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NOTA DE POSICIONAMENTO

Os/as participantes do Seminário Nacional Democracia e Direitos Humanos: desafios e


perspectivas, realizado em Brasília nos dias 13 e 14 de dezembro de 2018, no marco dos 70
anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dos 30 anos da Constituição Federal e
dos 25 anos da Declaração e Programa de Ação de Viena, o Brasil vive um momento crítico
em direitos humanos. O avanço do neoliberalismo e do conservadorismo ameaçam as
conquistas históricas que resultaram de muitas lutas e resistências.
O retrocesso nos direitos se efetiva através de políticas de desmonte das garantias e das
condições de realização de todos os direitos para todas as pessoas. A reforma trabalhista, a
reforma previdenciária, a Emenda Constitucional (EC) nº 95/2016, a reforma do ensino médio,
entre tantas outras medidas recessivas de austeridade se soma ao ataque às compreensões que
defendem direitos humanos como universais, indivisíveis e interdependentes, com avanço na
defesa da transformação de direitos em serviços a serem negociado no mercado. Estas
perspectivas já presentes na sociedade são fortalecidas pelas políticas que vêm sendo
desenvolvidas pelo atual governo e por aquelas que vêm sendo prometidas pelo governo que
assumirá em 2019.
A esta situação se somam os ataques às organizações, aos/às militantes, às causas e as
lutas populares e por direitos. A desmoralização e a criminalização dos/as defensores e
defensoras de direitos humanos cresce e se configura em ameaças, inclusive vocalizadas pelo
futuro presidente. Os processos que já estavam em curso tendem a se tornar mais ameaçadores
para aqueles e aquelas que atuam na promoção dos direitos humanos nos mais variados temas,
direitos e sujeitos.
A democracia também está em risco. Vem sendo transformada em simples meio de poder,
sem compromisso com seu aprofundamento e qualificação. Pelo contrário, a eleição de um
presidente e de vários parlamentares que expressam publicamente sua adesão e defesa da
ditadura e que propõem ações autoritárias, violentas e antidemocráticas, ainda que no marco da
democracia liberal, fazem com que o futuro comprometido, neste sentido. O ataque a um dos
patrimônios da participação popular que são as experiências de democracia deliberativa, os
conselhos, conferências e outros espaços, também é indicativo de que a recente construção,
ainda carece de consolidação e exigirá uma luta profunda e intensa.
A cultura do individualismo, do “empreendedor de si” cresce e corrói a solidariedade
fundamental que sustenta a promoção de relações humanizadas e humanizadoras, com elas
também avançam os discursos e práticas de ódio e de violência, reavivando a herança racista
escravocrata, que crescem atingindo de modo cada vez mais dramática aos mais pobres, às
mulheres, aos negros, aos LGBTs, enfim, a todos/as que mais sofrem com a não realização dos
direitos, sendo transformados/as em “vidas matáveis”, que se sentem cada vez mais
ameaçados/as. O sistema de justiça e segurança tem se mostrado aquém das necessidades do
enfrentamento da situação, já que menos de 8% dos homicídios são processados e chegam a
alguma responsabilização. Diante disso cresce o punitivismo populista que reforça a
autorização para que as forças de segurança promovam ainda mais truculência e morte.
No campo das organizações sociais e populares, os ataques desmoralizadores e
criminalizadores, enfraquecem sua capacidade de atuação e de promoção de espaços e
processos intensos de permanente de resistência criativa e ativa e de luta para fazer o
enfrentamento deste conjunto de situações. As organizações de direitos humanos passam por
dificuldades de organizar o enfrentamento da situação. Mas nelas está a esperança fundante e
fundamental, pois elas é que são a fonte e a força dos direitos humanos, já que tudo o que se
conquistou foi por sua ação mobilizadora e pelas lutas por elas levadas adiante na sociedade.
Por isso, o mais importante neste momento é criar caminhos para fortalecer as organizações
populares de luta por direitos humanos, sua capacidade de ação local, mas também de promoção
de ações articuladas em diferentes e complementares níveis, de promoção do internacionalismo,
de mobilização das bases sociais, de realização de ações de formação e na defesa e qualificação
dos espaços de incidência e de controle social e no monitoramento das políticas de direitos
humanos e dos compromissos com os direitos humanos.
Assim, a intensificação da promoção e proteção dos direitos humanos passa por reforçar
os compromissos com aqueles e aquelas que historicamente nunca viveram e que ainda não
viveram a realização dos direitos humanos. Fortalecer sujeitos/as de luta e construir processos
interseccioais de ação e de mobilização são o alento de potência que se coloca como
responsabilidade concreta que as organizações participantes deste seminário se propõe a levar
adiante no próximo período.

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