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Documento: 1329601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/08/2014 Página 1 de 18
Superior Tribunal de Justiça
para a concretização desta. Portanto, parece necessário que os
princípios regentes dos direitos autorais sejam compatibilizados com
valores e outros institutos consagrados na estrutura constitucional, por
isso que penso competir ao Poder Judiciário intervir no negócio jurídico
privado - notadamente a cobrança dos direitos autorais -, quando
acionado, a fim de corrigir as distorções. É amparado nesse
entendimento que tenho sérias restrições quanto a poder aquele
Escritório Central cobrar os direitos autorais devidos em virtude de
execução pública de obra musical, calculados sobre o percentual da
riqueza produzida pelo responsável pela realização do evento.
6. Nessa ordem de idéias, a ressalva é para deixar claro que devem
ser levadas em conta as particularidades do caso concreto para saber
se, na situação em julgamento, há razoabilidade da cobrança e se os
valores pretendidos impedem ou inviabilizam a difusão cultural,
patrimônio de toda a nação brasileira. No entanto, não é o que se
verifica nos autos.
7. Esta Corte possui entendimento de que, em se tratando de direito
de autor, compete a este a sua fixação, seja diretamente, seja por
intermédio das associações ou, na hipótese, do próprio Ecad, que
possui métodos próprios para elaboração dos cálculos diante da
diversidade das obras reproduzidas, segundo critérios eleitos
internamente. Dessa forma, em regra, está no âmbito de atuação do
Ecad a fixação de critérios para a cobrança dos direitos autorais, que
serão definidos no regulamento de arrecadação elaborado e aprovado
em assembléia geral composta pelos representantes das associações
que o integram, e que contém uma tabela especificada de preços
(valores esses que deverão considerar "a razoabilidade, a boa-fé e os
usos do local de utilização das obras", conforme a nova redação
expressa no § 3° do art. 98 da Lei n. 9.610/1998). É firme a
jurisprudência desta Corte Superior no sentido de ser válida a tabela
de preços instituída pelo Ecad e seu critério de arrecadação.
8. Recurso especial provido.
ACÓRDÃO
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.160.483 - RS (2009/0191039-4)
RECORRENTE : ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
ECAD
ADVOGADA : KARINA HELENA CALLAI E OUTRO(S)
ADVOGADOS : ROSÂNGELA MARIA OLIVEIRA LOIOLA E OUTRO(S)
MÁRIO CAVALHEIRO FILHO E OUTRO(S)
RECORRIDO : FREE CARDS MÍDIA EM CARTÕES POSTAIS LTDA
ADVOGADO : ALOYCIO RUDIGER E OUTRO(S)
RELATÓRIO
Interpôs recurso especial o Ecad, com fundamento no art. 105, inciso III,
alíneas "a" e "c" da Constituição Federal, sustentando, além de dissídio jurisprudencial,
violação aos arts. 806 e 808, I, do CPC, bem como aos arts. 28, 29 e 68 e parágrafos da
Lei n. 9.610/1998.
Alega que o não ajuizamento da ação principal no prazo estipulado no art.
806 do Código de Processo Civil enseja extinção da ação cautelar.
Assevera que a sentença fixou os valores devidos a título de direitos
autorais com base em planilha unilateral de dados, sem considerar os valores e critérios
fixados pelo Ecad no regulamento de arrecadação.
Pugna seja declarada a perda da liminar e extinção do processo cautelar,
bem como seja julgada improcedente a ação principal; e fixados os valores devidos a
título de direitos autorais de acordo com o regulamento de arrecadação do Ecad.
Contrarrazões às fls. 340-348
Crivo de admissibilidade positivo às fls. 350-353.
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.160.483 - RS (2009/0191039-4)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
ECAD
ADVOGADA : KARINA HELENA CALLAI E OUTRO(S)
ADVOGADOS : ROSÂNGELA MARIA OLIVEIRA LOIOLA E OUTRO(S)
MÁRIO CAVALHEIRO FILHO E OUTRO(S)
RECORRIDO : FREE CARDS MÍDIA EM CARTÕES POSTAIS LTDA
ADVOGADO : ALOYCIO RUDIGER E OUTRO(S)
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. DIREITO AUTORAL. AÇÃO CAUTELAR.
ARTS. 806 E 808, I, CPC. PRINCIPIO DA CAUSALIDADE. AÇÃO DE
PRESTAÇÃO DE CONTAS. ECAD. TABELA. RESSALVA. VALIDADE.
1. "A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do
CPC acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do
processo cautelar" (Súmula 482 do STJ). O exame de precedentes da
súmula revela que o prazo para o ajuizamento da ação principal
conta-se da data da efetivação da medida liminar, e sua ausência
acarreta a extinção da ação cautelar sem julgamento de mérito.
Precedentes.
