Apostila PEF3303
Estruturas de Concreto I
Formulada a partir das Notas de Aula do Prof. João Carlos Della Bella
São Paulo
2018
2 Apostila PEF3303
Sumário
1. Introdução .......................................................................................................................... 3
2. Introdução ao concreto estrutural ....................................................................................... 5
2.1 Natureza....................................................................................................................... 5
2.2 Razões de utilização em larga escala .......................................................................... 7
2.3 Propriedades mecânicas .............................................................................................. 8
2.4 O concreto estrutural ................................................................................................. 14
2.4.1 Concreto armado ................................................................................................ 14
2.4.2 Concreto protendido ........................................................................................... 17
3. Durabilidade estrutural ..................................................................................................... 18
3.1 Mecanismos de deterioração ..................................................................................... 19
3.2 Critérios de projeto visando maior durabilidade ....................................................... 21
4. Segurança estrutural ......................................................................................................... 25
4.1 Método das Tensões Admissíveis ............................................................................. 25
4.2 Métodos Probabilísticos ............................................................................................ 26
4.3 Método Semiprobabilístico ....................................................................................... 28
4.3.1 Variabilidade das ações ...................................................................................... 30
4.3.2 Variabilidade das resistências ............................................................................ 31
5. Fundamentos da concepção estrutural ............................................................................. 33
5.1 Elementos estruturais básicos .................................................................................... 35
5.1.1 Lajes ................................................................................................................... 35
5.1.2 Vigas .................................................................................................................. 36
5.1.3 Pilares ................................................................................................................. 36
5.1.4 Paredes ............................................................................................................... 37
5.1.5 Elementos de fundação ...................................................................................... 37
5.2 Sistemas estruturais ................................................................................................... 39
5.2.1 Sistemas estruturais para transporte de cargas verticais .................................... 40
5.2.2 Sistemas para transporte de cargas verticais ...................................................... 43
5.3 Modelos estruturais para o sistema laje-viga-pilar (LVP)......................................... 44
5.4 Diretrizes gerais para concepção ............................................................................... 51
6. Pré-dimensionamento de elementos estruturais ............................................................... 53
6.1 Lajes .......................................................................................................................... 53
6.2 Vigas .......................................................................................................................... 54
6.3 Pilares ........................................................................................................................ 55
6.4 Determinação das cargas atuantes em lajes e vigas .................................................. 57
6.4.1 Lajes ................................................................................................................... 57
6.4.2 Vigas .................................................................................................................. 59
6.5 Escadas ...................................................................................................................... 62
7. Flexão Normal Simples (FNS) ......................................................................................... 69
7.1 Armadura dupla ......................................................................................................... 80
7.2 Seção T ...................................................................................................................... 85
7.3 Concretos de Alta Resistência ................................................................................... 93
7.3.1 Armadura simples .............................................................................................. 95
7.3.2 Armadura dupla.................................................................................................. 97
Apostila PEF3303 3
1. Introdução
1 INTRODUÇÃO
2 INTRODUÇÃO AO CONCRETO
ESTRUTURAL
Na presente disciplina, uma vez que se tem o concreto como protagonista, nada mais
justo do que fazer, num primeiro momento, um breve panorama acerca de alguns de seus
aspectos como natureza, razões de utilização em larga escala e propriedades.
2.1 Natureza
O concreto, como material produzido pelo homem na tentativa de se obter resistência
e durabilidade semelhante à das rochas, utilizando-se de formas que se mostrem funcionais
e/ou esteticamente atraentes para a construção, segundo Fusco (2012), tem seus primórdios no
Império Romano, quando se utilizavam cinzas vulcânicas (pozolanas) aliadas a blocos de
pedra para a obtenção de estruturas monolíticas, que iam desde muros e fortalezas aos
famosos aquedutos e arenas romanas. O concreto armado, modalidade hoje utilizada em
grande parte das estruturas, surgiu oficialmente em 1849 na França, com o chamado “Barco
de Lambot”, e rapidamente se difundiu mundo afora dado seu potencial como material de
construção.
Define-se, num sentido mais técnico, o concreto como um material composto por
água, ligante(s)/aglomerante(s) hidráulico(s) e agregados, cujos constituintes são:
Apostila PEF3303 7
Observações:
A classificação das britas utilizadas na construção civil é dada pela Tabela 2.1
(geralmente, são utilizadas predominantemente as britas 1 e 2) :
8 Apostila PEF3303
O cimento Portland, que atua como ligante inorgânico no concreto é formado a partir
da seguinte sequência:
Acessibilidade de mão-de-obra.
Observações:
(2.1)
(2.2)
(2.3)
(2.4)
12 Apostila PEF3303
(2.5)
Um dos motivos pelo qual a combinação concreto-aço funciona tão bem é o fato de
eles possuírem coeficientes de dilatação térmica semelhantes, o que minimiza a ocorrência de
deformações diferenciais ( , ). Deve-se atentar à
importância dos efeitos da variação térmica, tendo em vista que em muitas estruturas há a
necessidade de utilização de juntas de dilatação (“folgas” ou espaços preenchidos com
selante) como, por exemplo, entre tabuleiros de viadutos e pontes (Figura 2.3) ou entre placas
de pavimentos de concreto (Figura 2.4).
