Quando os índios
,
' _ eram vassalos.
Colonização
e relações de poder
■ no Norte do Brasil
na segunda metade
do século XVIII
*
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COMISSÃO NACIONAL
PARA AS COMEMORAÇÕES
-
Ângela Domingues
SBD-FFLCH-USP
C o l e c ç ã o O u r a s M a r g e n s
ISBN: 972-787-003-1
Depósito legal: 146498/00
DOMINGUES, Ângela
Q uando os índios eram vassalos: colonização e relações de
poder no Norte do Brasil na segunda metade do século xvm /
7
APRESENTAÇÃO
8
A G R A D ECIM EN TO S
9
AGRADECIM ENTOS
10
LISTA DE A B R E V IA T U R A S
10
LISTA DE A B R E V IA T U R A S
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INTRO DUÇÃO
16
INTRO DUÇÃO
17
INTRO DUÇÃO
19
IN TRO D U ÇÃ O
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INTRO DUÇÃO
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C A P ÍT U L O I
1AHU, Conselho Ultramarino, códice 336, fls. 53 v-65; também BN, cód. 8396, doc. n.
2 José Vicente César, «Situação legal do índio durante o período colonial (1500-
-1822)», in America Indígena, ano xlv, vol. XLV (2), Abril-Junho de 1985.
3 Beatriz Perrone-Moisés, «índios livres e índios escravos. Os princípios da legis
lação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVlll)», in História dos índios do Bra
sil, organização de Manuela Carneiro da Cunha, São Paulo, Fapesp, Companhia das
Letras e Secretaria Municipal de Cultura, 1992, pp. 123-128.
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A s le is da e s c r a v id ã o : g u e rra ju sta e r e sg a te s
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10 Michael Palencia-Roth, «The cannibal law of 1503», in Early images of the Amé
ricas: transfer and invention, editado por Jerry M. Williams e Robert E. Lewis, Arizona,
The University of Arizona Press, pp. 21-63.
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O s m e c a n is m o s de cap tu ra
11 AN/TT, Manuscritos do Brasil, n.° 1116, doc. 52, pp. 593 e ss., Memorial que
apresentam os Religiosos capuchos que ora estão no Pará, os quais pedem ao rei lhes
mande dar resolução de como se hão de haver no serviço de Deus e de S. Mage.
sobre algumas dúvidas que se lhes ofereçem, s/d [talvez da primeira metade do
século xvn],
12 Beatriz Perrone-Moisés, «índios livres e índios escravos...», p. 129.
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A s le is da lib e r d a d e :
a p r o m o ç ã o d o s ín d io s a v a s s a lo s
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40 BN, Cotecção Pombalina, códice 626, fl. 7, Instruções régias dadas a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, de 30 de Maio de 1751.
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A lib e r d a d e in d íg e n a e as su a s c o n tr a d iç õ e s
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57Directório que se deve observar nas povoações dos índios do Pará e Maranhão enquanto
Sua Magestade não mandar o contrário, Lisboa, Oficina de Miguel Rodrigues, 1758.
58 Este conceito aplicado aos índios é uma constante na legislação peninsular,
claramente expresso em obras de tratadistas espanhóis como Don Alonso de La Pena
Montenegro e Juan de Solorzano Pereira, em quem os legisladores pombalinos se
terão inspirado. Será retomado no capítulo VI «A construção de imagens: definições
de ameríndios nos discursos coloniais». A título de curiosidade, mencione-se que um
dos exemplares por nós utilizado da obra de Juan de Solorzano Pereira pertencia à
biblioteca de Paulo de Carvalho e Mendonça, irmão do Marquês de Pombal e de
Francisco Xavier de Mendonça Furtado (BN, SC 6530 A).
59 Como exemplo, queremos mencionar uma petição da índia Petronilha
pedindo para se conservar em Belém e ficar independente do director de Beja (AHU,
Pará, caixa 104 (819), s/d [ant. a 1779]); petição da índia Josefa Martinha, tomada de
soldada contra sua vontade (AHU, Pará, caixa 95 (810), s/d [ant. a 1779]); representa
ção dos principais e moradores de Borba-a-Nova acusando o seu director de abusos e
exacções (AHU, Pará, caixa 29 (745), s/d [ant. a 1769]).
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71 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Ofício de João da Cruz Dinis Pinheiro, de 4 de
Setembro de 1755.
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ser livre porque sua mãe também o era, não obstante ter estado
como escrava em casa de André Fernandes Gavinho e lhes ter ven
dido o filho «porque nem uma nem outra coisa prova a escravidão
de tal índia tanto por esta ser como todas as mais ignorantes faltas
de inteligência de se livrarem das opressões padecidas por este
meio, como também por serem os factos alegados cumum e geral
mente justificados por meros e injustos detentores dos índios que
por serem tidos por livres não justificam a posse sem haver junta
mente o título porque tenham passado a escravos e entrado no
comércio dos homens estando, aliás, fora dele»72.
É nesta falta de registos ou de processos individuais que com
provassem a escravidão dos índios descidos que radicaram muitas
pretensões de liberdade73. Como foi analisado, a escravidão legal
estava condicionada aos casos de guerra justa e de resgate e a legiti
midade desses cativeiros dependia dos exames feitos pelos missio
nários que acompanhavam as tropas e que interrogavam os índios
sobre a situação em que tinham sido aprisionados74. Há, ainda, a
considerar que estes registos podiam ser manipulados por falsos tes
temunhos da tropa, pelas ameaças ou incompreensão dos índios
interrogados e pelos interesses dos missionários. Durante a adminis
tração de Francisco Xavier de Mendonça Furtado alguns índios ape
laram à Junta das Missões, recorrendo do registo de cativeiro ou,
então, do estatuto de escravidão. Foram libertados porque, diziam
as autoridades, «sendo todo o homem naturalmente livre, de nada
valia a posse, alegada pelos réus, enquanto não apresentavam os
títulos da escravidão, por ser uma posse contra o direito natural, a
qual não podia constituir ao possuidor em boa fé»75.
A utilização reduzida dos mecanismos que defendiam os direi
tos dos índios relacionava-se, também, com o facto de os princípios
que determinavam a escravidão serem diferentes na sociedade colo
nial luso-brasileira e nas sociedades ameríndias. Para além de os
72 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Sentença dada a favor do mameluco Celestino
Barbosa contra o réu André Fernandes Gavinho, de 21 de Setembro de 1755.
73 Alguns destes «registos de escravidão» de «negros da terra» referentes a gru
pos Manau, Ubitiena, Maribuena, Marabitena, Cunapitena encontram-se no Instituto
de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (Arlinda Rocha Nogueira,
Heloísa Liberalli Bellotto, Lucy Maffei Hutter, Inventário analítico da Colecção Lamego,
São Paulo, IEB, vol. i, 1983, pp. 239-242.
74 Nádia Farage, As muralhas do sertão. Os povos indígenas do rio Branco e a coloniza
ção, pp. 28-29.
75 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Ofício do Bispo do Pará, frei Miguel de Bulhões,
a Sebastião José de Carvalho e Melo, de 9 de Setembro de 1756.
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76 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Sentença dada a favor do mameluco Celestino
Barbosa contra o réu André Fernandes Gavinho, de 21 de Setembro de 1755.
77 AHU, Pará, caixa 60 (775), Ofício de [?] para Manuel Machado, procurador da
Fazenda Real e dos índios do Pará, de Janeiro de 1764.
78 AHU, Pará, caixa 95 (810), Petição da índia Josefa Martinha dada de soldada
contra sua vontade a Hilário Morais Bettencourt, s/d [ant. a 1779], Hilário de Morais
Bettencourt era senhor-de-engenho com propriedades em tomo de Belém, como o
Engenho do Carmelo em Carapajá. Produzia açúcar, cacau, arroz e legumes; tinha
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83 AHU, Pará, caixa 79 (794), Petição de Antônio José, filho da índia Andreza, de
Mondim, pedindo lhe fosse concedida uma provisão que lhe permitisse empregar-se
numa fazenda de gado na ilha Grande de Joanes, s/d [cerca 1786]; ibidem, Represen
tação de Jorge Francisco de Brito, filho da índia Cristina Furtado, solicitando a con
cessão de uma provisão que lhe possibilitasse a liberdade de deslocação, s/d [cerca
1786].
84 AHU, Pará, caixa 29 (745), Representação dos principais e moradores de
Borba-a-Nova sobre as exacções do director, alferes Luís da Cunha de Eça e Castro,
s/d [aprox. 1769],
85 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 47 A, Representação dos moradores das novas
povoações do Rio Negro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 8 de Julho de 1766.
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U m a m ã o -d e -o b r a a lte r n a tiv a :
o s e s c r a v o s a fr ic a n o s
86 AHU, Pará, caixa 75 (790), Carta do Juiz de Fora José de Oliveira Peixoto
sobre as exacções de José Nápoles Telo de Meneses, de 26 de Agosto de 1781; tam
bém em ibidem, caixa 44 (758); ibidem, caixa 111 (826), Carta incompleta, faltando o
nome do autor e data, sobre as violências cometidas por José Nápoles Telo de Mene
ses, s/d.
87AHU, Pará, caixa 75 (790), Carta de João Gonçalves Figueiredo à rainha sobre as
exacções de José Nápoles Telo de Meneses, s/d [aprox. de 12 de Agosto de 1782].
88 Sobre a actuação das companhias monopolistas, veja-se Bailey W. Diffie,
A History of Colonial Brazil, 1500-179Z, Malabar, Florida, Robert E. Krieger Publishing
Company, 1987, pp. 403-411; José Álvaro Ferreira da Silva e M. Manuela Marques
Rocha, «A Companhia do Grão-Pará e Maranhão», in História e Sociedade, n.° 10,
Dezembro, 1982, pp. 43 e ss.; sobre o «assento de escravos», confronte-se BNRJ, 7-3-
-39, n.° 1, Ofício de D. Francisco de Sousa Coutinho a D. Rodrigo de Sousa Cou-
tinho, de 21 de Agosto de 1797. Joaquim José Coimbra é apontado como um dos
contratadores (vejam-se breves referências em Anaiza Virgolino-Henry e Arthur
Napoleão Azevedo, A presença africana na Amazônia colonial: uma notícia histórica,
Belém, Arquivo Público do Pará, 1990, p. 41).
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103 Sobre este assunto, veja-se, por exemplo, Alexandre Rodrigues Ferreira,
«Observações gerais e particulares sobre a classe dos mamíferos observados nos terri
tórios dos três rios das Amazonas, Negro e da Madeira: com descrições circunstancia
das que quase todos eles deram os antigos e modernos naturalistas, e principalmente,
com a dos tapuios», in Viagem filosófica pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato
Grosso e Cuiabá, Memórias de Zoologia e Botânica, s/1, Conselho Federal de Cultura,
1972, pp. 75-76. Veja-se ainda J. H. Elliott, The discovery of America and the discovery of
man, Londres, Oxford University Press, Ely House, 1972, p. 10; D. B. Davis, The pro-
blem of slavery in Western Culture, p. 49; e Maria do Rosário Pimentel, Viagem ao fundo
das consciências. A escravatura na Época Moderna, Lisboa, Edições Colibri, 1995,
pp. 177-181 e 188.
104 Maria José Gomes Párias Dias, Manoel Ribeiro Rocha. Escravidão e recta consciên
cia (1758), dissertação de Mestrado em História Ibero-Americana apresentada à Uni
versidade Portucalense Infante D. Henrique, Porto, 1996, p. 64. Esta corrente de opi
nião ocorreu também na América Espanhola (D. B. Davies, The probtem of slavery in
Western Cultures..., p. 171).
105 Como um excelente estudo sobre as atitudes portuguesas em relação à
escravatura africana, consulte-se o já citado artigo de A. J. R. Russell-Wood, «Iberian
expansion and the issue of black slavery: changing Portuguese attitudes, 1440-1770»,
pp. 16-42.
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106 Veja-se, por exemplo, Nova e curiosa Relação de hum abuzo emendado ou evidên
cias da Razão; expostas a favor dos homens pretos em hum diálogo entre hum letrado e hum
mineiro, Lisboa, Officina de Francisco Borges de Sousa, 1764, publ. in Maria José
Gomes Párias Dias, Manoel Ribeiro Rocha. Escravidão e recta consciência, Apendix doc.;
A. J. R. Russell-Wood, «Iberian expansion and the issue of black slavery...», pp. 37-
-38. Os debates sobre a abolição da escravatura só ganharam dimensão pública com
os inícios do século XIX e com a sua discussão na imprensa (João Pedro Marques,
«A abolição do tráfico de escravos na imprensa portuguesa (1810-1842)», in Revista
Internacional de Estudos Africanos, n.“ 16-17, 1992-1994, pp. 8 e ss.); para um ponto de
situação sobre a discussão gerada em tomo da escravatura africana tanto em Portugal
como na Europa, veja-se Maria do Rosário Pimentel, Viagem ao fundo das consciências,
parte u «Do escravismo ao antiescravismo», pp. 133 e ss.
107 Jorge Benci, Economia cristã dos senhores no governo dos escravos (livro de 1700),
preparado, prefaciado e anotado por Serafim Leite, Porto, Livraria Apostulado da
Imprensa, 1954.
108 Ibidem, p. 193.
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120 AHU, Pará, caixa 17 (733), Petição da Junta da Companhia Geral de Comércio
do Grão-Pará e Maranhão à coroa pedindo fosse devassada a sua administração antes
da tomada de posse de uma nova junta, s/d; ibidem, caixa 97 (812), Parecer do Conse
lho Ultramarino a uma petição dos senhores de engenho e fábricas de açúcar no Pará
pedindo para as penhoras não serem executadas, de 4 de Março de 1779.
121 BNRJ, 13-4-18, Representação de um anônimo dirigida à rainha sobre a pror
rogação por mais 10 anos da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, s/d [post a
1775]; Manuel Nunes Dias, A Companhia Geral de Grão-Pará e Maranhão, pp. 465 e
496.
122 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado sobre a introdução de 150 a 200 escravos para
os cortes de madeiras, de 22 de Junho de 1761; ibidem, caixa 32 (746), Ofício de João
Pereira Caldas a Martinho de Melo e Castro, de 15 de Dezembro de 1772.
123J. A. Pinto Ferreira, «Mapa geral da população dos índios aldeados em todas as
povoações das capitanias do Estado do Grão-Pará e S. José do Rio Negro no primeiro
de Janeiro de 1792», in Actas do V Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, vol. iv,
Coimbra, 1965, pp. 281 e ss. Entendemos por vilas de «brancos» aquelas que, como
Gurupá, Mazagão e Macapá, eram constituídas por uma maioria de luso-brasileiros.
Estas deviam ter na sua constituição um número considerável de escravos africanos.
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Princeton, Princeton University Press, 1987, p. 19. Esta ideia está também subjacente
em Eugênio dos Santos, «A civilização dos índios do Brasil na transição das Luzes para o
Liberalismo: uma proposta concreta», in Maré Liberum (10), Dezembro de 1995, p. 206.
3 Veja-se Colonial Identity in the Atlantic World, 1500-1800, especialmente os capí
tulos 1, 2, 3 e 5.
4 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Ofício de Joaquim de Melo Póvoas a Tomé Joa
quim da Costa Corte-Real, de 21 de Dezembro de 1758; também em idem, Rio Negro,
caixa 1, doc. 18, de 21 de Dezembro de 1758.
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U m c ó d ig o le g is la tiv o c o m o e x p r e s s ã o
da p o lític a c o lo n ia l: o D ir e c tó r io
5 O Directório foi, por decreto real de 1758, extensível a todo o Brasil, apesar dos
protestos de D. Marcos de Noronha, 6 ° conde de Arcos, 7.° vice-rei (BNRJ, 11-30-32-
-30, Carta régia aos governadores e capitães-generais do Brasil censurando a posição
crítica do conde de Arcos em relação ao Directório, de 20 de Abril de 1761); veja-se,
também, John Manuel Monteiro, «Directório dos índios», artigo do Dicionário da His
tória da Colonização Portuguesa no Brasil, coordenado por Maria Beatriz Nizza da Silva,
Lisboa, Editorial Verbo, 1994, cols. 261 e 262.
6 Carlos de Araújo Moreira Neto, índios da Amazônia. De maioria a minoria (1750-
-1850), Petrópolis, Editorial Vozes, 1988, pp. 20 e 27-30, Colin MacLachland, «The
Indian Directorate: forced acculturation in Portuguese America», in The Américas.
A cfuaterly Review of Inter American Cultural History, vol. xxvill, (4), April 1972, pp. 357-
-387; Angela Domingues, «As sociedades e as culturas indígenas face à expansão ter
ritorial luso-brasileira da segunda metade do século XVIII», in Nas vésperas do mundo
moderno. Brasil, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimen
tos Portugueses, 1992, pp. 186-188.
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A TR A N SFO R M A Ç Ã O DOS ÍNDIOS EM VASSALOS
11 «Alvará por que S. M. é servida ordenar que a liberdade que havia concedido
aos índios do Maranhão para as suas pessoas, bens e comércio por alvarás de 6 e 7 de
Junho de 1755 se estenda a todos os índios que habitam o continente brasileiro, sem
restrição, interpretação ou modificação», J. C. B., 71-341-1, de 8 de Maio de 1758.
12 Veja-se capítulo vi «A construção de imagens: definição de ameríndios nos dis
cursos coloniais».
13 Para o conceito de lei enquanto veículo de legitimação dos poderes coloniais,
veja-se Patrícia Seed, Ceremonies of posscssion in Europe's conquest of the New World,
1492-1640, Cambridge MA, Cambridge University Press, 1995, pp. 6-7: «If language
and gestures of everyday life were the cultural media through which European States
created their autority and communicated it overseas, Iaw was the means by wich
States created their legitimacy.»
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14 Directório que se deve observar nas povoações dos índios do Pará e Maranhão
enquanto Sua Magestade não mandar o contrário, Lisboa, Officina de Miguel Rodrigues,
1758, pp. 1-3.
15 Directório, § 92, p. 37.
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j-
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17 Directório..., § 16, p. 8.
18 BN, R3610 V, Alvará de 4 de Abril de 1755.
19 Na terminologia colonial, os ameríndios eram definidos como «negros da
terra» por paralelismo à designação dos africanos como «negros da Guiné». Para os
portugueses, «negro» era sinônimo de escravo e estava conotado com servidão (Stuart
B. Schwartz, «Indian labor and new demands...», p. 61; atente-se também no livro de
John Manuel Monteiro, Negros da terra. índios e bandeirantes nas origens de S. Paulo, São
Paulo, Companhia das Letras, 1994).
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20 Directório, § 5, p. 3.
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23 Directório, § 8, p. 4.
24 Directório, § 6, p. 3.
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A ld e ia s , v ila s e fo r tific a ç õ e s
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27 Patrícia Seed, «Taking possession and reading texts...», p. 117. Sobre a história
da Amazônia antes dos contactos com os europeus, veja-se, por exemplo, Anna Cor-
tenius Roosevelt, «Sociedades pré-históricas do Amazonas brasileiro», in Nas vésperas
do mundo moderno. Brasil, pp. 17 e ss.; «Resource management in Amazônia before
conquest: beyond Ethnografic projection», in Advances in Economic Bothany, 7, 1989,
pp. 30 e ss.; «Lost civilizations of the Lower Amazon. Archeologists discover the com-
plex societies that ruled South America’s tropics», in Natural History, 2, 1989, pp. 76 e
ss.; «Arqueologia amazônica», in História dos índios do Brasil, organização de Manuela
Carneiro da Cunha, São Paulo, FAPESP, Companhia das Letras, Secretaria Municipal
de Cultura, 1992, pp. 53 e ss.
28 Ângela Domingues, «Urbanismo e colonização na Amazônia em meados do
século xvill: a aplicação das reformas pombalinas na capitania de S. José do Rio
Negro», in Revista de Ciências Históricas, n.° x, 1995, p. 265. Ao invés do que foi afir
mado por outros autores, estamos crentes que a renomeação das povoaçôes pouco
teve a ver com o local de origem dos povoadores. Se excluirmos o caso de Vila Nova
de Mazagão, verificamos que os topónimos utilizados durante o período estudado
estão relacionados com as povoaçôes da Coroa, da Casa da Rainha e Infantado e,
eventualmente, com as terras de origem ou patrimoniais dos governadores que as
fundavam ou intitulavam (confronte-se Rita Heloísa de Almeida, O Directório dos
índios, p. 67).
78
in .
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V ASSALO S
29 English and Irish Settlement on the river Amazon (1550-1646), edição de Joyce
Lorimer, Londres, Hakluyt Society, 1968; AAW, História Naval Brasileira, vol. I,
tomo II, Rio de Janeiro, Ministério da Marinha, Serviço de Documentação-Geral da
Marinha, 1975, capítulo 11; Ângela Domingues, «Estado de Grão-Pará e Maranhão»,
in Dicionário da História da Colonização Portuguesa no Brasil, Lisboa, Editorial Estampa,
1994, cols. 314-316.
30 Directório, § 80, p. 34.
31 Regimento e Leis sobre as missões do Estado do Maranhão e Pará e sobre a liberdade
dos índios, Lisboa, Oficina de Antônio Menescal, 1724; Mathias C. Kiemen, «The
Indian policy of Portugal in America, with special reference of the old State of Mara
nhão, 1500-1755», in The Américas. A Quaterly Review of Inter-American Cultural History,
vol. v, (4), Abril de 1949, pp. 439-447.
32 A primeira ordem religiosa a estabelecer-se na Amazônia foi a dos Franciscanos
da Província de Santo Antônio fixados no território em 1617; seguiram-se outros ramos
da mesma ordem: os da Piedade, chegados em 1693 devido a solicitação de Manuel
Guedes Aranha; e os Capuchos da Conceição da Beira e Minho, em 1706. Os Carmeli
tas iniciaram a sua missão no Pará em 1627 e os Jesuítas surgiram em 1636, quando o
padre Luís Figueira se estabeleceu em Belém e percorreu os rios Tocantins, Pacajás e
Xingú. Os Mercedários foram trazidos por Pedro Teixeira na sua viagem de regresso de
Quito, em 1639, começando no ano seguinte a construção da igreja e convento das
Mercês (veja-se Carlos de Araújo Moreira Neto, «Os principais grupos missionários que
actuaram na Amazônia brasileira entre 1607 e 1759», in História da Igreja na Amazônia,
coordenada por Eduardo Hoomaert, Petrópolis, Editorial Vozes, 1992, pp. 63-105.
79
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36 Veja-se, por exemplo, BN, Colecção Pombalina, cód. 622, fl. 33, Oficio de José
Antônio de Freitas Guimarães a [Francisco Xavier de Mendonça Furtado?], de 13 de
Fevereiro de 1753.
37 O papel que os núcleos urbanos tiveram em território luso-brasileiro é seme
lhante ao que exerceram em território hispano-americano. Veja-se Francisco de
Solano, «Urbanizacion y municipalízacion de la poblacion indígena», in Estúdios sobre
la ciudad iberoamericana, coordenação de Francisco de Solano, Madrid, Consejo Supe
rior de Investigaciones Científicas, Instituto Gonzalo Femandez de Oviedo, 1983,
pp. 241-245.
81
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38 David M. Davidson, «How the Brazilian West was won: Freelance & State on
the Mato Grosso frontier, 1737-1752», in Colonial roots of Modem Brazil. Papers of the
Newherry Library Conference, editado por Dauril Alden, Berkeley, Los Angeles, Lon
dres, University of Califórnia Press, 1973, p. 66.
39 A referência aos rios como vias de penetração e de colonização encontra-se
também em Carmen Aranovich, «Notas sobre urbanizacion colonial en la America
Portuguesa», in Estúdios sobre la ciudad iberoamericana, p. 396.
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42 Como exemplo desta actuação, veja-se AHU, Pará, caixa 18 (739F), Ofício de
Joaquim de Melo Póvoas a Tomé Joaquim da Costa Corte-Real, de 21 de Dezembro de
1758 (também em Rio Negro, caixa 1, doc. 18); AN/TT, Manuscritos do Brasil, n.° 51,
fl. 30, Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado a Manuel Bernardo de Melo e
Castro, de 15 de Junho de 1760; AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Ber
nardo de Melo e Castro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 23 de Abril de
1761; ibidem, caixa 21 (7391), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, de 28 de Abril de 1761; ibidem, caixa 22 (742), Ofício de
Feliciano Ramos Nobre Mourão a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 28 de
Junho de 1761; ibidem, caixa 25 (739 J), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro ao
Dezembargador Intendente-Geral, de 16 de Agosto de 1763.
