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Teste de direito das Sociedades 1º Frequência

1. Definir sociedade

O art. 1º nº2 CSC refere-se apenas aos requisitos para que uma sociedade se considere
comercial (objeto comercial e tipo comercial), mas não diz o que é uma sociedade. Para
definirmos sociedades teremos que recorrer ao art. 980º CC que define “contrato de
sociedade (interpretação enunciativa). Posto isto, sociedade comercial é uma espécie dentro
do género de sociedade, configurado pelo direito civil, como direito privado comum: é uma
sociedade (nos termos concebidos pelo art. 980º do CC) com objeto e tipo comerciais
(carateres a que se reconduzem os requisitos do nº2 do art. 1º CSC).

Do art. 980º CC retiram-se alguns elementos da noção de contrato de sociedade: Associação e


agrupamento de pessoas - Elemento pessoal; Fundo patrimonial - Elemento patrimonial;
Objeto - Elemento finalístico; e Fim da sociedade - Elemento teleológico.

Quanto ao elemento pessoal, A sociedade começa por ser uma entidade composta, em regra,
por dois ou mais sujeitos (normalmente pessoas, singulares ou coletivas) - art. 980º CC e art.
7º nº2 1º parte CSC. Há, todavia, exceções pois o direito vem admitindo não só sociedades
supervenientemente unipessoais (ou pluripessoalidade dos sócios) - sociedades reduzidas a
um único sócio, embora hajam sido constituídos por dois ou mais, ou seja, - mas também
sociedades originariamente unipessoais (sociedades constituídas por um só sujeito tanto no
que toca ao momento da constituição da sociedade, como no que toca à subsistência com um
só sócio de uma sociedade já existente).

A unipessoalidade superveniente (em regra transitória) é admitida quer pelo art. 1007 alínea
d) CC e art. 142 nº1 alínea a), 270º-A nº2 e 464º nº3 CSC.

A unipessoalidade originária não está prevista no CC, mas prevê-a o CSC para as sociedades
por quotas e anónimos - art. 270°-A nº1 (introduzido pelo DL 257/96, de 31 de dezembro),
permite que uma pessoa singular ou coletiva constitua uma "sociedade unipessoal por
quotas", o art. 488º nº 1, permite que uma sociedade por quotas, anónima ou em comandita
por ações (cf. art. 481º nº1) constitua "uma sociedade anónima de cujas ações ela seja
inicialmente a única titular".

Relativamente ao Fundo patrimonial, devemos dizer que qualquer sociedade exige um


património próprio. Esse património é inicialmente constituído ao menos pelos direitos
correspondentes às obrigações de entrada - todo o sócio é obrigado a entrar com bens para a
sociedade (cf. arts. 980º, 983º nº1 CC e art. 20º, alínea a) CSC). A entrada em sociedade
comercial (entradas em dinheiro, em outros bens suscetíveis de penhora, em indústria ou
serviços) não tem de ser realizadas no momento inicial da sociedade. Ainda quando as
obrigações de entrada não sejam realizadas ou cumpridas nesse momento, já existe
património social, já existem os direitos correspondentes a essas obrigações.

As contribuições ou entradas dos sócios desempenham 3 funções: Formam, no seu conjunto, o


fundo comum ou património com o qual a sociedade vai iniciar a sua atividade; fixam o capital
social; definem a proporção da participação de cada socio na sociedade.

O objeto da sociedade, segundo o Art. 980º CC- É a atividade económica que o sócio se propõe
a exercer mediante a sociedade (ou propõem que a sociedade exerça).
O exercício de uma atividade económica, no que diz respeito às sociedades em geral, visa
abranger todas as atividades destinadas à produção de bens ou utilidades de qualquer
natureza, materiais ou imateriais, enquadráveis em qualquer dos sectores da economia - art.
980º CC

O art. 980º CC - exige que a atividade económica seja certa, o que significa, obviamente, que
ela deverá ser definida, determinada de forma concreta e específica, de modo a não se
adquirirem indicações tão vagas do escopo social que acabem por se traduzir numa incerteza
da atividade ou atividades a que a sociedade se destine. A atividade económica objeto de as
sociedades não poder ser de “mera fruição”, ou seja, as sociedades não podem ter por objeto
atividades de mero desfrute, de mera perceção de frutos de bens.