A nomenclatura dos tipos de aço para concreto é análoga à usada para os concretos,
sendo que CA-## denota um aço para concreto armado cujos caracteres finais indicam a
3. Durabilidade estrutural
3 DURABILIDADE ESTRUTURAL
Relativos às armaduras:
Abrasão e impacto;
Variações térmicas;
Fadiga;
Fluência;
Retração;
Relaxação do aço.
Drenagem:
Formas arquitetônicas:
Qualidade do concreto:
Controle de fissuração:
Classe de agressividade
Concreto Tipo
I II III IV
Relação CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45
água/cimento em
massa CP ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45
Classe de agressividade
Tipo de Componente ou
estrutura elemento I II III IV
Cobrimento nominal (mm)
Concreto Laje ² 20 25 35 45
armado Viga/Pilar 25 30 40 50
Concreto
Todos 30 35 45 55
protendido¹
¹ Cobrimento nominal da armadura passiva que envolve a bainha ou os fios, cabos e cordoalhas, sempre superior ao
especificado para o elemento de concreto armado, devido aos riscos de corrosão fragilizante sob tensão.
² Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos finais secos tipo
carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos,
pisos asfálticos e outros tantos, as exigências dessa tabela podem ser substituídas por 7.4.7.5, respeitado um cobrimento
nominal ≥ 15 mm.
³ Nas faces inferiores de lajes e vigas de reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas
de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente agressivos, a armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45
mm.
Apostila PEF3303 25
Cobrimento nominal:
4. Segurança estrutural
4 SEGURANÇA ESTRUTURAL
(4.1)
: tensões atuantes;
: tensões admissíveis;
: tensões de ruptura;
O risco de colapso, expresso pela probabilidade de falha p, tal que uma solicitação S
seja comparada à resistência R do material (ou seja, ) sempre existe, ainda que
se tenha projeto, execução e controle da estrutura dentro dos mais rigorosos padrões
normativos. Tal risco é inerente à vida dos usuários da estrutura em questão, de modo que se
deva assumir um risco ao invés de adotar um coeficiente de segurança, com devida distinção
entre a falha aleatória inerente ao evento, sem culpados, e as falhas humanas causadas por
irresponsabilidade ou imperícia.
Percebe-se a complexidade relacionada à quantificação de p, uma vez que essa
envolve questões técnicas, éticas, políticas e econômicas; de um modo geral, sua escolha
acaba sendo ditada fundamentalmente por razões econômicas, constituindo a seguinte relação:
(4.2)
De uma análise crítica acerca da funcionalidade desse método, ainda que ele não seja
o ideal, percebe-se nitidamente um progresso com relação ao Método das Tensões
Admissíveis, visto que:
Deve-se ainda ressaltar que, como se trata de um método híbrido, não se faz
possível a determinação de um coeficiente global de segurança, nem a
determinação explícita da probabilidade de ruína da estrutura.
Apostila PEF3303 31
solicitação superar a solicitação em valor de cálculo seja ainda menor que a relativa ao valor
característico, que é de 5%. De maneira geral, adota-se = 1,4 no ELU.
As ações numa estrutura podem ser classificadas em três tipos, a saber:
(4.3)
(4.4)
Para o concreto e aço, os dois materiais estruturais mais utilizados, tem-se no ELU,
respectivamente, =1,4 e =1,15. Por fim, na Tabela 4.1, relacionam-se para fatores que
afetam a segurança estrutural, as respectivas grandezas e coeficientes relacionados:
Apostila PEF3303 33
Tabela 4.1 – Relação entre fatores que afetam a segurança e grandezas afetadas.
Grandezas Coeficientes de ponderação
Fatores que afetam a segurança relacionados
afetadas
Variabilidade das ações F
Simultaneidade das ações F
Erros teóricos da análise estrutural S,R
Imprecisões de cálculo S,R
Imprecisões de execução (geométricas) S,R
Variabilidade das deformabilidades R
Variabilidade das resistências R
Capacidade de redistribuição de esforços R
34 Apostila PEF3303
5 FUNDAMENTOS DA CONCEPÇÃO
ESTRUTURAL
Ao se pensar um projeto estrutural de modo integrado, tal que se atenda os quatro
requisitos de qualidade para uma estrutura (durabilidade, segurança, desempenho em serviço e
sustentabilidade) da maneira mais eficiente e econômica possível, deve-se realizar uma
abordagem cíclica, de sorte a estimular sua otimização. As etapas do projeto estrutural são
ilustradas na Figura 5.1:
5.1.1 Lajes
5.1.2 Vigas
5.1.3 Pilares
5.1.4 Paredes
A saber, o sistema de lajes nervuradas também pode ser utilizado em conjunto com
os sistemas laje-viga-pilar ou laje-pilar, como se vê na Figura 5.16 e na Figura 5.17:
Para a análise de pórticos não contraventados, como na Figura 5.19, por questão de
modelagem, é possível analisa-los globalmente ou localmente, com associação intermediária
de barras rígidas de modo a formar um conjunto de pórticos mais simples conectados entre si.