43 Ângela Domingues, «As sociedades e as culturas indígenas face à expansão
territorial luso-brasileira na segunda metade do século xviii», p. 189.
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64 BAPDE, CXV/2-14, fl. 266, Carta do Padre Antônio Machado ao Padre Bento
da Fonseca, de 24 de Agosto de 1753.
65 BN, Coltcção Pombalina, códice 625, fl. 179v, Carta do Padre Antônio Machado
a [Francisco Xavier de Mendonça Furtado?], de 29 de Maio de 1754.
66 BN, Colecção Pombalina, códice 686, fl. lOv, Instruções dadas por D. José I a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 30 de Maio de 1751. Também citado em João
Lúcio de Azevedo, Os Jesuítas no Grão-Pará. Suas missões e a colonização, pp. 283-284.
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67 Dauril Alden, The maleing ofatt entrefrise. The Society ofJesus in Portugal, its Empire
and beyond, /I540-'I750, Stanford, Califórnia, Stanford University Press, 1996, p. 476.
68 BN, Reservados, 2434 A, de 7 de Junho de 1755; também em AHU, Conselho
Ultramarino, códice 336, fl. 65.
69 «Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado ao Padre Manuel dos Santos
para fundar uma aldeia na boca oriental do rio Javari», de 11 de Fevereiro de 1752 in
Collecção dos crimes e decretos pelos cjuaes vinte e hum jesuítas foram mandados sahir do
Estado do Cram Pará e Maranhão, editado por Manuel Lopes de Almeida com notas de
Serafim Leite, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1947, p. 53.
94
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75 É José Caeiro quem afirma que não foram só os índios sob administração de
Jesuítas que fugiram como também os que estavam sujeitos à autoridade dos missio
nários das outras ordens. E atribui essas «deserções» à fome e ao trabalho (José
Caeiro, História da expulsão da Companhia de Jesus, pp. 270-271).
76 AHU, Conselho Ultramarino, códice 1214, fl. 213, Ofício do Bispo do Pará a
Sebastião José de Carvalho e Melo, de 8 de Março de 1754.
77 BNRJ, 1-28-32-24, Ofício de frei Miguel de Bulhões a Tomé Joaquim da Costa
Corte Real, de 1 de Março de 1759.
78 João Lúcio de Azevedo, Os Jesuítas no Grão-Pará..., p. 322; Jorge Couto, «O po
der temporal das aldeias dos índios do Estado do Grão-Pará e Maranhão no período
pombalino...», pp. 53 e ss.
79 Para além dos autores já mencionados pensamos ser importante referir ainda
José Caeiro, História da expulsão da Companhia de Jesus da Província de Portugal (século
xvill), vol. I, Lisboa, São Paulo, Editorial Verbo, 1991.
96
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80 BN, Colecção Pombalina, códice 621, fl. 142, Ofício de Manuel Sarmento,
Dezembargador e Ouvidor-Geral do Maranhão, a Francisco Xavier de Mendonça Fur
tado, de 2 de Janeiro de 1753; ibidem, códice 622, fl. 33, Ofício de José Antônio de
Freitas Guimarães a [Francisco Xavier de Mendonça Furtado?], de 13 de Fevereiro de
1753; AHU, Conselho Ultramarino, códice 1214, fl. 213, Carta do Bispo do Pará a
Sebastião José de Carvalho e Melo, de 8 de Março de 1754; Pará, caixa 20 (739 G),
Ofício de Feliciano Ramos Nobre Mourão a Manuel Bernardo de Melo e Castro, de
10 de Setembro de 1760.
81 Dauril Alden, «Economic aspects of the expulsion of the Jesuits from Brazil»,
p. 51.
82 AHU, Conselho Ultramarino, códice 1214, fl. 177, Carta de Francisco Xavier de
Mendonça Furtado ao Marquês de Pombal, de 14 de Junho de 1754.
83 Semelhante afirmação encontra-se também documentada em Dauril Alden,
«Economic aspects...», pp. 54-55. Na sua opinião, a expulsão dos Jesuítas do Brasil
dependeu, em grande medida, de factores econômicos; consulte-se, ainda, Kenneth
R. Maxwell, «Eighteenth century Portugal: faith and reason, tradition and innovation
during a Golden Age», in The Age of the Baroque in Portugal, editado por Jay A. Leven-
son, Washington, New Haven, Londres, The National Gallery of Art e Yale Univer-
sity Press, 1993, pp. 120-121.
97
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C o l o n o s , s o ld a d o s e d e g r e d a d o s
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86Virgínia Rau et alii, «Dados para a emigração madeirense para o Brasil no século
Xviii», in Actas do V Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, Coimbra, 1963. vol. i,
pp. 495 e ss.; Walter F. Piazza, A epopeia açorico-madeirense, 1748-1796, Florianópolis,
Editora da UFCSC, Editora Lunardelli, 1992; Adelaide Barbosa Couto, Edina Nogueira
da Gama e Maurício de Barcellos Sant’Anna, «O povoamento da ilha de Santa Catarina
e a vinda dos casais de ilhéus», in Actas do II Colóquio Internacional de História da Madeira,
pp. 247 e ss.; Avelino de Freitas de Meneses, «O giro das gentes: migrações açorianas
nos espaços insular e metropolitano em meados do século xviii», in Ler História, (31),
1996, pp. 69 e ss.; «Gentes dos Açores. O número e a mobilidade em meados do século
xvm», Provas de Agregação apresentadas à Universidade dos Açores, Ponta Delgada,
1997. Uma nova via de abordagem surge em Maria Beatriz Nizza da Silva, «Família e
emigração: açorianos no Brasil no fim do período colonial», in Colóquio O Faia! e a perife
ria açoriana nos séculos xva xix, Horta, Núcleo Cultural da Horta, 1995, pp. 391 e ss.
87 Confronte-se com Avelino de Freitas de Meneses, «Gentes dos Açores. O nú
mero e a mobilidade em meados do século xvm». O autor é de opinião que «Neste caso,
prevalecem inequivocamente as necessidades do Brasil sobre as conveniências dos
Açores», p. 79. O mesmo autor refere, igualmente, a ocorrência de uma crise cerealífera
nas ilhas do arquipélago central açoriano nos anos de 40 (p. 81) e considera ainda as
calamidades sismo-vulcânicas como irrelevantes no êxodo das populações (p. 85).
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92 Relação curioza do sitio do Grão Pará terras de Mato-Grosso bondade do clima e fer
tilidade daquellas terras escrita por um curiozo experiente daqueHe Paiz, Lisboa, cerca 1750
0- C. B., 66-151, p. 8).
93 Serafim Leite S.I., Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, vol. III, São Paulo,
Comissão do IV Centenário da Cidade de S. Paulo, 1954, pp. 296-297.
94 Relação curioza..., pp. 4 e 6.
95 Caetano Paes Silva, Relaçam e noticia Da gente, que nesta segunda monçaõ chegou
ao sitio do Grão-Pará, e às terras de Matto Grosso, caminhos que ftzerão por aquellas terras,
com outras muitas curiosas, e agradaveis de Rios, Fontes, fructos, que naquelle Paiz acharão.
Copia tudo de uma Carta, que a esta Cidade mandou Isidoro de Couto, Lisboa, Oficina de
Bernardo Antônio de Oliveira, 1754.
96 AHU, Conselho Ultramarino, códice 271, fl. 162-162v, Carta régia ao governa
dor do Maranhão sobre a resolução que o rei teve de mandar contratar o transporte
de 1000 pessoas dos Açores para o Pará, de 13 de Maio de 1751; também em Timoty
Joel Coates, Exiles and orphans: forced and State sponsored colonizers in the Portuguese
Empire, 1550-1720, Michigan, Ann Harbour Dissertation Services, 1993, vol. 2, p. 442.
97 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ordem régia aos capitães dos navios para não
levarem passageiros, desertores ou mulheres sem autorização do governador sob
pena de pagarem 200 000 réis, de 27 de Novembro de 1761.
101
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98 AHU, Conselho Ultramarino, códice 271, fl. 162, Carta régia ao governador do
Maranhão sobre a resolução que o rei teve em mandar contratar o transporte de 1000
pessoas dos Açores para o Pará, de 13 de Maio de 1751; Avelino de Meneses, «Os
Açores e o Brasil: as analogias humanas e econômicas no século xvill», in Revista da
Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica, n.° 10, 1995, p. 32.
99 AHU, Conselho Ultramarino, códice 1214, fl. 270, Ordem de pagamento dada
ao Conde de Penalva para pagar 2 692 304 réis a dois donos de navios, de 10 de
Junho de 1753.
100 AHU, ibidem, códice 271, fl. 188, Carta régia dirigida ao governador do Mara
nhão sobre o envio de degredados julgados na corte e das levas da índia, de 24 de
Maio de 1751.
101 Nicolás Sánchez-Albomoz, «The first transadantic transfer: Spanish migra-
tion to the New World, 1493-1810», in Europeans on the move. Studies on European
migration. -1500-1800, editado por Nicholas Canny, Oxford, Clarendon Press, 1994,
pp. 33-34.
1 02
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
102 As leis reais estipulavam, em 1751, que cada casal de ilhéus ou de estrangeiros
que se dispusesse a ir povoar os domínios portugueses do Norte da América recebería
uma espingarda, duas enxadas, um machado, um enxó, um martelo, um facão, duas
facas, duas verrumas, uma serra com lima e travadoira, dois alqueires de sementes,
duas vacas, uma égua e, de tudo o mais importante, uma sesmaria de um quarto de
légua em quadra, sem direitos ou salários. Durante o primeiro ano teriam direito a uma
ração de três quartas de alqueire de farinha por cada indivíduo adulto maior de 14 anos
e os mais pequenos, até aos 7 anos, uma quarta e meia de alqueire. As mulheres rece
beríam 1000 réis por cada criança e os artífices teriam direito a ajudas de custo na pro
porção directa às suas capacidades (AHU, Conselho Ultramarino, códice 271, fl. 162,
Carta régia ao governador do Maranhão, de 13 de Maio de 1751); os mazaganistas
receberam, na década de 1770, o mesmo alimento, uma «propriedade de casas» e um
número mais reduzido de ferramentas (ihidem, códice 1257, «Relação dos mazaganistas
estabelecidos na Vila Nova de Mazagão e suas vizinhanças; com uma particular e indi
vidual informação relativa a cada família», s/d; Zelinda Cohen, «Retrato dos mazaga
nistas...»); em 1760, os povoadores que chegassem do reino e do estrangeiro deviam
usufruir de uma quantidade não especificada de ferramentas, 6000 réis por mês
durante um ano, terras para a lavoura, doze vacas, um touro e um cavalo. Embora con
templando todos os que chegassem ao Estado, a documentação referia-se concreta
mente a Manuel Barbosa, português, e a José Azeite, armênio, que se iam fixar em
Macapá (AHU, Pará, caixa 20 (739 G), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 23 de Outubro de 1760).
103 Timothy Joel Coates, Exiles and orphans: forced and state-sponsored colonizers in
the Portuguese Empire, pp. 72 e 106.
104 ANRJ, códice 99, vol. 1, fl. 100, Ofício de Fernando da Costa de Ataíde Teive
a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 17 de Outubro de 1766; AHU, Pará,
caixa 40 (754), Ofício de José Nápoles Telo de Meneses noticiando a chegada do
navio N.“ Sr.“ da Praça e S. João transportando degredados para assentar praça, de 14
de Agosto de 1780.
103
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105 AHU, Conselho Ultramarino, códice 271, fl. 188, Carta régia dirigida ao gover
nador do Maranhão, de 24 de Maio de 1751.
106 AHU, Conselho Ultramarino, códice 209, fl. 279v, Parecer do Conselho Ultra
marino sobre o pagamento das rações de farinha a algarvios que no Pará se ocupa
vam da pescaria, de 27 de Maio de 1754.
107 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 23 de Julho de 1761.
104
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108 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Ofício de Joaquim de Melo Póvoas a Tomé Joa
quim da Costa Corte Real, de 21 de Dezembro de 1758; também em Rio Negro, caixa 1,
doc. 18.
im Para a emigração, que era fundamentalmente masculina, ocorrida nas fases
iniciais da expansão espanhola, veja-se Francisco de Solano, «El conquistador His
pano: sehas de identidad», in Proceso historico al conquistador, coordenado por Francisco
de Solano, Madrid, Editorial Alianza, 1988, pp. 15 e ss.
110 BN, Reservados 3610 V, Alvará de 4 de Abril de 1755.
111 AHU, Pará, caixa 20 (739 G), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 18 de Outubro de 1760; ihidem, caixa 19
(739 H), Ofício de Feliciano Ramos Nobre Mourão, ouvidor-geral do Pará, a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, de 10 de Novembro de 1760.
112 A N /1 1, Manuscritos do Brasil, n.° 51, fl. 33, Ofício de Francisco Xavier de
Mendonça Furtado a Manuel Bernardo de Melo e Castro, de 21 de Junho de 1760.
113 AHU, Pará, caixa 19 (739 Fl), Ofício de Feliciano Ramos Nobre Mourão a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 10 de Novembro de 1760.
105
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
O fim de r é g u lo s e de q u ilo m b o s
114 Para uma noção comparativa do papel dos lançados no Império Português,
veja-se o artigo e a bibliografia indicada em Jorge Couto, «Lançados», in Dicionário de
História dos Descobrimentos, dirigido por Luís de Albuquerque, vol. n, Lisboa, Círculo
de Leitores, 1994.
115 Gary B. Nash e David G. Sweet, «General Introduction», in Struggle and survi-
val in Colonial America, editado por David G. Sweet e Gary B. Nash, Berkeley, Los
Angeles, Londres, University of Califórnia Press, 1991, pp. 3-4.
106
A T R A N SF O R M A Ç Ã O D O S ÍN DIO S EM V ASSALO S
116 BN, Colecção Pombalina, códice 205, fl. 123, Carta de Francisco Xavier de
Andrade a [Francisco Xavier de Mendonça Furtado], de 12 de Agosto de 1752.
117 AF1U, Conselho Ultramarino, códice 209, fls. 257v-259v, Parecer do Conselho
Ultramarino sobre o procedimento a ter com Francisco Portilho de Melo, de 13 de
Abril de 1753. Sobre esta noção de sertão como local de refúgio e, igualmente, de opor
tunidade dos que eram rejeitados pela sociedade colonial, dos que dela se tinham colo
cado à margem ou dos que fugiam da igreja, da justiça ou da opressão, veja-se A. J. R.
Russell-Wood, «The frontier concept. Its past, present and future influence», p. 37.
118 De entre os mais relevantes régulos do sertão, saliente-se Francisco Portilho
de Melo, Pedro de Braga, José da Costa Bacelar, João Gonçalves Chaves, Euquério
Ribeiro e João Baptista, Francisco Alberto do Amaral, Antônio Braga, João Duarte
Ourives, o mameluco Jacob, o mulato Isidoro, Antônio Carlos e Antônio Ribeiro da
Silva (AHU, Conselho Ultramarino, códice 271, fl. 175, Carta régia ao ouvidor da capi
tania do Pará, de 20 de Abril de 1751; ibidem, fl. 184, Carta régia ao Governador do
Estado do Maranhão, de 12 de Maio de 1751).
1,9 AHU, Pará, caixa 59 (774), Ofício de Francisco Xavier de Mendonça Furtado
a [? ], de 3 de Novembro de 1753.
107
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120 BN, Colecção Pombalina, códice 621, fl. 214, Ofício de Lourenço Belfort a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 8 de Fevereiro de 1753.
121 Ibidem, códice 622, fl. 25, Ofício de Ricardo Antônio da Silva Leitão a [Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado?], de 9 de Fevereiro de 1753.
122 Ibidem, códice 622, fl. 33, Ofício de José Antônio de Freitas Guimarães a
[Francisco Xavier de Mendonça Furtado], de 13 de Fevereiro de 1753; ibidem, fl. 31,
Ofício de Manuel da Silva a [Francisco Xavier de Mendonça Furtado], de 13 de Feve
reiro de 1753.
108
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123 AHU, Pará, caixa 59 (774), Ofício de Francisco Xavier de Mendonça Furtado
a [?], de 3 de Novembro de 1753.
124 BN, Colecção Pombalina, códice 621, fl. 214, Ofício de Lourenço Belfort a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado sobre a devassa feita a Pedro Braga, de 8 de Feve
reiro de 1753.
125 Ibidem, códice 625, fl. 123, Carta de Francisco Xavier de Andrade a [Francisco
Xavier de Mendonça Furtado], de 12 de Agosto de 1752; ibidem, códice 622, fl. 11,
Ofício de José Pereira de Abreu a [Francisco Xavier de Mendonça Furtado], de 29 de
Janeiro de 1753.
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126Ibidem, códice 622, £1. 22, Ofício de João Rodrigues da Cruz a [Francisco Xavier
de Mendonça Furtado], de 5 de Fevereiro de 1753; AHU, Pará, caixa 59 (774), Ofício de
Francisco Xavier de Mendonça Furtado a [?], de 3 de Novembro de 1753.
127 Urs Bitterli, Cultures in conflict. Encounters between European and non-European
cultures, 1492-1800, p. 50.
128 BN, Colecção Pombalina, códice 621, fl. 214, Ofício de Lourenço Belfort a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado sobre a devassa feita a Pedro Braga, de 8 de Feve
reiro de 1753.
129 Esta prática foi proibida por Carta régia de 4 de Dezembro de 1752 (AHU,
Pará, caixa 110 (825)).
130 BN, Colecção Pombalina, códice 622, fl. 10, Ofício de José Pereira de Abreu a
[Francisco Xavier de Mendonça Furtado], de 29 de Janeiro de 1753.
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131 Ibidem, códice 621, fl. 214v, Ofício de Lourenço Belfort a Francisco Xavier de
Mendonça Furtado sobre a devassa feita a Pedro Braga, de 8 de Fevereiro de 1753.
132 AHU, Conselho Ultramarino, códice 209, fl. 257v, Parecer do Conselho Ultra
marino sobre o procedimento a ter com Francisco Portilho, de 13 de Abril de 1753;
ibidem, códice 271, fl. 184, Carta régia ao governador do Maranhão sobre as devassas
feitas a crimes de apreensão de escravos, de 12 de Maio de 1751; BN, Colecção Pomba
lina, códice 625, fl. 123, Carta de Francisco Xavier de Andrade a [Francisco Xavier de
Mendonça Furtado], de 12 de Agosto de 1752. Sobre a actuação de Francisco Portilho,
veja-se também João Lúcio de Azevedo, Os Jesuítas no Grão-Pará. Suas missões e a colo
nização, pp. 287-288 e Ciro Flamarion S. Cardoso, Economia e sociedade em áreas colo
niais periféricas. Guiana Francesa e Pará fl 750-'/<§'/7J, Rio de Janeiro, Edições Graal,
1984, pp. 111-112.
111
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133 AHU, Conselho Ultramarino, códice 209, fl. 258v, de 13 de Abril de 1753.
134 A vantagem destas alianças era uma constante no relacionamento de índios e
luso-brasileiros. Veja-se John Manuel Monteiro, «Brasil indígena no século xvi: dinâmica
histórica tupi e as origens da sociedade colonial», in Ler História, 19,1990, pp. 91-95.
135 BN, Colecção PombaUna, códice 625, fl. 123, Ofício de Francisco Xavier de
Andrade a [Francisco Xavier de Mendonça Furtado], de 12 de Agosto de 1752.
1 12
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136 Ibidem, códice 625, fl. 123, de 12 de Agosto de 1752. Para a insubordinação
indígena aliada à resistência armada e ao declínio demográfico em relação ao vice-rei-
nado, veja-se John Manuel Monteiro, Negros da terra. índios e bandeirantes nas origens
de S. Paulo, São Paulo, Companhia das Letras, 1994, p. 35.
137 AHU, Pará, caixa 40 (754), Ofício de José de Nápoles Telo de Meneses a Mar-
tinho de Melo e Castro, de 21 de Agosto de 1780; para o vice-reinado do Brasil, veja-
se Benjamin Péret, O quilombo de Palmares. Crônica da •República de Escravos». Brasil,
1640-1695, Lisboa, Fenda Edições, L.da, s/d; Mário José Maestri Filho, Quilombos e qui-
lombolas em terras gaúchas, Porto Alegre, Escola Superior de Teologia, Universidade de
Caxias, 1979. Sobre o conceito de quilombo como espaço físico, mas também social
e mítico, e percebido como uma estrutura de identidade e solidariedade alternativa à
sociedade esclavagista (neste caso africana), veja-se Aida Freudenthal, «Os quilombos
de Angola no século XIX: a recusa da escravidão», in Revista de Estudos Afro-Asiáticos,
32, 1997.
138 AHU, Conselho Ultramarino, códice 209, fls. 220 e ss., Parecer do Conselho
Ultramarino sobre a representação feita aos oficiais da câmara do Pará sobre o envio
de escoltas armadas para captura de escravos e índios fugidos, de 21 de Maio de
1750; Pará, caixa 94 (809), Atestação de Pedro Gorjão de Mendonça sobre o compor
tamento do principal Gonçalo de Sousa, de 4 de Maio de 1754, BN, Colecção Pomba-
lina, códice 621, fl. 239, Ofício de Manuel de Sarmento a Francisco Xavier de Men
donça Furtado, de 20 de Março de 1753.
113
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SS A L O S
139 AHU, Conselho Ultramarino, códice 273, fls. 18-18v, Carta régia ao governador
da capitania sobre os índios vádios que se organizavam em mocambos, de 22 de
Agosto de 1781.
140 AHU, Rio Negro, caixa 14, doc. 19, Ofício de Henrique João Wilkens a João
Pereira Caldas, de 14 de Agosto de 1787.
141 AHU, Rio Negro, caixa 15, doc. 8, Ofício de Marcelino José Cordeiro a João
Pereira Caldas, de 15 de Agosto de 1787.
142 AHU, Pará, caixa 24 (739 D), Carta de D. Frei João de S. José Queirós ao
padre Custódio da Cunha Ferreira, de 11 de Setembro de 1762.
143 APEP, códice 103, doc. 55, Ofício de Manuel Carlos da Silva a Fernando da
Costa de Ataíde Teive, de 14 de Maio de 1770.
114
A T R A N SF O R M A Ç Ã O D O S ÍN DIO S EM VASSALO S
A d ifu s ã o da lín g u a p o r tu g u e s a e o e n s in o
d o s m e n in o s ín d io s
144 Sobre este assunto, veja-se o artigo de Ângela Domingues, «A educação dos
meninos índios no Norte do Brasil na segunda metade do século xviii», in Cultura por
tuguesa na Terra de Santa Cruz, coordenação de Maria Beatriz Nizza da Silva, Lisboa,
Editorial Estampa, 1995, pp. 67 e ss.
145 Carlos de Araújo Moreira Neto, índios da Amazônia. De maioria a minoria, p. 26.
115
A T R A N SF O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM VASSALOS
146 Directório, § 6.
147 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Ofício de Joaquim de Melo Póvoas a Tomé Joa
quim da Costa Corte-Real, de 21 de Dezembro de 1758; também em Rio Negro, caixa 1,
doc. 18.
148 O ensino da escrita e da aritmética não era recomendado às meninas.
149 Directório, § 7 e 8. Estas ordens foram repetidas na década de 60 a Manuel
Bernardo de Melo e Castro. Os ordenados dos professores deviam ser pagos pelos
bens sequestrados à Companhia de Jesus (AN/TT, Manuscritos do Brasil, número 51,
fls. 63-63v, de 9 de Junho de 1761).
150 Sobre a definição das diferentes categorias de ensino ministrado nas escolas e
universidades portuguesas, veja-se Antônio Alberto Banha de Andrade, A reforma
pombalina dos Estudos Secundários no Brasil, São Paulo, Edições Saraiva, Editora Univer
sidade de São Paulo, 1978, pp. 1 e ss.
1 16
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
151 AHU, Conselho Ultramarino, códice 1275, fl. 336, Carta régia ao governador
e capitão-general do Estado do Maranhão recomendando a protecção das missões e
das liberdades dos índios, de 29 de Maio de 1750.
