PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS
PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
A Lei 12.651/12, inicialmente denominada “Novo Código Florestal”, teve sua ementa alterada,
suprimindo a menção ao termo “Código”. Assim, a nova lei não se denomina Código, pois o texto não é
um conjunto sistematizado de normas relativas às florestas. Na verdade, a legislação sobre o tema se
encontra dispersa e a abrangência da Lei 12.651/12 é limitada.
O de 1965 manteve basicamente os institutos do anterior, mas sua abrangência diminuiu com
o tempo, devido à criação de leis especiais que tiraram aos poucos seu âmbito de atuação, como a Lei
das Unidades de Conservação, Lei da Mata Atlântica, Lei de diversidade biológica, Lei de Gestão das
Florestas Públicas, dentre outras.
Dessa forma, o novo “Código Florestal” ficou reservado, praticamente, para áreas
particulares. Porém, mantendo a tradição, nos referimos à Lei 12.651 como NCF (Novo Código
Florestal).
O principal ponto negativo foi a instituição das chamadas “áreas consolidadas”, espaços
degradados por desobediência à legislação anterior e cujos infratores foram anistiados. Houve, assim,
o reconhecimento de fatos consumados sem medidas de recuperação do que foi desmatado no
passado, premiando quem descumpriu a lei. Por outro lado, os defensores da anistia argumentam que
as áreas consolidadas foram criadas para compatibilizar a proteção do meio ambiente com as
atividades já realizadas, por motivo de segurança jurídica. A ampla anistia foi abrandada por alguns
vetos e pela MP 571.
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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O art. 1º-A estabeleceu que o fundamento central no Novo Código é a proteção e uso
sustentável das florestas e o desenvolvimento sustentável é o objetivo a ser alcançado (art. 1º-A,
parágrafo único).
Foram poucas as mudanças com o Novo Código em termos gerais e estruturais, já que a lei
aprovada permitiu somente ajustes pontuais para adequação da situação de fato à situação de direito
pretendida pela legislação ambiental.
#NÃOCONFUNDA
Exprimir que as florestas e demais formas de vegetação “são bens de interesse comum a
todos” significa que, embora o domínio da floresta seja público ou privado, o interesse deve ser
compreendido como a faculdade legal e constitucionalmente assegurada a qualquer indivíduo de
exigir, administrativa ou judicialmente, do titular do domínio, que ele preserve a sua boa condição
ecológica.
#ATENÇÃO: As APP’s e as áreas de Reservar Legal, bem como outros espaços territoriais
especialmente protegidos, estão isentas do pagamento do Imposto Territorial Rural – ITR, de acordo
com a Lei n. 9.393/96.
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2. ÁREAS FLORESTAIS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO CÓDIGO FLORESTAL:
Área de Preservação Permanente - APP: “área protegida, coberta ou não por vegetação
nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica
e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas” (Art. 3º, II).
A APP é caracterizada pela intocabilidade dos recursos naturais da área, salvo casos de
utilidade pública ou interesse social ou outros definidos na Lei 12.651/12.
Basicamente a APP tem a função de preservar a água, o solo, a paisagem, a fauna e a flora.
São dois os tipos de área de preservação permanente: as legais (ex lege), que são as áreas
taxativamente previstas pelo Código Florestal, e as administrativas, que são as áreas criadas por ato
do Poder Público municipal, estadual ou federal, de acordo com a conveniência e oportunidade do
caso concreto.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA
(...) 2. A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que os deveres associados às
APPs e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou
posse, independente do fato de ter sido ou não o proprietário o autor da degradação ambiental.
Casos em que não há falar em culpa ou nexo causal como determinantes do dever de
recuperar a área de preservação permanente. (AgRg no Resp 1.367.986/SP - Relator: Min. Humberto
Martins – decisão publicada no DJe de 12.03.2014)
#ATENÇÃO
Ainda que haja instituição de APP em parte de imóvel urbano privado, a área não passa para o
domínio público e continua submetida ao pagamento de impostos:
O fato de parte de um imóvel urbano ter sido declarada como Área de Preservação
Permanente (APP) e, além disso, sofrer restrição administrativa consistente na proibição de construir
(nota non edificandi) não impede a incidência de IPTU sobre toda a área do imóvel. (AgRg no REsp
1.469.057-AC, Segunda Turma, DJe 20/10/2014. REsp 1.482.184-RS, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 17/3/2015, DJe 24/3/2015. - Info 558).
