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HISTÓRIA INDÍGENA, ANTROPOLOGIA E HISTORIOGRA-


FIA: PERSPECTIVAS E DESAFIOS AOS OFÍCIOS DO
HISTORIADOR EM FRONTEIRAS DISCIPLINARES
Giovani José da Silva*

Resumo: Mato Grosso do Sul possui o único programa de pós-graduação em História, no


Brasil, que comporta uma linha de pesquisa em História Indígena, na UFGD (Universida-
de Federal da Grande Dourados). O referido programa já possui um acervo de mais de
cem dissertações de mestrado defendidas e completou quinze anos anos em 2014. Além
dessa produção, há um considerável número de pesquisas elaboradas não apenas por his-
toriadores, mas também por outros pesquisadores, a ser levado em conta em relação à o-
cupação indígena, pretérita e presente, no antigo Sul de Mato Grosso, atual Estado de Ma-
to Grosso do Sul. Importante destacar que nos últimos anos tal produção vem aumentan-
do sobretudo em qualidade. A crescente profissionalização dos historiadores e a expansão
dos programas de pós-graduação pelo interior explicam, em parte, o estado da arte da
História Indígena no Brasil. Refletir sobre a produção historiográfica em Mato Grosso do
Sul, a respeito de populações indígenas, é o objetivo central do artigo, abordando-se pers-
pectivas e desafios para os historiadores da temática no início do século XXI.
Palavras-chave: Historiografia; Interdisicplinaridade; História regional e local.

Indigenous History, Anthropology and Historiography: prospects and challenges of


crafts historian in disciplinary frontiers
Abstract: Mato Grosso do Sul has the only postgraduate studies program in History, in
Brazil, which includes a line of research in Indigenous History at the UFGD
(Universidade Federal da Grande Dourados). This program already has a collection of
over a hundred defended master's theses and was fifteen years old in 2014. In this produc-
tion, there are a number of elaborate research not only by historians, but also by other re-
searchers to be taken into account in relation to indigenous occupation, preterit and
presente, in the old South of Mato Grosso, the current state of Mato Grosso do Sul. It is
worth noting that in recent years this production has been increasing especially in quality.
The increasing professionalization of historians and the expansion of the inner postgradu-
ate programs explain, in part, the state of the art Indigenous History in Brazil. Reflect on
the historical production in Mato Grosso do Sul, about indigenous people, it is the central
purpose of the article, approaching prospects and challenges for the theme of historians in
the early twenty-first century.
Keywords: Historiography; Interdisciplinarity; Regional and Local History.

Introdução

São onze os grupos indígenas presentes no início do século XXI no Estado de


Mato Grosso do Sul: Atikum, Ayoreo, Chamacoco, Guarani (subgrupos Kayowá e
Ñandeva), Guató, Kadiwéu, Kamba, Kinikinau, Ofayé e Terena. 1 Isso, de acordo com a
publicação Povos indígenas no Brasil 2006/ 2010 (Ricardo e Ricardo, 2011), além dos

*
Professor dos Cursos de História da Universidade Federal do Amapá (Unifap). Doutor em História pela
Universidade Federal de Goiás (UFG) e pós-doutor em Antropologia pela Universidade de Brasília
(UnB).

Fronteiras & Debates Macapá, v. 1, n. 2, jul./dez. 2014


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resultados de outras pesquisas (José da Silva, 2009; 2005a; 2005b; José da Silva e Sou-
za, 2003). Alguns se encontram há séculos naquela porção de terras, como é o caso dos
Guarani, Guató, Kadiwéu, Kinikinau, Ofayé e Terena. Outros chegaram a partir da se-
gunda metade do século XX (Atikum e Kamba) e há aqueles que vivem perambulando
na fronteira entre Brasil e Paraguai (Ayoreo e Chamacoco), sem se saber ao certo há
quanto tempo ocorrem tais presenças. Alguns grupos constituem um considerável con-
tingente populacional, com mais de 20.000 indivíduos (Guarani e Terena) e outros pos-
suem menos de 100 pessoas (Atikum e Ofayé). Suas trajetórias históricas são, ainda,
apenas parcialmente conhecidas e estudadas, quando não completamente ignoradas pela
maioria da população não indígena brasileira.
Mato Grosso do Sul possui, até o momento, o único programa de pós-graduação
em História (stricto sensu), no Brasil, que comporta uma linha de pesquisa em História
Indígena, localizado a partir de 2006 na UFGD (Universidade Federal da Grande Dou-
rados), antiga UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)/ Campus de Dou-
rados. O referido programa, que já possui um acervo de mais de cem dissertações de
mestrado defendidas, completou quinze anos em 2014 e a partir de 2011 passou a ofere-
cer também curso de doutorado. Além dessa produção, há um considerável número de
pesquisas elaboradas não apenas por historiadores, mas também por linguistas, antropó-
logos, arqueólogos, educadores e outros, a ser levado em conta em relação à ocupação
indígena, pretérita e presente, no antigo Sul de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul.
Os cursos de nível superior em História mais antigos no Estado datam da segun-
da metade do século XX, surgidos a partir de um vigoroso processo de desenvolvimento
da pós-graduação brasileira ocorrido no mesmo período. De acordo com Paulo Roberto
Cimó Queiróz (2011, p. 168-169):

A constituição da Historiografia acadêmica em Mato Grosso do Sul


está diretamente ligada à criação, a partir do final dos anos 1960, de
uma rede de cursos de graduação em História (Licenciatura Plena),
sendo quatro na [antiga] UEMT (Corumbá, 1968; Três Lagoas, 1970;
Dourados, 1973; Aquidauana, 1980) [atual UFMS] e um na então Fa-
culdade Dom Aquino, em Campo Grande (1971).