Quanto aos pórticos contraventados como os da Figura 5.20, cabe ressaltar a importância das
estruturas de contraventamento como as paredes de contraventamento ou shear walls e os
núcleos resistentes para aumento da rigidez global da estrutura.
Vigas solicitadas por cargas verticais: vigas contínuas, cujo grau de precisão
do modelo aumenta de acordo com as condições de contorno adotadas
(apoios extremos):
Figura 5.25 – Vigas contínuas sobre apoios indeslocáveis incluindo os pilares de extremidade.
6 PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE
ELEMENTOS ESTRUTURAIS
Apresentados os elementos estruturais básicos, assim como os sistemas estruturais
comumente utilizados, são fornecidas agora, num âmbito mais geral, diretrizes para o pré-
dimensionamento de lajes, vigas e pilares. Cabe informar que tais diretrizes não são prescritas
pela norma, mas provenientes do empirismo e experiência no projeto de estruturas de
concreto armado presentes no cotidiano. Com isso, será possível determinar o carregamento
atuante nesses elementos, o que permitirá obter os esforços solicitantes, imprescindíveis para
o cálculo das armaduras.
Observação: é importante mencionar que nas plantas de fôrma, com as quais se
deseja que o aluno se familiarize ao longo do curso, as dimensões de elementos como vigas e
lajes estão sempre referidas em relação à linha ou ponto médio do elemento estrutural
adjacente. Sendo assim, dimensões de lajes estarão sempre definidas com relação à linha
média das vigas que a suportam, do mesmo modo que vigas têm seu comprimento definido
entre os pontos médios dos pilares adjacentes.
6.1 Lajes
No contexto de lajes retangulares maciças sob carregamento uniformemente
distribuído (que serão posteriormente estudadas com maior detalhe), essas são definidas por
valores inteiros, sendo que a depender do uso da laje são sugeridos os seguintes valores
mínimos:
Apostila PEF3303 55
6.2 Vigas
Em geral, vigas de concreto armado possuem seção transversal retangular, definida
respectivamente por sua base e altura , que por questão construtiva e estética apresentam
dimensões semelhantes ou iguais à da alvenaria que eventualmente a carregará. Segue
exemplo genérico na Figura 6.2:
Tramo em balanço: .
No caso de vãos muito diferentes entre si, adotam-se alturas próprias para
cada viga;
6.3 Pilares
Assim como as vigas, pilares de concreto armado costumam ter seção retangular
. Recomenda-se que o menor valor da dimensão da seção transversal seja .
Para situações em que , utiliza-se um coeficiente de majoração
, de modo que se tenha uma solicitação em valor de cálculo . Na
Figura 6.3 tem-se um exemplo genérico:
Apostila PEF3303 57
(6.1)
(6.2)
58 Apostila PEF3303
6.4.1 Lajes
Apostila PEF3303 59
Observações:
aproximadamente 3 m;
Peso próprio
Revestimentos
Alvenaria
Enchimentos
Carga permanente ( )
Sobrecarga (q)
p=g+q
6.4.2 Vigas
Determinadas as cargas atuantes nas lajes, pode-se agora obter as cargas nas vigas,
que fornecerão subsídios para que se obtenha, com base na utilização de um modelo ou
esquema estrutural para o carregamento nessas, o valor dos esforços solicitantes que
permitirão calcular as armaduras longitudinais e transversais, de maneira preliminar. A saber,
os carregamentos nas vigas de edifícios (dados em kN/m) podem ser de quatro tipos:
Peso próprio: ;
Alvenaria: ;
No caso de lajes apoiadas em seus quatro lados, a distribuição das cargas atuantes
nessas para as vigas que as suportam se dá por meio de “áreas de influência” delimitadas a
partir das linhas de ruptura da laje. A distribuição adotada será a que ocorre a 45°, de maneira
empírica, como ilustrado na Figura 6.4, de tal modo que tais linhas de ruptura formem uma
figura semelhante a um envelope (por simplicidade, considera-se que os carregamentos
resultantes nas vigas, assim como os que incidem nas lajes, são uniformemente distribuídos).
Apostila PEF3303 61
(6.3)
(6.4)
Disso considera-se, como passo intermediário, uma tabela que contenha para cada
laje as cargas e que solicitarão as vigas adjacentes, como a Tabela 6.2:
Como último passo para se chegar ao esquema estrutural de cada viga do pavimento,
discriminam-se os carregamentos distribuídos dos tipos acima descritos (salvo as reações
concentradas, que demandarão a resolução das estruturas correspondentes às vigas cujas
reações de apoio constituem apoios indiretos em outras vigas), de modo que se tenha a Tabela
6.3:
6.5 Escadas
Para o pré-dimensionamento de escadas, recorre-se à Figura 6.6:
ser usada para estimativa do peso próprio, é dada pela Equação (6.5):
(6.5)
64 Apostila PEF3303
Dados:
= 2,7 m
= 25 kN/m³
= 15 kN/m³
Adotar = 14 cm para vigas internas e = 19 cm para vigas externas.
Adotar carga média de 12 kN/m² por pavimento e tensão ideal de compressão de 1
kN/cm² nos pilares.
Adotar sobrecarga = 1,56 kN/m² em L3 (dispensa) e carga permanente = 7,2
kN/m² em L6 (terra nos jardins, como equivalente de alvenaria).