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2.1. FLORESTAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE PELO EFEITO DO CÓDIGO FLORESTAL:
Os Estados poderão estabelecer, em sua legislação própria, outros critérios para que se
definam locais nos quais a flora será considerada de preservação permanente, já que o Código
Florestal é tido como lei geral (nacional).
O disposto no artigo 19, parágrafo 1º da Lei Estadual nº 10.561/91 não conflita com o
preceito contido no artigo 21, parágrafo único do Código Florestal. Trata-se aquela de lei especial,
compatível com o tratamento genérico da norma federal. (REsp 246531/MG)
A preocupação do art. 4º, I, “a”, “b”, “c”, “d” e “e” do Código Florestal situa-se na preservação
da vegetação que protege os cursos d’água, diante de sua relevância. A remoção da cobertura vegetal
reduz o intervalo de tempo observado entre a queda da chuva e os efeitos nos cursos d’água (deflúvio
de base), diminui a capacidade de retenção de água nas bacias hidrográficas e aumenta o pico de
cheias. Ademais, a cobertura vegetal limita a possibilidade de erosão do solo, minimizando a poluição
dos cursos de água por sedimentos.
Note-se que a Lei n. 12.727/12 fez sensível alteração para estabelecer que apenas as faixas
marginais de curso d’água natural perene (que possui água corrente durante todo o ano) e
intermitente/temporário (aquele que, naturalmente, não apresenta escoamento superficial em alguns
períodos do ano; seca em período de escassez de chuva) são APPs, excluindo os rios efêmeros (que
têm escoamento superficial apenas durante ou imediatamente após períodos de precipitação).
Vale ressaltar que a linha inicial de demarcação da largura das APPs foi alterada, reduzindo a
dimensão das APPs: mede-se, agora, não a partir do nível mais alto do corpo de água (nível alcançado
com a cheia sazonal), mas sim da “da borda da calha do leito regular”. OFF TOPIC: eu sei, não tá fácil
pra ninguém... kkkkk mas quem reclama não aprende, então vamo simbora!
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares
de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua
situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem
por cento) na linha de maior declive;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca
inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros
e inclinação média maior que 25°.
A proteção das florestas e demais formas de vegetação que se encontrem no topo dos morros,
montes, montanhas e serras tem a finalidade de preservar a integridade dos acidentes geográficos,
evitando, ainda, enchentes e inundações nos térreos mais baixos (a vegetação constitui barreira
natural).
Ademais, o simples efeito da vigência do Código Florestal fez com que as restingas, fixadoras
de dunas ou estabilizadoras de mangue, fossem consideradas como de preservação permanente.
As florestas de preservação permanente por efeito da lei só podem ser suprimidas por outra
lei, diante do princípio da similitude das formas.
Houve grande alargamento das hipóteses de utilidade pública e interesse social, que
permitem a intervenção na APP e a supressão de sua vegetação.
A supressão de vegetação em APP pode ser A supressão de uma APP só pode ser autorizada
autorizada mediante ato administrativo. mediante lei, de acordo com o inciso III do § 1º do
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art. 225 da CF.
O tema é tratado no Capítulo XIII, Seção II, do novo Código Florestal, nos artigos 61-A usque
65, tendo sido tomado como marco legal divisor de regime jurídico o dia 23 de julho de 2008, quando
foi publicado o Decreto nº 6.514, que dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio
ambiente, que instituiu uma série de novos tipos administrativos para punir os infratores da legislação
ambiental, tendo o artigo 61 sido vetado pela Presidenta da República.
IV – área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de
julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último
caso, a adoção do regime de pousio;
Além da previsão no Novo Código Florestal, a consolidação da utilização antrópica (aquilo que
decorre da ação humana) das Áreas de Preservação Permanente foi aspecto principal da Medida
Provisória 571/12 e dos vetos da Presidente da República ao projeto de lei aprovado no Congresso
Nacional. Assim, podemos visualizar dois regimes jurídicos que tratam da situação, vejamos:
#RESUMINDO: O regime jurídico mais flexível, que prevê a “anistia” de multas, infrações
ambientais e até mesmo alguns crimes ambientais, caso haja uma reparação parcial do dano causado
ao meio ambiente vem disciplinado nos artigos 59 ao 69 do Novo Código Florestal e se aplica as
situações ocorridas até a véspera da publicação do Decreto 6.514/08 (22/07/08).