Muitas transformações ocorreram ao longo dos últimos quarenta e cinco anos no


que diz respeito à historiografia sul-mato-grossense. Importante destacar que, recente-
mente, a produção em História Indígena não vem aumentando apenas em quantidade,
mas, sobretudo, em qualidade. A crescente profissionalização dos historiadores e a ex-

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pansão de programas de pós-graduação pelo interior do país explicam, em parte, o esta-


do da arte dos trabalhos em História Indígena no Brasil e, particularmente, na região
Centro-Oeste, onde se localiza o jovem Estado de Mato Grosso do Sul. Refletir sobre a
produção historiográfica a respeito de populações indígenas nesta porção do país é o
objetivo central do artigo. No texto, abordam-se linhas teórico-metodológicas mais ado-
tadas, grupos étnicos pesquisados e temas que aparecem com maior frequência e rele-
vância, verificando-se o atual estágio das pesquisas e desvelando-se perspectivas e desa-
fios para os historiadores dispostos a “desbravar” esta temática no início do século XXI.

Estado da arte e perspectivas

Em Mato Grosso do Sul, no período compreendido entre 2000 e 2004, foram de-
fendidas 42 dissertações de mestrado em História, de acordo com o levantamento elabo-
rado por Jorge Eremites de Oliveira (2004). Dessas dissertações, pelo menos treze abor-
daram direta ou indiretamente a história de sociedades indígenas que habitam aquele
Estado: Guarani (Kayowá e Ñandeva), Kadiwéu, Ofayé e Terena, equivalendo a quase
30% dos trabalhos defendidos no período em questão. Em outro levantamento, Eliazar
João da Silva (2007) referiu-se às dissertações elaboradas no mesmo programa, entre
2005 e 2006. Contabilizando mais dezessete estudos, verificou-se que oito deles (ou
seja, praticamente metade) estão relacionados a grupos indígenas. Ressalta-se que, em
ambos os levantamentos, não foram encontrados trabalhos que investigassem as presen-
ças Atikum, Ayoreo, Chamacoco, Kamba ou Kinikinau no Estado, nem mesmo citando-
as nos respectivos resumos.
Contudo, o destaque dessa produção mais recente fica por conta da incorporação
de estudos sobre populações indígenas localizadas em outras unidades da Federação: os
Bororo (Mato Grosso), os Avá-Guarani e os Guarani-Ñandeva (Paraná) e os Xerente,
Xavante, Xakriabá e Akroá (Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais). Houve,
ainda, certo predomínio de estudos relacionados aos Guarani, mas surgiu pelo menos
uma dissertação a respeito dos Guató (que, assim como os Kamba vivem no município
de Corumbá, no Pantanal sul-mato-grossense), até então não contemplados com pesqui-
sas no referido programa. Um terceiro levantamento foi realizado em 2009, desta vez
atendo-se, parcialmente, apenas à produção historiográfica da linha de pesquisa História
Indígena, com atenção especial aos trabalhos relacionados aos Guarani.

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Em artigo publicado no periódico História em Reflexão, Graciela Chamorro


(2009, p. 01) informou que:

No Programa de Pós-Graduação em História da FCH-UFGD foram


defendidas, até agosto de 2009, 108 dissertações de mestrado, das
quais 27 na linha de pesquisa História Indígena. [...] Nessa vasta regi-
ão [platina], é relativamente pouco conhecida a história indígena mais
recente, porque são relativamente pouco difundidos os estudos sobre o
povoamento indígena e não-indígena das terras meridionais do estado
mato-grossense e sul-matogrossense [sic!] banhadas por rios que de-
sembocam nos rios Paraná e Paraguai.

Além dos já citados levantamentos, vale a pena mencionar, ainda, o trabalho


apresentado por Oliveira no XI Encontro de História de Mato Grosso do Sul, ocorrido
em outubro de 2012, em Campo Grande, intitulado “A história indígena no Brasil e em
Mato Grosso do Sul” (Oliveira, 2012a). No texto, o pesquisador analisa a História Indí-
gena no contexto da historiografia produzida no país e, particularmente, em Mato Gros-
so do Sul, apresentando o surgimento e o desenvolvimento dessa tendência historiográ-
fica a partir da década de 1990 e suas principais características no programa de Pós-
Graduação em História da UFGD. Atualizando os dados apresentados anteriormente por
ele mesmo em 2004, por Silva (2007) e por Chamorro (2009), Oliveira apresenta um
total de 45 dissertações de mestrado que versaram sobre a temática indígena na UFGD.
Recentemente, o mesmo autor apresentou, em artigo científico, tais dados, ampliando
sua análise (Oliveira, 2012b).
Muitos dos estudos sobre populações indígenas realizados em Dourados (e em
outros centros de pesquisa pelo Brasil afora) recorrem, além da documentação escrita,
iconográfica, cartográfica, etc., à utilização de fontes orais. Tal situação decorre, sobre-
tudo, do fato de os recortes temporais propostos por muitos dos pesquisadores em His-
tória Indígena se situarem em períodos próximos do presente. Contudo, não se verifica-
ram, até o momento, debates aprofundados acerca de questões teórico-metodológicas
que envolvam o uso dessas fontes e das possíveis aproximações e distanciamentos entre
os trabalhos de historiadores, antropólogos e outros cientistas sociais. Tais debates po-
deriam propiciar a percepção mais clara de que:

[...], apesar de semelhanças, há também diferenças que delimitam e


configuram as áreas de atuação dos pesquisadores da história e da an-
tropologia, e não se pode confundir o que cada grupo, com propósitos

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diversificados (e, algumas vezes, convergentes), realiza ao investigar


populações indígenas, utilizando-se de fontes orais. [...]
Certa confusão se verifica, portanto, nas questões mais diretamente li-
gadas à metodologia na obtenção de fontes orais. Os diálogos entre
história e antropologia, importantes para o desenvolvimento de ambas
as áreas do conhecimento, têm-se mostrado um fértil terreno de deba-
tes e trocas de experiências (Silva e José da Silva, 2010, p. 34; p. 37).

