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Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010

REFLEXÃO SOBRE SUBSTANTIVO E ADJETIVO SOB


PERSPECTIVA
MORFOSSINTÁTICA E SEMÂNTICA

Cybele Maria Martins Cíntia Lidiane Pizetta


UNICASTELO (DESCALVADO) UNICASTELO (DESCALVADO)

RESUMO
O trabalho analisou as classes gramaticais: substantivos e adjetivos. Realizou-se um
levantamento das definições delas em gramáticas tradicionais e em outros estudiosos e, tendo-as por
base, discutiu-se sua aplicação em contextos de usos. Foram analisados principalmente exemplos de
situações não referidos em algumas das obras citadas os quais requerem um conhecimento e uma visão
mais amplos sobre a língua. A análise mostrou, então, substantivos e adjetivos que podem trocar de
‘classificação’ em virtude da função deles dentro de frases e de palavras compostas. Observou-se que,
dependendo do contexto em que estão inseridos, as definições dadas pelas gramáticas não se aplicam a
todos os casos.

Palavras- chave: Definições; Contexto; Classes Nominais.

REFLECTION ABOUT NOUN AND ADJECTIVE UNDER


PERSPECTIVE
MORFOSSYNTACTIC AND SEMANTICS

ABSTRACT
This research will analyze two grammatical classes: nouns and adjectives in use context.
Realized it will be made a survey of existing definitions in traditional grammar and other studious of
the language to after, having them as base, to argue its application in use of language contexts. It will
be pointed and argued mainly examples of their use not referred in traditional grammar and in didactic
books of which request a wider knowledge and vision. The analyzes will show then nouns and
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adjectives that can change from classification in virtue of function inside of a phrase and its
participation in compound forms. Depending of the context in which they are inserted, we can observe
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that the tight definitions managed by the grammar don’t apply and thus are incompatible for these
cases.

Keywords: Definitions; Context; Nominal Classes.


Brazilian Cultural Studies
v. 1, n. 2, p. 211-234, Maio/Agosto 2010
Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010

INTRODUÇÃO
A pesquisa verificou as classes de palavras, substantivos e adjetivos, levando-se em
consideração o uso delas em contextos, no intuito de se dar uma visão mais ampla já que em
um ato de fala podem ocupar funções diversas das previstas em definições estanques que são
encontradas em gramáticas tradicionais, geralmente na parte destinada à morfologia. Estas
partem, na maioria das vezes, de palavras em frases escritas de autores consagrados para
definirem e exemplificarem classes gramaticais e não propriamente do uso cotidiano delas na
língua. Neste contexto, podem passar a ser consideradas de forma diversa do previsto já que
há mutabilidade de função das categorias gramaticais na sua utilização no discurso; daí a
importância de uma visão mais abrangente sobre o tema em questão.
A elaboração deste estudo se deve justamente ao fato de que há pouca inclusão de
dados a respeito de alguns usos dessas em gramáticas tradicionais, que são, geralmente, o
material de trabalho e de pesquisa da maioria dos docentes pertencentes à rede de ensino
fundamental e médio (de 1º e 2º graus).
Desta forma, este artigo pretendeu aprofundar um pouco o conteúdo sobre o tema,
fazendo-se uma análise de textos existentes em obras de estudiosos diversos e, a partir da
averiguação de dados, fazer uma apreciação sobre usos que normalmente não constam em
gramáticas e que merecem ser considerados como possibilidades da língua, pois estes fazem
parte, também, do cotidiano do falante que os usa para se comunicar em quaisquer situações
da sua vida, seja na modalidade escrita ou na oral.
Inicialmente foi feito um levantamento do estudo diacrônico das classes gramaticais,
verificando-se as vigentes no latim e no português, comparando-se, ainda, as mudanças na sua
evolução principalmente em relação à classe dos nomes. A seguir, fez-se um levantamento
das definições sobre as classes a partir de estudiosos, principalmente dos tradicionais. Após
esse estudo, foi iniciada uma análise, constatando-se semelhanças e divergências entre elas.
A partir daí, foram averiguadas possibilidades de mudanças dessas classes no uso da
língua; a mudança de classe de um mesmo item lexical quando em funções diferentes. Foi
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feita, ainda, análise da formação de compostos com substantivos+adjetivos e discutida a visão


de estudiosos a respeito deles; estes podem ser considerados como sendo um único “termo”
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ou como palavras usadas juntas em frases. No final, foi feita uma reflexão sobre todos os
resultados para, assim, se chegar a uma visão mais completa do objeto de estudo analisado
nesta pesquisa.

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DESENVOLVIMENTO

Qualquer campo de conhecimento envolve um conjunto de entidades que tem função e


se organiza em classes. Estabelecer categorias é uma das mais básicas capacidades do ser
humano e é devido a isso que ele consegue diferenciar entidades linguísticas referentes a
elementos da realidade de formas diferentes. Por esta razão, as chamadas palavras de uma
língua se agrupam em categorias (MOURA NEVES, 2002).
Os vocábulos são distribuídos em classes de acordo com a idéia que expressam. Desde
a Antiguidade havia essa preocupação. A classificação de Aristóteles, dividia as palavras em
nome, verbo e partícula e esse estudo tem, de certa forma, influenciado reflexões sobre o
assunto ao longo do tempo. (BIDERMAN, 2001)
A autora diz, ainda, que a gramática latina já as separava em oito “partes orationes”,
conforme segue: “nomina = nomes; pronomina = pronomes; verba = verbos; adverbia =
advérbio; participia = particípio; coniutiones = conjunção; praepositiones = preposições;
interienctiones = interjeições” (op.cit., p. 218). Também afirma que os gramáticos latinos
medievais incluíram na listagem novas classes ao distinguir os adjetivos dos substantivos na
dos nomes. Desde essa época, porém, substantivos e adjetivos, embora separados pela
significação/função, ainda mantiveram alguma relação. Devido à evolução histórica da língua
portuguesa, duas novas classes foram, mais tarde, introduzidas: numerais e artigos.
A nomenclatura oficial brasileira, datada de 1958, tem servido de apoio à terminologia
empregada pelas gramáticas normativas. A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB)
(Portaria Ministerial de 28/1/1959- apud BIDERMAN,2001, p.246) atualmente reconhece dez
classes de palavras: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio,
preposição, conjunção,interjeição.
Hoje, os estudos a respeito das classes de palavras estão cada vez mais avançados
deixando de ser apenas foco dos gramáticos que veem, na maioria das vezes , por exemplo,
substantivos e adjetivos como estanques e limitadas. Alguns já se preocupam com elas vendo-
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as no ‘uso’ da língua, isto é, no comportamento dessas palavras em contextos.


Estudiosos reconhecem alguns critérios na identificação das categorias gramaticais.
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Moura Neves (2002 ) se refere inicialmente à classificação de acordo com a forma e com a
distribuição que, às vezes, é insuficiente para reconhecê-las. Outro critério é o da verificação
da função das palavras na oração; este é previsto quando o anterior leva à ambiguidade.