Adotar enchimento de 28 cm na laje rebaixada L4.
Considerar viga de escada 19x35 cm.
Apostila PEF3303 65
Adota-se = 19 cm
P5 = P8:
P2 = P3 = P10 = P11:
Adota-se = 19 cm
P6 = P7:
Sobrecarga:
L4:
Enchimentos:
Laje de escada:
66 Apostila PEF3303
L1 L2 L3 L4 L5 L6 Lescada
(m) 2 3,6 4,6 2 3,6 1 2,6
(m) 4,9 4,6 4,6 2,3 4,6 7,2 4,6
(cm) 7 9 12 7 9 7 15
Peso próprio (kN/m²) 1,75 2,25 3 1,75 2,25 1,75 6,45
Revestimentos (kN/m²) 1 1 1 1 1 1 1
Alvenaria (kN/m²) - - - 4,2 - 7,2 -
Enchimentos (kN/m²) - - 0,82 - - - -
Carga permanente
2,75 3,25 4,82 6,95 3,25 9,95 7,45
( ) (kN/m²)
Sobrecarga (q) (kN/m²) 2 1,5 1,56 1,5 1,5 - 2,5
p = g + q (kN/m²) 4,75 4,75 6,32 8,45 4,75 9,95 9,95
b h
Viga Tramo
(cm) (cm) (kN/m) (kN/m) (kN/m) (kN/m) (kN/m) (kN/m)
Por fim, são apresentados os modelos estruturais/esquemas estáticos das vigas, com
os carregamentos distribuídos dados em kN/m:
68 Apostila PEF3303
Apostila PEF3303 69
70 Apostila PEF3303
7.
Apostila PEF3303 71
determinado a partir do momento fletor solicitante em valor característico (obtido a partir dos
diagramas de esforços solicitantes internos);
: momento fletor resistente em valor de cálculo, que reflete a capacidade
resistente da estrutura.
Na condição do ELU, a ruptura na flexão pode ocorrer de dois modos:
Concreto:
Aço:
Em qualquer modelo, consideram-se hipóteses simplificadoras, como as seguintes:
Figura 7.4 – Modelo elastoplástico perfeito para a resistência do aço sob tração.
Observações:
Efeito de escala com relação ao corpo de prova, visto que dos ensaios
propostos por Jaegher (1941), verificou-se uma alteração de 5% na resistência
efetiva à compressão, quando da comparação entre corpos de prova de
diferentes dimensões;
Observações:
Cabe ressaltar o perigo associado a uma situação superarmada, uma vez que, mesmo
que ele se dê por precaução ou ignorância, a estrutura se torna exposta a uma ruptura frágil
quando de um aumento não previsto no carregamento a que ela é submetida, ainda que haja
aumento da resistência.
Para proceder à obtenção das relações que regem o dimensionamento, analisam-se os
esforços mobilizados na seção transversal na Figura 7.7:
(7.1)
(7.2)
Equilíbrio:
(7.3)
(7.4)
(7.5)
(7.6)
(7.7)
(7.8)
(7.9)
Dados:
Concreto C20 ( , =1,4
Aço CA50 ( ), =1,15
=1,4
Figura 7.8 – Rotação plástica da seção transversal em função da posição da linha neutra.
Figura 7.9 – Esforços mobilizados na seção transversal (armadura dupla) tomados para
(7.9)
(7.10)
(7.11)
Equilíbrio:
(7.12)
(7.13)
Para dimensionamento:
Dado que e :
(7.14)
(7.15)
Daí tem-se:
(7.16)
(7.17)
Para verificação:
detalhado a seguir:
(7.18)
ii. Com o valor obtido, verifica-se o valor das tensões nas armaduras por meio do
diagrama de deformações;
(7.19)
Salienta-se que são feitas no máximo duas iterações, tendo em vista que, ao se
recalcular a posição da linha neutra e as tensões nas armaduras, já se obtém o valor definitivo
para a verificação.
Dados:
Concreto C20 (
Aço CA50 ( )
= 5 cm
= 0,45d = 22,5 cm
Assumindo :
7.2 Seção T
No item anterior, foi abordado o dimensionamento à flexão em vigas de seção
retangular; entretanto, ao se observar um pavimento e a solidarização entre lajes e vigas, é de
se esperar que as lajes contribuam na resistência à flexão das vigas, ao aumentar a largura
colaborante da seção, constituindo uma mesa ou flange. Daí surge a ideia do
dimensionamento com uso de seção T, que se dá sobretudo nos vãos das vigas, conferindo
maior realidade e frequentemente fornecendo valores de armadura menores do que se esse
fosse feito com uso de seção retangular. As dimensões que caracterizam a seção T são:
Apostila PEF3303 87
: altura da seção;
: altura da mesa/flange (corresponde a altura da laje adjacente).
a distância entre momentos nulos na viga analisada e é a distância entre as faces das vigas.