Interessante também observar que quanto maior o grau de contrastividade em re-


lação às sociedades não indígenas, ou seja, quanto maior o número de sinais diacríticos
apresentados por determinado grupo, que os diferencie de outros, parece haver maiores
chances desta sociedade ser pesquisada, seja no presente ou no passado. Este é um ar-
gumento válido para se explicar, por exemplo, os trabalhos acadêmicos a respeito dos
Kadiwéu, descendentes dos outrora “índios cavaleiros”, os Mbayá-Guaikuru 2, e tam-
bém os trabalhos sobre os Terena e os Guarani (Kayowá e Ñandeva) que habitam Mato
Grosso do Sul. E, talvez, por essa mesma razão, os considerados “negros” e “pernambu-
canos” Atikum; os “extintos” e “parecidos com os Terena” Kinikinau; os “bolivianos” e
“favelados” Kamba; além dos “paraguaios” e “nômades” Ayoreo e Chamacoco não têm
atraído tanto a atenção acadêmica ou a opinião pública. 3 Na área de História não há, até
o momento, nenhuma dissertação de mestrado que tenha focalizado alguma destas po-
pulações indígenas.
Sobre os Atikum, em Mato Grosso do Sul, há o trabalho de pós-graduação, em
Antropologia, monografia de especialização elaborada por Giovani José da Silva
(2000), na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). A partir da monografia cita-
da, o autor publicou alguns outros trabalhos sobre o grupo (2003; 2005b). Gabriel Ulian
(2010) dedicou aos Atikum um estudo que resultou em seu trabalho de conclusão de
curso em História, pela UFMS, e realizou mestrado em Antropologia sobre os Caboclos
da Serra do Umã (autodenominação do grupo), no Programa de Pós-graduação em An-
tropologia da UFGD (Ulian, 2013). Há inúmeros trabalhos a respeito da presença Ati-
kum, em Pernambuco, sendo os mais destacados os do antropólogo Rodrigo de Azeredo
Grünewald (1993; 2004).
Os Kinikinau foram pesquisados pela linguista Valéria Guimarães de Carvalho
Couto (2006), no que resultou a dissertação de mestrado em Letras A língua Kinikinau:
estudo do vocabulário e conceitos gramaticais, defendida na UFMS. Outra linguista,
Ilda de Souza, é autora da tese de doutorado Koenukunoe emo\'u – A língua dos Kiniki-
nau (Souza, 2008), defendida na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Na

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mesma instituição foi defendida outra tese sobre os Kinikinau, na área de Ciências Soci-
ais, pela historiadora Iára Quelho de Castro (2011). Três mestrados recentes versam
sobre os Kinikinau: João Evaldo Ghizoni Dieterich (2015), na UFGD, em Geografia;
Aila Vilella Bolzan (2013), na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Pau-
lo), em Ciências Sociais e Rosaldo de Albuquerque Souza (2012), na UnB (Universida-
de de Brasília), em Desenvolvimento Sustentável. Este último é indígena Kinikinau, o
que torna ainda mais instigante pensar que até pouco tempo atrás o grupo foi tratado
como “extinto” (Cardoso de Oliveira, 1976).
Já os Kamba foram estudados na Antropologia por Yara Maria Brum Penteado
(1980), na UnB, e por Ruth Henrique da Silva (2009), na UFF (Universidade Federal
Fluminense). Giovani José da Silva (2012) pesquisou o grupo e escreveu sobre eles tese
de doutorado em História, defendida na UFG (Universidade Federal de Goiás), em
2009. Sobre os Ayoreo e Chamacoco, sabe-se que foram avistados na Reserva Indígena
Kadiwéu e próximos à sede do município de Porto Murtinho, em meados da década de
1990, constituindo na época grupos numericamente pequenos. Além disso, a itinerância
do grupo entre terras “brasileiras” e “paraguaias” confunde a contagem e a verificação
da presença destes indígenas.
Há grupos que contam com alguns trabalhos no Programa de Pós-Graduação em
História da UFGD. Tal é o caso dos Guató (Ribeiro, 2005), Kadiwéu (José da Silva,
2004; Flores, 2009; Müller, 2011) e Ofayé (Dutra, 2004). Já os Terena tiveram pelo
menos quatro estudos defendidos, abordando diferentes aspectos culturais e de contato
(Moura, 2001; Vargas, 2003; Lacerda, 2004; Menezes, 2009). A proximidade física dos
Guarani em relação a Dourados explica a expressiva quantidade de trabalhos a respeito
deste grupo indígena e seus subgrupos. 4 Existem, ainda, trabalhos que abordam a His-
tória Indígena em um tempo bastante recuado ou que não determinam exatamente os
grupos étnicos pesquisados em seus títulos ou resumos. 5
Os Ofayé contam, até o momento, apenas com o trabalho de mestrado de Carlos
Alberto dos Santos Dutra (2004), em História. Além desse, há a tese de doutorado em
Letras e Linguística de Maria das Dores de Oliveira e a dissertação de mestrado em An-
tropologia de Mirtes Cristiane Borgonha, ambas de 2006. Os Guató tiveram sua história
mais recente pesquisada por Marilene da Silva Ribeiro (2005) e, além disso, Oliveira
(1996; 2002), estudou a cultura material do grupo, em perspectiva arqueológica, em
estudos de mestrado e doutorado em História, realizados na PUC-RS (Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio Grande do Sul). Na área de Linguística, há os trabalhos de

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doutorado de Rosângela Aparecida Ferreira Lima – Dando a palavra aos Guatós: al-
guns aspectos sociolingüísticos (Lima, 2002), de Adair Pimentel Palácio – Guató: a
língua dos índios canoeiros do Rio Paraguai (Palácio, 1984) e o mestrado de Adriana
Viana Postigo, sobre a fonologia da língua Guató, na UFMS (Postigo, 2009). Na Geo-
grafia, há o trabalho de Fabio Silva Martinelli (2012), na UFMS.
Como verificado, nos últimos anos foi produzido expressivo número de traba-
lhos acadêmicos a respeito de sociedades indígenas que habitam Mato Grosso do Sul.
Esse fato se deveu, sobretudo, à expansão e implantação de programas de pós-
graduação nas universidades da região Centro-Oeste, contribuindo para a maior profis-
sionalização dos historiadores dedicados à temática. Dessa forma, estudos a respeito dos
Guarani (Kayowá e Ñandeva), Guató, Kadiwéu, Ofayé e Terena ganharam espaço aca-
dêmico graças à dinamização da área de pesquisa em História Indígena, pois como a-
firmou Oliveira (2001, p. 124), “[...] em Mato Grosso do Sul, assim como em outros
Estados brasileiros, nunca os povos indígenas estiveram tão presentes no campo dos
historiadores quanto nos dias de hoje”. Apesar de tal afirmação otimista, ressalta-se,
novamente, que ainda são poucos (ou inexistentes) os trabalhos que versam sobre de-
terminados grupos.
Em artigo publicado no início dos anos 2000 no periódico Territórios e Frontei-
ras, Oliveira (2001, p. 119), ao realizar um balanço sobre os dilemas e as perspectivas
das pesquisas em História Indígena em Mato Grosso do Sul, afirmava que:

Desde a primeira metade do século XVI, quando os conquistadores


ibéricos adentraram na bacia platina, e com mais intensidade a partir
do início do século XVIII, momento em que os bandeirantes paulistas
descobriram ouro na região de Cuiabá, Mato Grosso, teve início o
processo de conquista e colonização do atual território sul-mato-
grossense, do qual conseguiram sobreviver apenas alguns povos indí-
genas: Guarani-Kaiowá, Guarani-Ñandeva, Guató, Kadiwéu, Ofayé-
Xavante e Terena (incluindo remanescentes Kinikinao e Laiana). A-
crescenta-se a esta relação representantes do povo Camba, originários
da Bolívia, que hoje em dia vivem na periferia da cidade de Corumbá,
Mato Grosso do Sul, prova de que as atuais fronteiras político-
territoriais nem sempre corresponderam às fronteiras geográficas de
muitos povos ameríndios.

Nota-se que o autor refere-se à problemática das fronteiras político-territoriais,


que evidentemente não correspondem às fronteiras estabelecidas pelas sociedades indí-
genas para seus próprios territórios. Tal é o caso dos Chamacoco, que vivem uma parte
de cada ano na Reserva Indígena Kadiwéu, localizada no município de Porto Murtinho,

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e outro período no Paraguai, onde são chamados e se autodenominam Ishir (Zanardini e


Biedermann, 2006). Dos grupos citados por Oliveira, ainda não há nenhum trabalho a
respeito dos Layana, que vivem em aldeias Terena. Outro povo completamente ignora-
do pelos estudos acadêmicos e pelas políticas públicas são os Ayoreo, que assim como
os Chamacoco vivem parte do tempo em terras paraguaias e transitam sazonalmente
pelo lado brasileiro da fronteira entre os dois países. Aliás, as obras de referência sobre
populações indígenas em Mato Grosso do Sul, ignoram muitas destas presenças, como
se verá a seguir.

A literatura sobre populações indígenas em Mato Grosso do Sul

Apenas três obras sobre as sociedades indígenas presentes no final do século XX


e início do século XXI em Mato Grosso Sul, foram publicadas no período de 1992 a
2002 e registra-se que nos últimos treze anos não houve publicações dessa natureza den-
6
tro ou fora do Estado. São elas: Breve painel etno-histórico de Mato Grosso do Sul
(cuja segunda edição é de 2002), de Gilson Rodolfo Martins (1992; 2002); Povos indí-
genas no Mato Grosso do Sul: viveremos por mais 500 anos, de Olívio Mangolim
(1993); Educação Escolar Indígena em Mato Grosso do Sul: algumas reflexões, de Pau-
lo Eduardo Cabral (2002). Trata-se de obras destinadas a um público amplo, não especi-
alizado e que tiveram razoável difusão no Estado. Apesar disso, e talvez exatamente por
atingir um amplo público leigo, os autores poderiam ter tomado certos cuidados ao se
utilizarem de afirmações que, com o passar do tempo, poderiam tornar-se “verdades
históricas” a respeito das sociedades indígenas em Mato Grosso do Sul.
Paulo Eduardo Cabral, sociólogo, na introdução ao livro Educação Escolar In-
dígena em Mato Grosso do Sul revela que tem o propósito de oferecer subsídios a quan-
tos se ocupam com a questão indígena, em geral, e com a educação escolar indígena, em
particular.
De acordo com o autor:

Evidentemente, são muitas as contradições que foram sendo acumula-


das ao longo do processo de nossa formação social e, no seu bojo, res-
salta a profunda ignorância que o poder público e a academia têm dos
assuntos que dizem respeito aos povos indígenas brasileiros.
Por outro lado, a produção de conhecimento sobre a realidade indíge-
na tem sido feita de forma fragmentária, como resultado da persistên-

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cia e teimosia de estudiosos que resistem, realizando seu trabalho,


quase sempre, sob condições as mais adversas (Cabral, 2002, p. 08).

Tais “condições as mais adversas” parecem ter prejudicado os resultados da pes-


quisa de Cabral, que afirma, por exemplo, o seguinte a respeito dos Kamba:

Já os Kamba são um grupo de origem boliviana, radicado nas proxi-


midades da cidade de Corumbá, há cerca de três décadas, depois de
um cisma, que determinou a transferência deste contingente para o ter-
ritório brasileiro. Contam hoje, aproximadamente, 300 membros e
conseguiram um modus vivendi pelo qual alcançaram razoável adapta-
ção ao novo meio, com a manutenção de suas características culturais.
Estão catalogados, sob o número 63, na Lista de Povos Indígenas no
Brasil Contemporâneo, do Instituto Socioambiental (Cabral, 2002, p.
63; negrito no original).

