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11/11/2010

O que fazer com o racismo no


Brasil?
Refletindo sobre as políticas
de combate ao racismo no
Brasil.

Algumas questões preliminares...


• O que é preconceito?
• O que é discriminação?
• O que é raça?
• O que é racismo?
• Existe racismo no Brasil? Por quê? Contra
quem?

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A palavra RAÇA pode ter vários significados...


• Na Biologia –Associado à subespécie:
– O termo raça pode ser empregado para uma espécie quando
membros de duas comunidades possuem diferenças genéticas
maiores do que entre membros de sua própria comunidade. Assim,
mais de 90% da diversidade humana está dentro das populações, e
não entre elas. No Rio de Janeiro, por exemplo, encontramos mais de
90% da variabilidade genômica existente no mundo.
– Além disso, a espécie humana é jovem - só tem 200 mil anos - e tem
padrões migratórios amplos demais para permitir que houvesse a
separação em raças diferentes – alto grau de fluxo gênico
• Assim, para a Biologia, não existem raças na espécie
humana!!! Todos os seres humanos pertencem a um único
grupo racial.
• O que existe no caso do Homo Sapiens são fenótipos variados
(Fenótipos = características externas: cor dos olhos, cor da
pele, tipo de cabelo). Essa variedade está relacionada a
adaptação da população humana às diferentes condições
climáticas e geográficas do planteta;

• Na Antropologia:
– Correlação estabelecida entre padrões fenotípicos (aparência
física) e/ou localização geográfica com padrões culturais;
– Empréstimo de categorias (conceitos) da biologia,
principalmente a partir das teorias de Darwin (embora esse
nunca tenha se manifestado a respeito)
– Teorias racistas do século XIX (“Racismo Científico”);
• Na Política e na Sociedade:
– Significado sociológico – Uma forma de classificação social
baseada na cor da pele - o que nos permite afirmar que,
sociologicamente, existem raças sociais.
– Referência que se faz aos afro-descendentes pelos grupos que
lutam contra a discriminação desse segmento;
– Reconhecimento da herança cultural originária de um
determinado continente ou povo;

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Comparando o Racismo em dois países...


ASPECTO SOCIAL ESTADOS UNIDOS BRASIL
Amplitude da escravidão •Restrita aos estados do sul Houve escravos em todas
( O racismo no continente do país: Uma pessoa as cidades brasileiras até
americano está
escrava que subisse o Rio a abolição da escravatura;
relacionado com a
existência da escravidão Mississipi era considerada
nesses lugares) livre;
Duração legal •Pouco menos de 200 anos; •Mais de 350 anos;
Construção ideológica e •RACISMO DE ORIGEM: • RACISMO DE MARCA:
social do conceito de Marcada pela origem familiar - Definida pela aparência física
RAÇA: ancestralidade do indivíduo: (fenotipia) :
- Leis de “pureza racial”; →Variação quanto à própria
•Impossibilidade social da identificação da cor.
miscigenação – pessoas mestiças •Múltiplas possibilidades sociais
são classificadas “na raça” mais de miscigenação.
discriminada;
Universo Social “Iguais, mas separados “Juntos, porém hierarquizados
(segregados) – A partir de 1968.” (ou discriminados)”

Manifestação do Racismo

BRASIL ESTADOS UNIDOS


• Discriminação pela cor da • Segregação (Política de
pele: estado até 1968):
– Proibições por critérios
– Associada a condição de
de raça;
classe;
– Ocupação/Acesso aos
– “Empregada Doméstica” e espaços públicos;
criadagem;
• Caráter Legal da
• Caráter simbólico da discriminação;
discriminação

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Introdução à Antropologia:
Ciência da Alteridade (O Outro);
Por que existem diferenças culturais? Como
explicá-las?
Campos (Áreas) da Antropologia:
Etnografia – Etnologia;
Arqueologia;
Antropologia Cultural;
Relação com a Lingüística.

