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Queremos Ver Jesus…

Diz o evangelista que eram gregos que tinham vindo para adorar naqueles dias em Jerusalém. Eram
judeus já nascidos no estrangeiro, na emigração, como conhecemos nós tantos nas nossas famílias, que
vinham até à Pátria nas festas mais importantes do judaísmo. E queriam ver Jesus. Fazem o pedido a
Filipe, este leva-o até André, e os dois vão ter com Jesus para lho dizer. A resposta de Jesus é
desconcertante: “Chegou a Hora! Chegou a Hora em que será glorificado o Filho do Homem!”

Chegou a Hora? Glorificado? O que significa isto?

Será a Hora do triunfo? Do sucesso? A Hora em que há quem venha de longe para o ver, aqueles mesmo
que subiam a Jerusalém para adorar o Deus de seus Pais, não iam embora sem verem antes o tal Jesus de
Nazaré de quem tanto tinham ouvido falar. Chegou a Hora… a Hora do reconhecimento público, da fama,
da exaltação, da aclamação. O Filho do Homem será glorificado… elogiado pelos homens, louvado por
muitos, procurado pelos de perto e pelos de longe que querem vê-lo.

Será esta a Hora? A Hora da Fama?

Será esta a Glorificação? As palmas dos homens?

Jesus fala de outra Hora e outra Glorificação… Fala do grão de trigo que tem que morrer para dar fruto,
escondido e apodrecido no silêncio da terra… Fala da vida que se perde quando se quer guardá-la fechada
na palma da mão e se ganha quando se dá… Fala de Serviço como atitude principal daqueles que o
queiram seguir como discípulos… Fala de uma tristeza mortal, interior, uma experiência de medo e
injustiça diante da violência que estão perto de exercer sobre ele…

Esta é a Glorificação do Filho do Homem. Não a aclamação poderosa de um vitorioso segundo o mundo,
mas o Dom pleno de si mesmo como serviço, comunhão e grito de Verdade com os mais pequenos do seu
povo, os últimos. A Fidelidade máxima ao anúncio do Reino de Deus, ainda que aconteça encontrar-se
face a face com uma morte violenta. Diz a Carta aos Hebreus que ele, apesar de ser Filho, aprendeu a
Obediência no Sofrimento! A isso obrigou a rejeição dos principais do seu Povo.

Mas a Glorificação de Jesus coincide com o mistério do grão de trigo que frutifica depois, porque não é
apenas a dimensão do dom de si mesmo que se confronta com a violência e a injustiça. É, acima de tudo, a
intervenção de Deus que, como um Pai, levanta o seu Filho, isto é, re-suscita-o. O Filho do Homem foi
elevado da terra… e quem o eleva é Deus, o Pai, na ressurreição! Essa é a Hora de Jesus e a sua plena
Glorificação! Quando o Pai o elevar, o levantar glorioso e lhe der o senhorio de toda a história e fizer dele,
seu Filho, a Cabeça de uma Nova Humanidade. “Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim!”
Esta é a Hora e a Glorificação.

Queremos ver Jesus, diziam eles… É uma pena o texto do evangelho que nos é proposto não ir até ao fim.
Afinal, ainda estamos à espera para saber se eles viram ou não. O texto que lemos acaba no versículo 33.
No evangelho de João, três versículos a seguir é-nos dada a resposta, inesperada: “Depois de ter dito estas
coisas, Jesus retirou-se e ocultou-se deles”. Ainda não era a Hora… A Glorificação que eles lhe traziam,
Jesus não a queria…

Não será Filipe a mostrar Jesus a ninguém. Será Deus mesmo, o Pai, a revelá-lo a todos, será o Pai quem o
fará ver, glorificado pelo Seu Espírito, será o Pai quem o mostrará a todos como Seu Filho Fiel e Amado,
princípio de Vida Nova para todos, dador do Espírito Santo. Na Hora da Glorificação, do grão de trigo
apodrecido na terra mas já nascido, da vida entregue mas já recuperada com glória. Ver Jesus não é
procurar um pregador de sucesso… É fazer a Experiência Pascal! Essa é a única maneira verdadeira de o
VER, quando ele se retira e se oculta no seio do Pai… Ver um re-suscitado, procurando os tantos sinais da
sua presença, reunindo-se em comunidade para escutar a voz do Pai que continua a revelá-lo diante de
nós, a mostrar-nos o Filho e a atrair-nos para ele. Queiramos nós deixar-nos atrair…

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