Salienta-se que os Kamba não vivem nas proximidades da cidade de Corumbá,


mas na própria cidade, em uma região periférica, pouco distante do centro. À exceção
da citação da Lista de Povos Indígenas no Brasil Contemporâneo (Ricardo, 1996), que
aparece na bibliografia, Cabral não informa ao leitor como chegou ao período aproxi-
mado de “há cerca de três décadas” (início da década de 1970) para a chegada do grupo
ao Brasil e nem ao contingente de indígenas. O texto apresenta, ainda, algumas incorre-
ções, inclusive quando se refere a um “cisma” que teria provocado a migração de parte
do grupo para o Brasil! Além disso, o sociólogo não indica, no corpo do texto, de qual
Lista de Povos Indígenas fez uso, pois na Lista publicada em 2000, e, portanto, a mais
atualizada na época em que escreveu, os Kamba aparecem sob o número 66 e não há
referência ao total da população em Mato Grosso do Sul (Ricardo, 2000). 7
Em seção intitulada “Povos não-reconhecidos oficialmente”, o autor ainda afir-
ma que:

Há, no território sul-mato-grossense, a presença de três outros povos,


cujo reconhecimento oficial ainda não aconteceu, apesar da luta dos
membros destas etnias e de organizações não-governamentais que lhes
apoiam. A questão do reconhecimento é fundamental para a preserva-
ção de sua integridade cultural e para o desenvolvimento do projeto
coletivo destes grupos (Cabral, 2002, p. 62).

A respeito do “não reconhecimento” dos grupos assinalados (Atikum, Kamba e


Kinikinau) a questão é desafiadora. Afinal, a quem caberia reconhecer determinado
grupo indígena como tal? Para os que acham estranho o debate, as palavras de Cristhian

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Teófilo da Silva são esclarecedoras, a respeito do papel de antropólogos e da própria


Antropologia nos chamados processos de “identificação étnica”:

[...] à Antropologia e aos antropólogos não cabe fazer a “identificação


étnica”, mas produzir o conhecimento sobre a “identificação étnica”
na qualidade de um processo social e político que engendra mecanis-
mos de diferenciação e manutenção de fronteiras ou limites entre pes-
soas e grupos sociais particulares. Tais mecanismos podem ser apre-
endidos, por sua vez, na forma de “arenas de discursos” responsáveis
pela articulação não só das representações sociais e das formas de re-
presentar os “índios” por diversos sujeitos localmente situados, mas
também das representações que agentes e agências indigenistas trou-
xeram e trazem para a cena local, uma vez que foram e são acionados
como instâncias de colonização ou de intermediação do conflito inte-
rétnico (S ilva, 2005, p. 122).

Com isso, verifica-se que o número de grupos indígenas em Mato Grosso do Sul
poderá, inclusive, aumentar nos próximos anos, o que caracterizaria uma situação inusi-
tada e bastante complexa! Apenas para se ter uma ideia, a publicação Povos indígenas
no Brasil, veiculada pela organização não governamental Instituto Socioambiental, em
parceria com organismos nacionais e internacionais, em suas quatro últimas edições,
registrou os seguintes números: 206 sociedades indígenas em 1996 (Ricardo, 1996); 216
em 2000 (Ricardo, 2000), 225 em 2006 (Ricardo e Ricardo, 2006) e 235 em 2011 (Ri-
cardo e Ricardo, 2011). Isso não significa, absolutamente, que antropólogos, historiado-
res ou outros pesquisadores estejam “inventando” etnias pelo Brasil afora, mas, que,
num curto espaço de quinze anos, surgiram quase trinta grupos reivindicando para si
uma identidade étnica, se auto-afirmando indígenas e alimentando o desejo de serem
vistos e reconhecidos como tais.
Educação Escolar Indígena em Mato Grosso do Sul está dividido em capítulos
que, além de tratarem da breve caracterização de algumas das sociedades indígenas na-
quele Estado, abordam questões ligadas à Educação Escolar Indígena, à autonomia das
escolas indígenas, além de uma biografia de Marçal de Souza (liderança indígena Gua-
rani, assassinado no início da década de 1980) e algumas considerações sobre os concei-
tos de cultura. Como se viu, infelizmente poucas referências são feitas aos Atikum,
Kamba e Kinikinau tratados como indígenas “não reconhecidos”, o mesmo ocorrendo
com a obra apresentada a seguir.
No prefácio à segunda edição de Breve Painel Etno-Histórico de Mato Grosso
do Sul, de 2002, Gilson Rodolfo Martins, arqueólogo e historiador, explicita que pre-

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tendeu contribuir para a reflexão em busca da difusão da tolerância e do respeito ao plu-


ralismo étnico. Com certo otimismo, o autor afirma que:

Em 1992, quando foi publicada a primeira edição do “Breve Painel


Etno-histórico de Mato Grosso do Sul”, completava-se o quinto cente-
nário do “descobrimento” da América. [...]. Passados quinhentos anos,
o Novo Mundo, apesar de sua extensão e diversidade ambiental, ainda
não conciliou os que já estavam com os que chegaram. O quase ex-
termínio da população nativa é indicativo da necessidade de uma nova
consciência. [...]. Dez anos separam a primeira da segunda edição.
Neste tempo, a situação dos índios, em Mato Grosso do Sul, mudou
para melhor. Nossa esperança é de que nossos futuros não sejam, ain-
da por muito tempo, paralelos (Martins, 2002, p. 07-08).

