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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

MCB
Nº 70075554840 (Nº CNJ: 0319599-46.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO


ORDINÁRIA. MANUTENÇÃO DO GRAVAME NO
PRONTUÁRIO DO VEÍCULO. DANOS MORAIS.
1. A instituição financeira providenciou a autorização
para a baixa da restrição instituída sobre o veículo
objeto do contrato de financiamento celebrado entre
as partes, por meio do Sistema Nacional de
Gravames, nos termos do artigo 9º da Resolução n.
320/2009 – CONTRAN.
2. Verificando-se que a manutenção do gravame no
prontuário do veículo financiado decorreu da inércia
do consumidor, ou de fato de terceiro, não há falar
na condenação da instituição financeira ao
levantamento da restrição, tampouco ao
ressarcimento dos prejuízos extrapatrimoniais
alegadamente sofridos pelo autor.
APELAÇÃO DESPROVIDA.

APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70075554840 (Nº CNJ: 0319599- COMARCA DE PORTO ALEGRE


46.2017.8.21.7000)

JERONCIO SALLES DE MORAES APELANTE

BANCO BRADESCO FINANCIAMENTO APELADO


S/A

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Quarta

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar

provimento à apelação.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes

Senhores DES.ª JUDITH DOS SANTOS MOTTECY (PRESIDENTE) E DES.

ROBERTO SBRAVATI.

Porto Alegre, 30 de novembro de 2017.

DES. MÁRIO CRESPO BRUM,

Relator.

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RELATÓRIO

DES. MÁRIO CRESPO BRUM (RELATOR)

Trata-se de recurso de apelação interposto em face da sentença

das fls. 83-84, verso, que, nos autos da ação ordinária ajuizada por JERONCIO

SALLES DE MORAES contra BANCO BRADESCO FINANCIAMENTO S/A, julgou

improcedente o pedido formulado pelo consumidor, com o seguinte dispositivo:

JULGO IMPROCEDENTE o pedido deduzido por JERONCIO


SALLES DE MORAES contra BANCO BRADESCO
FINANCIAMENTOS S.A., CONDENADA a parte autora ao
pagamento de custas e honorários, que fixo em 10%
sobre o valor corrigido da causa, atendidas as diretrizes
dos §§ do art. 85 do CPC1, cuja exigibilidade suspendo
por litigar sob o pálio da AJG.
(...).

Irresignado, apela o autor (fls. 86-93). Sustenta que, mesmo após a

quitação do contrato, a instituição financeira manteve, de forma indevida, no

prontuário do veículo objeto da avença, a restrição de alienação fiduciária. Aduz

que o banco não repassou ao DETRAN a baixa realizada em seu sistema interno.

Requer, assim, seja compelida a parte requerida ao levantamento do gravame

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instituído sobre a garantia, além da condenação da credora fiduciária ao

pagamento de indenização pelos danos morais que diz ter experimentado, os

quais se revelam in re ipsa. Pede, assim, a reforma da sentença, com a inversão

dos ônus sucumbenciais.

A parte demandada apresentou contrarrazões (fls. 95-100).

Vieram os autos conclusos para julgamento.

Foram observadas as formalidades dos artigos 931 e seguintes do

Código de Processo Civil de 2015, tendo em vista a adoção do sistema

informatizado nesta Corte.

É o relatório.

VOTOS

DES. MÁRIO CRESPO BRUM (RELATOR)

A discussão devolvida a exame cinge-se aos seguintes tópicos: (a)

demora no levantamento do gravame de alienação fiduciária e pedido de

retirada da restrição instituída sobre a garantia; e (b) supostos danos morais

sofridos pelo requerente.

Passo à análise das questões suscitadas.

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Inicialmente, destaco que, acerca do tema, assim dispõe a

Resolução n. 124/2001 – CONTRAN, de fevereiro de 2001, vigente à época da

quitação da avença, in verbis:

Art. 2º Após o devedor fiduciário cumprir as suas


obrigações, o credor fiduciário deverá liberar o veículo da
alienação fiduciária junto aos órgãos ou entidades
executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal,
para que o novo Certificado de Registro de Veículo (CRV),
possa ser emitido sem o registro do gravame.
Art. 3º As solicitações a que se refere o art. 1o e as
liberações de que trata o art. 2º, poderão ser feitas
eletronicamente, mediante sistemas ou meios eletrônicos
compatíveis com os dos órgãos ou entidades executivos
de trânsito, sob a integral expensa das empresas credoras
com garantia fiduciária.