152 Omar E. González Nánez, «Lenguas indígenas e identidad en la cuenca dei
Guaiania-Rio Negro. Território Federal Amazonas Venezuela», in Indianismo e indigenismo
en América, compilação de José Alcina Franch, Madrid, Alianza Editorial, 1990, p. 291.
153 Carlos de Araújo Moreira Neto, índios da Amazônia. De maioria a minoria, p. 44.
154 Era Freitas de Guimarães que, ao dar conta da ocorrência, afirmava: «Çertifi-
cam-me que os Missionários destas Aldeyas do rio Tapajoz não observão o perceito,
que V* Ex.a lhes impoz para que admittissem nas Escollas aos índios e índias, com
todo o cuidado, e julgo por certa esta notícia porque o Missionário da Aldeya de
Cumamú cuida muito pouco em os aplicar a ler e a escrever, nem tão pouco consente
que os índios da sua Missão fallem portuguez, e tem castigado a alguns por este res
peito» (BN, Colecção Pomhalina, códice 622, fl. 33, Carta de José Antônio de Freitas
Guimarães a [Francisco Xavier de Mendonça Furtado], de 13 de Fevereiro de 1753).
117
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S fN D IO S EM V A SSA LO S
155 lbidem, códice 625, EL 179v, Carta do padre Antônio Machado a [Francisco
Xavier de Mendonça Furtado], de 29 de Maio de 1754.
156 Ângela Domingues, «As sociedades e as culturas indígenas face à expansão
territorial luso-brasileira na segunda metade do século xviil», pp. 187-188.
157 O mesmo ocorreu em relação à América Espanhola. Veja-se Documentos sobre
política linguística en Hispanoamérica (1492-1800), compilação, estudo preliminar e edi
ção de Francisco de Solano, Madrid, CSIC/Centro de Estudos de História, 1991,
pp. LVI-LXII.
158 BN, Res. 3609 V.
1 18
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
159 Este programa teve êxito, por exemplo, na índia, onde muitos «filhos da
terra» desempenharam funções religiosas e tiveram um papel primordial na concilia
ção de duas heranças culturais distintas (Maria de Jesus dos Mártires Lopes, Goa Sete-
centista: tradição e modernidade, p. 339).
160 AHU, Conselho Ultramarino, códice 1275, fls. 400-402, Carta régia decretando
a obrigatoriedade do ensino da gramática portuguesa nas aulas de língua latina, de 30
de Setembro de 1770.
161 «Alvará pelo que se concede à Real Mesa Censória toda a administração e
direcção dos estudos das escolas menores do reino e dos domínios, com remissão à
legislação de 28 de Junho de 1759», in Sistema e collecção de regimentos, vol. iii, p. 541,
de 4 de Junho de 1777; AN/TT, Ministério dos Negócios Estrangeiros, livro 127, carta 1,
fl. 1, Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado a Martinho de Melo e Castro,
de 22 de Julho de 1759; ANRJ, códice 99, vol. 4, fl. 47, Ofício de José Nápoles Telo de
Meneses a Martinho de Melo e Castro, de 30 de Maio de 1783.
162 AHU, Pará, caixa 104 (819), Provimento do padre Fernando Félix da Concei
ção por D. Francisco de Sousa Coutinho no cargo de professor de estudos menores
da cidade do Pará, de 23 de Setembro de 1799; veja-se, ainda, Antônio de Camões
Gouveia, «Estratégias de interiorização da disciplina», in História de Portugal, dirigida
por José Mattoso, vol. iv, pp. 433-434.
119
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
163 AHU, Pará, caixa 24 (739 D), Ofício de Luís Gomes de Faria e Sousa a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 15 de Setembro de 1762.
164 lbidem.
165 lbidem, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 23 de Abril de 1761.
166 Walter Mignolo, «On the colonization of Amerindian languages and memo-
ries: renaissance theories of writing and the discontinuity of the classical tradition»,
in Society for Comparative Study of Society and History, 1992, p. 326.
167 APEP, códice 108, doc. 69, Ofício de Francisco Pimentel ao govemdor e capi-
tão-general da capitania, de 6 de Agosto de 1770.
120
A T R A N SF O R M A Ç Ã O D O S ÍN DIO S EM VASSALO S
168 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 23 de Abril de 1761.
169 A N /1 1, Manuscritos do Brasil, n.° 51, fl. 43v, Ofício de Francisco Xavier de
Mendonça Furtado a Manuel Bernardo de Melo e Castro, de 30 de Junho de 1760.
170 AHU, Pará, caixa 20 (729 G), Parecer de José Monteiro de Noronha sobre a
fundação de seminários para meninos índios, de 7 de Outubro de 1760; ibidem, Pare
cer de D. Frei João de S. José Queirós, bispo do Pará, sobre a instituição de seminá
rios para meninos índios, s/d [ant. a 11 de Novembro de 1760]; ibidem, Parecer do
desembargador intendente Luís Gomes de Faria e Sousa e do ouvidor-geral Feliciano
Nobre Ramos Mourão sobre a fundação de seminários para meninos índios, de 11 de
Novembro de 1760.
121
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
171 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro
comunicando a intenção de doar a livraria dos Jesuítas da vila de Vigia ao Colégio dos
Nobres e a integração da do Colégio de Santo Alexandre na do Bispo do Pará, de 18
de Outubro de 1761. O colégio jesuíta do Pará fora encerrado a 12 de Setembro de
1759 (Antônio Alberto Banha de Andrade, A reforma pombalina dos estudos secundários
no Brasil, São Paulo, Edição Saraiva, Editora Universidade de São Paulo, 1978, p. 5).
172 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 18 de Junho de 1761; e ibidem, caixa 22
(742), Extracto de ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro, de 6 de Novembro de
1760.
173 Ibidem, caixa 104 (819), Petição de Fernando Felix da Conceição para se con
firmar o seu provimento como professor por aprovação régia, s/d.
174 Ibidem, caixa 32 (746), Ofício de Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio a Mar-
tinho de Melo e Castro, de 21 de Fevereiro de 1771.
175 Ibidem, caixa 77 (792), de 1799.
122
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
176 Ibidem, caixa 20 (729 G), Parecer de José Monteiro de Noronha, de 7 de Outu
bro de 1760.
177 AN/TT, Manuscritos do Brasil, n.° 51, fl. 68v, Carta régia a Bernardo de Melo e
Castro sobre a educação dos filhos da elite índia, de 11 de Junho de 1761.
178 AHU, Pará, caixa 22 (742), Ofício de Feliciano Ramos Nobre Mourão a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 28 de Junho de 1761; ibidem, caixa 21 (739 I),
Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Francisco Xavier de Mendonça Fur
tado, de 23 de Abril de 1761.
179 APEP, cód. 108, doc. 7, Ofício de Lucas José Espinosa de Brito Coelho Folq-
man, director da vila de Pombal, de 7 de Agosto de 1770.
180 AHU, Rio Negro, caixa 16, doc. 9, Ofício de Henrique João Wilkens a João
Pereira Caldas, de 6 de Junho de 1788.
123
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
181 AHU, Pará, caixa 60 (775), Petição de índios, filhos de principais, vindos a
Lisboa, de patentes e soidos para viverem condignamente na sua terra, de 7 de Julho
de 1764.
182 Ibidem.
183 Angela Domingues, «Comunicação entre sociedades de fronteira: o papel do
intérprete como intermediário nos contactos entre ibero-americanos e ameríndios na
Amazônia de finais do século xvm», in Limites domar e da terra. Actas da VIII Reunião Inter
nacional de História da Náutica e da Hidrografia, Cascais, Patrimónia, 1998, pp. 255 e ss.
184 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ordem de Manuel Bernardo de Melo e Castro
aos oficiais da câmara da vila de Santa Cruz do Cametá e de Vila Viçosa, de 17 e 18
de Janeiro de 1761.
124
A T R A N SF O R M A Ç Ã O D O S ÍN DIO S EM VASSALO S
125
n
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S Í N D IO S EM V A S S A L O S
O s e x e c u to r e s d o p la n o de c o lo n iz a ç ã o
com que riellas se falia a língua portugueza para melhor poder conhecer o estado interior das
suas consciências. A todos os que se empregarem no estudo da História Natural e Geografia
daquelle Paiz; pois conserva constantemente os seus nomes originários e primitivos, Lisboa,
Officina Patriarcal, 1795; Padre Luís Figueira, Arte da Grammatica da lingua do Brazil,
composta pelo..., Lisboa, Officina Patriarcal, 1795; Padre João Filipe Betendorf, Compên
dio da doutrina christãa na lingua portugueza e brasilica composto por... e reimpresso de ordem
de S. Alteza Real o Príncipe Regente Nosso Senhor por Frei Mariano da Conceição Vellozo, Lis
boa, Officina de Simão Tadeu Ferreira, 1800.
189 AHU, Pará, caixa 50 (760), Carta de Domingos Correia Dinis, médico, a
D. Francisco de Sousa Coutinho, de 30 de Abril de 1799.
190 BNRJ, 7-1-19, «Questões apologéticas enunciadas e dirigidas a mostrar que
em nada peca o Pároco que na língua vulgar dos índios os instrui espiritualmente, não
sabendo eles entender a Portuguesa que por ordem real se lhes deve introduzir, nem
também o que persuade os índios à compustura do calçado e manto ou mantilha e a
reforma juntamente de suas camisas degoladas, nem o que disser que periga o que o
Espírito Santo lhe dita, nem o que na Igreja repreender alguém em particular por
causa pública», s/d [de finais do século XVIII].
126
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SS A L O S
191 Simão Estácio da Silveira, Relação Sumária das Covsas do Maranhão dirigida aos
pobres deste Reyno de Portugal, s/1, edição de Eugênio do Canto, s/d, p. 35.
192 Veja-se, por exemplo, Andrée Mansuy-Diniz Silva, «Imperial re-organiza-
tion», in Colonial Brazil, edição de Leslie Bethell, Cambridge, Cambridge University
Press, 1987, pp. 244 e ss., Fernando A. Novais, Portugal e Brasil na crise do Antigo Sis
tema Colonial (‘1777-1808), São Paulo, Editora HUCITEC, 1986, pp. 198 e ss.; José Luís
Cardoso, O pensamento econômico em Portugal nos finais do século xvm, Lisboa, Editorial
Estampa, 1989, pp. 193 e ss.; Valentim Alexandre, Os sentidos do Império. Questão
nacional e questão colonial na crise do Antigo Regime português, Porto, Edições Afronta-
mento, 1993, pp. 93 e ss.
193 D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Memória escrita pelo Senhor..., de que se remete
copia ao Senhor D. João de Almeida ao Rio de Janeiro, em Julho de 1810 (minuta) Sobre o
melhoramento dos domínios de Sua Magestade na América, Lisboa, Arquivo Histórico
Ultramarino, p. 1; também publicada in Brasília, vol. rv, 1949, p. 405.
127
A T R A N S F O R M A Ç A O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
128
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
198 Sobre D. Francisco Maurício, veja-se Artur César Ferreira Reis, «Francisco de
Sousa Coutinho 2», in Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, vol. II,
Porto, Livraria Figueirinhas, 1981, pp. 222-223; confrontem-se estes dados com
Andrée Mansuy Diniz Silva, «D. Rodrigo de Sousa Coutinho», in Dicionário de História
da Colonização..., cols. 222-225; e com Kenneth Maxwell, «Condicionalismos da inde
pendência do Brasil», in Nova História da Expansão Portuguesa. O Império Luso-Brasileiro
(1750-18ZZ), coordenação de Maria Beatriz Nizza da Silva, vol. VIII, Lisboa, Editorial
Estampa, 1986, pp. 374-382; sobre o pensamento político e econômico deste minis
tro, veja-se, ainda, José Luís Cardoso, O pensamento econômico em Portugal..., pp. 127 e
ss.; e Guilherme Pereira das Neves, «Do império luso-brasileiro ao império do Brasil
(1789-1822)», in Ler História (27-28), 1995, pp. 79 e ss.
199 Artur César Ferreira Reis, «João Pereira Caldas», in Dicionário de História de
Portugal, vol. i, p. 433; AHU, Pará, caixa 61 (776), Carta patente nomeando João
Pereira Caldas como governador e capitão-general do Estado do Grão-Pará por três
anos, de 13 de Julho de 1770.
200 Raúl da Silva Veiga, Diplomas régios e outros documentos dados no governo do Bra
sil (Colecção Conde de Arcos), Catálogo, Coimbra, Arquivo da Universidade, 1988, p. 9,
nota 1.
201 Marcos Carneiro de Mendonça, A Amazônia na era pombalina, vol. n, p. 682.
202 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 24, Ofício de Joaquim de Melo e Póvoas a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 20 de Agosto de 1760.
129
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
130
A TR A N SFO R M A Ç Ã O D O S ÍN DIO S EM VASSALOS
2°8 Ângela Barreto Xavier e Antônio Manuel Hespanha, «As redes clientelares»,
131
A T R A N S F O R M A Ç Ã O D O S ÍN D IO S EM V A SSA LO S
132
C A P Í T U L O III
1Frank Safford, «Race integration and progress: elite attitude and the Indian in Colôm
bia, 1750-1870», inHispanic American Histórica!Review, vol. 71 (1), February, 1991, p. 1.
2 Sobre as relações entre «povos da floresta» e «povos das cordilheiras», veja-se
Chantal Caillavet, «Entre sierra y selva: las relaciones fronterizas y sus reprezenta-
ciones para las etnias de los Andes Septentrionales», in Anuário de Estúdios Americanos,
vol. xlvii, 1990, pp. 71 e ss.; F. M. Renard-Casevitz, Th. Saignes, A. C. Taylor, Vinca,
l'espagnol et les sauvages. Rap>p>orts entre les sociétés amazoniennes et andines du xve au xvne
siècles, Paris, Éditions Recherche sur les Civilizations, 1986.
135
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SER V IÇO
In te r e s s e e p e r s u a s ã o : o s d e s c im e n to s
136
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SE R V IÇ O
137
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
nas bacias dos rios Negro, Japurá, Içá e Apapóris, no rio Branco, no
rio Madeira e no complexo fluvial Tocantins-Araguaia.
O papel dos missionários ou das tropas de resgate no desaloja-
mento dos índios das suas terras comunais e na sua fixação em núcleos
de colonização era agora desempenhado pelos directores, por princi
pais e por moradores, mas também por soldados e missionários, num
processo que envolvia índios, luso-brasileiros e negros. Assim, Alberto
de Sousa Coelho, director do lugar de Azevedo, teve, nos anos 60, uma
acção notória no descimento de etnias do rio Tocantins e de índios fugi
dos das povoações luso-brasileiras, pelo que foi recompensado com o
posto de capitão-de-auxiliares5. O vigário José Monteiro de Noronha
revelava-se particularmente hábil junto dos grupos do Rio Negro pela
eloquência que tinha da «língua geral» e pelo zelo que demonstrava na
conversão das almas6. Também hábil nas línguas Passé e Juri era um
mulato que andava a fazer descimentos, com permissão de seu dono,
junto dos grupos referidos7. Graças à intervenção do principal Cle
mente de Mendonça Furtado, 87 indivíduos tinham descido do mato
para a vila de Almeirim8; e o principal Manuel do Carmo tinha obtido a
sua patente como recompensa pelos descimentos feitos junto dos
povos do rio Branco9. O major Henrique João Wilkens foi particular
mente bem-sucedido na redução e descimento do gentio Taboca que,
nos inícios de 80, deu início a uma povoação no rio Japurá10; e o em
penho do cabo-de-esquadra Miguel Arcanjo Betencourt no descimento
de várias etnias do rio Branco era, por de mais, referenciado e louvado,
não obstante a «irregularidade do seu comportamento»11.
5 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 9 de Novembro de 1761.
6 AHU, Pará, caixa 24 (739 D), Carta de frei João de S. José Queirós ao conde de
Oeiras, de 23 de Novembro de 1761.
7 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 1, Ofício de Custódio de Matos Pimpim a João
Baptista Mardel, de 19 de Maio de 1784.
8 ANRJ, cód. 99, vol. 1, fl. 5, Ofício de Fernando da Costa Ataíde Teive a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 15 de Abril de 1765.
9 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 1 B, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 13 de Janeiro de 1785.
10 AHU, Rio Negro, caixa 6, doc. 1, Ofício de João Pereira Caldas aos governado
res interinos da capitania do Rio Negro, de 17 de Outubro de 1781.
11 Ibidem, caixa 8, doc. 6, Ofício de [João Pereira Caldas] a Martinho de Melo e
Castro, de 26 de Julho de 1784; ibidem, caixa 9, doc. 1, Ofício de João Bernardes Borra
lho a João Pereira Caldas, de 4 de Abril de 1784. A ressalva aludiría, talvez, à deserção
temporária de Miguel Arcanjo Betencourt para os domínios holandeses (ibidem, caixa
9, doc. 1, Ofício de João Pereira Caldas ao comandante da fortaleza de S. Joaquim do
rio Branco, de 28 de Fevereiro de 1784).
138
EM C U M P R IM E N T O DO REAL SERVIÇO
12 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 24, Ofício de Joaquim de Melo Póvoas a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 20 de Agosto de 1760.
13 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 1, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 29 de Abril de 1784; ibidem, Ofício de João Bernardes Borralho a
João Pereira Caldas, de 1 de Julho de 1784.
14 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 1, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 10 de Julho de 1784; ibidem, caixa 17, doc. 6, Ofício de João Bemar-
des Borralho a João Pereira Caldas, de 12 de Novembro de 1788.
15 Ibidem, Ofício de João Bernardes Borralho a João Pereira Caldas, de 18 de
Outubro de 1784.
16 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 7, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 18 de Fevereiro de 1785.
17 Estudos antropológicos feitos recentemente no terreno revelam a existência
de relações hierárquicas entre, por exemplo, os grupos habitantes da parte baixa do
Uaupés (Brasil) e os da parte alta do rio (Colômbia). Os grupos localizados junto da
139
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
embocadura dos rios são mais populosos, têm acesso a uma maior quantidade de
peixe e os aldeamentos são maiores, por contraposição aos das terras altas. As rela
ções estabelecidas revelam o domínio dos primeiros sobre os segundos, enquanto
existe, curiosamente, uma relação de igualdade entre os grupos que habitam a
mesma área. A observação é válida para o Noroeste da Amazônia (Janet M. Cher-
nela, The Wanano Indians ofthe Brazilian Amazon, A sense of space, Austin, University of
Texas Press, 1993, pp. 12-13). Quando confrontados com o período em análise, verifi
cámos que, de facto, os processos de descimento partiram das embocaduras dos rios,
ou seja, dos locais onde primeiro chegaram os luso-brasileiros. Eram feitos por indiví
duos aí sediados e com prestígio junto das comunidades das terras altas e do interior,
mas não nos é permitido deduzir qualquer relação hierárquica a este nível.
18 Janet M. Chernela, The Wanano Indians of the Brazilian Amazon, p. 20.
19 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 13, Ofício de [?] a Francisco Xavier de Men
donça Furtado, de 1 de Junho de 1756.
20 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Extracto de uma carta a Francisco Xavier de Men
donça Furtado, de 13 de Outubro de 1756.
140
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SER V IÇ O
21 AHU, Rio Negro, caixa 12, doc. 6, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 27 de Março de 1786.
22 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 1, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 29 de Abril de 1784; ihidem, Ofício de João Bernardes Borralho a
João Pereira Caldas, de 1 de Julho de 1784.
23 Casa de habitação ameríndia que aloja várias famílias. Descrições pormenori
zadas encontram-se em Alexandre Rodrigues Ferreira, «Memória das malocas dos
gentios Curutús», in Viagem filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato
Grosso e Cuiabá. Memórias, Antropologia, pp. 23-25; e Elisabeth Carmichael, Stephen
Hugh-Jones, Brian Moser, Donald Taylor, The hidden peoples of the Amazon, Londres,
British Museum Publications, Ltd., 1985, pp. 55-56.
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EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
24 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 6, Ofício de Miguel Arcangelo Betencourt a João
Bernardes Borralho, de 14 de Agosto de 1784; ibidem, Ofício de João Bernardes Borra
lho a João Pereira Caldas, de 17 de Agosto de 1784.
25 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 6, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 20 de Novembro de 1784.
26 Ibidem, caixa 12, doc. 11, Ofício de João Bernardes Borralho a João Pereira Cal
das, s/d.
27 Os produtos mais utilizados eram os tecidos de ruão, algodão, chita, holanda,
bretanha, beata, fitas, chapéus, barretes, espelhos, velório, granadas, verônicas, con
tas e missangas, anzóis, machados, foices, pregos, enxadas, facas, ferros de cova,
navalhas, agulhas, ferro, aço, berimbaus, anéis de vidro, pentes, verrumas, enxós, for
mões, goivas, limas. As dádivas de armas de fogo, pólvora, chumbo, perdigotos,
balas e pederneiras eram limitadas a indivíduos seleccionados e a alguns grupos
(AHU, Pará, caixa 20 (739 G), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 5 de Novembro de 1760; ibidem, caixa 21 (739 I),
Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Francisco Xavier de Mendonça Fur
tado, de 20 de Novembro de 1761; Rio Negro, caixa 7, doc. 12, Relação dos gêneros
oferecidos ao principal Catheamani, de 12 de Julho de 1783; ibidem, caixa 9, doc. 1,
Ordem de Henrique João Wilkens ao ajudante Cleto Antônio Marques, de 16 de
Abril de 1784).
28AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 24, Ofício de Joaquim de Melo Póvoas a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, de 20 de Janeiro de 1760. Assim, em 1764, o director de
Silves fez um descimento sem que houvesse custas para a Fazenda Real e devido uni
camente à sua «curiosidade e diligência» (ibidem, caixa 1, doc. 44, Ofício de Joaquim
Tinoco Valente a Fernando da Costa de Ataíde Teive, de 26 de Julho de 1764).
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36 Jane M. Rausch, A tropical plain frontier..., pp. 69-71; Simone Dreyfus, «Os
empreendimentos coloniais e os espaços políticos indígenas...», pp. 20 e ss.
37 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 13, Ofício de [?] a Francisco Xavier de Men
donça Furtado, de 1 de Junho de 1756; Pará, caixa 18 (739 F), Extracto de ofício de
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 13 de Outubro de 1756.
38 AHU, Rio Negro, caixa 6, doc. 1, Ofício de João Pereira Caldas ao comandante
da fronteira do Rio Negro, de 27 de Julho de 1781.
39 Ibidem, caixa 9, doc. 1, Ofício de Custódio de Matos Pimpim a João Pereira
Caldas, de 19 de Maio de 1784.
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EM C U M P R IM E N T O DO REAL SERVIÇO
40 João Bernardes Borralho em ofício a João Pereira Caldas escrevia que «na
mesma situação andava hum preto Holandez em companhia da gentilidade da nação
Caripuna, que continuadamente se occupão em fazer escravatura de toda esta Gentili
dade para venderem aos Holandezes e consta que tem levado bastantes pertençentes
às nossas extinctas povoaçõens e sendo muitas das ditas pessoas baptisadas» (AHU,
Rio Negro, caixa 9, doc. 1, de 1 de Julho de 1784; ibidem, caixa 9, doc. 6, Ofício de João
Bernardes Borralho a João Pereira Caldas, de 25 de Setembro de 1784).
41 Simone Dreyfus, «Os empreendimentos coloniais e os espaços políticos indí
genas...», p. 31
42 AHU, Rio Negro, caixa 12, doc. 6, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 27 de Maio de 1786.
43 Ibidem, caixa 12, doc. 11, Ofício de João Bernardes Borralho a João Pereira Cal
das, de 27 de Junho de 1786.
44 Ibidem, caixa 12, doc. 6, Ofício de João Baptista Mardel a João Pereira Caldas,
de 12 de Março de 1786.
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54 João Pereira Caldas limitou-se a concordar com a escolha (AHU, Rio Negro,
caixa 15, doc. 8, Ofício de João Pereira Caldas a João Bemardes Borralho, de 19 de
Janeiro de 1788).
55 Sobre a distinção entre os rios de abundância (Japurá, Putumaio, Napo, Mara-
non, Ucayali, Madeira, Branco) e os de fome (bacia do Negro e tributários do Tapa
jós), veja-se Betty J. Meggers, Man and culture in a counterfeit paradise, Chicago e New
York, Aldine e Atherton, 1971, pp. 12-13.