Para dimensionamento:
(7.20)
(7.21)
(7.22)
90 Apostila PEF3303
(7.23)
(7.24)
(7.25)
(7.26)
(7.27)
(7.28)
(7.29)
(7.30)
Apostila PEF3303 91
(7.31)
(7.32)
(7.33)
(7.34)
Para verificação:
Procede-se do mesmo modo que para a seção retangular; assume-se
inicialmente a hipótese de escoamento da armadura (das armaduras, no caso de armadura
dupla), calcula-se a posição da linha neutra e as tensões reais na(s) armadura(s) e por fim
determina-se o momento resistente, que permite encontrar a máxima carga suportada pela
estrutura.
Dados:
Concreto C20 ( )
Aço CA50 ( ))
= 25 cm
= 5 cm
= 0,45 = 11,25 cm
92 Apostila PEF3303
Para efeito de cálculo, na seção do meio do vão, caso se usasse uma seção retangular
(19x30):
Apostila PEF3303 93
Dados:
Concreto C30 ( )
Aço CA50 ( ))
= 90 cm
= 10 cm
= 0,45 = 40,5 cm
(7.35)
(7.36)
(7.37)
Na forma mais geral, os limites dos domínios, obtidos por semelhança de triângulos a
partir do diagrama de deformações, são:
Observação:
96 Apostila PEF3303
Os esforços mobilizados na seção para armadura simples são dados pela Figura 7.19:
(7.38)
(7.39)
Equilíbrio:
(7.40)
(7.41)
(7.42)
(7.43)
(7.44)
98 Apostila PEF3303
(7.45)
(7.46)
(7.47)
Equilíbrio:
(7.48)
(7.49)
(7.50)
Apostila PEF3303 99
(7.51)
Daí tem-se:
(7.52)
Da Equação (6.48), dado que (uma vez que está no domínio D3):
(7.53)
Dados:
Concreto C70
Aço CA50 ( )
= 45 cm
= 5 cm
= 0,35 = 15,75 cm
8. Lajes
8 LAJES
(8.1)
: parâmetro de rigidez.
Lajes apoiadas nos quatro cantos, com , são denominadas lajes armadas em
uma direção; esse fato permite que lajes desse tipo sejam analisadas como vigas biapoiadas ou
contínuas, tomando-as como uma faixa de largura unitária (isto é, tem-se com isso uma seção
retangular ), o que pode ser visto na Figura 8.8 e na Figura 8.9:
Apostila PEF3303 107
Figura 8.10 – Laje armada em duas direções, com os respectivos momentos fletores.
Figura 8.11 – Laje armada em duas direções, com o deslocamento a meio vão.
Apostila PEF3303 109
Tendo em vista a presença de momentos fletores nas duas direções (Figura 8.10),
faz-se necessário armar as lajes em ambas as direções. Como citado anteriormente, devido ao
fato de a direção ser a mais rígida, sendo com isso mais solicitada, depreende-se que a taxa
de armadura nessa direção será maior que na direção de . Por isso, dá-se o nome de à
também decorre que , o que leva a armadura secundária a ser posicionada acima
20 25 30 35 40 45 50
Armadura principal ( ):
Armadura secundária ( ):
Para a escolha do diâmetro de barras a ser usado, são apresentadas na Tabela 8.2 as
bitolas comerciais, juntamente com as respectivas áreas de seção:
(cm²) 0,125 0,2 0,315 0,5 0,8 1,25 2,0 3,15 5 8,0
Observação: sempre que possível, recomenda-se a utilização das mesmas bitolas das
armaduras principais para as armaduras secundárias.
A armadura negativa, presente em apoios internos na laje, deve ter seu comprimento
cobrindo todo o trecho negativo do diagrama de momentos fletores junto à região desses
apoios; para tal, os valores apresentados para se mostram em geral suficientes para essa
finalidade.
114 Apostila PEF3303
Em apoios de lajes nos quais não há continuidade com outras lajes (o que configura a
situação de extremidade) deve-se dispor deste tipo de armação com taxa , cujo
comprimento deve ser no mínimo 15% do vão menor ( ) da laje. Tal tipo de armadura tem
como função principal evitar a fissuração excessiva nas bordas de extremidade da laje
(simplesmente apoiadas), assim como nos seus cantos, para combater os efeitos dos
momentos volventes.
Dados:
Concreto C20 ( )
Aço CA50 ( ))
= 10 cm
= 2 cm
= 12,5 mm
= 0,15%
Considerar vigas de extremidade com 20 cm de largura.
Ressalta-se que os valores de armadura são calculados por metro de laje, visto que o
dimensionamento é feito, conforme já mencionado, para uma faixa de largura unitária e altura
igual à da laje. A armadura mínima é dada por:
das três situações de detalhamento e válida. Será adotada a última delas, de ϕ 10c/14.
Como deve-se ter para esse tipo de armadura, adota-se então ϕ 6,3c/28
para a armadura secundária negativa e ϕ 5c/22, para a positiva.