2. No caso concreto, a ação principal, distribuída por dependência ao
processo cautelar, foi ajuizada fora do prazo, uma vez que passados
quase cinco meses desde a efetivação da medida cautelar. Assim,
incabível decidir quanto ao mérito da cautelar e condenar o recorrente
ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
como fizeram as instâncias ordinárias. Quem deu causa à instauração
da ação cautelar foi a própria recorrida, que, em descumprimento ao
disposto nos artigos 28, 29 e 68 da Lei n. 9.610/1998, promoveu
evento musical com a apresentação de artistas, sem efetuar o prévio e
devido pagamento de direitos autorais ao Ecad.
3. Não há falar que o recorrente se recusou a receber a quantia, dando
azo à instauração da cautelar, porquanto não pode ser penalizado por
justificada resistência. Nos termos do art. 313 do Código Civil, o credor
não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida.
4. No processo civil, para se aferir qual das partes litigantes arcará
com o pagamento dos honorários advocatícios e das custas
processuais, deve-se atentar não somente à sucumbência, mas
também ao princípio da causalidade, segundo o qual a parte que deu
causa à instauração do processo deve suportar as despesas dele
decorrentes.
5. É mister realçar que mantenho entendimento firme no sentido de,
superada a visão unicamente privatística do direito autoral, a fim de
torná-lo vinculado necessariamente a seu fim social e aos princípios
constitucionais que lhe são inerentes - mormente o da dignidade da
pessoa humana -, muitas vezes impõe-se o abrandamento daquele
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para a concretização desta. Portanto, parece necessário que os
princípios regentes dos direitos autorais sejam compatibilizados com
valores e outros institutos consagrados na estrutura constitucional, por
isso que penso competir ao Poder Judiciário intervir no negócio jurídico
privado - notadamente a cobrança dos direitos autorais -, quando
acionado, a fim de corrigir as distorções. É amparado nesse
entendimento que tenho sérias restrições quanto a poder aquele
Escritório Central cobrar os direitos autorais devidos em virtude de
execução pública de obra musical, calculados sobre o percentual da
riqueza produzida pelo responsável pela realização do evento.
6. Nessa ordem de idéias, a ressalva é para deixar claro que devem
ser levadas em conta as particularidades do caso concreto para saber
se, na situação em julgamento, há razoabilidade da cobrança e se os
valores pretendidos impedem ou inviabilizam a difusão cultural,
patrimônio de toda a nação brasileira. No entanto, não é o que se
verifica nos autos.
7. Esta Corte possui entendimento de que, em se tratando de direito
de autor, compete a este a sua fixação, seja diretamente, seja por
intermédio das associações ou, na hipótese, do próprio Ecad, que
possui métodos próprios para elaboração dos cálculos diante da
diversidade das obras reproduzidas, segundo critérios eleitos
internamente. Dessa forma, em regra, está no âmbito de atuação do
Ecad a fixação de critérios para a cobrança dos direitos autorais, que
serão definidos no regulamento de arrecadação elaborado e aprovado
em assembléia geral composta pelos representantes das associações
que o integram, e que contém uma tabela especificada de preços
(valores esses que deverão considerar "a razoabilidade, a boa-fé e os
usos do local de utilização das obras", conforme a nova redação
expressa no § 3° do art. 98 da Lei n. 9.610/1998). É firme a
jurisprudência desta Corte Superior no sentido de ser válida a tabela
de preços instituída pelo Ecad e seu critério de arrecadação.
8. Recurso especial provido.
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VOTO
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editores, 2012. p. 555)
Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão
ser utilizadas obras teatrais, composições musicais ou lítero-musicais e
fonogramas, em representações e execuções públicas.
[...]
§ 4º Previamente à realização da execução pública, o empresário deverá
apresentar ao escritório central, previsto no art. 99, a comprovação dos
recolhimentos relativos aos direitos autorais. (grifo nosso)
Nem há falar, como fez a autora recorrida, que o Ecad se recusou a receber
a quantia, dando azo à instauração da cautelar, porquanto não pode o órgão arrecadador
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ser penalizado por justificada resistência.
Isso porque, nos termos do art. 313 do Código Civil, o credor não é obrigado
a receber prestação diversa da que lhe é devida.
3.2. Com efeito, no processo civil, para se aferir qual das partes litigantes
arcará com o pagamento dos honorários advocatícios e das custas processuais, deve-se
atentar não somente à sucumbência, mas também ao princípio da causalidade, segundo
o qual a parte que deu causa à instauração do processo deve suportar as despesas dele
decorrentes.
Sobre o tema, a lição clássica de Yussef Said Cahali, calcada no escólio de
Carnelutti:
[...] o princípio da causalidade responde justamente a um princípio de justiça
distributiva e a um princípio de higiene social . De um lado, é justo que aquele
que tenha feito necessário o serviço público da administração da Justiça lhe
suporte a carga; e, de outro lado, é oportuno, pois a previsão deste encargo
reage a uma contenção no sentido de se fazer o cidadão mais cauteloso.
[...]
Deve-se ter presente, contudo, que a idéia da causalidade não se dissocia
necessariamente da idéia da sucumbência. Quando se responde à indagação
singela a respeito de qual das partes terá dado causa ao processo, o
bom-senso sugere, imediatamente, a resposta: a parte que estava errada [...]
(In.: Honorários advocatícios . 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997,
p. 42-43.)
Documento: 1329601 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/08/2014 Página 1 3 de 18
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4.1. Nesse diapasão, é mister realçar que mantenho entendimento firme no
sentido de, superada a visão unicamente privatística do direito autoral, a fim de torná-lo
vinculado necessariamente a seu fim social e aos princípios constitucionais que lhe são
inerentes - mormente o da dignidade da pessoa humana -, muitas vezes impõe-se o
abrandamento daquele para a concretização desta.
Portanto, parece necessário que os princípios regentes dos direitos autorais
sejam compatibilizados com valores e outros institutos consagrados na estrutura
constitucional, por isso que penso competir ao Poder Judiciário intervir no negócio jurídico
privado - notadamente a cobrança dos direitos autorais -, quando acionado, a fim de
corrigir as distorções.
Ademais, é amparado nesse entendimento que tenho sérias restrições
quanto a poder aquele Escritório Central cobrar os direitos autorais devidos, em virtude
de execução pública de obra musical, calculados sobre o percentual da riqueza produzida
pelo responsável pela realização do evento.
Nessa ordem de idéias, a ressalva é para deixar claro que devem ser
levadas em conta as particularidades do caso concreto para saber se, na situação em
julgamento, há razoabilidade da cobrança e se os valores pretendidos impedem ou
inviabilizam a difusão cultural, patrimônio de toda a nação brasileira.
4.2. No entanto não é o que se verifica nos autos.
Não vislumbro, aqui, conflito relevante entre o interesse público na fruição
das obras e o privado, este representado pela retribuição econômica sobre o trabalho.
Nesse passo, esta Corte possui entendimento de que, em se tratando de
direito de autor, compete a este a sua fixação, seja diretamente, seja por intermédio das
associações ou, na hipótese, do próprio Ecad, que possui métodos próprios para
elaboração dos cálculos diante da diversidade das obras reproduzidas, segundo critérios
eleitos internamente.
Dessa forma, em regra, está no âmbito de atuação do Ecad a fixação de
critérios para a cobrança dos direitos autorais, que serão definidos no regulamento de
arrecadação elaborado e aprovado em assembléia geral composta pelos representantes
das associações que o integram, e que contém uma tabela especificada de preços
(valores esses que deverão considerar "a razoabilidade, a boa-fé e os usos do local de
utilização das obras", conforme a nova redação expressa no § 3° do art. 98 da Lei n.
9.610/1998).
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA. RECONVENÇÃO.
DIREITOS AUTORAIS. ECAD. EXECUÇÕES PÚBLICAS DE TRILHAS
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SONORAS DE FILMES. TABELA DE PREÇOS. LEGALIDADE.
LEGITIMIDADE DO ECAD PARA COBRANÇA.
(...)
2. Este Tribunal Superior já assentou ser válida a tabela de preços
instituída pelo ECAD.
3. (...)
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg nos EDcl no REsp 885.783/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/05/2013, DJe 22/05/2013)
4.3. Não obstante, quanto ao pleito para que seja a ora recorrida condenada
ao pagamento de direitos autorais, nos termos do regulamento de arrecadação do Ecad,
tal aqui não parece possível, pois o feito de origem consiste em uma ação de prestação
de contas, em que buscou a autora que suas contas fossem julgadas boas.
Nesse contexto, penso que o desfecho pleiteado pelo ora recorrente implica
decisão extra petita.
Ademais, noticiam os autos que há em curso ação de cobrança ajuizada
pelo Ecad, relativa aos mesmos fatos, sendo este o meio processual adequado para
obter o valor devido.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. LUCIANO MARIZ MAIA
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO ECAD
ADVOGADA : KARINA HELENA CALLAI E OUTRO(S)
ADVOGADOS : ROSÂNGELA MARIA OLIVEIRA LOIOLA E OUTRO(S)
MÁRIO CAVALHEIRO FILHO E OUTRO(S)
RECORRIDO : FREE CARDS MÍDIA EM CARTÕES POSTAIS LTDA
ADVOGADO : ALOYCIO RUDIGER E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Propriedade - Propriedade Intelectual / Industrial - Direito Autoral
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, para julgar
extinta a ação cautelar, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo (Presidente), Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira
e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator.
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