O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, direitos
ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias
compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de
extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da ‘incumbência’ do
Estado de garantir a preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1º, I).
(AgRg no AREsp 327687)
Em suma, todos aqueles que exploraram ilicitamente a vegetação em APP com consolidação
até o dia 22 de julho de 2008 foram premiados com o reconhecimento jurídico da situação
consolidada, observados os condicionantes.
Conforme já visto, nos moldes do art. 7º, §3º, do novo Código Florestal, no caso de supressão
não autorizada de vegetação realizada após 22 de julho de 2008, é vedada a concessão de novas
autorizações de supressão de vegetação enquanto não cumpridas as obrigações de recomposição de
vegetação.
Vamos estudar, abaixo, as formas de recomposição parcial do dano florestal que deverão ser
adotadas pelos proprietários e possuidores rurais em razão das situações consolidadas até 22 de junho
de 2008:
Os proprietários e possuidores rurais com áreas consolidadas em APP ao longo dos cursos
d´água deverão recompor as faixas marginais a partir da borda da calha do leito regular, variando a
dimensão da mata ciliar a ser recomposta de acordo com o tamanho do imóvel rural, da seguinte
forma:
Para os imóveis com mais de 4 módulos fiscais, o tema é regulamentado pelo artigo 19, §4º
do Decreto 7.830/2012.
§ 4o Para fins do que dispõe o inciso II do § 4º do art. 61-A da Lei nº 12.651, de 2012, a
recomposição das faixas marginais ao longo dos cursos d’água naturais será de, no mínimo:
I - vinte metros, contados da borda da calha do leito regular, para imóveis com área superior
a quatro e de até dez módulos fiscais, nos cursos d’água com até dez metros de largura; e
II - nos demais casos, extensão correspondente à metade da largura do curso d’água,
observado o mínimo de trinta e o máximo de cem metros, contados da borda da calha do leito
regular.
2.4.2. Nascentes e olhos d’água perenes (art. 61-A, §§5º, do novo CFlo):
2.4.3. Entorno de lagos e lagoas naturais (Art. 61-A, §6º, do Novo Código Florestal):
Cuidado para não confundir com a hipótese das matas ciliares, pois são muito parecidas!
Art. 64. Na regularização fundiária de interesse social dos núcleos urbanos informais inseridos
em área urbana de ocupação consolidada e que ocupam Áreas de Preservação Permanente, a
regularização ambiental será admitida por meio da aprovação do projeto de regularização fundiária, na
forma da Lei específica de Regularização Fundiária Urbana. (Redação dada pela Medida Provisória nº
759, de 2016)
Art. 65. Na regularização fundiária de interesse específico dos núcleos urbanos informais
inseridos em área urbana consolidada e que ocupem Áreas de Preservação Permanente não
identificadas como áreas de risco, a regularização ambiental será admitida por meio da aprovação do
projeto de regularização fundiária, na forma da lei específica de regularização fundiária urbana.
#RESUMINDO
Reserva legal florestal (RLF) é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse
rural, delimitada nos termos do art. 12 do Código, com a função de assegurar o uso econômico de
modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos
processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de
fauna silvestre e da flora nativa.
Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de
Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente,
observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos
previstos no art. 68 desta Lei:
I – localizado na Amazônia Legal: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de
florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por
cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
a) o cômputo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;
Reserva Legal acima do mínimo legal: Área excedente poderá ser utilizada para fins de
constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental ou outros instrumentos congêneres.
Poderá ser instituída Reserva Legal em regime de condomínio ou coletiva entre propriedades rurais,
respeitado o percentual previsto no art. 12 em relação a cada imóvel.
A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do
imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado.
Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena propriedade ou posse rural familiar, os
órgãos integrantes do SISNAMA deverão estabelecer procedimentos simplificados de elaboração,
análise e aprovação de tais planos de manejo. É obrigatória a suspensão imediata das atividades em
área de Reserva Legal desmatada irregularmente após 22 de julho de 2008.
Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, deverá ser iniciado
processo de recomposição da Reserva Legal em até 2 (dois) anos contados a partir da data da
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publicação desta Lei, devendo tal processo ser concluído nos prazos estabelecidos pelo Programa de
Regularização Ambiental – PRA.
A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de
inscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de
transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei. Na
posse, a área de Reserva Legal é assegurada por termo de compromisso. A transferência da posse
implica a sub-rogação das obrigações assumidas no termo de compromisso.