56 AHU, Pará, caixa 15 (736), Mapa das roças que por ordem de Francisco Xavier
de Mendonça Furtado se mandaram plantar, de 12 de Julho de 1755; ibidem, caixa 94
(809), Carta de Francisco Xavier de Mendonça Furtado ao ajudante Manuel Pereira de
Abreu, de 6 de Novembro de 1752.
57 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 24, Ofício de Joaquim de Melo Póvoas a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 20 de Janeiro de 1760; ibidem, caixa 9, doc. 1,
Ofício de Custódio de Matos Pimpim a João Baptista Mardel, de 19 de Maio de 1784;
ibidem, caixa 9, doc. 6, Ofício de João Bemardes Borralho a João Pereira Caldas, de
18 de Outubro de 1784.
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58 AHU, Rio Negro, caixa 15, doc. 8, Oficio de Marcelino José Cordeiro a João
Pereira Caldas, de 8 de Maio de 1787; ibidem, caixa 10, doc. 7, Ofício de João Bernar-
des Borralho a João Pereira Caldas, de 18 de Fevereiro de 1785.
59 AHU, Rio Negro, caixa 11, doc. 6, Ofício de Sebastião Pereira de Castro a João
Pereira Caldas, de 7 de Janeiro de 1786.
60 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 7, Extracto de Ofício de João Bemardes Borra
lho a João Pereira Caldas, de 18 de Fevereiro de 1785; ibidem, caixa 12, doc. 11, Ofício
de João Bemardes Borralho a João Pereira Caldas, de 27 de Junho de 1786; ibidem,
caixa 16, doc. 6, Ofício de João Bemardes Borralho a João Pereira Caldas, de 30 de
Abril de 1788.
61 AHU, Rio Negro, caixa 14, doc. 19, Ofício de João Pereira Caldas a Henrique
João Wilkens, de 31 de Agosto de 1787. Na mesma época, a fortaleza de S. Gabriel da
Cachoeira, uma das tradicionais fontes de fornecimento de alimentos às novas
povoações, diminuiu os socorros que costumava prestar a outras regiões, devido a
uma maior quantidade de índios recentemente descidos para seu redor (AHU, Rio
Negro, caixa 15, doc. 8, Ofício de Marcelino José Cordeiro a João Pereira Caldas, de
8 de Maio de 1787; ibidem, caixa 16, doc. 8, Ofício de Marcelino José Cordeiro a João
Pereira Caldas, de 10 de Maio de 1788).
62 Ibidem, caixa 14, doc. 3, Ofício de João Bemardes Borralho a João Pereira Cal
das, de 29 de Janeiro de 1787; ibidem, Ofício de João Pereira Caldas ao comandante
da fortaleza de S. Joaquim do rio Branco, de 5 de Fevereiro de 1787; AHI, 340/04/02,
doc. 45, Ofício de João Bemardes Borralho a João Pereira Caldas, de 29 de Maio de
1787; Betty J. Meggers, Man and culture in a counterfeit paradise, p. 30.
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A a p lic a ç ã o d o D ir e c tó r io e a d in â m ic a
de p o d e r e s
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63 Sobre a Colômbia, veja-se Jane M. Rausch, A tropical Plains frontier. The llanos of
Columbia, p. 107.
64 David J. Weber e Jane M. Rausch, Where cultures meet. Frontiers in Latin American
History, p . XVII.
65 Nuno Gonçalo Monteiro, «A sociedade local e os seus protagonistas», in Histó
ria dos municípios e do poder local (dos finais da Idade Média à União Europeia), dirigida
por César de Oliveira, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996, p. 45.
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71 AHU, Pará, caixa 22 (742), Ofício de Feliciano Ramos Nobre Mourão sobre os
serviços do director de Vila Nova dei Rei, Manuel da Silva Alves, de 27 de Novembro
de 1761; APEP, códice 108, doc. 64, Certidão dos oficiais da câmara de Melgaço ates
tando o desempenho das funções por parte do director Estolano Manuel Pereira de
Sousa Feio, de 25 de Junho de 1770; cód. 108, doc. 69, Ofício de Francisco Pimentel,
director da vila de Santa Ana de Mutuacá, de 6 de Agosto de 1770; códice 107, Certi
dão de frei José Mendes Loureiro atestando o cumprimento de funções do director
Jacinto da Cunha Sampaio, de 29 de Agosto de 1770; cód. 106, Levantamento demo
gráfico da população indígena de uma povoação cujo director era Francisco Xavier de
Morais, [1770].
72 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 47 A, Representação dos moradores das novas
povoações do Rio Negro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 8 de Julho de 1766.
73Ao invés, o seu filho, nomeado director de Melgaço quando Anvers foi transferido
para Portei, era considerado como incapaz: «tendo hum genio brando não desempenhava
as suas obrigações» (AHU, Pará, caixa 95 (810), Ofício de Martinho de Sousa e Albuquer
que à soberana sobre acusações que lhe tinham sido feitas, de 26 de Julho de 1786).
74 AHU, Pará, caixa 24 (739 D), Ofício de Luís Gomes de Faria e Sousa a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 15 de Setembro de 1762.
75 Colin MacLachlan, «The Indian Directorate: forced acculturation in Portu-
guese America (1757-1799)», in The Américas, vol. xxviu (4), Abril de 1972, p. 370.
76 AHU, Pará, caixa 33 (748), Memória das acções do Ex.m° Senhor General do
Pará Fernando da Costa de Ataíde Teive, as quais se vêem declaradas nos seguintes
capítulos repartidos e seguindo os três Estados Político, Militar e Eclesiástico, por
João Baptista Mardel, de 6 de Novembro de 1772.
155
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
77 Esta decadência, que era quase uma constante em todo o Estado do Grão-
-Pará, era também atribuída à falta de dinheiro e à constante requisição de índios
adultos para os serviços real e particular (AHU, Pará, caixa 22 (742), Ordem do gover
nador do Rio Negro aos directores das povoações da capitania, de 25 de Janeiro de
1790; AHU, Pará, caixa 79 (794), Parecer de frei Caetano Brandão à representação do
índio Diogo de Sousa, 1 de Agosto de 1787). Martinho de Melo e Castro afirmava a
D. Francisco de Sousa Coutinho que era voz corrente que o que era ganho pelos
índios se convertia em benefício e utilidade dos directores (AHU, Pará, caixa 22 (742),
de 22 de Abril de 1790.
78 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 24, Ofício de Joaquim de Melo e Póvoas a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 16 de Janeiro de 1760; Pará, caixa 22
(742), Extracto dos ofícios de Luís Gomes de Faria e Sousa, de 13 de Novembro
de 1761.
79 ANRJ, códice 99, vol. 1, fl. 60, Ofício de Fernando da Costa de Ataíde Teive
ao ouvidor-geral da capitania do Rio Negro, de 1 de Setembro de 1765.
80 AHU, Pará, caixa 29 (745), Representação dos moradores e principais de
Borba sobre os maus tratos que lhes dava o alferes Luís da Cunha de Eça e Castro,
s/d [ant. a 1769],
81 APEP, códice 103, Representação de José de Sousa Monteiro, de 18 de Maio
de 1770.
82 APEP, códice 101, doc. 37, Representação do senado da câmara da vila de Sin
tra ao governador da capitania, de 1 de Março de 1773.
83 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 47 A, Representação dos moradores das novas
povoações do Rio Negro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 8 de Julho de 1766.
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EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
84 ANRJ, cód. 99, vol. 2, fls. 27-28, Ofício de Fernando da Costa de Ataíde Teive
a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 30 de Junho de 1768.
85 Sobre as petições, queixas e reclamações como forma de resistência das
comunidades luso-brasileiras na Amazônia, veja-se capítulo v «Formas de resistência:
uma reavaliação das relações entre “dominantes” e “dominados”».
86 AN/I 1, Manuscritos do Brasil, n.° 51, £1. 26v, Ofício de Francisco Xavier de
Mendonça Furtado a Manuel Bernardo de Melo e Castro ordenando ao intendente-
-geral que procedesse contra os directores, de 18 de Junho de 1760; ibidem, fl. 115v,
Carta régia a Manuel Bernardo de Melo e Castro sobre as desordens dos directores
das povoações, de 23 de Dezembro de 1762; AHU, Pará, caixa 24 (739 D), Devassa
instaurada pelo desembargador e intendente-geral do Grão-Pará a cada director das
povoações da comarca, de 1762; IHGB, lata 280, pasta 10, n.° 6, Ofício de João
Pereira Caldas a Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio sobre as competências do ouvi
dor e sobre a sua viagem, de 28 de Abril de 1777; AHU, Rio Negro, caixa 18, doc. 6,
Certidão de Domingos Franco de Carvalho, José Antônio Freire Évora e Francisco
Xavier de Morais atestando o desempenho de João Manuel Rodrigues, ouvidor,
intendente e corregedor da comarca, de 16 de Agosto de 1786.
87 AHU, Pará, caixa 22 (742) Declaração em termos de aditamento ao Directório
feita pelo bispo D. Frei Miguel de Bulhões, Manuel Bernardo de Melo e Castro e Luís
Gomes de Faria e Sousa, de 31 de Agosto de 1760.
88 A N /1 1, Manuscritos do Brasil, n.° 51, fl. 115v, Carta régia a Manuel Bernardo
de Melo e Castro, de 23 de Dezembro de 1762; AHU, Pará, caixa 74 (789), Ofício
de João de Amorim Pereira, de 18 de Junho de 1764. Por esta altura, surgiu um pro
blema de competências entre o intendente-geral e o ouvidor: o primeiro queria
processar, propor e ser juiz relator dos crimes dos directores, enquanto o segundo
pretendia limitar ao intendente as matérias políticas e econômicas e reservar-se os
157
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
assuntos de natureza criminal (AHU, Conselho Ultramarino, cód. 272, fl. 149v, Carta
régia ao ouvidor-geral do Pará ordenando se cumprisse o que as ordens reais determi
navam, de 14 de Dezembro de 1764). A partir da década de 80 estes cargos foram
fundidos num só indivíduo.
89AHU, Pará, caixa 22 (742), Oficio do desembargador intendente-geral Luís Gomes
de Faria e Sousa a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 3 de Agosto de 1761; ihidem,
de 17 de Novembro de 1761; ihidem, de 18 de Novembro de 1761.
90 ANRJ, cód. 99, vol. 1, fl. 60, Ofício de Fernando da Costa de Ataíde Teive ao
ouvidor-geral da capitania, de 1 de Setembro de 1765.
91 Sobre o funcionamento dos concelhos no reino, consulte-se Nuno Gonçalo Mon
teiro, «A sociedade local e os seus protagonistas», pp. 29 e ss.; sobre o seu funcionamento
no Brasil, veja-se Joaquim Romero Magalhães, «Reflexões sobre a estrutura municipal
portuguesa e a sociedade colonial brasileira», in Revista de História Econômica e Social, 16,
Julho-Dezembro de 1985, p. 17. Para uma comparação com os municípios nas ilhas
atlânticas, veja-se, por exemplo, Avelino de Freitas de Meneses, Os Açores nas encruzilha
das de Setecentos (1740-1770), Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1993, pp. 75 e ss.
92 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Ofício de Francisco Xavier de Mendonça Furtado a
Tomé Joaquim da Costa Corte-Real, de 4 de Julho de 1758. Nesta viagem do Pará para
o Rio Negro, o governador procedeu à instalação de Oeiras (Araticú), Melgaço (Guari-
curú), Portei (Arucará), S. José do Macapá, Santa Ana, Arraiolos (Guarimocú), Espo-
sende (Juaré), Almeirim (Parú), Vale de Fonte (Acarapy), Outeiro (Urubucuara), Monta-
legre (Gurupatuba), Alter-do-Chão (Borary), Vila Boim (Santo Inácio), Pinhel (S. José),
Tapajós (Santarém), Vila Franca (Cumaru), Óbidos (Pauxís), Serpa (Abacaxis); ihidem,
caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, de 23 de Abril de 1761; Pará, caixa 34, Ofício de João Pereira Cal
das a Martinho de Melo e Castro, de 8 de Novembro de 1773.
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EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
mento das vilas que estavam no litoral ou próximo da fronteira com ter
ritórios coloniais de potências concorrentes93. Este era o caso de Macapá
e Mazagão, onde as câmaras, compostas na sua maioria por emigrantes
do reino e ilhas, intervieram activamente na gestão dos povoados94.
A eleição de juizes ordinários, vereadores, procurador e tesou
reiro era feita de entre os moradores do concelho. Designavam-se,
igualmente, indivíduos para desempenhar as funções de almotacés,
meirinhos e escrivães. Ora, na medida em que as leis régias aboliam as
distinções entre súbditos, o monarca habilitava os ameríndios a con
correrem a cargos camarários, tal como quaisquer outros moradores.
Era assim que membros da elite indígena participavam activamente
do senado camarário e, ainda, em cargos subalternos95. De facto, as
entidades administrativas centrais não cessavam de lembrar que os
juizes e vereadores ameríndios, tal como os europeus, «tinham jurisdi
ção e superioridade sobre todos os ditos moradores para lhes adminis
trarem justissa e os prenderem quando delenquicem»96.
Contudo, um dos problemas que obstava a esta escolha residia
na falta de homens aptos e «dignos» para ocupar postos no senado ou
os cargos de apoio que facilitavam o funcionamento da câmara e exe
cutavam as suas ordens. Se, em 1761, o ouvidor Feliciano Ramos
Nobre Mourão pode nomear dois homens inteligentes por escrivães
93 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 24, Ofício de Joaquim de Melo Póvoas a Tomé
Joaquim Corte-Real, de 20 de Janeiro de 1760; ANRJ, cód. 99, vol. 1, fl. 52, Ofício de
Fernando da Costa de Ataíde Teive a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 16
de Outubro de 1766; AHU, Pará, caixa 34, Ofício de João Pereira Caldas a Martinho
de Melo e Castro, de 8 de Novembro de 1773.
94AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 28 de Abril de 1761; ihidem, de 6 de Maio de 1761;
ihidem, Diário da viagem que fez Manuel Bernardo de Melo e Castro da autoria do ouvi
dor-geral Feliciano Ramos Nobre Mourão, de 28 de Junho de 1761; ihidem, caixa 34, Ofí
cio de João Pereira Caldas a Martinho de Melo e Castro, de 8 de Novembro de 1773.
95 Veja-se, por exemplo, APEP, cód. 116, doc. 58, Ofício do comandante director
Antônio José de Aguiar a Fernando da Costa de Ataíde Teive, de 19 de Abril de 1771;
cód. 101, doc. 37, Representação do senado de Sintra ao governador da capitania, de 1
de Março de 1773; repare-se que, do outro lado do Império Português, a participação
de macaenses no Senado da província só ocorreu em 1774 (Maria de Jesus dos Mártires
Lopes, «Mendicidade e “maus costumes’ em Macau e Goa na segunda metade do
século xvill», in As relações entre a índia Portuguesa, a Ásia do Sueste e o Extremo Oriente,
Actas do VI Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa, edição dirigida por Artur
Teodoro de Matos e Luís Filipe F. Reis Thomaz, Lisboa, Macau, 1993, Comissão Nacio
nal para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Fundação Oriente, p. 67).
96 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Diário da viagem que fez Manuel Bernardo de
Melo e Castro feito pelo ouvidor-geral Feliciano Ramos Nobre Mourão, de 28 de
Junho de 1761.
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EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
97 AHU, Pará, caixa 22 (742), Ofício de Feliciano Ramos Nobre Mourão a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 28 de Junho de 1761.
98 APEP, códice 107, doc. 38, Ofício de Joaquim José Pereira Bettencourt ao
governador do Pará, de 28 de Outubro de 1770.
99 Este fora demitido em acto de câmara devido a comportamento ilícito com
uma mulher casada (APEP, cód. 108, doc. 7, Ofício de José Lucas Espinosa de Brito
Coelho Folqman ao governador da capitania, de 7 de Agosto de 1770).
100 APEP, códice 101, doc. 62, Representação da câmara de Santarém a João
Pereira Caldas, de 6 de Abril de 1774.
101 AHU, Pará, caixa 50 A (760), Ofício de Tristão da Cunha de Meneses a
D. Francisco de Sousa Coutinho, de 20 de Maio de 1799. Quando comparada com o
quadro existente no reino, a situação constatada no Norte brasileiro não era assim
tão diferente. É Nuno Gonçalo Monteiro quem afirma que ainda nos anos 20 do
século xix, entre um terço e um quarto das câmaras de Portugal tinha vereadores ou
procuradores que assinavam «de cruz» («O espaço político e o social local», in História
dos municípios e do poder local (dos finais da Idade Média à União Européia, p. 123).
102 Ibidem, caixa 53 (768), Ofício do Conde de Arcos ao Visconde de Anadia,
de 1804; Rio Negro, caixa 19, doc. 52, Parecer do Conde de Arcos sobre o alvará régio
de 17 de Dezembro de 1802, de 12 de Fevereiro de 1805.
160
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103 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 47 A, Representação dos moradores das novas
povoações do Rio Negro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 8 de Julho de
1766.
104 APEP, cód. 108, doc. 64, Certidão do senado da câmara de Melgaço sobre o
desempenho de Estolano Manuel Pereira de Sousa Feio como director da vila, de 25
de Junho de 1770.
105 APEP, cód. 108, doc. 7, Ofício de Lucas José Espinosa de Brito Coelho Folq-
man, de 7 de Agosto de 1770.
io« APgp^ có,J 101, doc. 24, Representação do Senado de Nazaré a Fernando da
Costa de Ataíde Teive, de 25 de Abril de 1771.
107 Diziam haver bulhas e pancadas entre os moradores das duas povoações por
causa da recolha de drogas do sertão (APEP, cód. 101, doc. 17, Representação do
Senado de Macapá a Fernando da Costa de Ataíde Teive, de 26 de Junho de 1771).
108 AHU, Pará, caixa 22 (742), Ofício de Feliciano Ramos Nobre Mourão a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 28 de Junho de 1761.
m ANRJ, cód. 99, vol. 1, fl. 58, Ofício de Fernando da Costa de Ataíde Teive ao
ouvidor-geral da capitania do Rio Negro, de 2 de Janeiro de 1765.
110 AHU, Pará, caixa 24 (739 D), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro
ao desembargador-geral da comarca, de 25 de Janeiro de 1762; ibidem, caixa 25
(739 J), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro ao desembargador intendente-
-geral, de 16 de Agosto de 1763.
161
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
Como seria de prever, nas vilas das duas capitanias que consti
tuíam o Norte do Brasil ocorreram dissensões entre os directores e
as câmaras. Era, assim, que o director de Ega era acusado de oprimir
os oficiais da câmara da vila111. De igual modo, o senado de Sintra
queixava-se da conduta despótica e indigna do director112.
Portanto, na administração dos núcleos urbanos do Norte do
Brasil ao longo da segunda metade do século xv iii, as alterações
ultrapassaram a reformulação e adaptação de instituições multisse-
culares às peculiaridades locais. Transpuseram até a integração de
novos estratos étnicos nas cadeias de poder. Nos aldeamentos luso-
-brasileiros da Amazônia de meados de Setecentos ocorreram, tam
bém, alterações nas relações entre instituições tal como tinham sido
definidas pelo Directório, afinal o regulamento especificamente desti
nado à gestão do espaço do Norte brasileiro com vista a limitar o
poder dos missionários e a permitir um maior controlo da vida quo
tidiana das comunidades e das entidades administrativas por parte
das instituições centrais.
Como já se referiu, pelas reformas políticas aplicadas a partir de
Mendonça Furtado pretendeu-se separar as duas esferas de poder,
até então nas mãos dos missionários das diferentes ordens religio
sas113. Devido ao reduzido número de seculares que existia no
Estado do Pará, que oficiavam, sobretudo, nos núcleos urbanos mais
importantes e nas fazendas de moradores abastados, os eclesiásticos
pertencentes às diferentes ordens tiveram uma importância conside
rável na assistência religiosa das populações, na missionação dos
ameríndios e no ensino das crianças. Deles se socorria a coroa para
assegurar a manutenção do culto nas áreas mais afastadas do territó
rio amazônico e para converter e administrar os índios recém-aldea-
dos nos limites do Brasil colonial sem aumento significativo das des-
111 ANRJ, cód. 99, vol. 1, fl. 61, Ofício de Fernando Costa de Ataíde Teive ao
ouvidor- geral do Rio Negro, de 2 de Setembro de 1765.
112 APEP, cód. 101, doc. 37, Representação do senado da vila de Sintra a João
Pereira Caldas, de 1 de Março de 1773. Não foi, no entanto, detectada nenhuma
queixa de directores sobre agressões perpetradas por membros da câmara.
113 É Hugo Fragoso quem afirma que «é de modo especial na legislação sobre as
missões que pode bem perceber-se como evangelização e colonização não eram duas
actividades paralelas, mas se interpenetravam de tal modo que era difícil estabelecer
uma linha divisória entre ambas» (Hugo Fragoso, «A era missionária (1686-1759)», in
História da Igreja na Amazônia, coordenação de Eduardo Hoonaert, Petrópolis, Edito
rial Vozes, 1992, p. 167). No período de que nos ocupamos, a administração e a legis
lação eram, juridicamente, duas fases distintas de um mesmo processo de aculturação
que pretendia tomar os ameríndios em leais súbditos e em fiéis devotos.
162
EM C U M P R IM E N T O DO REAL SERVIÇO
114 Uma das primeiras medidas tomadas no sentido de estabelecer uma autori
dade vigilante sobre a actuação dos sacerdotes foi a nomeação do padre José Mon
teiro de Noronha como visitador e vigário-geral da capitania. Cumpria-lhe viajar
pelas diferentes aldeias do Estado para controlar a actuação dos párocos (AHU, Pará,
caixa 18 (739 F), Ofício de frei Miguel de Bulhões a Tomé Joaquim da Costa Corte-
-Real, de 15 de Julho de 1758).
115 Simão Coelho foi transferido para a povoação de S. José do Javari (AHU, Rio
Negro, caixa 1, doc. 24, Ofício de Joaquim de Melo Póvoas a Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, de 16 de Janeiro de 1760).
163
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
116 O pároco era ainda responsabilizado de ter sujeito o índio meirinho a assistir
à missa com um pau na boca e com os braços abertos em forma de cruz e de agredir
o filho do capitão-mor com uma bengala no alpendre da igreja (AHU, Pará, caixa 22
(742), Extracto de vários ofícios de Luís Gomes de Faria e Sousa, de 13 de Novembro
de 1761).
117 Ihidem, caixa 29 (745), Ofício de João de Amorim Pereira a Francisco Xavier
de Mendonça Furtado, de 15 de Maio de 1767.
118Veja-se Gary W. Graff, «Spanish parishes in Colonial New Granada: their role
in town-building on the Spanish-American frontier», in The Américas, XXXIII (2),
October, 1976, p. 339.
119 AHI, 340/04/04, Ofício de Lourenço Pereira da Costa, provedor da Fazenda
do Rio Negro à [Secretaria de Estado da Marinha e Negócios Ultramarinos?], de 2 de
Setembro de 1762.
164
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SER V IÇ O
res das revoltas ocorridas nas povoações do rio Negro, em 1757, con
sistiu na actuação do clérigo de Lamalonga que impediu o índio
Domingos de viver em concubinato com uma índia da povoação; no
mesmo levantamento foi também assassinado o padre de Moreira120.
De igual forma, alguns anos mais tarde, em 1788, os Mura de Santo
Antônio de Maripi mostravam o seu descontentamento pela pre
sença de Antônio de Sousa Santos Medeiros ao procurarem refúgio
nos matos121. Diziam que este pároco os incomodava muito por vive
rem em malocas e que tinha maltratadoo índio Pascoal, sua mulher e
filha «por motivos que a descencia pede se ocultem»122.
Não obstante a necessidade de religiosos, havia nas capitanias do
Norte brasileiro uma nítida falta de padres para a assistência de
índios, moradores e soldados. Ocorria frequentemente que o mesmo
pároco tinha que exercer o seu ministério em vários locais separados
por largas distâncias. Para assistir aos paroquianos na época da qua
resma, o vigário de Poiares deslocou-se a Lamalonga, Marabitenas e
S. Gabriel da Cacheira em 1764123. No ano seguinte, o governador do
Estado, Fernando da Costa de Ataíde Teive, representava junto do
secretário de Estado Mendonça Furtado que um único capelão não
podia, simultaneamente, socorrer espiritualmente as guarnições da
fortaleza e as de S. José de Marabitenas, bem como os quatrocentos
índios que compunham os povoados, pela grande distância que sepa
rava os dois locais124. No sentido de apontar a falta de assistência
espiritual na capitania, José Monteiro de Noronha notava, já na
década de 80, a necessidade de os padres regulares servirem nas paró
quias por não haver um número suficiente de seculares125.
