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1 INTRODUÇÃO
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Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail:
rafaelformiga.una@gmail.com.
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Advogada, bacharel em Direito pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e pós-graduanda em
Direito Penal e Processo Penal também pela UFCG. E-mail: jaque.r.santana@gmail.com.
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A sigla Trans* ou mesmo a letra T*, ambas as formas com asterisco, tiveram sua utilização aprovadas pelo
Congresso Internacional sobre Identidade de Gênero e Direitos Humanos (CONGENID) de modo a abarcar toda
e qualquer forma de transgeneridade (DIAS, 2014).
mencionada. Decisão essa que se embasou na natureza dos direitos compreendidos na questão
sub judice, direitos humanos fundamentais que devem ser salvaguardados pela ordem jurídica
brasileira em decorrência de compromissos internacionais.
Uma visão simplória e abreviada da referida ADI poderia resumi-la a seu efeito direto
e objetivo, qual seja, a possibilidade de qualquer pessoa Trans* poder escolher seu nome e
sexo para figurar no registro civil. No entanto, o teor e significados desse julgamento possuem
convergência com demais questões envolvendo pessoas Trans*, dentre elas, a ressignificação
do conceito de mulher na legislação brasileira e em específico na legislação penal, in casu,
como abordado neste trabalho, na Lei nº 13.104/2015, também conhecida como Lei do
Feminicídio. Dessa maneira, apresenta-se como problemática deste estudo a seguinte questão:
a ADI 4.275 direciona a reflexão na seara penal para o entendimento pela aplicação da Lei nº
13.104/2015 às mulheres Trans*?
Em resposta ao questionamento proposto, estrutura-se este texto, atendendo às regras
de submissão do evento, em mais duas seções além desta introdução e das referências ao final.
Na seção dois a seguir, que compreende o título desenvolvimento, aborda-se a fundamentação
teórico-legal e judicial do trabalho, com destaque para os aspectos conceituais basilares sobre:
mulher Trans*, direitos humanos e feminicídio, além das considerações específicas sobre a
ADI 4.275 e a aplicação da Lei nº 13.104/2015 às mulheres Trans*. A seção três apresenta
objetivamente o exigido quanto a métodos de abordagem e de procedimento que propiciaram a
realização do trabalho. Já a seção quatro, por sua vez, traz, a título de considerações, a síntese
de percepções nos termos de conclusões sobre a problemática pesquisada.
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embasado na heteronormatividade4, que os/as relegam à margem da sociedade. É esse
panorama, inclusive, que demanda necessidade de explicitação, em estudos como este, sobre
questões basilares, como “quem é a mulher Trans*?”.
Primeiramente, insta observar que a sigla Trans* “[...] alberga diferentes identidades:
transexual, travesti, transgênero [...]” (DIAS, 2014, p.44). Nesse diapasão, o Congresso
Internacional sobre Identidade de Gênero e Direitos Humanos (CONGENID), realizado em
Barcelona, no ano de 2010, aprovou a utilização de tão somente a sigla Trans* ou mesmo a
letra T*, ambas as formas com asterisco, de modo a abarcar toda e qualquer forma de
transgeneridade (DIAS, 2014). Ou seja, considera-se Trans* “[...] qualquer pessoa cuja
identidade de gênero não coincide de modo exclusivo e permanente com o sexo designado
quando do nascimento” (DIAS, 2014, p.44).
Nesse sentido, mulheres Trans*, sobre as quais recaem as atenções deste estudo, são
aquelas que se identificam com o gênero feminino apesar de terem nascido com o sexo/gênero
masculino. Para essas, dentro do contexto de estereótipos e preconceitos explicitado, a
legislação penal ganha relevância, evidenciando-se, no presente estudo, aspectos voltados à
aplicação da Lei nº 13.104/2015 - Lei do Feminicídio. É o que se observará logo mais.
No que diz respeito aos direitos humanos, consubstancia a Declaração Universal dos
Direitos Humanos - DUDH (dezembro de 1948), ratificada pelo Brasil, no seu art. 1º que
“todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (ONU, 1948). Esse é
o âmago dos direitos humanos, que se traduzem em garantias jurídicas universais, aplicáveis a
todo e qualquer ser humano, independente de raça, cor, gênero, orientação sexual ou religião,
de modo a salvaguardar direitos básicos e essenciais, como o direito à vida, à integridade
física e à dignidade.
Importante ainda mencionar a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969
(Pacto de São José da Costa Rica), que estabelece o Sistema Interamericano de Proteção dos
Direitos Humanos. Sistema esse do qual faz parte o Brasil, signatário de diversos tratados,
convenções e pactos de direitos humanos, como a Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994) (ALMEIDA, 2015), o que o coloca em
posição de compromisso internacional de enfrentamento à violência de gênero.