O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem propósito comercial, para
consumo no próprio imóvel, independe de autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser
declarados previamente ao órgão ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada
a exploração anual a 20 (vinte) metros cúbicos.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA
Requisito para registro da sentença declaratória de usucapião
João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se
tornar o proprietário do terreno. A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a
propriedade.
Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de
Imóveis para que nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu
favor a sentença de usucapião. Em outras palavras, João deverá averbar a sentença de usucapião no
Cartório de Registro de Imóveis para ser considerado proprietário.
Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no
Cartório do Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental Rural).
Em outras palavras, o juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o autor
inscrevesse a Área de Reserva Legal no CAR.
Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?
SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no
Cadastro Ambiental Rural (CAR). STJ. 3ª Turma. Resp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).
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Assim, há a necessidade de prévio registro da reserva legal no CAR, como condição para o
registro da sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis. (Resp 1356207)
A proteção florestal, seja por RFL ou por APP, não implica desapropriação, nem deve ser
indenizada, exceto se restringir o domínio ou causar alguma espécie de prejuízo.
A desapropriação indireta pressupõe três situações, quais sejam: (I) apossamento do bem
pelo Estado sem prévia observância do devido processo legal; (II) afetação do bem, ou seja, destiná-
lo à utilização pública; e (III) irreversibilidade da situação fática a tornar ineficaz a tutela judicial
específica. A edição do Decreto Federal n. 750/93, que os embargantes reputam ter encerrado
desapropriação indireta em sua propriedade, deveras, tão somente vedou o corte, a exploração e a
supressão de vegetação primária ou em estados avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica,
sendo certo que eles mantiveram a posse do imóvel. Logo, o que se tem é mera limitação
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administrativa. As vedações contidas no Decreto Federal n. 750/93 não são capazes de esvaziar o
conteúdo econômico da área ao ponto de ser decretada a sua perda econômica. Recurso de embargos
de divergência conhecido e não provido. (STJ. EREsp 922.786/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
Primeira Seção, Dje 15/9/2009).
Por outro lado, o STJ já decidiu em inúmeras oportunidades que a indenização referente à
desapropriação de propriedades detentoras de APP’s não deve abranger a área de preservação
permanente por esta não ser passível de exploração econômica, senão vejamos: Nas demandas
expropriatórias, é incabível a indenização da cobertura vegetal componente de área de preservação
permanente. (Resp 1090607/SC)
Com relação à cobertura vegetal (RFL), quando o imóvel for desapropriado, o STJ diz que é
necessária a demonstração de exploração econômica (lícita) para o recebimento de indenização:
#SELIGANADIVERGÊNCIA
O STF segue orientação diametralmente oposta, pugnando pela indenizabilidade das áreas de
APP e da cobertura vegetal nos processos de desapropriação: O Supremo Tribunal Federal firmou o
entendimento de que as áreas referentes à cobertura vegetal e à preservação permanente devem
ser indenizadas, não obstante a incidência de restrição ao direito de propriedade que possa incidir
sobre todo o imóvel que venha a ser incluído em área de proteção ambiental. (AI 653062)
Nestas hipóteses, a União é indubitavelmente parte legítima, uma vez que a unidade de
conservação da natureza foi por ela instituída mediante decreto da Chefia do Poder Executivo Federal
e tendo em vista que a própria Lei nº 9.985/2000 (SNUC), enquadra os Parques Nacionais na
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categoria de Unidade de Proteção Integral, com posse e domínio públicos, afirmando a necessidade
de que as áreas privadas, abrangidas nos limites dos Parques, sejam desapropriadas.
A lei 11.284/2006 é tida como norma geral, de modo que as leis estaduais e municipais
deverão se adequar às suas normas de contornos gerais, bem como, pela competência suplementar,
poderão elaborar normas supletivas e complementares e estabelecer padrões relacionados à gestão
florestal.
A duração dos contratos e instrumentos similares fica limitada a 120 (cento e vinte) meses.
Nas licitações para as contratações, além do preço, poderá ser considerado o critério da
melhor técnica previsto no inciso II do caput do art. 26 desta Lei.
A destinação pode ser feita nas seguintes formas: I – criação de reservas extrativistas e
reservas de desenvolvimento sustentável; II – concessão de uso, por meio de projetos de
assentamento florestal, de desenvolvimento sustentável, agroextrativistas ou outros similares; III –
outras formas previstas em lei.
Estas destinações serão feitas de forma não onerosa para o beneficiário e efetuada em ato
administrativo próprio (art. 6º, § 1º).