A comodidade de uma vida mais confortável e segura nas fazen
das ou nos conventos próximos à cidade de Santa Maria, bem como a
165
EM C U M P R IM E N T O DO REAL SERVIÇO
126Ibidem-, sobre a pobreza dos índios, atestava João Bernardo de Seixas, vigário de
Salvaterra, que «consta me do meu antecessor que não pagão pela sua indigência e eu o
vou experimentando, pois de sete baptizados que fis só recebi esmola de dois e de cinco
enterros recebi a esmola de hum» (AHU, Pará, caixa 81 (796), Relação dos emolumentos
e rendimentos da igreja paroquial de Santarém, de 23 de Junho de 1798).
127 Nuno Gonçalo Monteiro, «A sociedade local e os seus protagonistas», p. 44.
Não obstante o seu baixo nível cultural, quando comparados com os directores, na
sua maioria homens rudes e iletrados e nalguns casos soldados, degredados ou filhos-
-da-terra, os clérigos detinham uma maior informação.
128 AHU, Pará, caixa 18 (739 F), Ofício de frei Miguel de Bulhões a Diogo de Men
donça Corte-Real acusando a recepção da ordem régia, de 9 de Novembro de 1756.
Fundamentamos esta afirmação no facto de, em 1751, o governador do Pará dar conta
que os missionários se recusavam, sob as mais variadas escusas, a fazer listagens demo
gráficas e a comunicar estas contagens às instituições administrativas centrais. O gover
nador reiterou a ordem, ameaçando os prelados com a privação da administração das
missões (AHU, Pará, caixa 60 (775), Carta régia ordenando se cumpram as ordens sobre
as repartições dos índios, de 6 de Junho de 1751). Confronte-se, ainda, com o capítulo II
«A transformação dos índios em vassalos: um plano de colonização».
1 66
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129AHU, Pará, caixa 27 (740), Lista das igrejas paroquiais, freguesias e povoações da
capitania do Grão-Pará e das pessoas maiores e menores, segundo os róis de confessa
dos, 1765; Rio Negro, caixa 12, doc. 3, Carta do capelão frei José de Santo Antônio a João
Bemardes Borralho, de 20 de Novembro de 1785. Esta preocupação em quantificar a
população está também presente nas informações prestadas pelo vigário de Santarém,
frei Manuel do Menino Jesus: «mas quantia certa não se pode dizer porque os annos, os
tempos e as gentes são mudáveis» (AHU, Pará, caixa 81 (796), Relação dos emolumentos
e rendimentos da igreja paroquial de Santarém, de 23 de Junho de 1789).
130 Confronte-se Nuno Gonçalo Monteiro, «A sociedade local e os seus protago
nistas», p. 45.
131 APEP, códice 108, doc. 8, Certidão de frei Joaquim Cardoso Delgado sobre a
actuação do director de Soure, José Caetano Ferreira da Silva, de 4 de Agosto de
1770; doc. 65, Certidão de frei... Filipe Benicio [?] atestando, em conformidade com
as ordens do governador, o desempenho do director de Melgaço, Estolano Manuel
Pereira de Sousa Feio, de 22 de Julho de 1771.
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132 AHU, Rio Negro, caixa 2, doe. 2, Carta de José Monteiro de Noronha a Fra
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 20 de Abril de 1769; ibidem, doc. 3, Carta de
José Monteiro de Noronha a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 20 de Abril
de 1769; Pará, caixa 59 (774), Ofício de Martinho de Melo e Castro a Martinho de
Sousa e Albuquerque, de 30 de Julho de 1783; veja-se também D. Frei Caetano Bran
dão, Diários das visitas pastorais de D. frei..., introdução de Luís A. de Oliveira Ramos,
Porto, Instituto Nacional de Investigação Científica, Centro de História da Universi
dade do Porto, 1991; e Frei João de S. José Queirós, «Viagem e visita do sertão em o
bispado do Grão-Pará em 1762 e 1763», in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Bra
sileiro, tomo IX, 1847.
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A c o n s titu iç ã o de u m a elite in d íg e n a
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136 Elisabeth Carmichael, Stephen Hugh-Jones, Brian Moser, Donald Taylor, The
hidden peoples of the Amazon, p. 17.
137 Janet M. Chemela, The Wanano Indians of the Brazilian Amazon, p. 6.
ias a designação de «índios privilegiados» aparece, por exemplo, num levanta
mento demográfico de 1770, possivelmente respeitante a Olivença; juntamente com
esta categoria encontra-se «principais antigos», «sargento-mor», «índios incapazes»,
«índios auzentes», «índios no serviço de Sua Magestade Fidelíssima», «índios pesca
dores» (APEP, cód. 106, s/d [de 1770],
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145 AHU, Pará, caixa 94 (809), Petição de Inácio Coelho, índio Aruã e principal
de S. José do Igarapé Grande, na ilha de Joanes, para o rei lhe passar carta patente do
seu cargo, s/d [cerca 1755]. Não obstante o que afirmamos, dificilmente concordaría
mos com a definição de «principais» como «porta-vozes do colonizador» e «pessoas
com trânsito entre os colonos brancos e autoridades do governo colonial» (Rita
Heloísa de Almeida, O Directório dos índios, pp. 164 e 326-327). Muitas das fugas e
rebeliões ocorridas na Amazônia durante a época em estudo foram desencadeadas
pelos principais, tal como muitos dos protestos contra entidades administrativas
coloniais (confronte-se capítulo v «Formas de resistência: uma reavaliação das rela
ções entre “dominantes" e “dominados”»).
146 Inácio falecera de bexigas em Lisboa (AHU, Conselho Ultramarino, códice
1214, fls. 235-239, Ofício do Marquês de Pombal a Francisco Xavier de Mendonça
Furtado, de 14 de Março de 1755); AHU, Pará, caixa 94 (809), Petição de Inácio
Coelho para lhe ser passada carta-patente do exercício do seu cargo, s/d; ibidem,
Ordem de Sebastião José de Carvalho e Melo ao Marquês de Penalva, de 15 de
Março de 1755; Conselho Ultramarino, códice 1214, fls. 234v, Ordem régia comuni
cando ao Marquês de Penalva para passar as cartas-patentes mencionadas, de 15 de
Março de 1755.
147 AHU, Pará, caixa 94 (809), Petição de Luís de Miranda para se lhe passar
carta-patente de sargento-mor, s/d.
148 Ibidem, Petição de Francisco de Sousa de Meneses, s/d.
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liares e ordenanças do Pará e Rio Negro, 1767; AHU, Conselho Ultramarino, cód. 4,
fl. 25, Carta patente nomeando Baltasar da Silva como capitão-de-ordenança da vila
que é natural, de 12 de Setembro de 1769 (também em Pará, caixa 60 (775)); Pará,
caixa 51 (767), Carta patente passada por D. Francisco de Sousa Coutinho insti
tuindo Teodósio de Mendonça como alferes da 9.a Companhia de Tropa Ligeira de
Milícias do Rio Negro; ibidem, caixa 73 (788), Ofício de Valentim Antônio de Oli
veira e Silva a [governador da capitania] sobre a nomeação de Lourenço Justiniano
de Sequeira como capitão da 8.a Companhia da Tropa Ligeira de Santarém, de 4 de
Fevereiro de 1803.
153 AHU, Conselho Ultramarino, códice 1214, fls. 235-239, Ofício do Marquês de
Pombal a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 14 de Março de 1755.
154 BNRJ, 4-3-13, Ofício de José de Nápoles Telo de Meneses a Martinho de
Melo e Castro, de 19 de Novembro de 1781.
155 APEP, códice 103, doc. 71, Petição da índia D. Mariana de Saldanha ao gover
nador do Estado, na qual conta os maus tratos inflingidos pelo director de Tomar, de
24 de Julho de 1770.
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156 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 44, Ofício de Joaquim Tinoco Valente a Fer
nando da Costa de Ataíde Teive, de 26 de Julho de 1764.
157 Livro da visitação do Santo Ofício da Inquisição ao Estado do Grão-Pará (1763-
1769), texto inédito e apresentação de José Roberto do Amaral Lapa, Petrópolis, Edi
torial Vozes, 1978.
158 AUC, Colecção Conde de Arcos, cód. 27, fls. 83-83v, Ofício do Conde de Arcos
a Calisto Geraldo da Costa, de 26 de Julho de 1804.
159 AHU, Conselho Ultramarino, códice 342, fl. 79, col. A, Ofício do governador do
Pará sobre o pedido de Cipriano Inácio de Mendonça para mandar dez índios à extrac
ção das drogas do sertão, de 2 de Maio de 1780; APEP, códice 103, doc. 71, Petição da
índia D. Mariana de Saldanha ao governador do Estado, de 24 de Julho de 1770.
160APEP, cód. 103, doc. 71, Reclamação de D. Mariana de Saldanha ao governador
da capitania sobre as exacções do director da vila de Tomar, de 24 de Julho de 1770.
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EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
minar com uma visita à corte para poderem constatar in loco a mag
nificência do soberano e as vantagens de serem seus súbditos161.
Enquanto membros desta elite, os principais e seus familiares
mais próximos estavam habilitados a propor-se como irmãos da
Ordem Terceira de S. Francisco162. Já em finais do centénio era-lhes
permitido ocupar os postos de oficiais comandantes das Tropas de
Milícias e houve um caso em que, possivelmente por recompensa de
serviços prestados a João Pereira Caldas, um índio, Filipe de Santiago
Monteiro, alferes de Monforte, ocupou a directoria dessa vila163.
Em contrapartida, era-lhes exigido que, acima de qualquer
índio, fossem bons vassalos, leais e obedientes às leis reais e divinas,
que colaborassem nos descimentos dos ameríndios e na captura de
fugitivos e amocambados164. Deviam incentivar, junto dos seus agre
gados, a prática da agricultura e o exercício do pequeno comércio.
No entanto, e como já referimos, a mobilidade social era permi
tida a outras camadas sociais. A outorga da liberdade de pessoas e
bens possibilitou, sobretudo nos centros urbanos de maior dimen
são, uma pequena acumulação de capitais por parte de oficiais
mecânicos, pequenos proprietários rurais, rendeiros, caseiros, inqui
linos e assalariados165. Recebendo salários, pagando impostos sobre
os seus rendimentos e conhecendo os direitos que lhe assistiam,
muitos deles protestavam quando se sentiam vítimas de abusos por
parte das autoridades administrativas166.
176
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R e p a r tiç õ e s de ín d io s e tr a b a lh o in d íg e n a
177
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172 Ciro Flamarion Cardoso, Economia e sociedade em áreas coloniais periféricas..., p. 168.
173 Colin M. MacLachlan, «The Indian Directorate: forced acculturation in Portu-
guese America (1757-1799)», in The Américas, vol. xxviii (4), April 1972, p. 357.
174 AHU, Pará, caixa 19 (739 H), Representação da Mesa da Junta de Inspecção a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado sobre os incrementos a dar ao cultivo de
cana-sacarina, de 8 de Novembro de 1760.
175 Era este o caso de Petronilha que, ao ficar livre, tinha continuado a servir em
casa de seu senhor, Antônio José de Carvalho «nos serviços próprios de qualquer
mulher recolhida, como costurar e engomar» (AHU, Pará, caixa 104 (819), Petição da
índia Petronilha pedindo para ficar independente da tutela do director de Beja, s/d
[anterior a 1779]); o mesmo para a índia Madalena, da povoação da Penha Longa, ao
serviço de D. Ana Narcisa da Costa (ihidem, caixa 95 (810), s/d, [anterior a 1799]).
179
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AHU, Pará, caixa 40 (752), Bando de José Nápoles Telo de Meneses, de 9 de Junho de
1780. Alguns destes senhores de engenho tinham «tropas de escravos», como era o
caso de Hilário de Morais Bettencourt (ibidem, caixa 95 (810), Petição da índia Josefa
Martinha, s/d [cerca 1779]).
176 De entre a extensa bibliografia produzida sobre o assunto, cite-se, para este
caso específico, Dauril Alden e Joseph C. Miller, «Out of África: the slave trade and the
transmission of smallpox to Brazil 1560-1831», in Journal of lnterdisciplinary History,
vol. xvni (2), Autumn 1987, pp. 196 e ss.; sobre as doenças provocadas pelos contactos
no continente americano de colonização ibérica, consulte-se Charles F. Merbs, «Pat-
tems of health and sickness in the precontact Southwest», in Cotumbian consequentes.
Archaeological and Historical perspectives on the Spanish Borderlands West, vol. I, editado
por David Hurst Thomas, Londres e Washington, Smithsonian Institution Press, 1989,
pp. 41 e ss; Woodrow Borah, «Introduction», in Secret judgements of God. Old World
desease in Colonial Spanish America, editado por Noble David Cook e George Lovell,
Norman e Londres, University of Oklahoma Press, 1991, pp. 3 e ss.; Henry F. Dobyns,
«Disease transfer at contact», in AnnualReview of Anthropology, vol. 22,1993, pp. 273 e ss.
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182 AHU, Rio Negro, caixa 19, doc. 52, Parecer de Francisco Xavier Ribeiro de
Sampaio sobre a carta régia de 12 de Maio de 1798 extinguindo o Directório, de 19 de
Junho de 1805.
183As infracções detectadas eram, por lei, seriamente punidas: um mês de prisão e
multa de 5$000 réis por índio (Rita Heloísa de Almeida, O Directório dos índios, p. 237).
184 Por serviços pesados entendia-se o trabalho em roças, engenhos, cortes de
madeiras, transporte de troncos e pedras, navegação, negócios do sertão; os serviços
leves compreendiam os domésticos, a caça e a pesca. A esta remuneração devia
acrescer o «ordinário e preciso sustento» que quotidianamente se devia conceder
(AHU, Pará, caixa 34, Bando promulgado por João Pereira Caldas regulando o salário
dos índios, de 30 de Maio de 1773; também em ibidem, caixa 22 (742)). Os salários
pagos aos índios do Norte do Brasil tinham já sido alterados pelo governador Fer
nando da Costa de Ataíde Teive em 1772. O aumento de 4 para 12 tostões acarretou
protestos junto dos moradores que diziam não poder comprar escravos e, por isso,
recorriam aos índios assalariados (AHU, Pará, caixa 33 (748), Memórias das acções
do Exm.° Sr. General do Pará, Fernando da Costa de Ataíde Teive, as quais se vêm
declaradas nos seguintes capítulos repartidos e seguindo os três estados Político, Mili
tar e Eclesiástico por João Baptista Mardel, de 6 de Novembro de 1772).
185 AHU, Rio Negro, caixa 12, doc. 11, Ofício de João Bemardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 23 de Julho de 1786.
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186 AHU, Rio Negro, caixa 15, doc. 8, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 29 de Outubro de 1787; Pará, caixa 69 (784), Ofício de João Pereira
Caldas a Martinho de Melo e Castro, de 30 de Novembro de 1789. A Fazenda Real
estava igualmente em dívida com os filhos-da-folha eclesiástica e civil, com os artífi
ces e com os soldados. Faltava moeda, mantimentos, medicamentos e tecidos.
187 AHU, Pará, caixa 53 A (768), Ofício de Caetano Pereira Pontes ao Conde de
Arcos, de 8 de Fevereiro de 1805; AUC, Colecção Conde de Arcos, cód. 27, fl. 115v, Ofí
cio do Conde de Arcos ao ouvidor do Rio Negro, Caetano Pereira Pontes, 19 de Abril
de 1805; AHU, Pará, caixa 53 A (768), Ofício do Conde de Arcos a Caetano Pereira
Pontes, de 21 de Abril de 1805.
188 Vulgarmente conhecidas por Leis de Burgos, datadas de 27 de Dezembro de
1512, constituem a primeira tentativa para estabelecer uma legislação ameríndia.
Regulamentavam ou codificavam as relações dos índios com os colonizadores e
resultaram de uma junta de eminentes letrados e teólogos que, reunidos em Burgos,
legislaram sobre a liberdade dos ameríndios e o trabalho indígena. Asseguravam aos
índios certos direitos, nomeadamente o de tratamento humano, instrução na fé cristã,
baptismo, casamento, enterro, alimentação, educação, alojamento, vestuário, assis
tência na doença (Richard Konetzke, América Latina. II. La época colonial, Madrid e
México, Siglo Veintiuno, 16.a edição, 1984, pp. 163-164).
1 83
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189 AHU, Pará, caixa 69 (784), Condições com que são concedidos aos particula
res os índios silvestres dos novos descimentos, de 1 de Julho de 1782.
190 Sobre estes conceitos, veja-se o capítulo VI «A construção de imagens: defini
ções de ameríndios nos discursos coloniais».
191 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 47 A, Representação dos moradores das povoa
ções novas do Rio Negro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado sobre as exacções
de Joaquim Tinoco Valente, de 8 de Julho de 1766; JCB, Codex Port. 7, «Ensaio eco
nômico e político sobre o Pará», de 1816, p. 78.
192 APEP, cód. 114, doc. 10, Ofício de João Xavier de Mariz Sarmento a João
Pereira Caldas, de 27 de Agosto de 1776.
193 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 30, Ofício de Lourenço Pereira da Costa a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, s/d; Pará, caixa 95 (810), Petição de Josefa Marti-
nha que tinha sido dada de soldada a Hilário de Morais Bettencourt, s/d [cerca 1779],
A índia dizia que os termos da soldada não eram mais que os de uma servidão disfar
çada; ibidem, caixa 40 (752), Bando de José Nápoles Telo de Meneses sobre as trans
gressões feitas às leis reais sobre as ambições e «liberdades» dos moradores do
Estado, de 9 de Junho de 1780; ibidem, caixa 78 (793), Ofício do Ouvidor e Intendente
Matias José Ribeiro a Martinho de Sousa e Albuquerque sobre os índios que se con
servam em poder de Mariana Maia e de suas irmãs Benta Nunes de Sousa e Francisca
Nunes de Sousa, de 7 de Setembro de 1784.
194 ANRJ, 1-17-12-2, Bando de D. Francisco de Sousa Coutinho, de 2 de Julho
de 1796.
18 4
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195 AHU, Pará, caixa 25 (739 J), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro ao
desembargador intendente-geral, de 22 de Agosto de 1763; ANRJ, cód. 99, vol. 1,
fls. 127-127v, Condições com que se deve pôr a lanço o novo contrato do peixe seco
e salgado que se deverá rematar por três anos, s/d [cerca 1767]; BNRJ, 21-2-10, doc. 2,
Detalhe dos índios determinados às esquipações das duas canoas e Guarda-Costa
que se acham estabelecidos nos dois Canais do Norte e do Sul na foz do rio Amazo
nas, s/d [post a 21 de Outubro de 1773]; APEF, cód. 114, doc. 74, Relação dos índios
que se ocuparam no serviço d'El Rei por mandado do comandante da fortaleza de
Gurupá, 9 de Julho de 1774; BNRJ, 21-2-10, doc. 3, Detalhe dos índios determinados
aos diferentes reais serviços de Macapá, Vila Vistosa, Mazagão e Pesqueiro Real,
regulado por portarias de 18 de Março e 9 de Novembro de 1774, s/d [post a 9 de
Novembro de 1774],
196 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Relação das vilas e lugares e do número de
índios seus moradores e sua distribuição, s/d [cerca 26 de Junho de 1761]. É interes
sante comparar este mapa geral com os mapas parcelares de cada localidade feitos
pelos respectivos directores. Veja-se APEP, cód. 103, doc. 19, Relação geral de todos
os índios e rapazes capazes de serviço que se acham nesta vila de Salvaterra e fora
dela, de 16 de Fevereiro de 1770; cód. 106, doc. 62, Mapa dos moradores da vila de
Melgaço feita hoje, 17 de Julho de 1770.
1 85
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SER V IÇ O
197 AHU, Pará, caixa 17 (733), Ordem de João Pereira Caldas a todos os directo
res das povoações de índios sobre os socorros a enviar à capital ou praça atacada em
caso de confrontos armados com potências coloniais, de 30 de Setembro de 1776.
198 JCB, Codex Port 7, «Ensaio econômico e político sobre o Pará», 1816, pp. 22-
-23; BNRJ, 1-17-12-2, Ofício de D. Francisco de Sousa Coutinho a D. Luís Pinto de
Sousa, de 1 de Agosto de 1796.
199 As ordens dadas nesse sentido datam de período imediatamente antecedente
à assinatura do Tratado preliminar de Santo Ildefonso e foram extensíveis a todos os
directores do Pará e Rio Negro. Para além deste bote com toldo de palha, deviam ter
farinha, sal, pólvora, munição grossa, pederneiras, machados encabados, facões, fer
ros de cova, enxós, verrumas, pregos, estopa e breu para calafetagem, anzóis e linhas
de pesca e panelas (AHU, Pará, caixa 17 (733), Ordem de João Pereira Caldas a todos
os directores das povoações para terem um bote de 6-8 remos por banda para o real
serviço, de 1 de Fevereiro de 1776; também em IHGB, lata 280, pasta 10, doc. 5;
APEP, cód. 114, doc. 114; AHU, Pará, caixa 17 (733), Ordem de João Pereira Caldas
aos directores das diferentes povoações para terem sempre aprestados os mantimen
tos que se especificam, de 2 de Setembro de 1776; também em IHGB, lata 280, pas
ta 10, doc. 5).
186
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
1 87
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
205 A N /1 1, Brasil. Avulsos, n.° 1, doc. 20, n.° 1, Bando de D. Francisco de Sousa Cou-
188
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
Entre d u a s c u ltu ra s: a p e r m a n ê n c ia c o m o
fo r m a de r e s is tê n c ia p a ssiv a
189
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
190
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
215 Este facto foi constatado em 1742 pelo padre Luís Álvares, que queimou
publicamente os ídolos e destruiu as pedras. Nas aldeias luso-brasileiras da segunda
metade do século XVIII constatava-se a permanência de rituais de enterramentos e a
utilização de objectos de culto em cerimônias mágicas (BN, cód. 11 750, Breve notícia
do rio Tapajós cujas cabeceiras último se descobriram no ano de 1742 por uns serta
nejos ou mineiros de Mato Grosso dos quaes era cabo Leonardo de Oliveira, de 14 de
Agosto de 1741). Confronte-se a descrição do padre Luís Álvares com os resultados
de escavações arqueológicas feitas no baixo Amazonas, onde foram encontradas
múmias e imagens pintadas de antepassados de chefes, bem como pedras que eram
objecto de rituais e que representavam divindades (Anna C. Roosevelt, «Sociedades
pré-históricas do Amazonas brasileiro», pp. 28 e 38-45).
216 Alexandre Rodrigues Ferreira, Viagem filosófica ao Rio Negro, p. 359; Livro da
visitação do Santo Ofício da Inquisição do Estado do Grão-Pará, 1765-1769, texto inédito
e apresentação de José Roberto do Amaral Lapa, Petrópolis, Editorial Vozes, 1976,
p. 227; relacione-se o papel desempenhado pelas danças e bebidas nos festejos e
rituais tanto entre as sociedades ameríndias do Brasil como do México, Guatemala e
Peru (Ronaldo Vainfas, «O baile dos espíritos», in A festa, vol. I, Lisboa, Sociedade
Portuguesa de Estudos do Século XVIII, Editora Universitária, 1992, pp. 245-249).
217 Esta mesma duplicidade era corrente nas áreas sujeitas à dominação espa
nhola. Veja-se Héctor H. Bruit, «O visível e o invisível na conquista hispânica da
América», in América em tempo de conquista, pp. 84-85.
218 Apesar do seu descontentamento, frei José da Madalena não conseguia dis
suadir os índios de frequentarem este local. A solução encontrada foi um incêndio
ateado «com manha e recato» por Francisco Xavier de Andrade. A casa foi posterior
mente transformada em olaria (Alexandre Rodrigues Ferreira, Viagem filosófica ao Rio
Negro, p. 358).
