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ANGOLA (quando@verdade.

ao): Winston Churchill, o grande primeiro-ministro inglês que


venceu a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) contra a Alemanha nazi, estava um dia a discutir
com um general americano como se tinha passado determinado episódio nessa guerra. A sua versão
era diferente da americana, e não chegavam a acordo. No final, para acabar com o diferendo,
Churchill disse que não interessava a opinião do americano, porque era ele, Churchill, quem ia
escrever a história – a sua versão ficaria para a posteridade. E assim foi. Churchill escreveu uma
monumental história da Segunda Guerra Mundial que lhe valeu o Prémio Nobel da Literatura. E a
sua versão tornou-se a verdade. José Eduardo dos Santos e o MPLA não são Churchill nem nunca
o serão, mas também eles ganharam a guerra à UNITA e são os únicos a escrever a história dessa
guerra e do que se passou. Portanto, os seus contos, muitos inventados, outros adulterados,
tornaram-se verdades. Confundiu-se a propaganda e o romance com a verdade histórica, e criou-
se uma “lenda negra” sobre a UNITA. A UNITA é o partido da guerra e sempre quis guerra; não
sabe viver em paz – foi esta a ideia disseminada sem travões. A “lenda negra” parte da falsificação
dos acontecimentos históricos de 1992, segundo a qual a UNITA recusou os resultados eleitorais
e recomeçou a luta armada, desde então nunca aceitando os resultados eleitorais, em que é
sistematicamente derrotada. A verdade é outra. A UNITA nunca recusou os resultados eleitorais
de 1992. Isso mesmo está documentado no Jornal de Angola, em duas notícias históricas, de 1 de
Outubro de 1992 – “Vamos ter segunda volta” e “Savimbi diz que aceita resultados como estão”
–, que constam nos nossos arquivos documentais. Depois da primeira volta eleitoral de 1992, a
UNITA prontificou-se a continuar o processo eleitoral, passando à segunda volta das eleições
presidenciais entre Dos Santos e Savimbi, e disso informou todas as autoridades nacionais e
estrangeiras. Na realidade, menos de duas semanas depois de Savimbi ter aceitado os resultados
eleitorais “como estão” – na data prevista e tendo cumprido todos os protocolos, incluindo cartas
às Nações Unidas –, os seus dirigentes e negociadores de paz foram massacrados em Luanda. Não
houve qualquer tentativa de golpe de Estado por parte da UNITA, como se fez crer na altura. Mais
uma verdade histórica: nunca mais houve segunda volta nem eleições presidenciais directas. Elege-
se uma lista e pronto. Dezenas de milhares de angolanos inocentes perderam a vida no conflito que
se seguiu. Portanto, o mito da não-aceitação dos resultados eleitorais como factor de retorno à
guerra e do posterior oxigénio da paz não passa disso mesmo, de um mito. A verdade é que Savimbi
era um senhor da guerra, como o era José Eduardo dos Santos. A guerra tinha dois lados, e de
ambos os lados foram cometidos crimes de guerra que facilmente poderiam ser provados quer
numa comissão de justiça e reconciliação, quer em tribunal. Só é possível assumir duas posturas
sérias: aceitar que a guerra tinha dois lados e que ambos são culpados, reconstruindo o caminho
sem acusações; ou instituir um organismo encarregado de fazer uma avaliação histórica e colectiva
das responsabilidades, que em definitivo (tanto quanto é possível) produza um documento válido
e com provas sobre o que se passou. O que não se pode aceitar é a posição maniqueísta do MPLA:
nós somos bonzinhos, eles são o diabo. Não. Ambos são angolanos e merecem dignidade. A única
diferença é que o MPLA ganhou a guerra. A sua violência, o apoio internacional e a propaganda
foram mais eficazes do que a violência do adversário. Tendo o MPLA mantido sempre o controlo
do poder, por que razão não ouviu, no decurso do processo de paz, os inúmeros apelos das igrejas
e da sociedade civil para que se estabelecesse uma comissão de reconciliação? A verdade é que o
MPLA quer sempre que a história seja a sua. Ainda vamos a tempo de discutir o passivo da guerra,
para que as novas gerações conheçam a história real de Angola, sem as manipulações do MPLA,
e para que se dê descanso definitivo a todas as vítimas do MPLA e da UNITA. Se há castigo que
a UNITA e a oposição possam hoje merecer não é pelo seu passado, mas pela sua incapacidade de
articular uma defesa competente dos interesses da maioria dos angolanos, muitos dos quais
votaram neles nestas eleições. Infelizmente, a oposição é fraca em termos de estratégias políticas,
liderança e capacidade de comunicação. É por aqui que, ao nível da sociedade, devemos exigir
mudanças: que os partidos políticos se dêem ao trabalho de procurar mais-valias em termos de
competências e capacidade de liderança. Os defensores do MPLA costumam argumentar que
quaisquer críticas consistentes dirigidas ao seu partido constituem actos criminosos. O que esses
arautos procuram disfarçar é que os dirigentes do MPLA roubam todos os dias, desgraçam os
angolanos todos os dias, fazem sofrer os angolanos todos os dias. Por isso, temos a maior taxa de
mortalidade infantil do mundo. Por isso, temos provavelmente a maior taxa de analfabetismo
funcional do mundo, em que as pessoas se limitam a pensar que, estando do lado do poder, deixarão
de ser vítimas dos seus atropelos, levarão o pão à boca e subirão na vida através da corrupção. As
ameaças de guerra que têm sido avançadas por aqueles que vivem obcecados pelo poder do MPLA,
não são realmente ameaças de guerra. São ameaças de massacre. A UNITA é desde há 15 anos um
exemplo de paz, de cumprimento das suas obrigações para com a democracia. Só há um exército,
sob controlo absoluto do MPLA. Não há portanto qualquer hipótese de guerra, apenas de massacre.
Com as suas insinuações, o MPLA sugere que, se necessário for, o regime levará por diante mais
um massacre para se perpetuar no poder. O sufrágio apenas lhe serviu para usar o povo como
forma de legitimação. Se isso não resultar, não hesitará em recorrer à força. Logo que termine o
teatro, governo / MPLA cuspirão de novo no povo, com a arrogância de quem apenas governa para
servir interesses pessoais e de grupo. Angolanos, acordem!

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