Tomando o valor de armadura mínima para as armaduras de borda
( , estudam-se as disposições:
ϕ(mm) As1 (cm²) n = As/As1 s =100/n Adotado
5 0,2 7,5 13,33 ϕ 5c/13
6,3 0,315 4,76 21 ϕ 6,3c/21
Por fim, a partir da massa linear (tabelada), que varia com a bitola, calcula-se a
massa total de aço consumida, bem como a taxa de consumo de armadura nas lajes:
Resumo
Comprimento total Massa linear CA-50
ϕ(mm) Massa total (kg)
(m) (kg/m)
5 236,7 0,16 37,9
6,3 81,6 0,25 20,4
8 203,1 0,4 81,3
10 61,5 0,63 38,8
Total consumido (kg) 178,4
Borda livre: lajes em balanço ou que não sejam suportadas por vigas em
alguma extremidade;
Por fim, é ilustrado na Figura 8.20 o critério para consideração das vinculações nas
bordas das lajes:
Laje L1: nas extremidades do pavimento, onde estão as vigas de borda V1, V4 e V3,
a laje se encontra simplesmente apoiada nessas, ao passo que nas interfaces com as lajes L2 e
L3, onde se encontra a viga V5, a laje L1 se encontra com borda engastada.
Laje L2: assim como para a laje L1, na extremidade onde essa se apoia na viga V1 a
laje se encontra simplesmente apoiada, e na interface interna, onde está a viga V5, a borda é
do tipo engastada. Além disso, a borda é simplesmente apoiada no trecho de extremidade
onde está V6 e onde não há continuidade com a laje em balanço L4, e é engastada nas bordas
onde há continuidade com a laje L3, dada pela viga V2, bem como com a laje L4, dada pela
viga V6.
Laje L3: salvo pela borda de extremidade, simplesmente apoiada na viga V3, todas
as outras bordas são engastadas em função da continuidade com lajes adjacentes (L1, L2 e
L4).
Laje L4: exceto pela borda em que há continuidade com a laje L3 e com uma parte
da laje L2, dada pela viga V6, todas as outras bordas dessa laje em balanço são do tipo livre.
Com isso, a representação final, resultado da discussão acima, é:
124 Apostila PEF3303
entre os vãos da laje e suas respectivas condições de contorno. Como dados de saída,
Dados:
Concreto C20 ( )
Aço CA50 ( ))
= 2 cm
= 1 kN/m²
= 2 kN/m²
= 12,5 mm
= 0,15%
Considerar vigas de extremidade com 15 cm de largura.
Laje
(m) (m) (kNcm) (kNcm) (kNcm) (kNcm)
L1 4 6 1,5 22,2 52,6 9,6 12,4 396 167 917 710
L3 4 6 1,5 27,8 76,9 12,5 17,5 317 114 704 503
Apoio
(kNcm) (kNcm) (kNcm) (kNcm) (kNcm)
L1-L2 710 710 710 568 710
L1-L3 917 704 811 734 811
L3-L4 503 503 503 402 503
L3-L5 704 704 704 563 704
Lajes 1 e 2:
Lajes 1 e 3:
Lajes 3 e 4:
Lajes 3 e 5:
Do cálculo das armaduras de borda, tem-se:
Adota-se ϕ 5c/13.
São dispostas a seguir as plantas de armação, sendo uma para as armaduras negativas
e outra para as positivas:
130 Apostila PEF3303
Resumo
Comprimento total Massa linear CA-50
ϕ(mm) Massa total (kg)
(m) (kg/m)
5 663,1 0,16 106,1
6,3 258,5 0,25 64,6
8 169,6 0,4 67,8
Total consumido (kg) 238,5
Nessa situação, ilustrada na Figura 8.23, acrescenta-se à carga total atuante na laje
(8.2)
132 Apostila PEF3303
8.7.2 Alvenaria sobre lajes armadas em uma direção, paralelamente ao maior lado
Figura 8.24 – Alvenaria sobre lajes armadas em uma direção, paralelamente ao maior lado.
(8.3)
(8.4)
8.7.3 Alvenaria sobre lajes armadas em uma direção, paralelamente ao menor lado
Conforme a Figura 8.25, contempla-se o efeito da alvenaria por meio de uma carga
distribuída em um trecho de largura equivalente, dada pela Equação (8.5):
Figura 8.25 – Alvenaria sobre lajes armadas em uma direção, paralelamente ao menor lado.
Apostila PEF3303 133
(8.5)
(8.6)
(8.7)
Apostila PEF3303 135
9 DIMENSIONAMENTO À FORÇA
CORTANTE
Após apresentada a teoria de dimensionamento à flexão, que permitiu obter as
armaduras longitudinais, segue-se agora com o dimensionamento à força cortante, e
posteriormente à torção, no intuito de se obter as armaduras transversais, além das armaduras
longitudinais de torção, que constituirão o conjunto de armaduras presentes em uma viga.