Por último, O fim último da reunião dos sócios, com os respetivos contributos para o exercício
da atividade comum, terá de consistir na obtenção de um enriquecimento patrimonial, de um
lucro.

O art. 980º CC prevê lucro, sendo estes definidos como o aumento de património gerado na
própria sociedade, para ser depois repartido entre os sócios, seja periodicamente, seja no final
da existência da sociedade.

No entanto, em vez de lucrarem, o socio ou os sócios podem perder; podem não recuperar
(total ou parcialmente), quando saiam da sociedade ou esta se extinga, o valor das entradas e
de outras prestações feitas à mesma. A sujeição a perdas não consta no art. 980º CC.

O artº 992º nº1 CC e art. 22º nº1 CCom. prevê que as quotas de participação nos lucros e nas
perdas podem não coincidir com a distribuição do capital da sociedade entre os sócios,
podendo haver convenção, no contrato social, que estabeleça proporção diversa.

Mas tal convenção não pode ser levada ao extremo de haver sócios que não quinhoem nos
lucros e/ou nas perdas: uma clausula nestes termos é nula – cf. Arts. 994º CC e 22º nº3 CCom
que proíbem o pacto leonino.

2. Distinguir sociedade civis simples, sociedades de tipo comercial e sociedades


comerciais

São civis as sociedades com objeto civil ou não comercial, as sociedades que não tenham por
objeto a prática de atos de comercio, o exercício de uma atividade mercantil. Exemplo:
sociedades agrícolas, sociedades de artesãos, sociedades profissionais liberais.

Para que sejam civis, as sociedades hão-de ter exclusivamente por objeto uma atividade não
comercial (art. 1º nº 3 e 4 CSC). Consequentemente, uma sociedade que explora uma empresa
agrícola (objeto civil) e, alem disso, se dedica à comercialização de sementes adquiridas a
terceiros é uma sociedade comercial (o seu objeto desdobra-se em atividades não comerciais e
comerciais).

As sociedades civis podem ser de 2 espécies:

-Sociedades civis simples – são disciplinadas fundamentalmente pelo CC (art.980º)

-Sociedades civis de forma/tipo comercial – são sociedades que, embora civis, adotam um dos
tipos de sociedades comerciais, sendo-lhes por isso aplicável o CSC (art. 1º nº4).

Em regra, as sociedades civis podem adotar qualquer tipo de societário mercantil (art. 1 nº4
CSC). Mas às sessões algumas sociedades não podem adotar nenhum dos tipos de sociedades
comerciais como é o caso das sociedades de advogados. Por outro lado, ainda, determinadas
sociedades civis, podendo embora perfilhar qualquer tipo comercial, não podem deixar de
voltar um desses tipos como é o caso sociedades de administrador de insolvência.

Segundo o art. 1 º2 CSC, A sociedade respeito dois requisitos: tenha por objeto a prática de
atos de comércio (objeto comercial); adote um dos tipos previstos no artigo — em nome
coletivo, por quotas, anónima, em Comandita simples, em Comandita por ações (tipo ou forma
Comercial).

Para que uma sociedade seja comercial, ela deverá ter “por objeto a prática de atos de
comércio” (art. 1º nº2 CSC). Assim, o primeiro elemento conceitual específico das sociedades
comerciais consiste no objeto comercial.

O objeto da sociedade consiste nos atos ou atividades que, segundo a vontade dos sócios, ela
deverá praticar e prosseguir. Por conseguinte, é o carácter comercial desses atos e atividades
que atribui às sociedades o carácter de comerciantes (art. 13º nº2 CCom).