Primeiras Teorias Antropológicas:


–Teorias Racistas (anos 40 - 60 do
Séc. XIX):
• Conde de Gobineau, Louis Agassiz;
• Existência de Três Raças;
• Conseqüências da mistura de raças:
– Diluição das melhores características
raciais
– Inviabilidade sociológica da mestiçagem
• Influências no Brasil:
– Imigração / políticas de branqueamento

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QUADRO COMPARATIVO DAS RAÇAS


GOBINEAU – Século XIX (teoria não mais aceita!!!!)
CRITÉRIOS BRANCOS AMARELOS NEGROS

Propensões Fortes Moderadas Muito


animais Fortes
Manifestações Altamente Comparativamente Parcialmente
Cultivadas Desenvolvidas Latentes
morais
Capacidade Vigorosa Medíocre Débil
Intelectual

Evolucionismo Cultural
(anos 70/Séc XIX - Século XX):
• Influência da Biologia e da Sociologia do
Século XIX:
– Positivismo e Darwinismo Social;
• Espécies Sociais em constante evolução linear:
– Europa – mais evoluída (Sociedades européias –
complexas);
– Sociedades não européias – Primitivas (fósseis
vivos);
• Intelectuais: Spencer, Taylor, Morgan, Fraser.

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Conceitos derivados do racismo e do


Evolucionismo
• Determinismo :
– Biológico;
– Geográfico
• Etnocentrismo:
– Considerar a própria cultura ou
civilização como superior ou, no
limite, a única válida.
– Compreender uma sociedade ou
grupo sob o ponto de vista da cultura
de quem o observa;

Funcionalismo
(+-1900 - 1930):
• Funcionalismo (início do Século
XX até os anos 30):
– Principais teóricos: Malinowski e
Radcliff-Brown
– Impossibilidade de comparar
sociedades diferentes;
– Cada sociedade deve ser estudada de
forma isolada;

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• Conceito de função:
– Cada sociedade é composta de partes interdependentes e
complementares;
– Toda sociedade tem a função de satisfazer as necessidades dos
seu membros;
– A função é uma resposta de cada cultura às necessidades
básicas do ser humano;
– O método de pesquisa:
• Observação participante:
– Convívio com o grupo estudado – condição para compreensão
e para o conhecimento;
– Observação de cada detalhe da vida social
– Construção de uma síntese com as principais instituições
sociais do grupo estudado;
• Noção de sistema social:
– Conceito teórico construído a partir da observação das
relações sociais;
– Organização e integração dos fenômenos sociais;

• Contribuições metodológicas;
– Estudos sistemáticos sobre sociedades não-
européias;
– Conceito de Relativismo Cultural :
• Uma sociedade somente pode ser estudada a partir dos
seus próprios conceitos;
• Valorização das diferenças
• Críticas:
– Através dos conceitos de aculturação e choque
cultural, não ficou evidente as desigualdades
provocadas pelo contato entre culturas diferentes;
– Favorecimento do colonialismo europeu;
– Privilegiou o estudo dos processos de integração
social, não dando importância aos conflitos sociais.

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NEGRO

• Os termos negro ou negróide foram


utilizados na classificação de grupos
humanos adotada no passado na
Antropologia, correspondendo a uma
raça.
• Atualmente, a noção de raças
humanas, do ponto de vista da
biologia, é considerada equivocada
• Utiliza-se o conceito de etnia para
descrever grupos humanos com
características físicas e culturais

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Para pensarmos sobre a


questão racial:
• Pesquisa de opinião realizada pela Fundação Perseu Abramo
revela que 87% dos brasileiros reconhecem que há racismo no
Brasil;
• Entretanto 96% não se assumem como racistas...
• Dessa forma, no Brasil, vivemos um paradoxo: um racismo
sem racistas... Isso é possível?

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É possível definir quem é negro no Brasil?


• O Brasil é um país mestiço. A mestiçagem resulta da mistura
genética entre diferentes grupos populacionais catalogados
como raciais.
• A mestiçagem também possui elementos culturais. Afro-
descendente é, ao pé da letra, o reconhecimento da
descendência africana, mestiça ou não.
• Considerando o contexto da mestiçagem, ser negro possui vários
significados.
• Em nosso país ser negro é uma escolha de identidade, a da
ancestralidade africana.
• Então ser negro é, essencialmente, um posicionamento político.

