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Direito Constitucional

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
1. Interpretação Constitucional (cont.) ...................................................................... 2
1.1 Princípios Instrumentais da interpretação constitucional................................ 2
1.1.1 Princípio da Supremacia Constitucional ...................................................... 2
1.1.2 Princípio da Presunção de Constitucionalidade das Normas ...................... 2
1.1.3 Princípio da Interpretação Conforme a Constituição .................................. 2
1.1.4 Princípio da Unidade da Constituição ......................................................... 3
1.1.5 Princípio da concordância Prática ou da Harmonização ............................. 4
1.1.6 Princípio da Conformidade Funcional ou Justeza Funcional ....................... 4
1.1.7 Princípio do Efeito Integrador ou da Eficácia Integradora .......................... 5
1.1.8 Princípio da Força Normativa da Constituição ............................................ 5
1.1.9 Princípio da Máxima Efetividade das Normas Constitucionais ................... 6
1.1.10 Princípio ou Teoria dos Poderes Implícitos ............................................... 6
1.1.11 Princípio da Proporcionalidade ................................................................. 7
1.1.11.1 Origem ............................................................................................... 7
1.1.11.2 Fundamento do Princípio da Proporcionalidade ............................... 8
1.1.11.3 Elementos ou Subprincípios .............................................................. 9
1.1.11.4 Aplicação do Princípio da Proporcionalidade .................................. 10
1.1.11.5 Natureza da Proporcionalidade ....................................................... 12
1.1.11.6 Manifestações da Proporcionalidade .............................................. 12
1.1.11.7 Proporcionalidade e Razoabilidade ................................................. 13

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1. Interpretação Constitucional (cont.)


1.1 Princípios Instrumentais da interpretação constitucional
1.1.1 Princípio da Supremacia Constitucional
A Constituição é norma hierarquicamente superior a todas as demais. Essa
supremacia tanto é material (o conteúdo da norma é superior) como formal (a sua própria
formalidade também é superior).
A supremacia formal da Constituição se traduz na rigidez, isto é, o processo de
alteração da Constituição é mais rigoroso do que de elaboração de uma lei.

1.1.2 Princípio da Presunção de Constitucionalidade das Normas


Todas as normas quando surgem no ordenamento jurídico possuem presunção de
constitucionalidade, de compatibilidade com a Constituição e por isso devem ser aplicadas.
Porém, essa presunção é relativa, motivo pelo qual existe o controle de constitucionalidade,
onde poderá ser feita prova em contrário de que a lei é inconstitucional.
A ADC é uma ação cuja finalidade é a confirmação dessa presunção de
constitucionalidade.
Para alguns a finalidade da ADC é converter a presunção relativa em presunção
absoluta. Entretanto, esse não é o melhor entendimento, pois a declaração de
constitucionalidade não gera efeito preclusivo para o próprio Supremo. Assim, mesmo após
a declaração de constitucionalidade pelo Supremo ele pode voltar a rediscutir essa norma,
reapreciando a matéria, e eventualmente até declará-la inconstitucional.

1.1.3 Princípio da Interpretação Conforme a Constituição


Se a norma apresentar mais de um sentido possível deve ser prestigiado aquele que
se tornar mais compatível com a Constituição.
O pressuposto para que haja a interpretação conforme a Constituição é a
plurissignificatividade da norma, isto é, a norma deve ser polissêmica, plurissignificativa,
possuir mais de um sentido possível.
A interpretação conforma a Constituição pode ter dois tipos de resultados: a)
atribuição do sentido que é o compatível com a Constituição e b) exclusão do sentido
incompatível.
Ou seja, dentre as várias possibilidades hermenêuticas, ou aponta-se uma
interpretação como a única correta, ou então exclui-se o sentido incompatível.

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Relacionados à Interpretação conforme a Constituição existe três princípios:


a) Princípio da Prevalência Constitucional
É o mesmo que Princípio da Supremacia da Constituição (Canotilho). Friedrich Müller
cita como Princípio Geral da Penetração vertical da Norma Constitucional, traz a ideia de que
a norma penetra e se impõe perante todo o ordenamento jurídico.

b) Princípio da Conservação de Normas


Decorrência direta do Princípio da Presunção de Constitucionalidade, este princípio
determina que se a norma possuir pelo menos um sentido harmônico com a Constituição o
intérprete deve salvaguardá-la. Deve-se tentar o máximo possível salvar a norma.

c) Princípio da Vedação de Interpretação Conforme a Constituição Contra Legem


O intérprete deve fazer a Constituição prevalecer e deve tentar salvar a norma de
todas as formas possíveis, no entanto, não poderá dar uma interpretação contrária ao que o
texto normativo diz ou permite. Trazendo a discussão da hermenêutica, o significante
comporta alguns significados, mas não se pode atribuir ao significante um significado que ele
não permita. Assim, um texto normativo possui um conjunto de significantes, de palavras
que comportam alguns sentidos, não sendo possível considerar um significado que o próprio
texto normativo não permite. Com efeito, ao fazê-lo o intérprete estaria criando uma nova
norma, atuando como legislador positivo.
Observação1. Quando se diz que a o princípio da interpretação conforme está ligado
aos outros dois, este princípio é decorrência direta da presunção da constitucionalidade. Se
a norma é presumivelmente constitucional, havendo mais de uma interpretação possível
deve ser prestigiada aquela que mantem a constitucionalidade.
Observação2. Caso a prova discursiva inste o candidato a discorrer sobre os princípios
da interpretação conforme e da presunção da constitucionalidade, ou se a questão peça
para analisar dois institutos jurídicos, provavelmente o gabarito será analisar os dois
institutos e depois relacioná-los.

1.1.4 Princípio da Unidade da Constituição


A Constituição forma um sistema que deve ser dotado de coesão, coerência ou
harmonia.

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O intérprete deve em sua atividade evitar ou solucionar os conflitos entre normas


constitucionais. Ademais, não pode atribuir à determinada norma constitucional um sentido
incongruente e desconectado com o restante do ordenamento jurídico, daí se falar em uma
interpretação sistemática.
Com efeito, a parte não pode ser entendida sem o todo e nem o todo entendido sem
a parte.
Deste princípio são extraídos os três princípios seguintes.

1.1.5 Princípio da concordância Prática ou da Harmonização


Deriva do Princípio da Unidade da Constituição. Assim, também visa evitar e
solucionar um conflito, que nesse caso é entre bens constitucionalmente tutelados.
Deverá ser promovida uma ponderação em que a preponderância de um
determinado bem não pode implicar o sacrifício total do outro.
Exemplo: O Supremo usou esse princípio em um caso prático envolvendo Tribunal do
Júri. In casu, o indivíduo praticou crime doloso contra a vida e foi julgado pelo Tribunal do
Júri obtendo, inicialmente, a absolvição. A acusação recorre e o novo Júri condena com
atenuante. Desta decisão somente a defesa recorre e há um novo Júri que nesse terceiro
julgamento condena com agravante. Verificam-se no caso dois princípios em rota de colisão:
de um lado o princípio da soberania dos veredictos, em que ele pode ser condenado com
agravante e de outro da ne reformatio in pejus, que impede que a nova decisão seja pior do
que a anterior. O Supremo ressaltou que para o Júri vale a soberania dos veredictos e ele
não está sujeito à ne reformatio in pejus. Entretanto, como o juiz que faz a dosimetria da
pena não é júri, não está sujeito à soberania dos vereditos. Então o juiz na fixação da pena
deverá respeitar o quantum estabelecido na pena anterior. Assim, o STF fez uma ponderação
para que os dois princípios fossem aplicados, cada um dentro de sua própria finalidade.

