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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.160.483 - RS (2009/0191039-4)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


RECORRENTE : ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
ADVOGADA : KARINA HELENA CALLAI E OUTRO(S)
ADVOGADOS : ROSÂNGELA MARIA OLIVEIRA LOIOLA E OUTRO(S)
MÁRIO CAVALHEIRO FILHO E OUTRO(S)
RECORRIDO : FREE CARDS MÍDIA EM CARTÕES POSTAIS LTDA
ADVOGADO : ALOYCIO RUDIGER E OUTRO(S)
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. DIREITO AUTORAL. AÇÃO CAUTELAR.
ARTS. 806 E 808, I, CPC. PRINCIPIO DA CAUSALIDADE. AÇÃO DE
PRESTAÇÃO DE CONTAS. ECAD. TABELA. RESSALVA. VALIDADE.
1. "A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do
CPC acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do
processo cautelar" (Súmula 482 do STJ). O exame de precedentes da
súmula revela que o prazo para o ajuizamento da ação principal
conta-se da data da efetivação da medida liminar, e sua ausência
acarreta a extinção da ação cautelar sem julgamento de mérito.
Precedentes.
2. No caso concreto, a ação principal, distribuída por dependência ao
processo cautelar, foi ajuizada fora do prazo, uma vez que passados
quase cinco meses desde a efetivação da medida cautelar. Assim,
incabível decidir quanto ao mérito da cautelar e condenar o recorrente
ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
como fizeram as instâncias ordinárias. Quem deu causa à instauração
da ação cautelar foi a própria recorrida, que, em descumprimento ao
disposto nos artigos 28, 29 e 68 da Lei n. 9.610/1998, promoveu
evento musical com a apresentação de artistas, sem efetuar o prévio e
devido pagamento de direitos autorais ao Ecad.
3. Não há falar que o recorrente se recusou a receber a quantia, dando
azo à instauração da cautelar, porquanto não pode ser penalizado por
justificada resistência. Nos termos do art. 313 do Código Civil, o credor
não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida.
4. No processo civil, para se aferir qual das partes litigantes arcará
com o pagamento dos honorários advocatícios e das custas
processuais, deve-se atentar não somente à sucumbência, mas
também ao princípio da causalidade, segundo o qual a parte que deu
causa à instauração do processo deve suportar as despesas dele
decorrentes.
5. É mister realçar que mantenho entendimento firme no sentido de,
superada a visão unicamente privatística do direito autoral, a fim de
torná-lo vinculado necessariamente a seu fim social e aos princípios
constitucionais que lhe são inerentes - mormente o da dignidade da
pessoa humana -, muitas vezes impõe-se o abrandamento daquele

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para a concretização desta. Portanto, parece necessário que os
princípios regentes dos direitos autorais sejam compatibilizados com
valores e outros institutos consagrados na estrutura constitucional, por
isso que penso competir ao Poder Judiciário intervir no negócio jurídico
privado - notadamente a cobrança dos direitos autorais -, quando
acionado, a fim de corrigir as distorções. É amparado nesse
entendimento que tenho sérias restrições quanto a poder aquele
Escritório Central cobrar os direitos autorais devidos em virtude de
execução pública de obra musical, calculados sobre o percentual da
riqueza produzida pelo responsável pela realização do evento.
6. Nessa ordem de idéias, a ressalva é para deixar claro que devem
ser levadas em conta as particularidades do caso concreto para saber
se, na situação em julgamento, há razoabilidade da cobrança e se os
valores pretendidos impedem ou inviabilizam a difusão cultural,
patrimônio de toda a nação brasileira. No entanto, não é o que se
verifica nos autos.
7. Esta Corte possui entendimento de que, em se tratando de direito
de autor, compete a este a sua fixação, seja diretamente, seja por
intermédio das associações ou, na hipótese, do próprio Ecad, que
possui métodos próprios para elaboração dos cálculos diante da
diversidade das obras reproduzidas, segundo critérios eleitos
internamente. Dessa forma, em regra, está no âmbito de atuação do
Ecad a fixação de critérios para a cobrança dos direitos autorais, que
serão definidos no regulamento de arrecadação elaborado e aprovado
em assembléia geral composta pelos representantes das associações
que o integram, e que contém uma tabela especificada de preços
(valores esses que deverão considerar "a razoabilidade, a boa-fé e os
usos do local de utilização das obras", conforme a nova redação
expressa no § 3° do art. 98 da Lei n. 9.610/1998). É firme a
jurisprudência desta Corte Superior no sentido de ser válida a tabela
de preços instituída pelo Ecad e seu critério de arrecadação.
8. Recurso especial provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, para julgar extinta a ação cautelar,
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Raul Araújo (Presidente),
Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Brasília, 10 de junho de 2014 (data do julgamento).

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MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


Relator

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RECORRENTE : ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
ECAD
ADVOGADA : KARINA HELENA CALLAI E OUTRO(S)
ADVOGADOS : ROSÂNGELA MARIA OLIVEIRA LOIOLA E OUTRO(S)
MÁRIO CAVALHEIRO FILHO E OUTRO(S)
RECORRIDO : FREE CARDS MÍDIA EM CARTÕES POSTAIS LTDA
ADVOGADO : ALOYCIO RUDIGER E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

1. Free Cards Mídia em Cartões Postais Ltda., doravante denominada Free


Cards, ajuizou cautelar inominada em face de Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição - Ecad, na qual alegou que realizaria o evento Sul Folia, em 14/11/2007, com
shows da banda Asa de Águia e da cantora Ivete Sangalo, no estacionamento da
Universidade Luterana do Brasil - Ulbra, em Canoas/RS, e pleiteou, liminarmente,
autorização para utilização pública das obras musicais e realização do evento mediante o
depósito de R$ 31.500,00 (trinta e um mil e quinhentos reais), aduzindo que o Ecad se
negou a receber o valor e ajuizaria em seguida ação de prestação de contas.
Em seguida, a Free Cards ajuizou a ação principal esclarecendo que
realizou o evento relatado na cautelar e pugnou fosse reconhecido o direito de pagar ao
Ecad 5% sobre o total da venda de ingressos.
O Juízo da 14ª Vara Cível da Comarca de Porto Alegre-RS julgou
procedente o pedido para ratificar a liminar concedida, fixando como valor devido o
correspondente a 10% sobre o valor de R$ 346.710,00 (trezentos e quarenta e seis mil
setecentos e dez reais), equivalente ao total de vendas efetivamente realizadas, segundo
a autora. Considerou o Ecad sucumbente da cautelar, condenando-o a pagar custas e
honorários advocatícios da autora fixados em R$ 600,00 (seiscentos reais).
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul negou provimento às
apelações interpostas pelo Ecad e pela Free Cards.
A decisão tem a seguinte ementa (fls. 260-271):
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO
CAUTELAR. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. DIREITOS AUTORAIS.
Apelação do Réu - O não ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806
do CPC não enseja a extinção da demanda cautelar. Tal circunstância
somente é capaz de gerar a cessação da eficácia da medida liminar,
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conforme dispõe o art. 808, I, do CPC.
Se o evento já se realizou, o cálculo do valor devido a título de direitos
autorais deve ser elaborado com base em dados concretos e não na mera
expectativa de público, que não se presta para refutar o número apresentado
pela organizadora do evento.
Apelação da Autora - Como o evento promovido pela autora foi realizado em
um espaço fechado e fixo, não pode ser considerado trio elétrico, estando
correto o seu enquadramento como "execução musical em espetáculo
musical".
Se a contribuição devida pela empresa demandante deve ser calculada com
base na receita bruta auferida com a realização do evento, é descabida
qualquer dedução do respectivo valor.
Tendo sido rejeitada a prestação de contas da autora, só pode ser atribuído a
ela o pagamento dos ônus de sucumbência.
APELOS DESPROVIDOS.

Interpôs recurso especial o Ecad, com fundamento no art. 105, inciso III,
alíneas "a" e "c" da Constituição Federal, sustentando, além de dissídio jurisprudencial,
violação aos arts. 806 e 808, I, do CPC, bem como aos arts. 28, 29 e 68 e parágrafos da
Lei n. 9.610/1998.
Alega que o não ajuizamento da ação principal no prazo estipulado no art.
806 do Código de Processo Civil enseja extinção da ação cautelar.
Assevera que a sentença fixou os valores devidos a título de direitos
autorais com base em planilha unilateral de dados, sem considerar os valores e critérios
fixados pelo Ecad no regulamento de arrecadação.
Pugna seja declarada a perda da liminar e extinção do processo cautelar,
bem como seja julgada improcedente a ação principal; e fixados os valores devidos a
título de direitos autorais de acordo com o regulamento de arrecadação do Ecad.
Contrarrazões às fls. 340-348
Crivo de admissibilidade positivo às fls. 350-353.
É o relatório.