Já na primeira edição, de 1992, era informado, na apresentação escrita pela edu-


cadora Aldema Menine Trindade, que a obra “[...] com textos e com imagens, procura
oferecer a estudantes e a professores informações básicas sobre a história dos povos
indígenas deste Estado [de Mato Grosso do Sul]” (apud Martins, 2002, p. 08). Contudo,
Martins, nas duas edições do livro, não fez qualquer menção à presença dos Kamba em
terras sul-mato-grossenses. De acordo com o autor, na segunda edição da obra revista e
ampliada, as sociedades indígenas no Estado seriam as seguintes: Guarani, Kadiwéu,
Terena, Guató e Ofayé. São citados, ainda, como extintos, os Kayapó Meridional (ou
Kayapó do Sul) e os Payaguá. É feita breve menção aos Atikum e aos Kinikinau (que
não constavam da primeira edição), localizando-os em Nioaque e Porto Murtinho, res-
pectivamente, mas nenhuma linha é dedicada aos Kamba ou aos Chamacoco e Ayoreo.
A respeito da incipiente produção sobre o tema sociedades indígenas em Mato
Grosso do Sul, Martins afirma que “No atual momento, além da contribuição esporádica
dos órgãos locais de imprensa, somam-se os textos oriundos das experiências de entida-
des indigenistas, governamentais ou não, bem como monografias e dissertações geradas
em cursos universitários de pós-graduação” (2002, p. 92). Ao final da obra, há um ex-
tenso rol de sugestões bibliográficas, dividido em seções (Arqueologia; Etno-história
sul-mato-grossense e obras gerais; Guarani; Kadiwéu; Terena; Ofayé; Guató), em que se
verifica a incorporação de algumas obras a respeito dos Kinikinau e dos Atikum. Am-
bos os grupos, aliás, aparecem referenciados em tabela e mapa (Martins, 2002, p. 86-
87).
Por sua vez, Olívio Mangolim, pesquisador da área de Educação Escolar Indíge-
na e militante do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) por longo tempo, publicou

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Povos Indígenas no Mato Grosso do Sul, em 1993, Ano Internacional dos Povos Indí-
genas, com o intuito de, em suas palavras:

[...] contribuir para a reflexão sobre este momento histórico em que se


comemoram os 500 anos da resistência indígena, negra e popular.
Quer ser também material histórico, da perspectiva dos oprimidos, de
que professores e alunos, movimentos populares, Igrejas e antropólo-
gos, poderão se servir para conhecer a realidade indígena no Mato
Grosso do Sul (MS) (Mangolim, 1993, p. 11).

O livro contém três capítulos, o primeiro tratando dos grupos indígenas que ha-
bitam o Estado, que, de acordo com o autor, são: “Guarani”, “Guató”, “Kadiwéu”,
“Camba”, “Ofaié Xavante” e “Terena”. No segundo capítulo, Mangolim analisa a situa-
ção jurídica e fundiária das áreas indígenas. Finalmente, no terceiro, o pesquisador a-
borda as perspectivas futuras dos grupos. A respeito dos Kamba escreve o seguinte:

Os Camba (também chamados pela sociedade civil de “campesinos”)


são um povo de origem boliviana vivendo na periferia da cidade de
Corumbá em extrema situação de pobreza.
Em 1977, uma equipe de pastoral indigenista fez contato com o grupo
e estimou-os em 2.000 índios, todos vivendo a mesma tragédia. Vi-
vem no São Francisco, um reduto ao pé do morro no bairro Cristo Re-
dentor, na periferia da cidade de Corumbá. Aí nesta cidade sofrem du-
pla discriminação: por serem bolivianos e indígenas.
Freqüentemente são chamados pelos bolivianos de Puerto Suarez de
“índios sem terra”, o que de certo modo não deixa de ser verdade. O
próprio termo “Camba” (de cambiar) quer dizer: mudar de rumo, pas-
sar de um lado para outro (Mangolim, 1993, p. 37; itálicos no origi-
nal).

Pelas pesquisas realizadas por Ruth H. da Silva e Giovani José da Silva, não pa-
rece haver correspondência direta entre a palavra “Camba” e o verbo “cambiar”! E, ape-
sar de se referir a uma estimativa de 2.000 indígenas em 1977, Mangolim, na mesma
obra, em seção intitulada “As áreas Indígenas por Municípios e a situação atual” aponta
como população Kamba apenas 400 indivíduos (Mangolim, 1993, p. 68). Não se sabe
ao certo como o referido autor chegou àquela estimativa para o ano de 1977, pois esta
informação não foi confirmada em trabalhos realizados posteriormente (José da Silva,
2009; Silva, 2009).
O que pode ter havido foi certa confusão em se considerar Camba-Chiquitano
(autodenominação do grupo) qualquer indivíduo de origem boliviana oriundo das terras
baixas orientais (reconhecido, na Bolívia, como Camba), o que é muito comum ocorrer

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em Corumbá e em praticamente toda a região da fronteira Brasil-Bolívia. Embora loca-


lize os Kamba em mapa, citando que a situação jurídica da “Área Indígena Camba” en-
contrava-se sem providências, Mangolim não faz referências ao grupo quando estabele-
ce, em uma tabela, a classificação linguística das populações indígenas em Mato Grosso
do Sul. Em texto, é apenas informado que a língua dos Kamba não está classificada em
família (Mangolim, 1993, p. 15).
Em um tom de denúncia, o pesquisador se revela pessimista quanto ao futuro
destinado àqueles indígenas:

O que antes era um encontro com a vida, porque a migração acontecia


somente dentro dos limites do grande território indígena, transforma-
se no encontro com a morte num pequeníssimo espaço de terra, um
quintal, um barraco na periferia. Desaldeados e sem nenhuma perspec-
tiva, este povo está fadado ao desaparecimento. Se alguém não tomar
alguma providência este será o destino do povo Camba (Mangolim,
1993, p. 37-38).

Apesar disso, na conclusão da obra, são feitas menções apenas aos Terena, Gua-
tó, Ofayé, Kadiwéu, além dos Guarani, ou seja, os Atikum, Ayoreo, Kamba, Kinikinau
e Chamacoco não são mencionados.
Além dos três estudiosos citados, procurou-se verificar a existência de pesquisas
a respeito da História Indígena publicadas recentemente por autores diversos, sob a
forma de comunicações em anais de eventos científicos ou, ainda, artigos em revistas
especializadas, nada tendo sido encontrado, exceto dois trabalhos de Diogo da Silva
Roiz (2008; 2010), além dos já mencionados textos de Oliveira (2012a; 2012b).

