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Psicoterapia para a compreensão do rompimento amoroso e elaboração


do luto

O amor sempre foi, uma das demandas existenciais, fundamental ao ser humano,

Maslow, grande teórico da psicologia, afirma que as pessoas iniciam o seu processo de

desenvolvimento com necessidades básicas, por meio de uma hierarquia das necessidades.

No decorrer desse processo algumas delas são satisfeitas, e assim, a necessidade altera à

medida que existe um progresso.

Essa hierarquia consiste em cinco níveis: quatro por deficiência (necessidades

fisiológicas; necessidades de segurança; necessidades de amor e pertencimento;

necessidades de estima) e um nível altamente desenvolvido denominada motivação

existencial (autorrealização). Logo, se as necessidades fisiológicas e de segurança são

preenchidas, o próximo nível, que se torna importante, é o das necessidades de amor e

pertencimento. Nesse nível, a pessoa busca amor e amizade, e inclui tanto dar, quanto

receber e quando não preenchido adequadamente há um desajuste.

Podemos definir o relacionamento como o aprofundamento de uma intimidade entre

os indivíduos e atração, sendo que esses são elementos importantes do processo da ligação

amorosa. Como se fosse feito um “novo laço”, um elo estabelecido entre os parceiros, que

pressupõem viver uma relação/ligação interpessoal de intimidade.

Os relacionamentos passaram por várias etapas ou fases e, atualmente têm vivido um

período de invasão pelos valores do individualismo, dificultando a manutenção do

relacionamento. Várias são as causas de separação tais como: influência da família, a falta

de diálogo, traição entre outras.

O diálogo é essencial para que o relacionamento seja saudável e funcional, pois é por

meio dele que se conhece de forma legítima o outro, que existe compreensão e maturidade

entre os parceiros em qualquer situação. O dialogo disfuncional pode ser visto como uma
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tentativa de se comunicar, como um monólogo camuflado, ou seja, quando um dos

sujeitos discorre consigo mesmo, de forma particular, e idealiza que afastou a tortura

de estarem, os dois, restringidos aos seus próprios recursos.

Na sociedade contemporânea, em que tudo tem um modelo, se cria também o

parceiro ideal, o amor romântico, que se pauta nas fantasias e identificações. E faz com que

exista uma necessidade de fusão com o seu par, o que proporciona uma grande expectativa,

exigindo a correspondência de um dos companheiros, acarretando, consequentemente, o

término do relacionamento.

A separação é uma das mais dolorosas experiências que o ser humano pode lidar. É

um processo complexo, vivenciado em diversas fases e em diferentes níveis. Pode ser vista

como a morte em vida, em que “o outro morre em vida dentro de mim e eu também

morro na consciência do outro. ” Caruso (1989)

O rompimento gera nos parceiros sentimentos de fracasso, impotência e prejuízo,

havendo um luto a ser elaborado, aquele que perde a pessoa amada, deve readequar sua

existência na ausência do outro. Logo, o luto é uma resposta normal a este momento da vida,

o tempo de elaboração do luto pela separação é quase sempre maior do que o luto por uma

morte física.

É impossível não deparar com um ser humano que sofreu uma perda, independente

da forma como a pessoa amada foi perdida, para melhor elaboração do luto, Ross (2000)

descreve cinco estágios que são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Os

estágios da elaboração do luto podem ser descritos e experienciados da seguinte maneira:

inicialmente com a reação de negação: o indivíduo que perdeu o “objeto” do seu amor sente

muita dificuldade em aceitar o fato. Passada essa primeira reação, desencadeia a raiva ou

fúria acompanhada por sentimentos de injustiça diante da decisão do outro. Em seguida,

aponta o início da barganha, o momento em que o parceiro faz promessas a fim de


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reconquistar o outro. Na próxima etapa o indivíduo entra em depressão, começa a recordar

dos momentos, tem baixa autoestima e pena de si mesmo. Na última fase, a aceitação, o

indivíduo já vivenciou vários sentimentos e percebe que a energia afetiva está sendo

liberada, para ser investida de outra forma.

Por isso a importância da psicoterapia nesse momento, diante da experiência da angústia,

dos impasses que a separação causa e das fases que ela precisa viver, a pessoa em

psicoterapia tem a possibilidade de perceber e compreender sua totalidade e escolher viver

uma existência autêntica e reconfigurar sua vida.

Papalia e Olds, autores clássicos da psicologia do desenvolvimento, explicam que a

perda de alguém significativo, afeta praticamente todas as circunstâncias da vida e definem

luto como um processo de ajustamento. Enfim, o luto é a vivência de um conflito que

abrange hábitos, comportamentos e circunstâncias que ficaram com espaços que almejam

ser preenchidos.

Existe no ser humano um instinto de completude, isto é, uma necessidade de

completar os processos em sua vida, mas quando lhe faltam recursos acaba lidando mal com

o inacabado. Nesse sentido, pode-se dizer que, quando o luto não é fechado, os aspectos não

resolvidos esperam por fechamento e nuances da antiga relação aparecem.

A partir da elaboração da perda de um modo funcional, o enlutado pode reconstruir sua vida

e estabelecer novos projetos. Por esta razão, é importante viver o momento de luto, pois se

não há resistências em experimentar a dor da perda, logo não haverá resquícios do

relacionamento anterior.

A psicoterapia é um facilitador do encontro do indivíduo consigo mesmo, de forma que

contribui para que ele identifique suas necessidades em um movimento de crescimento,

apropriando-se de antigas estratégias, apoderando-se delas e desenvolvendo a

capacidade de criação de novas para então experienciar novas relações.


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Diante desse contexto de sofrimento que invade o sujeito em processo de separação

a procura por uma ajuda psicológica se torna uma possibilidade de elaboração, ajustamento.

A relação terapêutica, permite que o cliente se conheça e experimente um novo modo de

relacionar-se, ampliando sua consciência, percebendo seus limites, responsabilidades,

sentimentos, possibilidades e aceitação.

Cada pessoa é como um poema esperando para ser escrito. [...] Frequentemente, esse

“poema” esteve escondido por anos de experiências torturantes e infelizes. É

necessária uma grande abertura amorosa para que o belo emerja. A poesia genuína

não pode ser enquadrada em uma métrica que não lhe seja própria. Essa abertura

verdadeira para a beleza do outro não pode ocorrer se o terapeuta mantém

concepções significativamente divergentes de quem o cliente é ou deveria ser.

Hycner (1995)

Referências

Caruso, I. (1989). A separação dos amantes: uma fenomenologia da morte. São Paulo:
Diadorim Cortez. (Originalmente publicado em 1968)

Hycner, R. (Eds.) (1995). De pessoa a pessoa:psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus.

Maslow, H.H. (1943) A Theory of human motivations Psychological Review 50: 390-6.

Papalia, D. E. & Olds, S. W. (2000). Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artes


Médicas Sul.

Ross, E. K. (Eds.). (2000). Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes.

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