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RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
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ADVOGADA : KARINA HELENA CALLAI E OUTRO(S)
ADVOGADOS : ROSÂNGELA MARIA OLIVEIRA LOIOLA E OUTRO(S)
MÁRIO CAVALHEIRO FILHO E OUTRO(S)
RECORRIDO : FREE CARDS MÍDIA EM CARTÕES POSTAIS LTDA
ADVOGADO : ALOYCIO RUDIGER E OUTRO(S)
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. DIREITO AUTORAL. AÇÃO CAUTELAR.
ARTS. 806 E 808, I, CPC. PRINCIPIO DA CAUSALIDADE. AÇÃO DE
PRESTAÇÃO DE CONTAS. ECAD. TABELA. RESSALVA. VALIDADE.
1. "A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do
CPC acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do
processo cautelar" (Súmula 482 do STJ). O exame de precedentes da
súmula revela que o prazo para o ajuizamento da ação principal
conta-se da data da efetivação da medida liminar, e sua ausência
acarreta a extinção da ação cautelar sem julgamento de mérito.
Precedentes.
2. No caso concreto, a ação principal, distribuída por dependência ao
processo cautelar, foi ajuizada fora do prazo, uma vez que passados
quase cinco meses desde a efetivação da medida cautelar. Assim,
incabível decidir quanto ao mérito da cautelar e condenar o recorrente
ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
como fizeram as instâncias ordinárias. Quem deu causa à instauração
da ação cautelar foi a própria recorrida, que, em descumprimento ao
disposto nos artigos 28, 29 e 68 da Lei n. 9.610/1998, promoveu
evento musical com a apresentação de artistas, sem efetuar o prévio e
devido pagamento de direitos autorais ao Ecad.
3. Não há falar que o recorrente se recusou a receber a quantia, dando
azo à instauração da cautelar, porquanto não pode ser penalizado por
justificada resistência. Nos termos do art. 313 do Código Civil, o credor
não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida.
4. No processo civil, para se aferir qual das partes litigantes arcará
com o pagamento dos honorários advocatícios e das custas
processuais, deve-se atentar não somente à sucumbência, mas
também ao princípio da causalidade, segundo o qual a parte que deu
causa à instauração do processo deve suportar as despesas dele
decorrentes.
5. É mister realçar que mantenho entendimento firme no sentido de,
superada a visão unicamente privatística do direito autoral, a fim de
torná-lo vinculado necessariamente a seu fim social e aos princípios
constitucionais que lhe são inerentes - mormente o da dignidade da
pessoa humana -, muitas vezes impõe-se o abrandamento daquele
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para a concretização desta. Portanto, parece necessário que os
princípios regentes dos direitos autorais sejam compatibilizados com
valores e outros institutos consagrados na estrutura constitucional, por
isso que penso competir ao Poder Judiciário intervir no negócio jurídico
privado - notadamente a cobrança dos direitos autorais -, quando
acionado, a fim de corrigir as distorções. É amparado nesse
entendimento que tenho sérias restrições quanto a poder aquele
Escritório Central cobrar os direitos autorais devidos em virtude de
execução pública de obra musical, calculados sobre o percentual da
riqueza produzida pelo responsável pela realização do evento.
6. Nessa ordem de idéias, a ressalva é para deixar claro que devem
ser levadas em conta as particularidades do caso concreto para saber
se, na situação em julgamento, há razoabilidade da cobrança e se os
valores pretendidos impedem ou inviabilizam a difusão cultural,
patrimônio de toda a nação brasileira. No entanto, não é o que se
verifica nos autos.
7. Esta Corte possui entendimento de que, em se tratando de direito
de autor, compete a este a sua fixação, seja diretamente, seja por
intermédio das associações ou, na hipótese, do próprio Ecad, que
possui métodos próprios para elaboração dos cálculos diante da
diversidade das obras reproduzidas, segundo critérios eleitos
internamente. Dessa forma, em regra, está no âmbito de atuação do
Ecad a fixação de critérios para a cobrança dos direitos autorais, que
serão definidos no regulamento de arrecadação elaborado e aprovado
em assembléia geral composta pelos representantes das associações
que o integram, e que contém uma tabela especificada de preços
(valores esses que deverão considerar "a razoabilidade, a boa-fé e os
usos do local de utilização das obras", conforme a nova redação
expressa no § 3° do art. 98 da Lei n. 9.610/1998). É firme a
jurisprudência desta Corte Superior no sentido de ser válida a tabela
de preços instituída pelo Ecad e seu critério de arrecadação.
8. Recurso especial provido.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

2. As principais controvérsias instaladas são relacionadas a saber se o não


ajuizamento da ação principal, no prazo estipulado no art. 806 do Código de Processo
Civil, enseja a extinção da ação cautelar, bem como se correta a fixação do quantum
devido ao Ecad, baseado no valor recebido pela organizadora do evento com a venda
dos ingressos.
O Tribunal a quo assim se pronunciou (fls. 260-271):
[...]
Requer o demandado a extinção da ação cautelar, por não ter a autora
ajuizado a ação principal no prazo do artigo 806 do Código de Processo
Civil.
Rejeito a sua pretensão, pois entendo que tal circunstância somente é
capaz de gerar a cessação da eficácia da medida liminar, conforme
dispõe o art. 808, inciso I, daquele diploma legal.
Theotônio Negrão, acerca do tema (in CPC e' legislação processual em vigor,
pág. 782, nota nº 5), refere:
"A falta de ajuizamento da ação principal dentro do prazo retira a eficácia
da liminar concedida, mas não extingue, todavia, o processo, que deve
continuar seus trâmites legais, até sentença definitiva da cautelar" (RT 60
7/102) Neste sentido: RT 7 10/86, RF 32 7/198, JTA 106/196, maioria,
Lex-JTA 171/301, RJTAMGS 4 0/235.
Neste sentido, os seguintes precedentes deste tribunal:
[...]
Sobre esta questão, cumpre citar, ainda, trecho do voto proferido pelo
eminente Desembargador Henrique Osvaldo Poeta Roenick, por ocasião do
julgamento da apelação sob nº 70013235395:
"Aliás, friso, não tem a parte um prazo para o ajuizamento da principal.
Pode fazê-lo quando bem entender. Contudo, optando por extra polar o
prazo estatuído no art. 806, corre o risco de ter cassada a liminar con
cedida. Tão-só. Mas, conforme já referido, mesmo assim terá direito a uma
sentença na cautelar. Em hipótese alguma, a extinção do feito, pelo
menos por este fundamento. "
Melhor sorte não assiste ao demandado quando se insurge contra o
valor fixado pelo magistrado a quo como parâmetro para a incidência do
percentual devido pela empresa apelada a título de direitos autorais: R$
346.710,00.
Esta importância foi informada pela autora e corresponde à receita bruta
do evento por ela realizado, conforme planilha constante da fl. 23.
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Pretende o apelante que seja adotado o valor da receita por ele
encontrado com base na estimativa de público esperado, o que não se
pode admitir.
Ora, se o evento já se realizou, o cálculo do valor devido a título de
direitos autorais deve ser elaborado com base em dados concretos e
não na mera expectativa de público, que não se presta para refutar o
número apresentado pela organizadora do evento.
Assim, não havendo nos autos dados concretos que se contraponham às
informações apresentadas pela autora, deve ser mantida a decisão do
julgador singular.
[...]
Pelo exposto, nego provimento a ambos os apelos.

3. De início, sustenta o recorrente violação aos artigos 806 e 808, I, do


Código de Processo Civil, porquanto o processo principal (n. 1.08.0081699-9), distribuído
por dependência à ação cautelar (n. 1.07.0266545-6), foi ajuizado intempestivamente.
As instâncias inferiores asseveraram não ser o caso de extinção da
cautelar, por não ter a autora ajuizado a ação principal no prazo do artigo 806 do Código
de Processo Civil, ao argumento de que tal circunstância somente é capaz de gerar a
cessação da eficácia da medida liminar, conforme dispõe o art. 808, inciso I, daquele
diploma legal.
Consta da moldura fática que a cautelar foi proposta em 13/11/2007 e
efetivada em 14/11/2007, tendo sido ajuizado o processo principal em 2/4/2008.
Cumpre, neste contexto, transcrever o disposto nos artigos do Código de
Processo Civil tidos por violados:
Art. 806. Cabe à parte propor a ação, no prazo de 30 (trinta) dias, contados
da data da efetivação da medida cautelar, quando esta for concedida em
procedimento preparatório.
Art. 808. Cessa a eficácia da medida cautelar:
I - se a parte não intentar a ação no prazo estabelecido no art. 806;

Com efeito, esta Corte recentemente sumulou o entendimento de que "a


falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do CPC acarreta a perda da
eficácia da liminar deferida e a extinção do processo cautelar" (Súmula 482 do STJ).
O professor Roberto Rosas, ao comentar a respeito do referido enunciado
em sua obra Direito Sumular, elucida:
Pairava dúvida sobre os efeitos da falta de ajuizamento da ação principal: se
acarretava, além da perda de eficácia da liminar, a extinção do processo
cautelar.
Por ser a ação cautelar um mero procedimento preparatório ou incidental da
ação princial, a propositura desta é um encargo, cujo descumprimento
faz presumir a sua desnecessidade, devendo, portanto, ser extinta.
(ROSAS, Roberto. Direito Sumular . 14ª ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros

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editores, 2012. p. 555)

Na mesma linha, Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero ensinam:


1. Instrumentalidade da Tutela Cautelar. O legislador deixou claro, através
do art. 806, CPC, que a tutela cautelar, uma vez obtida - isto é, efetivada
-, exige a propositura da chamada ação principal. Através dessa outra
demanda pedir-se-á a tutela do direito assegurado ou a tutela da
situação jurídica acautelada. "A falta de ajuizamento da ação principal
no prazo do art. 806 do CPC acarreta a perda da eficácia da liminar
deferida e a extinção do processo cautelar" (Súmula n. 482, STJ).
(MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Código de processo civil
comentado artigo por artigo. 5ª ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2013. p. 780)

Humberto Theodoro Junior não diverge:


O prazo previsto no art. 806 é de decadência. Assim, se a ação principal
não for proposta no interregno dos 30 dias, o juiz decretará, ex officio, a
extinção do processo cautelar.
(THEODORO Júnior, Humberto. Código de processo civil anotado. 17ª ed.
rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 1025)
O exame de precedentes da mencionada súmula revela que o prazo para o
ajuizamento da ação principal conta-se da data da efetivação da medida liminar, e sua
ausência acarreta a extinção da ação cautelar sem julgamento de mérito, a saber:
AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL
CIVIL. AÇÃO CAUTELAR. EXTINÇÃO. AUSÊNCIA DE AJUIZAMENTO DA
AÇÃO PRINCIPAL. AGRAVO DESPROVIDO.
1. "A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do CPC
acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do processo
cautelar" (Súmula 482/STJ).
2. Por se tratar de matéria a ser apreciada na Suprema Instância, não é
viável a análise de contrariedade a dispositivos constitucionais, na via do
recurso especial, o que implicaria usurpação de competência
constitucionalmente atribuída ao eg. Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102).
3. Agravo interno desprovido.
(AgRg no Ag 1126778/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 04/02/2014, DJe 20/02/2014)

PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR. ART. 806 DO CPC. AÇÃO


PRINCIPAL. PRAZO PARA PROPOSITURA. TERMO INICIAL.
EFETIVAÇÃO DA CAUTELAR.
1. O prazo de 30 dias para a propositura da Ação Principal conta-se do
efetivo cumprimento da cautelar preparatória (ainda que em liminar) pelo
requerido, nos termos do art. 806 do CPC. Precedentes.
2. Em caso de descumprimento do prazo, ocorre a extinção da Ação
Cautelar, sem julgamento de mérito. Precedentes.
3. Recurso Especial provido (REsp 1053818/MT, Rel. Ministro Herman
Benjamin, Segunda Turma, julgado em 19/06/2008, DJe 04/03/2009).

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CAUTELAR


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PREPARATÓRIA. NÃO AJUIZAMENTO DA AÇÃO PRINCIPAL NO PRAZO
ESTABELECIDO PELO ART. 806 DO CPC. EXTINÇÃO DO PROCESSO
SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. PRECEDENTE.
1. "O não-ajuizamento da ação principal no prazo estabelecido pelo art.
806 do CPC, acarreta a perda da medida liminar e a extinção do
processo cautelar, sem julgamento do mérito" (Precedente: EREsp
327438/ DF, relator Min. Francisco Peçanha Martins, Corte Especial, DJ de
30/06/2006).
2. No caso, não foi ajuizada a ação principal apesar de já passados mais de
dois anos da concessão da liminar para suspender a exigibilidade do crédito
tributário, mediante depósito do seu valor.
3. Recurso especial a que se dá provimento." (REsp 923.279/ RJ, Rel. Min.
TEORI ALBINO ZAVASCKI , Primeira Turma, DJ de 11.06.2007)

3.1. Nesse contexto, verifico que a ação principal, distribuída por


dependência ao processo cautelar, foi ajuizada fora do prazo, uma vez que passados
quase cinco meses desde a efetivação da medida cautelar.
Assim, parece incabível decidir quanto ao mérito da cautelar e condenar o
Ecad ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, como fizeram as
instâncias ordinárias.
Quem deu causa à instauração da ação cautelar foi a própria Free Cards,
que, em descumprimento ao disposto nos artigos 28, 29 e 68 da Lei n. 9.610/1998,
promoveu evento musical com a apresentação de artistas, sem efetuar o prévio e devido
pagamento de direitos autorais ao Ecad.
Confiram-se os dispositivos da Lei de Direitos Autorais:
Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra
literária, artística ou científica.

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da


obra, por quaisquer modalidades, tais como:
VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica,
mediante:
[...]
b) execução musical;

Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão
ser utilizadas obras teatrais, composições musicais ou lítero-musicais e
fonogramas, em representações e execuções públicas.
[...]
§ 4º Previamente à realização da execução pública, o empresário deverá
apresentar ao escritório central, previsto no art. 99, a comprovação dos
recolhimentos relativos aos direitos autorais. (grifo nosso)

Nem há falar, como fez a autora recorrida, que o Ecad se recusou a receber
a quantia, dando azo à instauração da cautelar, porquanto não pode o órgão arrecadador

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ser penalizado por justificada resistência.
Isso porque, nos termos do art. 313 do Código Civil, o credor não é obrigado
a receber prestação diversa da que lhe é devida.
3.2. Com efeito, no processo civil, para se aferir qual das partes litigantes
arcará com o pagamento dos honorários advocatícios e das custas processuais, deve-se
atentar não somente à sucumbência, mas também ao princípio da causalidade, segundo
o qual a parte que deu causa à instauração do processo deve suportar as despesas dele
decorrentes.
Sobre o tema, a lição clássica de Yussef Said Cahali, calcada no escólio de
Carnelutti:
[...] o princípio da causalidade responde justamente a um princípio de justiça
distributiva e a um princípio de higiene social . De um lado, é justo que aquele
que tenha feito necessário o serviço público da administração da Justiça lhe
suporte a carga; e, de outro lado, é oportuno, pois a previsão deste encargo
reage a uma contenção no sentido de se fazer o cidadão mais cauteloso.
[...]
Deve-se ter presente, contudo, que a idéia da causalidade não se dissocia
necessariamente da idéia da sucumbência. Quando se responde à indagação
singela a respeito de qual das partes terá dado causa ao processo, o
bom-senso sugere, imediatamente, a resposta: a parte que estava errada [...]
(In.: Honorários advocatícios . 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997,
p. 42-43.)