Desafios e contrapontos

Em 2008, Roiz, apresentando o resultado da pesquisa “O índio na historiografia


de Mato Grosso do Sul: o caso do programa de pós-graduação em História da UFMS,
campus de Dourados (1999-2004)”, no XIX Encontro Regional de História de São Pau-
lo, procurou, segundo suas palavras, “demonstrar a organização do programa de pós-
graduação em História da UFMS de Dourados (atual UFGD), com ênfase na análise das
dissertações sobre as comunidades indígenas, no período de 1999 a 2004”. Apoiado na
análise de quinze dissertações defendidas no período assinalado, o historiador não pou-
pa críticas aos trabalhos, ao afirmar, por exemplo, que “[...] surpreende o fato de quase

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todos os trabalhos não terem a preocupação de indicarem o que estariam entendendo


pela palavra ‘índio’, como se a citação do termo automaticamente revelasse o seu signi-
ficado” (Roiz, 2008, p. 13).
Contudo, ao buscar uma conceituação do que seja “índio” nos trabalhos analisa-
dos, Roiz pareceu se deixar seduzir pela equivocada ideia de continuidade histórica an-
cestral. Ocorre que no processo de criação de um grupo étnico, os membros gerariam
fluxos culturais próprios, em contraposição à cultura que flui de sua condição de margi-
nalidade. “O que ocorre, [...] é uma tentativa de fazer sua própria história de dentro, mas
ao mesmo tempo buscando se mover além das condições impostas sobre eles” (Grüne-
wald, 1993, p. 51).
De acordo com o antropólogo João Pacheco de Oliveira (1998, p. 278):

É preciso prevenir-se contra a sedução de tentar recompor a continui-


dade histórica dos povos indígenas do presente, pois ainda que utili-
zando técnicas antropológicas [...] ou também lançando mão de recur-
sos arqueológicos ou lingüísticos, pode revelar-se inteiramente infrutí-
fera a busca de uma suposta continuidade histórica, os resultados obti-
dos podendo servir inversamente como uma perigosa contraprova.

Assim, a crítica sobre as tentativas de recomposição do passado de sociedades


indígenas faz-se necessária e pertinente, uma vez que:

A única continuidade que em muitos casos é possível encontrar e sus-


tentar é aquela de, recuperando o processo histórico vivido por tal
grupo, mostrar como este refabricou constantemente sua unidade e di-
ferença face a outros grupos com os quais esteve em interação. A exis-
tência de algumas categorias nativas de auto-identificação bem como
de práticas interativas exclusivas serve de algum modo para delimitar
o grupo face a outros, ainda que varie substancialmente o conteúdo
das categorias classificatórias e que a área específica de sociabilidade
se modifique bastante, expandindo-se ou contraindo-se em diferentes
contextos situacionais (1998, p. 278).

Este, porém, não é o único problema verificado em trabalhos de História Indíge-


na. Há também que se reportar a uma defasagem verificada entre o que é produzido na
área e o que está sendo discutido e produzido em outras, como, por exemplo, na Antro-
pologia. É o que já afirmavam, por exemplo, Antônio Carlos de Souza Lima e Adriana
de Resende Barreto Vianna, no final dos anos 1990, ao aconselharem que “Um bom
conhecimento do conceito [de representação] em antropologia muito ajudaria a retraçar
as plurivirtualidades de sua trajetória, evitando problemas ultrapassados de longa data

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em um campo e que ressurgem no outro como novidade” (1996, p. 138). Ainda segundo
os autores:

Atualmente, alguns historiadores têm, sem o conhecimento necessário


acerca deste tipo de preocupação, dado mostras de como se pode elidir
todos os desenvolvimentos mais recentes de uma “disciplina vizinha”,
usar um instrumental ultrapassado e aparentar estar “na moda”, para
nossa surpresa, por meio de noções como as de assimilação e acultu-
ração, quando Wachtel em 1976 delas se apropriou. Estão de fato a-
partados das propostas mais recentes de diálogo das duas disciplinas
em jogo na constituição de histórias indígenas (Lima e Vianna, 1996,
p. 146; itálicos no original).

Apesar disso, muitos dos autores utilizados como referenciais teóricos em traba-
lhos de História Indígena são (re)conhecidos por fazerem de suas práticas um intenso
diálogo entre a História e outras áreas do conhecimento, notadamente a Antropologia:
Robert Darnton, Carlo Ginzburg, John Manuel Monteiro e Peter Burke, por exemplo. E
há, ainda, os antropólogos, tais como Clifford Geertz e Marshall Sahlins, bastante pre-
sentes também como referenciais nos trabalhos. Muitos desses trabalhos têm na História
Oral a metodologia de referência para sua elaboração, utilizando-se de José Carlos Sebe
Bom Meihy e Fabíola Holanda (2007) e Paul Thompson (1992), dentre outros. Nota-se
que um diálogo mais estreito com o que há de recente nesta área metodológica ainda é
incipiente e bastante necessário.
Além disso, trabalhos de campo de curta duração (surveys) também são utiliza-
dos com frequência, ainda que alguns pesquisadores demonstrem não ter muita clareza
do alcance dessa metodologia, confundindo-a com o trabalho de campo etnográfico rea-
lizado por antropólogos e outros cientistas sociais. Percebe-se, assim, claramente um
movimento de aproximação, nem sempre satisfatória, entre História e Antropologia nos
estudos defendidos na UFGD e em outros centros de estudos e pesquisas em História
Indígena, tanto teórica como metodologicamente.

Conclusão

Muitos historiadores, na atualidade, reconhecem abertamente, em seus trabalhos,


as influências de Claude Lévi-Strauss, Victor Turner, Mary Douglas, Clifford Geertz e,
especialmente, Marshall Sahlins, dentre outros tantos antropólogos. História e Antropo-
logia têm, portanto, muito que dialogar quando os temas em debate são culturas, mitos,

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identidades, fronteiras, comunidades étnicas, etc. E que diálogos podem ser efetivamen-
te estabelecidos entre essas duas áreas do conhecimento? Refletir sobre estas imbrica-
ções auxilia os pesquisadores que se “aventuram” pelos (às vezes movediços) terrenos
da História Indígena.
Na opinião otimista (e um pouco incerta) de Geertz:

A onda recente de interesse dos antropólogos não apenas pelo passado


[...], mas pela maneira como os historiadores lhe dão um sentido atual,
e do interesse dos historiadores não apenas pela estranheza cultural
[...], mas também pelas maneiras como os antropólogos a trazem para
perto de nós, não é um simples modismo; sobreviverá ao entusiasmo
que gera, aos medos que desperta e às confusões que cria. Bem menos
claro é a que levará essa onda, ao sobreviver (Geertz, 2001, p. 123).

