (2015, p. 470), as partes apenas podem fazer
convenção a respeito daquilo que lhes são disponíveis, de forma que jamais poderão atingir
o que for de competência do juiz. Não está disponível às partes, por exemplo, vetar a
iniciativa de prova do juiz, ou o controle dos pressupostos processuais e das condições da
ação, e nem circunstâncias relacionadas com matéria de ordem pública inerente à fun ção
judicante”.
No entanto, apesar de verificar a previsão infraconstitucional da disponibilidade das
partes convergirem entre si, dentro do que lhe é cabível, na prática, mesmo havendo
autorregramento, conforme artigo 190 do CPC/2015, no exemplo abaixo do Despacho de
página 255 de uma Ação de Procedimento Ordinário Cível, acaba prevalecendo não a
vontade parte-juiz, mas a vontade do segundo somente:
Ação:Procedimento Ordinário (Cível)
Requerente: Eletro Cesar Geração de Energia Ltda.
Advogado: Felippe Roberto Pestana (OAB/RO 5077), Alessandro de Brito Cunha
(OAB/GO 32559)
Requerido: Eletrobrás Distribuição Rondônia
Advogado: DÉCIO FREIRE (OAB/RO 6540)
DESPACHO:
DESPACHO: As partes convencionaram pela redesignação da audiência que fora
agendada para o dia 31/03/2016 de acordo com o que se encontra disposto no
art.190, NCPC.Em sendo assim, nos termos do art.139, V do NCPC, redesigno a
audiência de conciliação para o dia 20/05/2016, às 8h30min.Intimem-se as partes
via DJ.Porto Velho-RO, quarta-feira, 30 de março de 2016.Rinaldo Forti da Silva
Juiz de Direito

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Além disso, ao analisar a conciliação como instituto que recebeu nova “roupagem” com
o Código de Processo de 2015, será que realmente tornou-se na prática algo célere e com
efetividade?
Ao se falar em celeridade, um dos instrumentos de alta relevância, inserido pelo
CPC/2015 e que realmente traria rapidez e sentimento de justiça é a conciliação do artigo 319,
inciso VII do Código de Processo Civil. A ideia realmente é de uma excelência sem tamanho,
mas que infelizmente esbarra no simbolismo das normas, uma vez que, a estrutura necessária
se afasta-se da realidade, pois, para acontecer, precisaria de orçamento público, obras,
contratações, capacitação e escolhas.
Realmente a intenção de retirar a lide “do judiciário” para o campo “administrativo”
poderia ajudar na diminuição de gasto do tempo com tais questões caso o acordo conciliatório
aconteça.
Entretanto, para isso várias ações são necessárias, tais como qualificação de servidores
que precisa de um multitreino e assim atingir êxito no intermédio das partes, uma estrutura com
profissionais que darão suporte e estrutura física mais adequada para as conciliações.
Todavia, o aspecto que mais chama atenção nesse novo dispositivo é que as partes que
estão com um problema que não conseguem resolver e por isso atingem o ápice da lide, que é
a busca da justiça, e ainda estão prestes a ter a decisão de conciliação ou não, ainda têm que se
submeter a uma pré-conciliação que a de escolherem não querer a conciliação. Isso torna
situação um tanto quanto burocrática porque depende da aceitação das duas partes para que não
ocorra a audiência de conciliação.
Desse modo, a pacificação social e construção de uma decisão se distancia da realidade
já que a audiência passa para o campo da obrigatoriedade, ou seja, diminui a efetividade da
norma. Pois, inclusive, caso a parte falte injustificadamente haverá a penalidade dois por cento
sobre a vantagem econômica pretendida ou o valor da causa.
Dessa maneira, Thales Branco Gonçalves (2016) expõe que seja inconcebível impor ao
autor e réu uma audiência que tenha como intuito uma composição amigável. Além disso, o
Código traz dificuldade quanto a não realização da mesma, pois considera que se a pessoa não
quer participar da audiência de conciliação implica que o sujeito não almeja a conciliação.
Ainda considera um exagero legislativo querer que as duas partes se explicitem, uma
vez que bastaria apenas uma das partes não quererem uma conciliação para não se ter
conciliação, imagine então para uma audiência com aquela finalidade.

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Desse modo, o mesmo autor considera a ausência em audiência de conciliação uma
resposta de que não deseja terminar o conflito pela via consensual e ainda diz ser inviável a
punição por meio do vocábulo “injustificado” o que poderá obstar a solução do conflito.
Destarte, como a Lei 13.105, o Código de Processo Civil foi decretada em março de
2015 e teve sua vigência em março de 2016 e tendo o trabalho como conclusão um ano após
março 2017, percebe-se ainda figurada a questão da transição do mesmo.
No entanto, ao observar dados anteriores, já se pode ter indícios a respeito da efetividade
ou inefetividade de alguns elementos do Novo Código de Processo Civil Brasileiro.
Como por exemplo, se forem analisados os gráficos oficiais do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais da 1ª Instância dos anos de 2008 e 2015 (conforme Anexo I e II) a respeito dos
índices e taxas dos processos, julgamentos, distribuição, conciliação, audiências,
recorribilidade, paralisações, pendências e acervo total, verifica-se a busca pela excelência, mas
também percebe-se que há um distanciamento da conexão da teoria da prática.
Na tabela oficial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais da 2ª Instância do ano de 2008
(Anexo III) é possível identificar também que 17,97% dos processos demoram a ser julgados
em um tempo superior a 180 dias. Enquanto que em 2016 (Anexo VI) esse índice chega a
23,55% em 2016.
Finalmente, e mesmo em momento de transição já se verifica na teoria, a grande
contribuição do Código de Processo Civil e na prática jurídica uma forte influência da carga
simbólica da Constitucional a seus institutos e valores, pois entre a efetividade e a letra da
norma ainda existe um abismo chamado lacunas.