Deverá tratar-se, pois, de atos de comércio objetivos (art. 2º, 1ª parte CCom) e de atividades
qualificadas de comerciais pelo art. 230º CCom, ou por outras normas qualificadoras.

Para que uma sociedade seja comercial é ainda necessário que revista forma comercial,
comporta dois sentidos:

-Significa que a sociedade deverá revestir um dos tipos caracterizados e regulados na lei
comercial;

-Exprime a obrigatoriedade de a sociedade respeitar, na sua constituição, os requisitos formais


estabelecidos na lei comercial.

Ainda por motivos de ordem pública, o legislador admite um número muito restrito de tipos
sociais. Estes distinguem-se, através de três características:

-Responsabilidade dos sócios pela obrigação de entrada: trata-se de característica


fundamental, pois identifica a responsabilidade dos sócios para com a sociedade no que toca à
formação do património inicial desta;

-Responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade: é outro aspeto de suma importância,
pois por ele se fica a saber se os sócios são ou não responsáveis, perante os credores da
sociedade pelas dívidas desta;

-Modalidades de composição e titulação das participações na sociedade: trata-se de um


aspeto que, embora secundário, reveste muitas vezes importância assinalável, pois permite
caracterizar a natureza e a forma de cada parte do sócio na sociedade.

3. distinguir sociedade, cooperativa e ACE.

Sociedade

-Personalidade jurídica (CSC, art. 5º)

-Natureza associativa (CCiv., art. 980º)

-Possibilidade de unipessoalidade (CSC, arts. 7º e 270º-A)

-Património comum (CCiv., art. 980º)


-Atividade económica comum (comercial): CCiv., art. 980º e CSC, art. 1º, 2

-Distribuição de lucros (CCiv., art. 980º)

-Comerciante (CCom., art. 13º, 2º)

Cooperativa

Nos termos do n° 1 do art. 2º do CCoop., "as cooperativas são pessoas coletivas autónomas, de
livre constituição, de capital e composição variáveis, que, através da cooperação e entreajuda
dos seus membros, com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a
satisfação das necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles". Os
"princípios cooperativos" estão formulados no art. 3º São eles: adesão voluntária e livre;
gestão democrática pelos membros; participação económica dos membros; autonomia e
independência; educação, formação e informação; intercooperação; interesse pela
comunidade.

-Personalidade jurídica (Código Cooperativo, aprovado pela Lei n.º 119/2015, de 31 de agosto,
arts. 2º, 1, e 17º)

-Natureza associativa (Idem, art. 2º)

-Possibilidade de unipessoalidade: não (Idem, art. 11º)

-Património comum (art. 13º, 1, f) – capital ou indústria)

-Atividade económica comum (comercial): art. 7º

-Distribuição de lucros: não (apenas se permite a distribuição de excedentes – art. 100º; os


cooperadores podem receber juros pelo capital investido na cooperativa – art. 88º)

-Comerciante: posição adotada: nem sociedade, nem comerciante [Argumentos: não tem fim
lucrativo, não visa, em última análise, o enriquecimento pessoal dos membros (cooperadores)
mas a satisfação de necessidades próprias em condições mais vantajosas do que as que são
oferecidas pelo mercado; não se enquadra na economia de mercado ou capitalista, antes na
economia de solidariedade, social ou socialista.

Não é sociedade – art 80º do CCoop.

ACE

“As pessoas singulares ou coletivas e as sociedades podem agrupar-se, sem prejuízo da sua
personalidade jurídica, a fim de melhorar as condições de exercício ou de resultado das suas
atividades económicas.” – L 4/73, base 1 nº 1.

“As entidades assim constituídas são designadas por «agrupamentos complementares de


empresas».” - L 4/73, base 1 nº 2.