Ademais, independente de firmados no texto da Constituição, quando ganham o status
de direitos fundamentais, os tratados, convenções e pactos internacionais de direitos humanos
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“[...] pode-se compreender o termo heteronormatividade como aquilo que é tomado como parâmetro de
normalidade em relação à sexualidade, para designar como norma e como normal a atração e/ou o
comportamento sexual entre indivíduos de sexos diferentes.” (PETRY; MEYER, 2011).
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possuem um caráter supralegal. Ou seja, passam a ser exigíveis, sendo considerados “[...]
como princípios gerais do direito e, como tal, devem orientar a produção legislativa e a
interpretação da lei quando de sua aplicação.” (BARSTED, 2001, p.7) “[...] influenciando na
formação das novas leis e de uma jurisprudência calcada nos valores dos direitos humanos”
(BARSTED, 2001, p.7).
Já o Feminicídio, conforme a Lei nº 13.104/2015, é uma qualificadora para o crime de
homicídio contra mulher por razões da condição do sexo feminino. Considera-se, por sua vez,
que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve, além da violência
doméstica e familiar, “o menosprezo ou discriminação à condição de mulher” (BRASIL,
2015, grifo nosso).
Conforme ratificam Bianchini e Gomes (2015), quaisquer embrulhos interpretativos
no intuito de desvirtuar a ideia emanada pela expressão “condição de sexo feminino” trazida
pela lei, não merece prosperar. A expressão se relaciona com razões de gênero e, se pode
entender que foi um recurso utilizado pelo legislador para tentar excluir da abrangência da lei
as mulheres Trans*, uma vez que “o Projeto que deu origem à Lei 13.104/2015 (PL
8305/2014) sofreu, pouco tempo antes de ser aprovado, uma alteração: o vocábulo ‘gênero’
foi substituído pela expressão ‘condição de sexo feminino’” (BIANCHINI; GOMES, 2015,
p.3). Ou seja, a qualificadora “feminicídio” não deve se referir a uma questão de sexo, mas “a
uma questão de gênero (atinente à sociologia, padrões sociais do papel que cada sexo
desempenha) [...]” (BIANCHINI; GOMES, p.3).
Ademais, figura notadamente a supracitada Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994) e “[...] acordos internacionais que
asseguram de forma direta ou indireta os direitos humanos das mulheres bem como a
eliminação de todas as formas de discriminação e violência baseadas no gênero” (PORTO et
al, 2015, p. 2), no bojo fundamental da Lei nº 13.104/2015, isto é, embasa-se a referida lei na
premissa internacional de que a violência contra mulher constitui violação dos direitos
humanos.
E é justamente esse o ponto de confluência dos aspectos conceituais esclarecidos,
mulher Trans*, direitos humanos e feminicídio, uma vez que se tende, sob o aspecto
legislativo e na ordem jurídica interna, a atribuir o termo “mulher” apenas à mulher biológica,
ficando a mulher Trans* à margem e sem proteção às suas garantias fundamentais, como o
próprio direito humano fundamental à vida.
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2.2 ADI 4.275 E APLICAÇÃO DA LEI Nº 13.104/2015 ÀS MULHERES TRANS*
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Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos
notórios. (Redação dada pela Lei nº 9.708, de 1998).
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Ora, está posto pelo Supremo Tribunal Federal, ancorando-se nos estudos de gênero,
que a mulher Trans* tem o direito de ter no seu registro civil o nome feminino pela qual
deseja se chamar, bem como pode alterar o seu sexo no registro para “sexo feminino”,
independente de quaisquer alterações físicas. Dessa maneira, a mulher Trans* fora
reconhecida na instância jurídica, pela Corte Superior do país, como mulher, reconhecimento
esse em consonância com os direitos humanos.
Transferindo o teor da decisão emanada pelo STF para a abrangência da Lei nº
13.104/2015, resta claro encaminhamento para a ressignificação do conceito de mulher no
Direito Brasileiro de modo não só reconhecer a identidade de gênero, mas possibilitar o seu
exercício pleno, incluindo a não sujeição à violência (PORTO et al, 2015). Ou seja, alia-se a
voz do julgador aos movimentos sociais, aos estudiosos de gênero, bem como a diversos
criminalistas, como Luís Flávio Gomes (2015), no sentido de contribuir para a percepção
abrangente da Lei de Feminicídio, de modo a incluir a mulher Trans*.
3 METODOLOGIA
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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5 REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Guilherme Assis de. Direitos Humanos e Não-violência. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2015.
DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade e os Direitos LGBTI. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014.
ONU. Organização das Nações Unidas. Assembleia Geral das Nações Unidas. Declaração
Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em:
<http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf>. Acesso em: 01
jun. 2018.
PORTO, André et al. Identidade de gênero plena: uma proposta de ressignificação do conceito
de mulher para o direito. Derecho y Cambio Social, Lima, v. XII, n. 41, p. 1–25, 2015.
Disponível em:
<http://www.derechoycambiosocial.com/revista041/IDENTIDADE_DE_GENERO_PLENA.
pdf>. Acesso em: 6 maio 2018.
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