Algumas estatísticas sobre a questão...


• O Brasil foi o último país a abolir legalmente a escravidão no
Ocidente;
• Foi também o país que mais importou africanos para serem
escravizados: 3,6 milhões chegaram vivos aqui ao longo de
três séculos.;
• No Brasil, existem quase 80 milhões de pessoas afro-
descendentes, segundo o IBGE:
– A 2ª maior população negra do mundo, a maior fora da África;
– A maioria é muito pobre;
– Quase não estão presentes no topo da pirâmide social

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 Em relação à pobreza:
 Dos 22 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da
pobreza, 70% são negros;
 Entre os 53 milhões de pobres do país, 63% são afro-
descendentes;
 A se considerar apenas o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) dos brancos, o Brasil se colocaria entre os
países de bom desenvolvimento humano (46º lugar, numa
lista de 173 nações). Mas, ao se considerar somente o IDH
dos negros, o País despencaria para o 105º lugar.
 Trabalho e renda:
 41,1% das pessoas brancas que trabalhavam ocupavam
empregos formais . No entanto, esse era o caso de apenas
33,1% dos afro-descendentes;
 Enquanto a renda per capita média dos negros era de R$
162,84 em 2000, a dos brancos atingia R$ 406,77.”
(reportagem OESP 16/02/03)

• Segundo os Ministérios do Trabalho e da


Justiça:
– O rendimento médio dos homens brancos é de 6,3
salários mínimos;
– Da mulher branca é de 3,6 Salários Mínimos (SM);
– Do homem negro é de 2,9 SM;
– Da mulher negra, 1,7 SM;
• Em 2000, na região metropolitana de São
Paulo, a taxa de desemprego dos homens era
de 15%, a das mulheres brancas alcançava
18,9%, enquanto a das mulheres negras
chegava a 25,1%.

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• A situação da mulher negra no Brasil:


– A maioria é vítima de uma tríplice discriminação: por se negra,
mulher e pobre;
– A taxa de analfabetismo das mulheres negras é 3 vezes maior que
as mulheres brancas;
– As mulheres negras estão, em sua maioria, em postos de trabalho
mais vulneráveis e precários (52,5%), ao lado de 37% das mulheres
não-negras;
– Por outro lado, apenas 4,3% das trabalhadoras negras ocupam
postos de direção, gerência ou planejamento, ao lado de 12,8% das
mulheres ocupadas não-negras;
– As famílias chefiadas por mulheres correspondem a cerca de um
terço das famílias brasileiras:
• Nesse universo, as mulheres afro-brasileiras encabeçam 60% do total
as famílias sem rendimento ou com rendimento mensal inferior a um
salário mínimo.
• Já entre as famílias que recebem três ou mais salários mínimos, a
participação grupos familiares chefiadas por mulheres afro-brasileiras
cai para 29%.

• Nos meios empresariais:


– Negros, pardos e mulheres ainda são minoria em cargos de chefia:
• São apenas 4,3% de pretos e pardos e 16,4% de mulheres nesses
postos (dados do IBASE – pesquisa realizada entre 2000 e 2002);
• A comparação foi feita analisando 561 balanços sociais publicados
por 231 empresas nesse período. A maioria das empresas é de
grande e médio porte.
– Em 2002, um estudo do Instituto Ethos de Responsabilidade Social
mostrou que, em 94% das empresas pesquisadas, os cargos de
diretoria eram ocupados por brancos;
– Os empreendedores negros representam 22% do total de
empregadores brasileiros (contra 76% de empresários brancos),
segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) feito em 1999 pelo economista Marcelo Neri e pelo
estatístico Alexandre Pinto.