Além dos modos de ruptura apresentados na Figura 7.1 (página 69) e na Figura 7.2
(página 70), o concreto também pode se romper sob a ação de força cortante devido aos
mecanismos apresentados na Figura 9.1 e na Figura 9.2:
(9.1)
(9.2)
realidade ao estribo e o espaçamento entre eles ao longo da viga, então cada estribo possui
(9.3)
(9.4)
140 Apostila PEF3303
(9.5)
(9.6)
A tensão de cisalhamento nas escoras é indicada na Equação (9.7), sendo que essas
podem ser melhor visualizadas por meio da Figura 9.11, dado que a área de seção de cada
escora é :
(9.7)
(9.8)
Com isso, para a viga em questão, adotam-se dois trechos para distribuição dos
estribos:
Apostila PEF3303 143
Dados:
Concreto C25 ( )
Aço CA50 ( )
= 90 cm
c= 2,5 cm
Verificação do concreto:
Armadura transversal:
Trecho I:
144 Apostila PEF3303
Trecho II:
Para estribos com dois ramos, determina-se a disposição dos estribos, dado que
:
Dados:
Concreto C30 ( )
Aço CA50 ( )
= 45 cm
c= 2,5 cm
Verificação do concreto:
Armadura transversal:
Trecho I:
Trecho II:
Para estribos com dois ramos, determina-se a disposição dos estribos
( ):
Trecho ϕt (mm) 2As1 n = Asw/2As1 s =100/n Adotado
I 10 1,6 7,9 12,7 ϕ 10c/12
II 5 0,4 4,5 22,2 ϕ 5c/20
Deve-se também ponderar que a suspensão pode ocorrer de alguns modos diferentes,
o que influi na taxa de armadura de suspensão necessária; tais modos são apresentados nas
figuras a seguir, com correspondendo à resultante concentrada, em valor de cálculo,
proveniente da viga apoiada:
(9.9)
150 Apostila PEF3303
Dados:
Concreto C20 ( )
Aço CA50 ( )
= 63 cm
c= 2,5 cm
Verificação do concreto:
Armadura transversal:
Apostila PEF3303 151
Trecho I:
Trecho II:
Trecho III:
Viga V1:
Viga V2:
Viga V3:
(9.10)
(9.11)
(9.12)
(9.13)
Observações:
(9.14)
(9.15)
Dados:
Concreto C20 ( )
Aço CA50 ( )
= 63 cm
Verificação do concreto:
= 1,5 cm²/m
Trecho I:
Trecho II:
156 Apostila PEF3303
10 DIMENSIONAMENTO À TORÇÃO
Figura 10.1 – Comportamento de uma barra prismática de concreto armado sob torção.
(10.1)
(10.2)
(10.3)
(10.4)
O momento torçor resistente relativo aos estribos é dado pela Equação (10.5)
(10.5)
Equação (10.6):
(10.1)
vazada equivalente .
Apostila PEF3303 161
dado esse que será útil no dimensionamento. Como última informação, salienta-se que o
dimensionamento à torção é feito preferencialmente para torção de equilíbrio, necessária ao
equilíbrio da estrutura, em detrimento da torção de compatibilidade, não necessária ao
equilíbrio da estrutura. Tal situação pode ser melhor compreendida na Figura 10.7:
Dados:
Concreto C25 ( )
Aço CA50 ( )
= 72 cm
= 2,5 cm
(dois ramos).
para força cortante, uma vez que a armadura obtida é inferior à mínima).
Apostila PEF3303 165
11 ADERÊNCIA, ANCORAGEM E
EMENDAS
A aderência entre as barras de aço e concreto se dá através de três modos principais:
Cabe ressaltar que para barras nervuradas (alta aderência), o mecanismo de adesão
preponderante é o de aderência mecânica, enquanto que para as barras lisas, prevalecem os
mecanismos de adesão e atrito.
Com base na aderência mecânica, para que não haja “deslizamento” da barra, faz-se
necessária a ancoragem da barra; disso, define-se o comprimento de ancoragem básico
como o menor comprimento necessário para a plena transferência de esforços da barra para o
concreto, tal que haja ancoragem da força de cálculo . A partir da ilustração do
comprimento de ancoragem na Figura 11.3, analisa-se o equilíbrio:
(11.1)
(11.2)
168 Apostila PEF3303
44 38 34 30 28
Para utilização nas extremidades das barras tracionadas, os tipos de ganchos são os
da Figura 11.5:
Apostila PEF3303 169
típica do arranjo de barras ao longo da viga, em que não chegam todas as barras até os apoios,
faz-se necessário o respeito a um comprimento necessário de ancoragem . Atentando-se
ao fato de que o uso de ganchos reduz , esse é calculado pela Equação (11.3):
(11.3)
modo a garantir o comprimento de emenda por transpasse , que para barras tracionadas é
dado pela Equação (11.4):
(11.4)
(11.5)
Eventualmente, no trecho de emenda por transpasse entre barras pode ser necessário
o uso de armaduras transversais para segurança da ligação, o que pode ocorrer de duas
formas.
No caso de 16 mm ou quando a proporção de barras emendadas na mesma
seção for menor que 25%, deve-se seguir o prescrito para as armaduras transversais nas
ancoragens conforme Figura 11.6;
Se 16 mm ou quando a proporção de barras emendadas na mesma seção for
maior ou igual a 25%, a armadura transversal na emenda deve:
Ser constituída por barras fechadas se a distância entre as duas barras mais
próximas de duas emendas na mesma seção for menor que , sendo
correspondente ao diâmetro da barra emendada;
12 DETALHAMENTO
LONGITUDINAL DE VIGAS
Estudados e discutidos os modelos de resistência para esforços solicitantes em vigas,
como momento fletor, força cortante e torção, torna-se agora possível realizar o detalhamento
dessas, o que será feito com base no alojamento das barras na seção transversal, seguido do
arranjo das barras longitudinais de flexão ao longo da viga.