3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destarte, a partir de pesquisas, conforme problema levantado, percebe-se que os


instrumentos e valores do CPC/2015 supracitados até podem se apresentar com uma boa
intenção, no entanto, no campo da celeridade e efetividade existe um abismo separando a
prática da teoria. E como o país está colhendo as consequências (corrupção sistêmica e
exclusão social) da Constituição e legislação simbólica, talvez seja o momento oportuno de
afastar o simbolismo e lutar por transformações com menos discursos escritos e mais
concretizações, pois as normas existem para ser aplicadas.

26
3.5. REFERÊNCIAS

BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. TJ em Números. Disponível em: <


http://www.tjmg.jus.br/portal/transparencia/tj-em-numeros/> Acesso em: 22 de mar 2017

BRASIL, Congresso Nacional. Senado Federal. Anteprojeto de Código de Processo Civil.


Brasília :2010.

BRAGA, Sérgio Murilo Diniz (coord.) Novo Código de Processo Civil 2015. Belo
Horizonte: Líder, 2015.

BRASIL. (Constituição). Constituição da República Federativa do Brasil. In: Vade mecum.


16 ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/> Acesso em:


14 de nov. 2016

BUENO, Cassio Scarpinella Bueno. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo:
Saraiva, 2015.

GONÇALVES, Thales Branco. A conciliação no Novo Código de Processo Civil:


conciliação é legal, mas para quem? Disponível em < http://ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=17061 > Acessado em 20 de
mar 2017

HOLANDA, B. S. (1988). Raízes do Brasil. 20 ed. Rio de Janeiro: José Olympio 1ª ed: 1936

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil, vol. 1, 56.ed., Rio de
Janeiro: Forense, 2015.

NEVES, Marcelo. A Constituição Simbólica. São Paulo: Acadêmica, 1994.

REIS, Leonardo; BRAGA, Renato. Direito constitucional facilitado.Rio de Janeiro:


Elsevier, 2011.

27
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS / CONCLUSÃO

A partir da pesquisas desenvolvida foi possível constatar que, há no Brasil um alto


grau de legislação simbólica e com isso o problema levantado, de que o NCPC e seus
instrumentos e valores enumerados e descritos na pesquisa, tais como efetividade e
celeridade, existem no plano normativo e até podem se apresentar com uma boa intenção, no
entanto, no campo da celeridade e efetividade existe um abismo entre prática e teoria no
Sistema Jurídico brasileiro.
Neste sentido, é possível observar no país as consequências deste distanciamento
institucional, a colonização do sistema jurídico (binômio; Lícito/Ilícito) pelos sistemas
políticos (binômio: Poder/Não Poder) e econômicos (binômio: Dinheiro/Não Dinheiro)
evidenciando assim, a ocorrência da corrupção sistêmica, no caso brasileiro como nos países
de capitalismo tardio, causados fundamentalmente pelo alto índice de desigualdade e de
exclusão social, evidências inegáveis do Sistema Social brasileiro que favorecem a
emergência e perpetuação de constituições e legislações simbólicas.
Neste senso, talvez seja o momento oportuno para se iniciar um processo de ruptura
com o simbolismo e lutar por transformações concretas na sociedade brasileira, promovendo
uma ruptura com menos discursos, com movimentos cada vez maiores de concreção
Constitucional e Legal, pois afinal, as normas existem para serem realizadas e não para
simbolizar intenções.

28
5. REFERÊNCIAS

BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. TJ em Números. Disponível em: <


http://www.tjmg.jus.br/portal/transparencia/tj-em-numeros/> Acesso em: 22 de mar 2017

BRASIL, Congresso Nacional. Senado Federal. Anteprojeto de Código de Processo Civil.


Brasília :2010.

BRAGA, Sérgio Murilo Diniz (coord.) Novo Código de Processo Civil 2015. Belo
Horizonte: Líder, 2015.

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mecum. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/> Acesso em: 14


de nov. 2016

BUENO, Cassio Scarpinella Bueno. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo:
Saraiva, 2015.

GONÇALVES, Thales Branco. A conciliação no Novo Código de Processo Civil:


conciliação é legal, mas para quem? Disponível em < http://ambito-
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mar 2017

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do brasil. 20. ed. São Paulo: José Olímpio, 1988.

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil, vol. 1, 56.ed., Rio de
Janeiro: Forense, 2015.

NEVES, Marcelo. A Constituição Simbólica. São Paulo: Acadêmica, 1994.

REIS, Leonardo; BRAGA, Renato. Direito constitucional facilitado. Ed. 6. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.

29
5. ANEXOS

ANEXO I - ÍNDICES E TAXAS PROCESSUAIS DE 2008 1ª INSTÂNCIA

30
ANEXO II - ÍNDICES E TAXAS PROCESSUAIS DE 2015 1ª INSTÂNCIA

31
32
33
ANEXO III- ESTATÍSTICA PROCESSUAL UNIFICADA 2008

34
ANEXO IV - TEMPO DE JULGAMENTO DOS PROCESSOS ANUAL 2ª INSTÂNCIA
2016

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