O interesse por temas ainda considerados “exóticos” (festas, mitos, etc.) e mes-
mo o ingresso “no campo das identidades” não são vistos com bons olhos por uma par-
cela da comunidade acadêmica de historiadores. Diga-se de passagem, pelo menos no
Brasil, parece ser muito mais tranquilo aos antropólogos aceitarem dialogar com a His-
tória do que o contrário. A aproximação não ocorre, pois, sem dificuldades ou atritos.
Os diálogos entre História e Antropologia, contudo, estão longe do fim. Isto, embora
muitos historiadores (e outros tantos antropólogos!) sintam certa desconfiança com esta
aproximação, fortalecida nas últimas décadas.
Sem entrar no mérito da questão de se nominar a área de pesquisa como História
Indígena ou Etno-História (Oliveira, 2012a; Cavalcante, 2011) e também sem atribuir
equivalência a essas duas denominações, verifica-se que, apesar do incremento da pro-
dução, há muito que ser feito, especialmente sobre a trajetória daquelas populações con-
sideradas como “minoritárias”, em Mato Grosso do Sul, tais como os Atikum, Kamba,
Kinikinau, Ayoreo e Chamacoco. Paradoxalmente, em termos de pesquisa científica,
estariam sendo criadas “minorias” em relação à “minoria” indígena.
Afinal, fazendo coro às palavras de Carlo Ginzburg, em entrevista à Maria Lúcia
Garcia Pallares-Burke (2000, p. 294-295):

Assim, do mesmo modo que a importância de uma pesquisa antropó-


logica não depende – como diria Malinowski – da relevância da tribo
ou comunidade estudada, mas sim dos resultados mais gerais que se
podem extrair de uma pesquisa, o estudo de um moleiro perseguido
pela Inquisição ou de um grupo de heréticos será ou não relevante,
dependendo das relações que houver entre eles e elementos mais ge-
rais.

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Fazer tais relações, entre elementos mais gerais e as trajetórias de grupos muitas
vezes desprovidos de forte constrastividade cultural, constitui-se em grande desafio aos
historiadores da temática indígena. Os Atikum, Kamba, Kinikinau, Ayoreo e Chamaco-
co, além dos outros possíveis grupos indígenas presentes na atualidade em Mato Grosso
do Sul (remanescentes Gaikuru, Guaná, Kayapó, Layana e Payaguá), merecem ser estu-
dados, independentemente do número de indíviduos que possuem ou da ausência/ pre-
sença de sinais diacríticos que os distingam marcadamente de outras sociedades. Aos
pesquisadores de História Indígena caberá o desafio de se abrirem a novas perspectivas,
teóricas e metodológicas, na busca por respostas sobre estas presenças, seja no passado
ou no presente, garantindo-lhes um futuro nos estudos e investigações.

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Artigo recebido em: 01.04.2015


Aprovado em: 30.06.2015

1
Alerta-se que, exceto nas citações, em todas as nomenclaturas referentes a sociedades indígenas foram
respeitadas as normas aprovadas na 1ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada em 1953, no Rio de
Janeiro (Schaden, 1976). Interessante observar que pesquisadores de História Indígena têm respeitado
apenas parcialmente tais normas, fazendo uso de algumas (“Os nomes tribais [...] não terão flexão portu-
guesa de número ou gênero, [...]”, etc.) e ignorando, completamente outras (“[...] incluir o k, y e w, cômo-
dos e até indispensáveis”, etc.).
2
Cf., por exemplo, a apresentação das coletâneas Kadiwéu: Senhoras da Arte, Senhores da Guerra (José
da Silva 2011; José da Silva; Kok, 2014), em que os organizadores das obras apresentam praticamente
todos os trabalhos defendidos nos últimos trinta anos em programas de pós-graduação de distintas áreas
do conhecimento, dentro e fora do Brasil, a respeito dos Kadiwéu.

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3
Ressalta-se que as expressões colocadas entre aspas referem-se à forma como a população regional se
refere especificamente aos grupos citados, alimentando preconceitos e invocando as ultrapassadas ideias
de aculturação e assimilação para referir-se a alguns grupos indígenas em Mato Grosso do Sul.
4
Dentre os autores podem ser citados: Adilson Crepalde, Aline Castilho Crespe Lutti, Ana Maria Melo e
Souza, Carlos Barros Gonçalves, Carlos Rodrigues Pacheco, Eva Maria Luiz Ferreira, Fábio Henrique
Cardoso Leite, Lelian Chalub Amin, Lélio Loureiro da Silva, Marta Coelho Castro Troquez, Meire Adri-
ana da Silva, Nely Aparecida Maciel, Priscila Viudes, Renata Lourenço Girotto e Rosely Aparecida Ste-
fanes Pacheco. Os trabalhos sobre os Guarani foram comentados por Chamorro (2009), ainda que parci-
almente, em artigo anteriormente citado.
5
Ressalta-se que alguns dos trabalhos não foram defendidos na linha de pesquisa História Indígena, mas
em outras linhas do mesmo programa, embora se relacionem à temática.
6
Graciela Chamorro, professora da UFGD, e Isabelle Combès estão organizando um livro sobre a Histó-
ria Indígena em Mato Grosso do Sul e que deverá ser publicado nos próximos anos e conta com a partici-
pação de diversos especialistas.
7
É provável que Cabral tenha utilizado realmente a Lista de 1996, em que os Kamba aparecem sob o
número 63, mas sem o total de indígenas (Ricardo, 1996). Já na edição de 2011 da Lista, os Kamba apa-
recem sob o número 79, mas não constam informações sobre a família linguística e a estimativa da popu-
lação (Ricardo e Ricardo, 2011).

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