(cm²) 0,125 0,2 0,315 0,5 0,8 1,25 2,0 3,15 5 8,0
174 Apostila PEF3303
Classe de agressividade
Tipo de Componente ou
estrutura elemento I II III IV
Cobrimento nominal (mm)
Concreto Laje ² 20 25 35 45
armado Viga/Pilar 25 30 40 50
Concreto
Todos 30 35 45 55
protendido¹
¹ Cobrimento nominal da armadura passiva que envolve a bainha ou os fios, cabos e cordoalhas, sempre superior ao
especificado para o elemento de concreto armado, devido aos riscos de corrosão fragilizante sob tensão.
² Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos finais secos tipo
carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos,
pisos asfálticos e outros tantos, as exigências dessa tabela podem ser substituídas por 7.4.7.5, respeitado um cobrimento
nominal ≥ 15 mm.
³ Nas faces inferiores de lajes e vigas de reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas
de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente agressivos, a armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45
mm.
(12.1)
Por sua vez, na face superior, ou na face inferior (a partir da 4ª camada), o número de
barras que pode ser usado na mesma camada de barras é dado pela Equação (12.2):
(12.2)
Apostila PEF3303 177
Figura 12.4 – Carregamento concentrado numa viga biapoiada e diagramas de esforços solicitantes.
Com base na Figura 12.4, é de esperar que os esforços aos quais as armaduras são
submetidas nas seções ao longo da viga possam ser avaliados com suficiente precisão a partir
dos momentos fletores nas seções de interesse, de modo que a resultante de tração na
armadura seja calculada pela divisão do respectivo momento fletor solicitante em valor de
cálculo pelo braço de alavanca , ou seja, . Entretanto, resultados
Tal fato pode ser melhor explicado a partir do modelo de treliça de Mörsch, no qual,
conforme visto anteriormente, as barras tracionadas correspondem às armaduras transversais e
às barras comprimidas às escoras/bielas diagonais de concreto. Na Figura 12.5, tem-se a
análise da mesma viga da figura acima, no contexto do referido modelo:
armadura transversal ; segundo prescrição da norma, esse é dado pela Equação (12.3):
(12.3)
Sendo assim, para o modelo da treliça clássica, em que a inclinação das diagonais é
de = 45°, e da escolha de estribos perpendiculares ao eixo da viga, de modo que = 90°,
tem-se , o que implica ; usualmente, adota-se = 0,75d.
Dado que em barras nervuradas a aderência mecânica é predominante, de
posse do conceito de decalagem, deve-se de levar em conta ainda o comprimento mínimo para
a plena transferência de esforços dessas ao concreto por meio da ancoragem. Numa viga,
como visto no início desse item, sempre que há variação de momento fletor (isto é, ,
uma vez que ), ocorre também variação das resultantes de tração nas armaduras e de
Para um mesmo trecho do diagrama decalado que não chegue aos apoios, o
correspondente comprimento de corte de um tramo da barra (ou da barra inteira, caso o
diagrama analisado seja simétrico) é determinado por meio da comparação entre os valores
obtidos nos pontos denominados A e B, sendo adotado o maior deles. No processo, deve-se
considerar também a abcissa medida a partir do ponto de momento fletor máximo (positivo
para as armaduras positivas e negativo para as negativas) do diagrama de momentos.
No ponto A, referente ao ponto onde a solicitação na armadura é máxima, marcando
o início do trecho de ancoragem e de diminuição da força de tração (uma vez que o esforço
começa a ser transferido ao concreto), devem-se estender as barras de um comprimento .
Ilustra-se a referida discussão na Figura 12.7:
No ponto B, referente ao ponto onde se tem teoricamente uma tensão no aço nula
(dado que o esforço na armadura já foi plenamente transferido ao concreto), devem-se
prolongar as barras de um comprimento 10 .
Já no caso das barras que chegam aos apoios, primeiramente faz-se necessário
lembrar que nos apoios a força de tração nas barras não é nula, demandando assim, para a
ancoragem, que a armadura longitudinal resista ao chamado esforço a ancorar, ilustrado na
Figura 12.8 e dado pela Equação (12.4):
(12.4)
(12.5)
Por fim, o comprimento de ancoragem no apoio, contado a partir de sua face interna,
, fazendo com que a área de grampos a ser utilizada seja igual à diferença entre
as armaduras efetivas original e recalculada.
Observação: no caso de apoios intermediários, recomenda-se que as barras que neles
chegam sejam estendidas até a face externa oposta do pilar, na condição obrigatória de que
.
182 Apostila PEF3303
Exemplo 21: Realizar, para a viga abaixo, o alojamento e arranjo das barras
longitudinais.
Dados:
= 54 cm
= 2,5 cm
= 50 cm
= 19 mm
= 6,3 mm
= 4 cm
Ancoragem:
Camada 1 ( ):
Camada 2 ( ):
Camada 3 ( ):
cm², de modo que tenha por fim um comprimento de corte no tramo esquerdo de 317 cm,
juntamente com uma área de grampos de 6,6 - 6,3 = 0,3 cm² (pode-se adotar 1 ).
Camada 1 ( ):
Apostila PEF3303 185
Camada 2 ( ):
Referências