191
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
219 Muitas destas práticas são ainda objecto de trabalho de campo de antropólo
gos que estudam as etnias ameríndias da bacia hidrográfica amazônica e contemplam
grupos brasileiros, venezuelanos e colombianos. Esteban E. Mosonyi, «Los Arahucos
dei Rio Negro», in Boletin Americattista, n.° 33, 1983, p. 146.
220 Ao chegar à puberdade, as raparigas eram encerradas num local próprio da
casa ou numa habitação separada, escondidas aos olhares dos homens da comuni
dade. Não lhes estava autorizado tomar banho ou alimentar-se senão com caldo de
farinha de mandioca (Alexandre Rodrigues Ferreira, Viagem filosófica pelas capitanias do
Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, Memórias. Zoologia e Botânica, Rio de
Janeiro, Conselho Federal de Cultura, 1972, p. 97); esta mesma cerimônia é praticada
actualmente pela etnia Yanomami com poucas alterações em relação à descrição feita
pelo naturalista luso-brasileiro em finais do século xviii (Jacques Lizot, Tales of the
Yanomami. Daily life in lhe Venezuelan forest, Cambridge e Paris, Cambridge University
Press e Editions de la Maison des Sciences de 1’Homme, 1991, pp. 75 e ss.
221 AHU, Pará, caixa 79 (794), Parecer do bispo D. Frei Caetano Brandão à rainha
sobre uma representação do índio Diogo de Sousa, de 1 de Agosto de 1787.
192
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
222 APEP, códice 108, doc. 7, Ofício do director da vila de Pombal ao governador
da capitania, de 7 de Agosto de 1770.
223 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 41, Ofício de Joaquim Tinoco Valente a Fer
nando da Costa de Ataíde Teive, de 24 de Julho de 1764.
193
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
1 94
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
195
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196
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SERVIÇO
237 Confronte-se Antônio Porro, «Social organization and political power in the
Amazon floodplain. The Ethnohistorical sources», in Amazonian Indians frotn Prehistory
to the present. Anthropological perspectives, edição de Anna Roosevelt, Tucson e Londres,
The University of Arizona Press, 1994, p. 81.
238 BN, Colecção Pombalina, cód. 621, fls. 244-245v, Ofício de Faustino da Fonseca
Freire e Melo a Francisco Xavier Mendonça Furtado, de 20 de Março de 1753.
239 Ibidem, pp. 225-227.
240 Hugo Fragoso, «A era missionária», in História da Igreja na Amazônia, p. 178.
O mesmo é aplicável ao território hispano-americano onde, de igual forma, a oculta-
ção das antigas crenças e tradições evitou o desaparecimento da cultura ameríndia e a
absorção da cultura hispânica; confronte-se Hector Bruit, «O visível e o invisível na
conquista hispânica da América», p. 84.
197
EM C U M P R IM E N T O D O REAL SER V IÇ O
fício, da sua saúde ou da sua riqueza. Afinal, foi para terminar com
maus-olhados e maleitas que um governador da capitania, João de
Abreu Castelo-Branco, consentiu na celebração de rituais mágicos
indígenas no palácio governamental241.
Ao avaliar esta questão, importa considerar que os luso-brasilei-
ros tinham, eles próprios, a sua «cultura popular» e, tal como men
cionámos, havia «referências familiares» e associações que se po
diam estabelecer a esse nível. São estas afinidades, constituídas por
superstições e crenças paralelas em duas culturas distintas, tantas
vezes antagônicas, que sobressaem, por exemplo, do Livro de Visita
ção do Santo Ofício ou dos escritos de um observador irônico e lúcido
como era frei João de S. José Queirós. Face à persistência de rituais
ameríndios e de práticas de magia nas povoações luso-brasileiras, o
bispo comentava: se em Portugal se mantinham ainda vivas tantas
superstições, datadas da ocupação romana e, até, de períodos ante
riores, como se poderia estranhar que na floresta amazônica, onde
tantos indivíduos eram missionados por tão poucos e tão recente
mente, ainda se seguissem as antigas crenças242?
O que queremos, contudo, ressaltar é que, ao contrário do que
se passou em outras capitanias no vice-reinado do Brasil, as compo-
nentes-chave desta cultura não pareciam sofrer grande influência de
valores africanos243. Apesar de ser um porto de mar onde afluíam
regularmente tumbeiros, Belém da segunda metade de Setecentos
parece ter privilegiado na formação da sua cultura popular elemen
tos católicos e ameríndios. A religião afro-católica, tal como ocorreu
nas regiões mineradoras e no litoral nordestino brasileiro do século
xviii, não parece ter ocupado um lugar relevante na sociedade colo
nial paraense e rionegrina244.
198
C A P Í T U L O IV
«
«AS MURALHAS DO S E R T Ã O » ;
OS AMERÍNDIOS NA DEFESA DA INTEGRIDADE
TERRITORIAL LU S O - BR ASILEIR A
O discurso colonial definido pelo aparelho estatal luso-brasileiro
para o Norte do Brasil durante a segurftía metade do século xvm con
siderava os ameríndios como vassalos de pleno direito, no sentido
de os transformar em instrumentos efectivos de colonização. Houve
um empenho notório por parte da coroa portuguesa e do aparelho
político e administrativo na constituição de um programa coloniza
dor que procedesse à transformação da sociedade colonial luso-bra-
sileira do Estado do Grão-Pará e do papel que os ameríndios nela
ocupavam.
A reformulação da importância dos índios na concepção da
política colonial setecentista aplicada à área geográfica em análise,
explica-se pela necessidade que o Estado teve em firmar a sua auto
ridade tanto a nível interno como externo. É este último aspecto que
procuraremos clarificar no presente capítulo e, para tal, faremos
incidir esta abordagem na importância que é dada aos índios no
contexto dos jogos da estratégia e da disputa de poderes que carac
terizaram a geopolítica colonial sul-americana durante a segunda
metade do século xviii.
Ainda hoje, em pleno século xx, os meios de comunicação
social dão frequentemente conta da indeterminação do espaço terri
torial que existe entre o Norte do Brasil e países circunvizinhos.
Assim, as tropas dos exércitos brasileiro e da República da Colôm
bia ou dos cartéis de droga deste país acusam-se mutuamente de
invadir território alheio, dando origem a escaramuças fronteiriças.
Também se noticia a existência de etnias ameríndias que tomam
reféns entre europeus que, motivados por interesses privados ou
públicos, invadem territórios nativos1. Além disso, muitas etnias
dividem-se por espaços territoriais de vários países limítrofes, como
é o caso dos Wanano, que ocupam a planície do rio Uaupés, tanto
do lado colombiano quanto do lado brasileiro2.
1Jornal ftíWrcc (edição Lisboa), 6 de Junho de 1997, «Brasil. índios fazem reféns», p. 48.
2 Janet M. Chernela, The Wanano Indians of lhe Brazilian Amazon: a sense of space,
Austin, University of Texas Press, 1993, p. 4.
201
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
202
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O
In s ta b ilid a d e fr o n te ir iç a : u m a v ia c o m
d o is s e n t id o s
203
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
nica era uma fronteira física e cultural para os espanhóis; para eles,
a selva ocidental estava carregada de mais valores simbólicos que a
oriental; separava os impérios andinos altamente organizados e
ricos das terras altas e gentes da floresta, os caçadores e recolectores
das terras baixas4.
O conde de Superunda, vice-rei do Peru, definia desta forma a
bacia hidrográfica amazônica: «Los países no conquistados son una
selva e montarias de difícil trânsito y los Uanos muy húmedos, cega-
nosos e ardientes, por lo que no pueden mantenerse los espanoles.
Las naciones que alli habitan son bárbaras. No cuidan de cubrir su
desnudez y sus casas son tan pobres que nada pierden aunque se las
quiten [...]. Reducirlos por armas se he tenido siempre por imposi-
ble, respecto de que con mudarse de un lugar a otro e intemarse en
lo más espeso de la montana [...], quedan frustradas las diligencias,
perdidos los gastos y expostas muchas vidas por las enfermidades
que se contraem.»5
Este desinteresse das autoridades espanholas tinha sido já assi
nalado pelo padre Samuel Fritz quando, em 1692, alertou o vice-rei
do Peru, conde de Monclova, para a necessidade de impedir a pro
gressão das expedições luso-brasileiras pelo rio Solimões, bem como
a ocupação de terras que, gradualmente, iam sendo colonizadas por
portugueses6. O vice-rei respondeu que estes eram cristãos católicos
e muito combativos e que as índias tinham terras suficientes para
que as potências peninsulares pudessem aumentar os seus domínios
sem haver razão para confrontos7.
204
AS M U RA LH AS DO SERTÃO
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AS M U RA LH AS DO SERTÃO
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«AS M U R A L H A S D O S E R T Ã O »
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«AS M U R A LH A S D O SER TÃ O »
18 Uma bem estruturada síntese sobre o período joanino que contempla a dis
puta de poderes das duas potências ibéricas na América do Sul encontra-se em A. J. R.
Russell-Wood, «Portugal and the world in the Age of D. João V», pp. 15 e ss.
19 A N /1 1, Manuscritos do Brasil, n.° 51, fl. 109, Oficio de Francisco Xavier de
Mendonça Furtado a Manuel Bernardo de Melo e Castro, de 11 de Fevereiro de 1762.
208
AS M U RA LH AS DO SERTÃO
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«AS M U R A LH A S D O SER TÃ O
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AS M URA LH AS DO SERTÃO»
O v a lo r e s tr a té g ic o d o s ín d io s n a o c u p a ç ã o
das fr o n te ir a s
211
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O
27 Peter Sahlins, Boundaries. The making of Trance and Spain in the Pyrenees, Berke-
ley, Los Angeles e Oxford, University of Califórnia Press, 1989, pp. 7-8. Esta ideia
expressa-se de forma muito clara em relação ao caso estudado pelo autor: «The corol-
lary idea is that peasants became national citizens only when they abandon their
identity as peasants: a local sense of place and a local identity centered on the village
or valley must be superseded and replaced by a sense of belonging to a more exten-
ded territory or nation.»
28 Peter Sahlins, Boundaries. The making of France and Spain in the Pyrenees, p. 9.
2 12
AS M U R A L H A S D O S E R T Ã O »
29 Peter Sahlins, Boundaries. The making ofFrance and Spain..., pp. 35-43.
30 Ângela Domingues, Viagens de exploração geográfica na Amazônia em finais do
século xvni: política, ciência e aventura, pp. 36-37.
31 Ângela Domingues, «A importância do forte do Príncipe da Beira na estratégia
de Luís de Albuquerque de Melo Pereira Cáceres», in Portugaliae Flistórica (no prelo);
José Roberto do Amaral Lapa, «Do comércio em área de mineração», in Economia
Colonial, São Paulo, Editora Perspectiva, 1973, pp. 23 e ss.
213
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
2 14
-
«AS M U R A L H A S D O S E R T Ã O »
215
«AS M U R A L H A S D O SE R T À O
38 AHU, Conselho Ultramarino, códice 1213, fls. 58-60, Ofício de Marco Antônio
de Azevedo Coutinho a Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, de 15 de Setembro de
1748.
39 BNRJ, 1-32-9-14, Carta régia dirigida a Francisco Xavier de Mendonça Furtado,
de 14 de Novembro de 1752.
40 AHU, Conselho Ultramarino, códice 1213, fls. 48-54, Ofício de Pedro Mendonça
Gorjão a Diogo de Mendonça Corte Real, de 1 de Dezembro de 1751.
41 AHU, Pará, caixa 15 (736), Ofício de Francisco Xavier de Mendonça Furtado a
Sebastião José de Carvalho e Melo, de 12 de Julho de 1755.
42 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 13, Ofício dirigido a Francisco Xavier de Men
donça Furtado, de 1 de Junho de 1756.
43 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 8, Relação dos rios que desaguam no Rio Negro,
s/d [post. 9 de Junho de 1755]; ihidem, Informação que deu Euquério Ribeiro do rio
Japurá. Este Ribeiro é o melhor prático que se conhece, de 25 de Março de 1755;
ihidem, Noticia do rio Branco que me deo Francisco Ferreira, homem de mais de
oitenta anos, que tem mais de cinquenta de navegação do dito rio e mas participou
em Mariuá, de 29 de Março de 1755.
2 16
«AS M U R A L H A S D O S E R T Ã O »
2 18
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O
49 AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 28, Ofício de Francisco Fernandes Bobadilha a
Miguel de Sequeira Chaves, de 28 de Dezembro de 1761; AHI, 340/04/04, Ofício de
Lourenço Pereira da Costa, provedor da Fazenda Real a [Francisco Xavier de Men
donça Furtado], de 2 de Setembro de 1762; AHU, Pará, caixa 17 (733), Ofício de
Joseph Dequsa ao comandante da fronteira do Rio Negro, Diogo Luís Rebelo, de 24
de Fevereiro de 1776.
50José Ferreira Borges de Castro, Contratos e Actos Públicos celebrados entre a Coroa de
Portugal e as mais potências desde 1640 até ao presente, tomo III, Lisboa, 1856, p p . 232-291.
51 AHU, Rio Negro, caixa 8, doc. 1, Ofício de Teodósio Constantino de Chermont
a D. Francisco de Requena, de 2 de Novembro de 1783.
52 AHU, Pará, caixa 53 A (768), Ofício do conde de Arcos a Caetano Pereira
Pontes, de 21 de Abril de 1805; também no AUC, Colecção Conde de Arcos, cód. 27,
fl. 115v, com data de 19 de Abril de 1805.
219
«AS M U R A LH A S D O SER TÀ O »
53 AHU, Rio Negro, caixa 7, doc. 1, Ofício de Custódio de Matos Pimpim a Teo-
dósio Constantino de Chermont, de 11 de Agosto de 1783.
54 AHU, Rio Negro, caixa 4, doc. 2, Ofício de Teodósio Constantino de Chermont
a João Pereira Caldas, de 6 de Agosto de 1781; ibidem, caixa 7, doc. 12, Ofício de José
Manuel de Morais a Teodósio Constantino de Chermont, de 29 de Maio de 1783.
55 AHU, Rio Negro, caixa 8, doc. 1, Ofício de Teodósio Constantino de Chermont
a João Pereira Caldas do qual constava o resultado da viagem de Elias Fernandes ao
rio Içá, de 25 de Outubro de 1783; ibidem, doc. 6, Ofício de Manuel Gama Lobo de
Almada a João Pereira Caldas sobre a expedição aos rios Ixié e Tomon, de 13 de Julho
de 1784; Ângela Domingues, Viagens de exploração geográfica na Amazônia em finais do
século xviii: política, ciência e aventura, p. 48.
220
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
56 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 1, Oficio de Henrique João Wilkens a João
Pereira Caldas, de 5 de Março de 1784; Ângela Domingues, Viagens de exploração geo
gráfica na Amazônia..., p. 49.
57 AHU, Rio Negro, caixa 7, doc. 1, Ofício de João Pereira Caldas a Teodósio
Constantino de Chermont, de 28 de Fevereiro de 1783.
58 AHU, Rio Negro, caixa 8, doc. 1, Ofício de Teodósio Constantino de Chermont
a D. Francisco de Requena, de 2 de Novembro de 1783; ibidem, caixa 9, doc. 1, Ofício
de Henrique João Wilkens a João Pereira Caldas, de 5 de Março de 1784.
59 AHU, Rio Negro, caixa 7, doc. 1, Ofício de Teodósio Constantino de Chermont
a D. Francisco de Requena, de 30 de Dezembro de 1782.
60 Veja-se, por exemplo, que a política ibérica para as suas colônias em processo
de demarcação era idêntica e que estava relacionada com a fundação de povoados com
índios, com a necessidades de criar dependências entre as populações autóctones e os
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AS M URALHAS DO SERTÃO»
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«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
A p e r m e a b ilid a d e d as fr o n te ir a s :
u m e n tr a v e a o s p r o je c t o s e x p a n s io n is ta s
d o s E s ta d o s c o lo n ia is
74 Peter Sahlins, Boundaries. The making of France and Spain in the Pyrenees, p. 90.
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AS M U R A L H A S D O S E R T Ã O »
227
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
78 Dauril Alden, «Economic aspects of the expulsion of the Jesuits from Brazil: a
primary report», p. 36.
228
AS M U RA LH AS DO SERTÃO
229
«AS M U R A L H A S D O SE R TÃ O
88 IHGB, lata 278, livro 1, doc. 18, Ofício de D. Francisco de Sousa Couti
recomendando se evitassem o comércio com os espanhóis e se incrementasse as tro
cas com os índios, de 5 de Dezembro de 1799.
84 Para definir o termo com mais precisão, diriamos pequeno em quantidade, mas
grande pelos milhares de quilômetros percorridos e pelas inúmeras operações de troca.
85 BNRJ, 1-32-21-1, Sinopse de algumas notícias geográficas para o conheci
mento dos rios, por cuja navegação se podem comunicar os domínios da Coroa Por
tuguesa em o Rio Negro com os de Espanha e províncias unidas de América, de 22 de
Outubro de 1764.
86 AHU, Conselho Ultramarino, códice 271, fl. 173, Carta régia a Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, de 20 de Abril de 1751; IHGB, lata 278, pasta 1, doc. 3, Carta régia
sobre se construir uma fortificação no rio Branco, de 14 de Novembro de 1752; também
publicada em Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomoiv, 1842, p. 501; Nádia
Farage, Ãs m uralhas do sertão. O s povos indígenas no rio Branco e a colonização, pp. 76-77.
230
AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
87 AHU, Conselho Ultramarino, códice 209, fl. 261v, Parecer do Conselho Ultrama
rino sobre as incursões feitas por holandeses e no rio Branco, de 16 de Abril de 1753;
Marcos Carneiro de Mendonça, A A m azôn ia na E ra Pom balina. Correspondência inédita
do governador e capitão-general do E stado do G rão -P ará e M aran h ão Francisco X avier de
vol. i, 1963, p. 114.
Mendonça Furtado, 1 7 5 1 -1 7 5 9 ,
88 AHU, Rio Negro, caixa 4, doc. 8, Informação do rio Apaporis dada pelo índios
Antônio, filho do principal Umani e transmitida por Teodósio Constantino de Cher-
mont, de 15 de Novembro de 1781.
89 BNRJ, 7-2-40, fl. 7v, Termo de indagação a que se procedeu com o gentio
Mauá, de 19 de Maio de 1782.
90 AHU, Rio Negro, caixa 5, doc. 7, Ofício de Teodósio Constantino de Chermont
a João Pereira Caldas, de 22 de Junho de 1782.
91 Manuel Lucena Giraldo, «La última búsqueda de El Dorado: las expediciones
al Parime (1770-1776)», p. 82.
231
AS M U R A LH A S D O SERTÃ O
232
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
233
_
«AS M U R A LH A S D O SER TÃ O »
101 AN/TT, Ministério dos Negócios Estrangeiros, livro 127, £1. 73, Carta de Francisco
Xavier de Mendonça Furtado a D. Luís da Cunha, de 27 de Janeiro de 1761; ANRJ,
códice 99, vol. 1, fl. 204, Ofício de Fernando da Costa de Ataíde Teive a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, de 30 de Junho de 1767.
102 AHU, Pará, caixa 42 (756), Ofício de Manuel Gama Lobo de Almada a José
Nápoles Telo de Meneses, de 3 de Julho de 1782; ibidem, Relação do que respondeu a
índia Arcangela Rufina às perguntas feitas por Leonardo José Ferreira, s/d [cerca de 3
de Julho de 1782],
103 AHU, Pará, caixa 93 (808), Carta de Fr. Joaquin de S. Tadeo y Gil ao vigá
rio José Monteiro de Noronha, de 1 de Setembro de 1765; ibidem, Ofício de Gi-
raldo José de Abranches a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 29 de Março
de 1766.
234
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
104 AHU, Pará, caixa 26 (741), Ofício de Fernando da Costa de Ataíde Teive a
Martinho de Melo e Castro, de 23 de Novembro de 1771; ibidem, caixa 95 (810), Ofí
cio de José Roberto Vidal da Gama a [?], de 26 de Junho de 1775.
105 AHU, Pará, caixa 28 (743), Ofício de Joaquim Tinoco Valente a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, de 20 de Fevereiro de 1766.
106 AHU, Pará, caixa 43 (759), Ofício de Martinho de Sousa e Albuquerque a
João Vasco Manuel de Braun, de 7 de Novembro de 1783.
107 AHU, Pará, caixa 24 (739 D), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 9 de Julho de 1762; ANRJ, códice 99, vol.
1, fl. 114, Ofício de Fernando da Costa de Ataíde Teive a Francisco Xavier de Men
donça Furtado, de 17 de Março de 1767; AHU, Pará, caixa 34 (347), Ofício de João
Pereira Caldas a Martinho de Melo e Castro, de 7 de Janeiro de 1773; ibidem, caixa 17
(733), doc. 2, Ofício de Joaquim Tinoco Valente a Martinho de Melo e Castro, de 24
de Julho de 1776.
235
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
108 AHU, Rio Negro, caixa 4, doc. 2, Ofício de Teodósio Constantino de Cher-
mont a João Pereira Caldas, de 6 de Agosto de 1781; Manuel Lucena Giraldo, «La
última búsqueda de El Dorado: las expediciones al Parime (1770-1776)», p. 83.
109 AHU, Pará, caixa 42 (756), Relação das respostas da índia Arcangela Rufina às
perguntas de Leonardo José Ferreira, s/d [cerca de 3 de Julho de 1782]; AHU, Pará,
caixa 45 (763), Ofício de D. Francisco de Sousa Coutinho a Martinho de Melo e Cas
tro, de 1 de Julho de 1791.
110 AHU, Pará, caixa 60 (775), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 12 de Maio de 1763.
111 AHU, Pará, caixa 51 (767), Ofício de João de Matos a José Antônio Franco, de
24 de Novembro de 1801.
112 AHU, Pará, caixa 52 (766), Ofício de Domingos José da Silva a D. Rodrigo de
Sousa Coutinho, de 1 de Janeiro de 1803.
236
«AS M U R A L H A S D O S E R T Ã O »
O s in té r p r e te s e m z o n a s de lim ite s :
o se u p a p e l c o m o in te r m e d iá r io s
113 João Daniel, «Tesouro descoberto no rio Amazonas», in separata dos Anais da
Biblioteca Nacional, vol. 95, 2 ° tomo, Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, 1976, p. 225.
237
_
AS M U RA LH AS DO SERTÃO
238
AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
115 APEP, códice 116, doc. 10, Ofício de Antônio José Pestana a Joaquim Tinoco
Valente, de 15 de Janeiro de 1771.
116 AHU, Rio Negro, caixa 5, doc. 7, Informação dos índios Taboca e mais índios
adjuntos dada pelo índio Jordão e pelo índio Bento, de 12 de Abril de 1782.
117 AHU, Rio Negro, caixa 14, doc. 12, Ofício de José Simões de Carvalho a
Manuel Gama Lobo de Almada, de 27 de Abril de 1787.
lis APP, cód. 116, doc. 91, Ofício de José Caetano Ferreira da Silva a D. Fernando
da Costa de Ataíde Teive, de 9 de Junho de 1771.
239
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O
119 AHU, Rio N egro, caixa 8, doc. 1, Ofício de Teodósio Constantino de Cher-
mont a João Pereira Caldas, de 25 de Outubro de 1783; ibidem, caixa 9, doc. 1, de 19
de Maio de 1784.
120 Ângela Domingues, «A importância das visitações para o conhecimento das
etnias ameríndias da Amazônia e Pará em meados de Setecentos», in Congresso Inter
nacional de História. M ission ação Portuguesa e Encontro de Culturas, A ctas, vol. II, p. 461.
121 AHU, Rio N egro, caixa 5, doc. 3, Ofício de Pedro Maciel Parente a João Pereira
Caldas, de 20 de Agosto de 1781.
122 Ibidem.
240
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
123 AHU, Rio Negro, caixa 3, doc. 10, Ofício de Martinho de Melo e Castro a João
Pereira Caldas, de 7 de Julho de 1783.
124 Como exemplos, citem-se apenas: BNRJ, 7-2-40, Ofício de Henrique João
Wilkens a João Pereira Caldas, de 5 de Julho de 1782; AHU, Rio Negro, caixa 8, doc. 2,
Viagem que fez Vitorio Gomes com o principal José Caboquena pelo rio Uaupés, s/d
[ant. a 1783],
125 AHU, Rio Negro, caixa 6, doc. 1, Notícias expressas de José Joaquim Victório
da Costa sobre a viagem que fez ao rio Messai em 6 e 7 de Outubro, de 21 de
Dezembro de 1782.