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Acrescenta, ainda, que há estudos que consideram o sentido como meio de identificar uma
palavra, unindo, na verdade, forma e função ( visão morfo-sintática); porém parece ser este
um critério que leva a generalizações excessivas.
De modo geral, os substantivos e os adjetivos praticamente se identificam no plano
morfológico, pois ambos são afetados pelas categorias de gênero, de número e de caso, sendo
obrigatória a concordância entre eles; neste caso, já entra o plano sintático, pois os relaciona.
Biderman (2001) diz que substantivo e adjetivo são divididos apenas por uma questão
sintática acrescida de características semânticas; isso ocorre no português e em outras
línguas que também os possuem.
Perini (2001, p. 40) diz que: “Em lingüística, [....] falamos de adjetivos, verbos,
preposições, orações e sintagmas nominais: todos esses nomes designam classes de formas
lingüísticas. Ora, veremos que nem sempre os limites entre essas classes são claros e bem
definidos: a lingüística também tem seus ornitorrincos”. Admite , portanto, a não limitação
de classes conforme o fazem outros estudiosos; porém justifica a existência da classificação
pelo fato de que outras áreas do conhecimento também a efetuam para o estudo ser mais
eficiente e mais fácil. Embora a admita, acrescenta que, geralmente, torna rígida uma classe.
Daí a classificação também ocorrer na língua: ela existe principalmente para fins didáticos e
para facilitar o estudo.
Leitão (2000) se refere à dificuldade que estudiosos têm para organizarem as palavras
da língua. Diz, ainda, que a terminologia oficial, reconhecida por autores como Cunha e
Cintra, Rocha Lima e Bechara, divide-as em 10 classes gramaticais. Embora prevaleça a
natureza morfológica, a descrição convencional se vale de outros critérios. Acrescenta que

Os aspectos semânticos muitas vezes não se coadunam com os formais, enquanto que estes se
confundem com os morfossintáticos, ensejando definições longas, pouco precisas, que não
apreendem a essência do conceito descrito. (LEITÃO, 2000, p.65).

As gramáticas tradicionais normalmente levam em conta critérios diversos,


dependendo do ponto de vista do autor, apesar de constarem, de modo geral, na parte
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dedicada à morfologia; além disso, na maioria das vezes, as definições não abrangem todos os
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casos de contextos de usos da língua. Elas seguem, na maior parte das vezes, o que foi
imposto pela NGB: uniformização do ensino da língua portuguesa.

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Então, para efeitos didáticos, já que é a referência usada como exigência em


concursos, ainda prevalecem os dados da NGB, apesar das impropriedades que têm sido
relatadas por estudos mais específicos baseados em uma reflexão sobre a língua em uso.

DEFINIÇÕES DE SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS


A seguir serão analisadas algumas definições de substantivo e de adjetivo para
ilustrarem as reflexões que serão feitas sobre o assunto, em especial as referentes ao uso dos
termos em contextos.
Bechara (1999, p.112) considera o substantivo como:

[...] a classe de lexema que se caracteriza por significar o que convencionalmente chamamos
objetos substantivos, isto é, em primeiro lugar, substâncias (homem, casa, livro) e, em
segundo lugar, quaisquer outros objetos mentalmente apreendidos como substância, quais
sejam qualidades (bondade, brancura), estados (saúde, doença), processos (chegada, entrada,
aceitação).

Já o adjetivo, ele conceitua como “[...]a classe de lexema que se caracteriza por
constituir a delimitação, isto é, por caracterizar as possibilidades designativas do substantivo,
orientando delimitativamente a referência a uma parte ou a um aspecto do denotado” (op.cit.,
p.142).
Para Cunha e Cintra (2001, p.177) o “Substantivo: é a palavra com que designamos ou
nomeamos os seres em geral”. Ainda na parte referente ao substantivo, os autores dizem que
ele pode formar uma locução adjetiva e, portanto, ter a função de um adjunto adnominal,
como, por exemplo, em uma vontade de ferro. Ainda se refere aos exemplos: um riso
canalha, uma recepção monstro, em que os substantivos assinalados têm a função de adjunto
adnominal ao se referirem a outro substantivo. Também mostram o uso do substantivo como
modificador do adjetivo em casos como: amarelo-canário, verde-garrafa (op.cit., p. 201). O
adjetivo é, para eles (op.cit., p.245), “[...] essencialmente um modificador do substantivo”.
Acrescentam que ele serve para caracterizar os seres, os objetos ou as noções nomeadas pelos
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substantivos, indicando-lhes: uma qualidade, modo, aspecto ou estado.


Mais adiante (p. 246) afirmam que palavras variam de acordo com o contexto,
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conforme se pode ver nos exemplos:


A preta velha vendia laranjas.
A velha preta vendia laranjas.

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No primeiro exemplo, preta é substantivo e velha, adjetivo; já no segundo caso, elas


trocam de classificação passando velha a substantivo e preta a adjetivo, constatando-se que ,
algumas vezes há uma única forma para as duas classes de palavras. Isto mostra como é
estreita a relação entre o substantivo e o adjetivo; aquele é o termo determinado e este, o
determinante, segundo os autores. Exemplos simples, então, podem mostrar a fragilidade das
definições dadas por gramáticos, uma vez que também admitem outras funções, além das
consideradas próprias das classes, conforme especificadas ao defini-las.
Para Rocha Lima (2005, p.66), “Substantivo é a palavra com que nomeamos os seres
em geral, e as qualidades, as ações, ou estados, considerados em si mesmos,
independentemente dos seres com que se relacionam”. Para ele, adjetivo é “[...] a palavra que
restringe a significação ampla e geral do substantivo” (op.cit., p.96).
Segundo Almeida (1999, p. 80), substantivo é considerado como sendo “[...] palavras
que designam coisa, ser, substância. Toda a palavra que encerra essa idéia denomina-se
substantivo”. Por adjetivo o autor entende que são “[...] todas as palavras que se referem ao
substantivo para indicar-lhe um atributo”. Mais adiante (op.cit., p. 137), diz que pelo fato de
“[...] vir o adjetivo qualificando o substantivo, resulta muitas vezes que, tirando-se o
substantivo, continua sendo este facilmente subentendido, sem prejuízo para o sentido”. Este
estudioso define de forma ‘limitada’ as classes, mas, adiante, admite usos diversos dos
previstos nas conceituações delas. Isto significa que o adjetivo pode assumir a ‘função’ do
substantivo. Dá como exemplos: o cego, um avarento, aquele perverso, em que os adjetivos
assumiram o caráter de substantivo; daí serem adjetivos substantivados. Também admite que
isto pode ocorrer com o substantivo: mudar de função. Dá como exemplos: menino prodígio,
homem máquina, laranja lima, filho homem, comício monstro, em que o 2º elemento assume
a função de qualificador do 1º.
Outro gramático que se refere a substantivo é Infante (2001, p. 282), afirmando
que é “[...] a palavra que nomeia os seres”. Conceitua também adjetivo (op.cit., p.312) como
a “[...] palavra que caracteriza o substantivo, atribuindo-lhe qualidades (ou defeitos) e modos
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de ser, ou indicando-lhes o aspecto ou estado. Assim como alguns estudiosos já citados, ele
diz que “[...] substantivos e adjetivos apresentam muitas características semelhantes e, em
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muitas situações, a distinção entre ambos só é possível a partir de elementos fornecidos pelo
contexto”. Dá ainda como exemplos: jovem brasileiro / brasileiro jovem para evidenciar a
mudança de classe gramatical e diz que: “Ser adjetivo ou ser substantivo não decorre,