1.1.6 Princípio da Conformidade Funcional ou Justeza Funcional


Também está ligado ao Princípio da Unidade da Constituição.
Significa que o intérprete não pode alterar o esquema organizatório-funcional
estabelecido pelo próprio constituinte. Assim, não pode dar uma interpretação à
Constituição de modo a atribuir a determinado órgão ou entidade um poder e uma
competência que não lhe é própria.
Exemplo: O STF não pode agir como legislador positivo e isso é uma decorrência do
princípio da conformidade funcional, é dizer que esta atribuição não está dentro do que o
poder constituinte estabeleceu para o STF. É que o STF não foi chamado para criar novas

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normas (não poder inovar no ordenamento), ele apenas possui competência de legislador
negativo, podendo retirar da ordem jurídica normas inconstitucionais.
Esse é um princípio é forma de salvaguarda da separação de poderes.

1.1.7 Princípio do Efeito Integrador ou da Eficácia Integradora


Esse também é um princípio ligado à Unidade da Constituição.
Visa evitar ou solucionar o conflito entre os diversos grupos sociais ou entre a
sociedade e o Estado.
Grupos sociais podem entrar em relação de tensões, trata-se de tensões entre
comunidades indígenas e os demais, entre negros e brancos, entre homens e mulheres.
Exemplo: Cotas para negros em universidades públicas. Se por um lado verifica-se
que os negros sofreram um processo histórico de exclusão, criaram-se as cotas como um
mecanismo de inclusão. Mas por outro lado se as cotas durarem indefinidamente ocorrerá
uma situação de inversão do problema, onde o grupo que antes era o prejudicado torna-se o
grupo favorecido, gerando uma nova situação de desigualdade, porém agora invertida.
Assim, o sistema de beneficiamento deve ser feito com tempo delimitado, de modo a
equalizar os grupos sociais em tensão e evitar o agravamento invertido do problema.

1.1.8 Princípio da Força Normativa da Constituição


Existe um problema terminológico aqui, onde alguns professores colocam o princípio
da Força Normativa da Constituição como equivalente ao princípio da Máxima Efetividade
das Normas Constitucionais.
Porém, o mais correto é compreender que o princípio da Máxima Efetividade da
Constituição é um desdobramento lógico da Força Normativa.
O princípio da Força Normativa significa que a Constituição tem o poder de
conformação do processo político. Conformar significa dar a forma. Processo político deve
ser compreendido como sendo toda manifestação do poder político, tais como, a maneira
que o poder político é exercido, quais os órgãos que exercem esse poder, etc.
Destarte, não é o processo político, a vida política e os interesses políticos que dão
forma e condicionam a Constituição. A Constituição é que dá a forma ao processo político.
Derivado diretamente disso surge a ideia de máxima efetividade.

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1.1.9 Princípio da Máxima Efetividade das Normas Constitucionais


Se uma determinada norma constitucional apresenta dois ou mais sentidos possíveis
devem ser prestigiados os sentidos que confiram o maior grau de concretização da norma
constitucional, o maior grau de efetividade. Isso está ligado à força normativa.
Vale dizer, eficácia é a aptidão para produzir efeitos é uma potencialidade de
produzir efeitos. Já efetividade é o resultado, a norma produz resultados práticos.