126 AHU, Rio Negro, caixa 14, doc. 12, Ofício de José Simões de Carvalho a
Manuel Gama Lobo de Almada, de 27 de Abril de 1787.
241
AS M U R A LH A S DO SERTÃO»
242
AS M U R A LH A S D O SERTÃ O
130José Simões de Carvalho, «Plano que representa porção do rio Solimões entre
as duas disputadas bocas mais occidentais do rio Japurá para a acordada demarcação
de limites (1785)», Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, Cartografia,
Casa da fnsua, 34-A.
131 AHU, Rio Negro, caixa 5, doc. 7, Oficio de Teodósio Constantino de Cher
mont a João Pereira Caldas, de 22 de Junho de 1782.
243
AS M U R A LH A S D O SERTÃ O
244
AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
eles Fernando Roxas e João da Silva, dois negros cujo título de capi-
tães-de-conquista os fazia sobressair dos índios e da tropa. Exerce
ram uma função indispensável no contacto com os habitantes dos
rios Cumiari, Apaporis, Iça e Japurá, falando, entre outras, as línguas
das etnias Miranha, Omágua e Mahuá, com quem Roxas tinha
vivido durante sete anos134. Quer um quer outro eram acusados de
serem escravos no Pará e, depois de procurarem refúgio durante
algum tempo na floresta, terem fugido para território espanhol135.
Conhecedores das línguas, usos e costumes de inúmeras etnias
de uma vasta área geográfica e usufruidores de um apoio incontes-
tado por parte dos chefes da expedição espanhola, estes indivíduos
eram acusados de secundar as práticas que faziam aos principais
com dádivas e aguardente, bem como de serem sérios rivais dos
intérpretes luso-brasileiros, ao fomentar guerrilhas interétnicas para
desalojar das suas povoações os índios afectos aos luso-brasileiros136
e ao aliciar indígenas que tencionavam descer para território portu
guês a mudar para terras espanholas137. Paralelamente, os luso-brasi
leiros eram acusados de irregularidades semelhantes.
O intérprete teve uma função primordial nos contactos in-
terétnicos ocorridos na Amazônia em finais do século xviii. A sua
actuação repercutiu-se quer em aspectos de natureza demográfica e
colonizadora quer de cariz científico e estratégico. É que se, por um
lado, interferiu na transferência de grupos populacionais autóctones
para os núcleos povoadores luso-brasileiros, por outro, interveio no
melhor conhecimento de uma nova terra e de uma nova huma
nidade.
A importância que lhe era atribuída na Hispanoamérica encon
tra-se patente, por exemplo, no corpo legislativo que regulava a sua
função138. Em território luso-brasileiro, a sua interferência foi igual
mente relevante. Apesar disso, e tanto quanto conhecemos, não
134 AHU, Rio N egro, caixa 5, doc. 7, Ofício de Teodósio Constantino de Cher-
mont a João Pereira Caldas, de 22 de Junho de 1782.
135 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 1, Ofício de Henrique João Wilkens a João
Pereira Caldas, de 1 de Maio de 1784.
136 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 1, Ofício de Henrique João Wilkens a João
Pereira Caldas, de 16 de Abril de 1784.
137 AHU, Rio Negro, caixa 7, doc. 12, Ofício de Teodósio Constantino de Cher-
mont a João Pereira Caldas, de 8 de Julho de 1783; ibidem, caixa 7, doc. 1, Ofício de
Teodósio Constantino de Chermont, de 29 de Março de 1783.
138 Documentos sobre política linguística en H ispanoam érica, '1492-1800, compilação,
estudo preliminar e edição de Francisco de Solano, Madrid, Consejo Superior de
Investigaciones Científicas, Centro de Estudos Históricos, 1991.
245
«AS M U R A L H A S D O SE R T Ã O »
246
CAPÍTULO V
249
F O R M A S DE R E S I S T Ê N C I A
250
F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
A s s e m e n t e s da d isc ó rd ia
4 AHU, Rio Negro, caixa 4, doc. 3, Ofício de Pedro Maciel Parente a João Pereira
Caldas, de 20 de Agosto de 1781.
2 51
F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
5 Janet M. Chernela, The W anano In dian s o f the Brazilian Am azon: a sense o f space,
Austin, University of Texas Press, 1993, p. 31.
6 Ciro Flamarion Cardoso, Economia e sociedade em á r e a s coloniais periféricas.
G u ian a Francesa e P a rá , p. 58.
7 Stuart B. Schwartz, «The formation of a Colonial Identity in Brazil», p. 30.
Veja-se ainda a divergência de posições entre Manuel Nunes Dias, «Conquista e colo
nização da Amazônia no século X V III», in Portugal no M undo, vol. v , pp. 238 e ss. e Ciro
Flamarion Cardoso, Economia e sociedade em áre as coloniais periféricas..., pp. 108, 123
e ss. Esta questão foi abordada no capítulo I «A promoção de ameríndios a vassalos:
as contradições da liberdade».
252
F O R M A S DE R E S I S T Ê N C I A
253
F O R M A S DE R E S I S T Ê N C I A
13 AHU, Pará, caixa 112 (827), Petição de Simeão, Jacari e Veríssimo requerendo
ao governador que autorize a sua saída para outra povoação, s/d; ibidem, Petição de
Inácio Monderá solicitando a substituição do vigário ou a autorização da transferên
cia do principal e sua família para outra povoação, s/d.
14 AHU, Pará, caixa 29 (745), Representação dos moradores de Borba-a-Nova
pedindo que se instaurasse uma devassa à acção do director por ministro compe
tente, s/d [ant. 1769].
15 AHU, Pará, caixa 29 (745), Ofício de João de Amorim Pereira a Francisco
Xavier Mendonça Furtado, s/d [ant. 1769].
16 AHU, Pará, caixa 44 (758), Ofício de José Justiniano de Oliveira Peixoto a
Martinho de Melo e Castro, s/d.
254
F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
17 AHU, Rio Negro, caixa 8, doe. 6, Protesto de João Baptista Mardel a D. Fran
cisco de Requena, de 13 de Junho de 1784; ibidem, Ofício de Francisco Xavier de Aze
vedo Coutinho a João Baptista Mardel, de 12 de Julho de 1784; ibidem, Participação
sobre a tentativa de violação de uma índia, mulher do morador Ascenço Rodrigues
Chaves, de 29 de Julho de 1784.
18Ciro Flamarion Cardoso, Economia e sociedade em áreas coloniais periféricas..., p. 145.
19 AHU, Rio Negro, caixa 4, doc. 3, Ofício de Pedro Maciel Parente a João Pereira
Caldas, de 20 de Agosto de 1781.
20 APEP, códice 116, doc. 10, Oficio de Antônio José Pestana e Silva a Joaquim
Tinoco Valente, de 15 de Janeiro de 1771.
21 ANRJ, códice 99, vol. 5, fl. 110, Petição de 24 índios do lugar de Azevedo
queixando-se que fazia quatro anos não eram remunerados pela apanha de cravo,
doc. de 1780.
255
F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
22 AHU, Rio Negro, caixa 11, doc. 8, Ofício de João Baptista Mardel a João Pereira
Caldas, de 20 de Agosto de 1785; ibidem, does. 6 e 7, Ofício de Miguel Arcanjo a João
Bernardo Borralho, de 8 de Outubro de 1785; ibidem, caixa 10, doc. 5, Ofício de
Manuel Carvalho dos Santos a Marcelino José Cordeiro, de 21 de Maio de 1785.
23 AHI, 340/04/02, doc. 45, Ofício de João Bemardes Borralho a João Pereira Cal
das, de 29 de Maio de 1787.
24 AHU, Rio Negro, caixa 14, doc. 21, Ofício de Henrique João Wilkens a João
Pereira Caldas, de 13 de Março de 1787.
25 AHI, 340/04/02, Ofício de João Bemardes Borralho a João Pereira Caldas, de
9 de Janeiro de 1788; AHU, Rio Negro, caixa 17, doc. 6, Ofício de Henrique João Wil
kens a João Pereira Caldas, de 20 de Janeiro de 1789; Pará, caixa 22 (742), Ofício de
Francisco de Sousa Coutinho a D. Maria I, de 22 de Março de 1791.
256
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26 AHU, Rio Negro, caixa 11, doc. 6 e 7, Ofício de Miguel Arcanjo a João Bernar-
des Borralho, de 8 de Outubro de 1785.
27 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 5, Ofício do Sargento Manuel Carvalho dos
Santos ao tenente Marcelino José Cordeiro, de 21 de Maio de 1785.
28 A. J. R. Russell-Wood, «The frontier concept: its past, present and future
influence», p. 29.
29 Para avaliar o que sertão significava para europeus e índios do Brasil, veja-se
ibidem, pp. 37-38.
257
F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
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F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
colonization, to live in dispersed and small comunities, and to be adept at the techni-
ques of seminomadic living and guerrilla warfare», in «Spanish captives in Indian
societies: cultural contact along the Argentine frontier, 1600-1835», in Hispanic Ameri
can Historical Review, 72 (1), 1992, pp. 74-75. Consequências de outra natureza são pon
deradas em Carlos Lazaro Avila, «Un freno a la conquista: la resistência de los cacacaz-
gos indígenas americanos en la bibliografia historico-antropologica», pp. 605-606.
33 AHU, Pará, caixa 52 (766), Ofício do Conde de Arcos ao Visconde da Anadia
comunicando o provimento de José Joaquim Vitorio da Costa no lugar de Intendente
da Marinha, de 15 de Dezembro de 1803.
34 Para uma referência iconográfica, veja-se «Brasil: sinais de culturas desapareci
das ou em vias de extinção», in Nas vésperas do mundo moderno. Brasil, dirigido por Jill
Dias, pp. 230 e ss.; M. L. Rodrigues Areia, Maria Armanda Miranda, Tekla Hartmann,
Memória da Amazônia. Alexandre Rodrigues Ferreira e a Viagem philosophica pelas capita
nias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, 1783-M9Z, Coimbra, Museu e
Laboratório Antropológico, Universidade de Coimbra, 1991; e Alexandre Rodrigues
Ferreira, Viagem Filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e
Cuiabá, Iconografia, vol. 2, s/1, Conselho Federal de Cultura, 1971; AHU, Pará, caixa
19 (736 H), Ofício de Frei João de S. José Queirós a Sebastião José de Carvalho e
Melo, de 8 de Novembro de 1760.
35 Por exemplo, ao considerarem as brincadeiras infantis como uma forma de
preparação para a vida adulta, os Mura ensinavam os seus filhos desde muito jovens
a construírem e usarem arcos e flechas (Adélia Engrácia de Oliveira e Ivelise Rodri
gues, «Alguns aspectos da ergologia Mura-Parahã», in Boletim do Museu Paraense Emílio
Goeldi, Antropologia, Nova Série, vol. 65, Janeiro de 1977, p. 30.
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A g e o g r a fia da r e sistê n c ia
48 AHU, Rio Negro, caixa 18, doc. 4, Ofício de Nicolau de Sá Sarmento a Manuel
Gama Lobo de Almada, de 17 de Fevereiro de 1790.
49 AHU, Rio Negro, caixa 17, doc. 6, Ofício de Antônio Carlos da Fonseca Couti
nho a João Pereira Caldas, de 27 de Maio de 1790.
50 AHU, Rio Negro, caixa 17, doc. 6, Ofício de Antônio Vieira Correia da Maia a
João Pereira Caldas, de 21 de Fevereiro de 1789.
51 AHU, Rio Negro, caixa 11, doc. 8, Ofício de João Baptista Mardel a João Pereira
Caldas, de 20 de Agosto de 1785.
263
FO RM AS DE R ESISTÊN C IA
52 Este grupo, como adiante veremos com mais detalhe, foi utilizado pelos luso-
-brasileiros como mercenários na pacificação de outras etnias ameríndias.
53 William Balée, Footprints of the forest. Ka'apor Ethnobotany..., p. 113. O autor
afirma que: «with the Conquest, respiratory and other diseases from the Old World
and subsequent severe depopulation thus pushed some sedentary groups into the
more nomadic lifestyles of hunter-gatheres or trekkers — or put an end to them al-
together as unique societies».
264
F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
1. F o rm a s de re s is tê n c ia em áreas
de c o lo n iz a ç ã o im p la n ta d a
54 APEP, códice 103, doc. 71, Petição da índia D. Mariana de Saldanha ao gover
nador do Estado contra os maus tratos do director da vila de Tomar, de 24 de Julho
de 1770.
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cunhado de Raimundo, que relatava uma actividade conjunta de Sousa Pinto, de José
Galvão, juiz das povoações anexas à fortaleza de S. Gabriel, e de José Gonçalves,
meirinho de Tomar (AHU, Pará, caixa 54 (769), Ofício de João de Matos a José Joa
quim Cordeiro, de 16 de Dezembro de 1805; ibidem, Ofício de João de Matos a José
Antônio Salgado, de 28 de Dezembro de 1806).
65 APEP, códice 103, doc. 71, Petição da índia D. Mariana de Saldanha, de 24 de
Julho de 1770.
66 AHU, Pará, caixa 24 (739 D), Oficio de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 2 de Novembro de 1762.
67 AHN, códice 99, vol. 1, fls. 128 e ss., Certidão de Manuel Alves Bandeira,
escrivão da ouvidoria-geral e liberdades de Belém atestando que no juízo correram os
autos de liberdade do canarim Antônio de Sequeira, indeferidos pela Junta das Mis
sões, de 13 de Maio de 1767.
68 AHU, Pará, caixa 24 (739 D), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado sobre D. Frei João de S. José Queirós, de 2 de
Novembro de 1762.
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75 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 4, Ofício de Manuel Gama Lobo de Almada a
João Pereira Caldas, de 18 de Março de 1785.
76 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 1, Ofício de João Pereira Caldas a Manuel da
Gama Lobo de Almada, de 8 de Abril de 1785.
77 AHU, Rio Negro, caixa 11, doc. 5, Ofício de Manuel Carvalho dos Santos a
Marcelino José Cordeiro, de 21 de Agosto de 1785.
78 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 1, Ofício de Marcelino José Cordeiro a João
Pereira Caldas, de 17 de Março de 1785; ibidem, doc. 1, Ofício de Marcelino José Cor
deiro a João Pereira Caldas, de 27 de Março de 1785.
79 AHU, Rio Negro, caixa 11, doc. 11, Ofício de João Pereira Caldas a Martinho
de Melo e Castro, de 29 de Dezembro de 1785.
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82 AHU, Rio Negro, caixa 4, doe. 3, Ofício de Pedro Maciel Parente a João Pereira
Caldas, de 20 de Agosto de 1781; para uma informação mais detalhada, veja-se Nádia
Farage, As muralhas do sertão. ..,p p . 131 ess.
83 AHU, Rio Negro, caixa 5, doc. 3, Ofício de Pedro Maciel Parente a João Pereira
Caldas, de 21 de Agosto de 1781.
84 AHU, Rio Negro, caixa 4, doc. 3, Ofício de Pedro Maciel Parente a João Pereira
Caldas, de 7 de Novembro de 1781.
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85 AHU, Rio Negro, caixa 3, doc. 10, Ofício de Martinho de Melo e Castro a João
Pereira Caldas, de 7 de Julho de 1783.
36 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 1, Ofício de João Pereira Caldas ao comandante
da fortaleza de S. Joaquim do rio Branco, de 28 de Fevereiro de 1784; ibidem, doc. 1,
Bando lançado ao som de caixas por João Pereira Caldas em nome de D. Maria I,
estabelecendo o perdão geral aos índios revoltosos do rio Branco, de 28 de Fevereiro
de 1784; também em IHGB, lata 280, pasta 10, doc. 15.
87 Veja-se John Hemming, Roraim a: B razil's northemmost frontier, Londres, Institut
of Latin American Studies, 1990, pp. 2-4; idem, «How Brazil acquired Roraima», in
H ispanic American H istorical Review, vol. 70 (2), 1990, p. 318.
88 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 6, Ofício de João Bernardes Borralho a João
Pereira Caldas, de 17 de Agosto de 1784; ibidem, caixa 10, doc. 7, Ofício de João Ber
nardes Borralho a João Pereira Caldas, de 18 de Fevereiro de 1785.
89 AHU, Rio Negro, caixa 9, doc. 1, Ofício de João Pereira Caldas a João Bemar-
des Borralho, de 28 de Fevereiro de 1784.
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94 AHU, Rio Negro, caixa 18, doc. 4, Ofício de Leonardo José Ferreira a Manuel
Gama Lobo de Almada, de 2 de Abril de 1790.
95 AHU, Rio Negro, caixa 18, doc. 4, Ofício de Manuel Gama Lobo de Almada
aos directores das povoações onde foram realojados os índios do rio Branco, de 14 de
Maio de 1794.
96 AHU, Rio Negro, caixa 18, doc. 4, Ofício de Manuel Gama Lobo de Almada a
Martinho de Melo a Castro, de 9 de Dezembro de 1790.
97 AHU, Rio Negro, caixa 18, doc. 4, Ofício de Manuel Gama Lobo de Almada ao
comandante do rio Branco, de 9 de Junho de 1790.
98 John Hemming, «How Brazil acquired Roraima», pp. 321-322; para uma pers
pectiva da ocupação do vale do rio Branco, veja-se, também, Nádia Farage e Paulo
Santilli, «Estado de sítio: territórios e identidades no vale do rio Branco», in História
dos índios do Brasil, organizada por Manuela Carneiro da Cunha, pp. 267 e ss.
277
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« F e r o z e s , in d o m á v e is e fo r m id á v e is » :
M u ra e M u n du ru cú
102 AHU, Rio Negro, caixa 19, doc. 1, Ofício de Manuel da Gama Lobo de
Almada a D. Francisco Maurício de Sousa Coutinho, de 23 de Novembro de 1793;
ibidem, caixa 15, doc. 8, Ofício de João Henrique Wilkens a João Pereira Caldas, de 7
de Dezembro de 1787.
279
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103AHU, Rio Negro, caixa 1, doc. 44, Ofício de Joaquim Tinoco Valente e Fernando
da Costa de Ataíde Teive, de 24 de Julho de 1764; APEP, códice 104, doc. 35, Ofício de
Belchior Henrique a Fernando da Costa de Ataíde Teive, de 2 de Março de 1770.
104 AHU, Rio N egro, caixa 1, doc. 44, de 24 de Julho de 1764.
105 APEP, códice 113, doc. 44, Ofício de José Henriques da Costa e Almeida a
João Pereira Caldas, de 20 de Abril de 1774; AHU, Rio N egro, caixa 7, doc. 1, Ofício de
Custódio Matos Pimpim, director de Olivença, a Teodósio Constantino de Cher-
mont, de 26 de Fevereiro de 1783.
106 Miguel Menéndez, «Uma contribuição para a etno-história da área Tapajós-
-Madeira», in Revista do M u se u Paulista, vol. 28, nova série, 1981-1982, pp. 322 e 333;
veja-se também «A área Madeira-Tapajós: situação de contato e relações entre coloni
zador e indígena», in H istória dos índios do Brasil, organizada por Manuela Carneiro da
Cunha, pp. 281 e ss.
107 Ibidem, p. 353.
280
_
F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
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113 Entre esses grupos salientem-se outros Mura do rio Madeira e Juruá e as
etnias Irury, Chumana, Curetú, Cueruna e Taboca. Ambrósio teve, ainda, um papel
fundamental na pacificação dos Mura (AHU, Rio Negro, caixa 15, doc. 8, Ofício de
Henrique João Wilkens a João Pereira Caldas, de 7 de Dezembro de 1787; ibidem,
caixa 17, doc. 6, Ofício de Henrique João Wilkens a João Pereira Caldas, de 4 de
Março de 1789; «Notícias da voluntária reducção de paz e amizade da feroz nação do
gentio Mura nos annos de 1784, 1785 e 1786», in Revista do Instituto Histórico e G eográ
fico Brasileiro, tomo xxxvi, 1873, pp. 331 e ss.; Marta Rosa Amoroso, «Corsários no
caminho fluvial: os Mura do rio Madeira», in História dos índios do Brasil, pp. 306-307).
1,4 AHU, Rio N egro, caixa 11, doc. 2, Ofício de João Baptista Mardel a João
Pereira Caldas, de 26 de Julho de 1785.
115 Veja-se, por exemplo, o interessante artigo de Susan Migden Socolow, «Spa-
nish captives in Indian societies: cultural contact along the Argentine frontier, 1600-
-1835», in H ispanic American H istorical Review, 72 (1), 1992, pp. 73 e ss., onde a autora
aponta a existência de espanhóis capturados durante as guerras como escravos das
etnias ameríndias vencedoras, bem como de mulheres espanholas com famílias ame
ríndias que preferiam viver entre os captores do que tornar à «civilização».
116 AHU, Rio N egro, caixa 15, doc. 8, Ofício de Henrique João Wilkens a João
Pereira Caldas, de 26 de Novembro de 1787.
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285
r
FO RM AS DE R ESISTÊN C IA
ram a fazer, na década de 80, aos grupos Mura. Este era um motivo
frequentemente invocado pelos principais que se pretendiam seden-
tarizar e, por vezes, relatado pelos contingentes Mura já aldeados128.
De facto, nas povoações recém-fundadas encontravam-se vestígios
da presença de Mundurucú e Jumá, «estes comendo e aquelles dego
lando»129. Em 1786 noticiou-se o cerco de Borba pelos Mundurucú e,
no ano seguinte, Jumás atacaram os Mura de Airão130. Em 1789
dava-se conta de novos ataques mundurucú a Piraquequara, à aldeia
do rio Guatazes e a morte de algumas mulheres em ambas as po
voações. Esta actividade mundurucú explicava-se como sendo de
retaliação a uma emboscada mura131. Autores contemporâneos,
como Adélia Engrácia de Oliveira e Ivelise Rodrigues, afirmam que
outras causas para a pacificação Mura consistiriam no facto de se
sentirem afectados por «expedições punitivas, adopção de traços
alienígenas e epidemias como sarampo e bexiga»132.
Aos Mura pacificados substituíram-se, nos anos 80 e 90 de Sete
centos, os Mundurucú. As informações que dispomos sobre esta
etnia são escassas por comparação com a que temos para os Mura.
Surgem como um grupo numeroso, composto por alguns milhares
de indígenas, vocacionado para o ataque de outros grupos étnicos e
com capacidade para exercerem esta actividade por quase toda a
margem direita do rio Amazonas.
Assim, em 1786, deram início às investidas contra povoados
mura no rio Madeira e cercaram Borba; dois anos mais tarde, ti
nham causado grandes estragos na povoação de Alter-do-Chão e
nas roças circundantes e atacaram Alvelos133. Nos anos seguintes
128 AHU, Rio N egro, caixa 12, doc. 15 A, s/d [cerca 1786],
129 Ibidem.
130 AHU, Rio N egro, caixa 12, doc. 20, Ofício do comandante de Borba a João
Pereira Caldas, de 26 de Novembro de 1786; ibidem, caixa 14, doc. 19, Carta de frei
José da Conceição a João Pereira Caldas, de 7 de Agosto de 1787.
131 AHU, Rio N egro, caixa 17, doc. 6, Ofício de João Pedro da Costa a João Pereira
Caldas, de 26 de Fevereiro de 1789; ibidem, doc. 6, Ofício de Antônio Vieira Correia da
Maia a João Pereira Caldas, de 1 de Abril de 1789; ibidem, Ofício de Antônio Carlos
da Fonseca Coutinho a João Pereira Caldas, de 27 de Maio de 1789.
132 Adélia Engrácia de Oliveira e Ivelise Rodrigues, «Alguns aspectos da ergolo-
gia Mura-Pirahã», p. 7; também em Adélia Engrácia de Oliveira, «A terminologia de
parentesco Mura-Pirahã», in Boletim do M u se u P araen se Emílio Goeldi, Antropologia,
Nova Série, 66, Fevereiro de 1978, p. 4.
133 AHU, Rio N egro, caixa 17, doc. 6, Ofício de Henrique João Wilkens a João
Pereira Caldas, de 20 de Janeiro de 1789; BNRJ, 7-3-30, Ofício de Martinho de Sousa
e Albuquerque a Martinho de Melo e Castro, de 17 de Agosto de 1788.