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portanto, de características morfológicas da palavra, mas de sua atuação efetiva numa frase da
língua”( op.cit., p. 312).
Azeredo (2008, p.155) diz que o substantivo reúne características como: dar nome às
parcelas do conhecimento representadas por seres; ser núcleo de expressões referenciais do
texto; ter gênero e número próprios e desempenhar funções sintáticas de sujeito e de objeto
direto. Sobre adjetivos, afirma que são “[...] os lexemas que se empregam tipicamente para
significar atributos ou propriedades dos seres e coisas nomeadas pelos substantivos” (op.cit.,
p.169). Ele também limita as caracterizações do substantivo e do adjetivo, semelhante a
outros estudiosos, embora as suas definições sejam abrangentes, uma vez que, por exemplo,
na do substantivo abrange sentido, relação com outras palavras, função, envolvendo, desta
forma, o aspecto semântico, o sintático além do morfológico. Na realidade, sabe-se que há
muitas outras possibilidades de uso.
Macambira (2001) analisa substantivo sob o aspecto mórfico inicialmente dividindo-
o em: quadriforme, biforme e uniforme, embora apenas isto não o classifique, já que outras
classes também as têm: artigo, adjetivo, numeral, pronome. Usa, então, o critério de
“oposições formais”, isto é, como classe variável que admite sufixos aumentativos e
diminutivos. Estes também são usados por adjetivos e advérbios, segundo o autor. Daí,
acrescenta o aspecto sintático, dizendo que “[...] pertence à classe do substantivo toda palavra
que se deixar preceder por artigo ou pronome adjetivo, especialmente possessivo,
demonstrativo e indefinido” (op.cit., p.34). Sob o aspecto semântico, para ele, o substantivo é
a palavra que “serve para designar os seres” (op.cit., p.34).
Ainda segundo Macambira (2001), adjetivo, sob aspecto mórfico, é toda palavra que
“[...] produz oposições formais, correspondentes ao grau positivo e ao grau superlativo...”
(op.cit., p. 36). Sob aspecto sintático é toda “[...] palavra variável que se deixar preceder
pelos advérbios correlativos tão ou quão, de preferência o primeiro, pertencente ao dialeto
coloquial” (op.cit., p.37). Sob aspecto semântico, é a palavra que exprime qualidade,
conceituação semelhante a muitos outros estudiosos. Mais adiante acrescenta que é melhor
defini-lo como: “Adjetivo é a palavra variável que serve para modificar o substantivo”
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(op.cit., p.38).
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Estes são alguns dos estudiosos que fazem referência aos substantivos e aos
adjetivos. De modo geral, atribuem a designação àqueles como a classe que nomeia os seres
e a estes como sendo os termos que acrescentam atributos aos substantivos. Ao se tentar
aplicar as definições a determinadas palavras no uso da língua, chega-se à conclusão de que
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elas parecem ser incoerentes e incompletas, pois não explicam o uso de certas palavras em
contextos especiais.
Há de se considerar a possibilidade de uma certa mudança de função/classificação de
adjetivos e substantivos da língua quando em uso por falantes, inclusive considerando-se a
sua inclusão na ‘formação’ de palavras. Eles não são termos fixos com contextos definidos,
mas, apesar disto, se admite ser necessária uma definição, pelo menos para fins didáticos,
pois ela é a garantia de que se está falando de ‘classes’ que funcionam dentro da língua,
assim como há classificações em outras áreas do conhecimento para se poder entender a
realidade e, principalmente, facilitar o estudo. Daí a categorização feita por estudiosos e
gramáticos tradicionais a respeito de palavras do português.

CONSIDERAÇÕES SOBRE DEFINIÇÕES

A análise pretendeu evidenciar que as classes gramaticais, em especial a dos


substantivos e adjetivos, não são estanques e limitadas conforme conceituações dadas por
alguns estudiosos, pois, na maioria das vezes, são definidas tendo por base critérios variados,
tais como: morfológico, sintático e semântico para a mesma categoria, o que comprova a
complexidade da classificação das palavras na língua. Além disso, elas podem mudar de
categoria no uso em frases, como ainda serem componentes de palavras nas quais adquirem
função diversa da que são classificadas, possibilidades que serão consideradas a seguir.
O aspecto morfológico destaca especialmente as categorias de gênero e de número
que se aplicam a substantivos e a adjetivos, embora de formas diversas. O gênero, por
exemplo, é imanente ao substantivo, enquanto no adjetivo é decorrente da concordância com
o termo a que se refere: o substantivo é o determinante; o adjetivo é, então, o termo
determinado. Pelo critério sintático, leva-se em consideração a distribuição da palavra na
frase, isto é, em que posição pode ser encontrada nela e também a função que desempenha
em relação aos outros termos que compõem a oração. O critério semântico determina a classe
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baseando-se no significado. Desta forma, o substantivo é definido como palavra que designa
seres, enquanto o adjetivo é a palavra que indica qualidade desses seres.
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As considerações feitas por estudiosos em torno das classes analisadas, de modo


geral, levam em conta esses aspectos. Isto configura a dificuldade em se definir de maneira
satisfatória substantivos e adjetivos como ocorre, principalmente, em gramáticas tradicionais.
Outro fator é a distinção entre substantivos e adjetivos pois, originalmente, no latim,
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ambos pertenciam a uma única classe: a dos nomes; por isso percebem-se até hoje afinidades
entre eles. Este é mais um motivo para que haja ‘troca’ de funções e, por consequência,
mudança de classe de substantivos e de adjetivos quando em contextos de uso.
Um fato relevante a ressaltar nas conceituações de gramáticos normativos é o de que
a definição dada por eles toma isoladamente a palavra e, ainda, esta é restrita ao uso escrito da
língua. Na maioria das vezes, usam como exemplos frases de escritores, em vez de analisá-la
em sua existência real dentro da língua, isto é, vê-la inserida em um contexto, incluindo
outros níveis, variações linguísticas e a modalidade oral. Desta forma é que a palavra
adquirirá sua identidade funcional, sendo substantivo, adjetivo ou verbo. Ela terá sua marca
funcional e será diferente de todas as outras no uso.