-Personalidade jurídica (Base IV da L 4/73, de 4.06)

-Natureza associativa (Base I)

-Possibilidade de unipessoalidade: não se aplica

-Património comum (Base II, 1)

-Atividade económica comum (comercial): sim (DL 430/73, art. 1º)


-Distribuição de lucros: sim, como fim acessório (Idem)

-Comerciante: não. Argumentos: a) o ACE não exerce uma atividade económica produtiva,
criadora de riqueza nova (L 4/73, Base I, 1): através dele, as pessoas singulares ou coletivas
agrupadas visam “melhorar as condições de exercício ou de resultado das suas atividades
económicas.” Não tem por fim obter lucros distribuíveis pelos agrupados, o que, todavia, pode
suceder como fim acessório, mas só excecionalmente: “apenas quando autorizado
expressamente pelo contrato constitutivo” (DL 430/73, art. 1º). É certo que há sociedades
comerciais (logo, comerciantes: art. 13º, 2, do Código Comercial) que não exercem
diretamente uma atividade produtiva: as SGPS, reguladas pelo DL 495/88, de 30.12: mas aí
existe a direção estratégica da ou das sociedades participadas, que pressupõe
necessariamente o controlo destas (arts. 1º, 2, e 12º do DL citado); no ACE, não há direção
estratégica das pessoas agrupadas, pelo contrário, o ACE é que é dirigido por elas (L 4/73, Base
I; DL 430/73, art. 5º, b) e c)). b) Comerciante há-de ser a pessoa singular ou coletiva que,
através do exercício de uma atividade económica, produtiva, criadora de riqueza, visa o lucro
com o intuito final de enriquecimento pessoal (do próprio ou dos sócios/investidores): “a
profissão de comércio implica necessariamente um fim lucrativo.” c) O exercício interpretativo
formal de enquadramento (“subsunção”) de uma determinada pessoa coletiva não societária à
norma do art. 13º, 1, do Código Comercial não é suficiente nem adequado à sua qualificação
como comerciante: torna-se necessário atender à materialidade subjacente, à realidade da
vida económica, ou seja, verificar se, no caso concreto, essa pessoa coletiva tem por objeto o
exercício de uma atividade criadora de riqueza e por fim o lucro económico dos associados.

Não são sociedades. São entidades essencialmente sem fins lucrativos. A própria lei supõe essa
natureza não societária. Art. 4º e 21º do DL 430/73. São, pois, tal como as cooperativas,
entidades de tipo associativo que se situam entre as associações de regime geral e as
sociedades.

4. Referir os modos de constituição da sociedade comercial.

Contrato de Sociedade

o normal ato constituinte das sociedades é um contrato (arts. 3º, 4º, 7 2º nº1 e 2, 9º nº1, 16º
nº1, 18º nº1 e 5, 19º).

Trata-se de um contrato de fim comum (a obtenção de lucros distribuíveis pelos sócios) e de


organização (o negócio faz nascer uma entidade estruturada orgânico-funcionalmente), não de
um contrato comutativo (como é a compra e venda).

negocio jurídico unilateral

As sociedades por quotas e anonimas unipessoais (art. 270º- A e 488º CSC) o CSC estabelece os
processos formativos: ato constituinte com natureza de negocio jurídico unilateral, que deve
revestir a forma exigida no art. 7º nº1 CSC (ver art. 270º-G e 488º nº2), o registo definitivo do
ato constituinte e a publicação do ato constituinte.

Lei ou decreto-lei

Através de lei ou (sobretudo) de decreto-lei, o Estado tem constituído varias sociedades


anónimas. Nuns casos, os atos legislativos "transformam" empresas públicas (agora designadas
"entidades públicas empresariais") em sociedades de que o Estado fica sendo (temporária ou
indefinidamente) o único sócio. Noutros casos, o substrato patrimonial das sociedades não
resulta de empresas e o Estado ora fica único sócio, ora associado a outras entidades publicas.
Pois bem, pode o Estado juntar-se pelo menos a quatro sujeitos ou, em certas situações, a
outro apenas, a fim de constituírem — por contrato e nos termos do CSC uma sociedade
anonima (v. arts. 7 nº1 e 2, 273° CSC). Mas não pode o Estado, através de negocio jurídico
unilateral, constituir uma sociedade anonima unipessoal (segundo o CSC, art. 488º, somente
certas sociedades podem constituir sociedades anónimas unipessoais).