A jurisprudência desta Corte Superior não discrepa desse entendimento,


como se observa do seguinte precedente:
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. SUCUMBÊNCIA.
PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. AUSÊNCIA DE CULPA DO CREDOR NA
PENHORA. VERBA HONORÁRIA INDEVIDA. PRECEDENTES. DOUTRINA.
RECURSO PROVIDO.
I - Sem embargo do princípio da sucumbência, adotado pelo Código de
Processo Civil vigente, é de atentar-se para outro princípio, o da
causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à instauração do
processo, ou ao incidente processual, deve arcar com os encargos daí
decorrentes.
II - Tratando-se de embargos de terceiro, imprescindível que se averigúe, na
fixação dos honorários, quem deu causa à constrição indevida.
III - O credor não pode ser responsabilizado pelos ônus sucumbenciais por
ter indicado à penhora imóvel registrado no Cartório de Imóveis em nome dos
devedores mas prometidos à venda aos terceiros-embargantes. A inércia dos
embargantes-compradores, em não providenciar o registro do compromisso
de compra e venda, deu causa à penhora indevida.
(REsp 264.930/PR, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 13/09/2000, DJ 16/10/2000, p. 319)

Colhe-se do julgado a seguinte fundamentação:


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[...]
2. O sistema adotado pelo legislador de 1973 tomou como critério a
sucumbência, de caráter objetivo, como se assinalou no RE 97.031-RJ, RT
105/388, de que foi relator o Ministro Alfredo Buzaid, seu autor intelectual. A
propósito, dentre muitas, as lições de Tornaghi e Celso Barbi, em seus
"Comentários", como tive ensejo de anotar no REsp n° 3.490-RJ (DJ de
2.5.90).
[...]
Em suma, o sistema do Código de Processo Civil se fixa em uma orientação
de caráter objetivo: havendo sucumbência, em linha de princípio são devidos
os honorários, em quantum a ser arbitrado na decisão.
Por outro lado, sem embargo dessa orientação, há de atentar-se para outro
princípio, o da causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à
instauração do processo ou ao incidente processual, deve arcar com as
despesas daí decorrentes.
[...]
(sublinhei)

Dessa sorte, sob o ângulo do princípio da causalidade, a autora recorrida é


quem deve responder pelos ônus sucumbenciais.
É que sem a sua recusa em pagar a quantia correta ao Ecad, não haveria
motivo para a propositura da demanda.
4. Outrossim, na exordial da ação principal, a autora pleiteou o
reconhecimento de que os valores efetivamente devidos seriam de R$ 11.045,59 (onze
mil, quarenta e cinco reais e cinquenta e nove centavos).
O Tribunal de Justiça de origem ratificou o decidido pelo Juízo de piso,
asseverando que o valor devido deve ser o resultado da incidência de 10% sobre a renda
de R$ 346.710,00 (trezentos e quarenta e seis mil setecentos e dez reais), equivalente ao
total de vendas efetivamente realizadas, segundo a autora.
O recorrente, por sua vez, pretende sejam fixados os valores devidos a título
de direitos autorais de acordo com o regulamento de arrecadação do Ecad.
No ponto, já é pacífico que o Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição (Ecad) é sociedade civil, de natureza privada, instituída pela Lei federal n.
5.988/1973 e mantida pela atual Lei de Direitos Autorais Brasileira- 9.610/1998-, alterada
pela Lei n. 12.853/2013. É entidade organizada e administrada por nove associações de
gestão coletiva musical, cumpre a ele formular a política e a normatização da
arrecadação e distribuição de direitos autorais decorrentes da execução pública de
composições musicais ou literomusicais e de fonogramas, nos termos do art. 99 da Lei n.
9.610/1998, possuindo legitimidade para defender em juízo ou fora dele a observância
dos direitos autorais em nome de seus titulares (§ 2º - competência mantida pela Lei
12.853 de 14 de agosto de 2013).