ANÁLISE DAS CLASSES EM USOS

Para comprovar tais afirmações, uma análise de exemplos variados de substantivos e


adjetivos, inclusive os de alguns estudiosos, pode evidenciar que contextos de uso
determinam, em boa parte dos casos, a classificação de uma palavra. Serão, então, analisados
vocábulos em alguns contextos de usos em frases do cotidiano, não mais considerando-os
isoladamente como faz a maioria dos gramáticos ao classificar esses termos. Mais adiante,
estas classes também serão analisadas em usos nos quais aparecem como pertencentes a
compostos. Em alguns exemplos, porém, há dúvidas se a ocorrência delas, nesses casos, pode
ser considerada como formando palavras compostas ou se apenas se trata de palavras juntas
em um contexto de uso da língua.

SUBSTANTIVOS OU ADJETIVOS: USOS EM CONTEXTOS

Assim, há casos nos quais uma mesma palavra pode desempenhar a função de
substantivo ou de adjetivo dependendo do contexto em que está inserida. Pode-se tomar
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como exemplo a ocorrência da palavra doce como nas seguintes orações citadas por Basílio
(2004, p. 80):
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(1) Este bolo está muito doce.


(2) Este doce está uma delícia!

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Observa-se que em (1) a palavra doce está funcionando como adjetivo, pois está
atribuindo algo ao substantivo bolo: o de ter sabor como o de açúcar. Já em (2), a mesma
palavra está funcionando como substantivo, pois está nomeando algo e não atribuindo uma
característica como na frase anterior; significa: produto culinário.
Pode-se perceber que existe uma relação semântica entre as duas orações,uma vez que
como substantivo designa produto culinário; qualificado como ‘doce, com gosto de açúcar’ é
adjetivo. Mas essa relação semântica não é absoluta, porque nem todo produto comestível ou
culinário “predicável” pelo adjetivo doce pode ser designado pelo substantivo doce, como se
pode confirmar nas orações:
(3) Pudins e compotas são doces.
(4) Comi biscoitos doces.

Observa-se que, aqui,o adjetivo denota uma propriedade atribuída que é própria do
pudim e da compota: ‘ser doce’, enquanto em (4) denota um produto ‘específico’, já que nem
todos os biscoitos são doces. Neste caso identifica o tipo de biscoito.
A diferença entre eles também pode ser notada em uma frase possível na língua: Este
doce está doce demais, em que a significação e categorização se devem à função de cada
emprego de doce na frase.
Daí se pode concluir que uma palavra não deve ser considerada como sendo um
substantivo ou um adjetivo antes de ser analisada em um contexto específico, já que, como se
pôde constatar, em muitos casos, a classificação dela depende de sua posição, função dentro
de uma frase; portanto em uso na língua.
Há palavras que são essencialmente, por exemplo, “adjetivos” como belo, que,
conforme consta em dicionários, é assim considerada. Porém em um uso específico, pode-se
dizer ‘o belo’ no lugar de se usar o substantivo correspondente beleza. Houve, neste caso,
uma substantivação do adjetivo, que, segundo Basílio (2004), ocorre quando ele passa a ser
usado como um substantivo, denotando ser e acionando mecanismos de concordância, embora
não possa ser considerado como substantivo pleno. É o que ocorre com os adjetivos ‘manso’ e
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‘aflito’ que são considerados adjetivos, mas que, em um emprego determinado, torna-se
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‘substantivo’ devido à função que passam a ter no contexto, como nas frases dadas por
Basílio (2004, p. 85):
(5) Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra.
(6) Consolai os aflitos.
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Nestes usos, em vez de qualificar o ser, o adjetivo está funcionando como se fosse um
substantivo, isto é, designando seres; o significado dele se assemelha ao do próprio adjetivo.
Em (5) mansos, plural do adjetivo manso, denota todos os seres que tenham a propriedade de
mansidão; já em (6), aflitos está denotando todos os seres que possam ser qualificados como
tendo aflição.
Há, também, construções inversas em que os substantivos ‘qualificam, caracterizam e
ou especificam substantivos’; nestes casos, diz-se que houve uma adjetivação do substantivo,
como se pode constatar nos exemplos:
(7) Fui vítima de um sequestro-relâmpago.
(8) Ele era a testemunha-chave da polícia.

Nessas construções, direta ou metaforicamente, o elemento central do significado do


composto é tomado como um predicado qualificando o outro substantivo. Nestes casos, o
segundo substantivo está exercendo a função de um adjetivo ao especificar o ser a que se
refere. A palavra relâmpago está especificando o substantivo sequestro dentro do composto,
assim como chave , a palavra testemunha.
Outra reflexão a ser feita em torno dessas classes de palavras é a que Borba faz no
seu livro Organização de dicionários (2003, p.26) a respeito de exemplos como:
“a. Velhos utensílios de copa e cozinha.
b. Era amigo de copa e cozinha da mistura demissionária.”

Conforme o autor explica, no nível fonético e no morfológico parece não haver


diferença entre as formas grifadas. A diferença estaria no nível sintático e no semântico.
Sintaticamente, em ambos os casos, o grupo sintático incide sobre um N(nome), mas de
subclasses diferentes. E é no nível semântico que a diferença se torna evidente: em (a) há
autonomia dos elementos ‘copa e cozinha’; já em (b) isto não ocorre: é o conjunto que tem
um valor específico equivalente a “amigo íntimo”. Assim percebido pelo falante, é
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considerado uma lexia complexa. Por lexia complexa entende-se: formas aglutinadas que
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parecem “[...] algumas vezes perfeitamente soldadas e outras com forte índice de coesão
interna” (BIDERMAN, 2001, p.170).
Perini (2001,p 42) questiona como fazer para tratar de adjetivos e de substantivos
como classes. Ainda indaga: “O que é que faz de uma palavra um adjetivo ou um
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substantivo?” Considera essas duas classes como difíceis de distinguir, embora sejam tratadas
como classes distintas; daí separadas na classificação: os substantivos dão “nomes às coisas,
seres,..”, enquanto os adjetivos expressam “qualidades, atributos,..”; é o que se resume a
partir de dados de gramáticas. Porém “se as palavras forem João e paternal, a aplicação é
razoavelmente fácil”. João é nome de uma coisa (uma pessoa) e paternal exprime apenas uma
qualidade; logo, João é substantivo e paternal um adjetivo. Acrescenta outro exemplo em que
a facilidade não é tão evidente. Quando se trata da palavra maternal, o autor afirma que:

Mas como classificar maternal? Essa palavra parece, à primeira vista, ser idêntica a paternal,
com a única diferença de que se refere à mãe, não ao pai. Assim, dizemos atitudes maternais
do mesmo jeito que dizemos atitudes paternais. Mas na verdade há uma diferença: maternal
(mas não paternal) é também o nome de uma coisa, ou seja, designa um tipo de escola
infantil: meu menino ainda está no maternal.
E agora? Maternal é adjetivo, porque expressa uma qualidade; e é substantivo, porque é o
nome de uma coisa. Ou será um caso, com certeza excepcionalíssimo, de palavra que está no
limite das duas classes e tem as propriedades de ambas? Nem isso, porque o caso de maternal
não é raro nem excepcional. Há milhares de palavras que se comportam de maneira
semelhante. (PERINI, 2001, p. 43)

Casos de palavras como os exemplos dados, levam à reflexão de que definições e


conceituações limitadas e estanques não procedem, uma vez que, no uso da língua, as
palavras se comportam diferentemente das proposições teóricas. Assim, adjetivos e
substantivos podem ter comportamentos diversos dos previstos por definições de gramáticos.
O autor referido ainda dá outros exemplos , como os que seguem :

“(1 )a. Uma palavra amiga (qualidade)


b. Um amigo fiel (nome de coisa)

(2) a. Uma menina magrela (qualidade)


b. Essa magrela (nome de coisa)

(3) a. Um homem trabalhador (qualidade)


b. Os trabalhadores (nome de coisa)
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(4) a. O carro verde (qualidade)


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b. O verde está na moda (nome de coisa) “


(Perini, 2001, p.43)

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Cybele Maria Martins & Cíntia Lidiane Pizetta 2010

Nessas frases, as palavras amigo, magrela, trabalhador, verde são consideradas na


letra (a) adjetivos e na (b) substantivos pela função que exercem nos contextos.
Muitas são as palavras que têm o mesmo comportamento desses exemplos. A
respeito disto, Biderman ( 2001, p.258) explica que, às vezes, “ [...] ocorre uma
recategorização de um lexema como substantivo, sem que o vocábulo-base desapareça do uso.
Nesses casos, surge a homonímia”. Para tal, dá como exemplos os que seguem:
homem português português
cidadão americano americano
indivíduo brasileiro brasileiro.

Nos exemplos, o que ocorre é a mudança em que os adjetivos assumem a função dos
substantivos, omitindo-se, então, homem, cidadão, indivíduo. Porém, os três lexemas constam
como sendo ‘adjetivo’ e ‘substantivo’ no Michaëlis (1998). Isto significa que, de acordo com
o dicionário, as palavras pertencem às duas classes e daí o uso ser normal. Há, no entanto,
palavras com as quais realmente há uma recategorização dos lexemas, cuja ocorrência é
válida e recorrente na língua em uso.
Devido à necessidade de renovação da língua, algumas palavras já existentes acabam
por trocar de classificação em função do contexto em que estão inseridas, passando a adquirir
um novo significado, como se observa nas seguintes orações:
(9) Este livro é muito velho.
(10) O velho atravessou a rua.
Nas duas orações está sendo utilizada a mesma palavra velho, mas, no primeiro caso,
pode-se classificá-la como adjetivo, pois está atribuindo um estado ao substantivo livro; já,
no segundo caso, ocorre a utilização dela como substantivo, indicando ‘uma pessoa com certa
idade’. Através de exemplos como estes, pode-se constatar que o contexto é determinante
para a classificação da palavra, pois, se vista isoladamente, não se teria como identificar se
está exercendo a função de substantivo ou de adjetivo. Se se recorrer ao dicionário Houaiss
(2001) o verbete velho evidencia que a palavra pode ser usada como adjetivo, significando
223

“relativo a algo antigo” e como substantivo, tendo o sentido de “ pessoa de mais idade”.
Outro exemplo evidenciando a ocorrência é o uso de “marinheiro” no contexto
Página

marinheiro brasileiro em que marinheiro é considerado substantivo e brasileiro é o adjetivo


que a ele se refere indicando nacionalidade. Também se pode usar brasileiro marinheiro,
contexto este em que há uma ‘troca’ de classes das palavras: marinheiro passa a adjetivo
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referente ao substantivo brasileiro. O que ocorre é que elas podem tanto ter a função de
substantivos como adjetivos; mais uma vez se constata que a classificação dessas palavras vai
depender do contexto no qual estão inseridas.
Outra ocorrência dessa possibilidade da língua é a palavra referente à nacionalidade:
‘mexicano’ que pode ter duas classificações como nos contextos: mexicano
diplomata/diplomata mexicano. No 1º caso, a palavra é substantivo; no 2º, adjetivo.
Segundo Basílio (2004, p.82) “Os nomes pátrios, como adjetivos, atribuem uma
caracterização de proveniência ou origem aos substantivos com que se combinam; usados
isoladamente, denotam seres humanos por sua origem”, como nos exemplos dados por ela:
a) Os vinhos brasileiros estão melhorando.
b) Os marinheiros brasileiros se emocionam facilmente.
c) Os brasileiros gostam de feijoada. (op.cit., p.82)

Levando-se em consideração a explicação dada pela autora, pode-se perceber que em


‘a’ brasileiro é um adjetivo que está caracterizando vinhos de acordo com sua procedência;
em ‘b’ caracteriza marinheiros também pela sua proveniência; já em ‘c’ é um substantivo
usado no plural para denominar qualquer pessoa nascida no Brasil. Como já se constatou
pelos exemplos dados, o termo tem a função de substantivo, conforme previsto no verbete do
dicionário Michaëlis (1998).
Nos casos referentes a nomes de cores, o que ocorre é um pouco diferente como diz
Basílio (2004, p.82): “Como adjetivos, atribuem cores específicas aos referentes dos
substantivos que acompanham. Quando usados isoladamente, denotam a cor em si e
apresentam propriedades plenas de substantivos”.
Mais adiante diz que “Substantivos são frequentemente utilizados em composições
com outros substantivos para fim de especificação” (BASÍLIO, 2004, p.90) e a autora ainda
utiliza, como exemplos, as cores café, areia, cereja que querem especificar os próprios
objetos caracterizados; porém, nestes casos, apesar desses substantivos passarem a designar
224

cores, não adquirem as propriedades mórficas dos adjetivos, pois não apresentam
concordância em gênero e número em usos como: sapatos café (e não sapatos cafés); bolsas
Página

areia (não areias) e blusas cereja ( não cerejas), não havendo, portanto, concordância com os
vocábulos a que se referem. Isto se dá em exemplos como estes nos quais foram usados
substantivos, pela semelhança da cor, para designar ‘cores’ de outros elementos.