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F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
134 Ibidem, Ofício de Antônio Vieira Correia da Maia a João Pereira Caldas, de 21
de Fevereiro de 1789.
135 Ibidem, caixa 19, doc. 1, Ofício de Manuel da Gama Lobo de Almada a
D. Francisco de Sousa Coutinho, de 18 de Fevereiro de 1794.
136 Ibidem, Ofício de D. Francisco de Sousa Coutinho a Manuel da Gama Lobo
de Almada, de 31 de Julho de 1794.
137 BNRJ, 7-3-30, Ofício de D. Francisco de Sousa Coutinho a Martinho de Melo
e Castro, de 15 de Agosto de 1794.
138 AHU, Rio Negro, caixa 19, doc. 1, Ofício de Manuel da Gama Lobo de
Almada a D. Francisco de Sousa Coutinho, de 18 de Fevereiro de 1784; BNRJ, 7-3-30,
de 15 de Agosto de 1794.
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A lia n ç a s e m te m p o de g u e rra e de p a z
143 AUC, Colecção Conde de Arcos, VI-3.° 1-1-28, fls. 11 a 15, Ofício do conde de
Arcos a João Bemardes Borralho, de 25 de Outubro de 1803; AHU, P a rá , caixa 54
(766), Ofício do conde de Arcos ao visconde de Anadia, de 27 de Outubro de 1803.
144 Miguel Menéndez, «Uma contribuição para a etno-história...», pp. 358 e 361.
145Para uma comparação com as alianças hispano-americanas e as sociedades amerín
dias dos Andes, veja-se Steve J. Stem, «The rise and fali of Indian-White alliances: a regional
view of “Conquest” History», in Hispanic American Histórica!Review, 61 (3), 1981, pp. 461 e ss.
289
F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
146 BNRJ, 11-2*11, Breve narração do que tem sucedido na missão dos Gamelas
desde o anno de 1751 a 1753 pelo padre Antônio Machado.
147 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 7, Ofício de João Baptista Mardel a João
Pereira Caldas, de 15 de Março de 1785.
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F O R M A S DE R E S IS T Ê N C IA
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F O R M A S DE R E S I S T Ê N C I A
152 AHU, Rio Negro, caixa 15, doc. 8, Ofício de João Henrique Wilkens a João
Pereira Caldas, de 26 de Novembro de 1787.
153 AHU, Rio Negro, caixa 19, doc. 1, Ofício de D. Francisco de Sousa Coutinho a
Manuel da Gama Lobo de Almada, de 29 de Agosto de 1793.
154 Manuela Carneiro da Cunha, «Introdução a uma história indígena», in Histó
ria dos índios do Brasil, p. 18.
155 AHU, Pará, caixa 52 (766), Ofício de Joaquim José Máximo a D. Francisco de
Sousa Coutinho, de 11 de Março de 1803.
156 AHU, Pará, caixa 52 (766), Ofício de Joaquim José Máximo a D. Francisco de
Sousa Coutinho, de 7 de Janeiro de 1803.
292
F O R M A S DE R E S I S T Ê N C I A
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294
F O R M A S DE R E S I S T Ê N C I A
164 Esta questão foi já abordada em devida altura, no capítulo iii «Em cumpri
mento do real serviço: o reordenamento do território e a integração dos índios».
295
C A P Í T U L O VI
A C O N S T R U Ç Ã O DE IMAGENS
DEFINIÇÕES DE AMERÍNDIOS
NOS D IS C U R S O S COLONIAIS
Todas as monarquias europeias com domínios coloniais em
continente americano estabeleceram uríía correspondência entre a
visão que tinham dos índios e o discurso que sobre eles construí
ram, tomasse este discurso a forma de diploma jurídico, de determi
nação régia, de atitude política local ou, simplesmente, de contacto
directo entre colonos e indígenas. Esta afirmação é, consequente
mente, válida para o caso português e, de forma mais específica,
para o discurso colonial que foi construído para a Amazônia da
segunda metade de Setecentos. As atitudes dos luso-brasileiros em
relação aos índios foram, portanto, determinadas pela concepção
que deles tinham.
Mas estes procedimentos foram também definidos pelo que as
sociedades europeias, reinóis e coloniais pensavam de si próprias.
Em pleno século xvm, Portugal, tal como qualquer país europeu, par
tia do pressuposto da superioridade da sua civilização sobre todas
as outras e acreditava que a sua finalidade última consistia em
difundir junto de ameríndios, africanos, asiáticos as «luzes da ra
zão». E, por isso, a intervenção do Estado Português junto das socie
dades ameríndias era legítima porque pretendia transformar povos
bárbaros em civilizados, porque aspirava a implantar nas colônias,
através da instauração de um sistema governativo esclarecido e da
religião católica, a felicidade dos súbditos, o bem-estar dos vassalos
e a salvação dos povos1.
Estes são alguns dos conceitos fundamentais, junto com os de
«humanidade», progresso, prosperidade e bem comum, para se
compreenderem muitas das medidas políticas, econômicas, sociais e
«filantrópicas» tomadas pelo Estado Português já consideradas neste
estudo.
A questão que se coloca é a de que a imagem que o discurso
colonial construiu acerca dos ameríndios da bacia hidrográfica ama-
1 Veja-se, por exemplo, Eugênio dos Santos, «A civilização dos índios do Brasil
na transição das Luzes para o Liberalismo: uma proposta concreta», in Mare Liberum,
n.° 10, 1995, pp. 205 e ss.
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A C O N S T R U Ç Ã O DE IM A G E N S
O E sta d o a b s o lu tis ta e o s p r in c íp io s
e s s e n c ia is à g o v e r n a ç ã o d o s s ú b d ito s :
u m a n o v a v is ã o d o s a m e r ín d io s
ann
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
3 Colin MacLachlan, S p a in 's Empire in the N ew World. The role o f id eas in institu-
Berkeley, Los Angeles e Londres, University of Califórnia Press,
tional a n d social change,
1988, p. 67.
4 Ibidem, p. 123.
5 Zília Osório de Castro, «Poder régio e os direitos da sociedade. O “Absolu-
tismo de Compromisso” no reinado de D. Maria I», in Ler História, 23, 1993, p. 13.
6 Sobre estas noções, veja-se, por exemplo, Peter Gay, The Enlightenment: an inter-
pretation. The Science o f Freedom, New York e Londres, W. W. Norton & Company,
1977, pp. 3 e ss.
7 Ibidem, p. 341.
8 Raúl Alcides Reissner, E l indio en los diccionários. E xegesis léxica de un estereotipo,
México, Instituto Nacional Indígena, 1983, pp. 93 e 103.
301
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
302
A CONSTRUÇÃO de im a g e n s
13 Idem, Colecção Pombalina, códice 626, Eis. 7 e ss., Instruções régias a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, de 30 de Maio de 1751.
14 Carta de Sebastião José de Carvalho e Melo a Francisco Xavier de Mendonça
Furtado, de 15 de Maio de 1753, in João Abel da Fonseca, «A propósito do tratado de
limites...», p. 296.
15 De acordo com esta noção, a contestação das decisões reais era ofensa a Deus
e os soberanos deviam usufruir do respeito de todas as nações do mundo e do apoio
incontestável dos seus súbditos. Por isso, a inobservância das ordens do monarca
sobre a liberdade dos índios ou o pronunciamento de alguns moradores do Pará con
tra o rei e o seu ministro Mendonça Furtado eram considerados crimes contra o
Estado e a religião (AHU, Rio Negro, caixa 2, doc. 1, Carta de frei Jerónimo de Jesus
Maria a frei José de Santa Úrsula, de 28 de Setembro de 1768).
303
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304
A C O N S T R U Ç Ã O DE IM A GE NS
305
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
25 AHU, Conselho Ultramarino, códice 336, fls. 53v-65, Carta régia sobre as provi
dências a tomar para se evitar o estado de ruína em que se encontrava o Estado do
Grão-Pará, de 6 de Junho de 1755.
26 Idem, Pará, caixa 44 (758), Ofício de frei Caetano Brandão a Martinho de
Melo e Castro, de 14 de Janeiro de 1786.
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A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
27 AHU, Pará, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 4 de Maio de 1761.
28 A citação refere-se aos presos nas revoltas do rio Negro em 1757 (AHU, Pará,
caixa 19 (739 H), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Tomé Joaquim da
Costa Corte-Real, de 30 de Julho de 1759.
29 Foi, por exemplo, o caso do principal D. Francisco de Sousa que, devassado
pelo vigário da Vigia, foi preso. Demorou-se-lhe o livramento e prisão porque não
tinha dinheiro com que pagar as exorbitantes custas dos autos (AHU, Pará, caixa 24
(739 D), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Francisco Xavier de Men
donça Furtado sobre os abusos de D. Frei João de S. José Queirós, de 2 de Novembro
de 1762).
30 Ibidem, caixa 21 (739 I), Ofício de Manuel Bernardo de Melo e Castro a Fran
cisco Xavier de Mendonça Furtado, de 4 de Julho de 1761.
307
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
31J. Leichner, «El concepto de «polida» y su presenda en las obras de los prirae-
ros historiadores de índias», in Revista de índias, XLI (165-166), 1981, p. 408. Con
fronte-se este conceito com a definição que dele dá Pierangelo Schiera, «A “polícia”
como síntese de ordem e de bem-estar no moderno Estado centralizado», in Antônio
Manuel Hespanha, Poder e instituições na Europa do Antigo Regime, pp. 309 e ss.
32 René Ortiz Caballero, «Consenso de comunidad...», p. 92.
308
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
seus filhos e descendentes serão hábeis para quaisquer postos pode enten-
der-se, portanto, como uma medida protectora da coroa no sentido
de defender os súbditos ameríndios do rei fidelíssimo33. Ao equipa
rar e favorecer os casamentos entre luso-brasileiros e ameríndias, as
determinações régias não só favoreciam a miscigenação como pro
tegiam as mulheres da violência ou abandono dos maridos34. E, ao
mesmo tempo, instavam a que os europeus vissem com outros
olhos os índios, já não considerados como infamantes, mas como
um veículo de ascensão social e de obtenção de benefícios.
Mais uma vez, é interessante notar que, se durante a primeira
metade do século xviii se tentava por todos os meios evitar e proibir
a existência de contactos entre luso-brasileiros leigos e ameríndios,
em período imediatamente subsequente as instituições passaram a
incentivar permanências, casamentos e descendência. Os hábitos
que, até então, eram reprovados pela Igreja e punidos pelo rei passa
ram a ser incentivados pela legislação real, conquanto fossem con
trolados e usados para fortalecimento do poder soberano.
Assim, as ligações com ameríndias foram desaprovadas pelas
instituições enquanto as entidades administrativas viram nestes
«casamentos» uma formalização dos pactos entre luso-brasileiros e
índios e, assim, uma forma de fortalecer indivíduos e etnias. Desta
forma, em 1752, uma carta régia estipulava punições para os homens
brancos que, vivendo dispersos pelos sertões, se servissem do
hábito de «cunhamenas», isto é, pedissem e aceitassem dos princi
pais as filhas e parentes a título de mulheres35. Na mesma época,
também o desagrado manifestado na legislação em relação às alian
ças entre indivíduos dos dois grupos étnicos era extensível às ordens
religiosas. Antes de mais, porque a coabitação de indivíduos dos
dois sexos sem a aprovação da Igreja era considerada pecado mortal;
e, depois, porque a miscigenação era tida como algo indigno,
estando associada à falta de boa criação, à laxidão e à liberdade
sexual e de costumes. Por isso, o padre Aleixo Antônio protestava
junto do padre João de Gusmão no sentido de desaprovar a entrada
de indivíduos com sangue índio para a Companhia: «e para que nos
havemos de sujar se ainda nos achamos limpos? [...] e para que nós
309
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
36 AHU, P a rá , caixa 18 (739 F), Carta do padre Aleixo Antônio ao padre João de
Gusmão, de 3 de Outubro de 1755. Em um dos seus estudos sobre a presença jesuíta
no Norte brasileiro, Dauril Alden afirmava que «Although Jesuits devoted unrelenting
efforts to protect and convert the Amerindians, not even Antônio Vieira, the best
known Jesuit of the Portuguese Atlantic world during the seventheenth century, ever
advocated their admition to the Society nor for that matter, did any spokesman of
any other Order in Brazil or elsewhere in the Américas» (The m aking o f an elite entre-
frise : the Je su its in the Portuguese assistancy: ié th to i8th centuries, s/1, The Associates of
the James Ford Bell Library, University of Minnesota, 1992, p. 10).
37 Esta exigência era feita unicamente ao pai luso-brasileiro (BNRJ, I-3T28-41
n.° 1, Instrução ao tenente Diogo Antônio de Castro sobre o estabelecimento de
Borba-a-Nova, de 6 de Janeiro de 1756); é claro que uma coisa é o que se legisla e
outra o que se cumpre. Assim, em 1755, e não obstante o rei ter demonstrado von
tade em conceder a uns principais índios, que o visitavam em Lisboa, um hábito de
uma ordem militar, as instituições centrais foram do parecer que tal distinção se não
fizesse por se considerar que estes vassalos estavam ainda muito sáfaros e destituídos
de meios para sustentar essa dignidade (AHU, Conselho Ultramarino, códice 1214,
fls. 235-239, Carta do Marquês de Pombal a Francisco Xavier de Mendonça Furtado,
de 14 de Março de 1755).
38 AHU, Rio N egro, caixa 1, doc. 24, Ofício de Joaquim de Melo Póvoas a Tomé
Joaquim Corte-Real, de 20 de Janeiro de 1760; idem, P a rá , caixa 19 (739 H), Ofício de
Feliciano Ramos Nobre Mourão a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 10 de
Novembro de 1760.
39 AHU, P a rá , caixa 20 (739 G), Parecer de Luís Gomes de Faria e Sousa e de
Feliciano Nobre Ramos Mourão a uma consulta de Manuel Bernardo de Melo e Cas
tro sobre a fundação de seminários, de 11 de Novembro de 1760.
310
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40 AN/ i I, Manuscritos do Brasil, n.° 51, £1. 86v, Ofício de Francisco Xavier de
Mendonça Furtado a Manuel Bernardo de Melo e Castro, de 5 de Junho de 1761.
41 AHU, Pará, caixa 19 (739 H), Representação dos Perpétuos Oradores da
Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco a Francisco Xavier de Mendonça Fur
tado, de 11 de Setembro de 1760. As recusas assentavam, fundamentalmente, na falta
de bens.
42 A N /1 1, Manuscritos do Brasil, n.° 51, fls. 36v-37, Ofício de Francisco Xavier
de Mendonça Furtado a Martinho de Melo e Castro, de 19 de Junho de 1760; BNRJ,
11-32-17-1, Carta régia ao governador da capitania do Maranhão, de 19 de Junho
de 1770.
311
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
43 AHU, Rio Negro, caixa 3, doc. 10, Ofício de Martinho de Melo e Castro a João
Pereira Caldas, de 7 de Julho de 1783.
44 BNRJ, 7-3-30, Ofício de D. Francisco de Sousa Coutinho a Martinho de Melo
e Castro de 15 de Agosto de 1794.
45 AHU, Conselho Ultramarino, códice 209, fls. 270v-272v, Parecer do Conselho
Ultramarino sobre a representação feita pelos oficiais da câmara da vila da Vigia, de
19 de Maio de 1753. É interessante verificar que se a documentação refere que os
índios eram bárbaros, deixa também claro que os luso-brasileiros, apesar de o não
serem, podiam ter comportamentos bárbaros, expressos quer na rudeza e crueldade
com que tratavam os índios quer na adopção de costumes índios desapropriados,
como o de «cunhamenas» (AHU, Pará, caixa 110 (825), Carta régia proibindo o casa
mento de luso-brasileiros com mulheres indígenas, de 4 de Dezembro de 1752).
46 AHU, Conselho Ultramarino, códice 209, fl. 270v-272v, Parecer do Conselho
Ultramarino sobre a representação dos oficiais da câmara de Vigia, de 19 de Maio de
1753.
47 AHU, Pará, caixa 69 (784), Condições com que são concedidos aos particula
res os índios silvestres dos novos descimentos, de 1 de Julho de 1782.
48 AHU, Rio Negro, caixa 18, doc. 4, Instruções de Manuel da Gama Lobo de
Almada a Leonardo José Ferreira, de 1 de Fevereiro de 1790.
312
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
O E sta d o a b s o lu tis ta e a id e ia de p r o g r e s s o :
c iv iliz a ç ã o e a m e r ín d io s
49 AHU, P ará, caixa 41, Instruções de Manuel da Gama Lobo de Almada a Leo
nardo José Ferreira, de 16 de Junho de 1781.
50 Idem, Rio N egro, caixa 3, doc. 10, Ofício de Martinho de Melo e Castro a João
Pereira Caldas, de 7 de Junho de 1783.
51 Sobre esta noção, veja-se Fred W. Voget, «Progress, Science, history and evolu-
tion in eighteenth and nineteenth century Anthropology», in Jo u rn al o f the History o f
the Behavioral Sciences, vol. vni, 1967; Robert E. Bieder, Science encounters the Indian
182 0 -1 8 8 0 , The early years o f American Ethnology, s/l, The University of Oklahoma
Press, Norman e London, 1986, pp. 3-15.
52 Kenneth R. Maxwell, «Eighteenth century Portugal: faith and reason, tradition
and inovation during a Golden Age», in The A ge o f the Barrocjue in Portugal, editado por
Jay A. Levenson, Washington, The Nacional Gallery of Art, 1993, p. 111.
313
A C O N S T R U Ç Ã O DE IM A GE NS
314
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
57 Sobre as diferentes correntes europeias acerca dos índios no século xviii, veja-se o
estudo magistral de Anthony Pagden, European Encounters with the N ew World. From Renais-
sance to Romattticism, New Haven e Londres, Yale University Press, 1993; Margaret Sankey,
«François-Auguste Peron: le mythe de 1’homme sauvage et Fécriture de la Science», in
C ahiers de Sociologie Classique et Culturelle (9), Julho de 1988, pp. 38 e ss.; Fred W. Voget,
«Progress, Science, history and evolution in eighteenth and nineteenth century. Anthro-
pology», inJou rn al o f the History o f the Behavioral Sciences, vol. vrn, 1967, pp. 132 e ss.
56 Anthony Pagden, European Encounters with the N ew World. From Renaissance to
Romanticism, p. 14.
315
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
316
A C O N S T R U Ç Ã O DE I M A G E N S
317
A C O N S T R U Ç Ã O DE IM A G E N S
afirmava que entre índios e brancos não havia outras diferenças que
as climatéricas e de educação e Brito e Noronha defendia que a
legislação emanada tinha que considerar o carácter dos povos a que
se destinava e as dependências estabelecidas entre o seu estado
social e o clima65.
As noções implícitas de que o meio ambiente era determinante
no comportamento humano ou de que os homens, apesar das dife
renças «rácicas» ou «nacionais», pertenciam a uma mesma espécie e
eram igualmente capazes, revelavam que estes altos funcionários
estavam ao corrente da produção científica europeia sobre a história
natural da humanidade e que confrontavam esse conhecimento com
a situação deparada no Norte brasileiro66.
Tal como os cientistas e filósofos ingleses, norte-americanos,
espanhóis e franceses, estes luso-brasileiros que viveram e viajaram
no Estado do Grão-Pará da segunda metade de Setecentos conce
biam que o clima, a alimentação, as condições de vida e a organiza
ção social determinavam o nível civilizacional dos ameríndios67. Per
cebiam que o facto de os índios viverem próximo dos trópicos
condicionava o seu temperamento, a sua capacidade inventiva e a
sua habilidade para se organizarem socialmente. Mas a experiência
pessoal destes luso-brasileiros permitia-lhes afirmar que estes eram
também afectados por doenças, pela coacção dos contratadores,
pelo desmantelamento das famílias e pela opressão dos luso-brasi
leiros.
O discurso colonial indígena beneficiou, também, do envolvi
mento de algumas instituições de carácter científico, de que a mais
notória foi a Academia Real das Ciências. Assim, Maria Beatriz
Nizza da Silva, num seu estudo sobre o panorama científico nacio
nal, constatou que a «política a ser seguida em relação aos índios do
Brasil constituía ainda no fim do período colonial um tema de refle
65 AHU, Rio N egro, caixa 19, doc. 62, Parecer de Francisco Xavier Ribeiro de
Sampaio à carta régia de 19 de Maio de 1798 extinguindo o Directório, de 19 de Junho
de 1805; Conselho Ultramarino, códice 342, fls. 194-196v, Ofício de D. Francisco de
Sousa Coutinho sobre o sistema mais próprio para se civilizarem os índios do Pará,
de 22 de Novembro de 1797; Rio N egro, caixa 19, doc. 52, Parecer de D. Marcos de
Noronha e Brito sobre a aplicabilidade do alvará régio de 17 de Dezembro de 1802
aos índios do Norte do Brasil.
66 Sobre as correntes progressistas, veja-se Fred W. Voget, «Forgotten forerun-
ners of Anthropology», in Budenell Review, pp. 78 e ss.
67 Veja-se, por exemplo, Marisa González Montero de Espinosa, L a Ilustración y
el hombre americano. Descripciones etnológicas de Ia expedición M a la sp in a , Madrid, Con-
sejo Superior de Investigaciones Científicas, 1992, p. 31.
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73 AHU, Rio N egro, caixa 19, doc. 52, Parecer do procurador da Fazenda a um
parecer de Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio sobre a extinção do Directório, de 19 de
Junho de 1805.
74 Robert E. Bieder, Science encounters the In d ia n ..., p. 4; Jill R. Dias, «Divulgação
em Portugal do debate europeu sobre a Raça», p. 130.
75 José Bonifácio de Andrada e Silva, Apontam entos p a r a a civilização dos índios bár
baros do reino do Brasil, edição crítica de George C. A. Boehrer, Lisboa, Agência Geral
do Ultramar, 1963, pp. 49-51.
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I m a g e n s d e ín d io s e d is c u r s o c o lo n ia l
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- 1 7 9 2 , C o im b r a , M u s e u e L a b o r a t ó r io A n tr o p o ló g ic o , U n iv e r sid a d e d e C o im b r a ,
1 9 9 1 ; A A W , História dos índios do Brasil, o r g a n iz a ç ã o d e M a n u e la C a rn e iro d a C un ha,
S ã o P au lo , F a p e s p , C o m p a n h ia d a s L e tras, Se cre ta ria M u n ic ip a l d a C u ltu ra , 1992;
v e ja -se o a r tig o d e C h r istia n F. F eest, «T h e c o llectin g o f A m e ric a n a rtifa c ts in E urope
1 4 9 3 -1 7 5 0 », in America in European counsciousness, p p . 3 2 4 e ss.
86 A N /T T , M anuscritos do Brasil, n .° 5 1 , fl. 5 2 , O fíc io d e F ran cisco X a v ie r d e M e n
d o n ç a F u rta d o a M a n u e l B e rn a rd o d e M e lo e C a str o , d e 2 2 d e A b ril d e 1761.
87 A N R J, c ó d ic e 9 9 , v o l. 5 , fls. 1 1 8 e s s ., O fíc io d e M a t ia s Jo s é R ib e iro a M arti-
n h o d e M e lo e C a s tr o , d e 15 d e M a r ç o d e 1784.
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104 Ibidem, caixa 11, doc. 6 e 7, Ofício de Miguel Arcanjo de Bettencourt a João
Bemardes Borralho, de 8 de Outubro de 1785.
105 Ibidem, caixa 16, doc. 9, Ofício de João Pereira Caldas a Henrique João Wil
kens, de 6 de Fevereiro de 1787.
106 AHU, Pará, caixa 22 (742), Carta de Antônio, barão de Schonberg, à Con
dessa de Oeiras, de 24 de Novembro de 1761.
107 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 5, Ofício de Manuel Carvalho dos Santos a
Marcelino José Cordeiro, de 21 de Maio de 1785.
108 Ibidem, caixa 11, doc. 6, Ofício de Manuel da Gama Lobo de Almada a João
Pereira Caldas, de 13 de Setembro de 1785.
109 BNRJ, 1-28, 25, 30, Ofício de S. Francisco de Sousa Coutinho a D. Rodrigo de
Sousa Coutinho, de 20 de Setembro de 1797.
110 AHU, Rio Negro, caixa 10, doc. 5, Ofício de Manuel Carvalho dos Santos a
Marcelino José Cordeiro, de 21 de Maio de 1785.
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