1.1.10 Princípio ou Teoria dos Poderes Implícitos


A todo dever e obrigação que a Constituição estabelece correspondem poderes
instrumentais para a realização deste dever.
Exemplo1: O Tribunal de Contas tem poder de coercibilidade (art. 71, VIII, CRFB).
Porém, o texto constitucional não diz, mas o Supremo admite que o Tribunal de Contas, no
âmbito das suas funções para garantir a efetividade das suas decisões, expeça uma medida
cautelar, ainda que ele não seja um órgão jurisdicional. Esse é um poder implícito porque
necessário pra a realização bem sucedida das suas funções.
Exemplo2: O STF no âmbito da sua competência emite as suas decisões. Caso a
competência ou decisão do Supremo sejam descumpridas, violadas caberá reclamação
constitucional. Assim, o Supremo recebendo a reclamação poderá determinar ao órgão
violador que respeite a sua (do Supremo) decisão ou sua competência. Entretanto, a
reclamação constitucional é uma criação pretoriana (jurisprudencial) do Supremo, que
remonta a década de 50, quando não havia previsão nem na lei, nem na Constituição sobre
esse instituto.
A concepção original da reclamação era de mero desdobramento do direito de
petição, em que a parte violada exercendo o seu direito constitucional de petição levava ao
Supremo o conhecimento sobre a violação (à competência ou à decisão do Supremo). Esse
era um poder implícito para fazer valer suas decisões quando elas fossem violadas. Com
efeito, originalmente a reclamação possuía dois fundamentos: a teoria dos poderes
implícitos e o direito de petição.
Hoje a reclamação evoluiu e boa parte da doutrina a considera como uma ação
constitucional. Assim, primeiro ela foi criada jurisprudencialmente pelo Supremo, depois ela
passou a ter previsão expressa no regimento interno do próprio STF que pela CRFB/67 era
considerado lei ordinária e atualmente a CRFB/88 prevê no próprio texto constitucional (art.
102, I, l da CRFB).
CRFB, Art. 102 - Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
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I - processar e julgar, originariamente:


l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de
suas decisões;

A todo dever correspondem os poderes instrumentais necessários à realização


daquele dever.

1.1.11 Princípio da Proporcionalidade


A prática tanto da doutrina quanto da jurisprudência brasileira é tratar princípio da
proporcionalidade como algo equivalente ao princípio da razoabilidade. Existe uma
diferença que será tratada adiante.

1.1.11.1 Origem

Um dos pontos de origem, buscando na Antiguidade, é a máxima “olho por olho,


dente por dente”. Por mais que essa norma possa parecer cruel é uma norma de limitação,
pois se a pessoa praticou determinado crime terá uma pena proporcional ao crime
praticado. Essa é um a origem muito remota.
Outra origem, advinda da Idade Média, seria a Magna Carta que estabelece que
ninguém será punido senão na medida da gravidade da infração. A infração possui
determinada gravidade e a sanção deverá ser correspondente a essa gravidade. Traz uma
ideia de proporcionalidade ali embutida.
Na Prússia, atual Alemanha, século XIX: o princípio da proporcionalidade passa a ser
debatido no âmbito do poder de polícia, no direito administrativo, em que o princípio em
tela funcionaria como um limite a esse poder. A Administração Pública não poderia agir de
forma abusiva, não poderia agir de forma desproporcional. Uma curiosidade aqui é que
naquele contexto (século XIX) a ideia de poder de polícia tinha uma amplitude maior,
abrangia toda a atividade administrativa, sendo assim, toda a atividade administrativa era
limitada pela proporcionalidade.
Dentro do direito administrativo o princípio da proporcionalidade vai evoluir e no
pós-Segunda Guerra Mundial passa para o plano constitucional se tornando um princípio
constitucional e não apenas um princípio setorial do direito administrativo.
Paulo Bonavides diz que no âmbito da história do constitucionalismo tivemos
verdadeiras revoluções, tais como: formulação do controle de constitucionalidade (é um
marco que muda o constitucionalismo); tópica enquanto método de interpretação da
Constituição e cita ainda o princípio da proporcionalidade (que quando passa para o âmbito
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do direito constitucional é tão significativo que ele considera uma das revoluções que o
constitucionalismo revelou ao longo do tempo).