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Na maioria dos casos, os substantivos em composições são utilizados para fins de


especificação; o caso mais comum é o de cor que acaba incidindo com frequência no próprio
nome da cor, como em verde alface, verde limão, azul turquesa, vermelho rubi, cinza
chumbo, rosa bebê, como diz Basílio (2004, p. 91). A referência à cor é especificada, por
exemplo, pelo substantivo alface, isto é, da cor de alface. Esta ocorrência é semelhante à dada
no parágrafo anterior.
Um caso que pode ser citado para evidenciar o uso das classes analisadas em
contextos diversos dos previstos por gramáticas normativas é o de assassino
impiedoso/instinto assassino em que “[...] uma mesma forma pode ter a categoria N ou a
categoria Adj...” (MOURA NEVES, 2002, p.137) em que N=substantivo e adj.= adjetivo.
Assassino está sendo definido pela posição ocupada na oração: no 1º caso, é um substantivo;
no 2º, um adjetivo.
Uma palavra que passa a ter um novo significado, fato este comum na língua, pode
mudar a categoria gramatical por ter, também, uma nova função. Por exemplo, na frase:
Aquela garota é um avião, a palavra avião, tida como substantivo por denominar o nome de
um meio de transporte, neste caso passa a ser usada como um adjetivo, pois está qualificando
e não simplesmente nomeando um ser. Este é um processo metafórico que ocorre na mudança
da significação do termo, além da classe gramatical em virtude de ter havido uma comparação
que foi omitida, o que é próprio da metáfora.
Ocorre, também, com o uso do substantivo touro tendo sentido de ‘forte’ e função de
adjetivo na frase: Aquele homem é um touro. Touro, classificado como substantivo, passa a
ser adjetivo quando caracterizando, por exemplo, homem. Esta ocorrência da palavra é devida
à metáfora, que é um recurso estilístico em que o vocábulo adquire sentido conotativo. É,
então, outra possibilidade de mudança de classe gramatical, comum na utilização da língua,
embora nem sempre prevista em gramáticas tradicionais no estudo das referidas classes.
As palavras que acabam por mudar de classe são somente percebidas dentro de um
contexto de uso e essa consideração é, muitas vezes, descartada por estudiosos, embora de
225

suma importância dentro do estudo da língua, pois são ocorrências que figuram como
derivações impróprias ou conversão. Alguns autores observam que esse processo pertence à
Página

área da semântica e não à da morfologia, pois existem traços formais caracterizadores que não
o torna exclusivo da semântica (KHEDI, 2000).

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SUBSTANTIVO OU ADJETIVO?

Há também casos em que há dúvidas quanto à formação da palavra, principalmente


no aspecto relacionado à composição: trata-se de uma locução, de um substantivo composto
ou de substantivo e adjetivo lado a lado na frase? Este é outro ‘problema’ referente às classes
pesquisadas que tem sido alvo de reflexões por parte de estudiosos na tentativa de
diferenciá-las.
Por exemplo, médico veterinário é um substantivo composto ou se trata de um
substantivo + adjetivo? No Dicionário Michaëlis (1998), há referência a médico (p.1342)
como adjetivo e também há referência a tipos de médico (= substantivos ), mas não considera
entre eles o de médico veterinário. Já na p.2196, no verbete “veterinário”, inclui este termo
como ‘s.m.’(substantivo masculino) sendo “aquele que exerce a veterinária, médico
veterinário.” No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP, 2009), aparece o
termo médico como substantivo e veterinário, como adjetivo. O dicionário eletrônico Houaiss
(2001) inclui o verbete veterinário como:
adjetivo e significa: relativo à ou próprio da medicina veterinária. Ex.:
Clínica veterinária, tratamento veterinário;
substantivo masculino e significa: médico especialista em veterinária;
médico dos animais, zooiatra.
Já médico aparece como um substantivo masculino no mesmo dicionário.
Desta forma, percebe-se a diversidade de consideração das palavras ‘médico’ e
‘veterinário’.
Há, também, a palavra engenheiro (=s.m.) e há a inclusão de: engenheiro agrônomo,
civil, de automóveis, elétrico, eletrônico, industrial, mecânico (e subdivisões desta
modalidade), entre outros, no dicionário Michaëlis (1998, p.809).
Como, então, devem ser consideradas essas ‘palavras’ quando passam a ser
dicionarizadas ou dentro da classificação gramatical? Há situações em que são consideradas
226

apenas como substantivos simples como a palavra médico, seguida do adjetivo veterinário;
em outro caso, aparece engenheiro civil como um substantivo considerado composto.
Página

Serão analisados, a seguir, alguns usos que causam também, de certa forma, dúvidas
na sua consideração.
Há criação de novas palavras pelo processo de formação lexical que se dá através de
combinações de vocábulos já existentes como ocorre nos exemplos: amor-próprio, festa-
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surpresa, escola-padrão, sofá-cama, guarda-florestal, entre outros, nos quais aparecem dois
radicais. Na palavra composta, os elementos primitivos podem perder a significação própria
em benefício de um único conceito, novo, global como em alguns dos exemplos ou conservar
algo do significado básico dos elementos formadores.
Para a formação de compostos há dois processos; um deles é o processo por
composição que resulta na justaposição de bases autônomas ou não-autônomas. Esta
constituição de vocábulos ocorre quando os termos associados permanecem com a sua
individualidade, tais como nos exemplos: passatempo, sempre-viva usados ou não com hífen,
(KEHDI, 2000). Há também, segundo o autor, formas compostas por aglutinação em que os
vocábulos se fundem num todo fonético, com um único acento, como em pernalta, por
exemplo.
Nos substantivos compostos constituídos por justaposição com adjetivo e substantivo,
ou vice-versa, pode ser verificado um tipo de subordinação lexical, que acaba sendo
motivado pelo determinante adjetivo que especifica o substantivo determinado, salientando
que a ordem dos elementos, determinado e determinante, não é fixa, pois existe a
possibilidade de troca de posição entre eles. Há exemplos em que a ordem não altera o
produto, isto é, se se inverterem os elementos, os conjuntos manterão o mesmo significado:
“O controle da pinta-preta em cítricos”/ “ O controle da preta-pinta em cítricos” (ALVES,
1994, p.42).
Outros exemplos que se pode citar a respeito da questão de compostos reafirmando a
questão de determinante e determinado são os casos citados por Alves (1994, p. 42): enredo-
denúncia, operação-desmonte e político-galã, em que os substantivos determinantes
denúncia, desmonte e galã desempenham uma função adjetival. Funcionando diferentemente
do que dizem as gramáticas, o segundo elemento, o determinante, não é flexionado quanto à
categoria de número, própria de substantivo.
Em muitos casos, podem-se encontrar alguns substantivos que estão direta ou
metaforicamente ligados a elementos centrais do substantivo e, desta forma, sendo
227

considerados qualificadores deste, como se percebe nos exemplos utilizados por Basílio
(2004, p.89): festa-monstro, engarrafamento-monstro, testemunha-chave, pergunta-chave,
Página

funcionário-fantasma, escola-padrão, sessão-relâmpago.Assim, percebe-se que o segundo


elemento que, também, é um substantivo está como qualificador do primeiro, tendo um
caráter estilístico, já que não se utilizou um adjetivo, pois a força daquele é maior do que a
deste.
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Em alguns usos, pode-se observar que juntos, “substantivo+adjetivo”, têm


comportamentos diversos dependendo do contexto em que estão inseridos e daí serem
considerados como itens lexicais diferentes. Pode-se constatar esse fenômeno nas frases:
(11) Fui convidado para participar de uma mesa-redonda.
(12) Comprei uma mesa redonda para minha cozinha.