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4.1. Nesse diapasão, é mister realçar que mantenho entendimento firme no
sentido de, superada a visão unicamente privatística do direito autoral, a fim de torná-lo
vinculado necessariamente a seu fim social e aos princípios constitucionais que lhe são
inerentes - mormente o da dignidade da pessoa humana -, muitas vezes impõe-se o
abrandamento daquele para a concretização desta.
Portanto, parece necessário que os princípios regentes dos direitos autorais
sejam compatibilizados com valores e outros institutos consagrados na estrutura
constitucional, por isso que penso competir ao Poder Judiciário intervir no negócio jurídico
privado - notadamente a cobrança dos direitos autorais -, quando acionado, a fim de
corrigir as distorções.
Ademais, é amparado nesse entendimento que tenho sérias restrições
quanto a poder aquele Escritório Central cobrar os direitos autorais devidos, em virtude
de execução pública de obra musical, calculados sobre o percentual da riqueza produzida
pelo responsável pela realização do evento.
Nessa ordem de idéias, a ressalva é para deixar claro que devem ser
levadas em conta as particularidades do caso concreto para saber se, na situação em
julgamento, há razoabilidade da cobrança e se os valores pretendidos impedem ou
inviabilizam a difusão cultural, patrimônio de toda a nação brasileira.
4.2. No entanto não é o que se verifica nos autos.
Não vislumbro, aqui, conflito relevante entre o interesse público na fruição
das obras e o privado, este representado pela retribuição econômica sobre o trabalho.
Nesse passo, esta Corte possui entendimento de que, em se tratando de
direito de autor, compete a este a sua fixação, seja diretamente, seja por intermédio das
associações ou, na hipótese, do próprio Ecad, que possui métodos próprios para
elaboração dos cálculos diante da diversidade das obras reproduzidas, segundo critérios
eleitos internamente.
Dessa forma, em regra, está no âmbito de atuação do Ecad a fixação de
critérios para a cobrança dos direitos autorais, que serão definidos no regulamento de
arrecadação elaborado e aprovado em assembléia geral composta pelos representantes
das associações que o integram, e que contém uma tabela especificada de preços
(valores esses que deverão considerar "a razoabilidade, a boa-fé e os usos do local de
utilização das obras", conforme a nova redação expressa no § 3° do art. 98 da Lei n.
9.610/1998).
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA. RECONVENÇÃO.
DIREITOS AUTORAIS. ECAD. EXECUÇÕES PÚBLICAS DE TRILHAS
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SONORAS DE FILMES. TABELA DE PREÇOS. LEGALIDADE.
LEGITIMIDADE DO ECAD PARA COBRANÇA.
(...)
2. Este Tribunal Superior já assentou ser válida a tabela de preços
instituída pelo ECAD.
3. (...)
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg nos EDcl no REsp 885.783/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/05/2013, DJe 22/05/2013)

DIREITOS AUTORAIS. RECURSO ESPECIAL. ECAD. FIXAÇÃO DE


PREÇOS, ARRECAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE VALORES. FIXAÇÃO DE
CRITÉRIOS. MÚSICAS DE FUNDO. COMPETÊNCIA. REPRESENTAÇÃO.
ASSOCIAÇÕES. [...]
6. O ECAD tem competência para fixar preços, efetuar a cobrança e a
distribuição dos direitos autorais e as associações que o integram
legitimamente representam os interesses dos seus filiados, autores das
obras protegidas.
(...)
9. Recurso especial conhecido em parte e, nesta parte, provido.
(REsp 1331103/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 23/04/2013, DJe 16/05/2013)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO


AUTORAL. LEI 5.988/73. SESC. REALIZAÇÃO DE EVENTOS E
SONORIZAÇÃO AMBIENTAL. EQUIPARAÇÃO A CLUBE SOCIAL. LUCRO
INDIRETO. TABELA DE PREÇOS DO ECAD. LEGALIDADE. RECURSO
DESPROVIDO.
(...)
3. Este Tribunal Superior já assentou ser válida a tabela de preços
instituída pelo próprio ECAD, (...)
4. Agravo regimental a que se nega provimento ".
(AgRg no REsp 998.928/RN, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA,
julgado em 17/03/2011, DJe 23/03/2011 - grifou-se)

DIREITOS AUTORAIS. EXECUÇÃO DE OBRAS MUSICAIS. VALORES.


TABELA PRÓPRIA. PRESUNÇÃO LEGAL. ÔNUS DA PROVA. AGRAVO
DESPROVIDO.
I - Os valores cobrados pelo ECAD são aqueles fixados pela própria
instituição, (...).
[...]
(AgRg no Ag 780.560/PR, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, DJ
26.02.2007 - grifou-se)

CIVIL. DIREITOS AUTORAIS. BAILE DE CARNAVAL EM CLUBE. ECAD.


REGULARIDADE DA REPRESENTAÇÃO. LEGITIMIDADE PARA A CAUSA.
VALORES. TABELA PRÓPRIA. VALIDADE. LUCROS DIRETO E INDIRETO
CONFIGURADOS. LEI N. 5.988/73. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
SÚMULAS N. 282 E 356-STF.
(...)
III. Caracterização de ocorrência de lucro direto e indireto no caso de
promoção, por clube social, de bailes de carnaval.
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IV. Os valores cobrados são aqueles fixados pela própria instituição,
(...).
V. Precedentes do STJ.
VI. Recurso especial do autor conhecido e provido. Recurso adesivo da ré
não conhecido ".
(REsp 73.465/PR, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA
TURMA, julgado em 21/06/2005, DJ 22/08/2005 - grifou-se)