1.1.11.2 Fundamento do Princípio da Proporcionalidade

O fundamento constitucional tem que ver com a razão de ser deste princípio.
São duas as principais correntes que se destacam para explicar a razão do princípio
da proporcionalidade ser considerado como um princípio constitucional:
Corrente1. O princípio da proporcionalidade é um corolário lógico do Estado de
Direito. Este é limitado e se é limitado o poder público não pode agir além desses limites de
forma abusiva. Todas as vezes que se fala em vedação de excesso e de abuso estamos
falando na verdade do princípio da proporcionalidade.
Corrente2. Se fundamenta nos direitos fundamentais. A lógica aqui é que os direitos
fundamentais são posições que a pessoa ocupa e se o Estado agir em relação a essas
posições não poderá agir para além do necessário. Logo, o princípio da proporcionalidade
seria uma forma de limitação do poder público cujo fundamento e finalidade seria o respeito
aos direitos fundamentais.
Como se vê, chega-se ao mesmo resultado a partir de fundamentos distintos.
Gilmar Mendes diz que o Tribunal Constitucional Alemão ora usa o princípio da
proporcionalidade como fundamento para o Estado de Direito, ora usa o princípio da
proporcionalidade com fundamento nos direitos fundamentais. Esse é basicamente o debate
que ocorre na Alemanha. Porém, no que se referem aos EUA o debate passa para outro
ponto que é do princípio do devido processo legal substantivo. Lá este princípio fundamenta
o que eles chamam de razoabilidade.
Exemplo: edita-se uma norma alterando o Código Penal que passa a estabelecer uma
pena de 20 a 30 anos para o crime de fruto. Neste interim um indivíduo pratica o crime de
furto e é condenado a uma pena de 20 anos, tudo isto levando-se em conta que os princípios
que regem a relação processual foram respeitados (juiz natural, ampla defesa,
contraditório). O devido processo legal analisado a partir dos seus aspectos formais e
procedimentais foi respeitado e a decisão foi fundamentada, etc. Não houve uma violação
do devido processo legal formal, procedimental ou ritual. Porém, a pena que foi imposta
parece muito elevada para a gravidade do crime. Assim, ao olhar para o conteúdo da
restrição do direito verifica-se que ela é inadequada porque excessiva. Isso tem que ver com
o devido processo legal substantivo, substancial ou material. Nos EUA o devido processo
legal substancial é o fundamento do princípio da razoabilidade.

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Há vários autores que diz que proporcionalidade é a expressão utilizada na Alemanha


e razoabilidade a expressão utilizada nos EUA.
E aí o Brasil fazendo uma “salada mista” possui decisões que entendem que o
princípio da proporcionalidade se fundamenta no devido processo legal substantivo. Porém
o mais técnico é:
 Proporcionalidade/Fundamento: Estado de Direitos e Direitos Fundamentais.
 Razoabilidade/Fundamento: Devido Processo Legal Substantivo.

1.1.11.3 Elementos ou Subprincípios

Para alguns autores seria a natureza trifásica do princípio ou relação triangular do


princípio da proporcionalidade, compreende os seguintes elementos:
 Adequação ou aptidão
 Necessidade ou exigibilidade
 Proporcionalidade em sentido estrito
FIM

MEIO SITUAÇÃO
1º) Adequação ou aptidão: tem a ver com o fim. Visualiza-se qual a finalidade
almejada e os meios para alcançar essa finalidade devem ser meios adequados e
pertinentes.
2º) Necessidade ou exigibilidade: Não se olha para o fim, mas para o meio
propriamente dito. E verifica-se: dentre os meios que existem qual o menos invasivo,
oneroso, gravoso.
Exemplo1: Uma frase famosa quanto a esse princípio é “Não se matam pardais com
tiro de canhão”. Pensando nessa figura, a finalidade é matar pardal. Um tiro de canhão é
apto para matar um pardal, mas existem outros meios menos gravosos para matá-lo. Pois as
desvantagens geradas pelo tiro de canhão são maiores, causará muitos estragos, do que as
vantagens pretendidas.