Nota-se que, no primeiro exemplo (11), o termo mesa-redonda tem o sentido de uma
roda de discussão; daí ser considerado termo composto. Tem sentido e classificação diferente
daquele do ‘original’ apresentado na frase (12), que está com o seu sentido literal de ser
realmente uma mesa em formato redondo e que se trata de apenas um substantivo modificado
por um adjetivo.
Biderman (2001) cita exemplos como: guarda-roupa, dor de cabeça, capa de chuva,
Santa Casa e outros em que a grafia levaria a induzir a conclusão de que se trata de lexias
complexas. “De fato, porém, elas estão categorizadas em língua como lexemas” (op.cit.,
p.171). Ainda afirma que “a gramática persiste em considerar palavras como guarda-chuva,
terça-feira como compostas por aglutinação quando, de fato, os seus elementos componentes
já se aglutinaram há muito” (op.cit., p.171). Assim, segundo a autora, deveriam ser
consideradas como sintagmas simples.
Borba (2003) discute a formação de palavras como: elefante branco, mosca morta,
boca livre,... (= N+ adj.) como sendo um sintagma fixo (SF) constituído por sintagma
nominal (SN). Para um leigo, a formação referida poderia ser considerada como apenas um
substantivo junto a um adjetivo e não um sintagma fixo como ele considera.
Na análise de usos de substantivos e de adjetivos, foram encontrados casos de
formações de palavras com eles que geram dúvidas em relação ao fato de se considerar
como realmente um composto ou meramente duas palavras que, juntas, têm um único
significado. Para explicar tais ocorrências foram dadas algumas justificativas e recursos que
estudiosos se servem para saber como os considerar: compostos ou locuções?
228

É, por exemplo, a ocorrência de barriga de aluguel na língua. Na GRAMÁTICA


HOUAISS da Língua Portuguesa, de Azeredo (2008), há referência a esta palavra como não
Página

se tratando de um composto, assim como, entre outros exemplos, funcionário público,


secretária bilingue, terno e gravata, noite de lua, embora sejam “construções sintáticas
estáveis” (op.cit., p.444) e “combinações regulares de lexemas do discurso” (op.cit., p.444),

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pois apresentam características gramaticais e semânticas diferentes dos compostos, segundo o


autor.
Para diferenciar construcões com substantivos e adjetivos, estudiosos lançam mão de
vários artifícios para tentar identificá-los. Por exemplo, no caso de se ter o que se chama de
‘composto’, uma prova está em se omitir um dos elementos. Se interferir na significação da
palavra, isto é, mudar o sentido, então não se trata de composto.
O autor referido explica que o composto não pode ter um dos elementos omitidos nem
acrescentar adjetivação: seria outra forma de tentar explicar a composição ou não da palavra.
Se se fala de um carro com minúsculo porta-malas, não se pode tirar ‘porta’ da composição
da palavra, pois o sentido será outro :* um carro com minúsculo malas (*= agramatical)
Matttoso Câmara Jr.(2001, p.70) também diferencia locuções e compostos alegando
que naquelas se pode omitir um dos termos, enquanto nestes não há a mesma possibilidade
sem alterar a significação. No exemplo: “Apanhei uma grande chuva” ou apenas “chuva”
não ocorre mudança de significação. Já em “Apanhei um guarda-chuva” é diferente de
“Apanhei uma chuva”, pois naquela não dá para omitir o termo ‘guarda’ sem alterar o sentido
; nela há inclusive mudança de gênero na omissão de um termo. No primeiro exemplo, trata-
se de uma locução e no segundo, composto.Ainda acrescenta que a locução se refere
“exclusivamente ao plano mórfico” enquanto a justaposição (composto) “está no plano
fonológico posto em relação com o plano mórfico”. Locução seria o “uso como unicidade
formal superior de dois vocábulos mórficos” (op.cit., p.71).
Outra possibilidade de verificar se é um composto ou se apenas são palavras ‘juntas’
em uma frase é colocar adjetivos atribuindo-lhes qualidades. No caso de noite de lua pode-se
inserir, de forma independente, adjetivo a qualquer um dos componentes: noite clara de lua
ou noite de lua cheia (AZEREDO, 2008).
Diferentemente, a palavra barriga de aluguel não consta como uma possibilidade
dentro do verbete barriga que traz como significado gravidez no Michaёlis (1998) nem no
VOLP (2009). O vocábulo, porém, é visto pelo falante da língua como diverso de
simplesmente ‘barriga’ (=gravidez), pois acrescenta a significação de uma forma especial de
229

gestação.
Página

Não se percebe, também no exemplo de barriga de aluguel, a possibilidade de


acrescentar um adjetivo semelhante ao que se fez com noite de lua , pois seria estranho o uso
de: * barriga bonita de aluguel ou * barriga de aluguel barato. O mesmo ocorre com outros
exemplos dados por Azeredo (2008): secretária bilingue e funcionário público. Estes
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exemplos, normalmente, são considerados como substantivos acompanhados de adjetivos que


o especificam e lhe atribuem um sentido novo; daí a restrição de inserção de adjetivos entre os
elementos.
Outro aspecto considerado por estudiosos na tentativa de diferenciação de substantivos
e adjetivos é verificar se a ‘unidade lexical’ é uma ‘unidade significativa’.
Em alguns casos, observa-se que um constituinte do composto não apresenta qualquer
relação significativa com o todo. Basta verificar-se nos exemplos amor-perfeito ou pé-de-
meia em que o sentido dos elementos não permite deduzir a significação do todo, conforme
Kehdi (2000). Por outro lado, pode-se ver que, em alguns exemplos, a composição por
aglutinação tem o significado igual a dos seus termos quando isolados como, por exemplo:
fidalgo ( filho de algo).
Mais adiante, Azeredo (2008, p. 444) diz que “Uma palavra composta é vista como
uma estrutura fixa, um sintagma bloqueado gramaticalmente reinterpretado como uma
unidade lexical nova”. Ainda afirma que o significado novo pode ser entendido, muitas vezes,
como a soma dos significados particulares dos lexemas componentes. Dá como exemplo
navio-escola que se refere a um navio em que se efetua aprendizado a tripulantes. Basílio
(2004, p.92) diz que essa formação se trata de uma sequência de substantivo-substantivo em
que o segundo elemento especifica a função do primeiro componente da palavra.
Outro fator relevante na diferenciação entre ser ou não considerado como composto
um contexto em que duas palavras estão juntas levando à percepção de um único item lexical
é a ordem delas que, no caso de ser realmente uma forma composta, não há possibilidade de
troca na ordem dos itens formadores da palavra. Nos exemplos cachorro amigo / amigo
cachorro, citados por Monteiro (2002), ao se mudar a ordem dos elementos, muda-se o
sentido e também a classificação; daí percebe-se que não se trata de composto. O
entendimento se dá pela ordem no contexto e, neste caso, ela é essencial ao significado.
Segundo Kehdi (2001, p.40), que estuda a unidade morfossintática do sintagma fixo,
diz que “é preciso observar que a ordem de sucessão dos termos do composto é rígida e entre
eles não se pode introduzir nenhum outro elemento”, citando como exemplo a palavra amor
230

perfeito em que não se pode trocar a organização dos elementos nem acrescentar nada entre
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eles, pois, se isso ocorrer, torna-o inaceitável como representativo de flor; também, o
significado mudaria.