Portanto, em linha de princípio, é firme a jurisprudência desta Corte Superior


no sentido de ser válida a tabela de preços instituída pelo Ecad e seu critério de
arrecadação.
Assim, descabida a decisão do Tribunal de origem no sentido de que não
podem ser calculados os direitos autorais devidos com base na estimativa de público
esperado, quando já realizado o evento.
Isso porque o regulamento de arrecadação do Ecad determina que, em
casos como o dos autos, a arrecadação deve ser feita por estimativa de receita bruta.
Excepcionalmente, quando impossível a cobrança por estimativa, o Ecad
exige do usuário o pagamento de garantia mínima e assinatura de termo de
responsabilidade, em formulário próprio, sempre que o preço da utilização musical for
calculado com base em uma percentagem aplicada sobre a receita bruta dos ingressos.
Nessa situação a aferição ocorrerá imediatamente, após a realização do espetáculo ou
show , nos termos do art. 68, parágrafo quinto, da Lei n. 9.610/1998, o que não ocorreu
no caso concreto.
Nesse sentido, a mais abalizada doutrina:
O ECAD poderá fixar o pagamento antecipado por estimativa de receita
ou exigir uma garantia mínima e a assinatura de um Termo de
Responsabilidade em formulário fornecido pelo Escritório, quando o
preço da utilização dos direitos autorais a ser pago pelo usuário for fixado em
uma percentagem aplicada sobre a receita bruta dos ingressos, que será
aferida imediatamente após a realização do espetáculo ou audição.
(DIAS, Maurício Cozer. Direito autoral. Campinas: LZN Editora, 2002. p. 418)

Cobrança fixada em percentual da receita bruta dos ingressos:


possibilidade
Neste item, explicita-se a prerrogativa do Escritório Central em optar por
algumas modalidades de cobrança, na hipótese de realização de espetáculos
ou audições:
a)pagamento antecipado por estimativa de receita; ou
b)exigir garantia mínima e a assinatura de um Termo de
Responsabilidade em formulário fornecido pelo ECAD, na hipótese em
que o preço fixado para tal levar em consideração um percentagem
sobre a receita bruta dos ingressos.
Na hipótese da alínea "b", o item 8 esclarece que a receita bruta dos
ingressos deverá ser apurada imediatamente após a realização do
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espetáculo ou audição, e levará em consideração para o seu cômputo
final as entradas, convites, couvert artístico, consumação obrigatória,
aluguéis de mesa, venda de recipientes para festivais de bebidas, ou
qualquer outra modalidade de cobrança, ainda que implícita.
Adverte-se, ainda, que a receita bruta será integrada pelos rendimentos
provenientes de subvenções, patrocínios, comercialização de anúncios
ou outras fontes de recursos, sempre que relacionadas com a realização
do evento no qual se utilizarem obras musicais.
Ou seja, a receita bruta sobre a qual incidirá a porcentagem referida na
alínea "b" será formada por todas essas particularidades, o que, sem
sombra de dúvidas, tem o intuito de proteger os titulares de direitos
autorais das burlas tão comumente praticadas pelos usuários, que, a
todo custo, buscam se esquivar do pagamento dos valores
determinados pelo ECAD.
(CASASSANTA, Eduardo Monteiro de Castro. Gestão coletiva dos direitos
autorais: análise da Lei nº 9.610/98 - Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed.,
2009. p. 108)

4.3. Não obstante, quanto ao pleito para que seja a ora recorrida condenada
ao pagamento de direitos autorais, nos termos do regulamento de arrecadação do Ecad,
tal aqui não parece possível, pois o feito de origem consiste em uma ação de prestação
de contas, em que buscou a autora que suas contas fossem julgadas boas.
Nesse contexto, penso que o desfecho pleiteado pelo ora recorrente implica
decisão extra petita.
Ademais, noticiam os autos que há em curso ação de cobrança ajuizada
pelo Ecad, relativa aos mesmos fatos, sendo este o meio processual adequado para
obter o valor devido.

5. Diante do exposto, dou provimento ao recurso especial para julgar extinta


a ação cautelar, sem resolução do mérito, e improcedente o pedido deduzido pela autora
recorrida Free Cards na ação de prestação de contas.
A cargo da recorrida Free Cards, custas processuais e honorários
advocatícios, estes arbitrados em R$ 7.000,00 (sete mil reais), nos termos do parágrafo
4.º do art. 20 do CPC.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 2009/0191039-4 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.160.483 / RS

Números Origem: 10800816998 70027571470 70030014062


PAUTA: 10/06/2014 JULGADO: 10/06/2014

Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. LUCIANO MARIZ MAIA
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO ECAD
ADVOGADA : KARINA HELENA CALLAI E OUTRO(S)
ADVOGADOS : ROSÂNGELA MARIA OLIVEIRA LOIOLA E OUTRO(S)
MÁRIO CAVALHEIRO FILHO E OUTRO(S)
RECORRIDO : FREE CARDS MÍDIA EM CARTÕES POSTAIS LTDA
ADVOGADO : ALOYCIO RUDIGER E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Propriedade - Propriedade Intelectual / Industrial - Direito Autoral

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, para julgar
extinta a ação cautelar, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo (Presidente), Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira
e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator.

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