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Exemplo2: Há uma inundação. O poder público verifica que existem muitas famílias
desabrigadas e que não possui bens públicos naquela localidade para abrigar essas pessoas,
mas que existe um galpão de uma fábrica, poderia o poder público intervir na propriedade
privada para abrigá-las? Sim, para atender a finalidade de abrigar pessoas desabrigadas. Só
que o tema intervenção na propriedade possui vários mecanismos. Uma das formas de
intervenção é a desapropriação, entretanto não parece proporcional, pois isso geraria um
custo de indenização para o poder público e um prejuízo para o proprietário que perderia a
propriedade compulsoriamente. Então, nesse caso, como é para atender pessoas durante
um período de tempo, seria mais proporcional fazer uma ocupação temporária, em que
haveria indenização posterior somente em caso de dano.
O princípio da necessidade também pode ser chamado de princípio da escolha do
meio mais suave, princípio da intervenção mínima, ou ainda princípio da menos ingerência
possível.
3º) Proporcionalidade em sentido estrito: tem que ver com a situação. Ideia de que
as vantagens devem superar as desvantagens. Na relação custo-benefício o benefício deve
ser maior do que o custo.
Exemplo: Anos atrás quando a Petrobrás descobriu o pré-sal manifestou desinteresse
de explorá-lo, alegando que naquele momento a tecnologia disponível para exploração era
muito cara e não pagariam o custo para a exploração. Assim fazendo um paralelo a
exploração seria desproporcional, no que tange a proporcionalidade em sentido estrito.

1.1.11.4 Aplicação do Princípio da Proporcionalidade

Existem dois cenários distintos em que o princípio pode ser aplicado:


Cenário1. No controle de constitucionalidade material, em que se analisa o excesso
do poder de legislar. O poder público na hora de legislar foi além do que poderia. Perceba
que não é olhar o processo legislativo em si, mas sim avaliar o conteúdo da norma para se
verificar excesso/abuso que são violações à proporcionalidade.
Exemplo: Uma lei estadual estabelecendo que a comercialização do botijão de gás
deve ser feita com a pesagem às vistas do consumidor. A finalidade é que o consumidor
verifique se o peso real foi igual ao declarado e se for menor ele deverá pagar
proporcionalmente ao que estiver consumindo. A finalidade da norma é a proteção do
consumidor. O STF analisando o caso verificou que essa medida obriga que todos os
estabelecimentos comerciais e os caminhões que fazem a entrega tenham uma balança
específica para fazer esse tipo de pesagem, balança essa que gera um custo elevado que
seria repassado para o consumidor. Assim, o STF entendeu que existem outras maneiras

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menos onerosas ao consumidor de se fazer a fiscalização do peso e que a norma seria


inconstitucional por impor uma medida abusiva e desnecessária. Houve, destarte, um
excesso do poder de legislar.
Veja que excesso do poder de legislar é diferente de excesso do Poder Legislativo,
pois aquele não é aplicável somente ao Poder Legislativo. Pode tratar-se de uma norma
emanada do Executivo, que também legisla.

Cenário2. No caso de colisão ou restrição de direitos fundamentais.


Exemplo: Liberdade de ação profissional. Em que a CRFB estabelece:
Art. 5º, XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer;

E em um caso real a Ordem dos Músicos do Brasil exigia que para haver o exercício
da atividade profissional de músico deveria haver a inscrição na OMB. O STF analisando essa
situação entendeu que tal exigência era inconstitucional por violação ao princípio da
proporcionalidade.
A lógica deste posicionamento foi a de que as restrições às atividades profissionais se
legitimam quando estas geram risco de danos a terceiros. Vale dizer, o exercício da profissão
pode gerar dois tipos de danos: para outras pessoas ou para si mesmo. Quando o risco de
dano é pessoal são situações de periculosidade, de risco à vida ou a saúde. Por outro lado,
quando o risco de dano se refere à outras pessoas as restrições se legitimam e a regra é a
proporcionalidade. Quanto maior o risco que isso gera para a coletividade maior grau podem
ser as restrições. Nesse sentido, verifica-se que a atividade profissional do músico gera um
risco de dano nulo ou mínimo para a coletividade, assim as restrições e limitações a essa
atividade também devem ser mínimas. Portanto, exigir o registro da atividade de músico é
inconstitucional, pois não atende a nenhuma finalidade plausível, justificável, legítima.
Já no que se refere à OAB, o Supremo entendeu razoável e proporcional a exigência
de realização de um exame de proficiência no âmbito do exercício da atividade de advocacia.
É que a atividade do advogado possui um potencial lesivo para a coletividade bastante
acentuado, sendo certo que a correta aplicação das normas jurídicas é essencial para a
existência do Estado de Direito. Nesse sentido a própria CRFB que estabelece que o
advogado é indispensável à administração da justiça. A má formação profissional do
advogado vai gerar um prejuízo não só para o assistido de forma imediata, mas que
repercute de forma mediata para toda a coletividade enquanto Estado de Direito. Então é
legitimo o exame de ordem. E cada profissão deve ser olhada por si, sempre que houver

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maior risco de dano maior devem ser as exigências e o correto seria de que outras Ordens
também exigissem o exame de proficiência.