A constituição de sociedades por lei ou decreto-lei implica também um processo. Com efeito, a
aprovação destes atos legislativos exige determinados procedimentos (CRP, arts. 116º, 167º,
168º, 200º), eles têm de ser promulgados pelo Presidente da República, sob pena de
inexistência jurídica (arts. 134º alínea b), 136°,137° CRP), a promulgação carece de referenda
do Governo, igualmente sob pena de inexistência jurídica (art. 140º CRP), e tem de ser
publicados no Diário da República, sob pena de ineficácia jurídica (art. 119º nº1 alínea c) e
nº2).

Decisão Judicial

De acordo com o CIRE, o saneamento por transmissão previsto em “plano de insolvência” visa
a constituição de uma ou mais sociedades para a exploração de um ou mais estabelecimentos
adquiridos a massa insolvente. São estes os principais motivos da Constituição: apresentação
da proposta de plano insolvente contendo, em anexo, os estatutos da sociedade; deliberação
tomada em Assembleia dos criadores aprovando a proposta; homologação judicial do plano;
registo da Constituição da sociedade; publicação. (Art, 199 e 217 nº3 a) do CIRE).

Ato administrativo público

Tendo presente o artigo 22 nº1 do RAEL, A Constituição de empresas societárias Municipais,


Intermunicipais e internacionais processos deste modo: sobre proposta dos respetivos órgãos
executivos, deliberação da Assembleia Municipal, intermunicipal ou Metropolitana autorizar
do município, a Associação de Municípios ou a área metropolitana a constituir em um a
participarem na Constituição de empresas.

5. ???

II) António, casado com Maria desde 1999, explora um estabelecimento de pronto a vestir na
Baixa portuense, tendo-se matriculado como comerciante em nome individual em 1990. Em
1995, a conselho de um amigo. constituiu um EIRL., que em 1997 transformou em sociedade
unipessoal por quotas. Em 2000. Maria juntou-se a António como gerente da sociedade.

Como os negócios corriam bem e o atendimento dos clientes e gestão dos fornecedores
ocupavam todo o tempo disponível, António e Maria não se preocupavam muito com os
administrativos, sendo usual recorrerem à caixa da empresa quando precisavam de pagar
despesas particulares bem como se esqueciam com frequência de levantar o dinheiro
correspondente às suas remunerações.

Em 2010, Maria convenceu António a comprar uma casa de ferias, registada em nome dela,
que foram pagando através de levantamentos da caixa da sociedade. Quase em simultâneo,
os negócios começaram a declinar, principalmente devido à abertura no local de uma loja
pertencente a um grande grupo internacional de moda e a sociedade de António entrou em
situação de grande dificuldade, tendo sido declarada insolvente por sentença transitada em
outubro de 2018.

Como a sociedade não dispõe praticamente de ativo e tem dividas na ordem dos milhões de
euros, o Administrador da Insolvência pretende apreender para a massa a referida casa de
férias. Poderá fazê-lo? Justifique a resposta.

António, casado com Maria e explorador de um pronto a vestir na Baixa Portuense, em 1995
constituiu um EIRL, previsto pelo DL nº 248/86, de 25 de agosto, que nos diz no seu art. 1 nº1
que qualquer pessoa singular que exerça ou pretenda exercer uma atividade comercial pode
constituir para o efeito um estabelecimento individual de responsabilidade limitada, sendo
que apenas só afetará ao EIRL uma parte do seu património, cujo valor representará o capital
inicial do estabelecimento segundo o nº2 do referido artigo. De acordo com o artigo 10 nº1 do
EIRL, o património do EIRL responde unicamente pelas dividas contraídas no desenvolvimento
das atividades compreendidas no âmbito da respetiva empresa, sendo que segundo o artigo
11 nº1, pelas dividas resultantes de atividades compreendidas no objeto do EIRL respondem
apenas os bens a este afetados, contudo, prevê o nº2 do mesmo artigo, que no caso de
falência do titular por causa relacionada com a atividade exercida naquele estabelecimento, o
falido responde com todo o seu património pelas dividas contraídas nesse exercício, contanto
que se prove que o principio da separação patrimonial, previsto no artigo 84 CSC, não foi
devidamente observado na gestão do estabelecimento.