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O mesmo autor diz que “o composto funciona sintaticamente como uma só palavra:
sempre pode ser substituído por um único vocábulo”; como se pode constatar no exemplo
apresentado: Admiro a estrada de ferro./ Admiro a pista. (KEHDI, 2001, p. 42)
Segundo Monteiro (2002, p. 183) “Denomina-se composto o vocábulo formado pela
união de dois ou mais semantemas. Os componentes podem estar graficamente ligados
(aguardente, passatempo), hifenizados (vira-lata, franco-suíço) ou soltos (Porto Alegre, Mato
Grosso)”. Em exemplos destes tipos, encontram-se muitas dificuldades em distingui-lo de
uma locução, em que, de modo geral, os compostos não permitem a troca de posição de seus
componentes. Convém ressaltar que, muitas vezes, a troca de posição muda também o
significado e a função dos termos de uma expressão e isso não ocorre em nomes compostos,
pois o significado é mantido, mesmo com a inversão dos componentes como em: franco-
italiano / ítalo-francês.
Analisando a discussão sobre “formação de palavras”, pode-se definir que o sintagma
fixo não admite inversão de seus componentes, substituição ou omissão de itens, inserção de
adjetivos, sem que fique totalmente diverso o significado. Observa-se que cada autor trata de
estudar os casos citados de um ponto de vista diferente, seja ele morfológico, sintático ou
semântico para comprovar as suas teorias a respeito do assunto mencionado neste artigo.
Como uma tentativa de se diferenciarem as classes analisadas, buscou-se, através do
estudo sobre substantivo e adjetivo, identificar quais foram os recursos dados por estudiosos
para tentarem mostrar quando se trata de um substantivo composto ou quando são meras
palavras (substantivo e adjetivo) colocadas uma ao lado da outra. Porém nenhuma forma de
argumentação foi suficiente para distinguir possibilidades de contextos em que elas se
encontram e, também, para tornar clara a diferença entre elas, devido a pouca abrangência de
cada explicação em relação a muitas probabilidades de se encontrarem “compostos” ou não.

CONCLUSÃO
231

A partir do material pesquisado envolvendo concepções diversas de estudiosos sobre


Página

as classes, substantivos e adjetivos, assim como os usos possíveis de palavras dessas classes
em contextos, as informações coletadas foram organizadas e interpretadas, tendo como
objetivo discutir perspectivas diferentes ou semelhantes sobre o assunto em questão para
aclarar dúvidas que se encontram sobre o assunto.
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Constatou-se que, nos casos analisados, fica muito difícil definir quais critérios têm
primazia sobre os outros na classificação de palavras da língua. Uma dificuldade constante
vem do próprio significado de unidade lexical e das funções que ela pode desempenhar na
frase, razão pela qual é improvável se estabelecer classes com limites, como são obtidas a
partir de estudos distantes da realidade de uso da língua.
Admite-se, ainda, que há casos em que significado e função (critérios mais fluidos do
que forma e distribuição) são os que têm primazia; em outros, o critério utilizado tem por base
outros aspectos, o que leva a se constatar que as classes de palavras não podem ser pensadas
como compartimentos de fronteiras absolutamente rígidas, estanques, fechadas e
impermeáveis e com conteúdo imutavelmente estabelecido.
Pode-se observar a ‘fragilidade’ das definições apresentadas nas gramáticas
tradicionais, pois apresentam, na maioria das vezes, exemplos ‘convencionais’ da modalidade
escrita, não questionam e não discutem alguns usos, como os da modalidade oral, por
exemplo, em que não há tanta rigidez na utilização da língua. Encontram-se nelas, na maioria
das vezes, exemplos da literatura clássica e não retirados do uso cotidiano de um falante no
ato de comunicação.
Reflexões sobre casos como os citados por Biderman e Borba a respeito de serem os
exemplos dados palavras compostas (substantivos+adjetivos) ou não (=lexema), sintagmas
fixos ou apenas união de substantivos com adjetivos, além de outras observações sobre
procedimentos das classes nominais na língua portuguesa, são importantes para constatar
que, em alguns casos, não há possibilidade de se limitar o uso das palavras de uma língua
baseado em conceitos distantes do uso normal em atos de fala, nem de tomá-las como
pertencentes a classes definidas e imutáveis.
A reflexão feita na análise teve o fim especial de se fazer um estudo mais
aprofundado sobre a questão e, assim, poder contribuir com o aprimoramento de
conhecimentos na área de estudo, uma vez que se pretendeu abranger casos normalmente não
relacionados em gramáticas, material básico usado por professores, mas que fazem parte do
232

uso da língua. Daí, foram observadas algumas inconsistências e impropriedades nos dados
encontrados sobre substantivos e adjetivos em gramáticas tradicionais. Outros estudiosos,
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fazem análises de usos de uma forma mais profunda e abrangente, embora ainda o resultado
não leve a dar uma resposta convincente à questão.

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Há necessidade, então, de se fazerem mais pesquisas referentes a possibilidades de


ocorrência dessas categorias em contextos que abrangessem inclusive novos aspectos. Assim,
poderiam, talvez, esclarecer as dúvidas ainda existentes sobre o tema.

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REFERÊNCIAS

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UNESP, 2002

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Olympio, 2005

Vocabulário ortográfico da língua portuguesa- Academia Brasileira de Letras. 5ed. São


Paulo: Global, 2009

Sobre os autores:
234

Cybele Maria Martins: Mestrado em Letras, área de Linguística; Especialização em Letras e em Didática;
Graduação em Letras e em Pedagogia. Docente da Unicastelo - Descalvado
e-mail: cybmartins@ yahoo.com.br
Página

Cíntia Lidiane Pizetta: Graduação em Letras pela Unicastelo – Descalvado, 2009; Iniciação Científica na área
em 2009.
e-mail: cintiapfpizetta@hotmail.com

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