1.1.11.5 Natureza da Proporcionalidade

Existem duas principais correntes acerca dessa natureza.


A posição tradicional é de que a proporcionalidade é um princípio, mas um princípio
destituído de valor próprio. A natureza seria de um princípio instrumental.
Com efeito, a proporcionalidade não é um valor (marco do que se quer ser)
perseguido. Para quem entende que é um princípio, é um princípio que se apresenta como
um meio de análise de outros fenômenos.
Exemplo: Liberdade profissional em que há uma restrição a essa liberdade. A
proporcionalidade aqui é utilizada para identificar se esta restrição é ou não legítima e
adequada.
Já para a corrente na qual se filia Roberto Ávila a proporcionalidade é um postulado
normativo aplicativo. Postulado é uma condição para obtenção de um conhecimento, neste
caso tem-se um objeto de estudo que se quer conhecer e para chegar ao conhecimento
daquele objeto é necessário se valer de certas estruturas de pensamento.
Exemplo: Liberdade profissional que foi restringida. Analisa-se a restrição e para
saber se essa restrição foi legítima, o intérprete vai utilizar uma estrutura de pensamento
baseada naqueles três pontos (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido
estrito). Tal estrutura de raciocínio não é o objeto de conhecimento e sim algo que permite
conhecer a coisa. Dessa forma, não é princípio (valor material que será compreendido) e sim
um postulado.
Assim, para essa segunda corrente, a proporcionalidade é um postulado normativo
porque permite entender e compreender normas. E possui ainda a finalidade de tornar essas
normas aplicáveis, ou seja, postulado normativo aplicativo.

1.1.11.6 Manifestações da Proporcionalidade

São duas as manifestações ou faces do princípio em tela: princípio da Vedação de


Excesso (visa que o poder público não vá além do necessário) e princípio da Vedação de
Proteção Insuficiente (visa que o poder público não fique aquém do necessário).

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Alguns falam que o poder público deve agir dentro do princípio da justa medida.
Justa medida é um desdobramento do princípio da proporcionalidade e traz a ideia de que o
poder público não pode nem ir além nem ficar aquém do necessário e proporcional.
O princípio da vedação de excesso é uma vertente tão forte que alguns chamam o
princípio da proporcionalidade de princípio da vedação de excesso. O próprio Canotilho
compreende as duas expressões como equivalentes.

1.1.11.7 Proporcionalidade e Razoabilidade

Boa parte da doutrina brasileira utiliza ambos como sendo a mesma coisa.
Para quem diferencia, a diferença seria a de que a proporcionalidade permite uma
análise objetiva (critérios objetivos: faz-se uma análise não necessariamente conectada aos
sujeitos envolvidos), enquanto que a razoabilidade permite uma análise subjetiva (critérios
subjetivos: levam em consideração os aspectos dos sujeitos envolvidos no caso concreto).
Exemplo: No filme “O resgate do soldado Ryan” se coloca em risco todo o grupo para
salvar um soldado. Não seria proporcional tal medida em uma análise objetiva. Porém, o
Ryan era um de quatro irmãos, em que os outros três já haviam morrido na guerra e o Ryan
era o único sobrevivente. Então em uma perspectiva subjetiva não era razoável que a mãe
fosse privada de todos os quatro filhos.
Essa seria uma diferença entre proporcionalidade e razoabilidade. Mas na prática
geralmente essa é uma diferença muito sutil e difícil de perceber. Por isso que muitos
autores e até mesmo o Supremo terminam não fazendo distinção.

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