O artigo 9º da Resolução n. 320/2009 – CONTRAN, por sua vez,

dispôs acerca do prazo para a baixa do gravame, fixando-o em 10 (dez) dias:

Após o cumprimento das obrigações por parte do


devedor, a instituição credora providenciará, automática e
eletronicamente, a informação da baixa do gravame junto
ao órgão ou entidade executivo de trânsito no qual o
veículo estiver registrado e licenciado, no prazo máximo
de 10 (dez) dias.

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Resta claro, portanto, que, uma vez adimplido o contrato de

financiamento, incumbe à instituição financeira providenciar a informação de

baixa do gravame.

Nesse sentido, igualmente, a reiterada jurisprudência desta Corte:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ARRENDAMENTO


MERCANTIL. AÇÃO COMINATÓRIA. 1. Cabe à instituição
financeira promover a baixa do registro de gravame de
arrendamento mercantil no prazo de até 10 dias após a
quitação do contrato, nos termos constantes na Resolução
nº 320 do CONTRAN. 2. Manutenção da multa diária nos
termos em que fixada. AGRAVO DE INSTRUMENTO A QUE
SE NEGA SEGUIMENTO. (Agravo de Instrumento Nº
70060687811, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Roberto Sbravati, Julgado em
18/07/2014)

No caso concreto, observa-se que, em 11/12/2014 (fls. 34 e 75),

isto é, ainda que mesmo antes da própria quitação da avença (que ocorreu

somente em 25/05/2015, fato incontroverso – fls. 15 e 33-34), e anteriormente

ao ajuizamento da presente ação (distribuída em 30/03/2016), a instituição

financeira promoveu, eletronicamente, a baixa da restrição em questão,

cumprindo, assim, a exigência disposta no aludido artigo 9º da Resolução n.

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320/2009 – CONTRAN, circunstância corroborada pelo documento acostado pelo

demandante à fl. 04 (“Consulta Veículo”).

Nesse passo, saliento que, cabendo, à instituição financeira, apenas

a notícia do cumprimento do pactuado e do cancelamento do gravame – o que,

conforme antes referido, restou atendido –, a manutenção da restrição, ao que

tudo indica, decorreu da inércia do demandante em realizar as diligências que

lhe cumpriam para a obtenção da liberação da restrição instituída sobre o

veículo (indicadas na “Consulta Individual de Veículo” da fl. 82, verso), ou mesmo

em virtude de falha imputável a terceiro.

Dessa forma, não há falar na condenação da instituição financeira

ao levantamento do gravame, tampouco ao ressarcimento dos prejuízos

extrapatrimoniais alegadamente sofridos pelo autor, não merecendo qualquer

reparo, enfim, a sentença hostilizada, porquanto não constatado qualquer ilícito

no proceder da instituição financeira requerida.

Em casos análogos, assim já decidiu esta Corte:

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS. INDEVIDA MANUTENÇÃO DE
GRAVAME. INEXISTÊNCIA. Compete à instituição financeira
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proceder à baixa do gravame junto ao DETRAN, no prazo


máximo de dez (10) dias. Comprovado que a instituição
já remetera ao DETRAN a liberação da restrição de
alienação fiduciária junto ao Sistema Nacional de
Gravames (SNG), descabe falar-se em ato ilícito. APELO
IMPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70069282291, Décima
Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Miriam A. Fernandes, Julgado em 27/10/2016)

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. A liberação do gravame de alienação
fiduciária é ato que depende da instituição financeira
(baixa no Sistema Nacional de Gravames - SNG), bem
como do financiado, que deve comparecer ao Centro de
Registro de Veículos Automotores - CRVA - para efetivar a
liberação. No caso concreto, a instituição financeira
comprovou ter realizado a providência que lhe competia,
de modo que não restou caracterizado ato ilícito passível
de indenização. RECURSO IMPROVIDO. (Apelação Cível Nº
70064694748, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Judith dos Santos Mottecy, Julgado
em 25/06/2015)

Pelo exposto, voto no sentido de negar provimento à apelação.

DES. ROBERTO SBRAVATI - De acordo com o(a) Relator(a).

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DES.ª JUDITH DOS SANTOS MOTTECY (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)

Relator(a).

DES.ª JUDITH DOS SANTOS MOTTECY - Presidente - Apelação Cível nº

70075554840, Comarca de Porto Alegre: "APELAÇÃO DESPROVIDA. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: LUIZ AUGUSTO GUIMARAES DE SOUZA

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