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 Educação:
 Em 2001, as taxas de analfabetismo para pessoas de 15 anos ou
mais de idade, ainda eram duas vezes mais elevadas para os afro-
descendentes (18%) do que para os brancos (8%);
 No ensino fundamental público, os pretos e pardos representam
53,2% do total de alunos, e os brancos são 46,4%;
 Na pós-graduação, o índice de participação de afro-descendentes é
de 17,6%, enquanto os brancos somam 81,5% do total;
 26,4% dos brancos podem ser considerados analfabetos funcionais,
contra 46,9% dos afro-descendentes;
 De um total aproximado de 1.050 diplomatas brasileiros em ação,
somente 7 deles não são brancos.
 O Mapa da Exclusão Digital de 2001 revela: entre os brasileiros que
têm computador, 79,77% são brancos, 15,32% são pardos e 2,42%,
pretos, o que significa que, para cada preto/pardo com acesso à
informatização, existem 3,5 brancos.

Em relação à saúde:
• Os índices de mortalidade infantil revelam 37,3% de mortes
em cada mil crianças brancas e 62,3% entre as crianças
negras.
• A expectativa de vida dos negros brasileiros é seis anos
inferior à dos brancos (68 anos para os afro-descendentes e
74 anos para os brancos);
• De acordo com um levantamento, em 2000, a taxa de
mortalidade por AIDS no país foi de 11 por 100 mil para as
mulheres brancas e 21 por 100 mil para as negras. Entre os
homens, os índices são de 22,77 por 100 mil para os brancos e
41,75 por 100 mil para os negros.

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O que fazer para...


• Mudar esses dados estatísticos?
• Promover economicamente a população
afro-descendente?
• Reduzir as desigualdades provocadas por
questões relacionadas ao racismo e o
preconceito?
• Impedir atitudes de discriminação/racismo
no dia-a-dia?

 A longo prazo:
 Melhorando significativamente a qualidade da educação
pública em nível básico;
 Organizando economicamente a sociedade para que taxas
de desemprego sejam reduzidas
 A médio prazo:
 Uma educação que valorize a diferença :
 Promovendo o diálogo ;
 Aprofundando conhecimentos sobre a cultura africana;
 Conhecendo melhor a história da escravidão no Brasil;
 Refletindo sobre a questão racial no Brasil;
 Políticas de ação afirmativa;
 A Curto prazo:
 Punir atitudes racistas através da lei (já existente);
 Requalificar os servidores públicos, sobretudo a polícia;
 Cotas Universitárias (a que provoca mais polêmica).

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As políticas de ação afirmativa:


• Visam oferecer aos grupos discriminados e excluídos um
tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devidas à
sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de
discriminação;
• Têm como objetivo corrigir os efeitos presentes da discriminação
praticada no passado, concretizando o ideal de efetiva igualdade de
acesso a bens fundamentais como educação e emprego.
• No Brasil, constituem um conjunto de políticas públicas de caráter
compulsório, facultativo ou voluntário concebidas com vistas à
promoção de populações historicamente discriminadas e ao combate à
discriminação.
• Já foram aplicadas em vários países nos últimos 20 anos: Estados
Unidos, Inglaterra, Canadá, Índia, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia,
Malásia...

Para quem se destinam essas políticas?


 Mulheres:
 Nos cargos de direção e chefia do Ministério da Justiça;
 Nas listas partidárias de candidatos nas eleições proporcionais
(deputados e vereadores);
 No poder judiciário;
 Pessoas portadoras de deficiência:
 Nos cargos de direção e chefia do Ministério da Justiça;
 Nos concursos para o serviço público;
 Na contratação de funcionários de setor privado;
 Pessoas pobres:
 Políticas sociais compensatórias;
 Cotas para o acesso às instituições federais de ensino (desde
que os alunos sejam oriundos das escolas públicas).

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Para Afro-descendentes:
• Incentivos para que empregar um maior
percentual de afro-descendentes;
• Ministério da Justiça: cargos de chefia e
contratação de empresas terceirizadas;
• Cotas Universitárias:
– Critério de auto identificação;
– Vinculados a origem escolar (universidades federais);
– Tem caráter emergencial ;
– Será que elas provocariam maior discriminação ou
reparariam uma distorção social?

Reserva de vagas para afro-descendentes


nas Universidades públicas:
• UERJ;
• Universidade Estadual do Norte Fluminense
(UENF);
• Universidade Estadual da Bahia;
• Universidade de Brasília (UnB);
• As outras universidades federais estão em
processo de implementação de reserva de vagas
para afro-descendentes.
• USP.

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