Em 1997, o EIRL transformou-se numa sociedade unipessoal de quotas, pois o EIRL pode, a
todo o tempo, transformar-se em sociedade unipessoal por quotas, mediante declaração
escrita do interessado, de acordo com o nº5 do artigo 270-A do CSC. De referir, que as
sociedades unipessoais por quotas são sociedades originariamente unipessoais, ou seja,
sociedades constituídas por um só sujeito tanto no que toca ao momento da constituição da
sociedade, como no que toca à subsistência com um só sócio de uma sociedade já existente.
De acordo com o nº1 do artigo 270-A, esta sociedade é constituída por um único socio, pessoa
singular ou coletiva, que é o titular da totalidade do capital social.

O facto de António e Maria usualmente recorrerem à caixa da empresa quando precisavam de


pagar despesas particulares bem como se esqueciam com frequência de levantar o dinheiro
correspondente às suas remunerações faz com que violem o principio da separação
patrimonial, previsto no artigo 11 nº2 do EIRL e artigo 84 do CSC que nos diz que se for
declarada falida uma sociedade reduzida a único socio, este responde ilimitadamente pelas
obrigações sociais contraídas no período posterior à concentração de quotas, contanto que se
prove que não foram observados os preceitos da lei que estabelecem a afetação do
património da sociedade ao cumprimento das obrigações. Posto isto, posso afirmar que há
lugar à desconsideração da personalidade jurídica que opera com recurso à interpretação
teleológica de disposições legais, esta desconsideração justifica-se pela mistura de
patrimónios, ou seja, utilização indistinta de bens da sociedade para fins próprios dos sócios
mas que nada têm a ver com a sociedade (por exemplo, pagamento de despesas particulares
dos sócios com dinheiro da sociedade) e de bens dos sócios para fins próprios da sociedade

No entanto, perante o artigo 78º os gerentes, Maria, respondem para com os credores da
sociedade quando o património da sociedade se torne insuficiente para a satisfação dos
respetivos créditos.

Em 2010, António comprou uma casa de ferias, registada em nome de Maria, que foram
pagando através de levantamentos da caixa da sociedade. António ao proceder deste modo
fez uma doação a favor de Maria. A doação, de acordo com o artigo 940 do CCivil, é o contrato
pelo qual uma pessoa dispõe gratuitamente de uma coisa ou de um direito em benefício do
outro contraente. A doação de coisas imoveis só é valido se for celebrada por escritura publica
ou por documento particular autenticado, segundo o artigo 947º do CCivil. Neste caso, a
doação não é valida pois nada nos é dito a forma de celebração do contrato e assim deduzimos
que não foi cumprido o vicio de forma sendo este um vicio de natureza objetiva que afeta todo
o negocio e tem como efeito a nulidade perante o artigo 220 do CCivil. Assim, a casa de ferias
pertence a António.

Em outubro de 2018, foi declarada a situação de insolvência de António pois este encontra-se
impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas, segundo o artigo 3 nº1 do CIRE. Assim,
como a sociedade não dispõe praticamente de ativo e tem dividas na ordem dos milhões de
euros, o Administrador da Insolvência pretende apreender para a massa insolvente a referida
casa de férias. A massa insolvente destina-se à satisfação dos credores da insolvência, depois
de pagas as suas próprias dividas e, salvo disposição em contrario, abrange todo o património
do devedor à data da declaração de insolvência e os bens e direitos que ele adquira na
pendência do processo. Posto isto, e como o contrato de doação feito a Maria é nulo pois não
cumpre a forma prevista na lei, o administrador pode apreender a casa de ferias.

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