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A previsão dos instrumentos de destinação acima mencionados não impede que as
comunidades locais participem das licitações destinadas à concessão florestal, por meio de associações
comunitárias, cooperativas ou outras pessoas jurídicas admitidas.
É a delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de praticar manejo florestal
sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante licitação, à
pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado.
A concessão florestal é uma espécie de contrato administrativo por meio do qual o Poder
Público, por meio de licitação, concede ao particular o direito de explorar os recursos florestais
(produtos e serviços) de forma racional e sustentável, de acordo com o Plano de Manejo Florestal
Sustentável – PMFS aprovado pelo governo.
A publicação do edital de licitação de cada lote de concessão florestal deverá ser precedida de
audiência pública, por região, realizada pelo órgão gestor, nos termos do regulamento, sem prejuízo
de outras formas de consulta pública.
São elegíveis para fins de concessão as unidades de manejo previstas no Plano Anual de
Outorga Florestal – PAOF, que é proposto pelo órgão gestor e definido pelo poder concedente,
contendo a descrição de todas as florestas públicas a serem submetidas a processos de concessão no
ano em que vigorar (art. 10), o qual será submetido ao órgão consultivo da respectiva esfera de
governo. Se for federal, ainda requer a manifestação da SPU/MPOG. Se situado em faixa de fronteira,
deverá ouvir o Conselho de Defesa Nacional.
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3.3.1.1. Objeto da Concessão florestal:
Art. 16, §1º É vedada a outorga de qualquer dos seguintes direitos no âmbito da concessão
florestal:
III – uso dos recursos hídricos acima do especificado como insignificante, nos termos da Lei
no 9.433, de 8 de janeiro de 1997;
A licença prévia para uso sustentável da unidade de manejo será requerida pelo órgão gestor,
mediante a apresentação de relatório ambiental preliminar ao órgão do SISNAMA.
O início das atividades florestais na unidade de manejo somente poderá ser efetivado com a
aprovação do respectivo PMFS pelo órgão do SISNAMA e com a obtenção da licença de operação
pelo concessionário.
O prazo dos contratos de concessão florestal será estabelecido de acordo com o ciclo de
colheita ou exploração, considerando o produto ou grupo de produtos com ciclo mais longo incluído
no objeto da concessão, podendo ser fixado prazo equivalente a, no mínimo, um ciclo e, no máximo,
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40 (quarenta) anos. Mas se for contrato de concessão exclusivo para exploração de serviços
florestais, será de, no mínimo, 5 (cinco) e, no máximo, 20 (vinte) anos.
III – produtos florestais: produtos madeireiros e não madeireiros gerados pelo manejo
florestal sustentável;
V – ciclo: período decorrido entre 2 (dois) momentos de colheita de produtos florestais numa
mesma área;
VII – concessão florestal: delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de
praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo,
mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo
edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo
determinado;
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VIII – unidade de manejo: perímetro definido a partir de critérios técnicos, socioculturais,
econômicos e ambientais, localizado em florestas públicas, objeto de um Plano de Manejo Florestal
Sustentável – PMFS, podendo conter áreas degradadas para fins de recuperação por meio de plantios
florestais;
Resultado da exploração, excluído o valor mínimo do art. 36, §3º; (art. 39, II)
Estados = 30% Municípios = 30% FNDF = 40%
Resultado da exploração, excluído o valor mínimo do art. 36, §3º, no caso de concessão florestal de
unidades localizadas em florestas nacionais criadas pela União; (art. 39, §1º, II)
Estado = 20% Município = 20% FDF = 20% ICM-Bio = 40%
O art. 36, §3º da Lei 11284/06, prevê que “será fixado, nos termos de regulamento, valor
mínimo a ser exigido anualmente do concessionário, independentemente da produção ou dos valores
por ele auferidos com a exploração do objeto da concessão”, valor este que integrará os pagamentos
anuais devidos pelo concessionário. A distribuição se dá pela seguinte forma:
Se oriundos dos preços da concessão florestal de unidades localizadas em florestas nacionais criadas
pela União: o valor integral vai para o órgão gestor (art. 39, §1º, I).
DIPLOMA DISPOSITIVO
Constituição Federal Artigo nº 225
Lei 12.651/12 Leitura Integral
Lei 11.284/2006 Leitura Integral
Decreto nº 6.514/2008 Arts. 1º ao 4º
5. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA